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REVISTA CIENTÍFICA MULTIDISCIPLINAR NÚCLEO DO

CONHECIMENTO ISSN: 2448-0959

https://www.nucleodoconhecimento.com.br

COFFEE GAME: UM JOGO DE INCLUSÃO NA APRENDIZAGEM DE


HISTÓRIA PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA INTELLECTUAL

ARTIGO ORIGINAL

1
ARAÚJO, Gabriel Dato de

ARAÚJO, Gabriel Dato de. Coffee Game: Um jogo de inclusão na aprendizagem


de história para pessoas com deficiência intelectual. Revista Científica
Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 05, Ed. 11, Vol. 19, pp. 124-142.
Novembro de 2020. ISSN: 2448-0959, Link de
acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/coffee-game

RESUMO

Este trabalho apresenta uma reflexão e prática metodológica do ensino de história


para pessoas com deficiência intelectual. Foi-se estudado a história do café durante o
ano letivo de 2019 e como produto final das aulas houve o jogo que se chama “Coffee
game”. Esses educandos tiveram aulas semanais, sobre o surgimento dessa bebida
e toda sua trajetória até chegar em suas mesas todas as manhãs. Todo o processo
de construção do jogo, desde as regras, os peões, a escolha do formato do tabuleiro,
as cores desse tabuleiro, os materiais usados e a jogabilidade foram feitas em
conjunto com os educandos, a fim de que os mesmos criem uma maior identificação
com o produto final, facilitando assim o processo de aprendizagem do conteúdo.
Sendo o principal objetivo, reviver as aulas de forma lúdica estimulando nos
educandos o exercício da memória e o conhecimento histórico. O grupo é formado
por jovens e adultos, na faixa etária de 20 anos até 50 anos, com deficiências
intelectuais múltiplas, mas que variavam do grau leve ao moderado. O presente artigo
tem como finalidade relatar a prática e levantar questionamentos sobre como o ensino
de história tem sido abordado, sobre a necessidade do mesmo para um processo de

1 Pós graduado em Educação Especial com ênfase em Deficiência Intelectual e


Graduado em Licenciatura plena em História.

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maior autonomia e vivência cultural das pessoas com deficiência intelectual. A prática
foi realizada em uma associação particular de pais, na cidade de Atibaia no estado de
São Paulo. Não será citado nome da associação, nenhum educando ou pai, a pedido
dos mesmos.

Palavras-chaves: Ensino de História, Educação Especial, História do Café.

INTRODUÇÃO

O presente estudo de caso, baseou-se na experiência vivenciada na instituição para


jovens e adultos com deficiência intelectual na cidade de Atibaia, onde sou professor
de História desde 2017. O método adotado é o trabalho por projetos interdisciplinares
e a instituição oferece aos educandos diversas atividades, tais como: teatro, artes,
cerâmica, marcenaria, música, ética, culinária e história. No ano de 2019 o projeto
anual foi chamado “sensações”, com a premissa do aprender pelos cinco sentidos as
diversas áreas do conhecimento. Nessa lógica o estudo de história encaminhou-se,
não através da cronologia eurocêntrica que, por vezes, é trabalhada em instituições
de ensino, mas sim por um eixo temático. A história do café então foi escolhida, por
complementar a proposta anual da instituição pelos sentidos, afinal o café tem cheiro,
gosto, textura, músicas falam da bebida, é um objeto visual e sua história perpassa o
mundo todo até chegar na cidade de Atibaia e assim na mesa dos educandos todas
as manhãs.

O jogo “Coffe Game” foi o objeto de construção durante as aulas e produto final
apresentado e jogado por todos que compareceram no sarau da instituição no ano de
2019.

Quando falamos de ensino de História para pessoas com deficiência intelectual, ainda
hoje, deparam-se com muitas barreiras e elitismos do conhecimento histórico. Não
tem como esses educandos se situarem no universo sem o conhecimento histórico
pois, como apresenta Morin (2011, p.43) “Conhecer o humano é, antes de tudo, situá-
lo no universo, e não separá-lo dele.” Para existir inclusão é necessário, portanto, que
esses indivíduos tenham acesso ás aulas de História e essas devem ser adaptadas,

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a fim de gerar autonomia e um senso crítico. O público alvo do Coffe Game foram,
como já mencionados, jovens e adultos com deficiência intelectual, logo, pessoas que
não estão mais em idade escolar e que, durante seu processo no ensino escolar, não
tiveram o conhecimento histórico adaptado, mas na instituição realizam atividades
com a intencionalidade de promover seu desenvolvimento autônomo e vivências
culturais. Pretende-se com esse artigo difundir uma prática que deu certo em seus
objetivos principais: o conhecimento da história do café afim de incutir assuntos para
socialização, o senso crítico e ter um produto final concreto em forma de jogo que
qualquer pessoa pudesse jogar e compreender a história dessa bebida tão comum na
vida desses educandos.

1. OS SABERES PRÉVIOS

A educação especial no Brasil, passou por mudanças durante as últimas décadas,


desde a constituição de 1988 vemos uma ampliação nos estudos e práticas nesse
eixo educacional. Tendo por objetivo, cada vez mais o relacionamento do educando
com seus pares da mesma idade cronológica e estimulação das interações sociais,
bem como sua autonomia mediante as limitações, isso vem de encontro, ao princípio
da educação como um direito de todos os cidadãos.

Mais do que simplesmente conhecer a História, é necessário que a mesma faça


sentido para os educandos, que possam percebê-la em seu cotidiano, avistando
assim como uma área do conhecimento que não está tão abstrata quanto
tradicionalmente era colocada. Como afirma Silva (2015, p. 12) “Trabalhar na área da
deficiência intelectual requer a busca de alternativas pedagógicas por meio das quais
os alunos sejam capazes de apropriar-se dos conhecimentos de forma dinâmica”.
Portanto, cresce-se a demanda de práticas pedagógicas que proporcionem essa nova
perspectiva sobre a disciplina nas escolas.

O presente trabalho, deu-se com educandos que estão fora da idade escolar, dado
que a instituição tem como objetivo a socialização e autonomia cultural de jovens e
adultos, são indivíduos com idades variantes, mas todos adultos, que completando ou
não o percurso escolar, tiveram contato com a disciplina de História de uma forma

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tradicionalista. Segundo relatos dos próprios educandos e relatos dos responsáveis,


a maioria passou pela vivência de classes especiais na escola, tendo momentos de
interação com os demais alunos, somente em intervalos conjuntos ou datas
comemorativas, em que eram realizadas atividades conjuntas. Ambientes que se
caracterizavam pelas falas e práticas pedagógicas, sendo muito mais integracionistas
do que efetivamente inclusivas. Quando questionados sobre como era tratada a
disciplina de História, os educandos e responsáveis indicaram ter ocorrido uma forte
infantilização do conhecimento, restringindo o ensino de História à realização de
pinturas em comemorações de feriados, tendo assim pouca ou nenhuma
contextualização, mesmo em períodos que as classes especiais seriam
correspondentes ao Ensino Fundamental II e ao Ensino Médio.

Após essas informações recolhidas, tornou-se necessário saber mais a fundo as


especificações de cada caso desses educandos, dado que é um grupo heterogêneo
de doze pessoas, com deficiências intelectuais múltiplas. Isso foi realizado por meio
do estudo das anamneses de cada um dos atendidos da instituição, estas que já
haviam sido realizadas quando cada um se matriculou na instituição e armazenadas
no arquivo pela psicóloga e coordenadora do local. Foi um amplo trabalho, analisar e
separar informações da área da saúde, como diagnósticos e suas especificações, de
itens educacionais e vivências familiares que poderiam auxiliar durante as aulas. Esse
processo foi importante e necessário para compreensão das potencialidades e
dificuldades de cada um dos atendidos, pois como aponta Vygotsky (1997) o educador
é:

É aquele orientado prospectivamente, atento à criança, às suas


dificuldades e, sobretudo, às suas potencialidades, que se configuram
na relação entre a plasticidade humana e as ações do grupo social. É
aquele que é capaz de analisar e explorar recursos especiais e de
promover caminhos alternativos: que considera o educando como
participante de outros espaços do cotidiano, além do escolar; que lhe
apresenta desafios na direção de novos objetivos; que o considera
integralmente, sem se conter no “não”, na deficiência. (VYGOTSKY,
1997, p.196 apud OLIVEIRA PORTO, 2010, p.65).

As constatações que foram feitas no termino das análises foi que, a instituição atende
casos leves á moderados, grande parte dos atendidos passaram o período da

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juventude em suas casas, isolados da interação mais aprofundada em sociedade,


restringindo-se a experiência de vida ao ambiente escolar e ao núcleo familiar, esse
último com um alto índice de tempo assistindo a televisão e itens da cultura pop infanto
juvenil dos últimos 30 anos, como animes, desenhos, games, filmes, novelas, músicas
e até produtos que eram vendidos nos comerciais televisivos , fator esse que auxiliou
na elaboração das práticas pedagógicas pois, tornou-se necessário entender esse
meio social que formou os indivíduos.

Partindo dessas constatações, necessitou-se de uma imersão por parte da equipe


docente no universo de cada um dos membros desse grupo, entender seus
interesses, suas angústias e modos de enxergar a História e a sua própria História.
Salientando que, esse trabalho de ensino de história, com esse grupo específico, já
havia sido iniciado em 2018, porém com outro projeto que, tratava-se de estudar
grandes personalidades das artes em geral, que tinham deficiências. Trago isso no
presente trabalho, uma vez que foi um dos pontos facilitadores do processo, eles já
tinham começado a se compreender como agentes da história, metodologia que foi
baseada no estudo da Escola dos Annales, método de pesquisa e ensino chamado
micro-história, ou seja, uma análise de baixo pra cima, partindo da vivência dessas
pessoas (micro), para falar do que estava acontecendo ou está acontecendo no
mundo (macro). Contribuindo assim, para o entendimento das práticas pedagógicas
que tinham uma maior funcionalidade e das que não surtiam o mesmo efeito, com o
grupo ou com alguns membros, necessitando-se de um planejamento com formas
variadas de ministração das aulas como apresentado por Silva (2015).

Apresentar formas variadas para ministrar uma aula atrai a atenção do


aluno e proporciona um excelente resultado na obtenção de
conhecimento, é notório que a prática de adotar metodologias
diversificadas distintas da tradicional, isto é, do famoso quadro e giz,
possibilita ao aluno com deficiência intelectual uma maior aprendizagem.
Apesar de apresentar atraso cognitivo e motor, este aluno necessita de
atividades inovadoras, criativas que aticem a sua imaginação e
curiosidade. (SILVA, 2015, p.40).

O planejamento das aulas teve por objetivo ser diversificado, interligado aos itens de
interesse dos educandos, criando uma maior identificação com o conteúdo estudado,

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que a cada aula fosse instigado neles a autonomia e o senso crítico. Atentando-se
para incentivar às potencialidades desses jovens e adultos, que por um amplo período
de tempo, em suas vidas, tiveram acesso somente a uma pedagogia, que enfatizava
suas dificuldades. Logo, careceu que as perguntas disparadoras das aulas fossem
previamente pensadas em uma lógica de aprendizagem sem erro, como apresentado
por Haase (2016).

Para modificar crenças é necessário programar de forma cuidadosa


experiências de teste de realidade ou de aprendizagem sem erro.
Aprendizagem sem erro consiste em programar o nível de dificuldade
das tarefas de modo que o indivíduo não tenha oportunidade de errar. O
grau de dificuldade das tarefas propostas é calibrado de modo que
estejam ao alcance do cliente por meio de um pequeno esforço.
(HAASE, et al. 2016, p.18).

Essa programação das aulas foi feita de forma conjunta aos educandos, através de
conversas, foram expostos itens que gostariam de saber sobre a história do objeto de
estudo, apelidado pelo grupo como “cafezinho”.

2. SEQUÊNCIA METODOLÓGICA

A respeito da sequência das aulas, estas seguiram o planejamento feito previamente,


organizado de maneira interdisciplinar, com as demais áreas oferecidas aos
educandos pela instituição, arte terapia, cerâmica, musicoterapia, teatro e marcenaria,
todas pegando o eixo do estudo da História do café. para trabalhar a integração
sensorial. A história do café foi um objeto de estudo anual, portanto, esse
planejamento foi dividido em quatro partes, quatro bimestres, pois além de se estudar
a História do café, era necessário intercalá-la com as demais áreas e
apresentar o ciclo do café, ou seja, estudar desde o grão e como é a árvore, até o
resultado final, que é a bebida presente na casa dos educandos, todos os dias.
Sentindo sua textura, gosto e cheiro, visando dessa maneira uma educação holística,
que tenha por objetivo aguçar as percepções críticas e também sensoriais dos
atendidos.

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O primeiro bimestre teve por objetivo estudar a origem do café, logo, o ponto de partida
foi o mito de Kaldi, um pastor de cabras etíope que, certo dia, depara-se com suas
cabras extremamente agitadas. O mito diz que o café foi descoberto por volta do
século IX. A escolha de iniciar os trabalhos por esse mito foi baseado no forte impacto
que o universo lúdico tem na educação desses educandos, muitos sabem histórias
infanto-juvenis de cor e com riqueza de detalhes. Outro ponto importante dessa
experiência, foi o educador estar caracterizado como o Kaldi possibilitando o estudo
dos elementos culturais de sua roupa, turbante africano, cajado, camadas de roupa,
pois no mito, fala-se de um deserto, fato esse que levantou conexões com a presente
história, reflexões como a da forte presença cultural africana no Brasil, como o
simbolismo daquele turbante africanop e como o povo preto é tratado ainda hoje no
Brasil, já que seus ancestrais detinham grande sabedoria.

O formato em roda manteve uma proximidade entre os atendidos e o educador, notou-


se na fala deles um sentimento de igualdade. O educador não é maior que seu
educando, esse processo é uma troca de conhecimento enriquecedora para ambos.
Este formato foi desafiante nas primeiras aulas, então para tornar mais afetuoso e
mais acolhedor, houve-se a inserção de um elemento do cotidiano dos atendidos na
instituição, os tapetes de EVA que utilizam nas atividades físicas, colocados em
círculo. Isso aumentou a aceitação do novo formato. O uso do globo terrestre, antes
item de decoração foi importante, bem como uso de imagens para exemplificar a fala
e o processo do mito e das reflexões dele extraídas.

Neste processo foi apresentado aos estudantes os grãos do café em natura, como as
folhas da árvore, puderam sentir o gosto do grão e a textura das folhas. Trago isso
pois foi um episódio marcante para os alunos que tem uma maior sensibilidade no
tato. Observou-se que, tirar o conteúdo do abstrato e trazer ao concreto foi crucial
para um maior entendimento do que estava sendo trabalhado. Outro recurso muito
utilizado foi o aparelho televisor, onde se colocavam imagens referentes ao que se
estava falando, método esse também, embasado pela leitura das anamneses já
mencionadas. Eles tinham uma forte conexão com a televisão em casa e ver as

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imagens da aula sendo reproduzida em um aparelho de TV foi algo que se provou


funcional e muito produtivo.

Finalizando essa sequência sobre o mito do surgimento do café e um estudo cultural


sobre os africanos, os educandos foram convidados, quem se sentisse a vontade, se
vestirem como um pastor de cabras, o método de se colocar como o personagem,
trabalhou-se em outras situações pela professora de teatro da instituição e se mostrou
eficaz e atrativo, ao ponto de todos terem aceitado se vestir.

Desde o início das aulas, os educandos souberam que o produto final seria um jogo
de tabuleiro (em que se jogaria um dado para avançar as casas), resultante do
conteúdo estudado, portanto, por escolha dos mesmos o personagem Kaldi se tornou
um personagem jogável durante o jogo, um peão que representasse o jogador no
tabuleiro, assim como uma representação de suas cabras. O processo de realização
das peças do jogo, fez-se em parceria com a professora de cerâmica, durante as aulas
incentivou que eles criassem no barro as formas como imaginavam esses
personagens. Fator de extrema importância para a concretização do conhecimento
trabalhado e para valorização da aprendizagem de cada um dos educandos. Após, as
várias peças do Kaldi e da “cabrinha” estarem prontas, levantou-se uma votação, afim
de escolher duas peças, uma para cada representação de personagem, para serem
as representantes dos personagem em questão no jogo, sendo que as outras ficariam
em estoque, caso quebrassem, por algum motivo, essas principais, teriam como ser
repostas, as demais também seriam expostas no sarau ao final do ano letivo da
instituição.

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Figura 1 – Kaldi.

Fonte: Arquivo Pessoal/ 2019.

Figura 2 – Cabrinha.

Fonte: Arquivo Pessoal/ 2019.

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Ainda no primeiro bimestre, estudou-se a importância da influência árabe na história


do café, alguns métodos nessa sequência de aulas foram reutilizados dado seus
efeitos positivos, então eles ainda estiveram em roda, localizaram o irã no globo
terrestre, que fez parte do império persa e viram as imagens dos utensílios de
invenção árabe para transformar aquele grão em bebida na televisão, durante esse
processo os alunos tiveram oportunidade, nas aulas de arte terapia, de confeccionar
tinta com a borra do café. Café esse que é feito na própria instituição todos os dias,
fato enfatizado para mostrar a presença da história e do objeto de estudo no dia a dia
dos educandos. A borra de café esteve presente durante as aulas de História em uma
oportunidade que tiveram para sentir como sua textura é diferente se comparada ao
pó do café e ao grão do café, bem como seu cheiro. Analisou-se no filme Aladdin,
presente na infância de todos os educandos, muitos elementos trabalhados nas aulas
anteriores sobre a cultura árabe foram levantados pelos mesmos, como por exemplo
o fato do Aladdin, no início do filme, não poder tomar café, considerado tesouro dos
sultões e ele era pobre, mas que quando ele se veste de príncipe Ali com a ajuda do
gênio da lâmpada ele poderia, pois era rico. Esse fato mostra como a absorção do
conteúdo se deu de forma eficaz, pois, partindo-se da realidade do educando, este
pode realizar mais facilmente conexões com o conteúdo apresentado e o objeto de
estudo.

Os educandos pediram para que esse período também tivesse um peão, então foi
feito em cerâmica, peças representando o camelo, animal muito utilizado nas viagens
dos comerciantes árabes e como nos dois peões anteriores houve votação, sendo
escolhido pelo grupo, o exemplar que iria entrar no jogo e os que iriam ser expostos e
serviriam de reserva.

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Figura 3 – Camelo.

Fonte: Arquivo Pessoal/ 2019.

Ao término do primeiro bimestre, com o intuito de valorizar a micro história dos


estudantes, foram indagados sobre suas relações com o café, se tomavam ou não, se
gostavam ou não. Esse material foi documentado e arquivado, a fim de apresentar a
história de cada um juntamente com o jogo, dado que eles foram os autores do jogo,
tornando-se necessária uma biografia dos autores, com ênfase no café em suas vidas.

O estudo permeou o café e suas relações com o continente europeu, se atendo a não
cair em uma visão eurocêntrica de mundo, contudo, percebendo a importância da
Europa na disseminação da bebida.

De primeiro momento, necessitou-se uma recapitulação sobre o conteúdo estudado


até o determinado momento, através dos slides passados na televisão, os próprios
educandos iam relembrando o que foi estudado. Em seguida o uso do globo terrestre

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se deu para localizar esse continente europeu, pois foi perceptível que os estudantes
tinham uma perspectiva pronta do que era a Europa. Segundo as palavras dos
mesmos, um lugar “chique”, “para viajar”, “terra dos cavaleiros”, frases notoriamente
eurocêntricas e com forte disseminação no senso comum e na grande mídia. Mas não
muito real, quando questionados a respeito da localização eles não apresentaram
conhecimento, então mais uma vez o globo terrestre foi de extrema importância para
esse processo de localização do que está sendo estudado.

Passa-se então nesse momento a estudar a cultura holandesa, pois foram os


primeiros povos a terem contato com uma muda de café graças as trocas comerciais
com os árabes. Nesse período por não haver tantos elementos de origem holandesa
na cidade de Atibaia, utilizou-se imagens de outra cidade do interior de São Paulo, a
cidade de Holambra, em que alguns dos educandos já haviam visitado além de manter
forte influência holandesa.

Para exemplificar o tamanho que as mudas de café podem crescer, que é cerca de
três metros de altura, variando mediante plantações, o docente citava isso, subindo
no banco e falava, do alto, a informação. Esse fato foi de grande impacto para os
estudantes, estando sempre presente nas suas falas ao decorrer das outras aulas e
quando perguntados da altura das arvores de café.

As aulas se constroem em conjunto com os educandos, logo incentivá-los a trazer


materiais é de suma importância, uma estudante em questão tem consultas com seu
médico de rotina na cidade de Socorro, cidade essa que é próxima de Atibaia, em
uma dessas viagens a educanda notou uma plantação de café, segundo relatos da
mesma e de seu responsável, ela fez o pai parar o carro e tirou foto da plantação,
enviando logo em seguida ao professor. Ao ver sua foto na televisão em um slide,
exemplificando sobre como as técnicas para plantação dos cafezais holandeses tem
ainda na atualidade continuidades, a educanda ficou extremamente feliz e relembrava
esse fato sempre que o assunto era levantado na aula.

Na sequência o assunto tratado foi sobre os franceses, novamente utilizando o globo


terrestre para localização, mas dessa vez antes de se iniciar a sequência de aulas foi

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perguntado aos educandos quais as características que eles lembravam ao se referir


à França. As respostas foram, perfumes, torre Eiffel e que o filme o corcunda de Notre-
Dame se passava em território francês.

Partindo-se desse ponto de conhecimento deles, pensando em uma educação pelos


sentidos, nessa sequência de aulas foram trabalhados mais que a visão, audição e
tato, incluiu-se o olfato no experimento “Tenho cheiro de quê”. O experimento consistiu
em vendar os educandos, colocar itens aromáticos em algodões, dentro de pequenos
copos descartáveis de café, devendo os educandos cheirar um pote por vez e dizer
que cheiro tinha aquilo e que lembrança ele trazia.

As fragrâncias escolhidas para experimentação, foram baseadas no cotidiano da


instituição, o perfume do professor de História, produto de limpeza com aroma de
lavanda, usado na limpeza do local frequentemente, repelente usado pelos mesmos
quando saem em passeios, cerveja, presente na vida dos responsáveis, perfume da
professora de arte terapia e o café usado na instituição todos os dias. Os resultados
dessa experimentação foram os mais diversos possíveis, porém alguns educandos se
mostraram mais aguçados em identificar os cheiros. Todos os resultados foram
anotados para serem usados durante as aulas seguintes.

Nesse processo de estudo cultural da França, os educandos se depararam com um


trecho do livro “Perfume- a história de um assassino” de Patrick Süskind em que o
autor retrata como Paris no século XVIII não tinha esse cheiro agradável presente no
imaginário dos educandos e no senso comum.

Na época de que falamos, reinava nas cidades um fedor dificilmente


concebível por nós, hoje. As ruas fediam a merda, os pátios fediam a
mijo, as escadarias fediam a madeira podre e bosta de rato; as cozinhas,
a couve estragada e gordura de ovelha; sem ventilação, salas fediam a
poeira, mofo; os quartos, a lençóis sebosos, a úmidos colchões de pena,
impregnados do odor azedo dos penicos. Das chaminés fedia o enxofre;
dos curtumes, as lixívias corrosivas; dos matadouros fedia o sangue
coagulado. Os homens fediam a suor e a roupas não lavadas; da boca
eles fediam a dentes estragados, dos estômagos fediam a cebola e, nos
corpos, quando já não eram mais bem novos, a queijo velho, a leite
azedo e a doenças infecciosas. Fediam os rios, fediam as praças, fediam
as igrejas, fedia sob as pontes e dentro dos palácios. Fediam o

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camponês e o padre, o aprendiz e a mulher do mestre, fedia a nobreza


toda, até o rei fedia como um animal de rapina, e a rainha como uma
cabra velha, tanto no verão quanto no inverno. Pois à ação
desagregadora das bactérias, no século XVIII, não havia sido ainda
colocado nenhum limite e, assim, não havia atividade humana,
construtiva ou destrutiva, manifestação alguma de vida, a vicejar ou a
fenecer, que não fosse acompanhada de fedor. (SÜSKIND, 1985, p.5).

Segundo relatos dos educandos após o experimento e a leitura dramatizada do texto,


foi-se possível eles sentirem os cheiros de Paris. Dado isso, houve um estudo através
das imagens das roupas francesas e de como, presenteados pelos holandeses com
o café, os franceses vão começar a plantar em suas colônias e dominar parte desse
mercado cafeeiro.

Finalizando a sequência de aulas sobre os franceses, tiveram uma sessão de cinema


na instituição, com o filme o Corcunda de Notre- Dame, focando nas vestimentas da
época, no funcionamento da cidade, religião e em como tratavam o deficiente, esse
último fato gerou uma discussão muito interessante pois muitos estudantes
compartilharam que sentem na sociedade atual muitos daqueles comportamentos de
repulsa representados no filme por serem deficientes intelectuais.

As atividades que competem ao terceiro bimestre, iniciaram após o período de


recesso das atividades na instituição em julho. Necessitou-se uma revisão de todo o
conteúdo com os educandos, para que ela fosse mais eficaz, começamos pelas
decisões dos detalhes do produto final o jogo. Então, na aula inicial desse bimestre
fora apresentado aos estudantes, em uma lousa comum, três formatos para o
tabuleiro, o primeiro: sendo uma espiral, em que os jogadores iniciam na ponta e tem
a finalização no centro do tabuleiro, o segundo: um caminho com curvas, em que os
jogadores começam de cima e vão através do caminho, até a parte inferior do tabuleiro
e o terceiro sendo: trajeto reto tendo o início em uma extremidade do tabuleiro e a
chegada na extremidade oposta. Enfatizo que foi de extrema importância à todos os
envolvidos, esse processo de votação, a fim de valorizar sua individualidade, mas de
se verem como membros pertencentes a um grupo, esse método, repetiu-se em todas
as decisões pertinentes ao jogo. Sendo assim, decidiu-se pelos educandos que o
formato seria em espiral e confeccionado por eles nas aulas de arte terapia. Feita em

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uma folha de papel paraná, tendo seus cantos reforçados com madeira pinus. O nome
do jogo, também foi decidido dessa maneira, o professor apresentou três opções e os
educandos votaram, sendo elas “Café histórico”, “Jogo do Café” ou “Hora do Café”,
através da votação dos educandos o vencedor foi o nome “Jogo do Café”, mas os
mesmos optaram por colocar em inglês, dado que segundo eles esse nome era mais
atrativo, então decidiu-se o nome Coffee Game.

Na aula seguinte, o foco foi iniciar o trabalho de elaboração das perguntas que seriam
correspondentes a cada casa do tabuleiro. Essa estratégia serviu para revisar o
conteúdo de uma forma mais contínua e lúdica.

Os estudantes escolhem primeiro se a casa é positiva ou negativa, ou seja, se ela vai


auxiliar o jogador no percurso ou prejudicar. Após isso caso ela seja positiva quantas
casas ele vai avançar, isso define a dificuldade da questão, caso negativa se esse
jogador irá retroceder e quantas casas ou permanecer na casa necessitando decidir
quantas rodadas. Nessa aula, definiu-se as cinco primeiras casas e suas questões
pertinentes ao mito do surgimento do café e cultura etíope, as casas que o jogador
devia responder, efetivamente questões para obter o benefício, foram elaboradas com
quatro alternativas de resposta, sendo essas alternativas e a pergunta elaborada em
cima do conteúdo pelos estudantes.

Identificou-se a partir dessa experiência que, para obter melhores resultados, não se
tornar cansativo e maçante aos educandos, o conteúdo deveria ter um período a partir
desse bimestre em todas as aulas que se destinariam às elaborações das perguntas
de cada casa. Portanto, foi chamado de “Hora da Criação”, os momentos que
serviriam para essa atividade, bem como, para uma retomada dos conteúdos.

Os estudos do café continuam tratando sobre a Guiana Francesa, vizinho do Brasil,


mas pouco conhecida, foi de extrema importância para que o café chegasse em solo
brasileiro. Dado que, foi Francisco de Melo Palheta, então sargento-mor no Pará, em
viagem diplomática à Guiana Francesa, responsável por trazer ao Brasil, sementes e
cinco mudas de café clandestinamente, pois era proibido pelo governo francês o
comércio desses itens. Possibilitando ao Brasil, anos mais tarde, ser um dos maiores

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exportadores de café do mundo, esta parte da História foi de grande interesse dos
educandos pois haviam muitas suposições de como o “senhor Palheta”, como
apelidado pelo grupo, teria conseguido esses recursos, um possível adultério por parte
da mulher do governador estava entre as suspeitas e boatos diziam que as sementes
estavam em um buquê de flores.

Para concretização dessa sequência de aulas, utilizou-se o globo terrestre como


anteriormente para localizar a Guiana Francesa (isso causou grande espanto em
alguns dos educandos, dado que, não sabiam que o local era tão próximo ao Brasil),
os slides com imagens do “senhor Palheta” e a caracterização do professor com um
grande chapéu representando a vestimenta da época. O grupo escolheu fazer nas
aulas de cerâmica uma flor com uma semente de café em cima, como peão para
representar esse trecho da história.

Figura 4 – Flor com semente de café.

Fonte: Arquivo Pessoal/ 2019.

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Tendo a chegada do café ao Brasil e os primeiros plantios sendo datados do século


XVIII, o verdadeiro auge comercial tendo sido atingido no século XIX, tratou-se de
falar sobre Campinas, cidade do estado de São Paulo, essa que veio à se tornar
grande produtora de café (muito conhecida dos educandos na atualidade, pois muitos
tem consultas médicas na cidade, além de irem muito aos shoppings nas horas de
lazer). Trabalhou-se o desenvolvimento da cidade, como o café era transportado pelos
trens, aula em que os alunos foram apresentados à “maria fumaça”, tiveram seus
olhos vendados e tinham que descobrir que som seria aquele, a maioria identificou
rapidamente pois está sempre muito presente nas telenovelas que os estudantes
consomem em suas casas.

O enriquecimento do barões do café às custas do trabalho de pessoas escravizadas,


para exemplificar melhor, apresentou-se em uma sequência de aulas sobre a
escravização no Brasil, utilizando fotos de pontos da cidade de Atibaia, como a igreja
do Rosário e a casa paroquial, esta última que ainda se preserva um pelourinho. Os
educandos apresentaram reconhecer os pontos, mas não suas origens e segundo
relatos dos responsáveis após a sequência dessas aulas eles sempre contavam ao
familiares a História do lugares estudados. Isso serviu de gancho para trabalhar o
assunto de racismo na contemporaneidade com o grupo. O porto de Santos foi
trabalhado da mesma forma que a cidade de campinas, através de imagens e
sonorização dos navios.

O grupo decidiu, manter os quatro peões já feitos, uma vez após algumas
experimentações optaram pelo jogo ter até quatro jogadores, ou, oito podendo serem
quatro duplas. A partir desse momento, o maior foco foi na confecção do tabuleiro,
pintura, customização e das questões de cada casa.

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Figura 5 – Um dos testes realizados com mais de quatro peões.

Fonte: Arquivo Pessoal/ 2019.

Abrindo as atividades do quarto bimestre, os educandos foram desafiados a


conversarem com suas famílias e buscarem informações sobre de qual lugar seus
avós e bisavós vieram, algo necessário era aumentar esse diálogo dos educandos
com seus familiares de forma autônoma, dado que previamente nas anamneses, o
professor já obtinha as informações. Através desse diálogo foi constatado que neste
grupo haviam descendentes de imigrantes italianos, espanhóis, portugueses, alemães
e japoneses.

Seguindo essa primeira aula, os estudantes analisaram quais cidades já conheceram


ou ouviram falar que estão presentes no mapa da região sudeste, mais
especificamente o Vale do Paraíba, região que o café esteve muito presente.
Analisaram através de imagens na televisão, a história de Nicolau de Campos
Vergueiro, pioneiro em contratar europeus durante o século XIX para trabalharem em

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suas plantações de café, a concretização veio por parte de imagens de comidas


típicas trazidas pelos imigrantes europeus nesse período que na contemporaneidade
estão presentes no dia a dia dos estudantes.

Avançando no assunto da imigração, foi estudado a imigração japonesa, tendo sua


primeira viagem realizada em 1908, sendo notório, nos estudantes com essa
ancestralidade, a empolgação com o conteúdo, inclusive um dos mesmos se ofereceu
em uma aula para falar sobre as comidas japonesas que são apreciadas fortemente
pelos demais. Tratou-se da cidade de Atibaia e de como essa cultura está fortemente
presente, principalmente da tradicional festa das flores e dos morangos, (todo ano a
cidade tem e desde a fundação da instituição os educandos vão em todas as edições).
Enfatizando ainda nessa sequência de aulas, que algumas palavras presentes no
senso comum, podem ser ofensivas e diminuir a cultura diferente, aula essa que foi
realizado em forma de roda de conversa, a fim de suscitar a ideia que para o respeito
e uma sociedade igualitária existirem é necessário ouvir quem se sentiu ofendido e
mudar algumas concepções preconceituosas que todos carregamos.

Finalizando essas aulas os educandos analisaram a história do café Atibaiense, este


tendo produção iniciada na metade do século XX, na cidade de Atibaia, presente até
hoje nos supermercados da região e na mesa dos educandos que manifestaram já
terem tomado do mesmo. Devido a metodologia das aulas em roda terem dado bons
resultados anteriormente, foi-se feito novamente, com o objetivo agora de discutir se
o café ainda tem as mesmas características sociais que o envolviam em seu início, os
educandos apresentaram diversos argumentos comprovando que “não” e sendo
assim atingindo propósito desta análise, levá-los a concepção que a História é viva e
presente no seu cotidiano.

Com as perguntas finalizadas e digitadas pelo docente, os estudantes colaram as


impressões durante as aulas de arte terapia, em cartas feitas de embalagens de café
reaproveitadas. Com todas as partes físicas do “Coffee Game” prontas. Surgiu a
necessidade de elaboração das regras, feitas pelos próprios educandos apenas
transcritas pelo educador, as regras são respeitar os colegas jogadores, não sendo
permitido, ofender, falar palavrão, brigar ou ter qualquer tipo de provocações.

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Ocorrendo algum item do que já foi falado, o jogador será advertido e se tiver
reincidência o mesmo não poderá jogar mais. A rigidez é reflexo de como são tratados,
mas foi interessante notar nas falas, que eles queriam um jogo muito mais cooperativo
em que as pessoas se ajudassem do que competitivo.

Para concretização, visitou-se o Museu do Café na cidade de Santos, visita essa


preparada em conjunto com os educadores de ambas as instituições e personalizada
ao grupo, ponto esse crucial na finalização do projeto, os educandos durante a
visitação, mostraram-se empolgados e completavam as falas da guia sobre a história
do café, por vezes até a interrompendo com afirmações que já tinham visto aquilo e
outras que demostraram a internalização do conteúdo. Ainda sobre a visitação, foi
notório que educandos que apresentavam ser muito retraídos para socializar com
pessoas desconhecidas, tendo como assunto a história do café socializavam
tranquilamente com a guia do museu e os demais funcionários nunca antes vistos por
eles.

A finalização de todo o projeto, deu-se durante o sarau de realização anual da


instituição, podendo todos os envolvidos e visitantes jogar o “Coffee Game” e apreciar
as demais produções realizadas durante o ano pelo grupo de educandos.

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

O trabalho foi destinado à adultos com deficiência intelectual, deparou-se com sujeitos
que, em sua maioria, já passaram por algum processo educacional, seja o regular,
doméstico ou modelos integrativos. Demandou-se uma forma diferente do que eles já
haviam se deparado ao estudar História. Buscando-se partir do mundo conhecido
desses sujeitos, ou caso partir do desconhecido, fazer conexões com o conhecido
deles, mas valorizando o conhecimento que ele adquiriu com seus anos de vida e
acrescentando novos, pois eles só irão, por vezes, desconstruir estereótipos e até
preconceitos quando se depararem por si mesmos com essa necessidade, isso pode
ser facilitado pelo educador, colocando-os em situações de teste, no entanto é um
processo interno.

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Inicialmente, o primordial foi conhecer o universo de cada educando, ressalto o ponto


da análise das anamneses, contudo é necessária uma maior profundidade que o
relatório de diagnósticos não se atinge sozinho, deve-se sempre conversar com os
estudantes, com seus responsáveis, com os demais integrantes da vida desse sujeito,
bem como, com o restante dos especialistas que os atendem, para assim poder
traçarem planejamentos. O engajamento dos educandos no projeto foi gradual.
Conforme o produto final, o Coffee Game, tomava forma eles iam se interessando
mais. A interdisciplinaridade foi de extrema importância no projeto, todos os
profissionais da instituição, desde a equipe de limpeza, corpo docente e diretoria
estavam engajados, com uma visão inclusiva da educação e tinham acesso ao
planejamento das aulas uns dos outros facilitando assim a comunicação, podendo
gerar, como gerou, grandes contribuições para o processo. Isso ocasionou que, o
assunto “História do cafezinho” estivesse presente no dia a dia da instituição, por
consequência, os educandos mesmo em dias que não tinham aula de História tinham
contato ou acabavam por retomar esse conhecimento.

Por último, destaco a necessidade de exibir os projetos realizados para o restante da


sociedade, seja em forma de sarau como é realizado na instituição, ou em
apresentações. Esse ato de exibir, acarreta grande impacto nos educandos, bem
como no restante da sociedade. Ao se ir prestigiar o trabalho, é levada à refletir e
quebrar seus preconceitos internalizados. Durante esses eventos, possibilitam-se
trocas de informações, estes educandos podem conversar, podem mostrar, apontar,
mas estão fazendo isso sobre algo que eles mesmo produziram, seja fisicamente ou
intelectualmente e é justamente nesses momentos que pode-se notar a inclusão
acontecendo, em situações que eles são levados à poder contar sobre suas
realizações, seus processos, o que deu ou não deu certo nesse meio de tempo, ou
seja, podendo expressar, do seu modo, a sua própria História. E este é o objetivo
maior de todo esse processo educacional: torná-los conscientes de que fazem parte
da sociedade e são sujeitos históricos.

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REFERÊNCIAS

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Ensino de história. Cengage Learning, 2011.

BAQUERO, Ricardo. Vygotsky e a aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artes Medicas


Sul, 1998.

DE CASSIA CRISTOFOLETI, Rita. A criança com deficiência intelectual e a


aprendizagem da escrita: Um estudo sobre os processos de alfabetização de alunos
que frequentam as salas de recursos multifuncionais. Linha Mestra, n. 36, p. 392-396,
2018.

HAASE, Vitor Geraldi Haase Geraldi. Como a neuropsicologia pode contribuir para a
educação de pessoas com deficiência intelectual e/ou autismo?. Pedagogia em Ação,
v. 8, n. 1, 2016.

MORIN, Edgar et al. Os setes saberes necessários à educação do futuro. Cortez


Editora, 2014.

PAJARES, Frank; OLAZ, Fabián. Teoria social cognitiva e auto-eficácia: uma visão
geral. Teoria social cognitiva: conceitos básicos. Porto Alegre: Artmed, v. 97, p. 114,
2008.

SILVA, Daianne Maria Barbosa da. O deficiente intelectual e o ensino de história no


Centro de Ensino Especial de Planaltina-DF. 2015.

SÜSKIND, Patrick et al. O perfume: história de um assassino. Lusomundo, 2006.

Enviado: Outubro, 2020.

Aprovado: Novembro, 2020.

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