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14/12/2022 16:04 · Justiça Federal da 1ª Região

JUSTIÇA FEDERAL  
Tribunal Regional Federal da 1ª Região

PROCESSO: 1020805-64.2020.4.01.3500  PROCESSO REFERÊNCIA: 1020805-64.2020.4.01.3500


CLASSE: REMESSA NECESSÁRIA CÍVEL (199) 
POLO ATIVO: PETTERSON ALVES COSTA
REPRESENTANTE(S) POLO ATIVO: EVA LARA ALVES DE SOUSA - GO37291-A
POLO PASSIVO:UNIÃO FEDERAL
RELATOR(A):JOAO BATISTA GOMES MOREIRA

 
 
 
 
 

 PODER JUDICIÁRIO
Tribunal Regional Federal da 1ª Região
Gab. 17 - DESEMBARGADOR FEDERAL JOÃO BATISTA MOREIRA
Processo Judicial Eletrônico

REMESSA NECESSÁRIA CÍVEL (199)  n. 1020805-64.2020.4.01.3500

RELATÓRIO

As folhas mencionadas referem-se à rolagem única, ordem crescente.

Trata-se de remessa necessária de sentença, de fls. 139-144, proferida em


mandado de segurança versando sobre inscrição de candidato em concurso público, na
qual a segurança foi deferida “para confirmar liminar que determinou à autoridade
impetrada que assegure ao impetrante a isenção da taxa de inscrição no concurso em
tela”.

Manifesta-se o MPF (PRR – 1ª Região), às fls. 154-156, deixando de


opinar.

É o relatório.

JOÃO BATISTA MOREIRA


Desembargador Federal - Relator
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VOTO - VENCEDOR
 
 

 PODER JUDICIÁRIO
Processo Judicial Eletrônico
Tribunal Regional Federal da 1ª Região
Gab. 17 - DESEMBARGADOR FEDERAL JOÃO BATISTA MOREIRA

REMESSA NECESSÁRIA CÍVEL (199)  n. 1020805-64.2020.4.01.3500

 
 

VOTO

Colhe-se da sentença (fls. 139-144):

Trata-se de Mandado de Segurança impetrado por PETTERSON ALVES


COSTA em face de ato atribuído ao DIRETOR-GERAL DO
DEPARTAMENTO PENITENCIÁRIO NACIONAL, objetivando a
suspensão dos efeitos do Subitem “7.4.8.2.2”, item “7.4.8’’ do Edital de
nº 1 – DEPEN, DE 4 DE MAIO DE 2020 para o cargo de “AGENTE
FEDERAL DE EXECUÇÃO PENAL”, bem como a respectiva isenção de
pagamento da taxa de inscrição para o certame mencionado, face a
exposta ilegalidade ao se exigir requisito como moeda de troca e por
não haver previsão editalícia.

Alega, em síntese, que: a) se inscreveu para concorrer ao cargo de


AGENTE FEDERAL DE EXECUÇÃO PENAL no certame (EDITAL Nº 1
– DEPEN, DE 4 DE MAIO DE 2020), e logo em seguida requereu o
direito a isenção por ser doador de sangue e também doador de medula
óssea, porém a banca indeferiu tanto o resultado provisório, quanto o
resultado definitivo dos candidatos que pudessem ter o direito a isenção;
b) entretanto, o edital prevê um subtópico que viola expressamente a lei
ao exigir a comprovação de doação, haja vista que o texto legal não
prevê tal exigência, sendo certo que a banca, de forma arbitrária, exige
um requisito que não há previsão na lei, afrontando-a, já que o requisito
exigido é ser doador de medula óssea e o requerente é doador de
medula óssea com registro no banco nacional de doadores de MEDULA
ÓSSEA (REDOME) Nº 3299522, com registro no Ministério da Saúde,
desde 13 de junho de 2012, conforme declaração do HEMOCENTRO
GOIÁS e não realizou a doação de medula óssea por não ter
encontrado até o momento receptor compatível, afinal, seu cadastro no
banco de doadores de medula é 6 anos anterior à lei de n. 13.656, de 30
de abril de 2018, que veio a conceder tal benefício; c) quando a
mencionada lei diz os requisitos, frisa-se que estes são os requisitos do
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incisos I e II desta lei, e não os requisitos que a banca venha a “criar”


para tornar impossível a concessão do benefício, diante do
indeferimento por exigir o que a lei não exige, ou seja, provar a doação
é coisa utópica, afinal, a lei não prevê e esta nunca foi a interpretação
teleológica da lei em questão; d) a lei deve ser respeitada e o edital
deve obediência a ela, a lei não exige comprovação da doação, tendo
em vista que conforme o site do INCA e do portal da federação médica
brasileira, a probabilidade se haver compatibilidade é de 1 para 100 mil
e até mais, dados que consta no site oficial da federação médica; e)
houve equívoco no ato do indeferimento do pedido de isenção, tendo
em vista que a lei não exige a comprovação da doação de medula
óssea, e a probabilidade de compatibilidade é rara conforme dado acima
exposto e, com isso não se mostra razoável o indeferimento do pleito
ora discutido, pelo que requer-se a urgência no deferimento da medida,
tendo em vista o exíguo prazo para o pagamento da inscrição, gerando,
com isso, um dano grave para a requerente, tendo em vista o alto valor
da inscrição e o prazo final para o pagamento da inscrição, no dia
30/06/2020, no valor de R$ 120,00 (cento e vinte reais) conforme o
cronograma do concurso; f) a melhor interpretação que se extrai do art.
1º, II, da Lei nº 13.656/18 é a de que o candidato seja potencial doador
de medula óssea, pouco importando se já houve a efetiva doação,
porquanto, conforme já mencionado, as chances de compatibilidade
entre doador e receptor são raras; g) cabe ressaltar a banca estabelece
prazo exíguo ao extremo entre o resultado do indeferimento da isenção
para o pagamento final da inscrição no certame, o que torna mais
urgente a liminar em sede de mandado de segurança, para assegurar
um direito líquido e certo.

...

No caso dos autos, busca a parte impetrante a suspensão dos efeitos


do subitem 7.4.8.2.2 do Edital nº 1 – DEPEN, de 4/5/2020, bem como
a  concessão de isenção para pagamento da taxa de inscrição no
concurso público para provimento de vagas nos cargos de Especialista
Federal em Assistência à Execução Penal e de Agente Federal de
Execução Penal do DEPEN.

Por ocasião da análise do pleito liminar proferi a seguinte decisão,


verbis:

...

Pretende a impetrante, em sede de liminar, a suspensão dos


efeitos do Subitem “7.4.8.2.2”, item “7.4.8’’ do Edital de nº 1 –
DEPEN, DE 4 DE MAIO DE 2020 para o cargo de “AGENTE
FEDERAL DE EXECUÇÃO PENAL”, bem como a respectiva
isenção de pagamento da taxa de inscrição para o certame
mencionado.

Em um juízo de cognição sumária, vislumbro a presença de


plausibilidade jurídica do direito invocado pela impetrante.

De início, verifica-se que o impetrante inscreveu-se para o cargo


de “agente federal de execução penal”, nos termos do Edital de nº.
1 – DEPEN, de 4 de maio de 2020, tendo solicitado isenção de
pagamento de taxa inscrição para o aludido certame na condição
de doador de medula, cujo requerimento restou indeferido, sob a
arguição de não ter comprovado o preenchimento dos requisitos

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previstos no item “7.4.8.2.2” do aludido edital, que impõe a


necessidade de apresentação de atestado ou laudo médico de
entidade reconhecida pelo Ministério da Saúde, inscrito no
Conselho Regional de Medicina, que comprovem a efetiva doação
pelo candidato e a respectiva data (Id 265671363 - Pág. 2).

Embora não tenha o impetrante carreado cópia do Edital de nº. 1 –


DEPEN, de 4 de maio de 2020, tem-se que o ato indeferitório
vincula a pretensão autoral, restando comprovada a probabilidade
do direito invocado na petição inicial, o que poderá ser convalidado
ou até mesmo refutado documentalmente pela autoridade
impetrada em suas informações, eis que, "consoante a teoria dos
motivos determinantes, o administrador vincula-se aos motivos
elencados para a prática do ato administrativo.

Nesse contexto, há vício de legalidade não apenas quando


inexistentes ou inverídicos os motivos suscitados pela
administração, mas também quando verificada a falta de
congruência entre as razões explicitadas no ato e o resultado nele
contido" (MS 15.290/DF, Rel. Min. Castro Meira, Primeira Seção,
julgado em 26.10.2011, DJe 14.11.2011).

Assim, verifica-se que o Impetrante comprovou seu cadastro


perante o REDOME – Instituto Nacional do Câncer, na condição
de doador voluntário de medula óssea (Id 265671364 - Pág.1),
restando, portanto, preenchidos os requisitos legais para a
concessão da isenção do pagamento de taxa inscrição para o
aludido certame, nos termos do art. 1º, II, da Lei nº 13.656/18.

Verifica-se que o Impetrante demonstrou sua condição de doador


de medula óssea em entidade reconhecida pelo Ministério da
Saúde, sendo abrangido, portanto, nas hipóteses de isenção de
pagamento de taxa de inscrição em concurso público para
provimento de cargo efetivo ou emprego permanente em órgãos
da Administração Pública Direta e Indireta de qualquer dos
Poderes da União, nos termos do indigitado diploma legal que
dispõe, in verbis:

Art. 1º. São isentos do pagamento de taxa de inscrição em


concursos públicos para provimento de cargo efetivo ou
emprego permanente em órgãos ou entidades da
administração pública direta e indireta de qualquer dos
Poderes da União:

[...]

II – os candidatos doadores de medula óssea em entidades


reconhecidas pelo Ministério da Saúde.

Parágrafo único. O cumprimento dos requisitos para a


concessão da isenção deverá ser comprovado pelo
candidato no momento da inscrição, nos termos do edital do
concurso.

Portanto, mostra-se indevida a exigência editalícia ao contemplar


interpretação indevidamente restritiva e fora dos fins almejados
pelo mencionado diploma legal, notadamente quando o Impetrante
comprovou seu cadastro no REDOME, enquadrando-se na
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categoria de potenciais doadores de medula óssea, sendo, de fato,


esta a mens legis, não cabendo ao edital dispor sobre exigências
não legalmente previstas e dissonantes dos fins objetivados no
referido diploma legal; assim, não há que falar em comprovação
de efetiva doação, bastando que o candidato demonstre sua
condição de doador de medula óssea cadastrado em entidade
reconhecida pelo Ministério da Saúde, uma vez que o texto do
dispositivo não apontou qualquer outra restrição ou exigência além
da condição de doador cadastrado.

Neste sentido, tem-se o escólio do E. TRF da 1a Região, in verbis:

...

Embora o edital regente do certame exija a prova da efetiva


doação de medula óssea, tem-se que a exigência não se
mostra, a princípio, razoável diante da literalidade da Lei nº
13.656/2018, que tão somente prevê a isenção do
pagamento de taxa de inscrição em concursos públicos para
provimento de cargo efetivo ou emprego permanente em
órgãos ou entidades da administração pública direta e
indireta de qualquer dos Poderes da União para os
candidatos doadores de medula óssea em entidades
reconhecidas pelo Ministério da Saúde. A condição de
doador, por sua vez, é adquirida com o cadastro no
REDOME, sendo o objetivo da lei incentivar a formação de
uma rede de potenciais doadores de medula óssea.

Com efeito, o agravante se enquadra nessa categoria, ou


seja, de pessoas prontamente dispostas e aptas a doarem a
medula para aqueles que necessitem.

Nesse sentido, em cognição sumária, a exigência editalícia


oferece interpretação indevidamente restritiva e fora dos fins
almejados pelo mencionado diploma legal.

...

(AI 1002019-93.2020.4.01.0000, TRF 1a Região, Rel. Des.


Fed. SOUZA PRUDENTE, Dje em 31/01/2020).

Já na fase de sentença, não vejo por que alterar o raciocínio exposto


nessa decisão, uma vez que inexistem elementos hábeis a infirmar o
quadro fático delineado à época da análise do pleito liminar, de sorte
que a tese ali exposta deve ser mantida.

Assim, inalterada a situação fática e jurídica, adoto como razão de


decidir os fundamentos lançados na decisão liminar.

...

Já decidiu este Tribunal que "não há violação ao Princípio da Separação


dos Poderes na interpretação do edital pelo Poder Judiciário, quando realiza controle de
legalidade, aferindo se a discricionariedade administrativa não extrapolou os limites
implícitos da razoabilidade e proporcionalidade da determinação legal que embasou o
ato administrativo" (TRF-1, AC 0002060-41.2012.4.01.3821, Desembargador Federal
Jirair Aram Meguerian, 6T, e-DJF1 25/07/2016).
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O magistrado interpretou a situação fática posta nos autos perante a


legislação pertinente à matéria e a documentação acostada aos autos, concluindo pela
irregularidade do ato que indeferiu a inscrição do candidato no certame e pelo
reconhecimento do direito à isenção de pagamento da taxa de inscrição. Não houve
irresignação das partes quanto ao decidido na sentença e as conclusões da sentença
estão de acordo com a jurisprudência deste Tribunal.

Nego, por isso, provimento à remessa necessária.

É como voto.

JOÃO BATISTA MOREIRA


Desembargador Federal – Relator
 
 
 
 
 
 
 
 
 

DEMAIS VOTOS
 
 

 
 
 

 
 

 PODER JUDICIÁRIO
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Processo Judicial Eletrônico

REMESSA NECESSÁRIA CÍVEL (199) n. 1020805-64.2020.4.01.3500


JUIZO RECORRENTE: PETTERSON ALVES COSTA
Advogado do(a) JUIZO RECORRENTE: EVA LARA ALVES DE SOUSA - GO37291-A
RECORRIDO: UNIÃO FEDERAL

EMENTA

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14/12/2022 16:04 · Justiça Federal da 1ª Região

CONCURSO PÚBLICO. TAXA DE INSCRIÇÃO. ISENÇÃO DE PAGAMENTO.


CANDIDATO CADASTRADO COMO DOADOR DE MEDULA ÓSSEA. EFETIVA
DOAÇÃO. DESNECESSIDADE. SEGURANÇA. DEFERIMENTO.

1. Remessa necessária de sentença proferida em mandado de segurança versando


sobre inscrição de candidato em concurso público, na qual a segurança foi deferida “para
confirmar liminar que determinou à autoridade impetrada que assegure ao impetrante a
isenção da taxa de inscrição no concurso em tela”.

2. Na sentença, considerou-se que se mostra “indevida a exigência editalícia ao


contemplar interpretação indevidamente restritiva e fora dos fins almejados [pela Lei n.
13.656/2018], (...) bastando que o candidato demonstre sua condição de doador de
medula óssea cadastrado em entidade reconhecida pelo Ministério da Saúde, uma vez
que o texto do dispositivo não apontou qualquer outra restrição ou exigência além da
condição de doador cadastrado”.

3. “Embora o edital regente do certame exija a prova da efetiva doação de medula óssea,
tem-se que a exigência não se mostra, a princípio, razoável diante da literalidade da Lei
n. 13.656/2018, que tão somente prevê a isenção do pagamento de taxa de inscrição em
concursos públicos para provimento de cargo efetivo ou emprego permanente em órgãos
ou entidades da administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da
União para os candidatos doadores de medula óssea em entidades reconhecidas pelo
Ministério da Saúde. A condição de doador, por sua vez, é adquirida com o cadastro no
REDOME, sendo o objetivo da lei incentivar a formação de uma rede de potenciais
doadores de medula óssea” (TRF-1, AI 1002019-93.2020.4.01.0000, Desembargador
Federal Souza Prudente, PJe, 31/01/2020).

4. Negado provimento à remessa necessária.

ACÓRDÃO

Decide a Sexta Turma do Tribunal Regional Federal - 1ª Região, à


unanimidade, negar provimento à remessa necessária, nos termos do voto do relator.

Brasília, 23 de agosto de 2021.

JOÃO BATISTA MOREIRA


Desembargador Federal – Relator
 
Assinado eletronicamente por: JOAO BATISTA GOMES MOREIRA
24/08/2021 11:28:09
http://pje2g.trf1.jus.br:80/consultapublica/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam
ID do documento: 150332225

210824112809503000001
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