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A FORMAÇÃO DO

TERAPEUTA CENTRADO
NA PESSOA
Questões Éticas Na Atuação Contemporânea
Iago Cavalcante Araújo
Um ponto de partida...
◦ A emergência do psicológico como um território da ignorância
◦ Falência da Epistemologia Moderna frente à experiência psicológica
◦ Crítica de Figueiredo a respeito da postura das abordagens
◦ No caso da Psicologia Humanista (Matriz Romântica), uma profunda
docilização daquilo que era tomado como estranho.
◦ Denuncia de Freire (2002) acerca do modo alérgico como as Psicologias lidam
com a Alteridade.
◦ Alerta de Coelho Jr (2007): a formação prepara para a negação do
estranhamento
Um ponto de partida...

◦ Humanismo parte de uma crítica ao modelo técnico, representado pela ciência


moderna.

◦ Psicologia humanista tem como objeto de estudos a experiência e sua ampliação


(Society for Humanistic Psychology, 2017, n/p).

◦ Como preparer psicólogas e psicólogos para lidar com a experiência, sem


que caiamos somente na ratificação desta, como uma experiência
amigável?
A Abordagem Centrada na Pessoa

◦ Quer se fale no psicoterapeuta, de aprendizagens, do cliente ou da psicoterapia


propriamente dita, deve-se pensar a partir do processamento da experiência
(ROGERS, 2004).

◦ A ACP, desde os primeiros trabalhos de Rogers, fundamenta-se no


reconhecimento da experiência da pessoa (cliente) (ROGERS, 1975).
◦ Aborda a partir de uma postura empática (ROGERS, 1975).
A Abordagem Centrada na Pessoa
◦ Para Rogers (2009), tornar-se pessoa “Significa que o eu verdadeiro é algo que se descobre
tranquilamente por meio da própria experiência, e não algo imposto sobre esta.” (p. 112)
◦ O sujeito é a sua própria experiência naquele momento.
◦ Para o caso do Psicoterapeuta:
“o terapeuta ‘pode se aproximar de sua vivência do momento e aí encontrar um
reservatório permanente que pode utilizar, e com que pode iniciar, aprofundar e realizar a
interação terapêutica, até com uma pessoa sem motivação, silenciosa ou exteriorizada’.” (Citando
Gendlin, ROGERS, 1976, p. 219).
Experiência
◦ Bondía (2002):
◦ O que nos passa
◦ Aquém de opinião, informação, trabalho
“A cada dia se passam muitas coisas, porém, ao mesmo tempo, quase nada nos acontece. Dir-se-ia que
tudo o que se passa está organizado para que nada nos aconteça” (p. 21)

◦ Passividade como paixão e afeto


seja como território de passagem, seja como lugar de chegada ou como espaço do acontecer, o sujeito da
experiência se define não por sua atividade, mas por sua passividade, por sua receptividade, por sua
disponibilidade, por sua abertura. (p. 24)
◦ Heteronomia e responsabilidade.
◦ Perigo e oportunidade
Experiência
◦ Bondía (2002):
◦ O Saber da experiência como responsabilidade
Este é o saber da experiência: o que se adquire no modo como alguém vai respondendo ao
que vai lhe acontecendo ao longo da vida e no modo como vamos dando sentido ao
acontecer do que nos acontece.
Práxis...
◦ Para além da técnica e do Saber-fazer (GADAMER, 2006)
◦ Transformação da experiência em um saber vinculado somente ao fazer.
◦ Produção de uma obra externa (Ergon) – produção excelente.
◦ Distante da experiência
◦ Distante da espontaneidade
◦ No caso da atuação psicológica/médica:
◦ Tyché (Gadamer, 2006) e Techné.
◦ Atuação humana que promove mudança (sorte) e evidencie a alteridade
◦ Abertura ao acaso e à experiência
Para tanto, a formação...
◦ Coelho Jr (2007):
◦ Prescrições de normas e técnicas versus formação de atitude ética
◦ Necessidade de formalizar escolhas (sempre em parte narcísicas) versus voltar-se para a alteridade.

◦ Figueiredo (2004):
◦ Conhecimento tácito
◦ Silêncio e capacidade de distanciamento da experiência
◦ Refrear-se (Ser-Capaz-de-Fazer – GADAMER, 2006) e reflexão.
Para tanto, a formação...
◦ Rogers & Kinget (1977):
◦ Desenvolvimento de atitudes (não qualidades inatas)
◦ “Se a noção desta terapia tivesse que depender da ‘perfeição’ imediata e constante de sua
aplicação prática, não haveria terapia ‘centrada no cliente’.” (p. 18)
◦ Castelo Branco et al. (2017): “Aos humanistas em formação, torna-se importante estar
aberto aos sentidos que compõem e constituem o outro na relação(...)” (p. 85)
◦ Não Focar somente técnicas, protocolos e explicações teóricas para lidar com uma demanda
◦ Aprender a olhar a partir da própria experiência
Para tanto, a formação...
◦Desafios:
◦ Questões para além do enquadre clínico tradicional
◦ Clínica como escuta do sujeito em sua pluralidade e responsabilidade por
outros
◦ Diálogos com outras áreas/profissões e a capacidade de teorizar sobre isto
◦ Ser capaz de pensar implicações coletivas e institucionais dos
princípios e valores humanistas (Schmid, 2015).
Referências bibliográficas
◦ Castelo Branco, P. C; Matos, G. N.; Sampaio, A. G. S; Amaral, B. R. (2017) Formação do psicólogo humanista: revisão sistemática.
Perspectivas em Psicologia, Uberlândia, vol. 21, n. 1, pp. 73 – 92.
◦ Coelho Júnior, N. (2007). Ética & Técnica em Psicologia: Narciso e o avesso do espelho. Revista do Departamento de Psicologia. UFF,
19(2), 487-493.
◦ Figueiredo, L. C. M. (1991). Matrizes do pensamento psicológico. Petrópolis: Vozes.
◦ Figueiredo, L. C. M. (1996). Revisitando as psicologias: da epistemologia à ética das práticas e discursos psicológicos. Petrópolis: Vozes.
◦ Freire, J. C. (2002). O lugar do Outro na modernidade tardia. São Paulo/Fortaleza: Anna Blume/Secult.
◦ Schmid, P. F (2015). Person and society: towards a person-centered sociotherapy. Person-centered & Experiential
Psichotherapies, 14 (3). p. 217-235.
◦ Rogers, C. R. (2004). A essência da psicoterapia: momentos de movimento. Em A. M. dos Santos, C. R. Rogers e M. C.V-B. Bowen.
Quando fala o coração. São Paulo: Vetor. (Originalmente publicado em 1956).
◦ Rogers, C. R. (2001b). Tornar-se pessoa. São Paulo: Martins Fontes. (Originalmente publicado em 1961).
◦ Rogers, C. R. & Kinget, G. M. (1977). Psicoterapia e relações humanas – volume 2. Belo Horizonte: Interlivros (Originalmente publicado
em 1962).

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