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ARTIGO ORIGINAL
1
ARAÚJO, Gabriel Dato de
RESUMO
RC: 69254
Disponível em: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/coffee-game
REVISTA CIENTÍFICA MULTIDISCIPLINAR NÚCLEO DO
CONHECIMENTO ISSN: 2448-0959
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maior autonomia e vivência cultural das pessoas com deficiência intelectual. A prática
foi realizada em uma associação particular de pais, na cidade de Atibaia no estado de
São Paulo. Não será citado nome da associação, nenhum educando ou pai, a pedido
dos mesmos.
INTRODUÇÃO
O jogo “Coffe Game” foi o objeto de construção durante as aulas e produto final
apresentado e jogado por todos que compareceram no sarau da instituição no ano de
2019.
Quando falamos de ensino de História para pessoas com deficiência intelectual, ainda
hoje, deparam-se com muitas barreiras e elitismos do conhecimento histórico. Não
tem como esses educandos se situarem no universo sem o conhecimento histórico
pois, como apresenta Morin (2011, p.43) “Conhecer o humano é, antes de tudo, situá-
lo no universo, e não separá-lo dele.” Para existir inclusão é necessário, portanto, que
esses indivíduos tenham acesso ás aulas de História e essas devem ser adaptadas,
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a fim de gerar autonomia e um senso crítico. O público alvo do Coffe Game foram,
como já mencionados, jovens e adultos com deficiência intelectual, logo, pessoas que
não estão mais em idade escolar e que, durante seu processo no ensino escolar, não
tiveram o conhecimento histórico adaptado, mas na instituição realizam atividades
com a intencionalidade de promover seu desenvolvimento autônomo e vivências
culturais. Pretende-se com esse artigo difundir uma prática que deu certo em seus
objetivos principais: o conhecimento da história do café afim de incutir assuntos para
socialização, o senso crítico e ter um produto final concreto em forma de jogo que
qualquer pessoa pudesse jogar e compreender a história dessa bebida tão comum na
vida desses educandos.
1. OS SABERES PRÉVIOS
O presente trabalho, deu-se com educandos que estão fora da idade escolar, dado
que a instituição tem como objetivo a socialização e autonomia cultural de jovens e
adultos, são indivíduos com idades variantes, mas todos adultos, que completando ou
não o percurso escolar, tiveram contato com a disciplina de História de uma forma
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As constatações que foram feitas no termino das análises foi que, a instituição atende
casos leves á moderados, grande parte dos atendidos passaram o período da
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O planejamento das aulas teve por objetivo ser diversificado, interligado aos itens de
interesse dos educandos, criando uma maior identificação com o conteúdo estudado,
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que a cada aula fosse instigado neles a autonomia e o senso crítico. Atentando-se
para incentivar às potencialidades desses jovens e adultos, que por um amplo período
de tempo, em suas vidas, tiveram acesso somente a uma pedagogia, que enfatizava
suas dificuldades. Logo, careceu que as perguntas disparadoras das aulas fossem
previamente pensadas em uma lógica de aprendizagem sem erro, como apresentado
por Haase (2016).
Essa programação das aulas foi feita de forma conjunta aos educandos, através de
conversas, foram expostos itens que gostariam de saber sobre a história do objeto de
estudo, apelidado pelo grupo como “cafezinho”.
2. SEQUÊNCIA METODOLÓGICA
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O primeiro bimestre teve por objetivo estudar a origem do café, logo, o ponto de partida
foi o mito de Kaldi, um pastor de cabras etíope que, certo dia, depara-se com suas
cabras extremamente agitadas. O mito diz que o café foi descoberto por volta do
século IX. A escolha de iniciar os trabalhos por esse mito foi baseado no forte impacto
que o universo lúdico tem na educação desses educandos, muitos sabem histórias
infanto-juvenis de cor e com riqueza de detalhes. Outro ponto importante dessa
experiência, foi o educador estar caracterizado como o Kaldi possibilitando o estudo
dos elementos culturais de sua roupa, turbante africano, cajado, camadas de roupa,
pois no mito, fala-se de um deserto, fato esse que levantou conexões com a presente
história, reflexões como a da forte presença cultural africana no Brasil, como o
simbolismo daquele turbante africanop e como o povo preto é tratado ainda hoje no
Brasil, já que seus ancestrais detinham grande sabedoria.
Neste processo foi apresentado aos estudantes os grãos do café em natura, como as
folhas da árvore, puderam sentir o gosto do grão e a textura das folhas. Trago isso
pois foi um episódio marcante para os alunos que tem uma maior sensibilidade no
tato. Observou-se que, tirar o conteúdo do abstrato e trazer ao concreto foi crucial
para um maior entendimento do que estava sendo trabalhado. Outro recurso muito
utilizado foi o aparelho televisor, onde se colocavam imagens referentes ao que se
estava falando, método esse também, embasado pela leitura das anamneses já
mencionadas. Eles tinham uma forte conexão com a televisão em casa e ver as
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Desde o início das aulas, os educandos souberam que o produto final seria um jogo
de tabuleiro (em que se jogaria um dado para avançar as casas), resultante do
conteúdo estudado, portanto, por escolha dos mesmos o personagem Kaldi se tornou
um personagem jogável durante o jogo, um peão que representasse o jogador no
tabuleiro, assim como uma representação de suas cabras. O processo de realização
das peças do jogo, fez-se em parceria com a professora de cerâmica, durante as aulas
incentivou que eles criassem no barro as formas como imaginavam esses
personagens. Fator de extrema importância para a concretização do conhecimento
trabalhado e para valorização da aprendizagem de cada um dos educandos. Após, as
várias peças do Kaldi e da “cabrinha” estarem prontas, levantou-se uma votação, afim
de escolher duas peças, uma para cada representação de personagem, para serem
as representantes dos personagem em questão no jogo, sendo que as outras ficariam
em estoque, caso quebrassem, por algum motivo, essas principais, teriam como ser
repostas, as demais também seriam expostas no sarau ao final do ano letivo da
instituição.
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Figura 1 – Kaldi.
Figura 2 – Cabrinha.
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Os educandos pediram para que esse período também tivesse um peão, então foi
feito em cerâmica, peças representando o camelo, animal muito utilizado nas viagens
dos comerciantes árabes e como nos dois peões anteriores houve votação, sendo
escolhido pelo grupo, o exemplar que iria entrar no jogo e os que iriam ser expostos e
serviriam de reserva.
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Figura 3 – Camelo.
O estudo permeou o café e suas relações com o continente europeu, se atendo a não
cair em uma visão eurocêntrica de mundo, contudo, percebendo a importância da
Europa na disseminação da bebida.
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se deu para localizar esse continente europeu, pois foi perceptível que os estudantes
tinham uma perspectiva pronta do que era a Europa. Segundo as palavras dos
mesmos, um lugar “chique”, “para viajar”, “terra dos cavaleiros”, frases notoriamente
eurocêntricas e com forte disseminação no senso comum e na grande mídia. Mas não
muito real, quando questionados a respeito da localização eles não apresentaram
conhecimento, então mais uma vez o globo terrestre foi de extrema importância para
esse processo de localização do que está sendo estudado.
Para exemplificar o tamanho que as mudas de café podem crescer, que é cerca de
três metros de altura, variando mediante plantações, o docente citava isso, subindo
no banco e falava, do alto, a informação. Esse fato foi de grande impacto para os
estudantes, estando sempre presente nas suas falas ao decorrer das outras aulas e
quando perguntados da altura das arvores de café.
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uma folha de papel paraná, tendo seus cantos reforçados com madeira pinus. O nome
do jogo, também foi decidido dessa maneira, o professor apresentou três opções e os
educandos votaram, sendo elas “Café histórico”, “Jogo do Café” ou “Hora do Café”,
através da votação dos educandos o vencedor foi o nome “Jogo do Café”, mas os
mesmos optaram por colocar em inglês, dado que segundo eles esse nome era mais
atrativo, então decidiu-se o nome Coffee Game.
Na aula seguinte, o foco foi iniciar o trabalho de elaboração das perguntas que seriam
correspondentes a cada casa do tabuleiro. Essa estratégia serviu para revisar o
conteúdo de uma forma mais contínua e lúdica.
Identificou-se a partir dessa experiência que, para obter melhores resultados, não se
tornar cansativo e maçante aos educandos, o conteúdo deveria ter um período a partir
desse bimestre em todas as aulas que se destinariam às elaborações das perguntas
de cada casa. Portanto, foi chamado de “Hora da Criação”, os momentos que
serviriam para essa atividade, bem como, para uma retomada dos conteúdos.
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exportadores de café do mundo, esta parte da História foi de grande interesse dos
educandos pois haviam muitas suposições de como o “senhor Palheta”, como
apelidado pelo grupo, teria conseguido esses recursos, um possível adultério por parte
da mulher do governador estava entre as suspeitas e boatos diziam que as sementes
estavam em um buquê de flores.
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O grupo decidiu, manter os quatro peões já feitos, uma vez após algumas
experimentações optaram pelo jogo ter até quatro jogadores, ou, oito podendo serem
quatro duplas. A partir desse momento, o maior foco foi na confecção do tabuleiro,
pintura, customização e das questões de cada casa.
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Ocorrendo algum item do que já foi falado, o jogador será advertido e se tiver
reincidência o mesmo não poderá jogar mais. A rigidez é reflexo de como são tratados,
mas foi interessante notar nas falas, que eles queriam um jogo muito mais cooperativo
em que as pessoas se ajudassem do que competitivo.
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
O trabalho foi destinado à adultos com deficiência intelectual, deparou-se com sujeitos
que, em sua maioria, já passaram por algum processo educacional, seja o regular,
doméstico ou modelos integrativos. Demandou-se uma forma diferente do que eles já
haviam se deparado ao estudar História. Buscando-se partir do mundo conhecido
desses sujeitos, ou caso partir do desconhecido, fazer conexões com o conhecido
deles, mas valorizando o conhecimento que ele adquiriu com seus anos de vida e
acrescentando novos, pois eles só irão, por vezes, desconstruir estereótipos e até
preconceitos quando se depararem por si mesmos com essa necessidade, isso pode
ser facilitado pelo educador, colocando-os em situações de teste, no entanto é um
processo interno.
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REFERÊNCIAS
ABUD, Kátia Maria; DE MELO SILVA, André Chaves; ALVES, Ronaldo Cardoso.
Ensino de história. Cengage Learning, 2011.
HAASE, Vitor Geraldi Haase Geraldi. Como a neuropsicologia pode contribuir para a
educação de pessoas com deficiência intelectual e/ou autismo?. Pedagogia em Ação,
v. 8, n. 1, 2016.
PAJARES, Frank; OLAZ, Fabián. Teoria social cognitiva e auto-eficácia: uma visão
geral. Teoria social cognitiva: conceitos básicos. Porto Alegre: Artmed, v. 97, p. 114,
2008.
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