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I
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
O JOGO NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR
Resumo
Este artigo apresenta uma análise do projeto de Implementação Pedagógica intitulado Cultura
Corporal: Os Jogos nas aulas de Educação Física, que se originou da percepção de que os jogos
podem questionar a realidade onde se desenvolve e transformá-la, a partir de ações concretas dos
homens em determinado momento histórico. Tais atividades e questionamentos foram organizados
no conteúdo jogos, junto a alunos de um 8º ano do Ensino Fundamental II de uma escola pública, na
busca pelo esclarecimento da possiblidade de transformação ou reprodução do atual contexto
histórico, deixando de obedecer a lógica do capital ou edificando a mesma. Esta proposta foi
embasada na Pedagogia Crítico-Superadora, que considera e argumenta a preocupação de não
reforçar as desigualdades sociais, quando sua prática é desenvolvida. Os resultados apresentaram, a
categoria aprender regras tanto no entendimento do jogo como reprodução social, quanto, por outro
lado, como tendo a ver com um tipo de disciplina que envolve o estudo e a militância para a
transformação social radical.Saúde, competição e sair das drogas são marcadamente representativas
da força da reprodução social deste conteúdo. Por outro lado, aspecto educacional e reprodução de
geração em geração estão relacionadas à manutenção do patrimônio histórico da humanidade, dos
conhecimentos que foram produzidos socialmente. Por fim, concluiu-se que a Educação Física
Escolar ainda precisa ser entendida como campo fértil para discussão a respeito da necessária
reflexão do homem e da cultura corporal dentro de seus momentos de jogos.
INTRODUÇÃO
1
Professora de Educação Física da Rede Estadual de Educação do Paraná. Lotada na Escola Estadual “ Anastácio
Cerezine” – Ensino Fundamental II, de Alvorada do Sul. 2015. Email: carmortanasil@seed.pr.gov.br ;
2
Professor Mestre da Universidade Estadual de Londrina. UEL.2015. Email: fercandido.emh.uel@gmail.com
Considerando as possibilidades dos jogos como meio de aprendizagem
social, foram desenvolvidas atividades que abordaram o Jogo numa perspectiva
crítica, com o objetivo do desenvolvimento integralda pessoa, indo além da simples
reprodução da sociedade vigente, com sua ideologia e sua profunda desigualdade
social.
Houve uma preocupação pedagógica de apresentar o conteúdo Jogo como
instrumento de reflexão sobre a transformação social e a importância da cultura
corporal dentro das aulas de Educação Física. Nesse sentido, preparando a
intervenção para uma turma de 8º ano do Ensino Fundamental, os tópicos foram
organizados a partir de textos para estudo e orientação das aulas práticas, na
expectativa de se levantar discussões necessárias ao esclarecimento de como os
jogos podem servir para reforçar a lógica dominante do atual contexto sócio-
histórico, ou agir nele de forma transformadora.
Para atingir tais objetivos, os jogos foram dados a conhecer em suas múltiplas
determinações para que os alunos pudessem vislumbrar uma crítica da realidade
social, também no sentido de ampliar a consciência do jogo, de como ele pode ser
pensado para identificar e criticar a alienação, bem como, a necessidade de
transformar a realidade. Os alunos e os professores precisam saber que o homem
sempre brincou (HUIZINGA, 1980), sempre jogou, mas, que as regras de jogos e
brincadeiras sempre foram ditadas pelos que detinham o poder e, hoje, isso não é
diferente.
Os referenciais teóricos pesquisadas serviram ao propósito de dialogar com a
prática da Educação Física Escolar, objetivando que os alunos conseguissem
associá-la ao mundo de regras onde estão inseridos, ou seja, a um mundo onde
quem pode mais é aquele que tem mais, e deles vem as regras e os objetivos de
todas as demais regras estipuladas. Aqui seguem os resultados e as conclusões
obtidos a partir da pesquisa e implementação pedagógica desta pesquisa.
Para pensar o homem como ser social é preciso compreender que este é
constituído pela subjetividade e pela objetividade do homem numa unidade
indivisível. Esta compreensãopassa pelo trabalho que o homem realiza, por sua
prática,seu pensamento, seu aprendizado diário, pelo tomar posse do
saber.Enquanto homem trabalha ele se constrói com ser social, ele junta o que
pensa ao que faz e vai tomando consciência de que sua prática é que o faz diferente
dos outros animais, que não são capazes de trabalhar para alterar o curso da
História. Ao trabalha ele produz, cria condições de convivência com os outros
homens, de aprender com eles, e vai manifestando suas potencialidades, os seus
saberes, enquanto apresenta suas criações. Os homens sempre fazem a História a
partir das coisas que criam para satisfazer às suas necessidades.
O ser humano aprende quando conhece a cultura já existente, e a partir dela
ele tanto reproduz como também poderá romper com alguns comportamentos e
preconceitos, entendendo sua condição de ser histórico. Isso se trata tanto de um
processo subjetivo, do íntimo, daquilo que não é tangível, mas, também se revela na
prática das relações sociais, especialmente pelo trabalho, pela transformação
consciente da natureza, o que diferencia o homem dos outros animais. Afinal, “o
trabalho não é apenas uma atividade específica de homens em sociedade, mas é,
também e ainda, o processo histórico pelo qual surgiu o ser desses homens, o ser
social” (NETTO; BRAZ, 2008, p. 34), não existe sociedade sem trabalho, e este
trabalho sempre é direcionado a um fim, dá origem ao ser social que se envolve com
a natureza à medida em que apossa-se dela para produzir bens que supram suas
necessidades. Todavida, o trabalho assume características particulares em
determinadas formações sociais. No modo de produção capitalista ele é
caracterizado pela força de trabalho ser umamercadoria, bem como os resultados
desse processo.
O ser social tem como característica a capacidade de transformar a si próprio
enquanto transforma a natureza, criando condições materiais de sobrevivência
fazendo sua história (MARX; ENGELS, 2007).Para Marx (2006, p, 212), o homem:
[...] não transforma apenas o material sobre o qual opera; ele imprime ao
material o projeto que tinha conscientemente em mira, o qual constitui a lei
determinante de seu modo de operar e ao qual tem de subordinar sua
vontade. E essa subordinação não é um ato fortuito. Além do esforço dos
órgãos que trabalham, é mister a vontade adequada que se manifesta
através da atenção durante todo o curso do trabalho.
3
No sentido da discussão proposta aqui, não é possível falar em educar o corpo, pois quem é educado é o
homem que é indivisível. Não há corpo (no sentido de ser humano) sem razão, tão pouco razão sem corpo.
plano civil) pelo conhecimento médico, [...] numa perspectiva terapêutica, mas,
principalmente pedagógica”.
Após o higienismo constituiu-se a concepção militarista que desejava a
aptidão física, com vistas à saúde dos jovens para que eles pudessem estar prontos
para defesa da Pátria, de forma que aqueles que tivessem baixa aptidão física,
fossem doentes ou deficientes não teriam permissão para participar da Educação
Física Escolar (BRACHT, 1992).
Segundo Coletivo de Autores (2009, p. 53): “As aulas de Educação Física nas
escolas eram ministradas por instrutores físicos do exército, que traziam para essas
instituições os rígidos métodos militares da disciplina e da hierarquia”.
Tratava-se de um projeto que correspondia a execução do projeto de
sociedade que fora pensada pelo governo, ou seja, de uma sociedade seletiva, onde
os fracos seriam eliminados e os fortes premiados, visando-se a formação de um
cidadão que fosse capaz de obedecer sempre, sem questionar, fortes, mas,
submissos.
Esta ideologia militarista se desenvolveu a partir do início da década de 30 do
século passado e “esteve estreitamente ligada às instituições militares, tanto na
maneira ‘disciplinar’ de conduzir os corpos, quanto nas finalidades de atuação para a
qual era ensinada” (EL TASSA e SCHNECKENBERG, 2014, p.1)
Em contrapartida, a década de 70 foi a época em que se tornou predominante
a esportivização que visava o desempenho atlético-esportivo e para isso selecionava
os mais habilidosos, com alto rendimento, e exigia a repetição e a perfeição dos
movimentos, sem possibilidade de participação de todos os alunos, mas somente
daqueles com potencial atlético. Era a época da Abordagem Tecnicista (PARANÁ,
2008).
Este método ganhou força objetivando promover o esporte para a conquista
de medalhas em competições, numa concepção que baseava-se na hierarquia e
defesa de uma elite social, valorizando o desporto de alto nível e valorizando apenas
aqueles que chegavam ao topo. Desta forma, dentro das escolas as aulas de
Educação Física acabaram se tornando discriminatórias, afastando os alunos menos
habilidosos (EL TASSA e SCHNECKENBERG, 2014).
A partir da década de 80, a sequência destes movimentos metodológicos deu
espaço para o surgimento de um modelo teórico demarcado pelo processo de
redemocratização social, que se importava mais com a cultura e com uma educação
de cunho mais humanista (PARANÁ, 2008).
E assim tem-se a construção do pensamento acadêmico da Educação Física,
baseada agora em novos pressupostos teóricos, histórico, filosóficos e pedagógicos
que levaram a debates e críticas que orientama revisãoconstante da disciplina.“No
contexto das teorizações críticas em Educação e Educação Física, no final da
década de 1980 e início de 1990, no Estado do Paraná tiveram início as discussões
para elaboração do Currículo Básico”(PARANÁ, 2008, p. 45).
O resultado destas discussões para a Educação Física apontaram, em parte,
para a Pedagogia Histórico-Crítica e para os pressupostos teóricos do materialismo-
dialético, que têm a pretensão de reformular a Educação e a disciplina de Educação
Física, refletindo histórica e socialmente as desigualdades sociais e econômicas e
com isto, buscar a concretude de um projeto de transformação social.
Dá-se a entender que tal elaboração busca uma construção pedagógica
superadora que responda aos conflitos de classe, onde diferentes interesses se
colocam no interior do processo da educação.
Mas, não é apenas esta perspectiva que se encontra presente nas atuais
propostas para a Educação Física escolar. Mello (2009), quando refere-se às várias
vertentes teóricas do pensamento pós-moderno na área da Educação Física,
entende que estas servem a atual lógica social, que ainda trata de forma
fragmentada do corpo e mente, objetividade e subjetividade e teoria e prática,
dicotomias que têm origem, conforme a autora, na divisão do trabalho em intelectual
e manual. Para superar estas dicotomias é proposta uma abordagem com aa
recuperação do pensamento de Marx e sua crítica radical em relação à ordem social
vigente e aos ditames da ordem social do capital (MELLO, 2009, p.1). Nesta direção,
Tonet (2009) faz referências as Teorias Educacionais Burguesas que, em sua
grande maioria, aumentam a distância entre os discurso e a realidade objetiva, por
conta da lógica do capital.
Escobar (1995) cita explicita um embasamento para esta discussão, onde na
atividade prática o homem transforma a realidade. Podemos também pensar nas
contribuições de Johan Huizinga (1980), historiador que trata do “homem que brinca”
falando dos diferentes tipos de jogos como seus objetos de estudos, esclarecendo
que a característica principal do jogo é a liberdade, ou seja, a pessoa joga porque o
jogo lhe atrai e não porque a vida lhe impõe, justo porque jogar é uma atividade
autônoma.Escobar (1995) argumenta que a Educação Física precisa ampliar,
pedagogicamente o conceito de “cultura corporal” para que sua prática pedagógica
tenha mais qualidade e envolva movimentos de cunho social, trazendo a luz os
conceitos históricos da construção desta cultura. Neste sentido pode-se ver esta
autora como uma referência para a pesquisa e prática pedagógica no relativo ao
jogo na Educação Física.
Para esta construção histórica da “cultura corporal”, Escobar (1995) sugere a
apropriação da Pedagogia Crítico-Superadora que emerge dos movimentos sociais,
lembrando que a Educação Física se localiza num campo da pedagogiahistórico-
crítica, e que esta Pedagogia faz uma crítica ao sistema educacional e mostra uma
nova possiblidade no desenvolvimento da prática desta disciplina. De acordo com
Escobar (1995 p. 92) nesta Pedagogia “subjaz o projeto histórico marxista [...] a
partir desta posição transformadora liga o projeto revolucionário de sociedade que
reconhece a luta de classes como instância de superação”.
Portanto, é preciso que haja mudanças a partir da ação educativa que sofrerá
implicações da cultura e, por isso, destaca que é muito importante historicizar a
cultura corporal, para que seja possível indicar, dentro da escola, toda ideologia que
envolve tais transformações, motivando a práticas associadas a uma posição social,
que não reproduza simplesmente a força dominante, mas, introduza “na escola a
preocupação pela própria produção cultural” (ESCOBAR,1995, p. 96).
No Estado do Paraná a disciplina de Educação Física, contextualizada na
sociedade capitalista,“[...] e estipula, como objeto da Educação Física, a cultura
corporal a partir dos conteúdos como: os esporte, a ginástica, os jogos, as lutas e a
dança”(PARANÁ, 2008).
Escobar (1995, p. 97-98) trata esta Pedagogia prática como exercício de
crítica que resgataria “as práticas que possam contribuir efetivamente para o
desenvolvimento da consciência crítica e das formas de resistência”. Dentro da
escola, isso podendo acontecer na construção de uma Cultura Corporal que valorize
o coletivo e defenda o compromisso com a solidariedade e respeito humano.
De acordo com Coletivo de Autores (2009, p. 63) a Escola:“[...] deve fazer uma
seleção dos conteúdos da Educação Física. Essa seleção e organização de
conteúdo exige coerência com o objetivo de promover a leitura da realidade”.
Aqui cabe perguntar: uma perspectiva crítica da Educação Física dentro da
sociedade capitalista é capaz de transformar a realidade desta mesma sociedade?
Vale esclarecer que a escola não é fundamento ou motor da sociedade, mas,
pelo contrário, é um determinado tipo de sociedade que cria a escola necessária
para sua reprodução. Como enfatiza Tonet (2009), dentro das escolas teorias
educacionais burguesas distanciam o discurso da realidade objetiva, e a educação é
transformada em mercadoria, que só pode ser adquirida por quem pode pagar por
ela, numa lógica da reprodução dos fins dominantes.À esta reprodução deve ser a
crítica elaborada pela Educação Física.
Partimos da discussão do trabalho para entender o homem como ser social,
mas ele não se resume ao trabalho. Enquanto o homem não começa a trabalhar ele
brinca. O brincar faz parte da formação do homem como ser social. No contexto
escolar, o conhecimento também vai sendo apropriado enquanto pratica jogos e
brincadeiras, enquanto ele se educa participando, ao mesmo, tempo da construção
social de sua individualidade.
Na verdade, o homem sempre brincou, mesmo nas sociedades primitivas
quando saia em busca de sobrevivência, muitas vezes as atividades tomavam
formas lúdicas (HUIZINGA, 1980).
Porém, mesmo brincando o homem pode ser crítico e racional, pode refletir
sobre os seus comportamentos que produzem história. E esse caráter crítico do
homem é que o coloca diante da realidade social complexa.
Quando uma criança brinca, joga ou pratica alguma atividade de lazer, ela
está se preparando para futuros trabalhos, pois, enquanto brinca ela também precisa
de atenção, concentração, confiança em si mesma, é neste momento que ela
também desenvolve relações de confiança com os colegas, consigo e com os que
representam a autoridade. Se estão na escola, respeitam ao professor, e na vida
futura de trabalho irão respeitar aos patrões. Tratam-se de relações semelhantes,
onde divide espaço com os colegas de brincadeira e se apropriam das experiências
enquanto se relacionam.Estas são as relações mostram como o seres humanos vão
se tornando seres sociais, aprendendo e compondoseu caráter.
Como qualquer história, de modo geral, a história dos jogos é uma construção
humana e para alguns autores como Huizinga (1980) e Elkonin (1998), os jogos
teriam surgido demonstrando relações do homem com o trabalho.
Elkonin (1998) conta que na história dos povos do extremo oriente, o
brinquedo e a atividade das crianças eram como que ferramentas para o trabalho,
modificações das atividades dos adultos que tinha uma relação direta com a futura
atividade profissional daquele sujeito.
A história mostra que a evolução dos jogos, brinquedos e brincadeiras
acompanha a modificação da imagem da criança, da forma de ver a própria criança
na sociedade.A forma como a criança era vista é a chave para perceber a história do
jogos e localizá-la em determinado período histórico, pois tais jogos se
correlacionavam com a vida da crianças na sociedade. Sendo que, de qualquer
forma, os jogos seguiram tendo um objetivo determinado de acordo com o momento
histórico de onde surgiam.
Para Huizinga (1980) o elemento lúdico está na base do surgimento e
desenvolvimento da civilização. Isso significa dizer que desde o surgimento da
sociedade o homem brinca e que os jogos também fazem parte de todas as culturas
da humanidade.
Huizinga (1980) esclarece que os jogos aconteciam antes da civilização
humana, pois, já existiam entre os animais, pois, ele entende que o lúdico é toda
atividade que dá prazer. Mas, não é essa a forma como estudaremos o jogo na
Educação Física, porque o jogo também se constitui numa atividade cultural com
função social. Ele detém certas características para ser considerado jogo: precisa
ser livre, partir da vontade do jogar e não ser imposta ao jogador, trata-se de uma
fuga da realidade, é isolado e limitado tendo determinado espaço e duração limitada.
É um fenômeno cultural, pois pode ser conservado na memória de um povo e ser
transmitido por ele às demais gerações, e é cultural dessa forma, criando ordem e
sendo ordem, pois, também possui regras que, mesmo sendo implícitas algumas
vezes, precisam ser cumpridas e obedecidas, pois, caso contrário será o fim do jogo.
O que se aprende nas aulas de Educação Física deverá contribuir para o
desenvolvimento da consciência crítica e das formas de resistir aos direcionamentos
ideológicos que são impostos, inclusive nessa forma ao mesmo tempo primitiva e
atual da atividade humana.
Aqui cabe perguntar: uma perspectiva crítica da Educação Física dentro da
sociedade capitalista é capaz de transformar a realidade desta mesma sociedade?
Vale esclarecer que a escola não é fundamento ou motor da sociedade, mas,
pelo contrário, é um determinado tipo de sociedade que cria a escola necessária
para sua reprodução.
Como enfatiza Tonet (2009), dentro das escolas teorias educacionais
burguesas distanciam o discurso da realidade objetiva, e a educação é transformada
em mercadoria, que só pode ser adquirida por quem pode pagar por ela, numa
lógica da reprodução dos fins dominantes. É esta reprodução deve ser a crítica
elaborada pela Educação Física.
Além da vida das pessoas, o jogo historicamenteestá presente nas aulas de
Educação Física. Quando se fala em jogo, no entanto, pensa-se logo em jogos
desportivos, especialmente nas competições, onde se exige dos participantes que
eles não errem, objetivando vencer o adversário. Todavia,é importante que todos
compreendam que o jogo é muito mais que isso, é uma atividade que já é
manifestada na criança e se concretiza na relação com os demais seres humanos e
com a natureza.
A palavra “jogo” pode evocar mais que um sentido. Kishimoto (1996) explica
que ele pode ser visto com o mesmo significado com que são percebidos o
brinquedo e a brincadeira. A língua portuguesa permite que este três termos sejam
vistos como sinônimos.
O termo jogo pertence a uma grande família, com características comuns e
específicas, que o define como sendo jogos de construção, de regras, simbólicos e
outros (KISHIMOTO, 1998).São vários os tipos de jogos conhecidos, no entanto, são
suas características que os diferem. Todos os jogos servem para aprender alguma
coisa ou para fornecer conhecimento ao ser aprendido.
Os Jogos Educativos, por exemplo, podem ser jogados dentro e fora da
escola, possibilitam a construção do conhecimento e a recreação, pois educam
enquanto divertem. Estes jogos são capazes de fazer com que as pessoas criem,
inventem, experimente, construam o conhecimento e lapidem suas habilidades,
ampliando a percepção e a inteligência (SABIN, 2004).
Desde bem pequenos, ainda com idade pré-escolar, todas as crianças
desenvolvem a imaginação e a criatividade. Sabemos que elas vão aprendendo
durante os jogos, e isso está ligado a um desenvolvimento ligado à necessidade de
utilizar a imaginação para trabalhar questões que vivenciam na vida real. Trata-se de
um modo de resolver seus problemas da vida real, jogando. Mas, é importante saber
que além destes jogos, existem os jogos tradicionais e os jogos de construção, que
também são muito utilizados nas escolas.
Todos os jogos propõem regras para lidar com a situação imaginária e estas
regras orientam a brincadeira/jogo, pois, os participantes colocam a atenção nos
objetivos do jogo e aprendem a compartilhar e respeitar as regras.Dentro da escola
os jogos, chamados de educativos, são apresentados com o objetivo de transmitir
informações sobre um determinado assunto.
Todo os jogospermitem que o indivíduo se afirme como ser no mundo, pois,
ao submeter-se às regras do jogo ele estará em treinamento para às regras sociais
que, assim como no jogo, podem ser transmitidas de geração a geração, ou seja, as
regras aprendidas vão acompanhar o sujeito durante toda a sua vida, sempre que
tiver de vivenciar, na prática, tais concepções, com senso de responsabilidade,
criatividade e autonomia. Estes são caracteres necessários da reprodução social,
assim como o desenvolvimento do indivíduo e de suas capacidades psicológicas
superiores. A reprodução social é necessária ao avanço da história humana
resguardando seu patrimônio cultural. Isso pensando na história em geral, como um
processo inesgotável. Ao mesmo tempo, na forma histórica atual, o capitalismo, essa
reprodução inclui os valores construídos nesta forma social baseada na
desigualdade, na contradição produção de riqueza sob a condição de produção da
miséria. Ambos os aspectos constituem preocupação da pesquisa feita para orientar
o ensino do jogo nas aulas de Educação Física.
O conteúdo do jogo, nas aulas de Educação Física não deve ser abordado
somente enquanto atividade recreativa, ele demanda um tratamento metodológico
fundamentado na sua historicização enquanto construído socialmente, a partir de
uma interpretação crítica da realidade (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Ao discutir a natureza do jogo, Huizinga (1980) aponta para características
relacionadas a aspectos sociais, como seu caráter fictício e sua limitação no tempo e
no espaço, descrevendo-o como elemento da cultura.
O jogo, tratado pela Educação Física Escolar, configura-se como um tema da
cultura corporal, da qual o homem se apropria dispondo de intencionalidade para o
lúdico ou para outros conceitos produzidos pela consciência social (COLETIVO DE
AUTORES, 2009).As significações dadas, pelo homem ao jogo, a partir desta
consciência social, irão adentrar em suas relações dando sentido próprio a estas
atividades, que terão significação social, nem sempre coincidentes com suas
expectativas (LEONTIEV, 1981 apud COLETIVO DE AUTORES, 2009).
O jogo, dentro da Educação Física deverá expressar um sentido onde
dialogarão a intencionalidade do homem e os objetivos da sociedade. Sendo que “a
escola, na perspectiva de uma pedagogia críticosuperadora deve fazer uma seleção
de conteúdos da Educação que sejam coerentes com o objetivo de promover a
leitura da realidade (COLETIVO DE AUTORES, 2009).
Então, qual a necessidade de ensinar o conteúdo jogo aos alunos?
Para Huizinga (1980, p.16):
A função do jogo, nas formas mais elevadas que aqui nos interessam, pode
de maneira geral, ser definida pelos dois aspectos fundamentais que nele
encontramos: uma luta por alguma coisa ou a representação de alguma
coisa.
Devemos aqui tomar como ponto de partida a noção de jogo em sua forma
familiar [...] o jogo é uma atividade de ocupação voluntária, exercida dentro
de certos e determinados limites de tempo e de espaço, segundo regras
livremente consentidas, mas, absolutamente obrigatórias, dotado de um fim
em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e alegria e de
uma consciência de ser diferente da ‘vida’ cotidiana.
4
No Ciclo de Ampliação da Sistematização do Conhecimento (das 7ª a 8• série do Ensino
Fundamental) os autores propõem três temáticas para a abordagem do conteúdo jogo. A terceira
implicar na organização e julgamento do aluno a respeito de valores, de avaliação e
de decisão, tudo o que ele necessitará a todo momento em sua vida.
No entanto, por se tratar de uma “produção histórico-cultural”, como propõe o
Coletivo de Autores (2009, p. 70) o jogo também estará subordinado “a códigos e
significados que lhe imprime a sociedade capitalista [...]”, não conseguindo se
afastar de tais condições, revelando que quando o processo educativo subordinado
ao Esporte exige o máximo rendimento do jogador, quando racionaliza meios e
técnicas e quando compete ao nível máximo, acaba por reproduzir as desigualdades
sociais (COLETIVO DE AUTORES, 2009).
Do ponto de vista sociológico, “o jogo é uma criação e manifestação humana”
(PICCOLO, 2008, p.1) e admite que “de certa forma o universo dos jogos é um pré-
molde de uma ampla visualização da sociedade” (Idem, Ibidem, p.4).
A presença dos jogos na história se constituiu como elemento na construção
das relações sociais em cada sociedade, mas, isso não quer dizer que teve sempre
a mesma repercussão em cada um destes períodos onde esteve presente.
Os padrões e normas aceitos por uma determinada comunidade, nem sempre
foram aceitos por outra e assim sucessivamente até os dias atuais. O que, no
entanto, não é empecilho para verificar que os jogos percorreram a história com a
mesma essênciade ludicidade, embora sua área de atuação pudesse ser alterada na
medida em que as relações de poder eram alternadas, evidenciando a presença de
alguns jogos de acordo com determinadas políticas e ideologias.
Para Caillois (1990) é possível definir uma época, a partir de seus jogos, haja
vista o desenrolar das linhas de força sobre as características da natureza social.
Mas de qual jogo está sendo falado? Todos os jogos podem abranger o
mesmo conceito?
O desejo de vencer, de competir e a essência lúdica dos jogos podem
coincidir em todos os tipos. No entanto, não são apenas estas características que
devem ser percebidas ao tomar o jogo enquanto conteúdo das aulas de Educação
Física, mas, deve-se considerar a medida pela qual a sociedade contemporânea
continua se manifestando através da forma lúdica do jogar.
A Educação Física segue, portanto, um certo paradigma:
delas trata de: “Jogos cujo conteúdo implique a necessidade do treinamento e da avaliação individual
e do grupo para jogar bem tanto técnica quanto taticamente” (COLETIVO DE AUTORES, 2009, p.69).
[...] apoia-se nos fundamentos sociológicos, filosóficos, antropológicos,
psicológicos e, enfaticamente, nos biológicos para educar o homem forte,
ágil, apto, empreendedor, que disputa uma situação privilegiada na
sociedade competitiva de livre concorrência: a capitalista. Procura, através
da educação, adaptar o homem a sociedade, alienando-o da sua condição
de sujeito histórico, capaz de interferir na transformação da mesma. Recorre
à filosofia liberal para a formação do caráter do indivíduo, valorizando a
obediência, o respeito às normas e à hierarquia. Apoia-se na pedagogia
tradicional influenciada pela tendência biologicista para adestra-lo
(COLETIVO DE AUTORES, 2009, p. 37).
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
HUIZINGA, Johan. Homo Ludens, O Jogo como Elemento da Cultura. São Paulo,
Perspectiva, 1980.
MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. Livro I, Vol. I. 24ª ed. Trad.
Reginaldo Sant’Anna. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.
NETTO, José Paulo; BRAZ, Marcelo. Economia Política: Uma introdução Crítica.
São Paulo: Cortez, 2008.
PRESTES, Zoia. Todas são crianças, todas são crianças brasileiras. Revista Virtual
de Gestão de Iniciativas Sociais. Junho/2008.
Disponível:< http://www.ebah.com.br/content/ABAAAgVWIAJ/revista-virtual-gestao-
iniciativas-abril> Acesso: 13 nov. 2015.
Agora, depois de vermos os diversos jogos que são praticados em cada região
brasileira, vamos escolher um deles para cada região, e formarmos nossas equipes
regionais!!!!
Dentre os jogos da Região Sul a seguir, escolha um para que sua equipe possa
jogar:
REGIÃO
SUL
Paraná: Queimada;
S. Catarina: Lenço- atrás;
Rio G. do Sul: Damas
REGIÃO
SUDESTE
REGIÃO CENTRO-
OESTE
REGIÃO
NORDESTE
Maranhão: Capoeira;
Piauí: Amarelinha;
Ceará: Boca de Forno;
Bahia: Chicotinho Queimado;
Sergipe: Amarelinha;
Alagoas: Lenço-Atrás;
Pernambuco: Boca de Forno;
Paraíba: Esconde-Esconde;
Rio G. do Norte: Queimada;
REGIÃO
NORTE
Acre: Chicotinho Queimado;
Rondônia: Queda de Braço;
Amazonas: Queimada;
Roraima: Boca de Forno;
Pará: Amarelinha
Amapá: Sela;
Tocantins: Dado- Copo de Couro
Agora que cada equipe escolheu um jogo, vamos pesquisar quais são suas regras,
para depois cada uma apresentar-se para os demais colegas dos outros grupos
regionais.
APÊNDICE 2
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ANEXO 1
3- Qual o número de
participantes do jogo?