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DOCÊNCIA EM

SAÚDE
OBESIDADE E ATIVIDADE FÍSICA
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Portal Educação

P842o Obesidade e atividade física / Portal Educação. - Campo Grande: Portal


Educação, 2013.

112p. : il.

Inclui bibliografia
ISBN 978-85-8241-690-7

1. Obesidade – Atividade física. 2. Emagrecimento – Atividade física. I.


Portal Educação. II. Título.

CDD 616.398
SUMÁRIO

1 COMPREENDENDO O CENÁRIO DO MUNDO CONTEMPORÂNEO .....................................3

2 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO INFANTIL – MODIFICAÇÕES CORPORAIS .........7

3 CAPACIDADE FÍSICA DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE .................................................15 2

4 DESENVOLVIMENTO DAS CAPACIDADES FÍSICAS ............................................................18

5 A VIDA ADULTA .......................................................................................................................20

6 COMPOSIÇÃO CORPORAL: ANOREXIA E BULIMIA ............................................................22

6.1 ANOREXIA NERVOSA .............................................................................................................23

6.2 BULIMIA NERVOSA .................................................................................................................32

7 TRANSTORNO DO COMER COMPULSIVO, SOBREPESO E OBESIDADE ..........................44

8 ETIOLOGIA DA OBESIDADE ..................................................................................................51

9 CLASSIFICAÇÃO DA OBESIDADE .........................................................................................54

10 CONSEQUENCIAS DA OBESIDADE .......................................................................................56

11 ASPECTOS SOCIAIS DA OBESIDADE ...................................................................................59

12 OBESIDADE INFANTIL ............................................................................................................62

13 AVALIAÇÃO DA OBESIDADE INFANTIL ................................................................................64

14 ETIOLOGIA DA OBESIDADE INFANTIL .................................................................................74

15 COMPLICAÇÕES DA OBESIDADE INFANTIL ........................................................................77

16 COMO COMBATER A OBESIDADE ........................................................................................79

16.1 CORREÇÃO ALIMENTAR ........................................................................................................79

16.2 ATIVIDADE FÍSICA ...................................................................................................................86

17 UMA VIDA MAIS SAUDÁVEL EM UM MUNDO MODERNIZADO ...........................................98

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................................100
1 COMPREENDENDO O CENÁRIO DO MUNDO CONTEMPORÂNEO

Os estudos sobre obesidade na sociedade contemporânea vêm assumindo um papel


3
cada vez mais relevante ao longo dos anos. Atualmente, essa enfermidade apresenta um
enorme aumento de prevalência tanto em países desenvolvidos quanto em desenvolvimento
(GARDNER, 2001). O aumento da prevalência da obesidade representa um grave problema de
Saúde Pública, não apenas pelo aumento do número de casos, mas também pelos problemas
que causa à saúde da população (CABRERA, 1994).

Durante as duas últimas décadas, alterações ocorridas na estrutura social e econômica


da sociedade, como os processos de modernização, urbanização e todas as inovações
tecnológicas, provocaram mudanças nos hábitos cotidianos (SPENCE; LEE, 2003). Tais
modificações das condições de vida da população têm influenciado a dinâmica familiar e afetado
a população, que progressivamente vem sofrendo com o sedentarismo gerando diversos
problemas de saúde, como a obesidade (RIBEIRO, 2001).

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 1995), o sedentarismo vem


crescendo de forma alarmante no mundo inteiro, deixando de ser uma preocupação meramente
estética para se transformar numa epidemia global. A falta de estímulo físico prejudica a
qualidade de vida. Uma criança estimulada de forma ampla, por meio da exploração do meio
ambiente, tem mais chances de praticar as habilidades motoras e, consequentemente, de
dominá-las com facilidade (TORRES et al., 1999). As experiências motoras devem estar
presentes no dia a dia das crianças e são representadas por toda e qualquer atividade corporal
realizada em casa, na escola e nas brincadeiras.

Até as décadas de 70 e 80, as experiências motoras vivenciadas espontaneamente


pela criança e suas atividades diárias eram suficientes para que tivessem um gasto calórico
eficaz para o controle do peso corporal e adquirissem as habilidades físicas e formassem uma
base para o aprendizado de habilidades mais complexas. A maioria das crianças tinha à
disposição grandes áreas livres para brincar como quintal, praça e rua, explorados e utilizados
para o controle corporal e para seu desenvolvimento físico (NETO et al.,2004). A evolução do
desempenho físico na infância está associada aos processos de crescimento e maturação,
principalmente os ocorridos durante o estirão1 de crescimento, momento no qual a criança
jovem tem um aumento nas estruturas corporais (MALINA, BOUCHARD, 2002; CAMPOS, 2004).

Para Ferreira Neto (1995) o processo de aprendizagem motora caracteriza-se por uma
progressão das habilidades físicas da criança, em função das situações em que é colocada. Isto
4
quer dizer que, considerando um determinado contexto, a criança investe em ações de acordo
com os meios de que dispõe. Assim, certos fatores favorecem a aprendizagem. Contudo, além
do envolvimento da criança na tarefa em si, a capacidade de aprender as habilidades motoras
também é influenciada pelo estado de desenvolvimento físico e cognitivo da criança, ou seja,
diferenças ocorrem em termos de qualidade dos movimentos, quando relacionados à idade e à
formação física, e ao nível de processamento de informação.

Considerando que a infância e a adolescência constituem os períodos críticos mais


importantes com relação aos aspectos motores, seja quanto a fatores biológicos ou culturais, nos
quais o organismo se encontra especialmente sensível à influência dos fatores ambientais, tanto
de natureza positiva como negativa, o estabelecimento de índices de desempenho físico nesses
períodos, poderá contribuir de forma decisiva na tentativa de promoção da saúde coletiva
(FERREIRA NETO, 1995). Assim sendo, informações relacionadas a variáveis que procuram
evidenciar características de crescimento, desempenho físico e suas interações podem constituir
em importantes indicadores dos níveis de saúde, os quais poderão auxiliar na prevenção
primária e na promoção da saúde de crianças, adolescentes e adultos. Por esse motivo, alguns
países dispõem de uma grande variedade de estudos epidemiológicos que procuram
documentar, analisar e compreender esta relação.

De acordo com Araújo e Petroski (2001), a obesidade2 é um problema de saúde


pública de grande importância, principalmente em crianças e adolescentes em fase escolar, pois

1
Estirão ou aceleração da velocidade de crescimento e de maturação óssea compreende a quatro etapas: período de
pré-aceleração, aceleração máxima, desaceleração e crescimento final. Esta fase tem duração média de 36 meses,
sendo que, o ganho em altura é de aproximadamente 10 centímetros por ano podendo ainda haver um acréscimo de
cinco a oito centímetros durante a fase de desaceleração até a parada total do crescimento. É nessa fase que o
indivíduo adquire aproximadamente 50% do seu peso final e 20-25% de sua estatura definitiva. O estirão ocorre
geralmente dois anos mais cedo no sexo feminino, podendo iniciar entre 9,5 e 14,5 nas meninas e entre 10,5 e 16 anos
nos meninos. A velocidade de crescimento pode alcançar aproximadamente 10 centímetros por ano no sexo masculino
e de oito a nove centímetros no sexo feminino (COLLI, 1993; JACOBSON, 1998).
dificulta o processo de crescimento físico e aprendizagem motora do indivíduo, cabendo aos
professores, profissionais da saúde identificar esses problemas e proporcionar-lhes devido
auxílio para a promoção de sua qualidade de vida. Num tempo em que as formas esguias e os
músculos esculpidos constituem um avassalador padrão de beleza, o excesso de peso e a
obesidade transformaram-se na grande epidemia do planeta, com consequências desastrosas
na saúde física e psíquica da população. Segundo Krusche (1992), já existe forte tendência por 5
parte da classe médica de entender a obesidade como sendo consequência, e não a causa, do
preconceito e da discriminação a que as pessoas com sobrepeso estão sujeitas.

Em contrapartida existe um lado menos visível da questão, mas com alto grau de
letalidade, que é o problema da Anorexia Nervosa e Bulimia, alteração alimentar caracterizada
pela recusa à alimentação e excesso na prática de atividade física. Atingindo preferencialmente
adolescentes e jovens do sexo feminino, é um transtorno psíquico que leva a pessoa à
compulsão de emagrecer, mesmo reconhecendo já ter atingido um limite de peso muito baixo,
potencialmente letal.

Os casos de Anorexia Nervosa e Bulimia têm crescido assustadoramente nos últimos


anos. Enquanto os meios de comunicação reforçam cada vez mais os estereótipos de beleza,
muitas vezes irracionais, característicos das últimas décadas, a obsessão pelo corpo perfeito
domina a vida de inúmeras garotas.

No caso dos profissionais que lidam com crianças e adolescentes, o desafio torna-se
ainda maior, pois envolve também a possibilidade de detectar distúrbios alimentares e alterações
de peso precocemente, antes que os danos se tornem crônicos e mesmo irreversíveis.

Atualmente, seja por motivação estética, seja pela melhoria da saúde, é cada vez
maior o número de pessoas que buscam emagrecer. Aquelas que não necessitam perder peso
também se interessam pelo assunto, porque a obesidade hoje se tornou um problema de saúde
pública. Os profissionais ligados à saúde devem estar cientes destes fatos, apoiando os esforços
para alterar e auxiliar em todos os comportamentos e hábitos que visam melhorias relativas à
saúde.

2
Obesidade, de acordo com a OMS (1995), é considerada o acúmulo de gordura corporal, uma doença crônica que
pode atingir graus capazes de afetar a saúde.
Assim, neste curso teremos a oportunidade de analisar os transtornos alimentares
ligados a modificações corporais e as modificações do mundo contemporâneo que levam as
pessoas a adquirem hábitos e estilos de vida inadequados. Buscaremos, também, mostrar os
benefícios da prática exercícios físicos para a saúde e qualidade de vida da população.

6
2 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO INFANTIL – MODIFICAÇÕES CORPORAIS

A humanidade sempre esteve preocupada em acompanhar e compreender o seu


desenvolvimento, suas características físicas e seus desenvolvimentos, tanto internos quanto 7
externos; um desejo de conhecer, compreender e explicar tudo a sua volta. Hipócrates (460-377
a.C.) já mencionava a teoria da influência do meio ambiente sobre as características físicas do
homem; esse conhecimento era importante não só para a seleção de guerreiros, mas também
por considerações estéticas. Pois, o homem percebeu que a sua capacidade para realizar
trabalho ou atividade física estava relacionada com a proporção entre diferentes tecidos (PORTA
et al., 1995).

O crescimento e o desenvolvimento do ser humano ocorrem por um período em torno


de duas décadas em que modificações de ordens física, motora, cognitiva, social e emocional
ocorrem no decorrer da vida, direcionadas por restrições individuais, por experiências vividas, e
pela especificidade das atividades que são propostas. Durante esse período as principais
atividades do organismo humano são o crescimento e o desenvolvimento, fenômenos que
ocorrem de maneira simultânea, com maior ou menor velocidade, dependendo do nível de
maturação (KALBERG e TARANGER, 1976).

Após o nascimento ocorrem quatro principais tipos de crescimento nos diferentes


órgãos e tecidos, sendo o primeiro o crescimento geral somático que se refere às dimensões
externas; o segundo é o crescimento neural que atua em órgãos como cérebro, cerebelo,
aparelho ocular; o terceiro é o crescimento genital, testículos, ovários, vesículas seminais,
próstata, útero, e anexos, e o quarto que se refere ao crescimento linfoide, como o timo, gânglios
linfáticos e outros órgãos linfoides (MARCONDES, 1994).

O Gráfico1 mostra as quatro principais curvas de crescimento nos diferentes órgãos e


tecidos:
CURVAS DE CRESCIMENTO DE DIFERENTES PARTES E TECIDOS DO CORPO

O cérebro, cerebelo e estruturas afins, aparelho ocular, perímetro cefálico, este tipo de
crescimento caracteriza-se por uma intensa velocidade nos dois primeiros anos de vida: o
perímetro cefálico aumenta cerca de 20 cm do nascimento aos 18 anos, dos quais 50% nos
primeiros seis meses de vida e 75% até os dois anos de idade.

Todas as estruturas em fase de intenso crescimento são mais vulneráveis aos agravos
de um modo geral: é o caso do Sistema Nervoso Central. Nos dois primeiros anos de vida, está
mais sujeito às agressões do que em qualquer outra fase da vida.
O corpo como um todo, dimensões externas (com exceção da cabeça e pescoço),
tecidos muscular e ósseo, volume sanguíneo, órgãos dos aparelhos respiratórios, circular e
digestivo, rins e baço. Este tipo de crescimento pode ser representado pelas curvas de peso e
estatura, que apresentam o aspecto geral de uma letra “S”, com dois períodos de maior
velocidade no crescimento extrauterino (0 a dois anos e por ocasião da puberdade), com
incrementos anuais decrescentes no primeiro período e crescente no segundo período. Entre 9
esses dois períodos, outro com incrementos anuais constantes.

Os testículos, ovários, epidídimo, vesículas seminais, próstata, útero e anexos. Estas


estruturas permanecem descansando durante os primeiros oito a dez anos de vida, para então
apresentar um crescimento acelerado, dentro das transformações físicas que correspondem à
puberdade.

O timo, gânglios linfáticos, amígdalas, adenoides, folículos linfoides intestinais. É o


único tipo de crescimento que apresenta um processo de involução enquanto as demais
estruturas ainda estão em fase de franco crescimento.

As diversas partes do corpo apresentam diferentes ritmos de crescimento. A cabeça de


um feto aos dois meses de vida intrauterina representa, proporcionalmente, 50% do corpo; de
um recém-nascido representa 25%, de um adulto 10% (LOWREY, 1978 apud BRASIL, 2002).

A próxima figura retirada de Lowrey, (1978) apud Brasil (2002), mostra o


desenvolvimento da cabeça humana.
DESENVOLVIMENTO DA CABEÇA HUMANA

10

FONTE: Brasil: Saúde da criança: acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil,


p. 14, 2002.

O crescimento é um processo biológico, de multiplicação e aumento do tamanho


celular, expresso pelo aumento do tamanho corporal. Todo indivíduo nasce com um potencial
genético de crescimento, que poderá ou não ser atingido, dependendo das condições de vida a
que esteja submetido desde a concepção até a idade adulta.

Portanto, pode dizer que o crescimento sofre influências de fatores intrínsecos


(genéticos, metabólicos e malformações, muitas vezes correlacionados, ou seja, podem ser
geneticamente determinadas) e de fatores extrínsecos, dentre os quais se destacam a
alimentação, a saúde, a higiene, a habitação e os cuidados gerais com a criança (OMS, 1995).
Para Marcondes (1994), o crescimento significa aumento físico do corpo, como um todo ou em
suas partes, e pode ser medido em termos de centímetros ou de gramas. Analisa o crescimento
também como o aumento do volume das células, hipertrofia, ou de seu número, hiperplasia.
Nas crianças menores de cinco anos, a influência dos fatores ambientais é muito
mais importante do que a dos fatores genéticos para expressão de seu potencial de crescimento.
Os fatores genéticos apresentam a sua influência marcada nas crianças maiores, nos
adolescentes e nos jovens (HABICHT, 1974 apud BRASIL, 2002).

Segundo Vago:
11

Afinal, as crianças têm toda a sua construção de movimentos – que inclui


crescimento, aprendizagem, controle e desenvolvimento físico – marcada por sua
origem, sua situação e seu destino de classe social, onde são fundamentais os
aspectos socioeconômicos, [...] os aspectos culturais, como os valores, as normas,
as regras e os costumes de uma dada região geográfica e historicamente
determinada. (VAGO, 2003, p. 12-13).

De acordo com Brasil (2002, p. 25-26) existem fatores extrínsecos que influenciam o
crescimento como:

a) Alimentação: a criança até cinco anos requer cuidados específicos com a sua alimentação.
Crescer consome energia: 32% das necessidades calóricas de um recém-nascido são
destinadas ao crescimento. A dieta da criança deve ter qualidade, quantidade, frequência e
consistência adequadas para cada idade. Para crianças com até seis meses de idade, o leite
materno exclusivo é o melhor alimento.

b) Infecções: é também muito importante para o crescimento adequado da criança. É essencial


que as crianças sejam imunizadas segundo o calendário de vacinação preconizado pelo
Ministério da Saúde, para que se evite a ocorrência das doenças imunopreveníveis. Quanto a
outros processos infecciosos, é necessário que sejam diagnosticados e debelados
precocemente para que não evoluam para um quadro adverso, com o aumento das
necessidades nutricionais, associado à diminuição do apetite e, nos casos das diarreias e
doenças parasitárias, ao menor aproveitamento biológico dos alimentos. Nos processos febris,
observa-se que para cada grau de temperatura acima de 38ºC, estima-se um aumento de 20%
nas necessidades calóricas e proteicas da criança, além de causar perda acentuada de apetite.
Dessa forma, as infecções repetidas podem levar ao retardo do crescimento e à desnutrição que,
por sua vez é responsável pela maior vulnerabilidade das crianças aos episódios infecciosos
mais graves e de maior duração, caracterizando, assim, uma ação sinérgica.
12

c) Higiene: a higiene adequada da criança, dos alimentos, do ambiente e de todos aqueles que
lidam com ela são fatores essenciais para seu bom crescimento. Isso implica na disponibilidade
de água potável, de meios adequados para o esgotamento sanitário, e destinação de lixo e em
conhecimentos, atitudes e práticas corretas sobre o manuseio, armazenamento, preparo e
conservação dos alimentos, de higiene corporal e do ambiente.

d) Cuidados gerais com a criança: assim como os demais aspectos citados acima, também é
fundamental para o bom crescimento e desenvolvimento a qualidade dos cuidados destinados à
criança. Em outras palavras, a criança pequena necessita estabelecer relações afetivas, precisa
de outra pessoa para ir se estruturando como um sujeito e para ter uma identidade própria.
Estabelecer, desde o nascimento, relações com pessoas que as escutem e entendam suas
necessidades, que lhe deem carinho e afeto, que lhe proporcionem oportunidades seguras de
explorar e conhecer o mundo que a rodeia, são condições essenciais ao adequado crescimento
e desenvolvimento da criança.

Já o desenvolvimento é o processo de transformações qualitativas, auxiliadas pelas


transformações quantitativas; sendo a capacidade do indivíduo em realizar funções cada vez
mais complexas, ou seja, desenvolve o controle neuromuscular, a destreza e funções que só
podem ser mensurados por meio de provas ou testes funcionais. Guedes (1994) coloca que
desenvolvimento significa o “conjunto de fenômenos que, de forma inter-relacionada, permite ao
indivíduo evoluir desde a concepção, passando pela maturidade, até a morte”. Para Brasil
(2002), o desenvolvimento é o aumento da capacidade do indivíduo na realização de funções
cada vez mais complexas.
Para Manciaux:

O desenvolvimento é a característica primordial da criança que cresce, se modifica e


se afirma como indivíduo. Ao atender suas necessidades essenciais, dia a dia,
garante seu crescimento e desenvolvimento harmonioso e prepara a criança para o
futuro. O desenvolvimento significa também saúde. Não pode haver crescimento
13
nem desenvolvimento satisfatório se a saúde da criança está afetada. (1984, p. 238).

Esse desenvolvimento sofre a influência contínua de fatores intrínsecos e extrínsecos


que provocam variações de um indivíduo para outro e que tornam único o curso do
desenvolvimento de cada criança.

Os fatores intrínsecos determinam as características físicas da criança, a cor dos seus


olhos e outros atributos geneticamente determinados (BRASIL, 2002).

Os fatores extrínsecos começam a atuar desde a concepção, estando diretamente


relacionados com o ambiente da vida intrauterina, proporcionado pela mãe por meio das suas
condições de saúde e nutrição. Além disso, mãe e feto sofrem os efeitos do ambiente que os
circunda. O bem-estar emocional da mãe também influencia de forma significativa o bem-estar
do feto (BRASIL, 2002).

Após o nascimento, o ambiente em que a criança vive, os cuidados que lhe são
dispensados pelos pais, o carinho, estímulos e a alimentação passam a fazer parte significativa
no processo de maturação que a leva da dependência à independência (BRASIL, 2002).

O desenvolvimento vai transcorrendo por etapas ou fases, que correspondem a


determinados períodos do crescimento e da vida, em geral. Cada um desses períodos tem suas
próprias características e ritmos, ainda que não se deva perder de vista que cada criança tem
seu próprio padrão de desenvolvimento (MARCONDES, 1994).

Para que o organismo possa crescer e se desenvolver, é necessário o uso de


substâncias nutritivas, que são as fontes energéticas para a reconstrução dos tecidos, órgãos e
estruturas corpóreas. Uma alimentação correta é fundamental para o desenvolvimento físico e
intelectual da criança (DANTAS, 2003).
Na infância ocorrerão as maiores transformações físicas e psicológicas que
caracterizam o crescimento e desenvolvimento infantil e que precisam ser acompanhadas de
perto. O acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento indica as condições de saúde e
vida da criança (SIGAUD, 1996).

14
3 CAPACIDADE FÍSICA DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

De um modo geral, o crescimento é o aumento do tamanho corporal que cessa com o


15
término do aumento em altura (crescimento linear). De um modo mais amplo, pode-se dizer que
o crescimento do ser humano é um processo dinâmico e contínuo que ocorre desde a
concepção até o final da vida, considerando-se os fenômenos de substituição e regeneração de
tecidos e órgãos. É considerado como um dos melhores indicadores de saúde da criança, em
razão de sua estreita dependência de fatores ambientais, tais como alimentação, ocorrência de
doenças, cuidados gerais e de higiene, condições de habitação e saneamento básico, acesso
aos serviços de saúde, refletindo assim, as condições de vida da criança, no passado e no
presente (BRASIL, 2002).

Os aspectos de desenvolvimento da capacidade física estão ligados a momentos


específicos do crescimento do indivíduo não podendo ser distanciados de uma linha temporal e
desenvolvimentista de aspectos da maturação morfopsicofuncionais (DANTAS, 2003).

O desenvolvimento das capacidades físicas deverá obedecer ao princípio científico da


individualidade biológica estando, portanto, em conformidade com as leis biológicas e
pedagógicas do treinamento desportivo, respeitando a etapa de formação básica que visa uma
preparação geral da criança em idade escolar e pré-escolar, enfatizando o treinamento da
coordenação motora, flexibilidade, resistência muscular localizada e capacidade aeróbia. Nesta
etapa, procura-se dar à criança uma ampla gama de atividades desportivas, enfatizando as
atividades naturais com o intuito de propiciar experiências motoras de diversos tipos. A formação
básica deve ser realizada dentro de um contexto de Educação Física escolar e se prolongar até
os 10 – 12 anos (DANTAS, 2003).

Weineck (1991) descreve as capacidades das crianças conforme a faixa etária:

a) A criança de seis anos: falta experiência na relação com pessoas, tendo maior
facilidade para participar de atividade com um companheiro do que com dois ou mais, tem no
corpo sua principal linguagem para expressar suas ideias e sentimentos, sua participação em
atividades fortalecem seu aprendizado em razão de sua automotivação, maior capacidade de
concentração, melhor compreensão de informações verbais, capacidade de executar ações
motoras de baixa complexidade e maior domínio sobre as extremidades.
b) A criança de sete anos: possui maior compreensão e domínio sobre a
lateralidade, melhor noção de tempo e espaço, gosta de imitar e reproduzir ações e o equilíbrio
geral está mais estruturado. 16
c) A criança de oito anos: maior facilidade para participar de atividades em grupo,
sendo bem expansiva e com maior facilidade de expressão. Em termos motores está mais apta a
executar tarefas em ritmos mais acelerados, gosta de ser testada em atividades que envolvem
força, agilidade, velocidade e destreza.
d) A criança de nove anos: mais persistente no exercício de suas habilidades em
razão da maior maturidade de seu sistema neuromotor. Exerce bom domínio sobre o corpo,
sendo capaz de executar gestos desportivos mais refinados. Maior capacidade de interação.
e) A criança de 10 anos: apresenta traços individuais bem definidos, mais interativa
em jogos de grupos, melhor noção de tempo e espaço, lateralidade definida e domínio das
extremidades mais estruturados, interesse por atividade que envolve competição.
f) A criança de 11 e 12 anos: idade de transição apresenta maior amadurecimento
biopsicofísico e social, tem maior domínio sobre suas capacidades motoras, seus sentidos estão
mais bem coordenados em relação às respostas motoras, facilitando a execução de ações
motoras bem mais complexas.
g) Adolescência: o jovem tem um aumento de força e uma melhoria nas ações
coordenativas, bem como do aparelho locomotor, aumenta consideravelmente, a capacidade de
suportar carga, e a condição geral de assimilar intensa carga corporal esportiva, sendo o
momento propício para o treinamento de técnicas específicas das modalidades esportivas.

Na 1ª infância escolar 6/7 aos 10 anos, com a altura e peso aumentando


paralelamente, as crianças apresentam boas condições corporais, sendo essa fase propícia para
aprendizagem de novas habilidades motoras, que devem ser repetidas até sua assimilação
(DEMETER, 1981 apud WEINECK, 1991).

Faz-se necessário o entendimento destas fases de transição (6/7-10 / 11-14 /15-20),


pois é a fase onde ocorrem as alterações funcionais da idade infantil, até chegarmos à
maturação e assim a idade adulta (PINIE e CARAZZATTO, 1983).
O treinamento direcionado à criança e ao adolescente deve privilegiar interesses
relacionados a cada faixa etária do desenvolvimento fisiológico, respeitando as peculiaridades
inerentes a cada fase (WEINECK, 1991).

17
4 DESENVOLVIMENTO DAS CAPACIDADES FÍSICAS

Para Rice e Howel (2000), as crianças hoje passam a maior parte de seu tempo livre
assistindo televisão, jogando em computador ou na internet, o que levaria à maior incidência de
18
aumento de peso corporal, relacionado à gordura corporal, a uma menor habilidade motora e
com isso a uma série de problemas relacionados às doenças crônico-degenerativas.
O aprendizado motor depende de vários fatores internos (o nível inicial, a motivação
pela aprendizagem, a experiência motora) e externos (linguagem, meio ambiente), porém o fator
mais importante para ocorrer a aprendizagem motora é a motivação.
No contexto de aprendizagem motora, crianças que percebem a si mesmas como
altamente competentes em uma atividade ou habilidade tendem a persistir por mais tempo e
continuar em tentativas de executar a habilidade com maestria, mesmo quando encontram
dificuldades. Ao contrário, crianças que percebem a si próprias como pouco competentes
tendem a desistirem ou perderem o interesse na maestria de habilidades ou tarefas,
principalmente quando encontram dificuldades (VALENTINI, 2002a).
Harter (1978 apud Valentini, 2002a) sugere que a motivação para a competência na
criança é estruturada sobre quatro fatores, os quais parecem influenciar níveis mais elevados ou
mais baixos de percepção de competência. Estes fatores incluem:
a) experiências passadas;
b) dificuldades ou desafios associados com o resultado da tarefa;
c) suporte e interação pessoal com outros que são significativos para a criança;
d) motivação intrínseca.
O aprendizado das capacidades físicas (força, velocidade, resistência, flexibilidade,
coordenação) ocorre com a motivação individual e o aperfeiçoamento dos movimentos; o
desenvolvimento das capacidades como a força, a velocidade e a resistência são atingidas em
idades diferenciadas (DANTAS, 2003).
O desenvolvimento de capacidades físicas fundamentais, na perspectiva de uma
prática apropriada ao nível de desenvolvimento infantil, deveria se constituir em foco de atenção
e prioridade de programas de movimento. As capacidades físicas fundamentais são
consideradas "blocos de construção" indispensáveis para o desenvolvimento de atividades de
movimento em uma perspectiva de vida ativa e saudável, bem como para a especialização de
habilidades motoras específicas da dança e/ou esportes (GABBARD, 2000; HAYWOOD et al.,
2001). É importante ressaltar que estas capacidades não acontecem naturalmente (NEWELL,
1984 apud VALENTINI, 2002b) durante a infância, elas são resultados de vários fatores que em
constante interação, influenciam o desenvolvimento físico da criança, entre eles o contexto de
ensino, a motivação, o desenvolvimento neurológico, as condições sociais e culturais e as 19
experiências passadas (GABBARD, 2000; HAYWOOD et al., 2001).
Crianças devem aprender certo nível de competência nas capacidades físicas
fundamentais para engajarem-se com sucesso (sucesso entendido neste contexto como
participação efetiva na atividade), em habilidades esportivas específicas que contribuam para
uma melhor qualidade de vida. (SEEFELDT,1982 apud VALENTINI, 2002b).
5 A VIDA ADULTA

A vida adulta constitui-se na fase mais ativa do ser humano em sociedade. O ser
20
humano adulto vivencia em suas próprias situações de vida, características que lhe são
particulares. A grande maioria produz e trabalha; do trabalho vive e dele sobrevive, em qualquer
circunstância de realidade social, econômica e cultural (SANTOS; ANTUNES, 2007).

Mosquera (1982) apresenta as fases da vida adulta em adultez jovem, adultez média e
adultez velha.

São várias as transformações biológicas que ocorrem do início ao final da vida adulta.
As capacidades físicas são um exemplo disso, as quais poderão reverter-se do físico ao
psicológico na adultez, e, consequentemente, nas relações intra e interpessoais.

Os aspectos fisiológicos e psicológicos são os que impulsionam a conduta do ser


humano. Quando tentamos entender as necessidades básicas de cada ser humano, e como elas
são saciadas, devemos compreender que estas fazem parte da interação complexa de
mecanismos fisiológicos e processos psicológicos em cada um. Para Schaie e Willis (2003, p.
298) apud Santos; Antunes (2007):

Como adultos, nossas condutas relacionadas com as necessidades físicas básicas,


tais como comer, beber e ir ao banheiro refletem as expectativas culturais, as
experiências de socialização e as condutas aprendidas, além de fatores fisiológicos.
(SCHAIE E WILIS, 2003, p. 298).

No Brasil, aproximadamente 70% dos adultos são sedentários (BOCH, 1998), o que
repercute negativamente nas transformações físicas, fisiológicas e psicológicas, pois o
desenvolvimento corporal da vida adulta no decorrer do tempo tende a ocorre uma decaída nas
estruturas corporais tais como: melhor elasticidade da pele, menor resistência óssea, menor
força muscular, ocorre um aumento na gordura corporal, baixa autoestima, risco a doenças
crônicas tais como hipertensão, diabetes, dentre outros.

De acordo com Wolfson (1995), o envelhecimento é caracterizado por um declínio na


performance motora e pela diminuição gradual do movimento, sendo a fraqueza muscular um
grande contribuinte para o declínio da funcionalidade do ser humano. A diminuição na força
21
muscular pode ser um fator limitante na manutenção de um estilo de vida independente e na
prevenção de quedas, que representam 82% das mortes acidentais no lar após os 75 anos
(SKELTOM et. al., 1995).

A marcha normal requer força muscular, controle neuromuscular e função adequada


das articulações dos membros inferiores, de modo que um declínio na velocidade da marcha é,
geralmente, um sinal de deterioração em um ou mais destes sistemas. (WOLFSON, 1995).

Para minimizar esse quadro e proporcionar uma melhor qualidade de vida à população
adulta, a prática de atividade física tem sido considerada um dos componentes mais importantes
na modificação do risco em indivíduos acometidos por comorbidades decorrentes ou associadas
à inatividade. Essa é uma estratégia importante, tanto na prevenção, como no tratamento das
doenças cardiovasculares, hipertensão arterial, diabetes mellitus, acidente vascular cerebral,
alguns tipos de câncer, osteoporose, depressão e desequilíbrio no perfil lipídico (FRANCIS,
1999).

A recomendação do Colégio Americano de Medicina do Esporte (ACSM), com objetivo


de diminuir os percentuais de incidência de morbidade e mortalidade, é de que indivíduos
adultos devam praticar pelo menos 30 minutos de atividade física de moderada intensidade, 5
vezes ou mais por semana (PATE et al, 1995).
6 COMPOSIÇÃO CORPORAL: ANOREXIA E BULIMIA

O crescimento humano durante os dois primeiros anos de vida envolve não só a


22
quantidade de mudanças e o tamanho do corpo, mas também as influências dessas mudanças
na composição corporal (BUTTE et al., 2000).

Segundo Oller e Dâmaso (1993), a análise da composição corporal é uma variável


importante quanto aos níveis de saúde de uma população. A composição corporal pode ser
definida como o estudo da quantidade e da proporção dos principais componentes estruturais do
organismo, por meio do fracionamento de peso corporal. Esses componentes estruturais são
basicamente quatro: gordura, músculos, ossos e resíduos (PETROSKI, 1999).

Os transtornos alimentares são doenças antigas. A primeira descrição da anorexia


nervosa data de 1694 (RUSSELL, 1986) e a bulimia nervosa recebeu nomes alternativos ao
longo da história por falta de uma definição diagnóstica, que só aconteceu em 1980 (RUSSELL,
1979; APA, 1980; THOMPSON, 1993). Essas são doenças de etiologia multifatorial, onde fatores
genéticos, familiares, psicológicos e socioculturais se somam. A incidência aumentada das
últimas décadas está estreitamente relacionada aos padrões estéticos atuais, que relacionam a
magreza com sucesso e felicidade, principalmente, para as mulheres (CORDÁS, 1995).

Um dos estudos sistemáticos sobre transtornos alimentares, no Brasil, começou a


partir de 1992, com a criação do Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares – AMBULIM,
no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de
São Paulo - IpQ-HCFMUSP.
6.1 ANOREXIA NERVOSA

23

FONTE: Disponível em: < http://institutosendu.ning.com/photo/anorexia-1?context=latest />.


Acesso em: 10 jan. 2010.

AA

Os pacientes anoréxicos desenvolvem inicialmente hábitos alimentares bizarros e se


recusam a comer. Normalmente se exercitam vigorosamente e podem abusar dos
laxantes ou diuréticos e vomitar voluntariamente. Os anoréticos têm um medo
anormal de serem gordos, o que é exibido nas distorções de uma imagem corpórea e
outras percepções, provavelmente refletindo uma combinação de estado físico
alterado, percepção distorcida e negação das percepções que levam à
autogratificação. Como experimentam um desenvolvimento detido, não desenvolvem
um sentido normal do “ego” ou padrões avançados de pensamentos (MAHAN, 2005,
p. 496).

Segundo Mahan (2005), as características essenciais da Anorexia Nervosa são a


recusa do paciente a manter um peso corporal na faixa normal mínima, associado a um temor
intenso de ganhar peso. Na realidade, trata-se de uma perturbação significativa na percepção do
esquema corporal, ou seja, da autopercepção da forma e do tamanho do corpo e, assim sendo,
a recusa alimentar é apenas uma consequência dessa distorção doentia do esquema corporal.
Normalmente a pessoa anoréxica mantém um peso corporal abaixo de um nível normal
mínimo para sua idade e altura. Quando a Anorexia Nervosa se desenvolve em uma pessoa
durante a infância ou início da adolescência, pode haver fracasso em fazer os ganhos de peso
esperados, embora possa haver ganho na altura. (CORDÁS, 1995).

24

FONTE: Disponível em: <


http://karrydutra.files.wordpress.com/2009/11/
anorexia.jpg />. Acesso em:

10 jan. 2010.

A Classificação Internacional de Doenças (CID–10) recomenda que a pessoa tenha um


Índice de Massa Corporal (IMC) igual ou inferior a 17, 5 kg/m 2, para indicar anorexia. A perda de
peso nas pessoas com Anorexia Nervosa é obtida, principalmente, por meio da redução do
consumo alimentar total, embora alguns pacientes possam começar “o regime” excluindo de sua
dieta aquilo que percebem como sendo alimentos altamente calóricos. De modo geral, a maioria
dos pacientes termina com uma dieta muito restrita, por vezes limitada a apenas alguns poucos
tipos de alimentos. Nos casos mais graves, o paciente adota métodos adicionais de perda de
peso, os quais incluem autoindução de vômito, uso indevido de laxantes ou diuréticos e prática
de exercícios intensos ou excessivos.
A vivência e a importância do peso e da forma corporal, como dissemos, são
distorcidas nesses pacientes. Alguns deles acham que têm um excesso de peso global,
independentemente dos resultados contrários da balança. Outros percebem que estão magros,
mas ainda assim se preocupam com o fato de certas partes de seu corpo, particularmente
abdômen, nádegas e coxas, estarem “muito gordas”.
25
Na Anorexia Nervosa os pacientes podem empregar uma ampla variedade de técnicas
para estimar seu peso, incluindo pesagens excessivas, medições obsessivas de partes do corpo
e uso persistente de um espelho para a verificação das áreas percebidas como “gordas”. A
autoestima dos pacientes com Anorexia Nervosa depende obsessivamente de sua forma e peso
corporais. A perda de peso é vista como uma conquista notável e como um sinal de
extraordinária disciplina pessoal, ao passo que o ganho de peso é percebido como um
inaceitável fracasso do autocontrole. Embora alguns pacientes com este transtorno possam
reconhecer que estão magros, eles tipicamente negam as sérias implicações de seu estado de
desnutrição (CORDÁS, 1995).

De acordo com Mahan (2005), as mulheres que já menstruam costumam apresentar


supressão das menstruações (amenorreia) quando acometidas de Anorexia Nervosa. Isso é
devido a níveis anormalmente baixos de secreção de estrógenos que, por sua vez, deve-se a
uma redução da secreção de hormônio folículo estimulante (FSH) e hormônio luteinizante (LH)
pela pituitária. Essa ocorrência indica séria disfunção fisiológica na Anorexia Nervosa. A
amenorreia em geral é uma consequência da perda de peso, mas em uma minoria de pacientes,
pode precedê-la. Em jovens pré-púberes, o aparecimento de menstruações (menarca) pode ser
retardado pela doença.

Apesar da Anorexia Nervosa ter sido descrita pela primeira vez em 1874, ainda não
se sabe se ela é primeiramente um distúrbio psicológico ou um distúrbio físico da
função da pituitária ou hipotalâmica, ou ainda uma função de ambos. As teorias mais
recentes propuseram que a sexualidade perturbada é a causa. Atualmente, é vista
como surgimento de padrões perturbados de interação familiar, até que um evento
ou fase da vida precipita a manifestação física dos sintomas (MAHAN, 2005, p. 497).
Aspectos biológicos incluem as alterações hormonais que ocorrem durante a
puberdade e as disfunções de neurotransmissores cerebrais (tais como a dopamina, a
serotonina e a noradrenalina) e dos peptídeos opioides, sabidamente ligados à regulação normal
do comportamento alimentar e à manutenção do peso, além dos aspectos genéticos. Existe
também uma predisposição genética no desenvolvimento da Anorexia. Parentes de primeiro
grau de pacientes com Anorexia exibem um risco aproximadamente 8 vezes maior de apresentar 26
a doença do que a população geral. Os modelos de sistemas familiares procuram identificar
determinados padrões de funcionamento familiar alterado, por exemplo, minimização de
conflitos, envolvimentos da criança em tensões familiares, pais ausentes, mães que competem
com as filhas, dentre outros. Porém, estes fatores hoje são vistos mais como mantenedores do
comportamento do que como causais.

A Anorexia Nervosa pode levar à morte em consequência das alterações orgânicas e


metabólicas secundárias à desnutrição e desequilíbrio eletrolítico. Isso exige uma constante
avaliação clínica e laboratorial. Sua evolução é variável, podendo ir de um episódio único com
recuperação ponderal e psicológica completa, o que é mais raro, até evoluções crônicas com
inúmeras internações e recaídas sucessivas. O índice de mortalidade em função direta da
doença é estimado entre 6 e 10%. A grande maioria dos pacientes mantém alterações
psicológicas ao longo de toda a vida, tais como dificuldades de adaptação conjugal, papel
materno mal elaborado, adaptação profissional ruim e desenvolvimento de outros quadros
psiquiátricos, notadamente a depressão (MAHAN, 2005).

A Anorexia Nervosa parece ter uma prevalência bem maior em sociedades


industrializadas, nas quais existe abundância de alimentos e onde, especialmente no tocante às
mulheres, ser atraente está ligado à magreza. O transtorno é provavelmente mais comum nos
Estados Unidos, Canadá, Austrália, Japão e África do Sul, mas poucos trabalhos examinaram a
prevalência em outras culturas. Os pacientes que emigraram de culturas nas quais o transtorno é
raro para culturas nas quais o transtorno é mais prevalente, podem desenvolver Anorexia
Nervosa, à medida que assimilam os ideais de elegância ligados à magreza (CEDI, 2009).

Fatores culturais também podem influenciar as manifestações do transtorno. Por


exemplo, em algumas culturas, a percepção distorcida do corpo pode não ser proeminente,
podendo a motivação expressada para a restrição alimentar ter um conteúdo diferente, como
desconforto epigástrico ou antipatia por certos alimentos.

A Anorexia Nervosa raramente aparece antes da puberdade, mas existem indícios de


que a gravidade das perturbações mentais associadas pode ser maior nos pacientes pré-
púberes que desenvolvem a doença. Entretanto, também há dados que sugerem que quando a
27
doença se inicia durante os primeiros anos da adolescência (entre 13 e 18 anos de idade), ela
pode estar associada com um melhor prognóstico. Mais de 90% dos casos de Anorexia Nervosa
ocorrem em mulheres (CEDI, 2009).

A doença acomete mais frequentemente classes sociais mais elevadas. A Anorexia


surge em 45% dos casos após dieta de emagrecimento e em 40% por ocasião de uma situação
competitiva. Algumas profissões ligam esbelteza com realizações, e populações especiais
(notavelmente bailarinas e modelos) demonstraram ter um risco incomumente alto para o
desenvolvimento de transtornos alimentares (BOCK, 2002, p. 52).

Segundo Mahan (2005), a idade média para o início da Anorexia Nervosa é de 17


anos, com alguns dados sugerindo picos aos 14 e 18 anos. O início do transtorno raramente
ocorre em mulheres com mais de 40 anos. O aparecimento da doença frequentemente está
associado com um acontecimento vital estressante, como sair de casa para cursar a
universidade, casamento, rompimento conjugal, e outros.

Existe um risco aumentado de Anorexia Nervosa entre os parentes biológicos em


primeiro grau de pacientes com o transtorno. Um risco maior de Transtornos do Humor,
principalmente depressão, também foi constatado entre os parentes biológicos em primeiro grau
de pacientes com Anorexia Nervosa (CEDI, 2009).

A Anorexia Nervosa em adolescentes vem crescendo de maneira assustadora e,


talvez, seja essa uma das manifestações que fazem ver mais claramente os reflexos da cultura
na sanidade emocional das pessoas.

Há tempos, a atividade de “modelo-manequim” tem habitado os sonhos de meninas e


mães, não necessariamente nessa ordem. Há tempos, também, estilistas determinam
tiranicamente as medidas antropológicas femininas, de acordo com escalas duvidosas de
valores sensuais, sob o risco de condenarem as mulheres de compleição normal a se sentirem
deficientes e deformadas.

E, das passarelas, esse falso ideal de beleza ganhou a mídia, o cinema, a televisão, as
ruas, os lares, as escolas e a sociedade em geral. Mas, apesar de tudo, qualquer mulher de bom
senso deve ter sempre em mente que esse ideal corporal não nasceu de uma opinião máscula,
28
claramente definida. Ela veio das passarelas.

Uma vez instalada, inicialmente a Anorexia rouba a crítica em relação ao próprio corpo.
A pessoa vê-se gorda quando de fato não é; essa concepção distorcida do próprio corpo é de
natureza delirante.

Nas adolescentes a Anorexia causa:

a) Interrupção do crescimento e da maturidade sexual;


b) Baixo rendimento intelectual;
c) Vulnerabilidade a infecções;
d) Queda de cabelo;
e) Quebra das unhas, amolecimento dos dentes, enfim, todo um quadro associado
à desnutrição. Um final fatal pode acontecer se o transtorno não for corrigido a tempo.

A mídia, sem dúvida, é responsável por boa parte da tirania que o ideal do corpo
esquelético exerce sobre as pessoas. Para constatação dessa influência massacrante, basta
verificar o grande número de revistas, periódicos, sites e programas de televisão dedicados ao
culto do corpo e dos cuidados corporais.
As pessoas passam a valer o inverso de seus pesos. Não se lê ou estuda na mesma
proporção com que se malha. O prazer da comida, do sorvete, do brigadeiro se contrapõe à
culpa das calorias. Depois de um jantar delicioso, experimenta-se tremenda “ressaca moral”.
Com tudo isso, outros valores fundamentais para o desenvolvimento da personalidade humana
podem estar sendo esquecidos. O ser humano moderno corre o risco de ter sua existência
estreitamente limitada aos limites de seu próprio corpo. Não se transcende mais a corporeidade
por meio da reflexão, abstração e outras atividades meditativas.
Dados recentes do estudo conduzido pela disciplina de Nutrição da Unifesp
(Universidade Federal de São Paulo) desde 1997, conforme Bock (2002) anteriormente citado,
mostram que em uma escola particular da capital paulista 30% de um grupo de 178 meninas de
10 a 19 anos faziam algum tipo de dieta sem necessidade. Para especialistas, o resultado
é preocupante, já que a dieta desnecessária pode comprometer o desenvolvimento. O primeiro
passo para uma alimentação saudável na adolescência é entender e aceitar as mudanças do
corpo.
29

Segundo a pediatra Maria de Fátima Coutinho, responsável pelo Departamento


Científico de Adolescência da Sociedade Brasileira de Pediatria, é normal que as
meninas ganhem alguns quilos por volta dos dez anos. Elas precisam de depósitos
de gordura para a produção dos hormônios da puberdade e para se preparar para o
“estirão”, quando crescem rapidamente. Em média, elas têm de ter de 18% a 20% de
gordura no corpo nessa fase (LOPES, 1997, p. 15).

Caso a adolescente considere estar acima do peso, deve procurar ajuda médica. Maria
de Fátima destaca que os parâmetros do IMC (Índice de Massa Corpórea, divisão do peso pela
altura ao quadrado) aplicados em adultos não podem ser usados com jovens, pois nesse caso a
idade é considerada na avaliação.
Para recordar:

Principais características da anorexia nervosa

Recusa em manter um peso normal mínimo para a idade e altura.


30
Perda de 15% ou mais do peso original.

Medo intenso de ganhar peso ou engordar.

Receio que o aumento de peso esteja fora de controle.

Imagem corporal distorcida.

Amenorreia nas mulheres (perda de menstruação).

Comportamentos associados à anorexia nervosa

Restrição dietética.

Comportamentos compulsivos ou ritualistas tais como cortar a comida em pedaços


pequenos ou arrumar os alimentos no prato.

Comportamentos associados à ansiedade ao lidar com certos gêneros alimentares


(medir, pesar).

Preocupação com comida, ler receitas, preparar refeições apenas para outros.

Usar roupa larga ou em várias camadas para esconder a perda de peso.

Atividade compulsiva e exercício físico.

Isolamento social.

FONTE: Disponível em: <www.sheenasplace.org>. Acesso em: 15 jan. 2010.


Consequências físicas da perda de peso

Dificuldade em concentrar-se e pensar claramente. 31

Sensibilidade ao frio.

Pressão arterial baixa que poderá resultar em desmaio, tonturas, perda da consciência.

Fraqueza generalizada.

Atrofia dos músculos e de outros órgãos tais como o cérebro.

Enfraquecimento ou queda de cabelo.

Tom de pele pálido (anêmico).

Desidratação que poderá provocar prisão de ventre e pele seca.

Osteoporose (porosidade excessiva dos ossos).

Desenvolvimento de lanugem (cabelo fino como penugem) na face e braços.

O tratamento da anorexia nervosa deverá ser individualizado e pode incluir: programas


de internamento hospitalar, programas diários para pacientes não internados, medicação,
em particular antidepressivos para aliviar os sintomas da depressão e psicoterapia
individual ou de grupo. Os terapeutas utilizam várias abordagens entre elas a mais
comum para o tratamento da anorexia nervosa inclui terapia comportamental, terapia
comportamental-cognitiva, terapia familiar e terapias psicodinâmicas ou de
expressão artística.

FONTE: Disponível em: <www.sheenasplace.org>. Acesso em: 15 jan. 2010.


6.2 BULIMIA NERVOSA

As características essenciais da Bulimia Nervosa consistem de compulsões periódicas


e métodos compensatórios inadequados para evitar ganho de peso. Além disso, a autoavaliação
dos pacientes com Bulimia Nervosa é excessivamente influenciada pela forma e peso do corpo, 32
tal como ocorre na Anorexia Nervosa.

FONTE: Disponível em:


<http://nutricaosaude.files.wordpress.com/200
9/11/bulimia1.jpg/>. Acesso em:

10 jan. 2010.

Uma compulsão periódica é definida pela ingestão, num período limitado de tempo, de
uma quantidade de alimentos definitivamente maior do que a maioria dos pacientes consumiria
sob circunstâncias similares. Um “período limitado de tempo” refere-se a um período definido,
geralmente durando menos de 2 horas (LOPES, 1997).
Embora varie o tipo de alimento consumido durante os ataques de hiperfagia (comer
muito), ele tipicamente inclui doces e alimentos com alto teor calórico, tais como sorvetes ou
bolos. Entretanto, as compulsões periódicas parecem caracterizar-se mais por uma
anormalidade na quantidade de alimentos consumidos do que por uma avidez por determinados
nutrientes, como carboidratos (CORDÁS, 1995).
33
Outra característica essencial da Bulimia Nervosa é o uso recorrente de
comportamentos compensatórios inadequados para prevenir o aumento de peso. Muitos
pacientes com Bulimia Nervosa empregam diversos métodos em suas tentativas de.
compensarem a compulsão periódica. A técnica compensatória mais comum é a indução de
vômito após um episódio de compulsão periódica (LOPES, 1997). De acordo com o trabalho de
Lopes (1997), esse método purgativo é empregado por 80 a 90% dos pacientes com Bulimia
Nervosa que se apresentam para tratamento em clínicas de transtornos alimentares. Os efeitos
imediatos do vômito incluem alívio do desconforto físico e redução do medo de ganhar peso. Em
alguns casos, o vômito torna-se um objetivo em si mesmo, de modo que a pessoa come em
excesso para vomitar ou vomita após ingerir uma pequena quantidade de alimento. Os pacientes
com Bulimia Nervosa podem usar uma variedade de métodos para a indução de vômitos,
incluindo o uso dos dedos ou instrumentos para estimular o reflexo de vômito. Os pacientes em
geral se tornam hábeis na indução de vômitos e por fim são capazes de vomitar quando querem.
Outros comportamentos purgativos incluem o uso indevido de laxantes e diuréticos.
Aproximadamente um terço dos pacientes com Bulimia Nervosa utiliza laxantes após um ataque
de hiperfagia. Raramente, os pacientes com esse transtorno utilizam enemas (introdução de
medicamentos pelo reto), após os episódios compulsivos (CORDÁS, 1995).

Os pacientes com Bulimia Nervosa podem jejuar por um dia ou mais ou exercitar-se
excessivamente na tentativa de compensar o comer compulsivo. Exercícios podem ser
considerados excessivos quando interferem significativamente em atividades importantes,
quando ocorrem em momentos ou contextos inadequados ou quando o paciente continua se
exercitando apesar de lesionado ou de outras complicações médicas. Pouco se conhece a
respeito das causas da Bulimia Nervosa. Possivelmente exista um modelo onde múltiplas causas
devem interagir para o surgimento da doença, incluindo aspectos socioculturais, psicológicos,
individuais e familiares, neuroquímicos e genéticos.
Influência cultural tem sido apontada, atualmente, como um forte desencadeante; o
corpo magro é encarado como símbolo de beleza, poder, autocontrole e modernidade. Desta
forma a propaganda dos regimes convence o público de que o corpo pode ser moldado. Assim, a
busca pelo corpo perfeito tem se manifestado em três áreas: nutrição/dieta, atividade física e
cirurgia plástica.
34
Distúrbio da interação familiar, eventos estressantes relacionados à sexualidade e
formação da identidade pessoal são apontados como fatores desencadeantes ou mantenedores
da Bulimia. Postula-se que alterações de diferentes neurotransmissores podem contribuir para o
complexo sintomático, notadamente dos mesmos neurotransmissores envolvidos na depressão
emocional.

Os pacientes com Bulimia Nervosa tipicamente estão dentro da faixa de peso normal,
embora alguns possam estar com um peso levemente acima ou abaixo do normal. O transtorno
ocorre, mas é incomum, entre pacientes moderada e morbidamente obesos. Há indícios de que,
antes do início do Transtorno Alimentar, os pacientes com Bulimia Nervosa estão mais
propensos ao excesso de peso do que seus pares. Entre os episódios compulsivos, os pacientes
com o transtorno tipicamente restringem seu consumo calórico total e selecionam
preferencialmente alimentos com baixas calorias (diet) evitando alimentos que percebem como
“engordantes” ou que provavelmente ativarão um ataque de hiperfagia (CORDÁS, 1995).

Em cerca de um terço dos pacientes com Bulimia Nervosa ocorre Abuso ou


Dependência de Substâncias, particularmente envolvendo álcool e estimulantes. O uso de
estimulantes frequentemente começa na tentativa de controlar o apetite e o peso. É provável que
30 a 50% dos pacientes com Bulimia Nervosa também tenham características de personalidade
que satisfaçam os critérios para um ou mais Transtornos da Personalidade. A Bulimia Nervosa
ocorre, conforme relatado para a Anorexia Nervosa, com frequência aproximadamente similar na
maioria dos países industrializados, incluindo os Estados Unidos, Canadá, Europa, Austrália,
Japão, Nova Zelândia e África do Sul. Poucos estudos examinaram a prevalência da Bulimia
Nervosa em outras culturas. Em estudos clínicos da Bulimia Nervosa nos Estados Unidos, os
pacientes com esse transtorno eram principalmente brancos, mas o transtorno também foi
relatado entre outros grupos étnicos. Em amostras clínicas e populacionais, pelo menos 90% dos
pacientes com Bulimia Nervosa são mulheres, como também ocorre na Anorexia Nervosa (CEDI,
2009).

A Bulimia Nervosa começa ao final da adolescência ou início da idade adulta. A


compulsão periódica frequentemente começa durante ou após um episódio de dieta. O
comportamento alimentar perturbado persiste por pelo menos vários anos, em uma alta
35
porcentagem das amostras clínicas. O curso pode ser crônico ou intermitente, com alternância
de períodos de remissão e recorrência de ataques de hiperfagia.

A taxa de prevalência da Bulimia Nervosa é de 2 a 4% entre mulheres adolescentes e


adultas jovens. A grande maioria dos pacientes com Bulimia Nervosa é do sexo feminino, na
proporção de 9:1. O início dos sintomas vai dos últimos anos da adolescência até os 40 anos
com idade média de início por volta dos 20 anos (BOCK , 2002).

Algumas profissões em particular parecem apresentar maior risco, como é o caso dos
jóqueis, atletas, manequins e pessoas ligadas à moda em geral, onde o rigor com o controle do
peso é maior do que na população geral. Semelhante à Anorexia Nervosa, aspectos
socioculturais são importantes na medida em que a doença parece também mais comum em
classes econômicas mais elevadas. Toda essa obsessão com alimentos e calorias, embora
doentia, tem importante reforço em nossa cultura. Atualmente, a sociedade é obsessivamente
preocupada com tudo o que diga respeito ao peso, gordura, calorias.

Quando eu tinha 12 anos, já era muito alta e um pouco gordinha. Nas férias, os
garotos ficavam me zoando, me chamando de gorda. Aí meti na cabeça: gorda, é?
Então vou emagrecer. Tinha uma meta de peso; quando atingia, baixava mais.
Acordava às 5h da manhã para nadar, fazia quatro horas de exercícios todos os dias.
Uma vez fiquei uma semana sem comer absolutamente nada, só bebia água.
Descobri por acaso que induzir o vômito poderia ajudar a emagrecer. Foi num
programa de TV que mostrava o lado ruim da Anorexia. Só que, em vez de me
alertar, me deu a ideia: eu posso comer, é só vomitar depois (LOPES, 1997, p. 14).

A quantidade de revistas que tratam exclusivamente da “boa forma” e das dietas e


alimentações pretensamente balanceadas, reforçam a preocupação doentia das pessoas com
esses transtornos alimentares.
Não é raro que a Bulimia se dê concomitante com a Anorexia. Nesse caso, além da
recusa alimentar, caso haja ingestão de comida (em qualquer quantidade) haverá provocação de
vômito. De qualquer forma, associada ou não à Anorexia, a Bulimia é um quadro grave e de
difícil tratamento. Segundo estatísticas, das pessoas que sofrem de Anorexia e Bulimia, apenas
um terço consegue se recuperar e cerca de 20% morrem em função do estado agudo de
desnutrição. A magreza excessiva provoca complicações renais, hormonais e gástricas e até 36
parada cardíaca. A Bulimia ocorre quase que exclusivamente em mulheres jovens. Menos de
10% dos pacientes são homens (BOCK, 2002).
Segundo Gannon e Mitchell (1986), a melhor opção terapêutica para normalizar o
comportamento alimentar dos pacientes com bulimia nervosa pode ser oferecida por equipes
com psiquiatras e nutricionistas. Para o tratamento efetivo dessa patologia, recomenda-se a
presença de uma equipe multiprofissional, onde outros profissionais estejam também inseridos
(psicólogos, terapeutas, educadores físicos, enfermeiros, clínicos), com caráter interdisciplinar de
atenção ao paciente. Diversas abordagens psicoterápicas têm sido utilizadas no tratamento da
bulimia nervosa. A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), de acordo com a literatura, é o
tratamento mais eficaz para redução de sintomas de bulimia nervosa, como modificação de
atitudes disfuncionais em relação à forma, ao peso, à dieta, e dos comportamentos purgativos
em curto prazo (FAIRBURN e col., 1991, APA, 1993). Um modelo de aconselhamento nutricional
e técnicas cognitivo-comportamentais apresentam-se como o tratamento que parece ter
melhores resultados.

Assim como na anorexia nervosa, para o tratamento da bulimia nervosa, as


psicoterapias individual e familiar são indicadas (APA, 1994; CORDÁS, 1994).

TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL

A terapia cognitivo-comportamental (TCC), na bulimia nervosa, baseia-se na teoria


desenvolvida por Beck et.al.(1982) para tratamento da depressão.

Consiste em cinco pontos principais:


1) Automonitoração da ingestão alimentar (inclusive os episódios de compulsão
alimentar e purgação);

2) Pesagem regular;

3) Recomendações específicas para normalizar o comportamento alimentar e reduzir


as dietas restritivas; 37

4) Reestruturação cognitiva focada nos fatores relacionados ao desenvolvimento e à


manutenção do transtorno alimentar;

5) Prevenção de recaídas.

Existem características psicopatológicas fundamentais que devem ser levadas em


consideração para o tratamento da bulimia nervosa. A principal delas é a presença de ideias
supervalorizadas concernentes à forma e ao peso corporal. No modelo de tratamento cognitivo
comportamental, essas ideias seriam cognições distorcidas, presentes de forma estereotipada e
automática, que provocariam comportamentos alimentares igualmente distorcidos, como a
adoção de regras dietéticas rígidas e inflexíveis, baseadas na realização de jejuns, vômitos auto
provocados, abuso de laxantes, diuréticos e moderadores de apetite. Ao ocorrerem
transgressões destes hábitos alimentares, como acontece durante os episódios bulímicos (com a
ingestão exagerada e rápida de alimentos altamente calóricos), estas são consideradas pelas
pacientes como sendo um abandono completo do controle alimentar, aumentando os
sentimentos de impotência e sofrimento (GUIMARÃES et. al., 1998).

A TCC tanto pode ser realizada em âmbito individual como grupal para pacientes com
bulimia nervosa. Os resultados dos estudos com TCC grupal evidenciam taxas elevadas de
redução de sintomas e abstinência ao final do tratamento.
QUADRO 1 - Resultados de diferentes tratamentos para bulimia nervosa

encontrados pelos autores em estudos de seguimento.

AUTORES TEMPO DE TÉCNICA/ RESULTADO

SEGUIMENTO PÚBLICO 38

LACEY Pelo menos dois Tratamento de pelo 24 pacientes (80%)


menos 10 semanas pararam suas
(1983) anos. (de base cognitivo
compulsões e
comportamental).
vômitos
Avaliou 30 sujeitos completamente
que haviam iniciado
um tratamento ao final das 10
combinado sessões, 4 pacientes

individual e grupal. pararam dentro de


mais 4 semanas,

dando um sucesso de
93%.

HSU & Após um ano. Método 46% tiveram bom


comportamental, num resultado, 18%
HOLDER tratamento resultado
(1986) ambulatorial de intermediário e 21%
pobre resultado.
duração de 2-4
meses

56 pacientes
bulímicas

(critério de Russell).

SWIFT e col. Dois anos. 27% das pacientes se


encontravam
(1987)
assintomáticas, 40%
tinham uma

recuperação
intermediária e 33%

tinham episódios
bulímicos e

purgativos 39
diariamente

MITCHELL Seguimento de 2 100 pacientes 25% de falha de


bulímicos. tratamento, 75% dos
e col, (1988) a 5 anos.
pacientes tinham
melhorado em

termos de
comportamento
alimentar,

60% estavam livres


dos

comportamentos
bulímicos.

KELLER e Depois de 3 anos 30 bulímicas 1/3 das pacientes


permaneceu com
Col., (1992) do estudo. 35 - 42 meses.
episódios bulímicos /
probabilidade

cumulativa de 63% de
recaída em 78

semanas após a
recuperação / 50%
das

que se recuperaram
de um episódio

prospectivo recaíram
em outro.
OLMSTED e Follow-up de 2 48 mulheres com Razão de recaída de
bulimia nervosa 31,3% / 2/3 dos
Col., (1994) Anos. programa de 8
que recaíram tiveram
horas/dia,
pouca melhora
5 dias por semana
com durante o tempo de
seguimento. 40
refeições
supervisionadas.

COLLINGS 49 mulheres e 1 52% tiveram


homem com recuperação total, 9%
& KING
diagnóstico de BN. continuaram a sofrer
(1994) da síndrome,

39% continuaram a
experimentar

alguns sintomas.

KEEL & 5-10 anos após a Trabalho de revisão Mortalidade de 0,3% /


de 88 50% das
MITCHELL Apresentação.
estudos / seguimento pacientes tinham se
(1997) de pelo recuperado

menos seis meses de completamente e


pacientes 20% continuaram a

com Bulimia Nervosa. preencher critério


para BN.

KEEL e col. 11,5 +/- 1,9 173 bulímicas. 11% da preenchiam


critério para
(1999) Anos.
bulimia nervosa, 0,6%
para anorexia

nervosa, 18,5% para


transtorno

alimentar não
especificado e 69,9%

estavam com
remissão parcial ou

completa.

AGRAS e 194 bulímicas. 8 sessões de 50 min 50% de recuperação.


ao longo 41
col., 2000
de 16 semana.s

LEUNG e col. 12 sessões de 20 bulímicas. Redução de mais de


50% nos sintomas
(2000) TCC.
Bulímicos.

FONTE: Alvarenga (2001).

A recuperação na BN não pode ser conceitualizada em termos de abstinência versus


não abstinência. Os estudos mostram claramente que a maioria dos pacientes tratados para BN,
incluindo aqueles com excelente prognóstico em longo prazo, terão períodos de lapsos e
recaídas em seus comportamentos bulímicos. No entanto, orientar os pacientes que a
abstinência de comportamentos bulímicos deve ser absoluta e que pequenas imprudências
levam a grandes recaídas, pode determinar essas falhas. Os pacientes precisam ser orientados
a lidar com a recorrência dos sintomas bulímicos para que tais episódios não saiam controle
(MITCHELL at. al., 1988).
Para recordar:

Principais características da bulimia nervosa

Episódios de gula (consumo rápido de grandes quantidades de comida num


curto período de tempo).
42
Um sentimento de falta de controle sobre o comportamento alimentar.
Vômito autoprovocado

Uso de laxativos e diuréticos.

Dieta, jejum ou exercício rigoroso para prevenir o aumento de peso.

Persistência de preocupações quanto à forma do corpo e peso.

Comportamentos associados à bulimia

Preocupação constante com comida e/ ou peso.

Autocriticismo severo.

Frequentes idas ao banheiro após as refeições.

Restrições dietéticas ao comer em público.

Comportamentos impulsivos (com álcool, gastar dinheiro, tomar decisões).

Consequências físicas da bulimia

Desequilíbrio eletrolítico, com mau funcionamento cardíaco e renal que poderá


ser provocado pela purga (vômitos, laxativos).

Dificuldade em concentrar-se em tarefas, mudanças de humor devido a um


desequilíbrio químico.

Glândulas inchadas, enfatuamento das bochechas ou derrames sanguíneos por


baixo dos olhos.

Decadência dentária inexplicável e problemas nas gengivas.

Queixas de dores de garganta.

Arranhões ou escoriações vermelhas na parte de cima das mãos.


O tratamento da bulimia nervosa é semelhante ao da anorexia nervosa e deverá
ser específico às necessidades do indivíduo. O tratamento pode ser feito com
internamento ou em programas diários para pacientes não internados e por meio
de psicoterapia individual ou de grupo. Medicamentos como o Prozac têm
demonstrado diminuir o número de episódios de gula e reduzir a depressão
43
associada à bulimia. Os terapeutas utilizam várias abordagens que incluem a
intervenção cognitivo-comportamental, terapia familiar e terapias
psicodinâmicas ou de expressão artística.

FONTE: Disponível em: <www.sheenasplace.org>. Acesso em: 15 jan. 2010.

A Anorexia e a Bulimia estão entre as principais causas de morte de mulheres jovens


em todo o mundo, e a maioria das vítimas são adolescentes em período de formação física e
psicológica que colocam em risco suas vidas pelo temor obsessivo de engordar. Exemplos
famosos de Anorexia em jovens não faltam: recentemente ganhou destaque na imprensa da
China uma estudante de 15 anos que media 1,65 m e pesava 54 kg quando começou uma dieta
que acabou levando a sua morte, pesando menos de 30 kg. A doença não escolhe classe social
e chegou a círculos privilegiados, como no caso da filha do presidente francês Jacques Chirac e
da princesa Victoria, da Suécia. Entre as vítimas mais velhas, é preciso lembrar a modelo Kate
Moss, que já foi hospitalizada por Anorexia, e a princesa Diana da Inglaterra, bulímica assumida.
Mas, além de chegar à moda e ao poder, círculos em que a obsessão com a aparência é
constante, a Anorexia e a Bulimia têm tirado o sono de milhares de famílias anônimas em todo o
mundo, que veem suas filhas sempre às voltas com dietas e programas de beleza, e nem
sempre sabem reconhecer o limite entre a preocupação com a beleza e a distorção da
autoimagem. Por isso, em geral, as famílias só detectam o problema quando a situação já é de
emergência, o que faz maiores os riscos de que a doença seja fatal.
7 TRANSTORNO DO COMER COMPULSIVO, SOBREPESO E OBESIDADE

É um dos transtornos alimentares que se assemelha à


44
bulimia, pois se caracteriza por episódios de ingestão exagerada
e compulsiva de alimentos e, no entanto, difere da bulimia, pois
as pessoas afetadas não produzem a eliminação forçada dos
alimentos ingeridos – tomar laxantes e/ou provocar vômitos.

Pessoas com esse transtorno sentem que perdem o


controle quando comem. Ingerem grandes quantidades de
alimentos e não param enquanto não se sentem “empanturradas”.

Geralmente apresentam dificuldades em emagrecer ou manter o peso. Quase todas as


pessoas com esse transtorno são obesas e apresentam história de variação de peso. São
propensas a vários problemas médicos graves associados à obesidade, como o aumento do
colesterol, hipertensão arterial e diabetes. É um transtorno mais frequente em mulheres.

A ingestão exagerada e compulsiva de alimentos, característica da Bulimia e do comer


compulsivo foi batizada, em inglês, com o nome de binge eating – orgia alimentar. Elas
geralmente ocorrem na calada da noite, longe do olhar de censura de outras pessoas, e são
acompanhadas por uma sensação subjetiva de perda de controle, seguida de culpa. Assim como
ocorre na compulsão pelo álcool, pelas drogas, por chocolates ou em outras formas de
dependência, as causas profundas do comer compulsivo continuam a ser um mistério para os
estudiosos.

Obesidade:

Nas últimas décadas, tem-se dado grande ênfase ao estudo da gordura corporal e aos
índices de adiposidade em crianças, adolescentes, adultos, devido a sua associação com o
desenvolvimento de inúmeras doenças, representando um fator de risco para a saúde, quando
em excesso. A prevalência de sobrepeso e obesidade na população pode tornar-se importante
indicador de saúde presente e futura (GUEDES e GUEDES, 1998).

Durante muito tempo na história da humanidade, o ganho de peso, bem como o


acúmulo de gordura, eram vistos como sinais de saúde e prosperidade. Hoje, contudo, a
obesidade é considerada uma doença crônica que afeta crianças, adolescentes e adultos (OMS,
45
1997). Estudos procuram abranger levantamentos, na tentativa de fornecer subsídios na análise
da prevalência do sobrepeso e da obesidade em todas as idades e classes sociais. Esses
estudos podem contribuir para a monitoração do nível de saúde e qualidade de vida da
população (GUEDES e GUEDES, 1998). Assim estudos populacionais definem obesidade como
um IMC (Índice de Massa Corporal) igual ou superior a 30. Segundo The U.S Census Bureau’s -
Weight–Control Information Network (2000), o número de americanos adultos com 20 anos ou
mais que se encontram acima do peso é de 133,2 milhões de pessoas, desses 64,7 milhões
estão com IMC igual ou superior a 30, classificados como obesos.

Porém a obesidade não é exclusivamente dos países desenvolvidos, ou do mundo


ocidental, aparece também na América Latina em países como México, Uruguai, Chile, Peru,
Colômbia e Brasil. De acordo com dados do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(2009), num universo de 95,5 milhões de brasileiros de 20 anos ou mais existem 38,8 milhões
com excesso de peso, das quais 10,5 milhões são considerados obesos, sendo que o excesso
de peso tende a aumentar a partir dos 20 anos.

Relatos da OMS (1995) mostram que a prevalência da obesidade na infância tem


aumentado em torno de 10 a 40% na maioria dos países europeus nos últimos 10 anos. A
obesidade ocorre mais frequentemente no primeiro ano de vida, entre 5 e 6 anos e na
adolescência. No Brasil, já foram realizados estudos verificando o aumento da obesidade infantil,
como podemos verificar na tabela a seguir (MELLO; LUFT; MEYER, 2004).
TABELA:

PREVALÊNCIA DE SOBREPESO E OBESIDADE EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO


BRASIL.

Autor Local Faixa etária Número Critério Resultados


utilizado
46
Monteiro São 0 a 59 1973/74: 756 Índice 1973/74–desnutrição:5,5%;
& Conde Paulo meses de 1984/85: 999 peso/altura obesidade:3,2%
(2000) idade 1995/96: e escore 1984/85 –desnutrição: 1,7%;
1266 Z* obesidade: 4,0% 1995/96–
desnutrição: 0,6%; obesidade:3,8%
Leão et.
al. (2003) 387 IMC+
Obesidade – escola pública: 8%;
Anjos et. Salvador 5 a 10 anos escola privada: 30%
al. (2003) 3.387 IOTF#
<10 anos Obesidade: 5%

Sobrepeso – alta renda:34,3% ;


Balaban Baixa renda: 8,7%
& Silva Obesidade – alta renda: 15,1%;
Crianças e 762 IMC
(2003) baixa renda: 4,4%
Rio de adolescentes
Janeiro

Recife Obesidade – sexo feminino: 10,3%;


sexo masculino: 9,2%
Abranrtes
et.al IMC
7.260
(2002) Crianças e
Sudeste adolescentes
e
Nordeste

* Foram utilizadas como padrão de referência as curvas do National Center for Health Statistics
(NCHS) de 1978.

+ IMC – Índice de massa corpórea. # IOTF – International Obesity Task Force.

FONTE: MELLO; LUFT; MEYER, 2004, p. 174.


O Brasil está entre os países com rápida elevação do sobrepeso e obesidade, quando
avaliada a partir do IMC, principalmente em crianças e adolescentes, mesmo em populações
mais carentes (LEÃO et al., 2003). Quadro que já tem preocupado as autoridades médicas, pois
esse aumento é evidente em todas as regiões do país (MONTEIRO; CONDE, 2000).

A obesidade está presente nas diferentes classes econômicas brasileiras


47
principalmente nas classes mais altas, por influência da educação, da renda e da ocupação,
resultando comportamentos específicos que afetam ingestão calórica e gasto energético
(MELLO et al., 2004).

Diamond (1998), afirma que a obesidade infantil na América é uma epidemia


silenciosa, uma vez que o reconhecimento clínico dos riscos da enfermidade, por parte dos
médicos clínicos não é satisfatório, existindo uma dificuldade em quantificá-la e tratá-la
eficazmente, além da inexistência de programas de prevenção.

Segundo McArdle (1998, p. 576):

“Perturbador é que, para cerca de uma em cinco crianças e adolescentes norte-


americanos, a obesidade é o distúrbio crônico mais comum. Nesta gama etária, a obesidade
aumentou cerca de 45%, independentemente de raça e sexo”.

A obesidade é assunto de interesse universal, podendo ser considerada uma doença


multifatorial e crônica, caracterizada pelo excesso de tecido adiposo acumulado no organismo. É
fator de risco para doenças graves, como diabetes, osteoartrite, doenças cardiovasculares,
hipertensão, alguns tipos de câncer e problemas respiratórios. Podendo ser causa de sofrimento
e depressão, que prejudicam a qualidade de vida e além de trazer sérios riscos para a pessoa é
hoje um dos mais graves problemas de saúde pública do mundo.

Considerada uma epidemia mundial, o problema agrava-se quando surge na infância,


pois geralmente persiste na fase adulta. Assim é fundamental que a prevenção da obesidade
comece com limitação de ganho de peso durante a infância e adolescência, de modo a evitar a
proliferação das células adiposas.

Já os adultos, pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde (2007) mostra que, 13%
dos adultos são obesos, sendo o índice maior entre as mulheres (13,6%) do que entre os
homens (12,4%). Em 2006, quando foi apresentada a primeira edição do estudo Vigilância de
Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas Por Inquérito Telefônico (VIGITEL), 11,4%
dos brasileiros eram obesos. Em 2008, esse índice subiu para 13%.

VARIAÇÕES NO PERCENTUAL DE INDIVÍDUOS EXPOSTOS A FATORES DE RISCO 48

Variáveis 2006 2007 2008

% % %

Obesidade (total) 11,4 12,9 13,0

Excesso de peso (total) 43,0 43,4 43,3

FONTE: Brasil, Vigitel, 2007.

PERCENTUAL DE ADULTOS COM OBESIDADE (IMC ≥ 30 KG/M2)

Sexo

Capitais / DF Total Masculino Feminino

% % %

Aracaju 13,8 11,2 16,3

Belém 12,6 12,6 12,6

Belo Horizonte 12,1 11,3 12,9

Boa Vista 15,0 16,6 13,2

Campo Grande 13,9 14,1 13,7

Cuiabá 14,1 14,6 13,6


Curitiba 14,1 13,4 14,7

Florianópolis 12,0 13,5 10,5

Fortaleza 15,0 14,6 15,3

Goiânia 11,3 9,6 13,0

João Pessoa 14,3 16,6 12,1 49

Macapá 15,1 13,2 17,1

Maceió 13,5 13,6 13,5

Manaus 13,9 12,8 15,0

Natal 11,7 11,6 11,8

Palmas 10,2 10,2 10,2

Porto Alegre 15,9 15,6 16,0

Porto Velho 13,0 12,6 13,4

Recife 13,9 15,4 12,5

Rio Branco 15,2 14,6 15,8

Rio de Janeiro 12,8 12,4 13,3

Salvador 12,2 9,2 15,2

São Luís 9,5 8,1 11,0

São Paulo 13,8 15,2 12,5

Teresina 10,7 12,2 9,3

Vitória 11,0 11,8 10,3

Distrito Federal 12,0 10,4 13,4

FONTE: Brasil, Vigitel, 2007.


PERCENTUAL DE INDIVÍDUOS COM OBESIDADE (IMC ≥ 30 KG/M2), POR SEXO, SEGUNDO
IDADE E ANOS DE ESCOLARIDADE

Variáveis Total Masculino Feminino

% % %

Idade (anos) 50

18 a 24 4,2 4,9 3,5

25 a 34 11,9 11,9 11,8

35 a 44 15,0 15,9 14,1

45 a 54 19,3 18,0 20,5

55 a 64 19,9 15,8 23,7

65 e mais 16,5 11,2 20,5

FONTE: Brasil, Vigitel 2007.


8 ETIOLOGIA DA OBESIDADE

A tendência secular do aumento do número de obesos no mundo está atribuída a


51
diversos fatores. As causas da obesidade não se restringem apenas aos maus hábitos
alimentares, voltados para um excesso alimentar, é evidente que outros fatores contribuem já
que as diferenças individuais variam de indivíduo para individuo.

Nunes et al., (1998), coloca que 30% desses fatores são de influência genética, dos
70% restantes – 10% seriam fatores transmissíveis culturalmente e 60% não transmissíveis. Em
um meio ambiente capaz de produzir obesidade (sedentarismo, estresse, alimentos de fácil
acesso), o indivíduo geneticamente suscetível aumentará de peso, em um grau bem significativo.
A obesidade representa o resultado final de uma interação complexa de numerosos fatores e de
influências externas.

O sedentarismo é um importante fator de desenvolvimento da obesidade. Na


sociedade moderna em que vivemos, é muito fácil reduzirmos o gasto calórico diário. Lancha
Junior (2006), coloca que estudos realizados demonstraram que 67,5% dos casos de pacientes
obesos estão associados à inatividade. Segundo Nunes et al., (1998), o dispêndio energético
decorrente da atividade física tem merecido atenção, pois um exemplo é o vidro elétrico da
janela de um automóvel que leva seu proprietário a poupar cerca de 30 Kcal diariamente.
Considerando-se as escadas rolantes, os controles remotos, os telefones sem fio e todos os
demais itens de conforto da vida moderna, hoje a redução do gasto calórico nas atividades
cotidianas é um dos fatores primordiais para o crescimento explosivo da obesidade no mundo
contemporâneo.

As escolhas que uma pessoa faz sobre o gasto calórico e ingestão calórica têm um
impacto predominante sobre o desenvolvimento da obesidade. Se mais calorias forem
consumidas do que gastas, o equilíbrio calórico positivo resultará em ganho de peso. A fim de
perder peso de gordura, deve-se estabelecer um equilíbrio calórico negativo, isto pode ser
alcançado diminuindo a ingestão calórica e/ou aumentando o gasto calórico (LANCHA JUNIOR,
2006).
A causa da obesidade é multifatorial, podendo ser decorrente de fatores genéticos,
neuroendócrinos, dietéticos, psicológicos, culturais, socioeconômicos, dentre outros
(ENGSTROM; ANJOS, 1996; ESCRIVÃO et al., 2000; POPKIN, 1994). A figura abaixo mostra as
causas da obesidade.

52
MODELO CAUSAL DA OBESIDADE

FONTE: SCHONFELD-WARDEN; WARDEN, 1997, p. 343.

Várias explicações têm sido dadas para o aumento da prevalência do sobrepeso e da


obesidade, podendo ser classificadas em três categorias:

a) Aquelas que atribuem esses fatores às mudanças das características genéticas;


b) As que atribuem a ocorrência desse fenômeno às condições ambientais;
c) E, finalmente, as que acreditam serem as mudanças decorrentes da interação
de fatores genéticos e ambientais.
Para alguns autores, os fatores externos socioambientais são mais relevantes na
incidência de obesidade do que os fatores genéticos (ALVES; FIGUEIRA, 1998; ANJOS, 2006;
ENGSTROM; ANJOS, 1999).

53
9 CLASSIFICAÇÃO DA OBESIDADE

Segundo Nahas (1999), a obesidade pode ser definida como um IMC (Índice de Massa
54
Corporal – peso/altura2) igual ou superior a 30, aceita-se que o peso ideal ou de menor risco
para a saúde corresponde a um IMC de 20 a 25, e até 27 para pessoas idosas. Esse índice deve
ser usado para adultos. Para crianças e adolescentes devem ser utilizadas curvas específicas,
uma vez que ainda estão em fase de crescimento.

Os indivíduos obesos podem ser classificados segundo McArdle (1998), de diversas


maneiras:

a) Distribuição regional da gordura:


 Relação cintura/quadril: o padrão de distribuição do tecido adiposo altera os
riscos para a saúde induzidos pela obesidade. Mais especificamente, relações de circunferência
de cintura para quadril que ultrapassa 0,80 para mulheres e 0,95 para homens estão associados
com maior risco de morte por coronariopatia e outras enfermidades.
 Obesidade central ou androide: concentração de gordura na área abdominal,
especialmente depósitos viscerais internos, gerando maior risco para a saúde, elevando o risco
de hiperinsulinemia, resistência a insulina, diabete não insulinodependente, câncer endometrial,
hipercolesterolemia, hipertensão e aterosclerose.
 Obesidade periférica ou ginoide: lipídios armazenados nas regiões glúteas e
femorais, sendo mais propenso a penetrar nos processos relacionados às cardiopatias.
b) Hipertrofia das células adiposas: os adipócitos existentes aumentam de volume
ou se enchem em geral quando as pessoas engordam como resultado de uma hiperalimentação
elas estão “enchendo”, ou seja, aumentando o volume das células adiposas.
c) Hiperplasia das células adiposas: o número total de células adiposas aumenta.
Esse número de adipócitos aumenta rapidamente durante o primeiro ano de vida, sendo cerca
de três vezes maior após um ano que por ocasião do nascimento. A maioria dos adipócitos
existentes antes do nascimento forma-se durante o último trimestre da gestação. Depois de um
ano de idade, o número de células aumenta paulatinamente até cerca dos 10 anos. Com o
aumento na dimensão das células, existe uma hiperplasia significativa durante a explosão de
crescimento da adolescência, daí em diante, o número de células permanece estável.

55
10 CONSEQUÊNCIAS DA OBESIDADE

Desde a antiguidade, Hipócrates percebera maior tendência dos obesos para a morte
56
súbita e, de fato, a questão da obesidade está muito além das preocupações estéticas. A
obesidade predispõe, então, a uma série de outras doenças. São também sintomas comuns aos
obesos o cansaço, a sudorese excessiva, principalmente nas extremidades e axilas, dores nas
pernas e colunas.

De acordo com McArdle (1998), o excesso de peso tem íntima relação, com a
mortalidade por doenças cardiovasculares. Normalmente a obesidade predispõe à hipertensão
arterial, ao aumento dos níveis de triglicérides e colesterol, bem como à diminuição do colesterol
benigno (HDL/colesterol). A obesidade é também um importante fator para o desenvolvimento do
diabetes mellitus, do tipo 2, não dependente de insulina. McArdle (1998) coloca que existem
inúmeros riscos para saúde de crianças, adolescentes e adultos obesos. Um relato dos Institutos
Nacionais de Saúde colocou que a obesidade deve ser encarada como uma doença
degenerativa crônica, perigos biológicos de enfermidade prematura e morte para níveis
surpreendentemente baixos de excesso de gordura, representando apenas 2,3 a 4,5 Kg acima
do peso corporal desejável. Os níveis mais altos de peso corporal dentro da variação normal
acarretam um aumento significativo no risco de cardiopatia e câncer. Uma mulher que ganha 9
Kg entre o final da adolescência e a meia-idade duplica seu risco de ataque cardíaco. Mais da
metade das mortes cardiovasculares e um terço das mortes relacionadas ao câncer de cólon,
endométrio e mama estavam relacionados ao excesso de peso.
PATOLOGIAS ASSOCIADAS À OBESIDADE

57

FONTE: CEDDIA, 1998, p. 63.


Os riscos específicos da obesidade para saúde, segundo McArdle (1998), incluem:

a) Função cárdica deteriorada como resultado de um maior trabalho mecânico e da


disfunção autônoma e ventricular esquerda;

b) Hipertensão e acidente vascular cerebral;


58
c) Diabetes com início na vida adulta;

d) Doença renal;

e) Doença pulmonar e disfunção como resultado do maior esforço necessário para


movimentar a parede torácica;

f) Problemas com a administração dos anestésicos durante cirurgia;

g) Osteoartrite, doença articular degenerativa e gota;

h) Vários tipos de câncer;

i) Níveis plasmáticos anormais de lipídios e lipoproteínas;

j) Redução da tolerância ao calor;

k) Sobrecarga psicológica.
11 ASPECTOS SOCIAIS DA OBESIDADE

A obesidade configura-se hoje como uma problemática social, podendo ainda ser
59
entendida como uma expressão das mudanças ocorridas no mundo, exigindo das pessoas maior
rapidez e flexibilidade inclusive nos horários e nos modos de se alimentar, das apelações
exacerbadas ao consumo que leva os indivíduos a comerem e não necessariamente a se
alimentarem devidamente. A indústria alimentícia se aproveita desta ofensiva que instaura, não
apenas pelo modo de vida, mas pela maneira de consumir e de alimentar em consonância com
os interesses do mundo industrializado (DOMINGOS et al., 2005).

A comida está sendo percebida como uma forma de obter status social. O alimento em
nossa sociedade é uma mercadoria, e como tal, é explorada pela mídia. A sociedade de
consumo revela a estratégia da sedução. Esta lógica torna-se cada vez mais fortalecida, à
medida que as tecnologias e o mercado colocam à disposição do público uma diversificação,
cada vez mais vasta, de bens e de serviços (FELIPPE, 2004). Os fast-foods tornaram-se uma
alternativa de refeição rápida, porém na maior parte das vezes carecendo de aporte nutritivo. Em
busca de solucionar o problema do tempo, passou a satisfazer as exigências do paladar. De
modismo passou a ser a opção para um número crescente de consumidores.

Os adolescentes, jovens e adultos estão mais sensíveis e permeáveis às mudanças e,


portanto, mais vulneráveis à propaganda, sem a preocupação com os danos que isso poderá
acarretar a sua saúde e qualidade vida. Como consequência há um crescente aumento de
pessoas com sobrepeso ou obesidade.

De acordo com Lowen (1979, p. 19): “A pessoa experimenta a realidade do mundo


somente por meio do seu corpo. O meio ambiente lhe provoca impressões porque se manifesta
sobre seu corpo e afeta seus sentidos”.

Desta forma, o ato de comer, além de ser instrumento para “matar a fome”, pode
conter significados das mais diversas ordens, funcionando, por exemplo, como alívio de
ansiedade, de irritabilidade, como sedativo, motivo de celebração e euforia ou até mesmo, como
veículo na busca de aceitação social.

Sob um viés semelhante, Coulon (1995) retrata que as pessoas constroem seu mundo
social por meio dos sentidos que atribuem as suas experiências, objetos e situações em geral. E
parece que o mundo do sujeito obeso está sendo cimentado sob o preconceito, a discriminação
60
e o isolamento. Tudo isto revelando um contexto sociocultural de forma que os padrões em voga
se referem ao corpo perfeito, bonito, “malhado”, fisicamente bem delineado.

Problemas psicológicos, sociais e comportamentais podem ocorrer em indivíduos


obesos. Muitas vezes, eles sofrem discriminação e estigmatização social, prejudicando seu
funcionamento físico e psíquico, podendo causar um impacto negativo em sua qualidade de vida
(KHAODHIAR; McCOWEN e BLACKBURN, 1999 apud DOMINGOS, et al.,2005).

O aspecto psicológico não está relacionado unicamente ao impulso à ingestão de


comida. Com efeito, a representação social da obesidade é responsável por estigmatizar o
obeso como alguém feio e relaxado. Essa imagem desencadeia sentimentos de solidão,
insatisfação e reclusão, caracterizando-se como novas formas de não inclusão. Os sentimentos
negativos impulsionam o agravamento de problemas emocionais, fazendo aumentar a ansiedade
que leva os indivíduos a ingerir ainda mais alimentos, reforçando, assim, o ciclo vicioso da
obesidade (DOMINGOS et al., 2005).

No dizer de Martins (1998, p. 18): “A exclusão é apenas um momento da percepção


que cada um e todos podem ter daquilo que corretamente se traduz em privação”.

Diante disso, ressaltamos as privações vivenciadas cotidianamente pelos obesos, seja


no mercado de trabalho onde os portadores de obesidade têm dificuldades de inserção devido
aos padrões estéticos, seja na participação no mercado de consumo, que propõe
majoritariamente roupas e objetos fabricados de acordo com os padrões vigentes, que priorizam
a estética do magro, esbelto, oferecendo tamanhos pequenos e/ou inadequados a pessoas que
não correspondem a este padrão. A privação do bem-estar também é muito comum, tendo em
vista que em geral, o estigma da obesidade favorece uma compreensão do fenômeno como
“algo não estético”, fora dos padrões de beleza, de responsabilidade individual e não como uma
doença. Para Martins (1998), a privação hoje é mais do que privação econômica, nela se
incluem também todas as formas de preconceito e discriminação. Ao longo da vida, o excesso
de peso traz outras dificuldades, como menor índice de emprego, timidez e problemas de
relacionamento afetivo. Devido a tais dificuldades, muitas vezes os indivíduos obesos sofrem ou
impõem-se restrições diante de atividades rotineiras como ir à escola, comprar roupas, namorar
e divertir-se (DAMIANI; CARVALHO e OLIVEIRA, 2002).
61
As discriminações são formas de exercício de poder para excluir pessoas do acesso a
certos benefícios ou vantagens ou do próprio convívio social que ocorrem por meio da rotulação
ou etiquetagem de estereótipos socialmente fabricados. Esses rótulos perpassam as relações
cotidianas de dominação produzindo a identificação social das pessoas (FALEIROS, 1995).
Segundo Felippe (2003) o nosso cotidiano se constituiu de valores e crenças, nesse momento
social que favorecem a obesidade. Social por se tratar da relação entre as pessoas, por envolver
estigmas, discriminação, preconceitos e a rede de relações do indivíduo em relação ao mundo e
aos outros.

As pessoas obesas são vistas de forma mais negativa do que pessoas não obesas nos
aspectos de inteligência e sucesso e, portanto, socialmente evitadas ou até mesmo rejeitadas
para certas funções de trabalho (MILLER; ROTHBLUM; BRAND; BARBOUR e FELÍCIO, 1990).
A obesidade e consequentemente a discriminação atinge também as crianças. Na
sociedade contemporânea atividades lúdicas estão sendo substituídas pelo videogame,
computador e pela programação da TV que na maioria das vezes transmite programas que
induzem à imitação e ao consumo e que acabam por definir um padrão estético.

As crianças obesas são frequentemente importunadas pelos colegas e menos aceitas


do que as crianças com peso normal. Bracco et al.,(2002), afirmam que a criança obesa está sob
forte estresse emocional promovido por uma sociedade que cultua o corpo perfeito. Essa criança
sente-se desestimulada a realizar qualquer tipo de atividade física em que tenha que expor seu
corpo que, quase sempre, é motivo de zombaria de outras crianças e até, de adultos que
atribuem a obesidade a uma falta de vontade desta criança em comer menos e ser menos
sedentária. A essa situação somam-se discriminação social, afastamento das atividades em
grupo, isolamento, dificuldades em expressar sentimentos, baixa autoestima e problemas
escolares.
12 OBESIDADE INFANTIL

62

A obesidade pode iniciar-se em qualquer idade da infância,


desencadeada por fatores como o desmame precoce, introdução inadequada de alimentos,
distúrbios do comportamento alimentar e da relação familiar, especialmente nos períodos de
aceleração do crescimento (FISBERG, 1995).

O ganho de peso acima do normal é geralmente estimulado já nos primeiros anos de


vida com introdução de alimentos calóricos, pois a família tem a antiga ideia de que criança
gordinha é sinal de saúde. Apesar do fator genético ser importante, geralmente a maior causa da
obesidade infantil está em uma alimentação inadequada. A educação alimentar deve começar
desde os primeiros anos de vida, pois o aumento do peso acima do normal aumenta o número
de células adiposas e favorece o aparecimento de obesidade no futuro.

De acordo com Pollock et al. (1993), existem três fases que são determinadas no
aumento do número das células adiposas:

a) O primeiro ano de vida: o número de células adiposas é cerca de três vezes maior
no primeiro ano de vida do que no nascimento. Resultando em um aumento no número de
células no organismo. Assim na gestação, a mãe deve evitar engordar mais de nove quilos.
Deve-se evitar também dar alimentos sólidos ao bebê até um ano de idade. O lema de que
criança gordinha é saudável deve acabar, pois sua saúde pode ficar comprometida no futuro;

b) Após o primeiro ano de vida: o número de células adiposas aumenta de forma mais
gradual, até mais ou menos os dez anos de idade e continua aumentando durante o impulso do
crescimento e na adolescência;
c) Adolescência: as alterações psicofísicas fazem com que os adolescentes aumentem
o número de células por três fatores – as alterações hormonais, a ingestão de alimentos
calóricos e inatividade física. Já na fase adulta, ocorre o aumento no tamanho destas células já
existentes.

De acordo com Mello et al., (2004) o ganho de peso na criança é acompanhado por
63
aumento de estatura e aceleração da idade óssea, depois o ganho de peso continua, e a
estatura e a idade óssea se mantêm constantes.
13 AVALIAÇÃO DA OBESIDADE INFANTIL

Existem vários métodos para diagnosticar e classificar o indivíduo em sobrepeso e


64
obeso. Em estudos populacionais e na prática clínica, a antropometria constitui-se em importante
método de diagnóstico, fornecendo estimativa da prevalência e gravidade das alterações
nutricionais. A avaliação antropométrica assume grande importância no diagnóstico nutricional
da criança. Isto se deve a sua facilidade de realização, objetividade da medida e possibilidade de
comparação com um padrão de referência de manuseio relativamente simples, principalmente
em estudos populacionais (OMS, 1995).

Brasil (2002) destaca várias formas de medição e pesagem em crianças.

A medição do comprimento da criança de 0 a 23 meses é feita deitada sobre uma


mesa antropométrica ou com o auxílio de uma régua antropométrica sobre uma superfície plana
(figuras abaixo).

ANTROPÔMETRO HORIZONTAL

FONTE: Brasil, 2002


Procedimentos para a medição:

1. A criança deve estar descalça, despida, sem touca, protetores ou enfeites de cabeça. O
cabelo deve estar solto.

2. Com o auxílio da mãe, deitar a criança mantendo seus ombros e cabeça apoiados na mesa ou
superfície plana. Segurar os tornozelos da criança mantendo-se as pernas esticadas. 65

3. Encostar a cabeça da criança na extremidade fixa da régua ou mesa antropométrica. Deslizar


a peça móvel até encostar nos calcanhares, mantendo os joelhos bem estendidos. Solicitar
ajuda da mãe para manter a cabeça da criança na posição correta.

4. Proceder à leitura da medida. A medida correta exige a precisão até o milímetro, contudo,
para evitar erros de medição aconselha-se aproximar, quando necessário, para o meio
centímetro mais próximo (exemplo: 70,2cm aproximar para 70,0 cm, 81,8cm, aproximar para
82,0 cm). Registrar imediatamente.

5. Retirar a criança da mesa e orientar a mãe para vesti-la.

6. Avaliar a adequação do comprimento na tabela de percentis e informar a mãe sobre essa


adequação.

MEDIÇÃO DE UMA CRIANÇA

FONTE: Brasil, 2002.


Altura (crianças de 24 a 72 meses - em pé).

Instrumentos de medição:

A medição da altura da criança maior de 2 anos deve ser feita em pé, em balança plataforma
com antropômetro ou em antropômetro de parede (Figuras abaixo).
66
Procedimento para a medição:

1. A criança deve estar descalça, com roupas muito leves ou despida, sem touca, protetores ou
enfeites de cabeça. O cabelo deve estar solto.

2. Colocar a criança de pé, sem curvar os joelhos, braços ao longo do corpo com os calcanhares
e ombros eretos e olhando para frente.

3. Deslizar o antropômetro ou haste metálica da balança até encostar na cabeça da criança, com
pressão suficiente apenas para comprimir os cabelos, mantendo-a firme.

4. Proceder à leitura da medida. A medida correta exige a precisão até o milímetro, contudo,
para evitar erros de medição aconselha-se aproximar, quando necessário, para o meio
centímetro mais próximo (exemplo: 110,2 cm aproximar para 110,0 cm, 131,8 cm, aproximar
para 132,0 cm). Registrar imediatamente.

5. Avaliar a adequação da altura na tabela de percentis e informar a mãe sobre essa adequação.
BALANÇA PLATAFORMA COM ANTROPÔMETRO

67

FONTE: Brasil, 2002.

MEDIÇÃO EM CRIANÇA MAIORES DE 2 ANOS.

FONTE: Brasil, 2002.


Crianças de 0 a 23 meses

Instrumentos de medição:

As balanças mais apropriadas para esta faixa etária são as que possuem divisões em, no
68
mínimo, 100g, capacidade total de, no mínimo, 25 kg, facilidade de leitura dos pesos e
mecanismo de tara. As balanças portáteis são aconselháveis por permitirem a deslocação para
visitas domiciliares, inquéritos, pesagens durante campanhas de vacinas.

Os equipamentos que melhor atendem essas características são:

1. Balança pediátrica, que possuem grande precisão com divisões em 10g, mas menor
capacidade (16kg) e portabilidade;

2. Balança suspensa de braço com suporte para a criança;

3. Balança suspensa tipo relógio com suporte para a criança.

Técnicas de medição:

1. Colocar a balança pediátrica em superfície plana em altura que permita uma boa visualização
da escala, destravar e tarar a balança antes de toda e qualquer pesagem.

2. As balanças suspensas devem ser penduradas em local seguro e em altura que permita uma
boa visualização da escala, normalmente na altura dos olhos do profissional de saúde, tarar a
balança antes de toda e qualquer pesagem.

3. A criança deve estar descalça, despida ou, no caso de frio, com roupas muito leves, sem
touca, protetores ou enfeites de cabeça. O cabelo deve estar solto.

4. Para a balança pediátrica:

• Com o auxílio da mãe ou acompanhante, colocar a criança no centro da balança pediátrica,


deitada ou sentada. Movimentar o cursor maior (quilogramas) sobre o suporte aproximando-a do
número de quilos esperados para a idade. Movimentar o cursor menor (gramas) fazendo o ajuste
até o ponteiro atingir o equilíbrio.
• Ler o peso da criança e anotá-lo, imediatamente, na ficha de registro.

5. Para as balanças suspensas:

• Com o auxílio da mãe, colocar a criança no suporte.

• Movimentar a peça ao longo do suporte até atingir o equilíbrio (balanças de braço) ou ler o
69
peso diretamente no relógio (balanças tipo relógio).

• Ler o peso e anotá-lo, imediatamente, na ficha de registro.

6. Com o auxílio da mãe ou acompanhante, retirar a criança da balança.

7. Anotar o peso na curva de crescimento no Cartão da Criança e interpretar a evolução.

8. Informar o peso da criança e a evolução do crescimento para a mãe ou acompanhante.

9. Nos casos de crescimento deficiente ou de desnutrição, proceder de acordo com as


orientações deste manual.

BALANÇA PEDIÁTRICA

FONTE: Brasil, 2002.


BALANÇA SUSPENSA

70

FONTE: Brasil, 2002.

Utilizando-se os valores de peso e estatura (P/A), que é a relação entre o peso


encontrado e o peso ideal para a idade e altura. A referência mais utilizada é a do NCHS (1977),
adotado pela (OMS). Os limites correspondentes ao índice P/A para meninos vai de 49,0 cm (0
meses) a 145,0 cm (11 anos e 7 meses) e para meninas de 49,0 cm (0 meses) a 137,0 cm (10
anos e 1 mês). Para classificação P/A as crianças são classificadas em risco de desnutrição,
desnutridas, sobrepeso, obesos e eutróficas. A tabela a seguir mostra os Pontos Corte para peso
e altura (P/A).

PONTO DE CORTE PARA PESO E ALTURA P/A

PERCENTIL CLASSIFICAÇÃO

= percentil 10 e = percentil 85 Eutrofia


> percentil 85 e = percentil 97 Sobrepeso

> percentil 97 Obesidade

< percentil 3 Desnutrição

> percentil 3 e < que o percentil 10 Risco de Desnutrição


71
FONTE: SISVAN Estado Nutricional dos Usuários da Atenção Básica.
Disponível em: <http://tabnet.datasus.gov.br/>. Acesso em: 10 jan. 2010.

Para reportar apenas ao tecido adiposo os meios de classificação são variados,


podendo usar, as medidas de espessura de prega cutânea. Outro meio de classificar a
obesidade é utilizando o Índice de Massa Corpórea (IMC), hoje aceito como padrão de medida
internacional para obesidade. A forma de cálculo para IMC é a divisão do peso (em kg) da
pessoa por sua altura, elevada ao quadrado (em m²). A próxima tabela apresenta as categorias e
os referidos índices de IMC com a finalidade de obter a resposta obesidade, desnutrição ou
normal.

CATEGORIA E IMC PARA ADOLESCENTES, ADULTOS E 3ª IDADE.

IMC (kg/m2)
CLASSIFICAÇÃO RISCO PARA A SAÚDE

Menos que 18,5 Baixo peso Baixo a moderado


18,5 – 24,9 Faixa recomendada Muito baixo

25,0 – 29,9 Baixo


Sobrepeso
30,0 – 34,9 Obesidade I
Moderado +
35,0 – 39,9 Obesidade II
Alto
40,0 ou mais Obesidade mórbida Muito alto

FONTE: NAHAS, p. 31, 1999.

72
Engstrom (2002), define que a classificação de crianças escolares dos 5 anos aos 9
anos e11 meses deve ser feito pelo indicador da tabela NCHS, pois IMC está ainda em fase de
discussão para essas faixas etárias. Existe também a tabela de Cole et al., (2000) com padrões
mundiais para sobrepeso e obesidade infantil. Obedecendo a recomendação da OMS,
sobrepeso e obesidade são definidos como IMC igual ou superior aos percentis 85 e 95 para
idade e sexo, respectivamente, descritos na tabela abaixo.

CLASSIFICAÇÃO DE SOBREPESO E OBESIDADE EM CRIANÇAS DE ACORDO COM IMC


(COLE, 2000).

Percentil 85 – Sobrepeso Percentil 95 - Obesidade

Idade – anos Masculino Feminino Masculino Feminino

5 17,4 17,1 19,3 19,2

6 17,6 17,3 19,8 19,7

7 17,9 17,8 20,6 20,5

8 18,4 18,3 21,6 21,6

9 19,1 19,1 22,9 22,8

FONTE: COLE et al., p.1240, 2000.


Existem outros métodos indiretos para o diagnóstico da obesidade, como a radiologia,
a ultrassonografia, a ressonância magnética ou a tomografia computadorizada, métodos
laboratoriais como hidrometria, Impedância Bioelétrica (BIA) e a Densitometria, mas todos esses
métodos exigem equipamentos especializados e alto custo financeiro (McARDLE, 1998). Todas
essas técnicas têm por objetivo quantificar e classificar os diferentes níveis da obesidade.
73
14 ETIOLOGIA DA OBESIDADE INFANTIL

A etiologia da obesidade é multifatorial, sendo a maioria das causas exógena. O estilo


74
de vida atual das famílias, a cultura consumista e os tipos de relacionamento, contribuem para a
obesidade desde a infância. Segundo Nahas (1999), a obesidade tende a se agregar nas
famílias. Estima-se que as crianças cujos pais não sejam obesos tenham apenas 10% de chance
de se tornarem obesas; se um dos pais for obeso, a chance é de 40% e chega a 80% para a
criança com pai e mãe obesos. Essa tendência à obesidade em família é explicável por dois
fatores: genético e ambiental e que significa maus hábitos de vida, particularmente alimentação
inadequada e atividade física discreta.

Na alimentação, o baixo consumo de frutas, hortaliças e leite, a omissão do café da


manhã e o consumo cada vez maior de salgadinhos e bolachas recheadas têm maior relação
com o excesso de peso (GUIMARÃES et al., 2006). O hábito de assistir televisão, além de
promover o sedentarismo, pode exercer influência negativa sobre a alimentação infantil, pois as
crianças são bombardeadas por uma série de propagandas mostrando em sua maioria alimentos
com alto teor de gorduras e açúcares (VIUNISKI, 1999; ALMEIDA; NASCIMENTO; QUAIOTI,
2002; MELLO; LUFT; MEYER, 2004).

A redução na prática de exercício físico pode ser atribuída pela diminuição de espaços
apropriados para atividades ao ar livre, associada ao aumento da insegurança, que favorecem a
permanência em casa e ao aparecimento de atividades lúdicas mais sedentárias e acessíveis a
uma grande parte da população, entre os quais a televisão, os jogos eletrônicos e/ou os jogos de
computador. Desta forma, as crianças que apresentam excesso de peso ou obesidade têm maior
probabilidade no futuro de virem a ser obesas, acarretando problemas fisiológicos e psicológicos.
Comodidades como elevadores, escadas rolantes, transportes motorizados e o uso prolongado
de aparelhos eletrônicos, televisão, videogame e computador, facilitam a vida das pessoas, mas
levam à inatividade, fator importante relacionado à obesidade (OLIVEIRA et al., 2003; ROBERT,
2003; MELLO; LUFT; MEYER, 2004; OLIVEIRA, 2006).
O estudo de Oliveira et al., (2003), verificou que a obesidade infantil foi inversamente
relacionada com a prática da atividade física, com a presença de TV, computador e videogame
nas residências, além do baixo consumo de verduras, confirmando a influência do meio
ambiente sobre o desenvolvimento do excesso de peso. Estudos demonstram que a influência
da obesidade é de 10% em crianças que assistem menos de 1 hora de televisão por dia,
enquanto que se o hábito de ver TV persistir por 3, 4, 5 ou mais horas por dia a prevalência 75
aumenta para 25%, 27% e 35% respectivamente (MELLO; LUFT; MEYER, 2004).

Estudos sugerem que a obesidade infantil está mais relacionada ao sedentarismo do


que à alimentação e atualmente as crianças gastam menos de 600 Kcal diárias, em média,
comparando com 50 anos atrás (ALVES, 2003; OLIVEIRA, 2006).

Outro aspecto relacionado à epidemia da obesidade é a contribuição do aumento das


porções e alimentos servidas em restaurantes, bares e supermercados. O artigo de Young e
Nestle (2002) apresenta a evolução dos tamanhos das porções dos alimentos oferecidas em
alguns estabelecimentos nos EUA nas últimas décadas, e compara com as padronizadas pelo
Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). Os resultados mostraram que o tamanho da
porção de carnes, massas e chocolates ultrapassava em 224, 480 e 700%, respectivamente, ao
da padronizada pelo USDA. Além disso, constatou-se que foi a partir da década de 70 que se
iniciou esse aumento das porções, coincidindo com a atuação mais forte do marketing na
indústria alimentícia. Como exemplo, o tamanho da batata frita oferecida aos consumidores em
meados dos anos 50 representava 1/3 do maior tamanho oferecido em 2001.

O sedentarismo e os maus hábitos alimentares devem ser evitados desde os primeiros


anos de vida e principalmente dentro do próprio ambiente familiar, pois a inatividade física na
família predispõe ao sedentarismo das crianças e a maioria delas apresenta uma obesidade
exógena resultante da nutrição e exercitação inadequada (PARZIANELLO; SANTOS, 2007).

A prática regular de exercícios ajuda a combater a obesidade, melhora a composição


corporal aumentando a massa óssea e consequentemente prevenindo a osteoporose, contribui
para a diminuição das crises de asma e torna as crianças mais saudáveis (ALVES, 2003).

Os pais precisam estimular seus filhos a manterem-se ativos, sem desprezar ocasiões
onde a atividade física pode ser realizada, como passeios de bicicleta, skate, patins, caminhadas
levando o animal de estimação para passear, prática de jardinagem e brincadeiras ao ar livre
(ROBERT, 2003; MELLO; LUFT; MEYER, 2004).

76
15 COMPLICAÇÕES DA OBESIDADE INFANTIL

De acordo com Mello et al., (2004) o excesso de gordura na região abdominal e o


77
excesso de gordura visceral são aspectos da composição corporal associados à ocorrência de
doenças crônico-degenerativas; o aumento do colesterol sérico é um fator de risco para doença
coronariana, e esse risco é ainda maior quando associado à obesidade.

As consequências da obesidade têm início ainda na infância, como a formação das


placas ateroscleróticas que causam problemas cardiovasculares, e atualmente 60% das crianças
com excesso de peso apresentam dislipidemia e hipertensão arterial, fatores ligados a esta
doenças (ALMEIDA; NASCIMENTO; QUAIOTI, 2002; LUCAS, 2005; FISBERG, 2005).

A aterosclerose tem início na infância, com o depósito de colesterol na íntima das


artérias musculares, formando estrias gordurosas. Essas estrias nas artérias coronarianas de
crianças podem, em alguns indivíduos, progredir para lesões ateroscleróticas avançadas em
poucas décadas. Este processo é reversível no início do seu desenvolvimento, sendo o ritmo de
progressão variável (McARDLE, 1998).

Wright et al (2001), apresentaram um estudo que visou verificar se a obesidade na


infância aumentava o risco de obesidade na vida adulta. Concluíram que esse risco existe, mas
que a magreza na infância não é um fator protetor para a ocorrência de obesidade na vida
adulta. Assim, afirmam que o IMC na infância correlaciona-se positivamente com o IMC do
adulto, e que crianças obesas têm maior risco de óbito quando adultos. No entanto, o IMC não
reflete a porcentagem de gordura, e somente aos trezes anos, crianças obesas têm realmente
maior chance de se tornar adultos obesos.

A obesidade, já na infância, está relacionada a várias complicações, como também a


uma maior taxa de mortalidade. Entre as complicações frequentes e que podem ser notadas em
curto prazo estão os problemas ortopédicos, respiratórios, transtornos psicossociais, dificuldade
de relacionamentos e isolamento social e além de comprometer a postura e causar alterações no
aparelho locomotor, e trazer incômodos no convívio social na vida adulta (VIUNISKI, 1999;
SILVA et al, 2003; ROBERT, 2003; SILVA; BALABAN; MOTTA, 2005).

A obesidade repercute ainda negativamente nos níveis de aptidão física, crianças


obesas demonstram capacidade cardiorrespiratória inferior; maior gasto energético no decorrer
das atividades, pois despendem maiores esforços para a mesma intensidade de atividade física;
78
e baixo nível de aptidão física, quando comparadas às crianças eutróficas (FREY; CHOW, 2006).
16 COMO COMBATER A OBESIDADE

Baseado no exposto consideraremos nossa conduta para o combate ao excesso de


79
peso em dois itens: correção da alimentação e escolha da atividade física.

16.1 CORREÇÃO ALIMENTAR

Um dos aspectos que ajudam na perda de peso corresponde a mudanças nos hábitos
alimentares.

O que nos auxilia nesta mudança é analisar dois pontos:

a) A quantidade total de calorias em 24 horas fornecida pela alimentação.


b) A distribuição dos nutrientes na alimentação.

Independente do tratamento proposto, a reeducação alimentar é fundamental, uma


vez que, através dela, reduziremos a ingestão calórica total e o ganho calórico
decorrente. Esse procedimento pode necessitar de suporte emocional ou social,
através de tratamentos específicos (psicoterapia individual, em grupo ou familiar).
Nessa situação, são amplamente conhecidos grupos de reforço emocional que
auxiliam as pessoas na perda de peso (DOMINGOS, 2000, p.76).

Para pacientes com IMC de 27 a 35, uma diminuição de 300 a 500 kcal/dia resultará
em uma perda de peso de cerca de 450 g/semana e de 10% em 6 meses. Para pacientes com
IMC maior que 35, déficit de 500 a 1.000 kcal/dia levará a uma perda de peso de cerca de 450 a
900 g/semana e 10% do peso em 6 meses (FAMADAS, 2010).
Após seis meses de tratamento, alcançada a perda de peso de cerca de 10%, o
indivíduo passará a gastar menos energia. Desse modo, caso seja necessário perder mais peso,
deve ser feito um ajustamento na dieta e na atividade física. Como regra geral, o paciente deve
escolher uma dieta de 1 000 a 1 200 kcal/dia (mulheres) e 1 200 a 1 500 kcal/dia (homens).

A distribuição dos nutrientes na alimentação merece mais detalhes, já que com o


80
manejo dos nutrientes na dieta, tanto em quantidade quanto em qualidade, conseguiremos
reduzir o total das calorias consumidas e fornecer, ao organismo, os nutrientes corretos para
obtenção de boa saúde (FAMADAS, 2009).

QUADRO 1 – DISTRIBUIÇÃO DOS ALIMENTOS EM GRUPOS

a) Abóbora, acelga, agrião, aipo (ou salsão), alcachofra, alface, aspargo,


berinjela, brócolis, cebola, cenoura, chicória, chuchu, cogumelo
1.Vegetais e tubérculos (champignon), couve, couve-flor, espinafre, nabo, pepino, pimentão,
quiabo, rabanete, repolho, tomate, vagem.

b) Aipim (ou mandioca, macaxeira), alho, batata-doce, batata-inglesa.

2. Leguminosas Ervilha, feijão, grão-de-bico, lentilha, soja.

3. Cereais Arroz, aveia, centeio, cevada, germe de trigo, milho, trigo.

4. Carnes Ave, bovina, fígado, ovo, peixe.

5. Óleos De amendoim, de arroz, de coco, de milho, de oliva, de soja.

Iogurte, leite, manteiga, margarina, queijo mussarela, queijo prato,


6. Leite e seus derivados
requeijão, ricota.

a) Abacaxi, abiu, abricó-do-pará, açaí, ameixa, amora, banana,


carambola, cereja, cidra, damasco, figo, framboesa, fruta-do-conde, fruta-
pão, goiaba, groselha preta, groselha vermelha, jaca, laranja, lima, limão,
7. Frutas maçã, mamão, manga, maracujá, marmelo, melancia, melão, morango,
pêra, pêssego, romã, tâmara, tamarindo, tangerina, uva.

b) Abacate, caqui, coco.

Amêndoa, amendoim, avelã, azeitona, cacau (como chocolate), castanha


8. Frutas oleaginosas
de caju, castanha-do-pará, nozes.
Observação: nos grupos 1 e 7 foram feitas subdivisões, em “a” e “b”, já que seus componentes
apresentam heterogeneidade, o que será mencionada na Tabela abaixo.

FONTE: BARBOSA, (1999. p. 12); FAMADAS, (2010).

81

Partindo do princípio de que, se há excesso de peso ou obesidade, existe erro


quantitativo e/ou qualitativo da alimentação ingerida, procederemos à correção dos erros
existentes. Para facilitar a seleção dos alimentos, apresentamos a tabela a seguir:

TABELA:

COMPOSIÇÃO DOS ALIMENTOS QUE INTEGRAM OS OITO GRUPOS, DESTACANDO TRÊS


NÍVEIS DIFERENTES DOS TEORES DOS NUTRIENTES (VER ESCLARECIMENTO NO
RODAPÉ DA TABELA).

Grupo Calorias Proteínas Lipídios Glicídios Fibras

Vegetais e a) 11-43 (25) a) 1-10 (5)


0.6-3 (2) 0.1-0.5 (0.2) 0.4-3 (1)
tubérculos b) 86-149 (115) b) 20-33 (26)

Leguminosas 34-360 (130) 4-30 (14) 0.1-0.3 (0.3) 11-61 (25) 2-8 (5)

Cereais 11-365 (290) 3-30 (11) 0.51-9 (3) 25-79 (59) 0.60-13 (4)

Carnes 157-258 (215) 12-31 (23) 7-18 (13) Menos de 1g Zero

Óleos 884 (884) Zero 100 em 100 Zero Zero

Leite e derivados 105-716 (340) 1-26 (12) 0.18-81 (27) 0.06-19 (4) Zero

Frutas a) 31-109 (56) 0.39-7 (1) 0.1-1 (0.4) 4-32 (14) 0.1-13 (3)
b) 135-589 (309)

Frutas
94-685 (511) 4-20 (11) 13-63 (42) 15-57 (31) 0.5-7 (3)
oleaginosas

Observações:
82
1. As taxas de calorias correspondem a kcal/100g de alimento; já as dos demais componentes, a
g/100g de alimento.
2. Para destaque das diferentes taxas dos nutrientes nos alimentos, representamos como: amarelo =
baixo teor, cor-de-rosa = médio teor e vermelho = alto teor.
3. Os valores fora dos parênteses representam as variações entre a quantidade mínima e a quantidade
máxima de determinado nutriente; já aqueles entre parênteses, representam a média.
FONTE: BARBOSA, (1999, p. 14); FAMADAS, (2010).

Examinando a tabela acima, observamos que no grupo dos vegetais e tubérculos, há


uma heterogeneidade em relação ao nível de calorias; daí a divisão nos subgrupos “a” e “b”.
Enquanto os alimentos de “a” são de baixas taxas de calorias, os de “b” são de médias taxas. É
fácil concluir que essa diferença decorre do maior teor de glicídios dos componentes do item “b”.
Considerando esses dados, verificamos que os alimentos do item “b” assemelham-se aos
alimentos dos grupos das leguminosas e dos cereais. Também, o grupo das frutas foi dividido
em dois subgrupos em relação às calorias, já que o pequeno número dos componentes do item
“b” fornece alto grau de calorias, devido à maior quantidade de glicídios. Destacando os 3
diferentes níveis dos teores de nutrientes, de calorias e de fibras, fica mais fácil selecionar os
alimentos para fazer a correção da alimentação.

Agora, com todas essas informações dadas, estamos em condições de proceder à


correção da dieta. De acordo com Famadas (2010) devemos observar os seguintes pontos:

a) Fazer cerca de cinco refeições diárias. Não é necessário passar fome para
emagrecer;
b) Manter um intervalo, entre as ingestões de alimentos, de cerca de 3 a 4 horas.
Não ficar mais de 4 horas sem ingerir alimento para evitar a hipoglicemia que é a queda do nível
da glicose no sangue. Se isso acontecer, surgirão sintomas como sudorese, tonteira, irritação e
mal-estar;
c) Baseado na alimentação que vinha fazendo, procurar diminuir a quantidade de
alimento ingerido. É importante ter em mente que muitas vezes saciamos nossa fome com certa 83
quantidade de alimento e continuamos a ingerir mais alimento porque o consideramos saboroso.
Essa preocupação em frear a ingestão “excessiva” de alimento merece destaque;
d) Procurar reduzir os alimentos que contêm gordura e afastar o açúcar refinado e
os doces; substituir o açúcar por adoçante;
e) Devem ser ingeridos alimentos variados. Não existe qualquer alimento
indispensável ou completo. Desse modo, somente poderemos fornecer os nutrientes necessários
ao organismo empregando os mais diversos tipos possíveis de alimentos. Além do mais, com a
grande diversidade de alimentos, fica fácil selecionar aquele que cada pessoa considerar mais
agradável para o seu gosto;
f) Dar preferência aos cereais integrais, vegetais, legumes e frutas.

Ao contrário do que se pensa, os alimentos gordurosos não são proibidos; são até
necessários, logicamente nas quantidades referidas anteriormente. Ou seja, se quisermos ter
ideia dessa quantidade, basta reservar 30% das calorias totais, dos alimentos, para as gorduras.
Como sabemos que 1 g de gordura fornece 9 calorias, dividindo o número das calorias (30% do
total) por 9 teremos a quantidade, em gramas, de gordura. Exemplificando: se temos que ingerir
1 500 calorias de alimento ao dia, 30% desse total corresponderão às gorduras, ou seja, 450
calorias. Dividindo esse número por 9, poderemos consumir 50 g de gordura por dia (FAMADAS,
2010).

O tipo de gordura também é importante no momento da seleção. Reservaremos 1/3 da


quantidade de gordura para as saturadas, 1/3 para as poli-insaturadas e 1/3 para as
monoinsaturadas.

Os carboidratos (que fornecem 4 Kcal/grama) devem contribuir com cerca de 55% a


60% das calorias diárias, proteínas (fornecendo 4 Kcal/grama devem contribuir com 12% a 15%
das calorias diárias, no qual vamos encontrá-las em maior quantidade nas carnes. Devemos ter
a preocupação de evitar a gordura associada a esse tipo de alimento porque é,
predominantemente, saturada. Desse modo, preferir a carne bovina magra e evitar a pele de
frango, que é rica em gordura. Os peixes e demais frutos do mar são ricos em proteínas e com a
vantagem do menor teor de gordura e de menor quantidade de gordura saturada (FAMADAS,
2010). 84

Os alimentos com fibra não podem ser esquecidos, pois, apesar de não serem
nutrientes, são indispensáveis ao organismo, pois garantem a integridade do tubo digestivo.
Existem, no comércio, produtos com alto teor de fibra, mas devemos dar preferência aos
alimentos que contêm essa substância; isso porque, ao ingerirmos alimentos com fibra, estamos
ingerindo, também, muitos nutrientes indispensáveis ao organismo. Nesse caso, devemos
observar o seguinte: a quantidade diária de fibra deve ficar entre 20 e 30 g. Começar com
pequenas quantidades, distribuídas em 2 ou 3 porções ao dia. Isso é para evitar transtorno
intestinal – diarreia, pois a sensibilidade às fibras varia de pessoa para pessoa (FAMADAS,
2010).

Resumindo o que foi dito, apresentamos abaixo as modificações que devem ser feitas
para alcançar uma dieta saudável e atingir a meta, que é o peso ideal.

QUADRO 2 – MODIFICAÇÕES NOS HÁBITOS ALIMENTARES

Evitar Preferir

Carne de boi (magra), carne de frango sem pele,


Carne de boi com gordura, carne de frango com
peixe, frutos do mar, vísceras de boi ou de frango
pele, carne de porco.
(fígado, rim, coração, moela, etc.).

Leite integral e derivados (queijos, manteiga, Leite desnatado, queijos e iogurtes, porém, obtidos de
iogurtes, etc.). leite desnatado.

Óleos e gorduras: gordura de origem animal, Óleo de oliva extravirgem, óleo de canola e outros
gordura vegetal saturada (margarina, côco). óleos com lipídios monoinsaturados.

Produtos de cereais integrais (pão). Mistura de cereais


Produtos de cereais refinados (pão, massas, integrais e frações (girassol, gergelim, aveia, germe e
bolos, etc.). farelo de trigo, linhaça, malte de cereais, centeio,
cevada, etc.).

Bebidas com açúcar (refrigerantes). Bebidas com adoçante. 85


Restringir cerveja para 300 ml. Copo de vinho (120
Bebidas alcoólicas.
ml). Cálice de licor (40 ml.)

FONTE: BARBOSA, (1999, p. 22); FAMADAS, (2010).

Caso não façam parte da alimentação, deverão ser introduzidos os alimentos indicados
no Quadro 3. Muitas vezes não consumimos esses alimentos, mesmo que gostemos deles. A
razão para isso é que criamos hábitos que nos levam a nos restringir a poucos alimentos, na
maior parte das vezes por comodidade. Por outro lado, eles podem ser “esquecidos” porque
preferimos escolher aqueles alimentos que são mais saborosos para nós.

QUADRO 3 – ALIMENTOS INDISPENSÁVEIS NA DIETA SAUDÁVEL

Grãos: ervilha, feijão, grão-de-bico, lentilha, soja, etc.

Vegetais e tubérculos: abóbora, aipim, agrião, alface, aspargo, berinjela, brócolis, cebola, cenoura,
couve, chicória, chuchu, cogumelo, couve-flor, espinafre, nabo, pepino, pimentão, quiabo, rabanete,
repolho, tomate, vagem, batatas-doces e batatas-inglesas, etc.

Frutas: banana, maçã, pêra, mamão, ameixa, uva, abacate, figo, acerola, abacaxi, caqui, laranja,
pêssego, kiwi e outras, de acordo com o gosto de cada um.

FONTE: BARBOSA, (1999, p. 22); FAMADAS, (2010).


É bom lembrar sempre que for começar uma dieta procurar um profissional da área
para fazer as devidas orientações, que completarão as informações acima.

86
16.2 ATIVIDADE FÍSICA

Atividade física é definida segundo Caspersen (1985) como qualquer movimento


corporal produzido pelo músculos esqueléticos que resulta em gasto energético maior do que
nos níveis de repouso.

Temos que ressaltar que a atividade física é importantíssima para a saúde física e
mental. Matsudo e Matsudo (2000) reiteram a prescrição de atividade física enquanto fator de
prevenção de doença e melhoria da qualidade de vida e afirmam que os principais benefícios à
saúde advindos da prática de atividade física referem-se aos aspectos antropométricos,
neuromusculares, metabólicos e psicológicos. Os efeitos metabólicos são:

a) O aumento do volume sistólico;


b) O aumento da potência aeróbia;
c) O aumento da ventilação pulmonar;
d) A melhora do perfil lipídico;
e) A diminuição da pressão arterial;
f) A melhora da sensibilidade à insulina;
g) A diminuição da frequência cardíaca em repouso.

Em relação aos efeitos antropométricos e neuromusculares ocorre:


a) A diminuição da gordura corporal;
b) O incremento da força e da massa muscular, da densidade óssea e da
flexibilidade.
Na dimensão psicológica ocorre:
a) Aumento da autoestima, do autoconceito,da imagem corporal, das funções
cognitivas e de socialização,
b) Diminuição do estresse e da ansiedade.

Aumentando a atividade física, o gasto de calorias irá colaborar para atingir o 87

emagrecimento; mas essa colaboração é pequena em relação à perda obtida juntamente com a
correção alimentar. A quantidade de calorias que uma pessoa deverá consumir por dia deve ser
inferior à quantidade de calorias despendida pela atividade física.
O uso de exercícios para a redução ou manutenção do peso é baseado no balanço
energético (calórico), que quer dizer no equilíbrio dinâmico entre a quantidade de energia nos
alimentos e a energia gasta para manter o organismo vivo e nas atividades diárias. Este balanço
pode ser positivo ou negativo.

BALANÇO CALÓRICO POSITIVO: maior ingestão de alimentos e menor gasto energético com
atividade física (resultado: o indivíduo aumenta a gordura corporal, peso aumenta).

BALANÇO CALÓRICO NEGATIVO: menor ingestão de alimentos e maior gasto energético com
atividade física (resultado: o indivíduo perde peso, emagrece).

BALANÇO CALÓRICO NEUTRO: ingestão alimentar é igual ao gasto calórico (resultado:


manutenção do peso).
BALANÇO CALÓRICO

88

FONTE: Disponível em:< http://www.growtraining.com.br/images/vc_sabia_4.gif/>. Acesso em:


02 fev. 2010.

Qualquer tipo de atividade física contribui para o gasto energético e,


consequentemente para a manutenção ou redução do peso corporal. O importante é incluir
atividades físicas na rotina diária, desenvolvendo um estilo de vida ativo.

Por outro lado, com exercícios físicos, aumentamos a massa muscular e, com isso, o
metabolismo será maior em longo prazo, o que ajudará na manutenção do peso perdido.
Devemos ressaltar que com o aumento da massa muscular haverá ganho de pequena
quantidade de peso, mesmo que haja perda de gordura.

Famadas (2010) cita alguns tipos de exercícios:


a. O primeiro, de grande valor e mais empregado hoje em dia, é a caminhada.
Caminhar a passos largos, testando suas possibilidades, e aumentar aos poucos o tempo de
exercício até atingir 1 hora por dia;
b. O emprego da esteira ergométrica, que tem valor idêntico ao da caminhada,
permite o controle da pulsação e a regulagem para diferentes esforços. Aumentar o tempo aos
poucos até atingir 1 hora por dia; 89
c. A bicicleta ergométrica também tem grande importância porque desenvolve
vários músculos das pernas. Também aqui, com a regulagem, poderemos exigir maior esforço
muscular, o qual promoverá o aumento da massa muscular. O tempo satisfatório para a
execução do exercício é de, pelo menos, 30 minutos por dia;
d. Ao invés de usar o elevador, utilizar a escada. Descer do ônibus alguns pontos
antes e, dependendo do modo de vida, cada um deverá procurar os meios ideais para exigir
maior trabalho muscular.

Quando se fala em atividade física, as pessoas tendem a pensar apenas em atividades


esportivas ou sessões de ginástica em academias. No entanto, são inúmeras as atividades
cotidianas que exigem trabalho muscular, colaborando na obtenção de uma boa forma física.

Nas tabelas seguintes, apresentam-se os gastos de calorias nas atividades do dia a


dia, as calorias despendidas pela atividade física e gastos de calorias nas diversas atividades
esportivas, de ginástica e de entretenimento.

GASTOS DE CALORIAS DIÁRIAS, PARA HOMEMS

Peso corporal Levemente ativo Moderadamente ativo Muito ativo Intensamente ativo

50 2.100 2.300 2.700 3.100

55 2.310 2.530 2.970 3.410

60 2.520 2.760 3.240 3.720


65 2.700 3.000 3.500 4.000

70 2.940 3.220 3.780 4.340

75 3.150 3.450 4.040 4.650

80 3.360 3.680 4.320 4.960


90

FONTE: CEDDIA, (1998. p. 80); FAMADAS, (2010).

GASTOS DE CALORIAS DIÁRIAS, PARA MULHERES

Peso corporal Levemente ativo Moderadamente ativo Muito ativo Intensamente ativo

40 1.440 1.600 1.880 2.200

45 1.620 1.800 2.120 2.480

50 1.800 2.000 2.350 2.750

55 2.000 2.200 2.600 3.000

60 2.100 2.400 2.820 3.300

65 2.340 2.600 3.055 3.575

70 2.520 2.800 3.290 3.850

FONTE: CEDDIA, (1998, p. 80); FAMADAS, (2010).


NECESSIDADES ENERGÉTICAS DIÁRIAS MÉDIAS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

91

FONTE: FILHO, 2010.


GASTOS DE CALORIAS NAS ATIVIDADES DO DIA A DIA

MÉDIA DE CALORIAS GASTAS POR UMA PESSOA DE 70 KG, POR MINUTO

Atividade Calorias por minuto Atividade Calorias por minuto

Arrumar cama 3.9 Carpintaria 3.9


92
Consertar carros 4.3 Cortar grama (manual) 4.7

Cozinhar 3.9 Descer escadas 6.9

Dormir 1.2 Escrever sentado 1.8

Espanar pó 2.7 Jardinagem 3.7

Lavar janela 4.3 Ler sentado 1.2

Lavar o quintal 4.7 Pintar parede 3.6

Subir escadas 18.0 Tomar banho 3.2

FONTE: Sociedade Americana de Endocrinologia. Consultoria: Miguel Naveira, especialista em


medicina esportiva, Santos (SP).
GASTOS DE CALORIAS NAS DIVERSAS ATIVIDADES ESPORTIVAS, DE GINÁSTICA E DE
ENTRETENIMENTO

Modalidade Calorias por minuto Modalidade Calorias por minuto

Mergulho tipo apneia 17,9 Squash 7.8


93
Caminhar moderado 3.6 Equitação 6.9

Caminhar acelerado 6.4 Golfe 4.1

Corrida 12 km/hora 15,0 Basquete 7.1

Squash 13,7 Beisebol 4.8

Futebol 10,4 Boliche 6.9

Ginástica Localizada 8,0 Canoagem 11.1

Tênis 8,0 Capoeira 13.0

Dança Social 6,3 Dançar moderado 4.3

Tênis de Mesa 6,0 Dançar vigoroso 5.9

Futebol 8.5 Equitação 6.9

Natação 5,0 Handebol 7.8

Passear de Bicicleta 4,5 Esquiar na neve 9.9

Voleibol 3,7 Esqui aquático 7.4

Hidroginástica 11.1 Jogar peteca 5.3

Ginástica aeróbica 13.6 Pingue-pongue 3.9

Ginástica localizada 14.5 Pular corda 11.1

Musculação academia 15.0 Alongamento 3.3


FONTE: Tabela baseada nos dados da American Medical Association, American College of
Sports Medicine e Sociedade Americana de Endocrinologia. Consultoria: Miguel Naveira,
especialista em medicina esportiva, Santos (SP).

A figura abaixo mostra algumas dicas para a prevenção da obesidade infantil e de 94


adolescentes.

MÉTODOS DE PREVENÇÃO DA OBESIDADE INFANTIL E DE ADOLESCENTES

FONTE: Disponível em:< http://www.scielo.br/img/revistas/jped/v80n3/3a04f5.gif>.


Acesso em: 02 fev. 2010.
A vida sedentária, geralmente afasta os indivíduos da prática da atividade física e dos
esportes.

O sedentarismo é a causa mais importante do excesso de peso e da obesidade. Por


esse simples motivo, a atividade física tem que ser o primeiro item de qualquer programa realista
de tratamento da doença. A pessoa sedentária deve começar reeducando-se em suas atividades
95
cotidianas. Se ela mora em apartamento, por exemplo, pode utilizar as escadas, em vez do
elevador. Mesmo isso, porém, deve ser feito gradativamente. A pessoa que mora no sétimo
andar pode subir apenas um lance de escada no primeiro dia e o restante de elevador. E ir
aumentando o esforço, dia após dia, até conseguir galgar todos os andares (VILELA, 2010).

A partir daí, abre-se espaço para uma atividade física sistemática. Mas é preciso que
seja uma atividade aeróbica (caminhada, esteira, corrida, bicicleta, hidroginástica, natação,
remo, dança, ginástica aeróbica de baixo impacto), com elevação da frequência cardíaca a até
75% de sua capacidade máxima (VILELA, 2010).

Nessas condições, a primeira coisa que o organismo faz é lançar mão da glicose,
armazenada nos músculos sob a forma de glicogênio. Depois de aproximadamente 30 minutos,
quando o glicogênio se esgota, o organismo começa a queimar gordura como fonte de energia.
As dietas restritivas devem ser evitadas. Até porque, exatamente pelo fato de serem
desbalanceadas, o organismo se defende espontaneamente delas, fazendo com que, após um
período de restrição, a pessoa coma muito mais. O que o indivíduo precisa, isto sim, é buscar
uma mudança no estilo de vida, pois os fatores comportamentais desempenham, de longe, o
papel mais importante no emagrecimento (VILELA, 2010).

Os indivíduos que praticam exercícios físicos têm mais disposição para vida e para as
atividades do dia a dia.

Kamel (2003), coloca algumas regras que devemos seguir antes de realizar qualquer
atividade física:

1) Consultar um médico:
a) Analisar a existência de problemas cardiovasculares;
b) Realizar um “check up”.
2) Consultar um professor de Educação Física:
a) Adequar as atividades aos objetivos propostos (saúde, qualidade de vida,
emagrecimento, hipertrofia);
b) Elaborar um programa de treinamento.

96
3) Realização de aquecimento: o aquecimento tem objetivo de aumentar a
frequência cardíaca, aumentar a mobilidade articular e preparar todo o organismo para a
atividade proposta.

4) Continuidade: ter um freqüência adequada, dias determinados para a prática da


atividade física

5) Sobrecarga: aumento da distancia, da velocidade, carga

Gradativa: aumentar a sobrecarga lentamente


Adaptação: aumentar a sobrecarga quando tiver adaptado ao exercício

6) Intensidade: é o nível de esforço para a realização de uma atividade física


Fraca: não provoca alterações no organismo
Média: estimulam apenas o organismo
Forte: provocam adaptações e benefícios ao organismo
Muito forte: pode proporcionar o aparecimento de lesões

7) Conhecer o seu próprio limite.

Kamel (2003) mostra os benefícios dos exercícios aeróbios e anaeróbios:

a) Aumento do volume cardíaco;


b) Aumenta o calibre e a elasticidade dos vasos sanguíneos;
c) Aumento dos capilares ativos;
d) Maior suprimento de oxigênio;
e) Diminuição da frequência cardíaca, o coração torna-se mais eficiente;
f) Maior volume de oxigênio (Vo2 máximo), com maior consumo de oxigênio;
g) Maior utilização de gorduras (lipídios) prevenindo e combatendo a obesidade;
h) Diminuição do estresse;
i) Diminuição do risco de lesões e fortalecimento muscular; 97
j) Aumento do HDL (bom colesterol – fator antirrisco da aterosclerose);
k) Melhora a qualidade de vida.
17 UMA VIDA MAIS SAUDÁVEL EM UM MUNDO MODERNIZADO

Em um mundo contemporâneo e modernizado é importante que se adote um estilo de


vida mais ativo, como participar de programas específicos que atendam aos componentes 98
necessários para o desenvolvimento orgânico e funcional de nosso corpo, e também hábitos
alimentares mais saudáveis. O ministério da saúde aponta dicas para uma vida mais saudável.

Os 10 passos para o peso saudável do Ministério da Saúde do Brasil.


Com base na prevalência crescente do sobrepeso/obesidade no país, o Ministério da
Saúde produziu os dez passos para o peso saudável dentro do Plano Nacional para a Promoção
da Alimentação Adequada e do Peso Saudável cujos objetivos são: (1) aumentar o nível de
conhecimento da população sobre a importância da promoção à saúde e de se manter o peso
saudável e de se levar uma vida ativa; (2) modificar atitudes e práticas sobre alimentação e
atividade física; (3) prevenir o excesso de peso. Os passos são:
1. Comer frutas e verduras variadas, pelo menos duas vezes por dia;
2. Consumir feijão pelo menos quatro vezes por semana;
3. Evitar alimentos gordurosos como carnes gordas, salgadinhos e frituras;
4. Retirar a gordura aparente das carnes e a pele do frango;
5. Nunca pular refeições: fazer três refeições e um lanche por dia. No lanche escolher
uma fruta;
6. Evitar refrigerantes e salgadinhos de pacote;
7. Fazer as refeições com calma e nunca na frente da televisão;
8. Aumentar a sua atividade física diária. Ser ativo é se movimentar. Evitar ficar
parado, você pode fazer isto em qualquer lugar;
9. Subir escadas ao invés de usar o elevador, caminhar sempre que possível e não
passar longos períodos sentado assistindo à TV;
10. Acumular trinta minutos de atividade física todos os dias.
Os sete primeiros passos estão relacionados à dieta e os três últimos ao incentivo a se
ter uma vida mais ativa. Os passos relativos à dieta seguem uma orientação geral de várias
instituições estrangeiras, com adaptações locais, como por exemplo, no caso brasileiro, a
recomendação da ingestão de feijão pelo menos quatro vezes por semana. Uma expectativa de
que quem a seguisse se tornaria mais saudável, ou seja, a mudança no hábito alimentar
preveniria o aparecimento de doenças crônicas, pressuposto que vem sendo questionado por
dados recentes.

FONTE: Disponível em: <http://www.saude.org.br>. Acesso em: 08 abril 2010. 99


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