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Documento de apoio ao estudo

Coluna Vertebral
A coluna vertebral é o segmento mais complexo e funcionalmente mais significativo do
corpo humano. É a coluna que permite a relação entre os membros superiores e
inferiores, funcionando ainda como protecção óssea para a medula.
Estruturalmente consiste numa sobreposição de 33/34 vértebras organizadas em 5
regiões: cervical, dorsal ou torácica, lombar, sagrada e coccígea.

Figura 1. Coluna vertebral.

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Designamos de segmento motor da coluna a unidade constituída por 2 vértebras
adjacentes e as partes moles entre eles.

Figura 2. Segmento motor da coluna.

A coluna vertebral tem de conciliar dois imperativos mecânicos contraditórios: (1) rigidez
estabilizadora; e (2) elasticidade.

Para satisfazer a estes dois imperativos, a coluna no seu conjunto pode ser considerada
como o mastro de um navio (Figura-3). O mastro (coluna vertebral), fixa-se no convés
(cintura pélvica) e eleva-se até à cabeça. A cintura escapular relaciona-se com a coluna tal
como o mastro da gávea com o mastro principal do navio. A todos os níveis existem
tensores ligamentares e musculares disposto tal como o cordame num mastro, i.e.,
ligando o mastro à sua base (cintura pélvica). Um segundo sistema de cabos do cordame
encontra-se disposto da cintura escapular para a coluna. Forma-se assim um losango com
o grande eixo vertical (coluna) e o pequeno eixo transversal (cintura escapular).

Na Posição Descritiva Anatómica as posições estão equilibradas e são simétricas


permitindo um arranjo linear do sistema. Na posição apoiada sobre o quadril, quando o
peso do corpo repousa sobre um dos membros inferiores, a cintura pélvica báscula para o
lado oposto e a coluna vertebral é obrigada a ajustar-se num percurso sinuoso.

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Figura 3. Equilíbrio funcional da coluna vertebral.

Os tensores musculares ajustam-se automaticamente para permitir o equilíbrio. Esta


adaptação activa revela até que ponto a organização estrutural da coluna está ajustada
para assegurar, em cada momento, rigidez e mobilidade. A sua elasticidade resulta da sua
estrutura, i.e., do empilhamento das vértebras. A rigidez sobrevém do ajustamento
resultante da tonicidade dos tensores musculares.

Figura 4. Dinâmica funcional.

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Curvaturas da coluna

A observação da coluna no plano sagital revela 4 curvaturas:

(a) Curvatura torácica e sagrada com concavidade anterior (cifose), presentes desde o
nascimento, designam-se de curvaturas primárias;
(b) Curvatura cervical e lombar é côncava posteriormente (lordose) e desenvolvem-se
a partir das experiências motoras da criança. Designam-se de curvaturas
secundárias.

A curvatura torácica e cervical altera pouco no processo de desenvolvimento e maturação.


A curvatura lombar aumenta cerca de 10% entre as idades dos 7 aos 17 anos.

As curvaturas primárias e secundárias dizem-se naturais e funcionais.


Naturais por assegurarem um equilíbrio saudável do esqueleto, e funcionais, por resultarem da
tonicidade induzida pelo movimento.
As deformações assimétricas, como a escoliose, dizem-se curvaturas funcionais, mas não são
naturais. São funcionais porque também resultam do movimento e da tonicidade que induzem nos
tensores musculares. Ao não assegurarem um equilíbrio adequado da coluna não podem ser
apelidadas de curvaturas naturais.

As curvaturas da coluna são influenciadas por factores genéticos, patológicos, pelas


posturas individuais e por outras forças a que a coluna esteja sujeita.
Se a coluna é sujeita a forças assimétricas poderão sobrevir desvios laterais (escolioses).

O aparecimento das curvaturas da coluna

Conforme referido, as curvaturas da coluna do adulto não estão presentes desde o


nascimento. Tal facto parece ser o resultado do Homem não nascer preparado para a
locomoção bípede. De facto, a coluna do humano tem o mesmo tipo de configuração que
a coluna dos animais quadrúpedes.

É curioso que a ontogénese da criança (etapas do desenvolvimento) reproduza, também


ela, as etapas evolutivas vividas pela linha filogenética da nossa espécie, i.e.:
(a) Com a idade de 1 dia a coluna lombar é côncava para diante;
(b) Com 5 meses a curvatura ainda é ligeiramente concava para diante;
(c) Somente aos 13 meses a coluna lombar está rectilínea;
(d) A partir dos 7 anos inicia-se o desenho de uma ligeira lordose lombar que se
acentua aos 8 anos e é definitiva aos 10.

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Esta rectificação da curvatura lombar traduz a adequação às necessidades locomotoras do
Homem.

Compreende-se assim por que razão nem todas as crianças ganham a destreza do andar
na mesma idade. Com efeito, a criança só está morfologicamente apta para andar quando
o equilíbrio geral da sua coluna o permite.

As curvaturas da coluna são o resultado de um processo de maturação individual, torna-se óbvio


porque nem todas as crianças iniciam a sua marcha na mesma idade.

Figura 5. Ontogénese das curvaturas da coluna.

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As curvaturas e a estabilidade da coluna

As curvaturas da coluna são, conjuntamente com as adaptações plantares, uma das mais
interessantes adaptações funcionais do Homem ao bipedismo.

Quais as vantagens da coluna apresentar 3 curvaturas (cervical, dorsal e lombar) e não


mais ou menos?

Sabe-se que as curvaturas da coluna aumentam a resistência da coluna a esforços de


compressão axial que se encontram aumentados com a transferência de peso verificada
na locomoção com dois apoios (mais instável e sujeita a esforços de compressão). Sabe-se
também que a resistência de uma coluna que apresenta curvaturas é proporcional ao
quadrado do número de curvaturas, mais a unidade (Equação-1; Figura-6).

R = N2 + 1 (Equação 1)
R, Resistência da coluna
N, Nº de curvaturas

Figura 6. Estabilidade de um prumo.

Observa-se na Figura-6 que uma coluna com 3 curvaturas móveis, como a coluna
vertebral, tem uma resistência 10 vezes superior a uma coluna rectilínea.
As curvaturas (a) representam assim uma adaptação estabilizadora do equilíbrio geral da
motricidade bípede; e (b) evidenciam ainda a sua importância se analisarmos o

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comprimento da coluna e a sua altura.

Destaca-se assim o índice raquidiano de Delmas (Figura-7), que relaciona o comprimento


da coluna e a sua altura, destacando-se que:
a) Uma coluna com curvaturas normais (a) o índice é 95 (variando entre 94 e 96);
b) Uma coluna com curvaturas acentuadas (b) apresenta um índice inferior a 94;
c) Uma coluna com uma com curvaturas pouco acentuadas (c) apresenta um índice
superior a 96.
Esta classificação anatómica é importante pois existe uma relação entre o índice e o tipo
funcional da coluna, i.e., uma coluna com curvaturas acentuadas é do tipo dinâmico,
enquanto uma coluna com curvaturas apagadas é do tipo funcional estático.
O referido coloca em evidência a relação entre a disponibilidade motora do indivíduo e a
sua morfologia.

Determinados praticantes desportivos têm padrões de mobilidade muito fracos, enquanto outros
apresentam uma enorme facilidade para realizar movimentos (e.g., a comparação entre os atletas
com função de poste e os base no basquetebol ).

Figura 7. Índice de Delmas.

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Constituição da vértebra padrão

A vértebra é a unidade estrutural da coluna. Embora diferenciadas em diversos aspectos


anatómicos, observa-se um conjunto de elementos constituintes comum a todas as
vértebras e que configura a vértebra padrão.

Estruturas constituintes da vertebra padrão (Figura-8):


a) Corpo vertebral (1) é a porção anterior e mais maciça, tem uma forma cilíndrica,
sendo menos alta que larga;
b) Arco posterior (2) tem a forma de uma ferradura;
c) Sobre o arco posterior vem fixar-se, de um lado e do outro, o maciço das apófises
articulares (3 e 4);
d) Os pedículos (8 e 9) fazem a relação das apófises articulares com o corpo;
e) As lâminas (10 e11) estabelecem a ligação com a apófise espinhosa (7) que se
encontra na linha mediana;
f) As apófises transversas (5 e 6) soldam-se ao arco posterior aproximadamente à
altura do maciço das apófises articulares.

Figura 8. Estrutura da vértebra.

A vértebra padrão encontra-se em todos os andares da coluna vertebral, havendo, claro,

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modificações que resultam da adaptação da vértebra à sua função específica.

Quando analisado na sua estrutura vertical, a coluna apresenta 2 empilhamentos de


elementos vertebrais:
a) Coluna principal à frente (i.e., anterior), formada pelo empilhamento dos corpos
vertebrais;
b) Duas colunas secundárias colocadas posteriormente e formadas pelo
empilhamento das apófises articulares (estas apófises são da maior importância
pois limitam e orientam o movimento, ajudando a suportar a carga a que está
sujeita).

As apófises articulares relacionam-se entre si por articulação do tipo deslizante (artrodias),


e os corpos vertebrais relacionam-se através dos discos intervertebrais. O alinhamento
dos orifícios vertebrais determina a formação do canal raquidiano, por onde irá passar a
medula espinal.

Figura 9. Pilares da coluna.

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Discos intervertebrais

Os discos intervertebrais são uma estrutura da coluna que o formando deve conhecer pois
a mobilidade e os problemas posturais resultam, em grande parte, de problemas de
degenerescência do disco.

Estrutura

Os discos asseguram a relação entre os corpos vertebrais de vértebras contíguas, onde,


actuando como amortecedores, formam uma articulação semi-móvel.
Num adulto saudável os discos correspondem a cerca de ¼ da altura da coluna.
Na posição erecta a diferença entre a altura anterior e posterior dos discos determina a
disposição das curvaturas lombar, torácica e cervical.

O disco é composto por duas partes funcionais:


- Anel externo constituído por cartilagem fibrosa e que se denomina Anel Fibroso (A);
- Substância central gelatinosa denominada Núcleo Pulposo (N).

Figura 10. Disco intervertebral.

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As fibras de colagénio do anel fibroso cruzam-se verticalmente tornando a sua estrutura
especialmente resistente a forças de inclinação e de torsão.

O núcleo tem uma consistência extremamente fluída que o torna resistente à


compressão. Quando em flexão, extensão ou flexão lateral produz-se na coluna um stress
de compressão num lado do disco e um stress de tensão no outro. Na rotação da coluna
predomina o stress tangencial nos discos. No entanto, face à sua estrutura, os discos
conseguem adaptar-se a todos estes esforços.

Quando um disco está sob compressão (esforço a que os discos estão mais sujeitos), ele
tende, simultaneamente, a perder água e absorver sódio e potássio até que a sua
concentração electrolítica interna seja suficiente para evitar mais perdas de água. Quando
o equilíbrio é obtido, a pressão interna no disco é igual à pressão externa.
A continuação da aplicação da carga sobre o disco, por períodos de várias horas, resulta
numa diminuição acentuada da sua hidratação. É esta razão porque um indivíduo sofre
uma redução da sua altura de aproximadamente 1 cm por dia. Logo que a pressão nos
discos seja aliviada, rapidamente reabsorvem água e aumentam os seus volumes e altura.

Os astronautas experimentam um aumento temporário do comprimento da coluna de cerca 5 cm


enquanto estão fora da influência da gravidade.

Figura 11. Carga sobre os discos.

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Importa destacar que o disco intervertebral não é vascularizado, pelo que depende das
alterações da postura (e consequentes alterações de compressão dos discos) para se
nutrir através da embebição. Compreende-se assim que a manutenção do corpo em
posição estática, por um certo período de tempo, diminui esta acção de bombeamento e
afecta a integridade do disco.

Choques por traumatismo ou cargas repetidas determinam um processo de envelhecimento


irreversível com perda do poder de reabsorção de água pelos discos e consequente diminuição da
capacidade da coluna para absorver os choques. Este processo inicia-se a partir dos 20 anos e no
idoso resulta numa diminuição do fluido do disco de 35%. Esta situação determina uma redução
da altura da coluna e a necessidade de outras estruturas, para além do disco, sustentarem as
cargas compressivas, tensionais e de deslizamento. Esse papel é deixado às apófises articulares
que, por essa razão, têm acelerado o seu processo degenerativo. Nesta situação o idoso tende a
atenuar a lordose lombar flectindo o corpo e aliviando o aumento da pressão nas apófises
articulares. Desenha-se então a característica postura flectida do idoso.

Esta compressão dos discos incrementa-se à medida que nos aproximamos da região sagrada. Ao
nível de L5-S1 a coluna suporta cerca de 2/3 do peso do tronco, o que equivale a 37 kg num
indivíduo de 80 kg. Se considerarmos a força resultante do tónus dos músculos paravertebrais
necessário à manutenção da postura erecta, então teremos uma ideia da carga suportada pelos
discos.
O referido é particularmente sensível e elucidativo daquilo que se passa em muitos praticantes se
compararmos discos saudáveis e lesados. Num disco saudável uma compressão de 100 kg
determina um esmagamento de 1.4 mm num disco e o seu consequente alargamento transversal.
No disco lesado a mesma carga determina um esmagamento de 2.0 mm, um alargamento
transversal incompleto, penetração do núcleo pulposo nas fibras e uma incapacidade para
regenerar a sua altura inicial após repouso.
Este esmagamento progressivo determina algumas repercussões nas articulações interapofisárias,
i.e.: (a) Quando a espessura do disco é normal, as relações entre as superfícies articulares das
apófises são congruentes; e (b) Quando o disco diminui de altura as relações inter-apofisárias
estão desequilibradas provocando distorsão articular, dor e, passado algum tempo, artroses.
Tem-se então que a integridade dos discos inter-vertebrais é determinante para a saúde articular
e para a mobilidade da coluna.

A espessura dos discos é particularmente importante. Sabemos que a espessura dos discos varia
da zona cervical (3 mm), para a coluna lombar (9 mm), tendo um valor intermédio na coluna
dorsal (5 mm). Porém mais relevante que as indicações deixadas pela espessura do disco é a
relação entre a espessura e a altura do corpo vertebral.
Esta relação é uma excelente referência para o comportamento funcional desse segmento da
coluna, i.e.: (a) Para a coluna cervical esse valor é de 2/5 e é a região da coluna mais móvel; (b) A
coluna lombar apresenta um valor de 1/3; e (c) A coluna dorsal de 1/5 e possui a menor
mobilidade, especialmente devido à implantação da grelha costal.

LMM@2015

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