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Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3

Cadernos PDE

I
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
O JOGO NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

Autora: Maria do Carmo Tanajura da Silva1


Orientador: Fernando Pereira Cândido2

Resumo
Este artigo apresenta uma análise do projeto de Implementação Pedagógica intitulado Cultura
Corporal: Os Jogos nas aulas de Educação Física, que se originou da percepção de que os jogos
podem questionar a realidade onde se desenvolve e transformá-la, a partir de ações concretas dos
homens em determinado momento histórico. Tais atividades e questionamentos foram organizados
no conteúdo jogos, junto a alunos de um 8º ano do Ensino Fundamental II de uma escola pública, na
busca pelo esclarecimento da possiblidade de transformação ou reprodução do atual contexto
histórico, deixando de obedecer a lógica do capital ou edificando a mesma. Esta proposta foi
embasada na Pedagogia Crítico-Superadora, que considera e argumenta a preocupação de não
reforçar as desigualdades sociais, quando sua prática é desenvolvida. Os resultados apresentaram, a
categoria aprender regras tanto no entendimento do jogo como reprodução social, quanto, por outro
lado, como tendo a ver com um tipo de disciplina que envolve o estudo e a militância para a
transformação social radical.Saúde, competição e sair das drogas são marcadamente representativas
da força da reprodução social deste conteúdo. Por outro lado, aspecto educacional e reprodução de
geração em geração estão relacionadas à manutenção do patrimônio histórico da humanidade, dos
conhecimentos que foram produzidos socialmente. Por fim, concluiu-se que a Educação Física
Escolar ainda precisa ser entendida como campo fértil para discussão a respeito da necessária
reflexão do homem e da cultura corporal dentro de seus momentos de jogos.

Palavras-chave: Educação Física; Jogo; Capitalismo; Regras.

INTRODUÇÃO

Os jogos nas aulas de Educação Física são atividades corriqueiras, nem


sempre refletidas sobre seu significado mais profundo, sua relação coma Cultura
Corporal e que ele pode suscitar a discussão do questionamento das regras e da
organização da sociedade onde estão sendo praticados.

1
Professora de Educação Física da Rede Estadual de Educação do Paraná. Lotada na Escola Estadual “ Anastácio
Cerezine” – Ensino Fundamental II, de Alvorada do Sul. 2015. Email: carmortanasil@seed.pr.gov.br ;
2
Professor Mestre da Universidade Estadual de Londrina. UEL.2015. Email: fercandido.emh.uel@gmail.com
Considerando as possibilidades dos jogos como meio de aprendizagem
social, foram desenvolvidas atividades que abordaram o Jogo numa perspectiva
crítica, com o objetivo do desenvolvimento integralda pessoa, indo além da simples
reprodução da sociedade vigente, com sua ideologia e sua profunda desigualdade
social.
Houve uma preocupação pedagógica de apresentar o conteúdo Jogo como
instrumento de reflexão sobre a transformação social e a importância da cultura
corporal dentro das aulas de Educação Física. Nesse sentido, preparando a
intervenção para uma turma de 8º ano do Ensino Fundamental, os tópicos foram
organizados a partir de textos para estudo e orientação das aulas práticas, na
expectativa de se levantar discussões necessárias ao esclarecimento de como os
jogos podem servir para reforçar a lógica dominante do atual contexto sócio-
histórico, ou agir nele de forma transformadora.
Para atingir tais objetivos, os jogos foram dados a conhecer em suas múltiplas
determinações para que os alunos pudessem vislumbrar uma crítica da realidade
social, também no sentido de ampliar a consciência do jogo, de como ele pode ser
pensado para identificar e criticar a alienação, bem como, a necessidade de
transformar a realidade. Os alunos e os professores precisam saber que o homem
sempre brincou (HUIZINGA, 1980), sempre jogou, mas, que as regras de jogos e
brincadeiras sempre foram ditadas pelos que detinham o poder e, hoje, isso não é
diferente.
Os referenciais teóricos pesquisadas serviram ao propósito de dialogar com a
prática da Educação Física Escolar, objetivando que os alunos conseguissem
associá-la ao mundo de regras onde estão inseridos, ou seja, a um mundo onde
quem pode mais é aquele que tem mais, e deles vem as regras e os objetivos de
todas as demais regras estipuladas. Aqui seguem os resultados e as conclusões
obtidos a partir da pesquisa e implementação pedagógica desta pesquisa.

1 O SER SOCIAL E A EDUCAÇÃO FÍSICA

Para pensar o homem como ser social é preciso compreender que este é
constituído pela subjetividade e pela objetividade do homem numa unidade
indivisível. Esta compreensãopassa pelo trabalho que o homem realiza, por sua
prática,seu pensamento, seu aprendizado diário, pelo tomar posse do
saber.Enquanto homem trabalha ele se constrói com ser social, ele junta o que
pensa ao que faz e vai tomando consciência de que sua prática é que o faz diferente
dos outros animais, que não são capazes de trabalhar para alterar o curso da
História. Ao trabalha ele produz, cria condições de convivência com os outros
homens, de aprender com eles, e vai manifestando suas potencialidades, os seus
saberes, enquanto apresenta suas criações. Os homens sempre fazem a História a
partir das coisas que criam para satisfazer às suas necessidades.
O ser humano aprende quando conhece a cultura já existente, e a partir dela
ele tanto reproduz como também poderá romper com alguns comportamentos e
preconceitos, entendendo sua condição de ser histórico. Isso se trata tanto de um
processo subjetivo, do íntimo, daquilo que não é tangível, mas, também se revela na
prática das relações sociais, especialmente pelo trabalho, pela transformação
consciente da natureza, o que diferencia o homem dos outros animais. Afinal, “o
trabalho não é apenas uma atividade específica de homens em sociedade, mas é,
também e ainda, o processo histórico pelo qual surgiu o ser desses homens, o ser
social” (NETTO; BRAZ, 2008, p. 34), não existe sociedade sem trabalho, e este
trabalho sempre é direcionado a um fim, dá origem ao ser social que se envolve com
a natureza à medida em que apossa-se dela para produzir bens que supram suas
necessidades. Todavida, o trabalho assume características particulares em
determinadas formações sociais. No modo de produção capitalista ele é
caracterizado pela força de trabalho ser umamercadoria, bem como os resultados
desse processo.
O ser social tem como característica a capacidade de transformar a si próprio
enquanto transforma a natureza, criando condições materiais de sobrevivência
fazendo sua história (MARX; ENGELS, 2007).Para Marx (2006, p, 212), o homem:

[...] não transforma apenas o material sobre o qual opera; ele imprime ao
material o projeto que tinha conscientemente em mira, o qual constitui a lei
determinante de seu modo de operar e ao qual tem de subordinar sua
vontade. E essa subordinação não é um ato fortuito. Além do esforço dos
órgãos que trabalham, é mister a vontade adequada que se manifesta
através da atenção durante todo o curso do trabalho.

Luckács (apud BARROCO, 2008, p.21) também afirma que o trabalho é a


categoria fundante do ser social: “[...] é o ponto de partida da humanização do
homem, do refinamento de suas faculdades, processo do qual não se deve esquecer
o domínio sobre si mesmo”.
Há de se considerar que se agrupando socialmente os homens vão se
emaranhando numa teia de complexas relaçõese sociais e acabam reproduzindo
social e materialmente tais processos, num modo de produção, capitalista no caso,
que os trata com desiguais formas de atender às suas necessidades, mas, que nem
sempre são percebidas, caracterizando o processo de alienação.
É pela Educação que o homem deve se reconhecer enquanto sujeito
histórico, ou seja, aquele que modifica e transforma a natureza, a partir do trabalho;
possibilidade esta, que é negada pelo processo de coisificação das relações sociais
do modo de produção capitalista.Para Marx (2006) o homem é alienado da vida
social pelo trabalho, na relação social capital, ele deixa de se integrar na totalidade,
não percebe o objeto produzido como parte do seu trabalho, não vê que seu
trabalho é transformado em mercadoria, tanto quando sua força é explorada.
É papel da Educação fazer com que, enquanto se desenvolve, o homem
busque identificar os elementos de seu próprio contexto, dando significado à sua
existência e objetivando sua ação no mundo. A este processo seria dado o nome de
processo de socialização. A partir deste reconhecimento o ser humano poderia
passar a ser chamado de homem. Neste sentido pode-se pensar nas práticas
pedagógicas da Educação Física surgem das necessidades sociais, das exigências
concretas vigentes de cada sociedade.Ainda existe, no entanto, quem pense que a
Educação Física dentro da escola sempre serviu somente a educação do corpo, e
embora não seja somente a esta finalidade que ela serve, o pensamento dominante
leva a uma divisão entre a “educação intelectual e a educação corporal” (BRACHT,
1999, p. 1).
Tal pensamento tornaria distinto o alvo da educação, pois, ou serviria ao
intelecto ou ao físico, e sob este pensamento a Educação Física estaria disposta a
fazer com que o intelecto agisse sobre o físico, dando importância maior a razão, a
quem o corpo daria inteiros poderes (Gil, 1994 apud BRACHT, 1999).
Resumidamente o corpo era um elemento que precisava ser controlado,
numa separação explícita do intelecto, pois, o controle do corpo dependia da razão.
Buscando entender a educação numa perspectiva de totalidade, sem essa
dicotomia, é preciso que se compreenda o Ser Social, buscando respostas para sua
natureza. Marx (apud TONET, 2009) esclarece que a educação pode ser pensada
enquanto participante da construção do ser social; considerando que numa relação
entre o sujeito e o objeto, ou seja, entre o homem e o conhecimento, quando há a
centralidade no sujeito, o objeto perde a primazia, e tendo o sujeito detido a primazia
ele começará a construir o conhecimento que não corresponde corretamente à
realidade, pois a lógica estará na sua cabeça (TONET, 2009, p.3). Aí entende-se
como essa visão dicotômica foi desenvolvida.
No entanto, para entender o pensamento de Marx é preciso entender seu
caráter crítico e revolucionário, devendo esclarecer estes dois conceitos que para
ele tem sentido ontológico, aquele que identifica o homem no contexto histórico-
social, e possibilita a crítica ao capital (TONET, 2009).
A questão do ser social é muito complexa, atentando para o fato de que para
Marx é o trabalho é a síntese da subjetividade e objetividade, entre consciência e
realidade objetiva, estabelecendo que a práxis diferencia o ser social do ser natural
(TONET, 2009).
Nesta perspectiva, o homem não pode ser dividido, pois, ao privilegiar o
espírito, a racionalidade, a subjetividade, seria impossível a constituiçãodo ser
humano numa totalidade composta, em unidade indissolúvel de subjetividade
objetividade (TONET, 2009).
No entanto, sempre foi clara a posição que revelava que era o intelecto que
aprendia. Não obstante o ser social ser uma síntese entre a subjetividade e
objetividade, a divisão social do trabalho modificou isso, e não deixou perceber que
a formação integral do indivíduo depende da construção de um mundo objetivo,
onde hajam relações sociais harmoniosas (TONET, 2009).Vale lembrar que o papel
do corpo3 na aprendizagem acabou sendo deixado de lado dentro do processo
histórico da construção do conhecimento científico, haja vista que até as “teorias
sobre aprendizagem motora são em parte cognitivistas” (BRACHT, 1999, p. 3).
A exemplo disso têm-se as diversas abordagens da Educação Física Escolar,
a psicomotora, construtivista e desenvolvimentista, que fragmentaram a educação
do próprio homem.O Coletivo de Autores (1992) explica que a concepção higienista
da Educação Física teve por objetivo preparar homens fortes, ágeis e saudáveis,
limitando ou impedindo pessoas deficientes ou doentes durante suas aulas. De
acordo com Bracht (1999, p. 4): “Exercícios sistematizados foram ressignificados (no

3
No sentido da discussão proposta aqui, não é possível falar em educar o corpo, pois quem é educado é o
homem que é indivisível. Não há corpo (no sentido de ser humano) sem razão, tão pouco razão sem corpo.
plano civil) pelo conhecimento médico, [...] numa perspectiva terapêutica, mas,
principalmente pedagógica”.
Após o higienismo constituiu-se a concepção militarista que desejava a
aptidão física, com vistas à saúde dos jovens para que eles pudessem estar prontos
para defesa da Pátria, de forma que aqueles que tivessem baixa aptidão física,
fossem doentes ou deficientes não teriam permissão para participar da Educação
Física Escolar (BRACHT, 1992).
Segundo Coletivo de Autores (2009, p. 53): “As aulas de Educação Física nas
escolas eram ministradas por instrutores físicos do exército, que traziam para essas
instituições os rígidos métodos militares da disciplina e da hierarquia”.
Tratava-se de um projeto que correspondia a execução do projeto de
sociedade que fora pensada pelo governo, ou seja, de uma sociedade seletiva, onde
os fracos seriam eliminados e os fortes premiados, visando-se a formação de um
cidadão que fosse capaz de obedecer sempre, sem questionar, fortes, mas,
submissos.
Esta ideologia militarista se desenvolveu a partir do início da década de 30 do
século passado e “esteve estreitamente ligada às instituições militares, tanto na
maneira ‘disciplinar’ de conduzir os corpos, quanto nas finalidades de atuação para a
qual era ensinada” (EL TASSA e SCHNECKENBERG, 2014, p.1)
Em contrapartida, a década de 70 foi a época em que se tornou predominante
a esportivização que visava o desempenho atlético-esportivo e para isso selecionava
os mais habilidosos, com alto rendimento, e exigia a repetição e a perfeição dos
movimentos, sem possibilidade de participação de todos os alunos, mas somente
daqueles com potencial atlético. Era a época da Abordagem Tecnicista (PARANÁ,
2008).
Este método ganhou força objetivando promover o esporte para a conquista
de medalhas em competições, numa concepção que baseava-se na hierarquia e
defesa de uma elite social, valorizando o desporto de alto nível e valorizando apenas
aqueles que chegavam ao topo. Desta forma, dentro das escolas as aulas de
Educação Física acabaram se tornando discriminatórias, afastando os alunos menos
habilidosos (EL TASSA e SCHNECKENBERG, 2014).
A partir da década de 80, a sequência destes movimentos metodológicos deu
espaço para o surgimento de um modelo teórico demarcado pelo processo de
redemocratização social, que se importava mais com a cultura e com uma educação
de cunho mais humanista (PARANÁ, 2008).
E assim tem-se a construção do pensamento acadêmico da Educação Física,
baseada agora em novos pressupostos teóricos, histórico, filosóficos e pedagógicos
que levaram a debates e críticas que orientama revisãoconstante da disciplina.“No
contexto das teorizações críticas em Educação e Educação Física, no final da
década de 1980 e início de 1990, no Estado do Paraná tiveram início as discussões
para elaboração do Currículo Básico”(PARANÁ, 2008, p. 45).
O resultado destas discussões para a Educação Física apontaram, em parte,
para a Pedagogia Histórico-Crítica e para os pressupostos teóricos do materialismo-
dialético, que têm a pretensão de reformular a Educação e a disciplina de Educação
Física, refletindo histórica e socialmente as desigualdades sociais e econômicas e
com isto, buscar a concretude de um projeto de transformação social.
Dá-se a entender que tal elaboração busca uma construção pedagógica
superadora que responda aos conflitos de classe, onde diferentes interesses se
colocam no interior do processo da educação.
Mas, não é apenas esta perspectiva que se encontra presente nas atuais
propostas para a Educação Física escolar. Mello (2009), quando refere-se às várias
vertentes teóricas do pensamento pós-moderno na área da Educação Física,
entende que estas servem a atual lógica social, que ainda trata de forma
fragmentada do corpo e mente, objetividade e subjetividade e teoria e prática,
dicotomias que têm origem, conforme a autora, na divisão do trabalho em intelectual
e manual. Para superar estas dicotomias é proposta uma abordagem com aa
recuperação do pensamento de Marx e sua crítica radical em relação à ordem social
vigente e aos ditames da ordem social do capital (MELLO, 2009, p.1). Nesta direção,
Tonet (2009) faz referências as Teorias Educacionais Burguesas que, em sua
grande maioria, aumentam a distância entre os discurso e a realidade objetiva, por
conta da lógica do capital.
Escobar (1995) cita explicita um embasamento para esta discussão, onde na
atividade prática o homem transforma a realidade. Podemos também pensar nas
contribuições de Johan Huizinga (1980), historiador que trata do “homem que brinca”
falando dos diferentes tipos de jogos como seus objetos de estudos, esclarecendo
que a característica principal do jogo é a liberdade, ou seja, a pessoa joga porque o
jogo lhe atrai e não porque a vida lhe impõe, justo porque jogar é uma atividade
autônoma.Escobar (1995) argumenta que a Educação Física precisa ampliar,
pedagogicamente o conceito de “cultura corporal” para que sua prática pedagógica
tenha mais qualidade e envolva movimentos de cunho social, trazendo a luz os
conceitos históricos da construção desta cultura. Neste sentido pode-se ver esta
autora como uma referência para a pesquisa e prática pedagógica no relativo ao
jogo na Educação Física.
Para esta construção histórica da “cultura corporal”, Escobar (1995) sugere a
apropriação da Pedagogia Crítico-Superadora que emerge dos movimentos sociais,
lembrando que a Educação Física se localiza num campo da pedagogiahistórico-
crítica, e que esta Pedagogia faz uma crítica ao sistema educacional e mostra uma
nova possiblidade no desenvolvimento da prática desta disciplina. De acordo com
Escobar (1995 p. 92) nesta Pedagogia “subjaz o projeto histórico marxista [...] a
partir desta posição transformadora liga o projeto revolucionário de sociedade que
reconhece a luta de classes como instância de superação”.
Portanto, é preciso que haja mudanças a partir da ação educativa que sofrerá
implicações da cultura e, por isso, destaca que é muito importante historicizar a
cultura corporal, para que seja possível indicar, dentro da escola, toda ideologia que
envolve tais transformações, motivando a práticas associadas a uma posição social,
que não reproduza simplesmente a força dominante, mas, introduza “na escola a
preocupação pela própria produção cultural” (ESCOBAR,1995, p. 96).
No Estado do Paraná a disciplina de Educação Física, contextualizada na
sociedade capitalista,“[...] e estipula, como objeto da Educação Física, a cultura
corporal a partir dos conteúdos como: os esporte, a ginástica, os jogos, as lutas e a
dança”(PARANÁ, 2008).
Escobar (1995, p. 97-98) trata esta Pedagogia prática como exercício de
crítica que resgataria “as práticas que possam contribuir efetivamente para o
desenvolvimento da consciência crítica e das formas de resistência”. Dentro da
escola, isso podendo acontecer na construção de uma Cultura Corporal que valorize
o coletivo e defenda o compromisso com a solidariedade e respeito humano.
De acordo com Coletivo de Autores (2009, p. 63) a Escola:“[...] deve fazer uma
seleção dos conteúdos da Educação Física. Essa seleção e organização de
conteúdo exige coerência com o objetivo de promover a leitura da realidade”.
Aqui cabe perguntar: uma perspectiva crítica da Educação Física dentro da
sociedade capitalista é capaz de transformar a realidade desta mesma sociedade?
Vale esclarecer que a escola não é fundamento ou motor da sociedade, mas,
pelo contrário, é um determinado tipo de sociedade que cria a escola necessária
para sua reprodução. Como enfatiza Tonet (2009), dentro das escolas teorias
educacionais burguesas distanciam o discurso da realidade objetiva, e a educação é
transformada em mercadoria, que só pode ser adquirida por quem pode pagar por
ela, numa lógica da reprodução dos fins dominantes.À esta reprodução deve ser a
crítica elaborada pela Educação Física.
Partimos da discussão do trabalho para entender o homem como ser social,
mas ele não se resume ao trabalho. Enquanto o homem não começa a trabalhar ele
brinca. O brincar faz parte da formação do homem como ser social. No contexto
escolar, o conhecimento também vai sendo apropriado enquanto pratica jogos e
brincadeiras, enquanto ele se educa participando, ao mesmo, tempo da construção
social de sua individualidade.
Na verdade, o homem sempre brincou, mesmo nas sociedades primitivas
quando saia em busca de sobrevivência, muitas vezes as atividades tomavam
formas lúdicas (HUIZINGA, 1980).
Porém, mesmo brincando o homem pode ser crítico e racional, pode refletir
sobre os seus comportamentos que produzem história. E esse caráter crítico do
homem é que o coloca diante da realidade social complexa.
Quando uma criança brinca, joga ou pratica alguma atividade de lazer, ela
está se preparando para futuros trabalhos, pois, enquanto brinca ela também precisa
de atenção, concentração, confiança em si mesma, é neste momento que ela
também desenvolve relações de confiança com os colegas, consigo e com os que
representam a autoridade. Se estão na escola, respeitam ao professor, e na vida
futura de trabalho irão respeitar aos patrões. Tratam-se de relações semelhantes,
onde divide espaço com os colegas de brincadeira e se apropriam das experiências
enquanto se relacionam.Estas são as relações mostram como o seres humanos vão
se tornando seres sociais, aprendendo e compondoseu caráter.

2 O JOGONA EDUCAÇÃO FÍSICA

Como qualquer história, de modo geral, a história dos jogos é uma construção
humana e para alguns autores como Huizinga (1980) e Elkonin (1998), os jogos
teriam surgido demonstrando relações do homem com o trabalho.
Elkonin (1998) conta que na história dos povos do extremo oriente, o
brinquedo e a atividade das crianças eram como que ferramentas para o trabalho,
modificações das atividades dos adultos que tinha uma relação direta com a futura
atividade profissional daquele sujeito.
A história mostra que a evolução dos jogos, brinquedos e brincadeiras
acompanha a modificação da imagem da criança, da forma de ver a própria criança
na sociedade.A forma como a criança era vista é a chave para perceber a história do
jogos e localizá-la em determinado período histórico, pois tais jogos se
correlacionavam com a vida da crianças na sociedade. Sendo que, de qualquer
forma, os jogos seguiram tendo um objetivo determinado de acordo com o momento
histórico de onde surgiam.
Para Huizinga (1980) o elemento lúdico está na base do surgimento e
desenvolvimento da civilização. Isso significa dizer que desde o surgimento da
sociedade o homem brinca e que os jogos também fazem parte de todas as culturas
da humanidade.
Huizinga (1980) esclarece que os jogos aconteciam antes da civilização
humana, pois, já existiam entre os animais, pois, ele entende que o lúdico é toda
atividade que dá prazer. Mas, não é essa a forma como estudaremos o jogo na
Educação Física, porque o jogo também se constitui numa atividade cultural com
função social. Ele detém certas características para ser considerado jogo: precisa
ser livre, partir da vontade do jogar e não ser imposta ao jogador, trata-se de uma
fuga da realidade, é isolado e limitado tendo determinado espaço e duração limitada.
É um fenômeno cultural, pois pode ser conservado na memória de um povo e ser
transmitido por ele às demais gerações, e é cultural dessa forma, criando ordem e
sendo ordem, pois, também possui regras que, mesmo sendo implícitas algumas
vezes, precisam ser cumpridas e obedecidas, pois, caso contrário será o fim do jogo.
O que se aprende nas aulas de Educação Física deverá contribuir para o
desenvolvimento da consciência crítica e das formas de resistir aos direcionamentos
ideológicos que são impostos, inclusive nessa forma ao mesmo tempo primitiva e
atual da atividade humana.
Aqui cabe perguntar: uma perspectiva crítica da Educação Física dentro da
sociedade capitalista é capaz de transformar a realidade desta mesma sociedade?
Vale esclarecer que a escola não é fundamento ou motor da sociedade, mas,
pelo contrário, é um determinado tipo de sociedade que cria a escola necessária
para sua reprodução.
Como enfatiza Tonet (2009), dentro das escolas teorias educacionais
burguesas distanciam o discurso da realidade objetiva, e a educação é transformada
em mercadoria, que só pode ser adquirida por quem pode pagar por ela, numa
lógica da reprodução dos fins dominantes. É esta reprodução deve ser a crítica
elaborada pela Educação Física.
Além da vida das pessoas, o jogo historicamenteestá presente nas aulas de
Educação Física. Quando se fala em jogo, no entanto, pensa-se logo em jogos
desportivos, especialmente nas competições, onde se exige dos participantes que
eles não errem, objetivando vencer o adversário. Todavia,é importante que todos
compreendam que o jogo é muito mais que isso, é uma atividade que já é
manifestada na criança e se concretiza na relação com os demais seres humanos e
com a natureza.
A palavra “jogo” pode evocar mais que um sentido. Kishimoto (1996) explica
que ele pode ser visto com o mesmo significado com que são percebidos o
brinquedo e a brincadeira. A língua portuguesa permite que este três termos sejam
vistos como sinônimos.
O termo jogo pertence a uma grande família, com características comuns e
específicas, que o define como sendo jogos de construção, de regras, simbólicos e
outros (KISHIMOTO, 1998).São vários os tipos de jogos conhecidos, no entanto, são
suas características que os diferem. Todos os jogos servem para aprender alguma
coisa ou para fornecer conhecimento ao ser aprendido.
Os Jogos Educativos, por exemplo, podem ser jogados dentro e fora da
escola, possibilitam a construção do conhecimento e a recreação, pois educam
enquanto divertem. Estes jogos são capazes de fazer com que as pessoas criem,
inventem, experimente, construam o conhecimento e lapidem suas habilidades,
ampliando a percepção e a inteligência (SABIN, 2004).
Desde bem pequenos, ainda com idade pré-escolar, todas as crianças
desenvolvem a imaginação e a criatividade. Sabemos que elas vão aprendendo
durante os jogos, e isso está ligado a um desenvolvimento ligado à necessidade de
utilizar a imaginação para trabalhar questões que vivenciam na vida real. Trata-se de
um modo de resolver seus problemas da vida real, jogando. Mas, é importante saber
que além destes jogos, existem os jogos tradicionais e os jogos de construção, que
também são muito utilizados nas escolas.
Todos os jogos propõem regras para lidar com a situação imaginária e estas
regras orientam a brincadeira/jogo, pois, os participantes colocam a atenção nos
objetivos do jogo e aprendem a compartilhar e respeitar as regras.Dentro da escola
os jogos, chamados de educativos, são apresentados com o objetivo de transmitir
informações sobre um determinado assunto.
Todo os jogospermitem que o indivíduo se afirme como ser no mundo, pois,
ao submeter-se às regras do jogo ele estará em treinamento para às regras sociais
que, assim como no jogo, podem ser transmitidas de geração a geração, ou seja, as
regras aprendidas vão acompanhar o sujeito durante toda a sua vida, sempre que
tiver de vivenciar, na prática, tais concepções, com senso de responsabilidade,
criatividade e autonomia. Estes são caracteres necessários da reprodução social,
assim como o desenvolvimento do indivíduo e de suas capacidades psicológicas
superiores. A reprodução social é necessária ao avanço da história humana
resguardando seu patrimônio cultural. Isso pensando na história em geral, como um
processo inesgotável. Ao mesmo tempo, na forma histórica atual, o capitalismo, essa
reprodução inclui os valores construídos nesta forma social baseada na
desigualdade, na contradição produção de riqueza sob a condição de produção da
miséria. Ambos os aspectos constituem preocupação da pesquisa feita para orientar
o ensino do jogo nas aulas de Educação Física.
O conteúdo do jogo, nas aulas de Educação Física não deve ser abordado
somente enquanto atividade recreativa, ele demanda um tratamento metodológico
fundamentado na sua historicização enquanto construído socialmente, a partir de
uma interpretação crítica da realidade (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Ao discutir a natureza do jogo, Huizinga (1980) aponta para características
relacionadas a aspectos sociais, como seu caráter fictício e sua limitação no tempo e
no espaço, descrevendo-o como elemento da cultura.
O jogo, tratado pela Educação Física Escolar, configura-se como um tema da
cultura corporal, da qual o homem se apropria dispondo de intencionalidade para o
lúdico ou para outros conceitos produzidos pela consciência social (COLETIVO DE
AUTORES, 2009).As significações dadas, pelo homem ao jogo, a partir desta
consciência social, irão adentrar em suas relações dando sentido próprio a estas
atividades, que terão significação social, nem sempre coincidentes com suas
expectativas (LEONTIEV, 1981 apud COLETIVO DE AUTORES, 2009).
O jogo, dentro da Educação Física deverá expressar um sentido onde
dialogarão a intencionalidade do homem e os objetivos da sociedade. Sendo que “a
escola, na perspectiva de uma pedagogia críticosuperadora deve fazer uma seleção
de conteúdos da Educação que sejam coerentes com o objetivo de promover a
leitura da realidade (COLETIVO DE AUTORES, 2009).
Então, qual a necessidade de ensinar o conteúdo jogo aos alunos?
Para Huizinga (1980, p.16):

A função do jogo, nas formas mais elevadas que aqui nos interessam, pode
de maneira geral, ser definida pelos dois aspectos fundamentais que nele
encontramos: uma luta por alguma coisa ou a representação de alguma
coisa.

O que importa é que estas duas funções podem, em determinado momento,


ou local, se confundir, quando o jogo passará então a representar alguma coisa
perante o público.Para facilitar este entendimento, Huizinga (1980, p. 33) sugere:

Devemos aqui tomar como ponto de partida a noção de jogo em sua forma
familiar [...] o jogo é uma atividade de ocupação voluntária, exercida dentro
de certos e determinados limites de tempo e de espaço, segundo regras
livremente consentidas, mas, absolutamente obrigatórias, dotado de um fim
em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e alegria e de
uma consciência de ser diferente da ‘vida’ cotidiana.

Assim, a relação entre a cultura e o jogo é que irá evidenciar também as


formas mais elevadas de jogos sociais onde tal atividade é sempre ordenada por
dois grupos opostos (HUIZINGA, 1980).
Bregolato (2005, p.69) reforça esta ideia dizendo que: “Parece que a vida
imita o jogo”. Mas, com certeza não se trata apenas do jogo a imitar a vida
(determinação maior), mas dele constituir esta, por isso os conteúdos dos jogos nas
aulas de Educação Física implicam no reconhecimento e identificação da realidade.
As propostas de jogos nas aulas são formas de promover a leitura de mundo,
motivo pelo qual o aluno deve aprender o jogo orientado, na atividade do professor,
por“um processo científico de preparação para determinadas atividades da cultura
corporal”4 (COLETIVO DE AUTORES, 2009, p. 69). Isto porque os jogos irão

4
No Ciclo de Ampliação da Sistematização do Conhecimento (das 7ª a 8• série do Ensino
Fundamental) os autores propõem três temáticas para a abordagem do conteúdo jogo. A terceira
implicar na organização e julgamento do aluno a respeito de valores, de avaliação e
de decisão, tudo o que ele necessitará a todo momento em sua vida.
No entanto, por se tratar de uma “produção histórico-cultural”, como propõe o
Coletivo de Autores (2009, p. 70) o jogo também estará subordinado “a códigos e
significados que lhe imprime a sociedade capitalista [...]”, não conseguindo se
afastar de tais condições, revelando que quando o processo educativo subordinado
ao Esporte exige o máximo rendimento do jogador, quando racionaliza meios e
técnicas e quando compete ao nível máximo, acaba por reproduzir as desigualdades
sociais (COLETIVO DE AUTORES, 2009).
Do ponto de vista sociológico, “o jogo é uma criação e manifestação humana”
(PICCOLO, 2008, p.1) e admite que “de certa forma o universo dos jogos é um pré-
molde de uma ampla visualização da sociedade” (Idem, Ibidem, p.4).
A presença dos jogos na história se constituiu como elemento na construção
das relações sociais em cada sociedade, mas, isso não quer dizer que teve sempre
a mesma repercussão em cada um destes períodos onde esteve presente.
Os padrões e normas aceitos por uma determinada comunidade, nem sempre
foram aceitos por outra e assim sucessivamente até os dias atuais. O que, no
entanto, não é empecilho para verificar que os jogos percorreram a história com a
mesma essênciade ludicidade, embora sua área de atuação pudesse ser alterada na
medida em que as relações de poder eram alternadas, evidenciando a presença de
alguns jogos de acordo com determinadas políticas e ideologias.
Para Caillois (1990) é possível definir uma época, a partir de seus jogos, haja
vista o desenrolar das linhas de força sobre as características da natureza social.
Mas de qual jogo está sendo falado? Todos os jogos podem abranger o
mesmo conceito?
O desejo de vencer, de competir e a essência lúdica dos jogos podem
coincidir em todos os tipos. No entanto, não são apenas estas características que
devem ser percebidas ao tomar o jogo enquanto conteúdo das aulas de Educação
Física, mas, deve-se considerar a medida pela qual a sociedade contemporânea
continua se manifestando através da forma lúdica do jogar.
A Educação Física segue, portanto, um certo paradigma:

delas trata de: “Jogos cujo conteúdo implique a necessidade do treinamento e da avaliação individual
e do grupo para jogar bem tanto técnica quanto taticamente” (COLETIVO DE AUTORES, 2009, p.69).
[...] apoia-se nos fundamentos sociológicos, filosóficos, antropológicos,
psicológicos e, enfaticamente, nos biológicos para educar o homem forte,
ágil, apto, empreendedor, que disputa uma situação privilegiada na
sociedade competitiva de livre concorrência: a capitalista. Procura, através
da educação, adaptar o homem a sociedade, alienando-o da sua condição
de sujeito histórico, capaz de interferir na transformação da mesma. Recorre
à filosofia liberal para a formação do caráter do indivíduo, valorizando a
obediência, o respeito às normas e à hierarquia. Apoia-se na pedagogia
tradicional influenciada pela tendência biologicista para adestra-lo
(COLETIVO DE AUTORES, 2009, p. 37).

A Educação Física precisa adotar mudanças que partam da noção de cultura


corporal, passando pela necessidade da crítica ao jogo, aos esportes e às atividades
desenvolvidas enquanto repetidoras das regras sociais.

Possiblidades e perspectivas do tratamento pedagógico dos jogos

Diante de todas as possiblidades que os jogos apresentam no momento de


sua realização nas aulas de Educação Física, eles precisam ser pensados para
além de sua forma lúdica, para que sua prática sirva enquanto perspectiva de
transformação do espaço social, deixando de ser um treinamento para o
esporte,internalização de regras e valores conservadores, ou recreação
assistemática.
Diante do debate de como o jogo deve ser utilizado pela Educação Física
Escolar, esclarece-se que nenhum deles deve servir apenas a sua prática utilitarista,
mas, antes, é preciso que eles possam construir a Cultura Corporal refletindo a
respeito de seu papel social na vida dos alunos e da sociedade, permitindo que seus
códigos, táticas e regras sejam associados à vida cotidiana, onde as leis que
regulam a sociedadenão visam realmente a justiça com igualdade para todos.
Conforme o Coletivo de Autores (2009, p. 66) “num programa de Jogos, é
importante que os conteúdos dos mesmos sejam selecionados, considerando a
memória lúdica da comunidade em que o aluno vive [...]”, para isso é necessário que
sejam explicados os tipos de jogos junto aos quatro ciclos, bem como suas
tematizações e sistematizações.
Conforme o Coletivo de Autores (2009) é possível organizar os jogos no
currículo da seguinte forma: o Jogo no Ciclo de Educação Infantil (Pré-Escolar) e no
Ciclo de Organização da Identificação da Realidade (1ª a 3ª séries do Ensino
Fundamental); o Jogo no Ciclo de Iniciação à Sistematização do Conhecimento (4ª a
6ª séries do Ensino Fundamental); o Jogo no Ciclo de Ampliação da Sistematização
do Conhecimento (7ª a 8ª séries do Ensino Fundamental) e o Jogo no Ciclo de
Sistematização do Conhecimento (1ª a 3ª séries do Ensino Médio)
Para o Jogo no Ciclo de Educação Infantil (Pré-Escolar) e no Ciclo de
Organização da Identificação da Realidade (1ª a 3ª séries do Ensino Fundamental),
o Coletivo de autores (2009, p. 66-67) propõe:
a) Jogos cujo conteúdo implique o reconhecimento de si mesmo e das
próprias possibilidades de ação. b) Jogos cujo conteúdo implique
reconhecimento das propriedades externas dos materiais/objetos para
jogar, sejam eles do ambiente natural ou construídos pelo homem. c) Jogos
cujo conteúdo implique a identificação das possibilidades de ação com os
materiais/objetos e das relações destes com a natureza. d) Jogos cujo
conteúdo implique a inter-relação do pensamento sobre uma ação com a
imagem e a conceituação verbal dela, como forma de facilitar o sucesso da
ação e da comunicação. e) Jogos cujo conteúdo implique inter-relações com
as outras matérias de ensino. f) Jogos cujo conteúdo implique relações
sociais: criança-família. criança-crianças, criança-professor, criança-adultos.
g) Jogos cujo conteúdo implique a vida de trabalho do homem, da própria
comunidade, das diversas regiões do país, de outros países. h) Jogos cujo
conteúdo implique o sentido da convivência com o coletivo, das suas regras
e dos valores que estas envolvem. i) Jogos cujo conteúdo implique auto-
organização. j) Jogos cujo conteúdo implique a auto avaliação e a avaliação
coletiva das próprias atividades. k) Jogos cujo conteúdo implique a
elaboração de brinquedos, tanto para jogar em grupo como para jogar
sozinho.

Quando se tratar do Jogo no Ciclo de Iniciação à Sistematização do


Conhecimento (4ª a 6ª séries do Ensino Fundamental), o Coletivo de Autores (2009,
p. 68) sugere os seguintes jogos:

a) Jogos cujo conteúdo implique jogar tecnicamente e empregar o


pensamento tático. b) Jogos cujo conteúdo implique o desenvolvimento da
capacidade de organizar os próprios jogos e decidir suas regras,
entendendo-as e aceitando-as como exigência do coletivo.

Para os Jogos no Ciclo de Ampliação da Sistematização do Conhecimento (7ª


a 8ª séries do Ensino Fundamental), de acordo com o Coletivo de Autores (2009, p.
68-69) pensa-se em:
a) Jogos cujo conteúdo implique a organização técnico-tática e o julgamento
de valores na arbitragem dos mesmos. b) Jogos cujo conteúdo implique a
necessidade do treinamento e da avaliação individual e do grupo para jogar
bem tanto técnica quanto taticamente. c) Jogos cujo conteúdo implique a
decisão de níveis de sucesso

E quando se tratar do Jogo no Ciclo de Sistematização do Conhecimento (1ª


a 3ª séries do Ensino Médio), o Coletivo de Autores (2009) p. 69) sugerem que
sejam considerados:
a) Jogos cujo conteúdo implique |o conhecimento sistematizado e
aprofundado de técnicas e táticas, bem como da arbitragem dos mesmos,
b) Jogos cujo conteúdo implique o conhecimento sistematizado e
aprofundado sobre o desenvolvimento/treinamento da capacidade geral e
específica de jogar. c) Jogos cujo conteúdo propicie a prática organizada
conjuntamente entre escola/comunidade.

No caso específico desta pesquisa, tratando-se de trabalhar o conteúdo Jogo


com alunos do 3º. Ciclo, ou seja, para uma 8ª. série do Ensino Fundamental,
foramconsideradas as sugestões do Coletivo de Autores (2009) pensando cada
conteúdo de forma a implementá-lo objetivando que os alunos sejam capazes de
fazer a leitura da realidade ao se encontrarem com o treinamento, bem como, se
prepararem para atividades da cultura corporal, de forma que, compreendendo o
conteúdo sejam capazes de organizar tal prática também fora da escola ou
socializá-la com toda comunidade (COLETIVO DE AUTORES, 2009).
No espaço escolar é possível pensar o jogo como um caminho para o
desenvolvimento do ser social e o professor, ao definir os objetivos, deve pensar a
forma a mediar ações visando a promoção do conhecimento do aluno. Lembrando
que os jogos irão exercer grande influência no processo de aprendizagem e
desenvolvimento deles.
No 3º. Ciclo do Ensino Fundamental, os alunos já estão com idades
aproximadas a 13 anos ou mais, fase na qual a criança para Vigotsky, de acordo
com Prestes (2008, p. 24) preferem atividades que:
[...]trazem satisfação somente quando seu resultado revela-se interessante
para a criança; é o caso, por exemplo, dos jogos esportivos (jogos
esportivos não são apenas os que envolvem atividade física, mas também
os que são relacionados a resultados, premiações).

No entanto, de acordo com as Diretrizes Curriculares (PARANÁ, 2008, p.63)


os profissionais de Educação Física devem fazer uma reflexão crítica deste
conteúdo para que não se permita “reforçar algumas características como a
sobrepujança, a competitividade e o individualismo”. Como enfatiza o Coletivo de
Autores (1992, p.71):

Os valores que privilegiam o coletivo são imprescindíveis para a formação


do humano o que pressupõem compromisso com a solidariedade e o
respeito, a compreensão de que o jogo se faz a dois, e de que é diferente
jogar com o companheiro e jogar contra o adversário.
O professor deverá dar conta para que perceba-se que o aluno estará
passando de um estágio etário para o outro e isso será uma mudança brusca para
ele, de onde deverá impulsionar-se para a atividade proposta (VIGOTSKY, 2008).
Convém lembrar as palavras de Vigostky (2008, p. 27): “não existe
brincadeira em que não haja comportamento da criança submetido a regras, uma
relação singular da criança com as regras”. E, falando em regras, o conteúdo dos
jogos estarão implicando nesta situação imaginária que: “em si já contém regras de
comportamento, apesar de não ser uma brincadeira que requeira regras
desenvolvidas, formuladas com antecedência”. Sempre vai restar a regra que até
poderá ter a interpretação e o significado alterado pela criança, mas, sempre
dependente delas, mesmo em situação imaginária.No jogo a liberdade não é
absoluta,pois depende de regras.
A respeito dos jogos cujo conteúdo impliquem na necessidades do
treinamento da avaliação individual e do grupo para jogar bem, e daqueles que
impliquem na decisão de níveis de sucesso, também é exigido que o pensamento
seja o de aprender o jogo como “um processo científico de preparação para
determinadas atividades da cultura corporal” (COLETIVO DE AUTORES, 2009,
p.69).

3 O JOGO E A REPRODUÇÃO SOCIAL

A Educação Física, como fenômeno social, faz parte da totalidade da


sociedade, através da qual a história do homem se concretiza (MELLO, 2009).
Os métodos de educação, fundamentam a classificação pedagógica dos
jogos, bem como, suas funções, para depois condicionarem sua utilização, com a
proposta de servirem para o desenvolvimento corporal, intelectual, afetivo e social
(ARAÚJO, 2006).
Quando uma pessoa joga ela está diretamente implicada no julgamento de
valores que deverá ser pensado no contexto social, observando a regra como
exigência imposta pela obrigatoriedade das relações sociais, onde se reproduz o
que a ideologia dominante deseja. Aquele que joga, respeita as regras sociais
enquanto respeita as regras do jogo, interpreta o mundo partindo da forma como a
sociedade capitalista se estrutura.
No jogo esportivo, por exemplo, o sujeito tem limitação de tempo, espaço e
formas de agir, ele segue aprendendo que uns, ou um deles ganha e o restante
perde. Ele nota que pessoas são eliminadas da competição a todo momento, assim
como no mercado de trabalho, na competição por emprego, no nível de
escolaridade, aprende-se que o melhor vence e o pior perde, especialmente quando
inseridos numa organização social capitalista.
Os jogos precisam ser pensados cuidadosamente,mesmo atendendo sua
função lúdica e colaborando ao desenvolvimento social de cada aluno, refletindo-se
detidamente sobre a relação de valores e formas de comportamento conformistas
que ele pode encerrar. Nota-se que os enfrentamentos dentro das escolas vão muito
além dos problemas pedagógicos, eles precisam lidar com processos políticos e
ideológicos, que impõem uma infinidade de exigências que tem provocado
individualismo e competição (BRACHT, 1992).
Tonet (2005) questiona se a Educar serve à cidadania ou à liberdade, e este
questionamento cabe bem aos conteúdos da Educação Física, sendo que, antes,
precisam ser elucidados enquanto muito divulgados e pouco pensados.
Falar em formação para cidadania nos dias atuais, especialmente quando
referindo-se aos esportes, por exemplo, é corriqueiro. No entanto, refletindo as
palavras de Tonet (2005), passa-se a notar que educar para cidadania nem sempre
significa educar para a liberdade plena, pois, a partir de uma formação cidadã o
sujeito será cumpridor de seus deveres e respeitador dos direitos dos demais, mas,
enquanto isso ele estará apenas respondendo aos que dominam. Ele só será livre
quando for capaz de compreender tal condição, quando souber reconhecer de onde
vem a natureza dessa prática, pois, dentro de uma abordagem política um cidadão
não será um homem livre, mas um sujeito que expressa as relações capitalistas. O
autor explica isso diferenciando emancipação política de emancipação humana,
estando a cidadania no plano da emancipação política, o que é o mesmo que
sociedade capitalista.
“A criança que pratica esporte respeita as regras do jogo ... capitalista”,
enfatiza Bracht (1992, p.58) a partir do título de um escrito seu. Pelas regras das
competições, o esporte irá ditando comportamentos e normas desejadas, bem
como, regras de concorrência, semelhantes a sociedade estruturada a partir do
modelo autoritário que faz com que o jovem que pratica esporte torne-se
conformado desde o início de sua formação a suportar as diferenças na
concorrência, aprendendo os diferentes papeis sociais, colaborando com as
posturas do dominador.
A visão funcionalista da Educação Física no Brasil ainda valoriza a formação
de um cidadão que desempenhe o melhor possível seu papel dentro da atual
estrutura social, reforçando a esteriotipação dos comportamentos e o adestramento
físico, para manutenção da força de trabalho (BRACHT, 1992, p.58)
O esporte é um meio para internalizar valores e normas de comportamento e
de formasde adaptação à sociedade. Pode ser considerado um forma de controle
social, um meio de reprodução das regras da ideologia capitalista (BRACHT, 1992).
Lembramos que o esporte é a primeira forma como o jogo se apresenta às pessoas
nesta sociedade.

4 TRANSFORMAÇÃO DOS JOGOS E MUDANÇA SOCIAL

Na tentativa de entender o papel do jogo e suas transformações, deve-se


considerar as modalidades de jogos apresentadas para poder conhecer suas regras
e o que elas trabalham no consciente coletivo enquanto são praticados.
É certo que os jogos foram se modificando, tanto quanto é certo que isso se
deu devido ao que acontecia em cada momento histórico exigindo tais alterações,
especialmente das regras.
Durante pesquisa realizada a partir deste Plano de Implementação
Pedagógica, os alunos do 8º Ano do Ensino Fundamental II, ao serem indagados,
num questionário diagnóstico, sobre o que é Jogo, deram respostas que permitiram
encontrar as categorias: competição, esporte, saúde, lúdico, lazer, e algumas outras
que tratam dos elementosconstitutivos dos jogos, dinâmica do jogo e meio de
desenvolvimento.
Este diagnóstico inicialrevelou algumas categorias muito significativas, com
maior número de ocorrências, por exemplo, quando se referem aos elementos
constitutivos dos jogos, à competição e ao esporte.
A categoria elementos que constituem o jogo, apresentou: os jogadores, os
materiais utilizados, as regras, os objetivos e o espaço para sua prática. Enquanto a
categoria competição fazia referência a percepção dos alunos a respeito de equipes
competindo e da existência de vencedores e perdedores, que são realmente parte
da explicação do que é jogo.
Na terceira categoria mais a significativa, o esporte, os alunos citaram
genericamente o Esporte para explicar o jogo, ou nominalmente algumas de suas
manifestações, como futebol, vôlei ou basquetebol. Háaquiuma relação muito forte
na associação entre jogo e esporte com o reconhecimento da competição nos jogos,
ou na maior atenção dos alunos para os jogos esportivos.Este diagnóstico pode ser
respaldado na ideia de Burle apud Dietrich (citada por BRACHT, 1992, p.60) que
afirma que “a nova geração é educada em e para uma sociedade competitiva [...] o
jovem esportista é confrontado muito cedo com princípios de rendimento [...]”.
Dentre as categorias encontradasnas respostas do questionário inicial, lúdico
e lazer, apareceram logo em seguida, e a esse respeito vale recordar que a
dimensão lúdica dos jogos foi sendo apropriada pelo homem para o trabalho,
explorando a ludicidade para impor-lhe valores, como por exemplo, para produção
de brinquedos que personificam uma profissão, ou o trabalho de um homem adulto.
Desde criança segue-se brincando de imitar os adultos. A categoria menos citada foi
Saúde, o que se explica considerando que os alunos entrevistados, mais motivados
pela competição e esporte, deixaram de avaliar esta questão.
Isso não reflete, porém um dos entendimentos da Educação Física nos dias
atuais, pois, Bracht (1992) lembra que dentre as concepções desta disciplina a
“visão biológica”, aquela que serve para melhorar a aptidão física, ainda prevalece.
Muito embora, saiba-se que tal entendimento justifica-se pela contribuição que um
indivíduo saudável dará ao desenvolvimento social.Após o término da
Implementação, aplicado o mesmo questionário, as categorias Competição,
Esporte e Lazerpermaneceram em destaque, nas explicações à questão sobre o que
é Jogo.
Vale lembrar que problematização que deu início a este trabalho, perguntava
a respeito da possiblidade da Educação Física Escolar trabalhar a Cultura Corporal
a partir dos Jogos, questionandoa realidade onde o professor está atuando ou as
perspectivas metodológicas a que serve. A intenção era a de que os alunos
conseguissem ver os jogos além da competição, as possiblidades de estética
corporal e de saúde como aprendizado que um jogo pode proporcionar.
As ocorrências para esporte, como sendo Jogo, reforçam a ideia da
esportivização da década de 70, onde visava-se o desempenho atlético-esportivo,
selecionando o alto rendimento, a repetição e perfeição dos movimentos, com vistas
a participação dos alunos com potencial atlético, na época da Abordagem Tecnicista
(PARANÁ, 2008), onde o Esporte assume o caráter de conteúdo quase exclusivo da
Educação Física.
Sobre o lúdico, as respostas concordam com Huizinga (1980) ao tratar do
“homem que brinca”, conforme apresentado acima, ao esclarecer que a
característica principal do jogo é a liberdade, ensinando que pessoa joga porque o
jogo lhe atrai e não porque a vida lhe impõe. Concorda-se com Huizinga (1980) que
enfatiza que a própria cultura tem caráter lúdico que serve de aporte para a
participação social.
É imprescindível que dentro das aulas de Educação Física os alunos sejam
levados a abandonar o que “Paulo Freire (1983) chama de consciência ingênua,
caracterizada pela conduta alienada e acrítica [...]” (BRACHT, 1992, p.71).
As categorias surgidas na análise do jogo remetem à necessidade de que os
alunos entendamque a Cultura Corporal é composta de objetividade e subjetividade,
teoria e prática, pois não pode mais ser “[...] considerado como composto de duas
unidades distintas: corpo e mente” (BRACHT, 1992, p.71).
O questionário diagnóstico perguntava qual a importância de estudar o
jogo. Sendo que, a partir do tratamento e análise das respostas foi possível
considerar algumas categorias, como por exemplo, aprender regras, que aparece
como a categoria mais significativa, e essa resposta é crucial para o
entendimento do jogo como reprodução social. Por outro lado, aprender
regrastambém tem a ver com um tipo de disciplina que envolve o estudo e a
militância para a transformação social radical.
As categorias que envolveram as ocorrências aspectos lúdico e educacional,
também têm considerável importância no discurso pedagógico da Educação Física,
haja vista, que atendendo aos eixos norteadores das Diretrizes que regem a
disciplina, pensa-se no brincar enquanto educa.
Conforme propõe asDiretrizes Curriculares para Educação Física (PARANÁ,
2008), deve-se considerar que além do seu aspecto lúdico, os jogos e brincadeiras
devem debater as possibilidades de flexibilização das regras e da organização
coletiva.Além do mais, ao se utilizar do conteúdo estruturante dos jogos, pode-se
refletir a respeito da cultura corporal, possibilitando uma leitura crítica da realidade.
Esta impressão do lúdico, de prazer, que as respostas apresentaram, não
quer dizer que o caráter da brincadeira não é levado a sério pelas crianças, pois,
para elas as brincadeiras são atividades sérias, ações voluntárias e livres
(KISHIMOTO, 1999).
Quanto a categoria saúde, o número de ocorrências revela a percepção dos
alunos quanto a importância do jogo na qualidade de vida, outra dimensão fundante
da área do conhecimento de que trata a cultura corporal (COLETIVO DE AUTORES,
1992). No seu sentido conservador, pode-se concluir que a visão biológica da
Educação Física no Brasil ainda prevalece no pensamento dos jovens estudantes
quando indagados sobre a importância dos jogos, obedecendo a ideia de que a
melhoria na aptidão física ajuda no desenvolvimento social, pois, os sujeitos tornam-
se aptos para atuarem na sociedade (BRACHT, 1992).
Após o desenvolvimento do Projeto Pedagógico, as ocorrências para a
categoria competição diminuíram e esse foi um aspecto analisado como positivo,
pois, o projeto objetivava apresentar a eles os jogos cooperativos, desenvolvendo
atividades desta modalidade.A partir da diminuição das ocorrências na categoria
competição analisa-se que os alunos deixarem de desejar praticar apenas os jogos
de rendimento e passaram a compreender que os jogos colaborativos diminuem o
interesse pela competitividade, sendo que “o mais importante é a ressignificação
crítica do esporte e do significado da competição” (OLIVEIRA 2002, p.6).
Outro ponto importante ocorrido nas respostas do questionário final foi o
aumento das ocorrências da categoria aspecto educacional, (para aprender mais,
para fazer melhor) o que representa um avanço na compreensão do papel do jogo
no desenvolvimento humano.
Retomando Elkonin (1998, p.19),o jogo é compreendido como uma “atividade
em que se reconstroem, sem fins utilitários diretos, as relações sociais”, ou seja, o
indivíduo desenvolve-se enquanto ser humano no contexto onde exerce suas
funções. “A base do jogo é social [...] o jogo nasce das condições da vida da criança
em sociedade” (ELKONIN, 1998, p.36).
Outra questão formulada para a avaliação, e crucial ao objetivo principal desta
pesquisa é: de que forma o jogo pode ajudar a reproduzir ou a transformar a
sociedade?
Das respostas obtidas, a categoria transforma a sociedade, não teve o
sentido buscado. De acordo com a fundamentação do trabalho a transformação
social tem o significado de superar a forma de sociedade atual e todas as
desigualdade que ela impõe. Os alunos trataram da transformação no sentido
ideológico de reforma social, de correção dos erros históricos e injustiças impostas
pela lógica do capital sem superar desde sua estrutura o capital. A categoria sair das
drogas, por exemplo, mostra que não houve aprofundamento para terem
consciência de que quem lucra com a venda de tais substâncias ou com a violência
que ela provoca, também é a lógica do capital, que gera lucro para quem vende.
Mas, antes, eles referiram-se à categoria saúde, associando a prática de esportes à
uma vida com mais qualidade e segurança. Os alunos repetiram o que ouvem pela
mídia, em casa e até na escola.
Depois da implementação, no entanto, pode-se notar uma nova categoria
reprodução através de geração em geração, e tal categoria pode ser avaliada como
sentido positivo da reprodução social, ou seja, a de manutenção do patrimônio
histórico da humanidade, dos conhecimentos que foram produzidos socialmente.
A categoriatransformar permaneceu inalterada levando à conclusão de que
alunos não compreenderam a relação do aprendizado de regras nos jogos e
esportes com a reprodução do capitalismo. O aspectos ideológico e conservador do
esporte, com o qual o jogo é identificado, é aparente das categorias sair das drogas,
praticar esportes, conviver em sociedade e saúde. Um aluno apenas compreendeu a
relação pretendida inicialmente, entre o jogo e as possibilidades de transformação
social, como mostra a categoria grupo de pessoas transforma a sociedade. Partimos
da compreensão de que na Educação Física, tomando como objeto de estudo aa
Cultura Corporal e os jogos enquanto conteúdo específico, podemos questionar a
realidade social onde estamos inseridos. As aulas de Educação Física podem levar
os alunos a entender, além da competição, das questões relacionadas à estética
corporal e das discussões sobre saúde, as regras sociais produzidas a partir do
aprendizado do jogo.
Nesse sentido, buscando apresentar o jogo em suas múltiplas determinações,
discutindo sua importância enquanto conteúdo da Educação Física Escolar a
proposta de tratamento pedagógico dos jogos foi desenvolvida da seguinte forma:
Num primeiro momento foi apresentado aos alunos um mapa do Brasil elencando os
principais jogos praticados nas suas diferentes regiões, onde os alunos puderam
observar e conhecer os jogos da região onde moram e das demais regiões do país.
Na sequência, os alunos foram divididos em cinco grupos, representados
pelas regiões: Sul, Sudeste, Centro-oeste, Norte e Nordeste. Cada grupo se
apropriou dos jogos típicos da região escolhida e dentre os jogos um foi escolhido
para ser estudado e aplicado ao restante da turma. Os jogos escolhidos foram:
região Sul Lenço Atrás; região Sudeste Esconde-esconde; região Centro-oeste
Pique-bandeira; região Nordeste Queimada e região Norte Amarelinha.
Os grupos apresentaram os jogos aos colegas, explicaram as regras para a
realização da prática, resultando na efetiva participação de todos os colegas. Ao
final, conversamos sobre os jogos desenvolvidos, foram levantados
questionamentos acerca da possibilidade de mudanças nas regras e na forma do
desenvolvimento dos jogos, possibilitando o conhecimento de variações dos
mesmos jogos praticados por eles em nossa região. Conforme o Coletivo de Autores
(2009), entendemos que este tratamento é se relaciona com a sistematização dos
dados geo-políticos e econômicos da realidade onde estes alunos vivem, no caso,
as diferenças e relações internas e considerando a integralidade do território
brasileiro.

CONCLUSÃO

Considerando o objetivo principal deste trabalho de pesquisa, que foi o de


desenvolver atividades junto a alunos do 8º ano do ensino Fundamental II, no
sentido de apresentar o conteúdo dos jogos como instrumento de reflexão sobre a
transformação reprodução social, a partir da consciência da cultura corporal,
concluiu-se que:

 A lógica do capital fala mais alto que os objetivos das atividades


apresentadas, e os alunos tiveram dificuldades de responder a estas
possiblidades de mudança de regras sociais a partir da percepção das regras
do jogo;
 É necessário que mais intervenções sejam realizadas nas aulas de Educação
Física para que professores e alunos permitam-se as críticas que facilitarão o
entendimento dos jogos enquanto repetidores das normas e regras que rege
a classe dominante da sociedade capitalista;
 Houve avanços e muitos questionamentos demonstraram que este tipo de
trabalho pedagógico, partindo da Pedagogia Crítico-Superadora, deve ser
levado adiante, nas aulas de Educação Física.
Considerando a necessidade e possibilidade do jogo no conhecimento das
relações espaciais, econômicas e políticas construídas pelos homens – conforme
relato da última atividade –, confirma-se o que diz o Coletivo de Autores (2009), que
sem esse conteúdo existirá uma lacuna na compreensão da realidade social, na sua
totalidade, imposta aos alunos. Dito de outra forma, que sem esse conteúdo a
compreensão e explicação da realidade fica comprometida, de forma que ele se
justifica no currículo escolar e da Educação Física. .

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em:<http://www.efdeportes.com/efd127/o-universo-ludico-proposto-por-caillois.htm>
Acesso em 02 ag. 2014.

PRESTES, Zoia. Todas são crianças, todas são crianças brasileiras. Revista Virtual
de Gestão de Iniciativas Sociais. Junho/2008.
Disponível:< http://www.ebah.com.br/content/ABAAAgVWIAJ/revista-virtual-gestao-
iniciativas-abril> Acesso: 13 nov. 2015.

SABIN, Maria Aparecida Cória. Jogos e brincadeiras na educação infantil.


Campinas, São Paulo: Papirus, 2004.

SAVIANI, Dermeval. Escola e Democracia. 8a. ed. São Paulo, Cortez/Autores


Associados, 1985.

TONET, Ivo. Educação, Cidadania e Emancipação Humana. Ijuí: Unijuí, 2005.

______. Marxismo e Educação. Maceió: março, 2009.

VIGOSTKY, L. S. Tradução de PRESTES, Zoia Ribeiro. A brincadeira e o seu papel


no desenvolvimento psíquico da criança. Revista Virtual de Gestão de Iniciativas
Sociais. p. 23-36. Junho de 2008.
APÊNDICE 1

VAMOS NOTAR AS DIFERENTES FORMAS DE JOGAR EM CADA REGIÃO DO BRASIL

Fonte: Costa (2006)

A partir da “leitura” deste mapa, vamos pensar e observar os


tipos de jogos que são praticados nas diferentes regiões do Brasil,
porque depois nós iremos jogar.
CIRCUITO DE JOGOS
REGIONAIS

Agora, depois de vermos os diversos jogos que são praticados em cada região
brasileira, vamos escolher um deles para cada região, e formarmos nossas equipes
regionais!!!!

Dentre os jogos da Região Sul a seguir, escolha um para que sua equipe possa
jogar:

REGIÃO
SUL

 Paraná: Queimada;
 S. Catarina: Lenço- atrás;
 Rio G. do Sul: Damas

Da Região Sudeste, faça o mesmo, escolhendo um jogo para sua equipe:

REGIÃO
SUDESTE

 São Paulo: Boca-de-Forno;


 Rio de Janeiro: Esconde-Esconde
 Minas Gerais: Peteca; Espírito Santo: Malha;
Escolha um dos jogos da Região Centro-Oeste para depois jogarem e apresentarem:

REGIÃO CENTRO-
OESTE

 Mato Grosso: Sela;


 Mato Grosso do Sul: Dados- Copos de
Couro;
 Goiás: Pique- Bandeira;
 Distrito Federal: Mãe da Rua

REGIÃO
NORDESTE

 Maranhão: Capoeira;
 Piauí: Amarelinha;
 Ceará: Boca de Forno;
 Bahia: Chicotinho Queimado;
 Sergipe: Amarelinha;
 Alagoas: Lenço-Atrás;
 Pernambuco: Boca de Forno;
 Paraíba: Esconde-Esconde;
 Rio G. do Norte: Queimada;
REGIÃO
NORTE
 Acre: Chicotinho Queimado;
 Rondônia: Queda de Braço;
 Amazonas: Queimada;
 Roraima: Boca de Forno;
 Pará: Amarelinha
 Amapá: Sela;
 Tocantins: Dado- Copo de Couro

Agora que cada equipe escolheu um jogo, vamos pesquisar quais são suas regras,

para depois cada uma apresentar-se para os demais colegas dos outros grupos

regionais.
APÊNDICE 2

QUESTIONÁRIO SOBRE JOGOS


(Diagnóstico e final)

1) Qual sua idade? _____________

2) Sexo: ( ) masculino ( ) feminino

3) Você gosta de jogar ? ( ) sim ( ) não

4) Explique o que é o jogo?

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

5) Quais são os elementos que constituem o jogo?

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

6) Você acha importante estudar o jogo? Justifique sua resposta.

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

7) O jogo pode ajudar a reproduzir ou a transformar a sociedade? De que forma?

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________
ANEXO 1

INSTRUMENTOS PARA AVALIAÇÃO DOS ALUNOS

Questionário: 1ª fase (Reprodução) e 2ª fase (Modificação e Recriação), registros a serem


anexados nos cadernos, avaliando conteúdos de aulas teóricas ou práticas:

Aluno Reprodução Recriação


Data
1 – Qual o nome do jogo?

2 – Qual o local do jogo?

3- Qual o número de
participantes do jogo?

4 – Como inicia o jogo?

5 – Como termina o jogo?

6 – Qual a duração do jogo?

7 – Quais as regras do jogo?

8 – Quais os materiais usados


no jogo?

9 – Faça o desenho do jogo.

Fonte: Adaptado de Dias (2002, p. 108).

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