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CENTRALIDADE DO TRABALHO E LEITURA CRÍTICA DOS DIREITOS

SOCIAIS E INDIVIDUAIS

 A troca de mercadorias presume uma economia atomizada (p. 111). A ligação é


mantida por meio de contratos – cenário no qual os produtos do trabalho se
tornaram mercadorias. É a forma mercadoria que gera a forma jurídica, logo.
 O direito só completa seu movimento real com a relação jurídica. Para
Pachukanis, a visão do direito como um conjunto de normas é uma abstração
sem vida.
o Escola Normativa de Kelsen nega totalmente essa relação, argumenta “a
relação é uma relação com a ordem jurídica, mais propriamente, dentro
da ordem jurídica, mas não uma relação entre sujeitos contrapostos à
ordem jurídica” (p. 112)
 Relação jurídica depende da norma objetiva, é a última que gera a
primeira. Expressão pode ser compreendida num duplo sentido:
1.real; e 2.lógico.
 Real: normas como criação literária. Porém, para
Pachukanis, as normas só ganham um real significado
graças às relações reais. Por isso, só conseguem
argumentar a autonomia da norma em limites muito
estreitos, quando a tensão entre o fato e a norma não
ultrapassam um determinado máximo (p. 113).
 “O estudo científico, ou seja, teórico, pode levar em conta somente os fatos. Se
certas relações de fato se formaram, isso quer dizer que foi criado o direito
correspondente; porém, se uma lei um ou decreto foram promulgados, mas as
relações correspondentes na prática não surgiram, significa que houve uma
tentativa de criar o direito, mas essa tentativa não obteve êxito” (p. 114)
o Com isso, Pachukanis não nega a vontade de classe como fator de
desenvolvimento, apenas salienta, por meio da metáfora do prédio, que
não se pode sustentar que um prédio foi construído se as coisas não
foram além da intenção de construir um edifício ou o projeto desse
edifício. É claro que para construir o edifício será necessária a intenção e
o projeto, mas se não for além deles, não se pode sustentar que eles
foram de fato construídos (p. 114)
 E se em vez de colocar as normas acima de tudo, colocarmos a ordem jurídica
objetiva, ou seja, as forças objetivas reguladoras vigentes na sociedade?
o Ainda há espaço para crítica, pois, p. Ex., a relação entre credor e
devedor não é gerada por uma ordem coercitiva de cobranças de dívidas
existentes num determinado Estado – ela pode garantir, assegurar, mas
não gerar a relação.
 “Nessa objeção se expressa o espírito profundamente prático e empírico da
jurisprudência contemporânea, que reconhece firmemente apenas uma verdade,
a saber, que qualquer demanda está perdida se um lado não pode se apoiar no
parágrafo correspondente de alguma lei. Porém, teoricamente, essa convicção
de que o sujeito e a relação jurídica não existem fora da norma objetiva é
tão errônea como a convicção de que o valor não existe e não é definível
fora da oferta e da procura, pois empiricamente ele não se manifesta de outro
modo que não nas oscilações dos preços” (p. 116)
 Correlação entre superestrutura jurídica e superestrutura política
o Se a norma é o primeiro elemento em todas as relações, devemos
pressupor a presença de uma autoridade instituidora de normas –
organização política. Logo, a superestrutura jurídica seria uma
consequência da superestrutura política (p. 117)
o A estrutura política, para Marx, entretanto, são um elemento secundário e
derivado da superestrutura jurídica, quais sejam, as relações de
propriedade que são expressas pela linguagem jurídica. O Estado cresce
dentro desse terreno de determinadas relações de produção ou de
relações de propriedade.
 “’A injustiça das relações de propriedade’, ela não as cria. “A
injustiça das relações de propriedade”, condicionada pela
moderna divisão do trabalho, pela forma moderna da troca, da
concorrência, da concentração etc., de maneira nenhuma resulta
da dominação política da classe burguesa, mas, pelo contrário, a
dominação política da classe burguesa decorre dessas relações
modernas de produção, que são proclamadas pelos economistas
burgueses como leis necessárias e eternas” (p. 119)
 Ex. Relação econômica de troca deve estar presente na realidade
para que surja a relação jurídica do contrato de compra e venda
(p. 120). “Nesse caso, vemos como a relação econômica em seu
movimento real torna-se fonte da relação jurídica, que nasce pela
primeira vez no momento do litígio. É precisamente o litígio, o
choque de interesses, que traz à vida a forma jurídica, a
superestrutura jurídica. No litígio, ou seja, o processo, os sujeitos
econômicos surgem já como partes, ou seja, como participantes
da superestrutura jurídica. O tribunal, mesmo em sua forma mais
primitiva, é a superestrutura jurídica por excelência. Por meio do
processo judicial, o jurídico abstrai-se do econômico e surge
como um elemento autônomo. Historicamente, o direito começou
com o litígio, ou seja, com a ação, e apenas depois abarcou as
relações precedentes, puramente econômicas e de fato que, dessa
forma, já desde o início adquiriram um aspecto dual: econômico-
jurídico” (p. 120)
 As premissas da estrutura jurídica estão arraigadas nas relações
materiais, ou seja, de produção (p. 121)
 Direito romano: Jus civile é criado pela classe dominante para a sustentação de
sua dominação, por meio da instituição do direito de propriedade, a família e a
ordem de vocação hereditária. Entretanto, esse tratamento está tão errado quanto
certo, pois o “desenvolvimento do direito como sistema foi provocado não pelas
exigências da dominação, mas pelas exigências da troca comercial justamente
com aquelas tribos que não foram englobadas por uma esfera única de poder –
tribos estrangeiras, peregrinos, plebeus, dão vida ao jus gentium, que é o
protótipo da superestrutura jurídica em seu aspecto mais puro” (p. 122).
o “É plenamente evidente que a lógica dos conceitos jurídicos corresponde
à lógica das relações sociais da sociedade produtora de mercadorias, e
que precisamente nelas, nessas relações, e não na permissão da
autoridade, é que se deve buscar a raiz do sistema do direito privado.
Pelo contrário, a lógica das relações de poder e submissão enquadram-se
apenas parcialmente no sistema de conceitos jurídicos. Por isso, a
concepção jurídica do Estado nunca pode se tornar teoria, mas sempre
haverá de constituir-se como uma deturpação ideológica dos fatos” (p.
123)
 Pachukanis conclui, portanto, que a análise da relação jurídica não exige
partir do conceito de norma como imposição autoritária externa, sendo
suficiente tomar como base uma relação jurídica “’cujo conteúdo seja dado
pela própria relação econômica”” e examinar a forma “legal” dessa relação
jurídica como um dos casos particulares” (p. 123)
 Problema da correlação entre direito subjetivo e objetivo – se encontram em
planos diferentes, indubitavelmente condicionam um ao outro. Pachukanis
demonstra a contradição existente entre ambos. “Ao mesmo tempo, em um
aspecto, o direito é a forma da regulamentação autoritária externa e, no outro, ele
é a forma da autonomia privada subjetiva. Em um caso, é fundamental e
essencial a característica da obrigatoriedade incondicional e da coação externa;
em outro, a característica da liberdade garantida e reconhecida dentro de certos.
[...]” (p. 124)
 “Todos os proprietários, e igualmente todos aqueles que os rodeiam,
compreendem perfeitamente que o direito que lhes pertence, como proprietários,
tem em comum com a obrigação apenas o fato de que lhe é diametralmente
oposto. O direito subjetivo é primário, pois ele, no fim das contas, baseia-se no
interesse material que existe independentemente da regulamentação externa, ou
seja, consciente da vida social” (p. 127)
 Organização social dotada de meios de coerção
o Obrigação jurídica deve ser examinada como reflexo e correlato da
pretensão jurídica subjetiva (p. 127). A dívida de uma parte é aquilo que
se deve à outra e a ela assegura. “[...] lado do credor surge como um
direito é uma obrigação do devedor. A categoria do direito torna-se
logicamente acabada somente no ponto em que ela inclui em si o
portador e o proprietário dos direitos, cujos direitos nada mais são do que
as obrigações dos outros a eles asseguradas.” (p. 128)
o O fim em si da ordem jurídica é somente a circulação de mercadorias (p.
128)
o Ordem jurídica é diferente de qualquer outra ordem social: baseia-se em
sujeitos isolados privados – “[...] pressupõe a pessoa dotada de direitos e
que, além disso, exerce ativamente uma pretensão” (p. 128)
o Para Pachukanis, a ideia de obediência incondicional a uma autoridade
normativa externa não tem nada em comum com a forma jurídica, pois,
para ele, quanto maior o princípio de regulamentação autoritária, menor
será o terreno para a aplicação da categoria do direito – pois se exclui
qualquer indício de vontade isolada e autônoma (p. 129)
o Pachukanis ataca a divisão entre direito público e direito privado, pois
“apenas numa abstração é possível traçar um limite entre o interesse
egoísta do homem como membro da sociedade civil e o interesse abstrato
geral do conjunto político” (p. 130). Na prática, esses elementos
interpenetram-se mutuamente. Ao tentar separá-los empiricamente, o
jurista depara-se com a contradição entre direito subjetivo e direito
objetivo. O conceito de direitos subjetivos públicos é marcado por
contradições. “A forma jurídica, com seu aspecto de patrimônio
subjetivo de direitos, surge numa sociedade composta de portadores
isolados de interesses privados e egoístas” (p. 131)
 “A teoria jurídica não pode identificar os “direitos do
parlamento”, os “direitos do poder executivo” etc. com o direito,
por exemplo, do credor ao recebimento da dívida, pois isso
significaria colocar um interesse privado isolado ali onde a
ideologia burguesa presume a dominação do interesse geral e
impessoal do Estado” (p. 132)
 Qual a questão aqui? É que na Sociedade Burguesa, os interesses
gerais são descolados dos interesses privados e contrapostos
como distintos. Porém, nessa contraposição, mesmo os interesses
gerais tomam a forma de interesses privados, ou seja, a forma
jurídica.
 Para Goikhbarg, essa necessidade de divisão é contestável, pois
eles se fundem de maneira a não existir separadamente. Porém,
Pachukanis questiona: como pode-se fundir algo que não existe
separadamente? (p. 134). Essa divisão não surge como invenção
dos juristas, mas é caracterizada tanto pelo aspecto lógico quanto
histórico.
 “Desse modo, o próprio conceito de direito público pode ser
desenvolvimento somente nesse seu movimento, em que ele
como se aparta constantemente do direito privado, tentando
definir-se como contraposição deste último, e depois
novamente retorna a ele, como se este fosse seu centro de
gravidade” (p. 134)
 Caso o professor questione sobre as contradições da teoria da Pachukanis – ex.
Teoria da jurisprudência pura -, o Pachukanis fala sobre isso nas páginas 135-
136.
DIREITO E CENTRALIDADE DO TRABALHO À LUZ DAS
MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS
 História do Rei Kasyapa I, do Sri Lanka. “Tendo realizado um governo popular
e construído a cidade de Sigiriya, hoje um dos maiores sítios arqueológicos da
Ásia, Kasyapa era, no entanto, constantemente assombrado pela morte do pai e
pela revolta do irmão, que pretendia a tomada do trono. Em batalha final travada
pelos exércitos de ambos, Moggallana é chamado ao palácio por Kasyapa, que, a
despeito da certeira vantagem na guerra, prefere o suicídio, poupando o irmão de
ter de eventualmente matá-lo. Ao se suicidar, Kasyapa proclama que não
desejava para o outro aquilo que fizera ao matar o próprio pai: a quebra de um
dos mais preciosos ensinamentos de Buda, segundo o qual nenhuma vida deve
ser tirada” (p. 71)
o Momento histórico não havia uma exata linha divisória entre religião e
estado. Professor observa que naquele momento específico do Sri Lanka
não havia condições históricas para a figura do sujeito de direito. Até na
atualidade, essa divisão é nebulosa no oriente.
 “A despeito de termos todos os elementos típicos do capitalismo e a completude
da abstração do trabalho, os resquícios religiosos se apresentam de maneira
muito clara no Oriente, sendo que, no Ocidente, há uma essência mais bem
escondida pela aparência que faz com que este distanciamento se realize de
forma mais efetiva” (p. 72)
 O professor observa que, onde o capitalismo se instaura, a forma religião dá
lugar, necessariamente, à forma jurídica, com as suas conformações históricas
(p. 72). Mesmo que haja especificidades históricas no processo orientar, o
professor observa que a forma jurídica se universaliza na mesma medida da
internacionalização do capital (p. 72).
o A religião, nos países orientais, como mera derivação da forma jurídica
vislumbrada, enquanto predominante e da qual emanam outras
subsidiárias.
 E no ocidente? Encontramos 2 situações dessa mundialização: 1. Existência de
“molde mais bem-acabado” do sujeito de direito nas sociedades do centro do
capitalismo e 2. Existência de uma construção desajeitada do sujeito de direito
em sociedades da periferia do capitalismo (p. 72)
o Quem é o sujeito de direito? Aquele que, em vista da liberdade e
igualdade, vende sua força de trabalho. Elementos constitutivos:
liberdade, igualdade e propriedade privada.
 Seja no mundo ocidental, seja no oriental, o que faz com que a religião deixe de
ser a forma social de produção por excelência, o que faz com que a forma
jurídica passe a assumir o posto antes assumido pela religião? A resposta do
professor é simples: o advento da igualdade e da liberdade, fundadas na
generalização da propriedade privada (p. 73). “Portanto, não é o laicismo ou
não do estado que garante o capitalismo, mas a preservação, como instância
última ou sobredeterminante, mesmo nessa porção do globo, das formas
mercadoria (em primeiro plano) e jurídica (como seu complemento)” (p. 73). O
proprietário da força de trabalho não pode ser menos “livre” e “igual” do que o
rei, por exemplo.
 Professor busca dissecar a frase de Pachukanis, “Toda relação jurídica é uma
relação entre sujeitos. O sujeito é o átomo da teoria jurídica, o elemento mais
simples, que não pode ser decomposto. É dele que começaremos nossa análise”.
o Crítica ao centralismo exacerbado de Kelsen na norma como “átomo” a
ser destacado para obter a melhor explicação do fenômeno jurídico (p.
74). Para o professor, essa escolha pelo caráter normativo – esfera da
aparência - é a melhor maneira de se esconder a essência do fenômeno
jurídico (p. 74).
o O que fazia com o direito possuísse especificidades históricas no
capitalismo, que não se encontravam presentes no que também se
chamava em direito em outros modos de produção? O SUJEITO DE
DIREITO. A universalidade – ser aplicável a todos sem distinções -, ser
abstrata e impessoal como características da normatividade jurídica não
defluem dela mesma, mas das características típicas do sujeito de direito
(p. 75). Este sim é o “átomo que se deve utilizar para uma análise do
fenômeno jurídico como algo que somente no capitalismo reúne todos os
requisitos para ser entendido como o é atualmente” (p. 75)
o Ex. Uma norma na Idade Média era imbuída de significado religioso,
impessoalidade era impossível, já que não havia igualdade dos súditos
perante o soberano – monarca podia aplicar de forma pessoal uma
determinada cobrança ou sanção (p. 76).
 Inédita a ideia de um contrato inaugural como indispensável para que todos os
demais se concretizem na vida diária e reproduzam a lógica de acumulação do
capital (p. 77). Igualdade é desdobramento da liberdade/propriedade –
comprador e vendedor da força de trabalho precisam aparentar serem livres.
o Essa relação contratual somente é possível em sociedade em que há
proprietários. “Toda relação jurídica é uma relação entre sujeitos. O
sujeito é o átomo da teoria jurídica, o elemento mais simples, que não
pode ser decomposto. É dele que começaremos nossa análise” (p. 77-78)
o O sujeito de direito é uma condição formal e jurídica indispensável para
a propriedade, outra categoria formal e jurídica. Se não fosse pela
primeira, a segunda perderia o sentido, pois qualquer trabalhador poderia
“arbitrariamente” desconstitui-la, apoderando-se pela força física (p. 78)
– não o poder fazer na nossa realidade, pois seria confrontado com a
autoridade policial do estado.
 “As liberdades não jurídicas são transgressões, somente deixarão de sê-lo se
incorporadas ao direito. São desobediência civil, que podem ser acopladas à
lógica do sistema dependendo de como se processa a sua conformação. Uma vez
conformadas, não serão mais transgressão, mas constituirão uma nova maneira
de obediência. Dela, surgirão novos sujeitos dotados de igualdade obediente.
Seremos incivis enquanto desobedientes, seremos civis quando obedientes.
Enquanto incivis seremos selvagens e, se civis, faremos parte da civilização. E
tal projeto de civilização nos inclui na lógica de propriedade. Somente é civil,
portanto parte de um contrato, aquele que se dirigir com respeito devido à
propriedade. Somente isto é civilização. O resto é o incivil, não civilizado.” (p.
78)
 Liberdade para Kant
o Construção de racionalidade que suporta a lógica de reprodução
capitalista e defesa da universalização da figura do sujeito de direito por
meio de seus imperativos categóricos e hipotéticos. “Essa
universalização é importante fator, assim, para que os princípios morais,
ligados à razão, sejam acessíveis a todos os homens, com destaque para a
igualdade e a liberdade, independentemente mesmo de questões como a
sua origem social. Daí ser fácil concluir que os elementos externos, como
os impulsos decorrentes da natureza humana (fome ou frio, por exemplo)
ou pela pobreza (fome, frio, causados pela situação social) não seriam
impeditivos de que o ser humano pudesse realizar o percurso da
razão, aparentemente disponível a qualquer homem. Nessas
situações, estamos diante de imperativos hipotéticos. Esse dado é
fundamental para a consolidação da lógica do capital, na medida em que
o mais pobre dos homens, ao poder fazer o percurso nobre da razão e
cumprir as leis morais impostas à humanidade, também é igual e livre –
condição primordial para a perpetração do contrato de compra e venda da
sua força de trabalho e para o correspectivo sucesso da lógica de
acumulação típica do capital” (p. 79)
o Ideia de que todo homem é um fim em si mesmo, inclusive quando
estamos tratando de força de trabalho (p. 80). Kant nos empurra para um
mundo de representações/ do aparente, “não são a igualdade e liberdade
que determinam o capitalismo, mas as suas ideias, as suas
representações, indispensáveis à justificação moral de que os homens são
um fim em si mesmo – não podendo ser pensados como um meio para a
mera satisfação dos interesses dos demais” (p. 80).
 Liberdade e propriedade para Hegel
o “O sujeito livre, igual e proprietário, necessário para a constituição do
capitalismo, a partir da leitura hegeliana, é mais uma contingência
histórica para que o Geist possa se autoconhecer. E este
autoconhecimento é mais uma das etapas, mas não necessariamente
a última em Hegel, no processo de o espírito se tornar absoluto. A
propriedade seria categoria fundamental ao direito, um dos momentos
rumo a esta absolutização do espírito [a consolidação do espírito para
Hegel é a consciência], e a ela se dedica o filósofo pelo seu caráter
revolucionário naquele instante vivido pela humanidade em que estava se
processando a passagem “definitiva” para a razão” (p. 81)
 Propriedade vista como uma “fase”
o A ideia de propriedade privada é nova: nunca se poderia imaginar isso
diante de um monarca feudal que era proprietário de tudo, juntamente
com a igreja (p. 82)
o “em Hegel, “[o] sentido subjetivo da propriedade é o que se encontra na
base mesma das sociedades livres e democráticas”. Por isso, não à toa, os
estados totalitários a teriam abolido ou relativizado, não havendo “[...]
forma de intervenção estatal que se justifique, se ela termina por abolir a
liberdade de escolha, a escolha que cada um faz de sua própria vida”. O
direito de propriedade, portanto, seria a base da liberdade, mas deve
ser entendido de modo bem mais amplo do que a simples delimitação
material ao ato de possuir algo como sendo seu” (p. 83). Para Hegel,
propriedade envolve até mesmo o mais próprio da pessoa no seu sentido
subjetivo.
o Professor entende ser coerente afirmar que, no direito, o “eu quero” é um
“eu posso”. O contrato é ato hegeliano: um puro encontro de vontades.

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