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CASO 9
Ana começou a fazer esculturas verdadeiramente surrealistas que muito agradaram a vários
colecionadores de arte, isto para além de organizar exposições de arte. Os clientes foram-se
multiplicando e, por isso, Ana sentiu necessidade de contratar Benji, um jovem artista que
se propôs a promover os quadros, exposições e conferências que Ana organizava.
• Identificação do problema: no silêncio do contrato, tem o agente (Benji) direito a ser o agente
exclusivo daquele principal (Ana)?
• Análise crítica do art. 4.º RJA e da possibilidade de Ana se poder socorrer de outro agente.
CASO 10
Ivo, conhecedor dos dilemas das senhoras, acordou com Teresa o seguinte: “Cláusula
Nona: O Segundo Outorgante [Ivo] assegura o cumprimento das obrigações por parte de
qualquer terceiro que se revele idóneo”. Sucede que Mónica, cliente angariada por Ivo e
que recebeu 2 caixas de creme de argila, não pagou os 750,00 € na data devida.
Entretanto, Ivo e Teresa terminaram o contrato por acordo. Cessado que foi o contrato, Ivo
lembrou-se que ainda tinha a todo o material com os logotipos que Teresa lhe tinha
facultado e ainda umas caixas de alguns produtos. Lá foi ele. De chapéu, colete e afins,
afirmando que ainda trabalhava para Teresa, celebrou vários contratos com alguns clientes,
tendo ficado estabelecido que a mercadoria seria entregue em 20 dias. Decorrido esse
tempo, um desses clientes – a Sempre Jovem, S.A. – reagiu contra Teresa, solicitando a
entrega imediata do produto já pago. Teresa que, em boa verdade, já tinha “ouvido uns
rumores” quanto a estas “vendas” de Ivo, respondeu que o contrato havia cessado há 10
meses e juntou uma cópia do acordo de cessação do mesmo.
• Estamos perante uma cláusula del credere válida e eficaz? (art. 10.º do RJA).
• Explicitação do seu alcance: função garantística em favor do principal que poderá – querendo
– atacar a esfera de uma outra pessoa que não o terceiro devedor.
• Densificação dos mecanismos de tutela do agente: (i) redução a escrito; (ii) contrato
negociado/concluído pelo agente; (iii) especificação da pessoa do terceiro/contrato.
• A cláusula em causa dizia respeito a: (i) qualquer terceiro; (ii) que revele ser idóneo.
Densificação de como esta abrangência e indeterminabilidade impunha a conclusão de que
estávamos diante uma clausula inválida e ineficaz.
• Identificação do problema: haveria representação aparente nos termos do art. 23.º RJA?
• O regime da “representação aparente” previsto no art. 23.º RJA. Densificação: (i) razões
ponderas, objetivamente apreciadas; (ii) circunstancialismo do caso que funde a confiança;
(iii) terceiro de boa fé; (iv) contribuição do principal.
• A tutela do terceiro: dados factuais que apontavam no caso de haver uma confiança objetiva
e fundada: “chapéu, colete e afins” (com o logotipo da sociedade).
• Confronto do art. 23.º RJA com o art. 268.º do CC. Referência ao regime do art. 22.º RJA
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CASO 11
Carla celebrou com David um contrato (“Contrato”) – com data de 12.12.2017 –, em que se
previa que este último se obrigava a adquirir mensalmente um certo número de bicicletas a
motor produzidas por Carla e a vender essas mesmas bicicletas em seu nome e por sua
conta. O contrato duraria 5 anos.
“Cláusula Décima
O primeiro contraente poderá exercer supervisão e fiscalização da atividade do segundo
contraente, incluindo o poder de lhe dirigir instruções e diretrizes.”.
Face ao exposto, Carla comunicou a David que teria de descer o preço de venda por
unidade em 20% a partir do mês seguinte. David recusou-se a fazê-lo.
• Validade da Cláusula: foi acordado pela parte ao abrigo da autonomia privada (art. 405.º
CC). Vem bulir com o RJA? Discussão e conclusão pela validade e eficácia da referida
cláusula. Discussão em torno do art. 7.º al. a) RJA e preâmbulo.
2. Face ao comportamento de David, Carla enviou uma carta onde se lia: « (…) a relação
contratual terminará no final do presente mês.». David, por sua vez, dizia que deveria ser
compensado pela clientela angariada e pelos danos havidos em consequência do termo
da relação e achou espantoso a referida carta não conter qualquer justificação. «Parece
uma denúncia!», rematava David. Quid juris?
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• Análise do comportamento de David face às solicitações de Carla:
i. Pedido de lista das propostas comerciais e angariações fracassadas: Trata-se de
matéria abrangida pela supervisão e fiscalização, pelo que deveriam ter sido prestadas
estas informações. Mais: cláusula vigésima permite dirigir instruções. Donde: quem
permite o mais permite o menos. Logo: deveria ter sido prestada essa informação;
ii. Exigência de descida do preço: Discussão em trono do art. 7.º al. a) RJCA. Tratando-se
de (parte) da política comercial, teria que descer. Caso se tratasse, por exemplo, de
matéria relativa aos métodos de trabalho, não haveria que acatar a ordem dada.
• Quanto à cessação do contrato: resolução. Não poderia haver lugar a denúncia, uma vez que
o contrato tinha prazo determinado. Existência de fundamento: al. a) e al. b) do art. 30.º. O
não acatamento das ordens – num contrato intuito personae – é justa causa para efeitos de
resolução? Discussão. A situação do mercado – facto inimputável ao concessionário – é justa
causa para efeitos de resolução? A não indicação do motivo: relevância enquanto situação de
incumprimento por parte de Carla, podendo dar lugar a indemnização nos termos gerais.
CASO 12
A New Solutions, S.A. (“NS”) é uma empresa produtora de microships de última geração
que, confrontada com a limitada capacidade de produção da sua fábrica, decidiu, em
dezembro de 2018, pôr termo a um contrato de distribuição que durava há já oito anos com
a DistriProd, Lda. (“DP”), com efeitos imediatos, alegando, por um lado, que não tinha
capacidade para entregar microships a novos clientes e, por outro, que a distribuidora violou
reiteradamente os seus deveres, ao distribuir simultaneamente microships de uma empresa
chinesa sua concorrente. Na carta que lhe dirigiu, deixou por isso claro que não pagaria
qualquer indemnização, fosse a que título fosse. Em particular, não pagaria qualquer
indemnização de clientela porque, nos termos do contrato celebrado, as partes tinham
afastado a aplicação do correspondente regime jurídico.
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• Análise da possível qualificação do contrato de distribuição como agência e como concessão
e discussão sobre os fundamentos da aplicação analógica do regime resultante do RJCA ao
contrato de concessão.
• Análise do regime da cessação do contrato de agência, nos termos dos arts. 24.º ss. e
discussão sobre a qualificação do ato da NS como denúncia ou como resolução. Perante as
justificações apresentadas pela NS, o ato deveria ser qualificado como resolução.
• As justificações ora se enquadram como justa causa objetiva (alegada falta de capacidade
para entregar microships como circunstância que torna impossível ou que prejudica
gravemente a realização do fim contratual), nos termos do art. 30.º, b), ora como justa causa
subjetiva (alegada violação de dever de não concorrência pela DP na vigência do contrato),
nos termos do art. 30.º, a).
• Discussão sobre se a alegada falta de capacidade para entregar microships é ou não justa
causa objetiva.
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CASO 13
António era um conhecido médico portuense que progressivamente ficou mais desafogado
em trabalho. Com efeito, a partir do ano 2012 diminuiu o número de consultas passando por
isso a ter tempo para se dedicar a outras atividades. Decidiu, portanto, abrir uma alfaiataria
na Avenida da Boavista. Era uma alfaiataria clássica onde vestiam ilustres magistrados,
advogados, médicos e professores.
As coisas estavam a correr bem e começaram a aparecer os filhos dos “clientes ilustres”.
António percebeu que o futuro do negócio estava nessa geração mais nova. Assim, em
janeiro de 2017, contratou Bárbara com vista a que esta divulgasse e difundisse os serviços
da “Alfaiataria Gama” junto dos jovens portuenses através das redes sociais, flyers e afins,
encaminhando-os posteriormente a António.
Ora, em 2018, António sofreu uma concorrência inesperada. A onda das startups tinha
chegado ao Porto e não havia ninguém que não quisesse um fato excêntrico desenhado
pelos novos alfaiates italianos que começaram a operar na cidade. Bárbara, ainda assim,
evitou a queda abrupta de receitas que seria de esperar na nova conjuntura: a faturação no
ano de 2018 desceu apenas 20.000,00 € (vinte mil euros) apesar de Bárbara ter conseguido
encaminhar para António dez novos clientes: menos cinco, comparativamente com o
número angariado em 2017.
Por sua vez, em março de 2019, Cesar – famoso alfaiate italiano – convidou Bárbara para ir
trabalhar com ele. Atendendo à boa proposta que tinha e sobretudo devido ao facto de
António não ter conseguido pagar a horas nos últimos 6 (seis) meses, Bárbara decidiu
enviar-lhe uma carta resolvendo o contrato, tendo solicitado ainda a compensação em
20.000,00 € (vinte mil euros) a título de indemnização de clientela.
Bárbara teria fundamento para (a) resolver o contrato; e (b) pedir a indemnização?
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O pagamento atrasado (logo: não houve situação de não pagamento do vencimento de
Bárbara) durante 6 meses é fundamento bastante? A inaplicabilidade do art. 30.º al. a) do
RJA (densificação).
CASO 14
Sucede que, desde fevereiro de 2018, Dionísio alargou o âmbito do seu negócio, por
entender que seria mais frutuoso comercializar, a par dos veículos adquiridos à sociedade
“Extrema Velocidade, S.A.”, carrinhas familiares. A “Extrema Velocidade, S.A.”, ao
descobrir este circunstancialismo em meados de abril de 2018 – altura em que teve,
igualmente, conhecimento de que Dionísio havia desrespeitado algumas das suas diretrizes
da política comercial –, decidiu resolver o contrato que havia celebrado com Dionísio.
Este, por seu lado, contactou um advogado para tentar perceber o que podia fazer com os
veículos que ainda tinha em stock, assim como ser aconselhado acerca da possibilidade de
pedir uma indemnização à “Extrema Velocidade, S.A.”, na medida em que entende ter
contribuído, em larga medida, para a consolidação da referida empresa em Portugal.
Dionísio teria fundamento para (a) pedir uma indemnização de clientela; e (b) exigir que a
“Extrema Velocidade, S.A.” arcasse com os custos de devolução dos bens em stock?
• O negócio jurídico celebrado entre a “Sempre em Alta Velocidade, S.A.” e Amílcar reúne as
características de um contrato de concessão: Dionísio (concessionário) compra para
revender, no seu estabelecimento comercial, sob a marca da “Extrema Velocidade, S.A.”
(concedente);
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• A indemnização de clientela é devida se preenchidos os cinco requisitos previstos nas alíneas
a), b), c) do n.º1, no n.º3 e no n.º4 do artigo 33.º RJCA. A hipótese apenas contém dados
relevantes sobre o preenchimento, ou não, do requisito previsto no n.º3 do artigo 33.º RJCA.
Posto isto, supondo que os demais pressupostos se verificaram, importaria decidir se a
cessação do contrato foi, ou não, imputável ao concessionário;
• Referência à violação, por parte de Amílcar, das diretrizes da política comercial da “Extrema
Velocidade, S.A.”, e ponderação da aplicação, ao caso, do regime previsto na alínea a) do
artigo 30.º da RJCA (densificação);
• Discussão sobre a possível fundamentação para uma obrigação de recompra dos bens em
stock pela “Extrema Velocidade, S.A.” (em abstrato e no caso em apreço): a problemática da
devolução dos stocks, contrapondo as seguintes posições:
O concedente só tem de retomar os stocks quando a tanto se tenha obrigado;
O concedente tem de retomar também quando a cessação do contrato se deva a
comportamento faltoso seu;
A obrigação adicional que deriva do princípio da boa-fé, a cargo do concedente, de
readquirir as mercadorias não vendidas ao preço por que foram adquiridas;
Por via da interpretação ou integração do negócio jurídico, admite-se que aquela
obrigação possa corresponder à vontade hipotética das partes ou possa decorrer dos
ditames da boa-fé, ou que se possa inferir que as sucessivas compras hajam sido
feitas sob condição de o contrato-quadro se manter em vigor, desencadeando a
respetiva resolução na hipótese contrária.
CASO 15
Em maio de 2017, Hugo decidiu abrir uma loja de roupa de alta-costura na Avenida da
Liberdade, em Lisboa. Nesse mês, contratou Inês para angariar clientes e divulgar, através
das redes sociais, os produtos e serviços da loja. O contrato tinha a duração de 2 anos.
O negócio estava a correr bem, mas o ano de 2019 estava a ser particularmente intenso.
Inês estava a trabalhar muitas horas para Hugo, até que, em setembro de 2019, Juan
(famoso estilista argentino) convidou Inês para ir trabalhar com ele. Uma vez que a proposta
lhe agradava, Inês enviou uma carta a Hugo denunciando o contrato, onde referia que só
iria trabalhar mais uns dias, pois o contrato já teria terminado em maio de 2019. Hugo,
estupefacto, confidencia-lhe: “Não percebo como é que uma pareceria que dura desde 2017
pode acabar assim, de um dia para o outro. Deveria ter sido avisado mais cedo! Julgo que
tenho direito a ser indemnizado!!!”.
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1. Inês poderia ter denunciado o contrato nos termos em que o fez?
• Identificação do contrato em causa (art. 1.º RJA: contrato de agência) e do regime aplicável.
• Implicações em torno do facto de o contrato ter sido celebrado apenas por dois anos.
CASO 16
Em março de 2019, Fernanda criou um site de venda de livros de viagens. O sucesso foi
instantâneo e extraordinário, de tal modo que impressionou Guadalupe, portuguesa a residir
em Madrid, que propôs a Fernanda a celebração de um contrato de franquia,
comprometendo-se Guadalupe a vender somente livros de viagens em castelhano. O
contrato foi celebrado por tempo indeterminado. Porém, Fernanda arrependeu-se da sua
decisão e, uma semana depois de contratar com Guadalupe, escreveu-lhe denunciando o
contrato, o qual deveria cessar um mês após a receção da carta.
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• Qualificação sumária do contrato de franquia, bem como a referência à aplicabilidade, por
analogia, do RJCA aos contratos de distribuição, em particular à franquia.
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