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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE FARMÁCIA
DEPARTAMENTO DE ANÁLISES CLÍNICAS E TOXICOLÓGICAS

LAÍS DOS SANTOS VIEIRA

RELATÓRIO DETERMINAÇÃO DE METEMOGLOBINA E ATIVIDADE DA


COLINESTERASE SÉRICA

SALVADOR
2022
LAÍS DOS SANTOS VIEIRA

RELATÓRIO DETERMINAÇÃO DE METEMOGLOBINA E ATIVIDADE DA


COLINESTERASE SÉRICA

Relatório apresentado como requisito de avaliação da


disciplina Toxicologia Clínica do curso de graduação
em Farmácia na Faculdade de Farmácia da
Universidade Federal da Bahia.

SALVADOR
2022
DETERMINAÇÃO DE METEMOGLOBINA NO SANGUE

1. INTRODUÇÃO

A molécula de hemoglobina é um tetrâmero formado por cadeias alfa, beta,


gama ou delta, onde cada cadeia é composta por um polipeptídeo globina
ligado a um grupo prostético heme, que compreende um anel de
protoporfirina IX complexado com um átomo de ferro no estado ferroso (Fe 2+)
(NASCIMENTO et al., 2008).

A metemoglobina é a hemoglobina oxidada, na qual o Fe 2+ da porção heme


está oxidado ao estado férrico (Fe 3+), isso resulta numa maior afinidade com
o O2, culminando no transporte anormal de oxigênio, que leva a cianose
quando há níveis aumentados de metemoglobina (LORENZI, 2006;
NASCIMENTO et al., 2008).

A metemoglobina é produzida naturalmente pelo organismo, não


ultrapassando 2% da hemoglobina total (BARATA-SILVA et al., 2015).

A metemoglobinemia é o aumento dos níveis de metemoglobina no sangue, e


ela pode ser congênita ou adquirida. A forma congênita é causada por uma
deficiência na enzima NADHcitocromo b5 redutase, já a forma adquirida é
resultado da exposição a agentes oxidantes, como nitratos, sulfonas,
acetanilida, dentre outros (FERREIRA; GOMES; VIEIRA, 2011).

2. OBJETIVO

Aplicar método espectrofotométrico para determinação da porcentagem de


metemoglobina nas amostras.

3. PRINCÍPIO ANALÍTICO

A técnica de dosagem de metemoglobina no sangue venoso através de


espectrofotômetro UV-Visível é baseada no princípio de que os pigmentos
sanguíneos (oxiemoglobina, deoxiemoglobina, metemoglobina e
cianometemoglobina) possuem picos de absorção significativos em diferentes
comprimentos de onda (BARATA-SILVA et al., 2015).

4. FLUXOGRAMA
Transferir 50 µL da amostra
para tubo com 5 mL de
tampão fosfato 0,017 mol/L.

Vortexar e deixar em
repouso por 5 min.

Transferir para cubeta e


medir absorbância a 635
nm.

Transferir 3 mL da solução para um


tubo e adicionar 100 µL da solução
de cianeto neutralizada.

Homogeneizar e após 2
min ler a 635 nm.

Adicionar 100 µL de hidróxido de


amônio concentrado.

Transferir 1 mL da solução para


um tubo com 4 mL de tampão
fosfato 0,067 mol/L.

Adicionar 50 µL de ferricianeto de
potássio a 20%. Vortexar e deixar
em repouso por 2 min.
Adicionar 50 µL de KCN a 10% e
vortexar.

Após 2 min medir a absorbância a


540 nm.

5. DADOS DAS AMOSTRAS


JNS, 35 anos, sexo feminino. SNM, 2 anos, sexo masculino, ambos são mãe
e filho. MCS, 7 anos, sexo feminino. Pacientes deram entrada com
desconforto respiratório e hiperventilação. As duas crianças apresentavam
cianose e confusão mental. Moradores da zona rural, ingeriram água de poço
artesiano. Possível contaminação com nitrato.

LSV, 23 anos, sexo feminino e CVS, 27 anos, sexo feminino serão controles
normais.

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Tabela 1 – Resultados das análises.

Paciente L1 L2 L3 Mt HbT %MtHb


JNS 0,076 0,062 0,172 0,50 7,23 6,98
SNM 0,127 0,047 0,155 2,88 6,51 44,24
MCS 0,176 0,050 0,168 4,55 7,06 64,45
LSV 0,041 0,050 0,163 0,32 6,85 -4,67
CVS 0,035 0,041 0,137 0,22 5,75 -3,83

Os controles normais obtiveram um valor de % de metemoglobina negativo, o


que significa que estavam abaixo do limite de detecção da técnica, estando
assim dentro dos valores de referência da normalidade, que é abaixo de 2%.

Os pacientes JNS, SNM e MCS apresentaram % de metemoglobina acima do


Índice Biológico Máximo permitido, que é de até 5%, o que significa que eles
apresentam uma metemoglobinemia.
Há a suspeita de intoxicação por nitrato, o que infere que seja uma
metemoglobinemia adquirida. Nesse caso é indicado o tratamento básico
inicial com a remoção do agente indutor e a administração de O 2 em alto
fluxo, além da supervisão clínica para os três pacientes. Além disso, é
indicado o emprego do azul-de-metileno para as duas crianças na dose
recomendada de 1 a 2 mg/kg, em solução a 1% por via venosa, pois estas
apresentam porcentagem de metemoglobina acima de 30% e sintomas mais
graves (NASCIMENTO et al., 2008).

O azul-de-metileno age ativando a enzima NADPH metemoglobina redutase,


que o reduz a leucoazul-de-metileno, que por sua vez reduz a metemoglobina
a hemoglobina novamente (NASCIMENTO et al., 2008).

Outra recomendação é para que os pacientes consumam água a partir de


outra fonte que não seja o poço artesiano do qual elas haviam consumido.

7. REFERÊNCIAS
BARATA-SILVA, Cristiane et al. Adaptação da metodologia de análise de
metemoglobina como biomarcador de efeito da exposição ao agrotóxico
diflubenzuron. Química Nova, v. 38, n. 4, p. 533-537, 2015. DOI:
https://doi.org/10.5935/0100-4042.20150038.
FERREIRA, Michelli Erica Souza; GOMES, Margarete do Socorro Mendonça;
VIEIRA, José Luiz Fernandes. Metemoglobinemia em pacientes com malária
por Plasmodium vivax em uso oral de primaquina. Revista da Sociedade
Brasileira de Medicina Tropical, v. 44, n. 1, p. 113-115, 2011.
LORENZI, Therezinha Ferreira. Manual de hematologia: propedêutica e
clínica. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.
NASCIMENTO, Tatiana Souza do, et al. Metemoglobinemia: do Diagnóstico
ao Tratamento. Revista Brasileira de Anestesiologia, v. 58, n. 6, 2008.
DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE DA COLINESTERASE SÉRICA
1. INTRODUÇÃO

Os organofosforados e carbamatos são agentes inibidores da colinesterase


utilizados em agrotóxicos e inseticidas que podem causar intoxicação e até
levar a óbito.

Os organofosforados são ésteres derivados do ácido fosfórico, altamente


lipossolúveis, isso favorece a sua acumulação no organismo. Já os
carbamatos são ésteres do ácido carbâmico, com baixa solubilidade em
água, lipossolubilidade menor que a dos organofosforados e tendem a se
acumular nos tecidos que o metabolizam, como o fígado (KLEIN et al., 2018).

Essas substâncias atuam na fosforilação das colinesterases, inibindo a


degradação da acetilcolina, que é um neurotransmissor muito importante para
as sinapses do Sistema Nervoso Central e Periférico, e seu acumulo acaba
gerando manifestações tóxicas (SANTOS et al., 2020).

A determinação da atividade das colinesterases pode ser usada para a


monitorização de exposição ocupacional e para a confirmação de
intoxicações agudas (SANTOS et al., 2020).

2. OBJETIVO

Determinar a atividade da enzima pseudocolinesterase através de método


espectrofotométrico.

3. PRINCÍPIO ANALÍTICO

A análise se baseia no uso da acetiltiocolina como substrato da colinesterase,


que degrada a acetiltiocolina em ácido acético e tiocolina, esta vai reagir com
o DTNB formando um complexo colorido, que aumenta a intensidade do
pigmento de acordo com o andamento da reação durante o tempo observado.

4. FLUXOGRAMA
Transferir 1,5 mL do
Reativo 1 para um
tubo de vidro.

Adicionar 10 µL da amostra
e homogeneizar no vortex.

Zerar a cubeta no
comprimento de
onda de 405 nm.

Adicionar 50 µL do Reativo 2 e
homogeneizar por inversão.

Transferir para cubeta.

Realizar leitura da absorbância


a cada 30 seg até 3 min.

5. DADOS DAS AMOSTRAS

JCP, sexo masculino, 29 anos, com passado de depressão foi encontrado


desacordado em via pública na madrugada do dia 06 de outubro, em crise
convulsiva e levado pela SAMU para a UPA às 03:00h do mesmo dia. Ao
chegar estava convulsionando e em seguida foi observado pela médica
assistente sinais de síndrome colinérgica, o qual logo rebaixou e foi intubado.
O médico diarista ao avaliar o paciente levantou a hipótese de síndrome
colinérgica por exposição a carbamato e fez contato com o CIAVE. Foi
orientado uso de atropina para manter a atropinização uma vez que hoje
foram feitas 10 ampolas de Atropina em bolos e o paciente evoluiu com
melhora da bradicardia, sialorreia e broncorreia. Em uso de nora e Midazolan
no momento, solicitou-se afastar broncoaspiração e introdução de
antibioticoterapia a critério médico. Apresentou bradicardia, coma, miose,
sialorréia, síndrome colinérgica e síndrome convulsiva (esta ao chegar na
unidade). Tempo entre a exposição e o atendimento médico: 10 horas.

MARS, sexo feminino, 10 anos, previamente hígida, sem comorbidade,


vacinada ontem pela manhã para COVID. Às 17:30 refere que ela ingeriu
bolo de chocolate com o pai e a irmã que também apresentaram alterações.
Pai tinha manipulado raticida não especificado no dia. Após 02 horas da
ingesta do bolo, a criança apresentou: visão turva, cianose, vômito e,
enquanto ia ao hospital, apresentou episódio de crise convulsiva. Deu
entrada no hospital cianótica, bradicárdica e em crise sendo realizado uso de
atropina. No momento encontra-se intubada com parâmetros moderados, em
uso de Drogas VasoAtivas (DVA), evoluindo com estado de mal epilético.
Médica Plantonista (MP) da UTI pediátrica informa que a paciente evolui
grave, com hemodinâmica compensada em uso de DVA. Sedada em uso de
midazolam e fentanil. Refere boas trocas na Ventilação Mecânica. Rx de
torax com achado sugestivo de Infecção Trato Respiratório e relato de
alimento em via aérea durante Intubação Orotraqueal (broncoaspiração) -
sendo iniciado Ceftriaxone + clindamicina. Nega broncorreia. Nega
bradicardia. TC de crânio normal, aguardando EEG. Está em uso de hidantal
e fenobarbital, conforme orientação da neurologia. Tempo entre a exposição
e o atendimento médico: 15 horas.

VRMF, sexo masculino, agente de endemias, trabalha no carro do fumacê,


determinação da exposição ocupacional.

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Tabela 2 - Absorbâncias das amostras em cada tempo

Paciente 0 seg 30 seg 60 seg 90 seg 120 seg 150 seg 180 seg

JCP (1) 0,215 0,241 0,273 0,285 0,314 0,314 0,331

JCP (2) 0,232 0,249 0,282 0,303 0,327 0,332 0,355


MARS (1) 0,158 0,178 0,190 0,208 0,225 0,229 0,240

MARS (2) 0,175 0,195 0,224 0,250 0,283 0,305 0,320

VRMF (pré) 0,269 0,354 0,501 0,617 0,740 0,889 0,988

VRMF (pós) 0,265 0,304 0,414 0,530 0,650 0,760 0,891

Tabela 3 - Δ dos tempos e Δ médio

Paciente Δ1 Δ2 Δ3 Δ4 Δ5 Δ6 Δmédio

JCP (1) 0,026 0,032 0,012 0,029 0,013 0,004 0,019

JCP (2) 0,017 0,033 0,021 0,024 0,005 0,023 0,021

MARS (1) 0,020 0,012 0,018 0,017 0,004 0,011 0,014

MARS (2) 0,020 0,029 0,026 0,033 0,022 0,015 0,024

VRMF (pré) 0,085 0,147 0,116 0,123 0,149 0,099 0,120

VRMF (pós) 0,039 0,110 0,116 0,120 0,110 0,131 0,104

Tabela 4 – Atividade da colinesterase

Paciente Atividade da Desvio Coeficiente % de


Média
colinesterase Padrão de Variação Inibição
(U/L)

JCP (1) 426,74


449,2 31,76 7,07%
JCP (2) 471,66

MARS (1) 314,44


426,74 158,81 37,22%
MARS (2) 539,04

VRMF (pré) 2.695,2


13,33
VRMF (pós) 2.335,84
Gráfico mostrando absorbância das amostras com o passar do tempo.

O paciente de exposição ocupacional apresentou uma inibição da atividade


da colinesterase de 13%, um valor abaixo do Índice Biológico Máximo
Permitido, mas que indica que está havendo uma exposição desse
trabalhador a inibidores da colinesterase. Seria indicado rever o EPI desse
trabalhador para saber se está havendo algum erro no uso, ou falha na
proteção.

A análise das amostras dos dois pacientes com provável intoxicação por
inibidores da colinesterase foi feita em duplicata. A amostra da paciente
MARS obteve um alto desvio padrão e cociente de variação, o que sugere
que houve algum erro em uma das duplicatas durante o procedimento.

Os dois pacientes apresentaram valores de atividade da colinesterase abaixo


dos valores de referência (1.900 a 3.800 U/L), o que indica que de fato houve
uma intoxicação por inibidores da colinesterase, já que sua atividade se
apresenta reduzida no organismo desses pacientes.

A conduta indicada nesses casos é a administração intravenosa de atropina,


que é um anticolinérgico que antagoniza os efeitos muscarínicos causados
pela inibição das colinesterases. A pralidoxima, que é uma ativadora
enzimática, também pode ser administrada nesses casos, com o intuito de
reativar as colinesterases, mas só é obtido o efeito se o agente tóxico houver
se ligado reversivelmente a enzima (VINHAL; SOARES, 2018).

7. REFERÊNCIAS

KLEIN, Bianca N. et al. Análise do impacto do uso de organofosforados e


carbamatos em trabalhadores rurais de um município da região noroeste do
estado do Rio Grande do Sul. Acta Toxicológica Argentina, v. 26, n. 3, p.
117-125, 2018.

SANTOS, Cláudia Regina dos et al. Avaliação da exposição a agrotóxicos:


cinco anos de análises toxicológicas. Extensio: Revista Eletrônica de
Extensão, Florianópolis, v. 17, n. 35, p. 162-176, 2020. Disponível em:
https://periodicos.ufsc.br/index.php/extensio/article/view/1807-
0221.2020v17n35p162/43035. Acesso em: 14 de out. 2022.

VINHAL, Daniela Cristina; SOARES, Vitor Hugo Cunha. Intoxicação por


organofosforados: uma revisão da literatura. Revista Científica FacMais, v.
14, n. 3, p. 61-75, 2018. Disponível em:
https://revistacientifica.facmais.com.br/wp-content/uploads/2018/12/6.-
Intoxicacao_por_organofosforados-VERS%C3%83O-PARA-PUBLICA
%C3%87%C3%83O.pdf. Accesso em: 15 de out. 2022.

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