O documento discute a visão de Pachukanis sobre a relação entre direito e relações econômicas na sociedade capitalista. Pachukanis argumenta que (1) as normas jurídicas só ganham significado a partir das relações econômicas reais entre os sujeitos; (2) é a relação econômica que gera a forma jurídica e não o contrário; e (3) o direito subjetivo tem origem no interesse material dos sujeitos e não em normas impostas externamente.
O documento discute a visão de Pachukanis sobre a relação entre direito e relações econômicas na sociedade capitalista. Pachukanis argumenta que (1) as normas jurídicas só ganham significado a partir das relações econômicas reais entre os sujeitos; (2) é a relação econômica que gera a forma jurídica e não o contrário; e (3) o direito subjetivo tem origem no interesse material dos sujeitos e não em normas impostas externamente.
O documento discute a visão de Pachukanis sobre a relação entre direito e relações econômicas na sociedade capitalista. Pachukanis argumenta que (1) as normas jurídicas só ganham significado a partir das relações econômicas reais entre os sujeitos; (2) é a relação econômica que gera a forma jurídica e não o contrário; e (3) o direito subjetivo tem origem no interesse material dos sujeitos e não em normas impostas externamente.
CENTRALIDADE DO TRABALHO E LEITURA CRÍTICA DOS DIREITOS
SOCIAIS E INDIVIDUAIS
A troca de mercadorias presume uma economia atomizada (p. 111). A ligação é
mantida por meio de contratos – cenário no qual os produtos do trabalho se tornaram mercadorias. É a forma mercadoria que gera a forma jurídica, logo. O direito só completa seu movimento real com a relação jurídica. Para Pachukanis, a visão do direito como um conjunto de normas é uma abstração sem vida. o Escola Normativa de Kelsen nega totalmente essa relação, argumenta “a relação é uma relação com a ordem jurídica, mais propriamente, dentro da ordem jurídica, mas não uma relação entre sujeitos contrapostos à ordem jurídica” (p. 112) Relação jurídica depende da norma objetiva, é a última que gera a primeira. Expressão pode ser compreendida num duplo sentido: 1.real; e 2.lógico. Real: normas como criação literária. Porém, para Pachukanis, as normas só ganham um real significado graças às relações reais. Por isso, só conseguem argumentar a autonomia da norma em limites muito estreitos, quando a tensão entre o fato e a norma não ultrapassam um determinado máximo (p. 113). “O estudo científico, ou seja, teórico, pode levar em conta somente os fatos. Se certas relações de fato se formaram, isso quer dizer que foi criado o direito correspondente; porém, se uma lei um ou decreto foram promulgados, mas as relações correspondentes na prática não surgiram, significa que houve uma tentativa de criar o direito, mas essa tentativa não obteve êxito” (p. 114) o Com isso, Pachukanis não nega a vontade de classe como fator de desenvolvimento, apenas salienta, por meio da metáfora do prédio, que não se pode sustentar que um prédio foi construído se as coisas não foram além da intenção de construir um edifício ou o projeto desse edifício. É claro que para construir o edifício será necessária a intenção e o projeto, mas se não for além deles, não se pode sustentar que eles foram de fato construídos (p. 114) E se em vez de colocar as normas acima de tudo, colocarmos a ordem jurídica objetiva, ou seja, as forças objetivas reguladoras vigentes na sociedade? o Ainda há espaço para crítica, pois, p. Ex., a relação entre credor e devedor não é gerada por uma ordem coercitiva de cobranças de dívidas existentes num determinado Estado – ela pode garantir, assegurar, mas não gerar a relação. “Nessa objeção se expressa o espírito profundamente prático e empírico da jurisprudência contemporânea, que reconhece firmemente apenas uma verdade, a saber, que qualquer demanda está perdida se um lado não pode se apoiar no parágrafo correspondente de alguma lei. Porém, teoricamente, essa convicção de que o sujeito e a relação jurídica não existem fora da norma objetiva é tão errônea como a convicção de que o valor não existe e não é definível fora da oferta e da procura, pois empiricamente ele não se manifesta de outro modo que não nas oscilações dos preços” (p. 116) Correlação entre superestrutura jurídica e superestrutura política o Se a norma é o primeiro elemento em todas as relações, devemos pressupor a presença de uma autoridade instituidora de normas – organização política. Logo, a superestrutura jurídica seria uma consequência da superestrutura política (p. 117) o A estrutura política, para Marx, entretanto, são um elemento secundário e derivado da superestrutura jurídica, quais sejam, as relações de propriedade que são expressas pela linguagem jurídica. O Estado cresce dentro desse terreno de determinadas relações de produção ou de relações de propriedade. “’A injustiça das relações de propriedade’, ela não as cria. “A injustiça das relações de propriedade”, condicionada pela moderna divisão do trabalho, pela forma moderna da troca, da concorrência, da concentração etc., de maneira nenhuma resulta da dominação política da classe burguesa, mas, pelo contrário, a dominação política da classe burguesa decorre dessas relações modernas de produção, que são proclamadas pelos economistas burgueses como leis necessárias e eternas” (p. 119) Ex. Relação econômica de troca deve estar presente na realidade para que surja a relação jurídica do contrato de compra e venda (p. 120). “Nesse caso, vemos como a relação econômica em seu movimento real torna-se fonte da relação jurídica, que nasce pela primeira vez no momento do litígio. É precisamente o litígio, o choque de interesses, que traz à vida a forma jurídica, a superestrutura jurídica. No litígio, ou seja, o processo, os sujeitos econômicos surgem já como partes, ou seja, como participantes da superestrutura jurídica. O tribunal, mesmo em sua forma mais primitiva, é a superestrutura jurídica por excelência. Por meio do processo judicial, o jurídico abstrai-se do econômico e surge como um elemento autônomo. Historicamente, o direito começou com o litígio, ou seja, com a ação, e apenas depois abarcou as relações precedentes, puramente econômicas e de fato que, dessa forma, já desde o início adquiriram um aspecto dual: econômico- jurídico” (p. 120) As premissas da estrutura jurídica estão arraigadas nas relações materiais, ou seja, de produção (p. 121) Direito romano: Jus civile é criado pela classe dominante para a sustentação de sua dominação, por meio da instituição do direito de propriedade, a família e a ordem de vocação hereditária. Entretanto, esse tratamento está tão errado quanto certo, pois o “desenvolvimento do direito como sistema foi provocado não pelas exigências da dominação, mas pelas exigências da troca comercial justamente com aquelas tribos que não foram englobadas por uma esfera única de poder – tribos estrangeiras, peregrinos, plebeus, dão vida ao jus gentium, que é o protótipo da superestrutura jurídica em seu aspecto mais puro” (p. 122). o “É plenamente evidente que a lógica dos conceitos jurídicos corresponde à lógica das relações sociais da sociedade produtora de mercadorias, e que precisamente nelas, nessas relações, e não na permissão da autoridade, é que se deve buscar a raiz do sistema do direito privado. Pelo contrário, a lógica das relações de poder e submissão enquadram-se apenas parcialmente no sistema de conceitos jurídicos. Por isso, a concepção jurídica do Estado nunca pode se tornar teoria, mas sempre haverá de constituir-se como uma deturpação ideológica dos fatos” (p. 123) Pachukanis conclui, portanto, que a análise da relação jurídica não exige partir do conceito de norma como imposição autoritária externa, sendo suficiente tomar como base uma relação jurídica “’cujo conteúdo seja dado pela própria relação econômica”” e examinar a forma “legal” dessa relação jurídica como um dos casos particulares” (p. 123) Problema da correlação entre direito subjetivo e objetivo – se encontram em planos diferentes, indubitavelmente condicionam um ao outro. Pachukanis demonstra a contradição existente entre ambos. “Ao mesmo tempo, em um aspecto, o direito é a forma da regulamentação autoritária externa e, no outro, ele é a forma da autonomia privada subjetiva. Em um caso, é fundamental e essencial a característica da obrigatoriedade incondicional e da coação externa; em outro, a característica da liberdade garantida e reconhecida dentro de certos. [...]” (p. 124) “Todos os proprietários, e igualmente todos aqueles que os rodeiam, compreendem perfeitamente que o direito que lhes pertence, como proprietários, tem em comum com a obrigação apenas o fato de que lhe é diametralmente oposto. O direito subjetivo é primário, pois ele, no fim das contas, baseia-se no interesse material que existe independentemente da regulamentação externa, ou seja, consciente da vida social” (p. 127) Organização social dotada de meios de coerção o Obrigação jurídica deve ser examinada como reflexo e correlato da pretensão jurídica subjetiva (p. 127). A dívida de uma parte é aquilo que se deve à outra e a ela assegura. “[...] lado do credor surge como um direito é uma obrigação do devedor. A categoria do direito torna-se logicamente acabada somente no ponto em que ela inclui em si o portador e o proprietário dos direitos, cujos direitos nada mais são do que as obrigações dos outros a eles asseguradas.” (p. 128) o O fim em si da ordem jurídica é somente a circulação de mercadorias (p. 128) o Ordem jurídica é diferente de qualquer outra ordem social: baseia-se em sujeitos isolados privados – “[...] pressupõe a pessoa dotada de direitos e que, além disso, exerce ativamente uma pretensão” (p. 128) o Para Pachukanis, a ideia de obediência incondicional a uma autoridade normativa externa não tem nada em comum com a forma jurídica, pois, para ele, quanto maior o princípio de regulamentação autoritária, menor será o terreno para a aplicação da categoria do direito – pois se exclui qualquer indício de vontade isolada e autônoma (p. 129) o Pachukanis ataca a divisão entre direito público e direito privado, pois “apenas numa abstração é possível traçar um limite entre o interesse egoísta do homem como membro da sociedade civil e o interesse abstrato geral do conjunto político” (p. 130). Na prática, esses elementos interpenetram-se mutuamente. Ao tentar separá-los empiricamente, o jurista depara-se com a contradição entre direito subjetivo e direito objetivo. O conceito de direitos subjetivos públicos é marcado por contradições. “A forma jurídica, com seu aspecto de patrimônio subjetivo de direitos, surge numa sociedade composta de portadores isolados de interesses privados e egoístas” (p. 131) “A teoria jurídica não pode identificar os “direitos do parlamento”, os “direitos do poder executivo” etc. com o direito, por exemplo, do credor ao recebimento da dívida, pois isso significaria colocar um interesse privado isolado ali onde a ideologia burguesa presume a dominação do interesse geral e impessoal do Estado” (p. 132) Qual a questão aqui? É que na Sociedade Burguesa, os interesses gerais são descolados dos interesses privados e contrapostos como distintos. Porém, nessa contraposição, mesmo os interesses gerais tomam a forma de interesses privados, ou seja, a forma jurídica. Para Goikhbarg, essa necessidade de divisão é contestável, pois eles se fundem de maneira a não existir separadamente. Porém, Pachukanis questiona: como pode-se fundir algo que não existe separadamente? (p. 134). Essa divisão não surge como invenção dos juristas, mas é caracterizada tanto pelo aspecto lógico quanto histórico. “Desse modo, o próprio conceito de direito público pode ser desenvolvimento somente nesse seu movimento, em que ele como se aparta constantemente do direito privado, tentando definir-se como contraposição deste último, e depois novamente retorna a ele, como se este fosse seu centro de gravidade” (p. 134) Caso o professor questione sobre as contradições da teoria da Pachukanis – ex. Teoria da jurisprudência pura -, o Pachukanis fala sobre isso nas páginas 135- 136. DIREITO E CENTRALIDADE DO TRABALHO À LUZ DAS MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS História do Rei Kasyapa I, do Sri Lanka. “Tendo realizado um governo popular e construído a cidade de Sigiriya, hoje um dos maiores sítios arqueológicos da Ásia, Kasyapa era, no entanto, constantemente assombrado pela morte do pai e pela revolta do irmão, que pretendia a tomada do trono. Em batalha final travada pelos exércitos de ambos, Moggallana é chamado ao palácio por Kasyapa, que, a despeito da certeira vantagem na guerra, prefere o suicídio, poupando o irmão de ter de eventualmente matá-lo. Ao se suicidar, Kasyapa proclama que não desejava para o outro aquilo que fizera ao matar o próprio pai: a quebra de um dos mais preciosos ensinamentos de Buda, segundo o qual nenhuma vida deve ser tirada” (p. 71) o Momento histórico não havia uma exata linha divisória entre religião e estado. Professor observa que naquele momento específico do Sri Lanka não havia condições históricas para a figura do sujeito de direito. Até na atualidade, essa divisão é nebulosa no oriente. “A despeito de termos todos os elementos típicos do capitalismo e a completude da abstração do trabalho, os resquícios religiosos se apresentam de maneira muito clara no Oriente, sendo que, no Ocidente, há uma essência mais bem escondida pela aparência que faz com que este distanciamento se realize de forma mais efetiva” (p. 72) O professor observa que, onde o capitalismo se instaura, a forma religião dá lugar, necessariamente, à forma jurídica, com as suas conformações históricas (p. 72). Mesmo que haja especificidades históricas no processo orientar, o professor observa que a forma jurídica se universaliza na mesma medida da internacionalização do capital (p. 72). o A religião, nos países orientais, como mera derivação da forma jurídica vislumbrada, enquanto predominante e da qual emanam outras subsidiárias. E no ocidente? Encontramos 2 situações dessa mundialização: 1. Existência de “molde mais bem-acabado” do sujeito de direito nas sociedades do centro do capitalismo e 2. Existência de uma construção desajeitada do sujeito de direito em sociedades da periferia do capitalismo (p. 72) o Quem é o sujeito de direito? Aquele que, em vista da liberdade e igualdade, vende sua força de trabalho. Elementos constitutivos: liberdade, igualdade e propriedade privada. Seja no mundo ocidental, seja no oriental, o que faz com que a religião deixe de ser a forma social de produção por excelência, o que faz com que a forma jurídica passe a assumir o posto antes assumido pela religião? A resposta do professor é simples: o advento da igualdade e da liberdade, fundadas na generalização da propriedade privada (p. 73). “Portanto, não é o laicismo ou não do estado que garante o capitalismo, mas a preservação, como instância última ou sobredeterminante, mesmo nessa porção do globo, das formas mercadoria (em primeiro plano) e jurídica (como seu complemento)” (p. 73). O proprietário da força de trabalho não pode ser menos “livre” e “igual” do que o rei, por exemplo. Professor busca dissecar a frase de Pachukanis, “Toda relação jurídica é uma relação entre sujeitos. O sujeito é o átomo da teoria jurídica, o elemento mais simples, que não pode ser decomposto. É dele que começaremos nossa análise”. o Crítica ao centralismo exacerbado de Kelsen na norma como “átomo” a ser destacado para obter a melhor explicação do fenômeno jurídico (p. 74). Para o professor, essa escolha pelo caráter normativo – esfera da aparência - é a melhor maneira de se esconder a essência do fenômeno jurídico (p. 74). o O que fazia com o direito possuísse especificidades históricas no capitalismo, que não se encontravam presentes no que também se chamava em direito em outros modos de produção? O SUJEITO DE DIREITO. A universalidade – ser aplicável a todos sem distinções -, ser abstrata e impessoal como características da normatividade jurídica não defluem dela mesma, mas das características típicas do sujeito de direito (p. 75). Este sim é o “átomo que se deve utilizar para uma análise do fenômeno jurídico como algo que somente no capitalismo reúne todos os requisitos para ser entendido como o é atualmente” (p. 75) o Ex. Uma norma na Idade Média era imbuída de significado religioso, impessoalidade era impossível, já que não havia igualdade dos súditos perante o soberano – monarca podia aplicar de forma pessoal uma determinada cobrança ou sanção (p. 76). Inédita a ideia de um contrato inaugural como indispensável para que todos os demais se concretizem na vida diária e reproduzam a lógica de acumulação do capital (p. 77). Igualdade é desdobramento da liberdade/propriedade – comprador e vendedor da força de trabalho precisam aparentar serem livres. o Essa relação contratual somente é possível em sociedade em que há proprietários. “Toda relação jurídica é uma relação entre sujeitos. O sujeito é o átomo da teoria jurídica, o elemento mais simples, que não pode ser decomposto. É dele que começaremos nossa análise” (p. 77-78) o O sujeito de direito é uma condição formal e jurídica indispensável para a propriedade, outra categoria formal e jurídica. Se não fosse pela primeira, a segunda perderia o sentido, pois qualquer trabalhador poderia “arbitrariamente” desconstitui-la, apoderando-se pela força física (p. 78) – não o poder fazer na nossa realidade, pois seria confrontado com a autoridade policial do estado. “As liberdades não jurídicas são transgressões, somente deixarão de sê-lo se incorporadas ao direito. São desobediência civil, que podem ser acopladas à lógica do sistema dependendo de como se processa a sua conformação. Uma vez conformadas, não serão mais transgressão, mas constituirão uma nova maneira de obediência. Dela, surgirão novos sujeitos dotados de igualdade obediente. Seremos incivis enquanto desobedientes, seremos civis quando obedientes. Enquanto incivis seremos selvagens e, se civis, faremos parte da civilização. E tal projeto de civilização nos inclui na lógica de propriedade. Somente é civil, portanto parte de um contrato, aquele que se dirigir com respeito devido à propriedade. Somente isto é civilização. O resto é o incivil, não civilizado.” (p. 78) Liberdade para Kant o Construção de racionalidade que suporta a lógica de reprodução capitalista e defesa da universalização da figura do sujeito de direito por meio de seus imperativos categóricos e hipotéticos. “Essa universalização é importante fator, assim, para que os princípios morais, ligados à razão, sejam acessíveis a todos os homens, com destaque para a igualdade e a liberdade, independentemente mesmo de questões como a sua origem social. Daí ser fácil concluir que os elementos externos, como os impulsos decorrentes da natureza humana (fome ou frio, por exemplo) ou pela pobreza (fome, frio, causados pela situação social) não seriam impeditivos de que o ser humano pudesse realizar o percurso da razão, aparentemente disponível a qualquer homem. Nessas situações, estamos diante de imperativos hipotéticos. Esse dado é fundamental para a consolidação da lógica do capital, na medida em que o mais pobre dos homens, ao poder fazer o percurso nobre da razão e cumprir as leis morais impostas à humanidade, também é igual e livre – condição primordial para a perpetração do contrato de compra e venda da sua força de trabalho e para o correspectivo sucesso da lógica de acumulação típica do capital” (p. 79) o Ideia de que todo homem é um fim em si mesmo, inclusive quando estamos tratando de força de trabalho (p. 80). Kant nos empurra para um mundo de representações/ do aparente, “não são a igualdade e liberdade que determinam o capitalismo, mas as suas ideias, as suas representações, indispensáveis à justificação moral de que os homens são um fim em si mesmo – não podendo ser pensados como um meio para a mera satisfação dos interesses dos demais” (p. 80). Liberdade e propriedade para Hegel o “O sujeito livre, igual e proprietário, necessário para a constituição do capitalismo, a partir da leitura hegeliana, é mais uma contingência histórica para que o Geist possa se autoconhecer. E este autoconhecimento é mais uma das etapas, mas não necessariamente a última em Hegel, no processo de o espírito se tornar absoluto. A propriedade seria categoria fundamental ao direito, um dos momentos rumo a esta absolutização do espírito [a consolidação do espírito para Hegel é a consciência], e a ela se dedica o filósofo pelo seu caráter revolucionário naquele instante vivido pela humanidade em que estava se processando a passagem “definitiva” para a razão” (p. 81) Propriedade vista como uma “fase” o A ideia de propriedade privada é nova: nunca se poderia imaginar isso diante de um monarca feudal que era proprietário de tudo, juntamente com a igreja (p. 82) o “em Hegel, “[o] sentido subjetivo da propriedade é o que se encontra na base mesma das sociedades livres e democráticas”. Por isso, não à toa, os estados totalitários a teriam abolido ou relativizado, não havendo “[...] forma de intervenção estatal que se justifique, se ela termina por abolir a liberdade de escolha, a escolha que cada um faz de sua própria vida”. O direito de propriedade, portanto, seria a base da liberdade, mas deve ser entendido de modo bem mais amplo do que a simples delimitação material ao ato de possuir algo como sendo seu” (p. 83). Para Hegel, propriedade envolve até mesmo o mais próprio da pessoa no seu sentido subjetivo. o Professor entende ser coerente afirmar que, no direito, o “eu quero” é um “eu posso”. O contrato é ato hegeliano: um puro encontro de vontades.