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LEONARDO AUGUSTO COUTO FINELLI

BRUNO COUTO FERREIRA MACIEL


(Organizadores)

SEGURANÇA DO TRABALHO
SEGURANÇA DO TRABALHO
EXPERIÊNCIAS EXITOSAS
EXPERIENCIAS EXITOSAS
volume 2

editora

científica digital
LEONARDO AUGUSTO COUTO FINELLI
BRUNO COUTO FERREIRA MACIEL
(Organizadores)

SEGURANÇA DO TRABALHO
SEGURANÇA DO TRABALHO
EXPERIÊNCIAS EXITOSAS
EXPERIENCIAS EXITOSAS
volume 2

1ª EDIÇÃO

editora

científica digital

2022 - GUARUJÁ - SP
editora

científica digital

EDITORA CIENTÍFICA DIGITAL LTDA


Guarujá - São Paulo - Brasil
www.editoracientifica.org - contato@editoracientifica.org

Diagramação e arte 2022 by Editora Científica Digital


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S456 Segurança do trabalho [livro eletrônico] : experiências exitosas: volume 2 / Organizadores Leonardo Augusto Couto Finelli,
Bruno Couto Ferreira Maciel. – Guarujá, SP: Científica Digital, 2022.
E-BOOK
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Modo de acesso: World Wide Web
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5360-124-6
DOI 10.37885/978-65-5360-124-6

1. Segurança do trabalho. 2. Acidentes – Prevenção. 3. Higiene do trabalho. I. Finelli, Leonardo Augusto Couto. II.
Maciel, Bruno Couto Ferreira.

2022
CDD 363.11

Elaborado por Janaina Ramos – CRB-8/9166


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Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará, Brasil Universidade Estadual Paulista, Brasil Universidade Estadual Paulista, Brasil

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Universidade Federal do Tocatins, Brasil Universidade Federal de Sergipe, Brasil Universidade de Pernambuco, Brasil
APRESENTAÇÃO

Esta obra constituiu-se a partir de um processo colaborativo entre professores, estudantes e pesquisadores que se destacaram
e qualificaram as discussões neste espaço formativo. Resulta, também, de movimentos interinstitucionais e de ações de incentivo
à pesquisa que congregam pesquisadores das mais diversas áreas do conhecimento e de diferentes Instituições de Educação
Superior públicas e privadas de abrangência nacional e internacional. Tem como objetivo integrar ações interinstitucionais
nacionais e internacionais com redes de pesquisa que tenham a finalidade de fomentar a formação continuada dos profissionais
da educação, por meio da produção e socialização de conhecimentos das diversas áreas do Saberes.
Nesse sentido a obra agrega diversas produções associadas ao campo da Segurança do Trabalho. Compreende que qualquer
relação de produção envolve, sempre, elementos conhecidos, assim como fatores fortuitos. Contextualiza-se assim a busca
de aumento de produção e/ou lucratividade, o ser humano se empenha em controlar e moldar o ambiente ao seu redor para,
a partir dos mais variados processos de produção, e dessa forma, criar os mais diversos insumos. Tal tentativa de controle, é
interessante e necessária, mas sujeita a situações adversas que podem colocar a vida do indivíduo, tomado como Recurso
Humano, e de maior valia para a instituição, em riscos.
Nesse contexto o campo da Segurança do Trabalho busca compreender as mais diversas variáveis e situações de modo a
evitar que acidentes e incidentes inesperados ocorram. Esse campo visa, por meio do conhecimento do ambiente e situação
laboral, prevenir danos e evitar riscos que possam comprometer o processo produtivo, e, consequentemente, resguardar a
qualidade de vida dos colaboradores que participam do mesmo.
Dessa forma, reconhece-se o campo da Segurança do Trabalho como de fundamental importância interdisciplinar e
interinstitucional, que entende que as mais distintas áreas do saber apresentam suas contribuições para o reconhecimento dos
processos laborais. Com tais concepções, a presente obra, em seu segundo volume, reúne relatos de diversos pesquisadores de
experiências exitosas de mudanças de rotinas, ambiente, maquinário, etc. que promoveram melhorias no ambiente de trabalho
e qualidade de vida dos colaboradores dos mais variados sistemas.
Agradecemos aos autores pelo empenho, disponibilidade e dedicação para o desenvolvimento e conclusão dessa obra.
Esperamos também que a mesma obra sirva de instrumento didático-pedagógico para estudantes, professores dos diversos
níveis de ensino em seus trabalhos e demais interessados pela temática.
A todos ensejamos uma boa leitura, e nossos mais sinceros agradecimentos,

Prof. Dr. Leonardo Augusto Couto Finelli


Esp. Bruno Couto Ferreira Maciel
SUMÁRIO
CAPÍTULO 01
SEGURANÇA DO TRABALHO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: ANÁLISE DA PERCEPÇÃO DE TRABALHADORES EM OBRAS
DE PEQUENO E GRANDE PORTE

Leonardo Augusto Couto Finelli; Wamberg Santana Frota; Brenda Priscila Alves Aguiar; Marcos Saulo Dias Barbosa

' 10.37885/220508968......................................................................................................................................................................... 10

CAPÍTULO 02
AVALIAÇÃO DOS RISCOS AMBIENTAIS: ESTUDO DE CASO NA USINA DE COMPOSTAGEM P SUL EM BRASÍLIA/DF
Rafael de Assis Borges; Leonardo Ramos da Silveira

' 10.37885/220107230.......................................................................................................................................................................... 28

CAPÍTULO 03
AVALIAÇÃO ERGONÔMICA DO SETOR DE CORTE DE UMA CONFECÇÃO DE CAMISAS
Edson Terra Azevedo Filho; Josiane Aparecida Cardoso de Souza; Priscila França Gonzaga Carneiro; Jessé Carneiro Santos; Cristiano
Manhães de Oliveira

' 10.37885/220308075......................................................................................................................................................................... 39

CAPÍTULO 04
O REDESIGN DE APOIO DE PÉS ERGONÔMICO: UMA AVALIAÇÃO SOBRE OS ASPECTOS DE AGRADABILIDADE E
EXPERIÊNCIA DO USUÁRIO
Juliana Fernandes Pereira; João Eduardo Guarnetti dos Santos

' 10.37885/211106578........................................................................................................................................................................... 51

CAPÍTULO 05
INFLUÊNCIA DA ERGONOMIA E QUALIDADE DE VIDA NA PRODUTIVIDADE DO TRABALHADOR EM UMA INDÚSTRIA
CALÇADISTA DE MONTES CLAROS-MG
Gleicielle Roque de Araújo; Isadora Corrêa Martins; Maria Aparecida Maciel Ribeiro; Wesley Maia de Souza; Leonardo
Augusto Couto Finelli

' 10.37885/220508967......................................................................................................................................................................... 68

CAPÍTULO 06
ACIDENTES DE TRABALHO FATAIS EM DUAS ETAPAS DA ENERGIA EÓLICA NO BRASIL
Luis Geraldo Gomes da Silva

' 10.37885/220508828......................................................................................................................................................................... 82
SUMÁRIO

CAPÍTULO 07
SONOLÊNCIA EXCESSIVA DIURNA ENTRE OS AGENTES PENITENCIÁRIOS EM UMA UNIDADE PRISIONAL DO ESTADO
DO ACRE

Anderson Oliveira Nogueira; Larissa Carolynne da Silva Mendes; Francisco Naildo Cardoso Leitão; Vitor Djannaro Eliamen da Costa;
Mauro José de Deus Morais; Maura Bianca Barbary de Deus; Fabiano Santana de Oliveira; Rejane Rosas Barbary de Deus; Júlio
Eduardo Gomes Pereira; Carlos Roberto Teixeira Ferreira

' 10.37885/220408712.......................................................................................................................................................................... 97
CAPÍTULO 08
SAÚDE DO TRABALHADOR: ESTUDO DE ACIDENTES DE TRABALHO COM ANIMAIS PEÇONHENTOS EM ATIVIDADES
RURAIS NO ESTADO DE MINAS GERAIS E SUAS MEDIDAS PREVENTIVAS
Grasiela Aparecida Coura Querobino Alvarenga; Thainá Richelli Oliveira Resende; Edilene Márcia de Sousa; Risa Cordeiro Alves de
Brito Ruela; Renato Tolentino de Sene

' 10.37885/220207915.......................................................................................................................................................................... 105


CAPÍTULO 09
CULTURA PREVENTIVA: ANÁLISE DE IMPLANTAÇÃO DO PROGRAMA DE SEGURANÇA DO TRABALHO DUPONT NA
EMPRESA MOSAIC FERTILIZANTES CAJATI
Robson Cardoso de Freitas

' 10.37885/220508909........................................................................................................................................................................ 116


CAPÍTULO 10
INTERVENÇÃO EM BIBLIOTECAS DE UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA: RELATO DE EXPERIÊNCIA

Catherine Michie Mota Kobayashi; Maria do Carmo Baracho de Alencar; Angela Paula Simonelli

' 10.37885/220508787.......................................................................................................................................................................... 132

SOBRE OS ORGANIZADORES.............................................................................................................................. 146

ÍNDICE REMISSIVO.............................................................................................................................................. 147


01
Segurança do trabalho na construção civil:
análise da percepção de trabalhadores em
obras de pequeno e grande porte

Leonardo Augusto Couto Finelli Brenda Priscila Alves Aguiar


Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMON- Faculdades Unidas do Norte de Minas – FUNORTE
TES

Marcos Saulo Dias Barbosa


Wamberg Santana Frota Faculdades Unidas do Norte de Minas – FUNORTE
Faculdades Unidas do Norte de Minas – FUNORTE

'10.37885/220508968
RESUMO

O campo da construção civil é uma área de grande empregabilidade que faz uso de maqui-
nários e equipamentos pesados. Tais, podem gerar comprometimentos graves para seus
usuários. Os riscos estão sempre presentes e podem causar danos ou levar a morte do co-
laborador. Nesse contexto a segurança do trabalho visa adotar medidas de prevenção que
garantam a segurança dos trabalhadores. Objetivo: a pesquisa investigou trabalhadores
da construção civil sobre suas percepções quanto a adoção de comportamentos e equipa-
mentos de segurança. Métodos: a partir de pesquisa de campo, de corte transversal, com
o uso de um questionário comparou-se as respostas de colaboradores de onze obras ativas
de pequeno e de duas obras ativas de grande porte de modo a analisar eventuais diferen-
ças de percepções, assim como de reconhecimento e adoção de medidas de segurança.
Resultados: indicaram, de maneira global, a qualidade de trabalho diário do colaborador,
bem como suas crenças e ideias perante sua própria segurança. Evidenciaram também a
baixa adesão dos respondentes, de ambos os grupos, ao uso de EPI. E ainda, que há dife-
renças quanto a percepção sobre a própria segurança de operários de obras de pequeno e
grande porte, com esses reconhecendo mais riscos à sua saúde. Conclusão: as diferenças
quanto a percepção de risco para operários de obras de grande porte indica a necessidade
de maior uso de EPI, e quanto aos de obras de pequeno porte, a necessidade de busca de
se mostrar a importância da segurança individual a esse setor no dia a dia dos funcionários.

Palavras-chave: Construção Civil, Segurança do Trabalho, Prevenção, Riscos.


INTRODUÇÃO

Desde o início da civilização à construção civil se mostra presente na busca de trans-


formar o espaço natural em um lugar melhor e mais adequado para se viver. Nesse sentido,
sempre foi ciência de interesse de todas as civilizações, assim como passou por diversas
elaborações e evoluções históricas. Consideradas as diversas culturas e momentos históri-
cos pode-se reconhecer diferentes estruturas e modelos de construção, que, com o tempo,
foram sendo compartilhadas e integradas até se alcançar a atual miríade de técnicas e
instrumentos (QUEIROZ, 2019).
Apesar das diversas mudanças historicamente configuradas, tanto no passado, quan-
to atualmente o setor da construção civil é um dos principais geradores de emprego. Não
obstante, é também uma das áreas laborais que mais proporciona acidentes no local de
trabalho, tanto no Brasil quanto no mundo. Posta tal percepção geral, entende-se que as
empresas da construção civil devem trabalhar lado a lado com seus funcionários para poder
proporcionar um ambiente de trabalho mais seguro. Nesse contexto, foi desenvolvido o cam-
po da segurança do trabalho (BARSANO; BARBOSA, 2018; MINISTÉRIO DA FAZENDA,
2018; PEINADO, 2019).
A segurança do trabalho é a ciência que analisa e considera os principais motivos dos
incidentes e acidentes perante a atividade exercida pelo trabalhador. Nesse contexto tem
como fundamento a prevenção de doenças ocupacionais e imprevistos no ambiente de
trabalho. Considera-se êxito da segurança do trabalho quando é proporcionado aos cola-
boradores um ambiente laboral seguro e saudável (BARSANO; BARBOSA, 2018).
É função da segurança do trabalho identificar e avaliar os fatores que elevam o risco à
saúde e segurança do trabalhador. Essa deve também sugerir parâmetros intervencionais
para que possam ser aplicadas no ambiente de trabalho de modo a minimizar riscos de
incidentes e acidentes; assim como proporcionar ambiente laboral seguro (ARAUJO, 2018;
BRITO; LINDEMAM; ARÃO, 2018).
Com a gradativa atenção em busca de resultados mais satisfatórios relacionados ao
desempenho dos trabalhadores, aumentou também a necessidade de maior segurança
no processo produtivo. A partir desse reconhecimento o colaborador se apresenta como
peça chave no ambiente laboral, pois qualquer retenção de sua eficácia no trabalho poderá
promover a decaída no rendimento do setor. Tal cenário pode ser observado por meio de
episódios exemplificados no crescente número de acidentes em canteiros de obra, assim
como no aumento do absenteísmo promovido pelos níveis de estresse, juntamente às perdas
progressivas em sentidos e coordenações (SILVA, 2019; SILVA; BEMFICA, 2015).
Muitos desastres nos canteiros de obra podem ser conferidos ao fator humano, ao se
referir à falta de atenção e negligência a ele atribuído. As interações entre o ser humano

Segurança do Trabalho: experiências exitosas - ISBN 978-65-5360-124-6 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org - Vol. 2 - Ano 2022
12
e o ambiente ou ser humano e trabalho admitem o erro como consequência quando não
se atentam a determinados padrões mínimos de segurança. Entretanto, com a instrução
dos programas apresentados pela Segurança no Trabalho, muitos acidentes podem ser
eliminados, ou, pelo menos, reduzidos (tanto em sua frequência, quanto intensidade e/ou
impacto para os envolvidos, assim como instituição, maquinário e processo de produção)
(IIDA; BUARQUE, 2016; PINHEIRO, 2021).
Nesse sentido, em condescendência aos trabalhadores, é necessário que os detentores
das informações possam protegê-los, provendo-lhes informações relacionadas à Segurança
no Trabalho aplicada à construção civil. A literatura já reconhece e indica que, uma vez que
os gestores de obras acolham a atenção as práticas de Segurança no Trabalho, rapidamente
sua execução motiva e amplia tais práticas entre os trabalhadores, em especial, no canteiro
de obras (CASTRO, 2021).
No entanto, é viável também oferecer aos trabalhadores da construção civil condições
de trabalho que os mantenham satisfeitos e seguros. Reconhece-se que em decorrência
das melhores condições ergonômicas e ambientais tais colaboradores demonstram mais
aptidão aos melhores resultados da produção laboral (SCHER et al., 2018).
Ao se assumir tais pressupostos a presente pesquisa foi proposta com o objetivo de
ratificar a importância da segurança no trabalho no setor da construção civil para a contenção
de acidentes. Tal justifica-se em função da pouca cultura de Segurança no Trabalho, em
especial no setor da construção civil, que ainda reconhece números alarmantes de acidentes
de trabalho, assim como prejuízos (financeiros) e impactos (para a vida dos colaborado-
res, instituições e obras) que comprometem os resultados finais dos projetos em execução
(MOMOLI; TRINDADE; RODRIGUES-JUNIOR, 2021).

MÉTODOS

Com o propósito de produzir contribuição científica, a presente pesquisa assumiu breve


revisão da literatura, com a finalidade de contextualização do tema, e, metodologicamente,
acolheu o delineamento de pesquisa de campo, comparativa, com análises quantitativas,
de caráter exploratório, e, e recorte transversal. Para tal, buscou diretamente com trabalha-
dores da construção civil de obras, de pequeno e de grande porte, suas impressões sobre
suas percepções quanto a Segurança do Trabalho em seus respectivos ambientes laborais.
O planejamento da pesquisa de campo foi dividido em duas etapas. A primeira, con-
siderou a seleção de obras da construção civil e convite aos funcionários para aplicação
dos questionários. Como amostra, foram acessadas duas obras ativas de grande porte e

Segurança do Trabalho: experiências exitosas - ISBN 978-65-5360-124-6 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org - Vol. 2 - Ano 2022
13
onze obras ativas de pequeno porte da cidade de Montes Claros-MG1. Participaram como
voluntários da pesquisa, dez trabalhadores de cada empresa de grande porte, sem escolha
de função específica, e dois a três funcionários em cada obra de pequeno porte (reforma,
construção de casas e comércios), que exerciam as funções de pedreiro e/ou servente ape-
nas. Efetivamente participaram da pesquisa 48 colaboradores (20 de obras de grande porte
e 28 de obras de pequeno porte) como respondentes do instrumento sobre suas percepções
da Segurança no Trabalho.
Para a coleta de dados foi utilizado um questionário próprio, desenvolvido para a
pesquisa (ver apêndice) com 16 perguntas. Essas contemplaram dados de identificação,
que são aqui omitidos de modo a resguardar o sigilo sobre a identidade dos participantes,
assim como questões (a maior parte fechada) com intenção de entender a percepção dos
trabalhadores com relação à segurança do trabalho.
Os questionários foram aplicados com intuito de conhecer o funcionário, sua rela-
ção com a obra e com a segurança. Em todas, foi pedido a autorização do contratante e
dos funcionários, e todos foram informados sobre a pesquisa e autorizaram a participação
mediante assinatura de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE de modo
a atender os preceitos éticos de realização de pesquisas que envolvam seres humanos
(BRASIL, 2012; 2016).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Em todos os canteiros de obra visitados, foi registrado que todos os funcionários que
lidam diretamente com o ofício de operários da construção civil são homens, e em sua maio-
ria constituem-se como arrimo de família, sendo os principais responsáveis pela geração de
renda de seu grupo familiar. Os dados mostram também que em sua maioria os trabalha-
dores da construção civil que são contratados por empresas de grande porte, e autônomos
(prestadores de serviços) para as obras de pequeno porte.
Quanto a escolaridade, a maioria dos funcionários de obras de grande porte possuem
formação de ensino médio completo ou, pelo menos fundamental completo. Esses em sua
maioria exercem as funções de pedreiros e/ou serventes, apesar de dois participantes rela-
tarem que exercem a função de motoristas. Quanto aqueles com baixa escolaridade, obser-
vou-se que esses são também os mais jovens que ainda estão estudando. Tal perfil difere

1 Sexto maior município do estado, com população de 402.027 habitantes, em 2017, área geográfica de 3.568,941 km2, apresenta
densidade demográfica é de 112,65 habitantes/km2. Conta ainda com Produto Interno Bruto (PIB) per capita de R$ 20.199,41, o que
levou ao PIB de R$ 8,1 bilhões, à época. A cidade é polo de desenvolvimento da região norte do estado, e é considerada o segundo
maior entroncamento rodoviário nacional. Sua economia evoluiu da original a agricultura e pecuária, para grandes indústrias como:
Coteminas, Eurofarma, Elster Medição de Água S.A, Lafarge, Nestlé, Novo Nordisk e Vallée S.A. (MONTES CLAROS, 2021).

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muito quando se analisa e se compara a formação escolar (grau de instrução) de operários
das pequenas obras. Observa-se que a maior parte dessa mão de obra concluiu ou quase
concluiu o ensino fundamental, e poucos concluíram o ensino médio. A análise indicou que
a maior parte desses trabalhadores da construção civil o fazem como autônomos, sem car-
teira assinada (ou qualquer tipo de contrato formal). Esses relataram ser pouco estimulados
ao estudo, frente as oportunidades de trabalho na construção civil, ou ainda, relataram sua
obrigação de sustento da família, como empecilhos à continuidade dos estudos (Tabela 1).

Tabela 1. Grau de ensino e tempo de trabalho na construção civil por tipo de obra.

Escolaridade Grande Porte Pequeno Porte


Ensino médio 70% 16%
Até 9 anos de estudo 10% 72%
Até 6 anos de estudo 0% 0%
Até 4 anos de estudo 10% 8%
Não estudou 10% 4%
Tempo na construção civil
Menos de 5 anos 30% 20%
5 a 9 anos 50% 12%
10 a 14 anos 20% 24%
15 ou mais 0% 44%
Fonte: elaborada para a pesquisa.

A análise do perfil de escolaridade dos trabalhadores de obras de pequeno porte asse-


melha-se ao de estudo realizado com 25 funcionários de 6 obras, também de pequeno porte
da construção civil realizado em 2018 na cidade de Cajazeiras-PB. Esse estudo indicou que
64% dos colaboradores apresentam a escolaridade de ensino fundamental incompleto; 16%
ensino fundamental completo; 20% ensino médio completo ou incompleto (ROLIM et al.,
2018). Tal dado assemelha-se ao cenário da construção civil nacional, em especial, para
trabalhadores autônomos, que em sua maioria detém poucos anos de escolarização formal
(BUFON; ANSCHAU, 2016).
Por outro lado, ao se comparar os anos de instrução dos participantes com dados de
trabalhadores da construção civil da PNAD Contínua (IBGE, 2018) observa-se um maior in-
vestimento dos participantes. Verificou-se que 70% desses afirmaram ter formação de ensino
médio, enquanto que os dados nacionais indicam que apenas 25,27% dos trabalhadores da
construção civil tinham formação de ensino médio completo ou incompleto em 2018. É im-
portante considerar que na pesquisa citada, há trabalhadores da construção civil de todo o
país, e é sabido que a distribuição da escolaridade não é a mesma quando se comparam
regiões mais abastadas com as mais pobres, assim como de localidades periféricas em
relação à capitais. É digno de análise também considerar que as demandas mais atuais
de formação escolar, muitas vezes, são requisitos para a contratação de funcionários por

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empresas de grande porte. Tal se dá por se reconhecer a necessidade do treinamento (por
exemplo, quanto a segurança no trabalho) constante e periódico dos novos colaboradores
(NUNES; ALVARENGA, 2018).
Em outra análise, verificou-se que 44% dos trabalhadores de pequenas obras, são
mais experientes, com 15 ou mais anos de trabalho na área. E em sua maioria, os traba-
lhadores de grandes obras têm até 9 anos de experiência de trabalho na construção civil.
Tais dados, correlacionados as idades dos respondentes indicaram alta correção, visto que
a maioria dos participantes de grandes obras são mais jovens, o que justifica sua menor
experiência, do que aqueles autônomos que trabalham em obras de pequeno porte (Tabela
1). Observou-se ainda que os trabalhadores com mais tempo de serviço, são mais velhos
e normalmente chefes de família. A maioria dos serventes possuem menos de 5 anos de
trabalho da construção civil e ainda estão estudando.
A literatura indica dados semelhantes aos encontrados, onde por exemplo, considera
que com maior experiência na atuação profissional na construção civil é comum que o indi-
víduo busque também capacitação para a atuação especializada que lhe angarie melhores
rendimentos, como por exemplo, progredir de servente para pedreiro, desse para encarrega-
do ou mestre de obras, ou para atividades mais especializadas como carpinteiro, armador,
operador de maquinário (guincho, caminhão, empilhadeira), ou ainda, para funções mais
especializadas como pintor, eletricista, bombeiro hidráulico, entre outras funções. Reconhece
também que aqueles com menor formação acadêmica, mas com maior experiência prática,
tendem a voltar-se, em um mercado de trabalho exigente e competitivo, para o exercício
da atividade autônoma. Essa por sua vez, lhe aufere melhores rendimentos diretos, porém
sem garantias de trabalho ou seguridade social (IBGE, 2018; NUNES; ALVARENGA, 2018).
Quanto da análise das percepções dos respondentes sobre o ambiente de trabalho
observou-se os dados conforme expressos na Tabela 2. Foram analisadas três grandes ca-
tegorias de características que podem promover desconforto e/ou dano físico e/ou psíquico
aos trabalhadores da construção civil, a saber: Iluminação (considerada sua qualidade);
Ruído (considerando sua presença, duração e intensidade); e Vibrações (considerando sua
presença, duração e intensidade).

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Tabela 2. Percepções sobre características do ambiente de trabalho por tipo de obra.

Categoria de análise Graduação da percepção Grande Porte Pequeno Porte


Muito boa 60% 100%
Iluminação
Boa 40% 0%
Muito forte 30% 0%
Forte 60% 0%
Ruído
Sem opinião 10% 0%
Muito fraco 0% 100%
Excessivas 30% 0%
Fortes 40% 0%
Vibrações
Sem opinião 30% 4%
Fracas 0% 96%
OBS: dados inexistentes nas modalidades de obras foram omitidos na tabela.
Fonte: elaborada para a pesquisa.

Observa-se que tanto nas obras de pequeno quanto de grande porte todos os res-
pondentes indicaram que as condições de iluminação são boas ou muito boas. Cabe o
destaque para as obras de pequeno porte, que, pela característica da classificação usada
na pesquisa, se dá em ambientes privados com poucos trabalhadores, e que todos esses
reconheceram que o mesmo (na maioria das vezes em céu aberto) apresentavam boas
condições de iluminação.
Quanto a percepção de ruídos observa-se grande distinção quanto a percepção dos
respondentes. Para a obra de grande porte 60% dos participantes alegaram conviver com
ruídos de forte intensidade e frequência durante suas atividades laborais; 30% alegaram que
esses são muito fortes; e 10% não expressaram opiniões sobre os ruídos da obra. Nesse
contexto é interessante analisar que pela característica da construção, há grande concen-
tração de funcionários e uso de maquinário, o que impacta, sobremaneira, na produção de
ruídos que podem promover desconforto e/ou dano físico e/ou psíquico aos trabalhadores
da construção civil. Para as obras de pequeno porte, até por suas características, uso de
equipamentos, e número de funcionários envolvidos, todos os respondentes considera-
ram que houve produção muito fraca de ruídos, o que é típico e ocasional, quando do uso
de algum equipamento ruidoso. Nesses ambientes há melhor condições de trabalho para
os colaboradores.
Quanto a presença de vibrações gerais e trepidações do solo/piso as percepções dos
respondentes foram muito semelhantes quanto da análise dos riscos e incômodos causados
por ruídos. Atribui-se as mesmas razões aos padrões de resposta semelhantes, visto que
em obras de grande porte há mais trabalhadores e uso de maquinário pesado, que promo-
vem vibrações com frequência e intensidade muito maior do que nas de pequeno porte,
cujos impactos são produzidos pelo próprio grupo pequeno de trabalhadores, e com baixa
frequência de execução.

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Por conta dos maquinários que utilizam e tipo estrutura que desenvolvem, os trabalha-
dores de obras grandes sentem mais desgastes auditivos e físicos, mesmo quando fazem o
devido uso de Equipamentos de Proteção Individual – EPI e/ou Equipamentos de Proteção
Coletiva – EPC. Os trabalhadores de obras pequenas, apesar de não utilizarem, ou utili-
zarem pouco os EPIs ou EPCs, não costumam sentir os mesmos desgastes promovidos
por iluminação, ruídos e/ou vibrações. Por outro lado, esses costumam apresentar maiores
desgastes físicos em função da realização de muito esforço associado a jornadas de trabalho
mais longas (BRAGA, 2019). Essas associam-se, por exemplo, aos acordos de trabalhos
por empreitada, e não por dia de trabalho, onde é interessante ao trabalhador a extensão de
sua jornada diária de modo a concluir de modo mais célere a obra e ficar livre para assumir
novo contrato laboral. Acrescido a tais riscos, esse grupo de autônomos (trabalhadores da
construção civil de obras de pequeno porte) tendem com maior frequência a não realizam
exames de saúde periódicos, assim como não responderem se evitam bebidas alcoólicas
antes ou durante o trabalho.
Quanto ao uso de EPIs ou EPCs que deveriam ser equipamentos de uso diário e
constante tem-se a Tabela 3, que indica que apenas pequena parte dos equipamentos de
proteção são utilizados diariamente pelos operários.

Tabela 3. Uso de equipamento de proteção de uso diário por tipo de obra.

Equipamento de uso diário Grande Porte Pequeno Porte


Capacetes de segurança 100% 92%
Óculos de proteção 40% 0%
Botas de biqueira de aço e antiderrapantes 100% 0%
Luvas de proteção 100% 60%
Roupas especificas para o trabalho 0% 0%
Protetor auricular/auscultadores 70% 0%
Máscaras/dispositivos filtrantes 40% 0%
Cinto de segurança 0% 0%
Balaclava 0% 0%
Protetor solar 0% 0%
Nenhum 0% 8%
Fonte: elaborada para a pesquisa.

Nas obras de grande porte todos os trabalhadores fazem o uso diário do capacete de
segurança, botas de biqueira de aço e antiderrapantes, e, luvas de proteção, que são os
EPIs básicos e que são fornecidos pelo empregador, assim como são os constantemente
fiscalizados quanto a utilização. Houve também a declaração de 70% dos respondentes
que alegam fazer uso diário de protetor auricular/auscultadores, e 40% que fazem uso de
máscaras/dispositivos filtrantes. Quanto aos demais equipamentos de segurança, os res-
pondentes desse tipo de obra afirmaram não fazer uso dos mesmos. Esses trabalhadores

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consideram importante o uso dos EPIs e EPCs apesar de não fazer o uso adequado e/ou
diário e constante de muitos dos equipamentos.
Apesar do uso limitado dos EPIs e EPCs, os dados do estudo mostram resultados
mais satisfatórios quanto à adequação das Normas Regulamentadoras – NRs, em espe-
cial a NR 6 (BRASIL, 2018) que versa sobre Equipamento de Proteção Individual – EPI, e
a NR 18 (BRASIL, 2020) que versa sobre Condições de Segurança e Saúde no Trabalho
na Indústria da Construção, do que os encontrados em outros estudos, como o de Oliveira e
Campos (2021). Tal pesquisa, realizada através de observação de campo a partir de check
list de presença e uso de itens de EPIs e EPCs em uma obra de grande porte realizada no
município de Goianésia-GO, constatou que não se fazia o uso dos equipamentos de prote-
ção, mesmo nesse tipo de obra, sujeita a fiscalização.
Nas obras de pequeno porte reconhece-se que não há distribuição de equipamentos
de proteção, assim como, em geral, não há fiscalização quanto a utilização desses equi-
pamentos. Como essas, em geral, são prestação de serviços autônomos, não assumem a
expectativa do conhecimento do empregador sobre o conhecimento de normas de segu-
rança do trabalho, e assim, essa responsabilidade recai sobre o trabalhador da construção
civil. Esses, por sua vez, algumas vezes dispõem do conhecimento de NRs, assim como
da necessidade de uso de EPIs e EPCs. Não obstante, como autônomos, tais funcionários
devem assumir os custos de tais equipamentos, assim como, a responsabilidade por seu
uso. Esses, em geral, até reconhecem a importância e necessidade dos equipamentos de
proteção, porém, de modo equivocado, assumem o risco do exercício da atividade laboral
sem utilizar tais equipamentos.
Nesse sentido, verificou-se que nem todos os respondentes alegaram fazer uso dos
equipamentos de proteção. Dentre os mais utilizados, conforme as respostas de autopreen-
chimento dos participantes, estão o capacete de segurança, utilizado diariamente por 92%
dos respondentes, e as luvas de proteção, utilizadas por 60% dos participantes. É digno
de atenção o fato de que os operários da construção civil de obras de pequeno porte, que
participaram da pesquisa, alegaram não fazer uso de nenhum outro tipo de equipamento
de proteção. E ainda, que 8% dos participantes, não usam nenhum tipo de equipamento de
proteção durante o exercício de suas atividades.
Quanto da análise qualitativa das respostas, os operários da construção civil de obras
de pequeno porte disseram também que não se importam com o uso de EPIs ou EPCs,
mesmo se fornecidos, a eles, por exemplo, o capacete. Apesar de afirmarem não fazer uso
dos equipamentos de proteção, a maioria dos participantes da pesquisa afirmaram que
a segurança do trabalho e o uso dos equipamentos na construção civil são necessários.
Tal contradição, remete a análise sobre a real consciência dos riscos assumidos por tais

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indivíduos, assim como o adequado julgamento da relação custo x benefício sobre o inves-
timento em equipamentos de proteção e seu uso.
Similar a realidade observada nas obras de grande porte, para as de pequeno porte
a literatura indica que o uso de EPIs e EPCs é limitado e inconsistente. Ao se comparar
os presentes resultados com outros estudos, observou-se que na pesquisa realizada, em
campo, com a visita à 30 diferentes canteiros de obras de pequeno porte em municípios
pertencente às regiões de Londrina e Maringá (ambas do estado do Paraná), no ano de
2018, o uso de EPIs foi quase inexistente, com apenas 3% de uso de EPI específico em
relação a atividade executada. Os poucos utilizados restringiram-se ao uso de botinas (20%),
ou capacete (3%) (RIVELINI, 2018). De modo similar, o estudo com 63 funcionários de 14
obras de pequeno porte realizada no município de Goianésia-GO (ROCHA; SILVA, 2020),
constatou o uso parcial de EPIs, a saber: botina (97%), luvas (54%), óculos (11%), e/ou
protetor auricular (5%). Não obstante, nenhum dos participantes desse estudo fazia uso do
capacete durante a coleta dos dados (que se deu por observação in loco, e preenchimento
de roteiro de observação pelos pesquisadores).
Tal análise levou a percepção de discrepância entre os resultados associada a viés
de pesquisa. Por exemplo, quando utilizado o questionário de autopreenchimento, como na
presente pesquisa, houve a indicação de maior uso de equipamentos de proteção (tanto em
obras de pequeno quanto de grande porte) do que nos estudos analisados, que assumiram
metodologias de observação em campo, ou seja, contando com a percepção concreta de
pesquisadores e não o autorrelato de participantes. Esta percepção deve ser considerada
para futuras análises e novos estudos.
Considerada a importância do uso de equipamentos de segurança, as percepções dos
respondentes, como já expresso, variaram em acordo com o porte da obra. Operários de
obras de grande porte, até por passarem por treinamento, inspeção e supervisão alegaram
reconhecerem a necessidade da segurança e do uso de EPIs e EPCs. Já os de pequenas
obras, além de fazerem uso menor e menos frequente de EPIs e EPCs parecem expressar
menor preocupação com a segurança na obra.
Além do já exposto, considera-se a Tabela 4 com a categorização das respostas de
questões abertas que investigaram a opinião dos funcionários sobre a segurança na obra,
assim como, sobre sua percepção do que poderia melhorar em relação a segurança nas
obras. Muitos ficaram com dúvidas quanto à forma de responder às perguntas, assim como
com receio de responder, principalmente os trabalhadores de carteira assinada das obras
de grande porte, mesmo após receberem a informação de que nenhum dado sobre ele ou
sobre a empresa seria divulgado.

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Tabela 4. Percepção sobre segurança; e, sobre o que pode melhorar na segurança das obras.

Segurança nas obras Grande Porte Pequeno Porte


Acha essencial 100% 0%
Pode melhorar 0% 52%
Deve existir 0% 28%
É importante 0% 12%
Não soube/não quis responder 0% 8%
O que pode melhorar na segurança
Pode melhorar 0% 100%
Continuar o uso de EPIs 30% 0%
Já melhorou 10% 0%
Não soube/não quis responder 60% 0%
Fonte: elaborada para a pesquisa.

Os dados indicaram que todos os trabalhadores das obras de grande porte consideram
essencial a atividade dos técnicos de segurança do trabalho. Poucos expressaram opiniões
complementares sobre o que poderia melhorar. Por exemplo, 60% dos participantes não
responderam a como poderia haver melhoras na segurança no ambiente de trabalho; apenas
30% afirmaram que para melhorar a segurança deve-se manter o uso dos EPIs (mesmo
sem apontar quais, e, considerados os dados anteriores, fazendo uso limitado desses); e
ainda 10% alegaram que a segurança no trabalho já melhorou em função dos treinamentos
e do uso dos EPIs.
Já para as obras de pequeno porte, por se tratarem de autônomos, sem um vínculo
empregatício formal, 52% dos respondentes consideram que a segurança nas obras em que
trabalham pode melhorar; 28% afirmam que essa deve existir; 12% a consideram importante,
e, 8% não responderam a essa questão do questionário. Tais dados são interessantes, pois,
por se tratarem de autônomos, na maioria das vezes, tais trabalhadores são os próprios
responsáveis por estabelecer os limites da segurança do ambiente laboral, assim como
considerar e fazer uso de EPIs e EPCs. Quando indagados sobre o que poderia melhorar
na segurança das obras, todos consideraram que poderiam haver melhoras na segurança
das obras em que trabalham. Alguns apresentaram considerações sobre fazerem uso de
capacete, luva, e/ou, bota; já outros refletiram que sabem da necessidade de melhorar a
segurança de seu ambiente de trabalho, porém indicaram que os custos, assim como o
desconforto no uso dos EPIs, associados a pequena percepção de riscos que percebem faz
com que não assumam comportamentos e práticas de segurança.
As distinções das percepções entre os operários de obras de grande e pequeno porte,
pode estar associada ao viés da produção de respostas, em especial dos funcionários de
grandes obras, que não reconhecem as garantias de sigilo das informações prestadas, e
assim responderam com manifestação de desejabilidade social, ou seja, modificaram sua

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percepção pessoal para apresentar respostas que acreditavam serem as adequadas ao
interesse dos pesquisadores. Ao se apreciar as respostas dos funcionários de obras de
pequeno porte, que, por não apresentarem empregadores e fiscalização, parecem ser mais
fidedignas as percepções pessoais dos respondentes têm-se dado que corrobora percepções
prévias descritas na literatura. Por exemplo, em pesquisa realizada por meio de entrevista
semiestruturada com técnicos de segurança e trabalhadores de canteiros de seis obras do
município de Unaí-MG, reconheceu-se que há o conhecimento dos riscos relacionados a
segurança do trabalho, porém, as medidas adotadas para a prevenção de acidentes visam
apenas “atender as normas regulamentadoras e outros requisitos legais pertinentes ao setor
da construção” (FERREIRA, 2020, p. 49).
De modo similar, as percepções reconhecidas nos dados colhidos, também estão em
acordo com dados de pesquisa de campo realizada por meio de questionário com 32 traba-
lhadores de uma empresa de grande porte de construção civil da cidade de Porto Velho-RO.
Nesse, 88% dos trabalhadores indicaram extrema importância para a segurança no trabalho
(12% indicaram esta como bastante importante). Indicaram ainda 78% de extrema importân-
cia o uso de EPIs (22% como bastante importantes), porém, apenas 56% apresentaram que
o grau de exigência na utilização dos EPIs é rigoroso (41% apresentaram que há bastante
exigência e 3% indicaram exigência razoável). Quanto ao uso efetivo dos EPIs, apenas
56% dos trabalhadores indicaram realizar seu uso sempre (38% quase sempre; 3% apenas
quando é exigido seu uso; e 3% usam-no poucas vezes). Por fim, quanto a satisfação de
utilizar os EPIs, 50% se sentem bastante satisfeito (apenas 22% sentem elevada satisfação
em seu uso; 19% sentem razoável satisfação; 6% se sentem pouco satisfeitos; e 3% não
responderam à questão). O estudo concluiu que existem muitos fatores, como a reduzida
satisfação quanto ao uso e sua utilização efetiva que condicionam a postura dos trabalhadores
e podem reduzir a eficiência dos EPIs. Apesar disso, reconhecem que há elevado nível de
conscientização sobre segurança entre os respondentes, o que nem sempre se reflete em
sua prática de uso de EPIs. E, por fim, concluem que não identificaram os reais motivos que
levaram os trabalhadores a deixarem de utilizar os EPIs (CIDADE-KONZEN et al., 2020).

CONCLUSÕES

Os resultados e discussões apresentados indicam maneira mais eficiente de compreen-


der as percepções da realidade dos trabalhadores da construção civil sobre a segurança do
trabalho em seu oficio diário. A discrepância das percepções relatadas entre os trabalhadores
das duas modalidades de obra pode estar associada ao diferente nível de formação escolar
dos participantes, visto que, em que a maioria os funcionários das obras de grande porte
possuem maior escolaridade, tal fato não ocorre nos funcionários de obras de menor porte.

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Maior escolaridade pode promover maior compreensão de mundo e melhor capacidade de
avaliar os riscos existentes no trabalho da construção civil, assim como na possibilidade de
redução desses riscos, ou dos impactos de acidentes, em função do uso de equipamentos
de proteção e adoção de práticas de segurança.
Outro elemento que pode ter promovido as diferenças verificadas pode associar-se
ao tempo de experiência profissional desses trabalhadores. Trabalhadores mais jovens
podem compreender e aderir melhor às políticas de segurança do trabalho, assim como ser
menos resistentes ao uso de EPIs e EPCs, do que aqueles que já tem mais experiência e
arraigaram mais hábitos inadequados e vícios de conduta em sua prática profissional, como
não utilizar equipamentos de proteção. Esses com mais experiência podem também, em
função de suas vivências fazer pior julgamento dos riscos associados a suas práticas de
trabalho, assim como ser menos mobilizados a se preocuparem com as consequências de
um acidente de trabalho (tanto para si, quanto para a empresa/maquinários/empregador).
Um dado alarmante verificado diz respeito a regulamentação do trabalho, onde veri-
ficou-se que condições contratuais dos operários de grandes obras lida com o contrato de
carteira assinada (regime de CLT2) para todos os trabalhadores. Para os operários de obras
de pequeno porte verificou-se o inverso dessa situação, onde não se verificou qualquer tipo
de formalização dos vínculos trabalhistas. Esses, de modo geral relataram realizar acordos
verbais e/ou de empreitada de trabalho com os demandantes dos serviços. Observou-se
também grande discrepância quanto ao nível de entendimento técnico dos trabalhadores
tanto das questões de segurança do trabalho, uso de equipamentos, e de estabelecimento
dos vínculos trabalhistas. Os operários de obras de pequeno porte trabalham quase que de
maneira clandestina (mercado informal), e não revelam estabelecer grande valor quanto a
sua saúde, mediante o desprezo do uso de equipamentos de proteção. Para os trabalha-
dores de obras de grande porte, até pela fiscalização interna e externa quanto a segurança
do trabalho, assim como em função dos treinamentos periódicos que recebem, há maior
consciência quanto a seus direitos e deveres associados ao trabalho formal.
Felizmente, foi observado, que apesar das circunstancias de trabalho e da falta de
conhecimento geral sobre direitos e deveres para com o trabalho, há o despertar para a
consciência dos cuidados com a saúde. Em especial para trabalhadores de obras de pequeno
porte, que por falta de treinamento e capacitação formal, precisam desenvolver, também de
modo autônomo, tal conhecimento. Para tais sujeitos observou-se que a maioria considera
relevante o trato a saúde e ao bem-estar em meio ao labor.

2 Um contratado de trabalho via Consolidação das Leis do Trabalho – CLT reconhece uma modalidade de emprego formal, com car-
teira assinada, que assegura ao funcionário o direito aos principais benefícios da CLT como FGTS, INSS, décimo terceiro, férias,
jornada de trabalho de até 08 horas diárias, e diversos outros direitos previstos nesta consolidação (FERNANDES, 2021).

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Não obstante, reconhece-se que a segurança do trabalho ainda é moldada de acordo
com a fiscalização. Percebemos, como já verificado na literatura, que as grandes empresas
visam não a qualidade de vida do trabalhador ou a segurança deste. Sua preocupação com o
treinamento de segurança e demanda de uso dos equipamentos de proteção se dá por conta
de multas, processos judiciais e fiscalização. É digno de nota o reconhecimento de que na
cidade de Montes Claros-MG, muito das visitas de fiscais de segurança, que deveriam ser
permanentes e periódicas ocorrem a partir de denúncias de outras empresas. Tais denúncias
ocorrem como prática de competição desleal no mercado, com a finalidade de comprometer
a imagem, estabilidade econômica, e qualidade do trabalho de empreiteiras concorrentes, e
não para beneficiar os trabalhadores. Nesse contexto, as pequenas obras, por serem infor-
mais e rápidas, nem os trabalhadores, nem os contratantes levam em consideração esses
fatores, e assim, não há fiscalização nesses canteiros de obras, o que se associa a menor
formalidade das atividades e de demandas de capacitação dos trabalhadores.
Os dados coletados representam uma gama de informações práticas a serem analisa-
das em contexto global. Longe de esgotar o tema, ou se propor a generalização dos resul-
tados encontrados, entendemos que os mesmos oferecem fragmento de informações que
complementam e ampliam as já existentes. Isso porque, apesar da proposta quantitativa da
pesquisa a mesma ainda é limitada geograficamente e em termos de amplitude de acesso
as obras, em função da disponibilidade de tempo e recursos para a realização da pesquisa.
Nesse sentido, esperamos que o material compartilhado, ofereça campo para novas inves-
tigações e racionalizações sobre o tema.

REFERÊNCIAS
1. ARAUJO, M. F. A. A evolução da segurança do trabalho em uma construtora de
médio porte em Maringá/PR – um histórico de 10 anos. 2018. 35f. Monografia
(Graduação em Engenharia Civil) – Centro Universitário de Maringá – UNICESUMAR.
Maringá (PR), 2018.

2. BARSANO, P. R.; BARBOSA, R. P. Segurança do trabalho: guia prático e didático.


2. ed. São Paulo: Érica/Saraiva, 2018.

3. BRAGA, A. V. O. O Desafio da Gestão de Mão de Obra no Reaquecimento da Constru-


ção Civil. Revista Boletim do Gerenciamento, Rio de Janeiro, n. 10, p. 22-30, 2019.

4. BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde – CNS. Resolução nº


466, de 12 de dezembro de 2012. Aprova as diretrizes e normas regulamentadoras
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02
Avaliação dos riscos ambientais: estudo
de caso na Usina de Compostagem P Sul
em Brasília/DF

Rafael de Assis Borges


FVC

Leonardo Ramos da Silveira


IFG

'10.37885/220107230
RESUMO

Este trabalho visa identificar e avaliar as atividades que são executadas na maior Usina
de Triagem e Compostagem da América Latina, situada na Cidade de Ceilândia, Distrito
Federal. A análise constitui-se de observação das atividades e levantamento do perfil dos
catadores no ambiente de trabalho. Apresentam-se as maiores dificuldades no ambiente
de trabalho e os tipos de acidentes recorrentes durante a atividade dos catadores. A falta
de EPI adequada para a atividade é um problema, ainda assim alguns catadores optam
por não usar alegando certo desconforto ou dizem não achar necessário. Mais da metade
dos entrevistados informaram sofrer corriqueiramente acidentes como cortes com vidro e
perfuração com objetos pontiagudos.

Palavras-chave: Catadores, Usina de Compostagem, Triagem, Material Reciclado.


INTRODUÇÃO

Resíduo ou lixo é qualquer material considerado inútil, supérfluo ou sem valor, gerado
pela atividade humana, indesejado e descartado no meio ambiente. Uma vez coletados, os
resíduos podem ser acondicionados em aterros ou destinados a compostagem, incineração
e reciclagem (ABNT, 2004).
Compostagem é um processo de transformação de matéria orgânica, encontrada no
lixo, em adubo orgânico (composto orgânico). A compostagem propicia um destino útil para
os resíduos orgânicos, evitando sua acumulação em aterros. Este processo tem como re-
sultado final um composto orgânico que pode ser aplicado ao solo para melhorar suas ca-
racterísticas, sem ocasionar riscos ao meio ambiente. Brasília não conta com uma coleta
seletiva eficiente, assim, o material recebido na Usina de Compostagem passa por uma
triagem executada parcialmente de forma manual pelos catadores.
Triagem é a separação manual dos diversos componentes do lixo, que são divididos
em grupos, de acordo com a sua natureza: matéria orgânica, materiais recicláveis, rejeitos e
resíduos sólidos específicos. Após passar por uma câmara em que são rasgados os sacos,
o processo de triagem do lixo que chega na Usina é realizado de forma manual pelos cata-
dores em pontos ao longo da mesa mecanizada transportando o lixo. A mesa mecanizada
facilita a triagem e diminui o tempo gasto nesta etapa. No entanto, dependendo do volume
triado, pode, eventualmente, contribuir para uma maior ineficácia do processo.
Gouveia (2012) ressalta os riscos à saúde para os profissionais mais diretamente en-
volvidos no manejo dos resíduos, como é o caso do pessoal operacional do setor, o qual,
em sua maioria, não conta com medidas mínimas de prevenção e segurança ocupacional.
Mesmo a compostagem sendo uma destinação ambientalmente mais correta do que a
disposição no solo, ela pode gerar impactos à saúde dos trabalhadores desse setor, como
alterações na função pulmonar e contaminação bacteriológica do sistema respiratório.
A situação se torna mais crítica para indivíduos que trabalham e vivem da recuperação
de materiais do lixo, especialmente os catadores de materiais recicláveis, os quais realizam
seu trabalho em condições muito insalubres, geralmente sem equipamentos de proteção,
resultando em alta probabilidade de adquirir doenças. Alguns problemas relacionados ao
trabalho de reciclagem incluem a exposição a metais e substâncias químicas, a agentes
infecciosos como o vírus da hepatite B, doenças respiratórias, osteomusculares e lesões
por acidentes (GOUVEIA, 2012).
Uma análise de risco do ambiente de trabalho se dá por meio de um conjunto de
procedimentos com o intuito de estimar o potencial de danos à saúde ocasionados pela
exposição de indivíduos a agentes ambientais. Tais avaliações servem de subsídio para o

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controle e a prevenção dessa exposição. Nos ambientes de trabalho, esses agentes podem
estar relacionados aos processos de produção (FERREIRA, 2010).
Portanto, o objetivo desse trabalho é identificar e analisar os potenciais riscos de
acidentes ocupacionais nas instalações da usina de triagem e compostagem de resíduos
sólidos urbanos no Setor P Sul em Ceilândia, no Distrito Federal.

Resíduos Sólidos Urbanos no Distrito Federal

Os Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) estão subdivididos em dois grupos: Resíduos


Sólidos Domiciliares (RDO) e os Resíduos de Limpeza Urbana (RPU).
Foram realizados para o Distrito Federal alguns estudos de caracterização gravimétrica
dos resíduos sólidos domiciliares, apresentados na Figura 1. Em 2008, estudo de caracte-
rização gravimétrica dos resíduos domiciliares para compor o Plano Diretor de Resíduos
Sólidos do Distrito Federal. Em 2015, estudo de caracterização gravimétrica dos resíduos
domiciliares realizado pelo Serviço de Limpeza Urbana do Distrito Federal (SLU). Em 2016,
estudo de caracterização gravimétrica dos resíduos domiciliares provenientes da coleta con-
vencional, da coleta seletiva, e coleta seletiva inclusiva. Como dados de referência, pode-se
utilizar o estudo de caracterização gravimétrica nacional dos resíduos sólidos domiciliares
elaborado pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA) para o ano de 2012.
De acordo com o Plano Distrital de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PDGIRS)
de março de 2018, os RDO coletados pelos serviços de coleta convencional têm sua desti-
nação para três caminhos distintos (Figura 2):

a) diretamente ao Aterro do Jóquei;


b) às unidades de Tratamento Mecânico-Biológico (Usinas da Asa Sul e P Sul Ceilân-
dia) e
c) às unidades de transbordo (Brazlândia, Gama, Asa Sul e Sobradinho), seguindo
posteriormente para os destinos a) e b).

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Figura 1. Composição gravimétrica de RDO para coleta convencional do Distrito Federal para amostragens de 2008, 2015
e 2016.

Fonte: (PDGIRS, 2018).

Figura 2. Fluxos de RDO no Distrito Federal.

Fonte: (PDGIRS, 2018).

Do total de resíduos domiciliares da coleta convencional, aproximadamente 42%


dos resíduos são destinados diretamente para a disposição final no aterro do Jóquei e às
unidades de Tratamento Mecânico-Biológico e 58% passam preliminarmente nas unida-
des de transbordo.

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METODOLOGIA

A usina analisada é a Usina de Triagem e Compostagem P Sul no Distrito Federal,


que tem o título de maior da América Latina. Como metodologia utiliza-se a observação
sistemática para identificar as condições de trabalho. Por meio de um questionário visa-se
identificar o perfil do grupo de catadores e algumas experiências no trabalho. Após essa
etapa, realiza-se a observação das atividades desenvolvidas pelos catadores para identifi-
cação dos riscos envolvidos no processo de trabalho desenvolvido.
Segundo a PDGIRS (2018) a Usina P Sul processa 585 ton/dia e a triagem é feita de
forma manual por organização de catadores via separação mecânica da parcela orgânica e
o processamento da parcela orgânica é realizada em leiras de compostagem.
A recepção dos resíduos sólidos à Usina, provenientes da coleta domiciliar passam
por uma balança rodoviária em que são controladas as cargas. A alimentação das linhas de
produção da Usina é feita por meio de pás carregadeiras, a partir dos resíduos estocados
no galpão de recepção (Figura 3a).
O processamento destes resíduos e a triagem dos materiais recicláveis é feita pelos
catadores enquanto o material passa pelas mesas mecânicas, entre as etapas de separação
e abertura dos sacos de lixo (Figura 3b).
O material processado é transportado para os pátios de compostagem formando leiras
(Figura 4a) e periodicamente é feito o reviramento mecanizado e controle de todo o processo
de compostagem das leiras, visando a manutenção do processo aeróbio, até a maturação/
cura do composto. Todo material rejeitado do processamento é encaminhamento para o
terminal específico, para fins de posterior transferência até o Aterro do Jóquei.

Figura 3. (a) galpão de recepção e (b) triagem dos materiais reciclaveis pelos catadores.

(a) (b)

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O beneficiamento do composto “maturado” por sua vez é realizado através de um
sistema de peneiramento giratório (Figura 4b). Por fim, o composto orgânico passa pelo
controle químico e é estocado até seu posterior carregamento nos caminhões autorizados
para retirada pelo SLU e doado para uso como adubo na agricultura, no reflorestamento e
em pesquisa, entre outras destinações.

Figura 4. (a) leiras de maturação e (b) peneiramento do composto orgânico maturado.

(a) (b)

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os catadores trabalham divididos em duas associações, uma trabalha durando o dia


e a outra toma conta das atividades noturna. A visita foi realizada no período de almoço dos
catadores do turno matutino contando com um total de 21 entrevistados, haviam 15 mulheres
e 6 homens. A idade da maioria acima de 45 anos e mais de 80% do grupo com 1º e/ou 2º
grau completo ou incompleto, como mostrados na Tabela 1.

Tabela 1. Estatística descritiva dos dados socioeconômicos dos 21 catadores.

Variável N %
Gênero
Masculino 6 29
Feminino 15 71
Idade (anos)
Menos de 25 2 10
25-30 3 14
31-45 7 33
45 ou mais 9 43
Escolaridade
Analfabeto ou Semianalfabeto 4 19
1º e/ou 2º Grau incompleto ou completo 17 81

A renda dos catadores (Figura 5) está vinculado apenas ao seu rendimento ao trabalho
visto que só terão lucro em função do material (em geral é papel, papelão, vidro, materiais

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ferrosos e não ferrosos, etc.) que conseguirem extrair do lixo e sua venda posteriormen-
te. A pesquisa mostra que cerca de 20% têm renda abaixo de quinhentos reais mensais
(quase metade de um salário mínimo) e mais 20% recebem entre quinhentos e mil reais
mensais. Os outros 60% conseguem atingir rendas acima de mil reais mensais.
A Norma Regulamentadora 06 (NR, 2017) normatiza as questões relativas à utilização
dos equipamentos de proteção individual (EPIs) destinados a proteger de riscos capazes
de ameaçar a integridade física e a saúde do trabalhador. A NR-6 conceitua o que são os
EPIs, normatiza sua comercialização mediante a exigência de “Certificação de Aprovação”
a ser expedido pelo órgão nacional competente em matéria de segurança do trabalho do
Ministério do Trabalho e Emprego. A norma disciplina as exigências de fornecimento dos
EPIs por parte do empregador conforme os riscos no ambiente de trabalho e em atendi-
mento às peculiaridades de cada atividade profissional desenvolvida. Quanto às atribuições
do empregador, a Norma ainda estabelece as obrigações deste sobre o treinamento dos
trabalhadores para o uso correto dos equipamentos, manutenção e higienização periódicas,
dentre outras medidas que garantam a efetividade dos EPIs (RENNÓ, 2010).

Figura 5. Distribuição de renda dos catadores.

A distribuição dos EPIs aos catadores é feita pela empresa responsável pela Usina,
a Valor Ambiental, que passa às Associações de catadores e, então, os EPIs são repassa-
dos aos catadores para seu uso devido. A Figura 6 mostra quais EPIs os catadores usam
durante o trabalho.

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Figura 6. Equipamentos utilizados no dia a dia pelos catadores.

O contato com agentes biológicos patogênicos (bactérias, fungos, parasitas, vírus) é


possível na medida em que se trata de microorganismos invisíveis e presentes em diversos
materiais; sendo os resíduos sólidos descartados, um ambiente propício para a proliferação.
Dentre as doenças ocupacionais relacionadas ao contato com estes parasitas, as micoses
são as mais comuns, aparecendo mais freqüentemente (mas não exclusivamente) nas mãos
e pés, onde as luvas e calçados, que seriam para a proteção individual - estabelecem con-
dições favoráveis para o desenvolvimento de microorganismos (OLIVEIRA, 2012).
Todos entrevistado disseram usar luvas e capacetes e apenas um entrevistado disse
não usar uniforme e calçado adequado. Alguns EPIs, mesmo disponibilizados, os catadores
optavam por não fazer uso por sentir algum incômodo ou não achar que fossem necessários,
como aventais, máscara de proteção respiratória e proteção de ouvido. O autor não teve
acesso a quais EPIs são disponibilizados aos catadores.
Na Figura 7 estão apresentados as maiores dificuldades dos catadores no ambiente de
trabalho. A maioria disse apresentar cansaço devido às atividades retitivas desenvolvidas e
uma certa desunião dos funcionários causando certo desconforto no grupo.

Figura 7. Maiores dificuldades no ambiente de trabalho.

Diversos tipos de materiais são descartados de forma inadequada no lixo. Segundo


relato de uma catadora, com muitos anos de atividade, diversos acidentes já lhe aconteceu,

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no entanto, ela chama a atenção de um que foi marcante: um furo em sua mão com agulha
de uma seringa que estava passando pela esteira. A Figura 8 mostra tipos de acidentes
corriqueiros durante à atividade.

Figura 8. Tipos de acidentes.

Oliveira (2012) ressalta que cortes com vidro seja o acidente mais comum entre cata-
dores e que as estatísticas deste tipo de acidente são subnotificadas, uma vez que os cortes
de pequena gravidade não são, na maioria das vezes, informados pelos trabalhadores, que
não os consideram acidentes de trabalho. Por outro lado, a adoção obrigatória de sacos
plásticos para o acondicionamento dos resíduos sólidos municipais, com efeitos positivos
na qualidade dos serviços de limpeza urbana, infelizmente amplia os riscos pela opacidade
dos mesmos e ausência de qualquer rigidez que possa proteger o trabalhador. A utilização
de luvas pelo trabalhador atenua, mas não impede a maior parte dos acidentes, que não
atingem apenas as mãos, mas também braços e pernas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em primeiro momento, quando se começa a caminhar na área da Usina já percebe-


-se como é fétido e desagradável o odor que se alastra por toda a área. Há uma série de
riscos em que os trabalhadores estão expostos, seja físico, químico, biológico, ergonômico,
psicossocial e de acidente. O uso inadequado ou o não uso dos EPIs, a falta de atenção no
trabalho, e o cansaço refletem em acidentes e doenças ocupacionais.
Através desta pesquisa, conclui-se que o acidente de maior ocorrência se dá com vidros
e materiais pontiagudos, tratando-se de risco biológico. O uso de luva diminui esse risco,
no entanto, ainda assim, ocorrem acidentes. O contato com o odor e contato direto com os
resíduos, expõe o coletor há vários riscos de contaminação com fungos, vírus e bactérias
causando doenças de pele, como micoses.
Riscos ergonômicos também foram observados, devido à má postura durante a seleção
dos materiais a serem reaproveitados e vendidos. O líder em queixa pelos catadores, os mo-
vimentos repetitivos, causando cansaço físico e mental resultando em estresse, diminuindo
assim, a produção do trabalhador e o déficit de atenção do mesmo, podendo ocasionar em
acidentes de trabalho.

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03
Avaliação ergonômica do setor de corte de
uma confecção de camisas

Edson Terra Azevedo Filho Jessé Carneiro Santos


Universidade Estadual Norte Fluminense Darcy Ribeiro Centro Universitário Maurício de Nassau -UNINASSAU
- UENF

Cristiano Manhães de Oliveira


Josiane Aparecida Cardoso de Souza Universidade Estadual Norte Fluminense Darcy Ribeiro
Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG - UENF

Priscila França Gonzaga Carneiro


Universidade Federal da Paraíba -UFPB

'10.37885/220308075
RESUMO

Considerada umas das mais relevantes fontes de geração de emprego devido ao grande
número de empresas formais e informais, a importância econômica do Polo de confecções
da Zona da Mata Mineira, se faz notório. Deste modo, foi realizada uma avaliação ergonô-
mica no setor de corte de uma confecção de camisaria situada no interior da zona mineira.
Através da pesquisa de campo quantitativa e qualitativa, utilizou-se um questionário adap-
tado contendo dados sobre perfil, condições de trabalho e saúde dos trabalhadores. Além
disso, foi utilizado o mapa corporal de Corllet, o checklist de Couto e a NR 17 para identificar
e analisar os riscos ergonômicos aos quais os funcionários estão envolvidos diariamen-
te. O ambiente de trabalho se mostrou propício no desenvolvimento de doenças ocupacio-
nais como LER/DORT, além de itens que não estão em conformidades com a NR-17, tais
como a necessidade de assentos para descanso e altura da mesa onde se realiza o corte
do tecido. As regiões do corpo com mais queixas foram a região cervical, costas superior e
pernas (direita e esquerda), uma vez que são as regiões mais acometidas no exercício da
função. Sugerem-se mudanças no ambiente de trabalho quanto ao mobiliário, à prática de
exercícios físicos, fisioterapia, além de pausas para descanso ou para o exercício laboral.

Palavras-chave: Ergonomia, Fatores Biomecânicos, LER/DORT.


INTRODUÇÃO

A Ergonomia objetiva aperfeiçoar o desempenho global do sistema e o conforto do


ser humano através da aplicação de princípios, teorias, métodos e dados, relacionando
assim o entendimento das interações entre sistemas ou elementos e os seres humanos
(INTERNATIONAL ERGONOMICS ASSOCIATION, 2017). Uma característica inerente da er-
gonomia é a adaptação do ambiente e do posto de trabalho às características do trabalhador
(PIMENTA et al., 2020). Assim, a análise ergonômica do trabalho visa “entender as exigências
do trabalho e as dificuldades apresentadas pelos trabalhadores” (CARVALHO NETO, 2022).
De acordo com Skaff (2002), estas más condições de trabalho causam problemas
de coluna como lombalgias, dores nas costas, problemas posturais, Lesões por Esforços
Repetitivos (LER), Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT), fadiga,
ansiedade, dentre outros que pode- se categorizar como doenças ocupacionais. DORT e
LER são síndromes ligadas ao trabalho que podem ocasionar sintomas simultâneos ou não,
sendo originados da ligação entre a sobrecarga e o tempo necessário para a recuperação
no sistema osteomuscular (SCHEID et al., 2021).
Assim, é essencial que sejam abordadas constantementes os fatores que afetam de
forma negativa o seu trabalho, podendo ser fatores físicos, organizacionais ou psicológicos
(SILVA et al., 2022). A Norma Regulamentadora 17 (NR 17) visa estabelecer parâmetros
que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos
trabalhadores de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho
eficiente (MINISTÉRIO DO TRABALHO, 2021). Desta forma, a ergonomia é a ciência que
procura investigar a adequação do ambiente e do trabalho aos seres humanos no qual as
tarefas devem ser realizadas (JESUS et al., 2016; MORAES; BASTOS, 2017). Seu propó-
sito é analisar as variadas condições que afetam o desempenho do sistema de produção,
reduzindo os seus impactos nocivos sobre os trabalhadores com o objetivo de oferecer pelo
menos uma maior segurança, saúde e satisfação no decorrer da interação ente estes (IIDA,
2005; CORRÊA; BOLETTI, 2015; BONFATTI; VASCONCELLOS; FERREIRA, 2017).
O presente trabalho objetivou analisar o ambiente ergonomicamente do setor de corte
de uma empresa do ramo de confecção de camisas sociais femininas na Zona da Mata de
Mineira. Para isso foi realizado um estudo qualiquantitativo de caráter explicativo utilizando
procedimentos técnicos de levantamento. Desta forma identificaram-se os riscos ergonô-
micos, as dores causadas pelo trabalho, variáveis antropométricas do respectivo setor, o
risco do profissional de desenvolver LER/DORT e investigações se os mobiliários estão de
acordo com a NR 17 (MINISTÉRIO DO TRABALHO, 2017).

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MÉTODOS

Materiais e métodos

A empresa em estudo se encontra no mercado desde 1994, está localizada em Dona


Euzébia – MG e fabrica roupas na cidade com marca própria e para outras empresas. É com-
posta por 60 pessoas, sendo 55 mulheres e 5 homens, com faixa etária entre 16 a 59 anos.
Pode-se observar que seguindo uma característica da indústria de confecção observada por
Leite (2004), prevalece a presença do sexo feminino.
Os 60 colaboradores são distribuídos nos seguintes setores: financeiro, 2 funcionárias;
produção, 31 funcionários (4 homens e 27 mulheres); modelagem, 1 funcionária; corte, 8
funcionárias; pilotagem, 2 funcionárias e acabamento, 22 funcionários (1 homem e 21 mu-
lheres). Juntos chegam a produzir 9900 peças por mês. A decisão da análise apenas do
setor de corte partiu da gerência, devido a casos de absenteísmo causados por problemas
relacionados à saúde e que, consequentemente prejudicam o setor de corte.
A abordagem da pesquisa é qualiquantitativa, pois traduz em números opiniões e
informações para classificá-las e analisá-las, considerando uma relação dinâmica entre o
mundo real e o sujeito. Quanto ao objetivo da pesquisa, é de caráter explicativo, pois visa
identificar fatores colaborativos ao determinar a ocorrência de fenômenos, aprofundar o
conhecimento da realidade, utilizar procedimentos técnicos de levantamento, envolvendo
interrogação direta das pessoas cujo comportamento se deseja conhecer.
É importante ressaltar que o desenvolvimento desta pesquisa foi consentido tanto pela
direção da empresa que documentou por escrito um termo de autorização, quanto pelas
funcionárias que se disponibilizaram e tiveram enorme satisfação em participar.
Foi solicitado a todos os participantes da pesquisa que lessem e assinassem um Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) respeitando assim os cuidados éticos legais
de acordo com a resolução nº 466 Conselho Nacional de Saúde 2012 no TCLE.

Amostra

A pesquisa foi realizada no setor de corte da empresa composto por oito funcioná-
rias. As características amostrais dos dados antropométricos como: idade, peso, altura,
Índice de Massa Corporal (IMC) e do tempo de serviço foram coletados e calculadas as
médias () e os desvios-padrão (s).

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Instrumentos de pesquisa

Para verificação dos parâmetros antropométricos utilizou-se uma balança (Filizola


Brasil) para aferir o peso em quilogramas (Kg) com precisão de 0,1 kg e um estadiômetro
(Sanny, Brasil) para verificação da estatura (cm) com precisão regulada em 0,1 cm. Sendo
estas coletadas seguindo as recomendações sugeridas por Gordon et al. (1988) e WHO
(1998). O Índice de Massa Corporal (IMC) que é obtido por meio do quociente entre a
massa corporal (Kg) e a altura ao quadrado (m²) do indivíduo, possibilita analisar como os
trabalhadores estão classificados (baixo peso, eutrófico, sobrepeso, obesidade I, II ou III)
e se estão dentro dos índices considerados desejáveis pela American College of Sports
Medicine (ACSM,1995).
Foi utilizado o checklist de Couto (1995) para avaliar o risco de o profissional desenvol-
ver LER/DORT. O checklist contém 25 perguntas relacionadas à sobrecarga física, postura
no trabalho, posto de trabalho, repetitividade, etc., e ao final é realizado o somatório das
respostas que fornecem os dados para a interpretação do risco que varia desde ausência
de risco até alto risco dos fatores biomecânicos.
Um diagrama de mapa corporal Corllet (1995) foi utilizado para que os funcionários
pudessem especificar em quais segmentos do corpo sentiam mais dores, com que inten-
sidade (nenhum, algum, moderado, bastante, intolerável), e o período que sentiram dores
(30 dias, últimos 12 meses).
O questionário de Teixeira (2012) foi devidamente adaptado de acordo com os ob-
jetivos da presente pesquisa, onde se estudou dados sócio-demográficos (sexo, idade);
caracterizações das demandas das cargas de trabalho (função, tempo de trabalho, duração
da jornada, pausas); perfis de condições de saúde (queixas de desconforto relacionado ao
trabalho). Por fim, foram realizadas investigações quanto ao cumprimento da NR 17 em
relação aos mobiliários, equipamentos, ferramentas, organização do trabalho, entre outros,
que se fazem necessários para melhorias das condições de trabalho. Nesta pesquisa foram
utilizados os métodos de estatística descritiva, questões úteis para a apresentação e sinte-
tização dos dados. As análises estatísticas e os gráficos foram confeccionados no software
computacional Excel 12 para Windows.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Identificação dos Riscos Ergonômicos no Setor de corte de uma Confecção de


Camisarias em Dona Euzébia – MG

Esta é a primeira etapa na fabricação de roupas. No setor de corte é o local onde os


tecidos são estendidos em camadas completamente planas e alinhados a fim de serem
cortadas em pilhas (enfesto). Depois de realizado o enfesto, é posicionado sobre ele o risco
marcador de corte (encaixe dos moldes) para o qual foi programado. O operador de corte,
guiando-se pelos traços dos moldes registrados, realizará o corte do enfesto através de uma
máquina de corte, permanecendo todo o tempo em pé, conforme mostra a figura 1.

Figura 1. Realização do corte das peças por uma daws funcionárias.

Fonte: Própria (2019).

A NR 17 considera que para as atividades em que os trabalhos devam ser realizados de


pé, devem existir assentos para descanso em locais em que possam ser utilizados por todos
os trabalhadores durante as pausas. O que não é o caso do setor de corte desta empresa
conforme observado o ambiente de trabalho e em um questionamento com os funcioná-
rios. A mesa onde se realiza o corte encontra-se de altura inadequada, sendo muito baixa, e
de acordo com a NR 17, no tópico a de 17.3.3, as bancadas, mesas e escrivaninhas devem
“ter altura e características da superfície de trabalho compatíveis com o tipo de atividade”.
Iida (2005) afirma que a altura recomendada para as superfícies horizontais de trabalho com
precisão, na posição de pé, deve ser ao nível dos cotovelos, deste modo o trabalhador poderá
ficar com as costas eretas e os ombros relaxados. Em outros estudos envolvendo outras
profissões também foram verificados que mesas, bancadas e equipamentos estavam com
alturas inadequadas à altura do manipulado, tais como de Vieira (2022) em um açougue de
supermercado e de Souza et al. (2021) em laboratórios dos cursos de saúde e da cozinha
do curso de gastronomia.
Uma questão das mesas de corte é a largura do enfesto e a distância do alcance do
trabalhador em manipular a máquina de corte quando ultrapassam mais da metade desta

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largura, impossibilitando mudar de lado na mesa. Esta exigência não permite que a mesa
fique na altura “ideal” quando se usa uma cortadora manual. Esse tipo de postura ocasiona
desconforto, bem como possíveis lesões dos nervos. Tal problema também foi identificado
no trabalho de Barros et al. (2015) também no setor de corte de uma confecção na cidade
de Caruaru em Pernambuco.
No estudo de Silva e Tosetto (2009) realizado no setor de corte de uma confecção de
roupas íntimas, foi verificado que a carga física de trabalho está condicionada à inadequa-
ção do espaço de trabalho. Ainda nesse estudo, o plano horizontal de trabalho não atende
às recomendações para o trabalho de precisão, fato que condiciona as posturas adotadas
pela operadora. Desta forma a função de cortador tem como riscos ergonômicos a postura
desconfortável para realização do serviço, movimentos repetitivos e levantamento de peso.
O uso da máquina elétrica e tesouras para o serviço de corte do tecido faz com
que o cortador tenha que assumir diversas posições incômodas para alcançar as partes
a serem cortadas.

Caracterização da Amostra para análise Antropométrica e tempo de serviço

Na Tabela 01 apresenta-se uma sucinta descrição estatística do setor de corte conten-


do os valores de média, desvio padrão e os valores máximos e mínimos para as variáveis
levantadas referentes às oito funcionárias que compuseram a população desta pesquisa.
Como se pode observar, a idade das funcionárias do setor de corte variou entre 30 e 40
anos (36,87±3,10 anos).
O peso mínimo foi de 56 kg e o máximo de 69 Kg (62,8±4,5 kg), já a altura variou entre
1,54 e 1,66 m (1,6±0,04 m). Com estes dados é possível calcular o índice de massa corporal,
sendo uma ferramenta de classificação do estado nutricional para desenvolver campanhas
proporcionando a prevenção de sobrepesos e reduzir a subnutrição. Assim, calculou-se o
IMC, que variou entre 22,7 e 26,5 kg/m² (24,4±1,1 kg/m²).
Para o American College of Sports Medicine (ACSM, 1995) o IMC é considerado desejá-
vel e saudável para valores entre 18,5 e 24,9 kg/m², tanto para homens quanto para mulheres.
Pode-se afirmar, portanto que alguns dos funcionários deste setor (mais especificamente 3)
não se encontram dentro da faixa desejável, possuindo peso acima do normal. O tempo de
serviço variou de 1,0 a 14 anos (3,7±3,9 anos).

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Tabela 1. Estatística Descritiva para uma amostra de oito funcionários no setor de corte.

Idade Peso Altura IMC Tempo de serviço


Estatística
(anos) (kg) (m) (kg/m²) (anos)
Média 36,9 62,8 1,66 24,4 3,7
Desvio Padrão 3,1 4,5 0,04 1,1 3,9
Máximo 40 69 1,71 26,5 14
Mínimo 30 56 1,56 22,7 1,0
Fonte: Própria (2019).

Análises do Questionário de Investigação Profissional adaptado (TEIXEIRA, 2012)

Para avaliação do questionário, responderam oito funcionários (100%) que compõem o


setor de costura, sendo todos do sexo feminino. O turno da confecção é das 7h às 17h30 de
segunda-feira à quinta-feira, das 7h ás 16h30min na sexta-feira, com intervalo para almoço
das 11h das 12h30min, totalizando 44 horas semanais. Existem ainda duas pausas formais
durante a jornada: café da manhã (da 9h às 9h10min), e o café da tarde (das 15h30mim às
15h40min). Em épocas de grandes encomendas são realizadas horas extras noturnas e nos
sábados, e que às vezes, são utilizadas como banco de horas para compensar os dias úteis
entre feriados e final de semana, quando os trabalhadores são dispensados do trabalho.
Todas as oito funcionárias que compõem este setor responderam que trabalham de
oito a dez horas diárias na posição em pé. Este resultado pode ser explicado pela política
trabalhista nacional de 8 horas diárias e de 44 horas semanais, conforme demonstra o
guia trabalhista do Portal Tributário. Conforme observado na análise pela NR 17, o setor
de corte exige maior esforço físico para alcançar alguns pontos sobre a mesa, que estão
além de seu alcance, inferindo maior flexão da coluna. E neste estudo, dentre 100% das
funcionárias que trabalham no setor de corte, todas responderam possuir flexibilidade em
seus postos de trabalho.
O cálculo de impacto do absenteísmo na produção também foi estimado consideran-
do o potencial de trabalho dos funcionários faltosos, durante o período de produção das
peças. O custo relacionado a 418 peças defeituosas, a 1217 peças com pedidos cancela-
dos pelo cliente, aos pedidos não faturados por falta de um tamanho ou cor, grande parte
desses custos tem relação direta com a ausência de ergonomia, portanto, a correção das
inconformidades traria benefícios à medida que minimizaria os custos relacionados aos
problemas. Pausas como ir ao banheiro, beber água, descansar são realizadas por todas
as funcionárias do setor de corte. Verifica-se que no setor de corte 50% das funcionárias
afirmam não sentirem satisfação na posição de trabalho.

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Diagrama de Corllet (1995)

Entre os entrevistados no setor de corte, 100% dos colaboradores responderam que


já sentiram dores devido às atividades de seu trabalho. Verificou-se que nos últimos 30
dias, os funcionários do setor sentiram desconforto e dores no corpo, sendo as queixas
relacionadas á região cervical, nas costas superiores e nas pernas compondo cada uma
em 25%. No estudo de Silva, Silvano e Souza (2018), também no setor de corte de uma
confecção, as dores também eram prevalentes na região cervical e nas pernas, além do
pescoço. O que provavelmente deve ser em virtude das atividades exigirem longo período
em pé e posições inadequadas para realização do corte. No estudo de Souza et al. (2018)
em um setor de acabamento em uma confecção de camisaria, as dores ocasionadas pelo
trabalho foram afirmadas por 68% dos funcionários, e em Souza, Gonzaga e Filho (2018)
em um setor de produção em uma confecção de camisaria foram confirmadas por 60%
dos funcionários e 40% afirmaram sentir desconforto.

Análise Do CheckList Couto (1995)

Através do Checklist de Couto (1995) foi diagnosticado no setor de corte um somató-


rio de 16 pontos, o que se refere a um fator biomecânico muito significativo, representando
alto risco de os colaboradores desenvolverem doenças ocupacionais como LER/DORT.
Percebeu-se na avaliação de postura de trabalho, que os colaboradores deste setor são
submetidos a movimentos e esforços repetitivos no corte dos tecidos (esforços com as mãos)
e inclinações para realização do corte.
A força realizada com as mãos é muito intensa, devido o controle de um equipamento
elétrico pesado e com uma lâmina afiada que realiza o corte do tecido. No estudo de Souza
e Filho (2017) o operador de checkout possui um alto fator biomecânico significativo, obtendo
13 pontos, onde os maiores índices foram a postura no trabalho, sobrecarga física, repeti-
tividade e força com as mãos. Desta forma percebe-se a similaridade entre as atividades,
exigindo-se principalmente as mãos e alto nível de repetitividade. Nos estudos de Souza et al.
(2018), as dores prevalentes eram nas costas superior e pescoço, já em Souza, Gonzaga
e Filho (2018) as dores prevalentes eram nas pernas e em França, Silvano e Souza (2018),
as queixas de dores são nos ombros e na coluna lombar.

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CONCLUSÃO

O ambiente de trabalho se mostrou propício no desenvolvimento de doenças ocupa-


cionais como LER/DORT, visto que o Checklist de Couto (1995) obteve elevada pontuação,
demonstrando alto risco biomecânico, reforçando a necessidade de assentos para descanso.
A atividade de corte exige postura em pé, conforme afirmaram as funcionárias, em que
50% delas trabalham sempre em pé, e as outras 50% trabalham menos sentado mais em
pé. Sendo as maiores queixas de dores relacionadas são a região cervical, costa superior
e pernas (direita e esquerda) e foram relatadas por 100% das funcionárias.
Assim, fazem-se necessárias mudanças no ambiente de trabalho tais como inserção de
assentos para descanso, troca da mesa, além de providências que podem influenciar na saú-
de das funcionárias de maneira benéfica, como por exemplo, a ginástica laboral. De acordo
com Silva (2009) uma maneira de prevenir as doenças de trabalho conhecidas como LER e
DORT é com a ginástica laboral que visa a promoção da saúde e do colaborador. A ginás-
tica laboral é uma alternativa econômica, e bastante eficiente, e tem o intuito de melhorar a
qualidade de vida dos funcionários.
Adotar medidas preventivas é importante, pois estas mitigam o desenvolvimento de
doenças ocupacionais, preservando assim a saúde do funcionário, e a empresa também se
beneficia com maior produtividade e melhor qualidade de seus produtos, juntamente com a
redução de gastos com absenteísmo. Como limitação desse estudo teve-se a impossibili-
dade de aplicar as medidas da NR 17, tais como inserir banco de assentos para descanso
e altura da mesa, sendo necessária a aprovação por parte da gerência.

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Patos, 2022.

27. WHO-WORLD HEALTH ORGANIZATION. Obesity: preventing and managing the-


global epidemic. Report of the WHO Consultation on Obesity. Geneva:World Health
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04
O redesign de apoio de pés ergonômico:
uma avaliação sobre os aspectos de
agradabilidade e experiência do usuário

Juliana Fernandes Pereira


UNESP

João Eduardo Guarnetti dos Santos


UNESP

'10.37885/211106578
RESUMO

Introdução: O sedentarismo é um dos fatores de risco mais proeminentes à saúde dos


indivíduos, podendo ocasionar complicações ou surgimento de patologias, como doenças
vasculares periféricas. Este estado pode ocorrer devido à conservação de mesma postura
por longos períodos, que geralmente se dá pelas extensas cargas horárias, podendo implicar
em problemas musculares e circulatórios. Contudo, havendo a modificação desta postura,
seja por meio de atividades físicas ou pelo auxílio de produtos ergonômicos que permitam a
movimentação adequada, garantindo alternância na musculatura, principalmente se tratan-
do dos membros inferiores, torna-se possível proporcionar melhorias na movimentação da
articulação talocrural, bem como no bombeamento sanguíneo, auxiliando o retorno venoso.
Objetivo: o presente estudo focou na necessidade em compreender e avaliar a experiência
do usuário, para que seja possível, por meio do redesign, produzir novos protótipos de apoios
de pés. Método: foi aplicado um questionário online a usuários de apoios de pés, cujas
questões se baseavam nos quesitos relacionados à percepção quanto aos termos ‘agrada-
bilidade’ visual e estética de produto para aquisição e uso. Resultados: Com a análise de
resultados, foi possível verificar características a serem aprimoradas para o redesign de dois
novos protótipos, a fim de possibilitar melhorias quanto: os aspectos visuais, ergonômicos,
de retorno venoso e da mobilidade talocrural.

Palavras-chave: Redesenho, Vascular, Ergonomia, Agradabilidade.


INTRODUÇÃO

As consequências do sedentarismo podem atuar de modo direto no bem estar e saúde


dos indivíduos, provocando o surgimento ou o agravamento de patologias diversas (MALM
et al., 2019). Quando ocorre o prolongamento na permanência de mesma postura, princi-
palmente a sentada, costumeiramente exercida pelos trabalhadores durante as extensas
cargas horárias, de acordo com Iida (2016), pode acarretar na contração prolongada da
musculatura da panturrilha, que é considerada o coração periférico do corpo humano, e por
consequência, no estrangulamento dos capilares. Tal condição deve ser sempre evitada,
por meio de modificações posturais e realização de movimentos ou exercícios adequados,
a fim de não ocasionar problemas para a saúde dos membros inferiores e geral.
Um dos movimentos ideais para evitar o estado de contração prolongada da musculatu-
ra, de acordo com a pesquisa de Campos et al. (2008), é a movimentação alternada e ativa
dos membros inferiores, pois a mesma produz resultados de maior eficiência, se comparada
com outros tipos de movimentação como os passivos ou o repouso. E isto se dá devido à
ativação da panturrilha nos movimentos de contração e relaxamento, servindo como uma
bomba para o retorno venoso.
Deste modo, tendo ciência da problemática apontada quanto a permanência em pos-
tura sentada, pensando neste tipo de movimentação mais eficiente, foi desenvolvida a ideia
inicial, a criação de um dispositivo mecânico para minimizar efeitos negativos para a saúde
dos membros inferiores durante a postura sentada. Isto foi possível pelos estudos da grande
área do design e seus braços primordiais como a ergonomia e suas ramificações nas áreas
físicas e cognitivas. Desta forma, um novo protótipo de apoio de pés de movimentação ativa
foi desenvolvido para possibilitar melhorias quanto retorno venoso e mobilidade talocrural,
entretanto, ainda devem ser realizadas determinadas melhorias, pois o protótipo original não
levou em consideração os aspectos subjetivos de percepção e experiência dos usuários.
A partir disto, nesta nova etapa de pesquisa, foi aplicado um questionário eletrônico
online para 122 indivíduos usuários de apoios de pés, a fim de compreender a relação
sistêmica entre usuário-objeto, no intuito de considerar, no redesign e desenvolvimento de
projeto, as características positivas provindas das experiências pessoais em questões vol-
tadas à percepção, agradabilidade visual, estética e demais preferências no uso e interação
com o produto, atendendo as necessidades do próprio usuário e possibilitando um produto
funcional, belo e eficiente.

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A IMPORTÂNCIA DA MOVIMENTAÇÃO ATIVA DOS MEMBROS INFE-
RIORES DURANTE A PERMANÊNCIA DA POSTURA SENTADA

Prolongar a permanência na postura sentada sem as modificações adequadas ou


sem as realizações de exercícios físicos ativos laborais, seja durante as tarefas de trabalho
ou nas práticas de lazer, pode acarretar em diversos problemas e patologias voltadas às
áreas musculares e circulatórias, sendo percebidos por meio de sinais ou sintomas. Esta
permanência pode originar ou agravar patologias, principalmente em relação aos membros
inferiores (MMII), tornando-se um grande fator de risco para o desenvolvimento ou agra-
vamento de condições como a hipertensão do sistema venoso, a doença venosa crônica
(SILVA, NAHAS, 2008; SANTOS et al., 2009).
A doença venosa crônica é causada pela incompetência valvular. Todavia, é impres-
cindível a realização adequada de movimentos alternados da musculatura dos membros
inferiores, principalmente a panturrilha, para evitar tal estado de hipertensão venosa, no
intuito de possibilitar melhorias quanto ao volume de sangue dos vasos e capilares, trazen-
do boa irrigação local (IIDA, 2016). A panturrilha possui tamanha importância nesta relação
com o exercício ativo e melhorias nos membros inferiores, pelo fato de ser considerada
o coração periférico do corpo humano. Ela, segundo Alberti et al. (2010) é ativada pelos
movimentos de contração e de relaxamento, que permitem o bombeamento do sangue
novamente para o corpo.
Estudos de Campos et al. (2008) mostram que a movimentação ativa dos MMII na
permanência da postura sentada, é mais eficaz em relação ao retorno venoso, em compa-
ração ao movimento estático, conhecido como o estado de repouso, ou movimento passivo,
realizado por meio de aparelhagens eletrônicas. Isto se dá, devido ao fato de que a própria
movimentação do indivíduo ativa, de modo mais eficiente, a musculatura da panturrilha,
possibilitando, por conseguinte, a diminuição da incidência de estase venosa. E isto tam-
bém foi demonstrado na pesquisa de Pereira, Guarnetti, Bertanha (2019), pela diminuição
na volumetria dos membros inferiores dos colaboradores de uma empresa que realizaram
a movimentação ativa, desta vez, com um apoio plantar, sendo comparado aos membros
inferiores dos indivíduos que realizaram repouso durante o expediente de 8 horas.

O REDESIGN DE UM APOIO DE PÉS ERGONÔMICO QUE POSSIBILITA


A MOVIMENTAÇÃO ATIVA

O design tido como uma atividade desenvolvedora de produtos ou projetos, elucidada


por Cardoso (2013), deve proporcionar por meio de instrumentos metodológicos e estudos,

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melhorias em seus produtos, visando o desenvolvimento e inovação de conceitos, pesquisas,
modelos, protótipos, mock-ups e esboços.
A fim de se obter melhorias em produto, torna-se imprescindível acrescentar os estudos
em ergonomia, no intuito de gerar o aperfeiçoamento das funções e dos elementos globais
de sistema usuário-produto, bem como do bem-estar e da qualidade de vida, e isto pode ser
realizado por meio da inserção e busca de novas informações, dados, aplicação de teorias,
etc. (ABERGO, 2000). Agregando às pesquisas de desenvolvimento de projeto os estudos
ergonômicos, segundo Iida (2016), considera-se possível o aprimoramento de questões
como segurança, a satisfação, a eficiência nas tarefas ou atividades que solicitem o uso do
produto ou projeto em design, além de proporcionar benfeitorias nos aspectos salutares dos
indivíduos usuários deste sistema. Um exemplo desta inserção de melhorias dá-se pelas
análises ergonômicas, em situações do cotidiano, no intuito de aperfeiçoar aspectos que
envolvem o cognitivo, o físico e até mesmo a área organizacional, proporcionadas por um
posto de trabalho ergonômico ou pelo redesign de produtos ou projetos.
Os estudos na área da ergonomia cognitiva também auxiliam na compreensão de
quesitos essenciais para o planejamento de projeto, principalmente voltados à experiência
do usuário como o conforto e agradabilidade visual, que facilitam o entendimento do meio e
da realidade em que o usuário está inserido, transformando futuras relações sistêmicas em
novas experiências de caráter positivo.

O redesign e sua eficiência

Os processos em design podem envolver equipes, exercícios e estudos multidiscipli-


nares em diversas áreas e tecnologias, permitindo a compreensão de problemas e soluções
diversificadas para projetos ou produtos (FERRO; HEEMANN, 2019). Um dos variados
exercícios propostos pelos estudos na área do design para promover este progresso de
desenvolvimento de produtos, é o chamado “pensar design”. Sua prática de criação deve
possibilitar ao usuário de produtos as sensações de caráter positivo no uso do objeto (SILVA;
PASCHOARELLI, 2010).
A ergonomia ou fatores humanos, área correlata ao design, também deve estar presente
na prática dos estudos criativos, e desenvolvedores, trabalhando os aspectos fisiológicos e
cognitivos, a fim de refletir positivamente no bem viver, nas relações de sistemas, bem como
na saúde dos usuários. (OLIVEIRA; FERREIRA, 2019).
Estes aspectos positivos visados na criação e desenvolvimento estão relacionados à
eficiência de projeto ou produto. Estes estudos que visam a eficiência devem estar volta-
dos àquilo que o usuário necessita, sendo essencial lidar junto a todos os cuidados éticos,
funcionais, estético e sociais da interação do usuário com o objeto projetado. Torna-se

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importante salientar e trabalhar tais fatores, devido à linha tênue na relação entre o consu-
mo e o descarte de produto, pois a não adequação de forma, estilo e de funcionalidade na
realidade em que o usuário está inserido, pode se tornar razão de abandono do produto,
pela ineficiência ou inutilidade do objeto (FRISO, LANDIM, SILVA, 2018). Desta maneira, o
redesign ou redesenho, tem como função trazer a esta atualização, algumas questões que
envolvem novas formas de desenvolvimento de projeto, que visam a inovação de produto,
estudo da estética na modernização de estilos ou até mesmo substituição de peças para
melhorar a eficiência nas relações de uso, evitando o descarte.
Para um bom redesign, os aspectos que descendem dos estudos do ramo da ergono-
mia são essenciais para análises e seu redesenho, tais como: antropometria, biomecânica,
interface homem x máquina ou objeto, aspectos que garantam conforto, segurança do projeto,
etc. E junto deles, deve-se considerar a subjetividade na relação do usuário com o produto
como a experiência do usuário, satisfação, eficiência e agradabilidade do produto.
No design, o termo cunhado como “agradabilidade” foi desenvolvido por Jordan (2001),
e se dá nas interações das variáveis dos prazeres físicos, cognitivos e sociais, pelo contato
e manuseio de determinado produto, e não somente por sua característica como objeto.
Silva (2018) explica que a informação provinda da experiência da agradabilidade também
pode se relacionar com os aspectos emocionais do usuário avaliado perante a sua vivên-
cia com o produto.
A experiência de usuário está intrinsecamente relacionada com questões subjetivas
como agradabilidade sobre um produto de design. Cardoso (2013) afirma que ela pode ser
indicada pelo usuário por meio de seis itens primordiais, sendo três relacionados ao material
do produto: 1) o uso de produto; 2) seu entorno; 3) durabilidade; e três correlacionados à
prática cognitiva na percepção da interação com o objeto: 4) o ponto de vista do usuário;
5) seu discurso; 6) sua experiência com o produto. Vale ressaltar que os aspectos cogniti-
vos podem ser alterados de acordo com as variações de cultura, opinião e sua experiência
pessoal (SILVA, 2018). Além de que o valor simbólico atribuído a um objeto específico
pode ser também considerado um aspecto subjetivo relevante fornecido pelo usuário. Desta
forma, torna-se imprescindível compreender que questões como a agradabilidade devem
ser consideradas no processo de pesquisa de redesign de produto, a fim de que possibilite
novos parâmetros e visões que integrem a experiência do usuário, na finalidade de pro-
porcionar resultados positivos, a eficiência de projeto, melhorando, assim, a interação do
sistema usuário-objeto.

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Novos protótipos de movimentação ativa

Por meio de levantamento de dados, feitos em pesquisas anteriores, realizadas pelos


autores, foi possível desenvolver um apoio de pés mecânico de movimentação ativa dos
membros inferiores. Este projeto e estudo foram aplicados a um grupo de trabalhadores de
uma empresa da cidade de Bauru no estado de São Paulo, que permaneciam por longos
períodos na postura sentada. O propósito do desenvolvimento do protótipo baseou-se na
possibilidade de gerar melhorias quanto o retorno venoso, mesmo durante a permanência
em postura sentada. Entretanto, os aspectos estéticos, simbólicos e de relação sistêmica
entre usuário e produto nos quesitos: agradabilidade, experiência do usuário, satisfação e
eficiência, não foram visados ou desenvolvidos de modo adequado.
O protótipo possui registo pela Agência Unesp de Inovação – AUIN com o título:“Apoio
de pés mecânico com movimentação ativa”, depositado na data de 07/11/2019 como privi-
légio de inovação pelo número do registro: BR10201902342 e Instituição de registro: INPI
- Instituto Nacional da Propriedade Industrial. Os fatores ergonômicos sobre medidas como
altura, angulação para a movimentação articular, foram trabalhados, todavia, a forma e es-
tética foram as lacunas deixadas para o aprimoramento posterior.

Figura 1. Primeira ideia de protótipo de apoio de pés de movimentação ativa.

Fonte: os autores (2019).

Em relação ao resultado da análise do uso do protótipo original em seus aspectos


funcionais, obteve-se a informação de que o uso possibilitou na diminuição da volumetria
dos membros inferiores comparados aos membros inferiores que não o utilizaram, durante
o período de 8 horas, ou um dia de jornada de trabalho. A compressão muscular ativa da
panturrilha possibilitada pela movimentação no protótipo foi considerada o fator que resultou
em uma melhora significativa do retorno venoso pela ocorrência da diminuição da estase
venosa dos membros inferiores.

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A partir deste protótipo original, deverão ser desenvolvidos dois novos diferentes dis-
positivos que detenham a mesma função da movimentação ativa dos membros inferiores,
entretanto, com um redesign que atenda às necessidades e expectativas dos usuários, a
fim de serem aplicados em indivíduos com graus mais avançados da doença venosa.

O estudo antropométrico no desenvolvimento dos protótipos

Para um redesign eficiente, é importante compreender as áreas incorporadas à ergo-


nomia, utilizando-se das ferramentas e estudos disponíveis como os dados antropométricos,
estudos fisiológicos, cognitivos, biomecânicos, de engenharia, de desenho industrial, etc.,
para então realizar as observações, de modo mais técnico e objetivo, do usuário em atividade
ou em uso com produto (OLIVEIRA; FERREIRA, 2019).
O manual Ergokit criado pelo Instituto Nacional de Tecnologia e Ministério da Ciência
e Tecnologia no ano de 2008 detém informações a respeito das medidas antropométricas
estabelecidas em limites mínimos e máximos, de acordo com o percentil de 5 a 95, ou em
outros casos, pelas situações que exigem uma precisão superior, o ajuste de um projeto
pode agregar do percentil 2,5 a 97,5 da população que faz o uso de um produto específico.
Para apoio de pés, é ideal que a altura do produto seja regulável de acordo com a altura do
assento que o usuário se utiliza ao sentar, tendo esta medida entre 0 a 22 cm. Entretanto,
para mulheres percentil 5, a altura poderá chegar a 28 cm. Já a inclinação da superfície do
objeto em contato com os pés pode variar entre 15 a 25 graus em relação à horizontalidade
do chão, permitindo também esta variação pelos ajustes de altura da mesa e cadeira. Em re-
lação aos pedais para movimentos circulares dos tornozelos, segundo estudos do Ergokit,
a angulação talocrural, na flexão e extensão do tornozelo, também deve seguir padrões
pré-estabelecidos de acordo com a coleta de dados. Para haver o conforto na inclinação,
recomenda-se a angulação entre 25 a 30 graus, sendo um limite de 25 graus, 10 graus para
a flexão e 15 para a extensão.
Compreendendo a importância dos fatores que auxiliam no bom desenvolvimento e efi-
ciência de um produto para sua relação com o usuário, foram criados alguns modelos virtuais
em software 3D pela facilidade proporcionada pela modelagem, e no intuito de gerar novas
ideias em design para o apoio de pés de movimentação ativa. Estes modelos são esboços
para o estudo de possibilidades em relação à forma e volume, não se prendendo, neste
patamar, nos estudos de materiais e função como angulação e medições antropométricas.

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Figura 2. Redesign dos formatos para possíveis bases de apoios de pés.

Fonte: os autores (2020).

Os seis formatos modelados foram enumerados para facilitar a identificação nas res-
postas fornecidas pelos participantes do questionário do presente estudo.

METODOLOGIA

A pesquisa de caráter exploratória foi obtida por meio de um questionário eletrônico


online que teve como finalidade observar as particularidades na relação sistêmica entre
o usuário de apoios de pés e o próprio produto. Este levantamento de dados por meio do
questionário teve como proposição, a apresentação de questões abertas de cunho qualitativo
para promover o discurso e opinião do usuário, e questões fechadas e objetivas de múltipla
escolha, para garantir resultados quantitativos em sua generalidade.
O questionário eletrônico foi disponibilizado nas redes sociais em grupos de empresas
variadas para a obtenção de dados, entretanto só foram contabilizadas as respostas dos
indivíduos que faziam uso de apoios plantares, sendo o critério de inclusão para a partici-
pação na pesquisa.
As questões propunham a identificação dos aspectos de agradabilidade e de satisfação
do usuário relacionando memória, experiência e percepção às imagens apresentadas como
sugestões do redesign para base a apoio plantar, baseando-se nos três itens cognitivos ex-
postos por Cardoso (2013): o ponto de vista do usuário, seu discurso e sua experiência com
produto, a fim de, a partir desta análise, ser realizado o redesign do protótipo original, por
meio da modelagem e prototipagem rápida. É importante frisar que a satisfação de produto
em uma visão particular de um usuário pode ser tida como subjetiva, contudo, na visão de
múltiplos usuários, torna-se dado objetivo para o sistema (WILSON, 2010).

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Foram consideradas na coleta de dados, respostas objetivas dadas em determinadas
questões para o entendimento geral, em caráter quantitativo, segundo o ponto de vista do
usuário de acordo com o item sugerido por Cardoso (2013), e respostas descritivas, para
a compreensão das experiências dos usuários e seu discurso, itens também sugeridos, no
intuito de absorver informações qualitativamente.
Inicialmente, foram solicitadas as informações básicas do perfil dos participantes, em
perguntas abertas como idade e gênero e em seguida, um breve relato sobre a experiência
prévia com o uso de apoios de pés, englobando o tempo de uso diário e motivo de uso.
Posteriormente, por meio de perguntas objetivas de múltipla escolha, foram solicitadas as
indicações quanto as preferências nos quesitos estética e agradabilidade visual, detalhados
em cores e formatos, e além disto, também foi solicitada a explicação discursiva no intuito
de justificarem suas escolhas, bem como a definição do grau de satisfação em relação às
novas imagens apresentadas e enumeradas de apoios de pés, visando elucidar quais seriam
as características ideais a serem aplicadas em um bom projeto, e quais os fatores que de-
sagradam no uso e interação. Adquirindo os resultados na coleta, foi realizada uma análise
qualiquantitativa em relação aos atributos fornecidos para o redesign de apoio de pés.
As demais análises quanto aos tipos de material do produto, deverão ser estudadas
posteriormente, durante a criação e desenvolvimento e avaliados após a impressão dos pro-
tótipos, para avaliação de resistência de material, e de da eficácia quanto à funcionalidade.
Deste modo, procurou-se identificar aspectos passíveis de suprir nos seguintes processos
de desenvolvimento de produto ergonômico, a qualidade e agradabilidade dos protótipos.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A avaliação conduzida por meio do questionário eletrônico foi aplicada a 122 indivíduos
usuários de apoios de pés, com idades entre 20 a 75 anos. A maior parte das respostas foi
indicada pela faixa etária entre 20 a 35 anos correspondendo a 66% dos participantes da
pesquisa; 35 a 50 anos indicando 27,1% e 6,9% entre 50 a 75 anos.
O tempo de uso do produto foi indicado por meio de uma questão aberta, em horas
diárias no questionário, sendo obtida uma média de 8 horas como resposta, estando 84,43%
(ou 103 participantes) das respostas relacionadas à carga horária de trabalho, jornada va-
lidada pelas regras estabelecidas na legislação trabalhista- CLT- Consolidação das Leis do
Trabalho (BRASIL, 2017). Para esta afirmação, foi solicitada a descrição do principal motivo
de uso, e como resposta, obteve-se que os motivos se deram em sua maioria devido ao
trabalho em escritório, pelas longas permanências na postura sentada à frente de um com-
putador, e 15,57% utilizando também em atividades de lazer.

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Quanto à estética para melhor compreensão da agradabilidade visual dos participantes,
foram apresentadas seis imagens enumeradas (Figura 2) consideradas esboços virtuais,
que foram criadas para estudos e definições de volumetria e forma, feitos no software de
modelagem 3D SolidWorks 2017. Este é um dos programas computacionais disponíveis
pelo mercado que possuem recursos de exportação dos arquivos em formatos variados,
para prototipagens rápidas nas impressoras 3D. E a partir desta imagem, foi solicitada a
avaliação por parte dos participantes.
As respostas de três questões objetivas, e de uma questão aberta foram apresenta-
das por meio do infográfico representado pela Figura 3, apresentando o resumo dos dados
recebidos. A primeira delas baseando-se no estilo principal para o formato ideal de uma
base de apoio para pés, a segunda relacionada às cores, a terceira solicitava a indicação
de notas para os seis formatos, e a questão aberta demonstrada pelo infográfico solicitava
a descrição de termos ou características ideais para a base.

Figura 3. Infográfico contendo respostas do questionário aplicado.

Fonte: os autores (2020).

A preferência dos usuários, segundo a primeira questão apresentada no infográfico,


baseou-se nas escolhas de formatos mais livres e orgânicos, apresentando curvas que não
se restringem às formas habituais de apoios de pés disponíveis no mercado. A modelagem
e a fabricação digital por meio de softwares, segundo Moriggi (2021), facilita a criação de

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novos desenhos e a materialização de ideias. E esta facilidade na criação também engloba
a possibilidade de se explorar mais formatos orgânicos, que por meio da modernização das
formas de criação e produção, já não é mais um empecilho para a reprodução. Entretanto,
formas mais complexas apenas solicitam maior elaboração na modelagem pelas variadas
ferramentas disponíveis nos softwares, como a inserção de material e retirada, sendo pos-
sível realizar em todas as vistas ortogonais do desenho.
A segunda questão apresentada no infográfico baseou-se na compreensão das pre-
ferências sobre cores relacionadas à agradabilidade visual, dando-se de modo equilibra-
do. A opção mais assinalada e descritivamente justificada foi “diversas cores”, dada pelo fato
do interesse dos usuários em poder escolher modelos variados de acordo com as diferentes
propostas de cores dos ambientes em que os apoios de pés poderão ser inseridos. Ademais,
a opção “cores sóbrias” foi constantemente assinalada e justificada por se adequar à serie-
dade exigida pelo ambiente de trabalho. De acordo com Soares; Barros (2018) ,as cores
neutras auxiliam no equilíbrio do ambiente e podem fortalecer a qualidade e rendimento dos
indivíduos em determinados afazeres.
A terceira questão apresentada no infográfico apresentou os seis modelos enumerados
(Figura 2), e foram demonstrados de modo separado junto das questões de agradabilidade
visual e satisfação. As questões referentes a agradabilidade visual foram retratadas por meio
de múltipla escolha na escala Likert linear definida de 0 a 10, estando a nota 0 relacionada
ao menos agradável e 10 relacionada a mais agradável visualmente. A partir das notas, foi
calculada a média aritmética para verificar a preferência. Além desta questão, também foi
solicitada sua justificativa, brevemente apresentada no infográfico, contudo, por se tratar de
uma pergunta aberta e opcional, nem todos os sujeitos apontaram suas justificativas.

• Sobre o formato 1: foi inspirado na forma do protótipo original para estudos iniciais,
construído no ano de 2018, entretanto, obteve suas extremidades remodeladas,
assim, alcançou a maior nota dentre os seis formatos quanto à agradabilidade e
estética: 8,08. E como justificativa obteve-se os seguintes termos que indicaram
seus aspectos: “prático” (palavra escolhida por 15 pessoas), “estável” (descrita por
13 pessoas), “limpo” (indicado por 2 pessoas), “confortável” (descrita por 38 pesso-
as), “bonito” (18 pessoas), “seguro” (6 pessoas) e “intuitivo” (exposta por 1 pessoa).
Além destes termos apresentados pelos participantes, outras justificativas menos
exploráveis e de cunho mais subjetivo foram escolhidas como “gostei” e “prefiro
este modelo”, além das demais notas sem justificativas.
• O formato de número 2 obteve a segunda menor nota, com a média 6,78. Muitos
dos termos apresentados foram antagônicos, pelas distintas opiniões. Represen-
tando os pontos positivos, obtiveram-se os termos: “bonito” (descrito por 9 partici-

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pantes), “bom design” (apresentado por 3 participantes), “anatômico” (2 pessoas).
E os termos negativos: “pontiagudo demais” (descrito por 5 pessoas), “aparenta ser
menos confortável” (19 pessoas), “muito íngreme ou muito inclinado” (apresentado
por 17 pessoas), além de outras justificativas mais singulares e subjetivas apresen-
tadas como: “sensação de forçar a articulação”, “muito alto”, “muito simples e reto”.
• O formato de número 3 obteve a quarta melhor nota: 6,90. Como justificativa, ob-
teve-se os principais termos: “moderno” (registrado por 17 pessoas), “moderno e
orgânico” (descrito por 5 participantes), “estável” (indicado por 8), “anatômico” (ca-
racterizado por 2), “bonito” (descrito por 13) e “aparenta ser mais ajustável” (apre-
sentado por 3).
• O formato de número 4 foi apresentado como o segundo melhor avaliado, obtendo
a média 7,61. Os termos descritos que justificaram a avaliação foram: “melhor de-
sign” (indicado por 9 participantes), “bonito” (descrito por 41 pessoas), “boa altura”
(registrado por 4 indivíduos), “confortável” (apontado por 7), “sugere mobilidade/
movimentação” (apresentado por 3 pessoas), “interessante” (descrito por 4 parti-
cipantes), e outras definições isoladas tidas por meio das palavras: “ideal”, “bela
curvatura”, “bastante orgânico” e “frágil”.
• O formato de número 5 obteve a terceira melhor avaliação, comentado e justificado
como: “discreto” (apresentado por 2 pessoas), “bonito” (descrito por 21 ), “orgânico”
(apontado por 7), “confortável” (apresentado por 3), e outros apontamentos tam-
bém isolados como: “aparentemente mais fácil de limpar”, “leveza”, “não aparenta
ser funcional”, “pouca inclinação”, “antiquado e reto”.
• O formato de número 6 obteve a menor avaliação, com a média 6,51. Suas justifi-
cativas se deram pelas palavras-chave: “muito plano” (descrito por 7 participantes),
“feio” (indicado por 14 pessoas), “sem inclinação de conforto” (descrição apresen-
tada por 2 pessoas) e “instável” (termo indicado por 3 participantes).

Finalizando o questionário eletrônico, a última questão solicitou o discurso do usuário


pelas suas experiências anteriores quanto ao uso e interação com o produto, item sugerido
por Cardoso (2013), requisitando o apontamento das principais características consideradas
ideais para um agradável e eficiente uso de apoio plantar. De caráter dissertativo e livre
foram obtidas as respostas e resumidas nos seguintes termos: “arredondado”; “material
sustentável”; “material resistente”; “leveza”; “inclinação ideal”; “confortável”; “bordas delica-
das”; “não pontiagudas”; “formato moderno e diferente do usual”; “anatômico”; “com base
estável”; “com regulagem de altura e largura ajustável”, “belo design”; “orgânico”; “formato
que sugira movimento e vontade de realizar movimento”; “com cores que combinem com o
ambiente organizacional”; “bonito” e “ergonômico”.

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Com esta coleta de informação fornecida pelos participantes, será realizado o redesign
do protótipo original de apoio de pés, de acordo com as ideias e avaliações obtidas quanto
forma, continuando a mesma função preestabelecida da movimentação ativa, englobando os
aspectos ergonômicos para seu uso, porém, dando prioridade no aprimoramento dos formatos
baseando-se nas formas apresentadas de números 1 e 4, devendo agregar as características
apontadas que tratam os três itens relacionáveis aos os aspectos cognitivos elucidados por
Cardoso (2013), na obtenção da satisfação, agradabilidade e eficácia de produto.
Assim sendo, o redesign da base do apoio de pés de movimentação ativa, deverá
incluir no seu desenvolvimento os aspectos estéticos que trabalhem os seguintes fatores:

• A organicidade dos elementos apresentados por formatos mais curvos e livres, mas
que possibilitem uma base rente ao chão, a fim de promover boa estabilidade no
uso;
• Possuir o formato que leve à ideia de movimentação, na finalidade de servir como
incentivo aos usuários para a realização de movimentação ativa;
• •Possibilitar o descanso dos membros inferiores por meio de um dispositivo de
trava;
• Criar formatos que permitam a compreensão para um uso mais intuitivo;
• O arredondamento das arestas a fim de minimizar possíveis acidentes;
• Possuir cores mais sóbrias, bem como variadas, a fim de que os usuários possam
obter maior leque de escolhas;
• Ser calculado de acordo com os dados antropométricos sugeridos pela pesqui-
sa contida no manual Ergokit (2008) sobre a inclinação exigida e adequada para
os membros inferiores e articulações, além de possuir elementos que permitam a
regulagem de altura trabalhando os limites mínimos e máximos dos percentis em
relação à altura dos usuários;
• Possuir regulagem de largura do protótipo na base entre um pé e outro, na finali-
dade de que os pés estejam dispostos de acordo com a angulação adequada para
cada indivíduo;
• Proporcionar formatos que exijam menor quantidade de material na prototipagem
rápida, garantindo leveza, todavia, utilizando materiais resistentes como os fila-
mentos de ABS, e maior quantidade das camadas de preenchimento das peças
para um bom acabamento.

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CONCLUSÕES

Por meio da problemática apontada no presente estudo, quanto aos problemas vascula-
res dos membros inferiores provindos de fatores variados, como exemplo, o sedentarismo e
conservação da postura sentada, percebeu-se a necessidade de criar um projeto em design
e ergonomia, e de aprimorá-lo posteriormente com o redesign, na finalidade de abranger,
não somente características que levem ao bom funcionamento na promoção melhorias no
retorno venoso e mobilidade talocrural, mas nas melhorias voltadas aos aspectos cognitivos
como a agradabilidade, satisfação e eficácia na interação entre usuário e objeto.
A presente pesquisa trouxe o processo inicial de criação e desenvolvimento de um
apoio de pés diferenciado pela sua movimentação ativa, cujas etapas a seguir dar-se-ão
de acordo com os resultados obtidos pela coleta de dados apresentada. Este processo se
deu pela investigação dos fatores mais subjetivos dos usuários de apoios de pés, estando
relacionados ao ponto de vista, seu discurso e sua experiência geral com o objeto em ques-
tão. E apesar de serem consideradas subjetivas as experiências individuais dos usuários,
Wilson (2010) explica que variadas visões acabam por se tornar objetivas para um sistema,
facilitando a compreensão.
Desta forma, novos formatos e estudos volumétricos para base de um novo apoio de pés
foram mostrados aos usuários, a fim de que pudessem identificar características positivas e
negativas, demonstrando por meio de questões abertas e discursivas, as suas experiências
no uso e opiniões para encontrar os fatores imprescindíveis para o bom projeto.
Com os resultados adquiridos e analisados, foi possível identificar sugestões semelhan-
tes de diversos usuários que, junto das diretrizes de ergonomia e redesign, poderão resultar
em novas alternativas de apoios de pés, no intuito de servir como forma de tratamento ou
prevenção da doença venosa.

Agradecimentos

Os autores agradecem à CAPES pelo apoio financeiro.

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05
Influência da ergonomia e qualidade de
vida na produtividade do trabalhador em
uma indústria calçadista de Montes Claros-
MG

Gleicielle Roque de Araújo Wesley Maia de Souza

Isadora Corrêa Martins Leonardo Augusto Couto Finelli

Maria Aparecida Maciel Ribeiro

'10.37885/220508967
RESUMO

Os primeiros vestígios da ergonomia são identificados na pré-história, quando criou-se ob-


jetos com o intuito de facilitar as tarefas do cotidiano, como as ferramentas para a caça
e pesca. Ao adaptar as ferramentas a suas necessidades deu-se origem ao conceito de
ergonomia, que adequou as atividades de trabalho ao trabalhador. Objetivo: analisar a
influência da ergonomia e qualidade de vida na produtividade do trabalhador e a satisfação
dos colaboradores no ambiente laboral a partir da ergonomia como fator de produtividade.
Métodos: pesquisa de campo, qualitativa e descritiva que avaliou, por meio de questionário
com 24 perguntas, população composta por 42 operários da indústria calçadista em Montes
Claros-MG, setor de corte/montagem/acabamento. Resultados: a amostra é composta por
35 homens e 7 mulheres, com idades entre 21 a 51 anos. Quanto a produtividade, 42,90%
das equipes alcançam as metas, 35,70% atingem as vezes, 14,30% conseguem com fre-
quência e apenas 7,1% afirmaram não alcançar as metas. Tais dados indicaram que, quanto
maior a idade e o tempo de trabalho na empresa os funcionários ficam mais suscetíveis a
sentir dores causadas pela atividade exercida. Conclusão: a ergonomia e a QVT influen-
ciam os colaboradores. Parte, que afirmaram não alcançar as metas estabelecidas, foram
os que responderam negativo em vários quesitos avaliados na instituição. Ao contrário dos
que afirmaram ter bom desempenho, que deram respostas positivas. Diante da análise em
relação a quantidade de relatos sobre desconfortos físicos, vê-se a necessidade de um olhar
crítico para este quesito que gera afastamentos simultâneos.

Palavras-chave: Ergonomia, Trabalhador, Qualidade de Vida, Produtividade.


INTRODUÇÃO

Os primeiros vestígios da ergonomia podem ser identificados na pré-história, quando o


ser humano criou objetos com o intuito de facilitar as tarefas do cotidiano como, por exemplo,
as ferramentas para a caça e pesca (VIDAL, 2012).
Ao adaptar as ferramentas a suas necessidades deu-se origem ao conceito de ergo-
nomia, pois adequou as atividades do trabalho ao trabalhador. Vale lembrar também que
antes desse período, em 1857 o termo ergonomia já tinha sido usado pelo então cientista
polonês Wojciech Jastrzebowski, que publicou o artigo: Ensaios de ergonomia (ABRAHÃO
et al., 2009). Desde então, conforme o passar dos anos e consequentemente a evolução
da humanidade, a ergonomia esteve presente em diversos momentos da história, mas seu
surgimento e evolução só se deram após o fim da 2º guerra mundial em 1949, por causa
do avanço da indústria que proporcionou o aperfeiçoamento das tecnologias e a relação do
homem com as máquinas (ABRAHÃO et al., 2009).
No ano de 1959 foi fundado em Oxford na Inglaterra a Ergonomics Research Society e
logo após outras organizações foram criadas pelo mundo, como a International Ergonomics
Association (IEA), a Human Factors Society (HFS) em 1959, e em 1963 na França, a Societé
d’Ergonomie de Langue Française (SELF). Todas com o intuito de estudar o ambiente la-
boral para proporcionar a qualidade de vida no trabalho (QVT) e melhorar a produtividade
do trabalhador.
A palavra ergonomia tem derivação do grego, onde ergon quer dizer (trabalho) e no-
mos significa (regras), porém, sua definição passou por um processo de evolução desde a
criação das associações citadas acima, pois cada uma tinha sua própria definição do termo.
Até que em Agosto de 2000 a IEA aderiu à definição oficial para ergonomia:

A ergonomia (ou Fatores Humanos) é uma disciplina científica relacionada


ao entendimento das interações entre os seres humanos e outros elementos
ou sistemas, e à aplicação de teorias, princípios, dados e métodos a projetos
a fim de otimizar o bem estar humano e o desempenho global do sistema.
Os ergonomistas contribuem para o planejamento, projeto e a avaliação de
tarefas, postos de trabalho, produtos, ambientes e sistemas de modo a torná-
-los compatíveis com as necessidades, habilidades e limitações das pessoas
(IEA, 2000).

Conforme Iida (2005) a ergonomia visa proporcionar um ambiente seguro, adequado


e satisfatório ao trabalhador. Onde o mesmo poderá atuar sem correr riscos de contrair
doenças ocupacionais ou sofrer acidentes decorrentes de um ambiente com condições
inadequadas de trabalho.

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Segundo Rodrigues e Merine (2013) os ergonomistas devem compreender os cam-
pos de domínios da disciplina, é importante considerar os fatores físicos, cognitivos e
organizacionais.
A ergonomia Física é estuda as características físicas do ser humano e suas ativida-
des. Leva em conta a postura de trabalho, manuseio de objetos, movimentos repetitivos,
problemas relacionados ao trabalho, saúde e segurança. Já ergonomia cognitiva refere-se
às questões psicológicas do individuo. Como problemas mentais, relação e interação com o
ambiente de trabalho, seres humanos, etc. E a ergonomia Organizacional preocupa-se com
a relação do ser humano com as questões tecnológicas, estrutura organizacional e tudo que
se refere as regras e processos.
A ergonomia é um conceito estabelecido através da norma regulamentadora nº 17,
também conhecida como NR-17, que tem como objetivo garantir boas condições de traba-
lho, onde se faz necessária uma adaptação do ambiente organizacional, com o intuito de
oferecer conforto ao trabalhador durante a execução de suas atividades e com isso alcançar
um melhor desempenho profissional. NR-17 (ABNT, 2020).
No século XIX o maior objetivo das empresas ainda era maximizar seus lucros ao
priorizar a produção e não o bem estar dos seus colaboradores. Mesmo com o avanço dos
estudos da ergonomia as grandes corporações não se preocupavam com a qualidade de vida
dos trabalhadores. Os ambientes laborais não eram adequados as suas condições físicas,
não possuíam boa iluminação, ventilação ou quaisquer adaptações que proporcionassem o
bem estar dos funcionários, deixando-os expostos a riscos e doenças (FALZON, 2007, p. 24).
Preocupados com as condições de trabalho dos operários, diversos estudiosos do
século XX apontaram a relação ganho de produtividade a qualidade de vida no trabalho.
Mas somente na década de 1970 foi formado o primeiro movimento a favor da QVT e por
causa do crescimento do mercado internacional o movimento ficou conhecido mundialmen-
te (MORAIS, 1990).
Segundo Conte (2003) foi durante o século XX que de fato a qualidade de vida no
trabalho passou a ser tratado como fator importante para o aumento da produtividade. As or-
ganizações adotaram métodos ergonômicos a fim de proporcionar um ambiente de trabalho
adequado, visto que o trabalhador satisfeito, motivado e em boas condições de trabalho tem
um bom rendimento nas atividades exercidas.
Na atualidade, as empresas têm buscado melhorar a qualidade de vida dos profissionais
no trabalho, visto que é notável que quando o trabalhador está satisfeito com suas funções,
ele tende a produzir mais, o que gera maiores lucros. Com o aumento da competitividade no
mercado de trabalho, torna-se cada vez mais importante a busca por uma maior produtividade
dos colaboradores. É importante frisar que para proporcionar qualidade de vida no trabalho

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em alguns casos as empresas não terão altos custos, pois é possível motivar o trabalhador
com oportunidades de progressão de carreira, disponibilizar ginástica laboral, pausas de
descanso, ambiente adequado para descansar durante as pausas, etc. (PRATES, 2007)
A QVT proporciona ao trabalhador melhorias no ambiente de trabalho que podem ofe-
recer conforto no seu dia a dia. Trata-se de um conjunto de ações empregadas que podem
contribuir para facilitar a realizações de tarefas e como consequência gerar um aumento na
sua produtividade (MENDES, 2008).
Diante das mudanças atuais e das exigências do mercado consumidor é necessário
que as empresas adotem um ambiente organizacional para que não tenham problemas
com doenças ocupacionais e assim possam competir com o mercado global aumentando
a produção. Então a adaptação de ambas as parte é necessário para manter um ritmo de
produção satisfatório e confortável aos funcionários (WOORD JR., 2004, p. 19).
O presente estudo tem como via de pesquisa a análise da influência da ergonomia e
qualidade de vida na produtividade do trabalhador em uma indústria calçadista na cidade
de Montes Claros, com o objetivo de mostrar a eficácia da implantação da ergonomia no
ambiente laboral para gerar qualidade de vida no trabalho.

MÉTODOS

“Pesquisa é o conjunto de procedimentos sistemáticos, baseado no raciocínio lógico,


que tem por objetivo encontrar soluções para problemas propostos, mediante a utilização
de métodos científicos” (ANDRADE, 2010, p. 109).
O presente trabalho se configura numa pesquisa de natureza aplicada de abordagem
qualitativa, com finalidades descritivas. Para fundamentação do mesmo, foram realizados
procedimentos técnicos padronizados de coleta de dados, expondo as características de uma
determinada indústria calçadista de grande porte localizada na cidade de Montes Claros-MG.
A avaliação da influência da ergonomia e qualidade de vida na produtividade do traba-
lhador foi realizada com a aplicação de um questionário online, composto por 24 perguntas
que foram respondidas por 42 operários através de um link enviado por e-mail e aplicativos
de conversas. A amostra foi constituída por 7 grupos compostos por 6 colaboradores do
setor de corte, montagem e acabamento do turno vespertino. Foi adotado como critério de
inclusão os operadores líderes e de produção que possuem no mínimo ensino fundamental
e como critério de exclusão os operadores fora do turno vespertino e com grau de escolari-
dade inferior ao ensimo fundamental completo.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os principais motivos de afastamento dos colaboradores por doenças ocupacionais


ou acidentes estão diretamente ligados a ergonomia no ambiente de trabalho. Diante desse
cenário a ergonomia ocupacional garante qualidade de vida ao colaborador no ambiente
laboral, consequentemente, a produtividade e os resultados ganham crescimento expressivo
(CONTE, 2003, p. 32-34).
Com base nos dados coletados no questionário criado através da ferramenta Google
Forrms foi verificado que os entrevistados estão na faixa etária entre 21 a 51 anos, a amostra
é composta por 35 homens e 7 mulheres, ou seja, no setor avaliado é predominante traba-
lhadores do sexo masculino.
Quanto ao ambiente de trabalho, a pesquisa mostrou que 50% dos entrevistados
consideram a temperatura ambiente quente, 35,7% agradável e 14,3% muito quente, o que
pode gerar um desconforto físico aos trabalhadores durante sua jornada de trabalho diária e
interferir na produtividade dos mesmos. Diante desses dados, faz-se necessário uma análise
profissional no ambiente conforme descreve a NR-15 para verificar os níveis de exposição
ao calor, com o intuito de gerar um maior conforto térmico aos funcionários.

Gráfico 1. Temperatura ambiente.

50,00%
40,00% Agradavél
30,00% Quente
20,00% Muito quente
10,00%
0,00%
Temperatura ambiente
Fonte: Próprios autores (2021).

A tabela abaixo mostra os limites de tolerância para exposição ao calor de acordo com
as atividades exercidas conforme disposições na NR-15 - atividades e operações insalubres,
anexo III, quadro nº3.

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Quadro 1. Taxas de metabolismo por tipo de atividade.

TIPO DE ATIVIDADE Kcal/h


SENTADO EM REPOUSO 100
TRABALHO LEVE
Sentado, movimentos moderados com braços e tronco (ex.: datilografia). 125
Sentado, movimentos moderados com braços e pernas (ex.: dirigir). 150
De pé, trabalho leve, em máquina ou bancada, principalmente com os 150
braços.
TRABALHO MODERADO
Sentado, movimentos vigorosos com braços e pernas. 180
De pé, trabalho leve em máquina ou bancada, com alguma movimentação. 175
De pé, trabalho moderado em máquina ou bancada, com alguma movi- 220
mentação. 300
Em movimento, trabalho moderado de levantar ou empurrar.
TRABALHO PESADO
Trabalho intermitente de levantar, empurrar ou arrastar pesos (ex.: remo- 440
ção com pá). 550
Trabalho fadigante.
Fonte: BRASIL (1978).

Na análise referente a iluminação e vibração do local, a maioria dos funcionários re-


latam satisfação no que se refere a iluminação e vibração no ambiente. Sendo que 69%
consideram a iluminação regular, 2,4% baixo, 26,2 alto e 2,4% muito alta. Quanto a vibração
54,8% consideram regular, 19% baixo, 26,2% alto e 0% muito alto.
Já na análise de ruído a maioria dos funcionários demonstraram insatisfação, consi-
derando os níveis alto para o ambiente. Entre os entrevistados 21,4 consideram muito alto,
45,2% alto, 23,8% regular ,9,5% baixo. Porém é importante frisar que todos os funcionários
fazem o uso dos EPI´s e compreendem a importância do uso para minimizar a exposição
aos riscos que possam causar danos a saúde e segurança no trabalho.

Gráfico 2. Iluminação, Ruído e Vibração.

70,00%
60,00%
50,00% Baixo
40,00% Regular
30,00% Alto
20,00% Muito alto
10,00%
0,00%
Iluminação Ruído Vibração
Fonte: Próprios autores (2021).

Em relação a distribuição dos EPI’s aos trabalhadores, foi constatado através dos da-
dos coletados que tanto o empregador quanto os empregados estão de acordo com a NR6
- Equipamento de Proteção Individual. Segundo os dados apresentados no gráfico abaixo
verifica-se que 14,3% dos trabalhadores estão muito satisfeitos quanto ao fornecimento e a

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qualidade dos equipamentos de proteção individual, 78,6% estão satisfeitos, 7,1% neutro,e
0% insatisfeitos.
É importante avaliar o quesito ritmo de trabalho pois ele tem grande influência quanto
ao estado fisíco e psicológico dos trabalhadores (ASKENAZY, 2005). O gráfico mostra que
2,4% dos colaboradores da empresa avaliada estão muito satisfeitos, 59,5% estão satisfeitos
e 11,9% insatisfeitos.
Na pesquisa foi questionado como os funcionários se sentem em relação ao seu am-
biente laboral, visto que, este, também pode interferir no estado físico, psicológico e no
ritmo de trabalho. Cerca de 2,4% afirmaram estar muito satisfeitos, 66,7% satisfeitos, 16,6%
neutro e 14,3% insatisfeitos.

Gráfico 3. EPI, Ritmo e Ambiente de trabalho.

80%
70%
60%
50% EPI´s
40%
Ritmo
30%
20% Ambiente
10%
0%
Insatisfeito Neutro Satisfeito Muito
satisfeito
Fonte: Próprios autores (2021).

Um bom relacionamento com os colegas de trabalho e superiores é fundamental para


manter uma harmonia no ambiente laboral, o que faz com que os colaboradores se sintam
motivados e tenham um bom desempenho nas atividades exercidas. As oportunidades de
progressão de carreira dentro da empresa também contam como fator importante para a
motivação dos funcionários.
A pesquisa demostrou que 66,7% dos entrevistados consideram ter um bom relaciona-
mento com os colegas de trabalho, 31% consideram ótimo, 2,4 % ruim e 0% regular. No re-
lacionamento com os superiores 52,4% alegaram ter um bom relacionamento, 19% ótimo,
23,8% regular e 4,8% ruim. Em relação as oportunidades de crescimento na empresa, 45,2%
consideram bom, 26,2% ruim, 23,8 % regular e 4,8% ótimo.

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Gráfico 4. Relacionamento com colegas/superiores e oportunidade de crescimento.

70,00%
60,00%
Relacionamento com
50,00% colegas
40,00% Relacionamento com
30,00% Superiores
20,00% Oportunidade de
10,00% crescimento
0,00%
Ruim Regular Bom Ótimo
Fonte: Próprios autores (2021).

Ter um ambiente de descanso é de suma importância para saúde no trabalho, pois


o intervalo serve para quebrar o ritmo desgastante da jornada diária de trabalho. Assim, o
colaborador pode repor suas energias para dar sequência as atividades sem que haja um
desgaste fisíco e possa manter um ritmo regular de produtividade. 11,9% dos trabalhadores
responderam que a empresa não possui ambiente adequado para descanso, 9,5% que é
ruim, 33,3% considera regular, 35,7% bom e 9,5% ótimo.

Gráfico 5. Ambiente para descanso durante as pausas.

40,00%
30,00%
20,00%
10,00%
0,00%
Não Ruim
possui Regular Bom
Ótimo

Fonte: Próprios autores (2021).

O gráfico abaixo aponta a satisfação da maioria dos colaboradores com relação ao


tempo de intervalo para refeições. 54,80% dos trabalhadores disseram que a pausa é sufi-
ciente, 35,70% afirmaram ser regular e apenas 9,50% declararam o tempo de pausa para
alimentação como insuficiente.

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Gráfico 6. Tempo de intervalo para refeição.

60,00%
50,00%
40,00%
30,00%
20,00%
10,00%
0,00%
Insuficiente Regular Suficiente

Fonte: Próprios autores (2021).

O percentual de afastamento médico em um período de 12 meses, segundo dados coletados,


revelam que 90,50% dos colaboradores não tiveram nenhuma afastamento laboral, apenas
9,50% tiveram a necessidade de se afastar das atividades laborais.

Gráfico 7. Afastamento e se sente dor ou desconforto físico.

100,00%

80,00%
Afastamento nos
60,00% últimos 12 meses
40,00% Dor/Desconforto
Fisíco
20,00%

0,00%
Sim Não

Fonte: Próprios autores (2021).

A NR-17 prevê para trabalho manual sentado ou realizado em pé, que as bancadas,
mesas, escrivaninhas e painéis devem proporcionar ao trabalhador condições de boa pos-
tura, visualização e operação.
Com base nas exigências previstas em norma, 50% dos colaboradores declararam
bom para realizarem as atividades laborais a altura das mesas, bancas e assentos, 33,00%
afirmaram ser regular e 7,10% disseram que é ruim.

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Gráfico 8. Altura das mesas, bancadas e assentos de trabalho.

60,00%
40,00%
20,00%
0,00%
Ruim
Regular Bom
Não possui

Fonte: Próprios autores (2021).

Ginástica laboral é o tipo de ginástica cuja prática é especificamente destinada aos


funcionários no seu local de trabalho. Com o objetivo de prevenir lesões e outras doenças
provocadas pela atividade ocupacional, os exercícios (que duram em média entre 5 e 15
minutos) trazem muitos benefícios. 85,70% dos colaboradores alegaram não possuir essa
prática de atividade na empresa.

Gráfico 9. Ginástica laboral no ambiente de trabalho.

100,00%

80,00%

60,00%

40,00%

20,00%
0,00%
Ruim Regular Bom Não possui

Fonte: Próprios autores (2021).

Através da produtividade dos trabalhadores pode-se analisar vários aspectos, como


por exemplo, identificar os fatores que podem influenciar no baixo rendimento dos colabo-
radores e elaborar plano de ação que possa reverter esse quadro. Também pode-se obser-
var e investir nos pontos positivos que levam a uma maior produção sem gerar desgaste
profissional do colaborador.
Quanto a produtividade por equipe, o gráfico a seguir mostra tais resultados: 42,90%
das equipes alcançam as metas, 35,70% atingem as vezes os objetivos, 14,30% conseguem
com frequência e apenas 7,1% afirmaram não alcançar as metas do grupo.

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Gráfico 10. Produtividade por equipe.

50,00%
40,00%
30,00%
20,00%
10,00%
0,00%
Sim Não As vezes Com
Frequência

Fonte: Próprios autores (2021).

Com os resultados obtidos no estudo foi possível observar que, quanto maior a idade
e o tempo de trabalho na empresa, os funcionários ficam mais suscetíveis a sentir dores
causadas pela atividade exercida. Os que relataram sentir dores foram os que trabalham na
linha de frente de produção do setor de acabamento e possuem acima de 2 anos de ativida-
de laboral no mesmo cargo. Estes, compõem cerca de 61,9% dos entrevistados e afirmam
sentir dores na coluna, ombros, braços, pernas e pés, uma vez que a atividade é exercida
na maior parte do tempo em posição vertical (de pé) e em movimentos constantes com os
braços para manusear os equipamentos de corte, montagem e acabamento dos calçados
fabricados. Os funcionários que exercem funções em cargos de liderança das equipes, não
relataram sentir dores físicas causadas pela profissão. Apesar dos relatos de desconforto,
90,5% dos trabalhadores afirmaram que não se afastaram da empresa nos últimos 12 meses.
Quanto a aplicação da ergonomia no ambiente de trabalho, nota-se que a empresa
proporciona aos trabalhadores um ambiente organizacional apropriado, conforme pede a
NR-17. Nos dados coletados e lançados nos gráficos anexados acima, fica visível também
a satisfação dos colaboradores em relação a qualidade de vida na empresa avaliada, pois
grande parte dos funcionários demostraram satisfação nos itens avaliados nesse artigo.
Segundo Conte (2003) o desenvolvimento da QVT facilita e proporciona o bem estar do tra-
balhador ao desempenhar suas atividades dentro da empresa, pois é fato que as pessoas
produzem mais quando estão satisfeitas em seu ambiente de trabalho.

CONCLUSÕES

Na presente pesquisa foi avaliado a influência da ergonomia e a qualidade de vida na


produtividade do trabalhador em uma empresa calçadista na cidade de Montes Claros-MG.
Através dos dados coletados, foi possível realizar a análise de alguns aspectos que podem
causar grandes impactos na produtividade dos trabalhadores.

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Conclui-se que a ergonomia e a QVT possuem influência sobre os resultados dos
colaboradores, uma vez que os entrevistados que afirmaram não alcançar as metas es-
tabelecidas, foram os que responderam negativo em vários quesitos avaliados na institui-
ção. Ao contrário dos que afirmaram ter bom desempenho, que deram respostas positivas.
Apesar da maioria dos resultados serem satisfatórios para ergonomia, qualidade de vida
no trabalho e a produtividade, 85,7% dos participantes afirmaram que não possui ginástica
laboral. Então propõe-se aos responsáveis pela gestão da empresa investigada que busquem
realizar melhorias no que diz respeito a esse fator, pois ele pode alavancar a produtividade e
aprimorar a saúde dos trabalhadores. Diante da análise em relação a quantidade de relatos
sobre desconfortos físicos, vê-se a necessidade de um olhar crítico para este quesito que
pode ser um gatilho para futuros afastamentos simultâneos.

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Acidentes de trabalho fatais em duas
etapas da energia eólica no Brasil

Luis Geraldo Gomes da Silva


UFABC

Artigo original publicado em: 2021


Encontro Nacional de Engenharia de Produção – Enegep. Anais do - ISSN 23183349.
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

'10.37885/220508828
RESUMO

Em 2009 no Brasil a oferta interna de energia elétrica foi de 466,2 TWh e em 2019 foi de
625,7 TWh, a energia eólica sucessivamente passou de 0,2% em 2009 para 8,6% em 2019.
Diante deste apreciável crescimento no período, se faz necessário avaliar qual a participa-
ção desta fonte nos números de acidentes de trabalho fatais na cadeia produtiva de energia
elétrica do Brasil. Este estudo tem como objetivo examinar os dados sobre acidentes de
trabalho fatais entre 2017-2020 em duas etapas selecionadas da energia eólica no Brasil:
a) etapa da construção de infraestrutura de usina eólica; b) etapa de geração de energia
eólica. As etapas da cadeia produtiva de energia elétrica são complexas e abrangem uma
multiplicidade de trabalhos, serviços e fornecimentos. As etapas incluem trabalhos específicos
e trabalhos de apoio, desde o fornecimento dos mais variados insumos, cimento, ferro, aço,
transformadores, turbinas, pontes rolantes, vestimentas, remédios, alimentos etc. Em to-
das as etapas há o concurso de empresas contratadas que executam trabalho no sítio da
usina e ou fora de suas instalações. A busca dos dados de acidentes de trabalho fatais nas
etapas selecionadas da energia eólica ocorreu nos bancos de dados brasileiros: a) Anuário
Estatístico de Acidentes de Trabalho (AEAT), que fornece dados nacionais sobre os acidentes
de trabalho no Brasil, a partir da Classificação Nacional de Atividade Econômica (CNAE); b)
Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que divulga anualmente dados dos acidentes
de trabalho fatais ocorridos com os trabalhadores próprios e trabalhadores terceirizados das
empresas de distribuição de energia elétrica do Brasil. A energia eólica como demonstrado no
estudo trata-se de uma indústria fortemente organizada no país. No entanto, no Brasil não há
dados sobre os acidentes de trabalho fatais originados pela energia eólica. Especificamente,
sobre as etapas selecionadas nada foi encontrado. Os únicos dados sobre acidentes de
trabalho fatais nas etapas da energia eólica dentro da cadeia de energia elétrica no Brasil
são conseguidos através de notícias de Jornais diários (impressos e/ou on-line).

Palavras-chave: Acidentes de Trabalho Fatais, Etapas da Energia Eólica, Banco de Dados.


INTRODUÇÃO

Notícias de jornais sobre acidentes na energia eólica no Brasil

Em 26 de julho de 2019 ocorreram dois acidentes de trabalho fatais na usina eólica,


na cidade de Caetité, no sudoeste da Bahia. Os dois trabalhadores faziam manutenção em
cima de uma torre de 40 metros de altura, quando ele retorceu e caiu (Jornal Globo, 2019).
Em 27 de janeiro de 2020 ocorreu o acidente de trabalho fatal com o trabalhador ter-
ceirizado na usina eólica de Lagoa do Barro no Estado do Piauí. Segundo informações dos
trabalhadores presentes uma peça de aproximadamente 100 kg caiu sobre a cabeça do
trabalhador (Jornal Cidade Verde, 2020).
Em 22 de junho de 2020 ocorreu o acidente de trabalho fatal com o trabalhador, que
caiu da altura de 35 metros da torre em que fazia manutenção na corrente. Esta usina eólica
fica na cidade de Serra do Mel no Rio Grande do Norte. A polícia militar de Serra do Mel
enfrentou dificuldades para entrar no local. Em outro evento que ocorreram dois acidentes
de trabalho fatais a empresa, do mesmo modo, dificultou o acesso da polícia militar ao local
da ocorrência (Jornal Globo, 2020).
Em 30 de agosto de 2020, duas pessoas morreram, após terem o automóvel esma-
gado por uma hélice utilizada na geração de energia eólica, que estava sendo transportada
para usina eólica na cidade de Parambu no Estado do Ceará. Com o acidente a carreta
que transportava o equipamento saiu da rodovia e só a hélice ficou atravessada na estrada
(Jornal Ceará Notícias, 2020).
Para Feitosa e Fernandes (2014) as notícias sobre acidentes de trabalho nos jornais
contribuem para o conhecimento da realidade das condições de trabalho, contribuindo para
a estruturação de melhores ações nos campos da saúde, economia e política, voltadas
para os trabalhadores. Mesmo os jornais não trazendo os dados completos e necessários
para análise dos acidentes de trabalho, estes dados são fontes complementares acerca da
mortalidade por causas externas relacionadas ao trabalho.

Ações à supressão dos acidentes de trabalho fatais na cadeia de energia elétrica

Do ponto de vista da supressão do número de acidentes de trabalho fatais em toda a


cadeia produtiva de energia elétrica do Brasil é necessário observar os acidentes de traba-
lho fatais como uma variável em todas as suas etapas e em todas as fontes primárias da
matriz de energia elétrica brasileira. As empresas responsáveis pelos empreendimentos de
energia elétrica devem eliminar o número de acidentes de trabalho em toda sua força de
trabalho, entre seus trabalhadores próprios e trabalhadores terceirizados, isto é, procurar

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fornecedores e prestadores de serviços que tenham ações concretas para a supressão dos
acidentes de trabalho. Desta forma, o número de acidentes de trabalho da cadeia produtiva
de energia elétrica tende a se restringir como um todo.

Cenário da energia eólica no Brasil

Em 2009 no Brasil a oferta interna de energia elétrica foi de 466,2 TWh (EPE, 2010) e
em 2017 foi de 625,7 TWh (EPE, 2019), em 2018 foi de 636,4 TWh e em 2019 foi de 651,3
TWh (EPE, 2020). Dos números apresentados da oferta de energia no país, respectivamente
a energia eólica representa 0,2% em 2009, 6,8% em 2017, 7,6% em 2018 e 8,6% em 2019.
Diante deste apreciável crescimento no período, se faz necessário avaliar qual a par-
ticipação desta fonte nos números de acidentes de trabalho fatais na cadeia produtiva de
energia elétrica do Brasil.

Objetivo do estudo

Este estudo tem como objetivo examinar os dados sobre acidentes de trabalho fatais
entre 2017-2020 em duas etapas selecionadas da energia eólica no Brasil: a) etapa da
construção de infraestrutura de usina eólica; b) etapa de geração de energia eólica.

REFERENCIAL TEÓRICO

As etapas da cadeia produtiva de energia elétrica são complexas e abrangem uma mul-
tiplicidade de trabalhos, serviços e fornecimentos. As etapas incluem trabalhos específicos
e trabalhos de apoio, desde o fornecimento dos mais variados insumos, cimento, ferro, aço,
transformadores, turbinas, pontes rolantes, vestimentas, remédios, alimentos etc. Em todas
as etapas há o concurso de empresas contratadas que executam trabalho no sítio da usina
e ou fora de suas instalações.

Os estudos sobre as etapas da cadeia de energia elétrica

a) A cadeia produtiva de energia elétrica do Brasil é constituída por 15 eta-


pas (Silva, 2017):

• Etapa de projeto e aproveitamento das fontes de energia primária (E1);


• Etapa de transporte de cargas e de trabalhadores (E2);
• Etapa de obtenção de energia primária (E3);

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• Etapa de processamento, fabricação de módulos, sistemas e equipamentos (E4);
• Etapa de transporte da fonte de energia primária à usina (E5);
• Etapa de obtenção de insumos naturais à infraestrutura (E6);
• Etapa de obtenção de insumos industriais à infraestrutura (E7);
• Etapa de construção da infraestrutura (E8);
• Etapa de geração de energia elétrica (E9);
• Etapa de transmissão de energia elétrica (E10);
• Etapa de distribuição de energia elétrica (E11);
• Etapa de comércio atacadista de energia elétrica (E12);
• Etapa de uso final da energia elétrica (E13);
• Etapa de tratamento e disposição de rejeitos durante a vida útil (E14);
• Etapa de descomissionamento da infraestrutura (E15).

b) O modelo do ciclo de vida instituído por Martínez et al. (2009) para a energia eólica
é representado na Figura 1:

Figura 1. Modelo de ciclo de vida de usina eólica.

Fonte: Martínez et al. (2009)

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c) O relatório ‘Occupational Safety and Health in the Wind Energy Sector’ da EU-OSHA
(2013). EU-OSHA (2013) orienta que a saúde dos trabalhadores desta cadeia deve cobrir
as 11 fases abaixo:

√ Projeto;
√ Desenvolvimento;
√ Fabricação;
√ Transporte;
√ Construção;
√ Operação;
√ Infraestrutura associada;
√ Manutenção;
√ Extensão e/ou repotencialização;
√ Descomissionamento.

d) As estatísticas da ‘Caithness Windfarm Information Forum’ (CWIF), que emite anual-


mente um relatório sobre acidentes fatais e não fatais ocorridos a partir da energia eólica no
mundo. Conforme apresentado no Quadro 01:

Quadro 1. Acidentes e incidentes em energia eólica no mundo.

Indicadores 2017 2018 2019 2020


Acidentes de trabalho fatais 9 3 5 6
Acidentes fatais no transporte 19 14 18 23
Lesões humanas 13 4 7 7
Falha na lâmina 18 27 24 29
Incêndio 25 27 23 22
Gelo 1 2 3 1
Falha estrutural 14 9 7 1
Danos ambientais 16 24 25 24
Incidentes* 34 53 47 52
(*) pequenas falhas, choque elétrico, descarga elétrica etc.
Fonte: CWIF (2021)

A CWIF declara que os dados são apenas a “ponta do iceberg” em termos de números
e frequência. Um instituto de energia renovável europeu confirmou que, nos últimos cinco
anos houve 1.500 acidentes com turbinas eólicas no Reino Unido, a CWIF tem em seus
bancos de dados apenas 142 registros, representando 9% dos acidentes reais no Reino
Unido (CWIF, 2021).

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Apresentação das etapas selecionadas

Etapa de construção da infraestrutura (E8)

A E8 inclui a construção da infraestrutura das Usinas eólicas (UEOL), linhas de trans-


missão de energia elétrica (LT) e redes de distribuição de energia elétrica (RD). As atividades
operacionais da etapa são: construção civil e montagem eletromecânica. As principais fases
da etapa de construção são: terraplenagem, construção das vias de acesso, construção e
pavimentação de estradas, escavação da fundação, LT, construção e/ou montagem da su-
bestação elétrica (onshore), montagem das torres, instalação da nacele, instalação elétrica
e mecânica, construção da sala de controle. Offshore: construção da base da usina (porto),
instalação, fundação, instalação do cabo de transmissão e instalação da turbina.
As instalações dos cabos elétricos entre turbinas e subestação são praticamente si-
milares para ambas às usinas eólicas (onshore e offshore), mas a água (mar) no ambiente
acrescenta outros elementos de confecção de fundação, soldagem, instalação, inspeções
nas estruturas realizadas através do mergulho (Silva, 2017; EU-OSHA, 2013). A Figura 2
tem um exemplo de preparação de fixação da fundação da torre de uma turbina.

Figura 2. Preparação de fixação da fundação da torre.

LT: desmatamentos, aberturas de picadas e desflorestamentos, escavações de poços, trincheiras e fundações civis,
movimentação de solo e rocha (abertura de estradas e serviços de heliportos, abertura de cavas para as fundações,
limpeza da área de servidão, execução das fundações e obras de estabilização e drenagem), montagem das estru-
turas metálicas, distribuição e posicionamento de bobinas em campo, lançamento de cabos elétricos, preparação
da área e instalação de malhas de terra, equipamentos e componentes das subestações, instalação de acessórios
elétricos, tensionamento e fixação dos cabos elétricos, ensaios e testes elétricos.
Fonte: ABDI (2014).

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A construção inclui ainda: valas, dutos, canaletas bases de equipamentos, estruturas,
condutos e demais instalações; serviços de limpeza, pintura e sinalização de instalações e
equipamentos elétricos; ensaios, testes, medições, supervisão, fiscalizações e levantamentos
de circuitos e equipamentos elétricos, eletrônicos de telecomunicação e telecontrole (Silva,
2017; Carvalho, 2005; CPNSP, 2005; Brasil, 1986).
RD: construção de estruturas e obras civis; montagem de subestações de distribui-
ção; montagens de transformadores e acessórios em estruturas nas redes de distribuição;
montagem de pára-raios, banco de capacitor, cubículos de disjuntores de transformador de
potência; limpeza e desmatamento das faixas de servidão; medição do consumo de ener-
gia elétrica; montagem de cabinas primárias de transformação (Silva, 2017; CPNSP, 2005;
Yokote, 2003; Brasil, 1986).

Atividades de apoio:

a) Transporte de pessoal (trabalhadores) entre todas as atividades da etapa;


b) Transporte para abastecimento de suprimentos e logística:

De resíduos: terra, vegetação etc.; de materiais beneficiados e industrializados (do local


de beneficiamento para a construção civil da UEOL e LT e/ou do local de beneficiamento
para a indústria de transformação; da industrialização e/ou transformação para a obra da
UEOL e LT e da industrialização e/ou transformação para a fabricação de equipamentos
eletroeletrônicos, eletromecânicos e componentes (Ribeiro, 2003); da indústria de equipa-
mentos eletroeletrônico-eletromecânicos: durante a obra e operação da UEOL, LT e RD; de
equipamentos, maquinários, materiais, ferramentas etc. (para a construção civil e montagem
eletromecânica).
Além disso, o transporte de trabalhadores: “Um dos principais desafios para offshore é
o transporte dos trabalhadores, acesso às turbinas (em todo o seu ciclo de vida). A transfe-
rência para uma turbina eólica... exige o uso de equipamentos de proteção contra quedas,
coordenação entre os técnicos de manutenção e a tribulação do navio, atravessar escadas
de 5 a 20 metros em situações climáticas adversas...” (EU-OSHA, 2013, p. 37).
Atividade de fornecimentos de insumos naturais por diferentes empresas: as cons-
truções de UEOL, LT e RD necessitam de atividades realizadas em estruturas de outros
setores produtivos (Silva, 2017):

1. Extração e beneficiamento de insumos naturais. Os principais materiais utilizados


na construção civil, operação e manutenção procedem da extração de metálicos
(ferro, alumínio, cobre etc.), não metálicos (areia, argila, calcário, pedra, brita etc.),

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vegetais (madeira) e petróleo (óleo de transformador e óleo lubrificante). O primei-
ro beneficiamento (tratamento) dado aos materiais extraídos das jazidas e/ou das
plantações, em regra são realizados nas infraestruturas próximas as áreas de ex-
tração e/ou plantação (Ribeiro, 2003; Jobim Filho, 2002).
2. Transformação de materiais: transformação da madeira em chapas, postes e com-
ponentes; manufatura do cimento: cimento amianto, concreto, pré-misturado, ar-
gamassa, artefatos de cimento etc.; manufatura da cerâmica e cal: cerâmica para
revestimento, louças sanitárias, cal, vidro etc.; manufatura do ferro: chapas, aço
estrutural, ferragens, pregos, parafusos etc.; manufatura do cobre e alumínio: es-
quadrias, fios elétricos, cabos elétricos etc.; manufatura dos insumos químicos:
plásticos, tintas, vernizes, aditivos, isolantes etc.; manufatura de explosivos; manu-
fatura de óleos: de transformador e lubrificante (Ribeiro, 2003; Jobim Filho, 2002).

A indústria de eletroeletrônico-eletromecânica produz os componentes essenciais para


as UEOL, LT e RD: turbinas, geradores, transformadores, subestações, painéis, cabos e fios
elétricos, isoladores, ferragens de grande porte, pontes rolantes, torres, cabos, condutores,
cabos pára-raios, espaçadores, amortecedores de vibração, cabos pára-raios, cadeias de
isoladores, contrapesos, cabos de aterramento, esferas de sinalização, subestações com
pórticos, bays, barramentos, conexões, disjuntores, chaves seccionadoras, equipamentos de
compensação reativa, sistemas de serviços auxiliares, controle, proteção, telecomunicação
(Carvalho, 2005).

Etapa de geração de energia elétrica (E9)

Etapa propriamente da transformação da energia mecânica (do vento) em energia elé-


trica a partir do funcionamento dos equipamentos e maquinários (turbinas, aerogeradores,
transformadores, disjuntores, capacitores, chaves, sistema de medição, sistema eletrônicos
e elétricos) da subestação, consistindo principalmente em atividade de operação da usina
(CPNSP, 2005). A Figura 3 traz uma subestação elétrica e LT de uma usina eólica.

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Figura 3. Instalações completa de uma usina eólica.

Fonte: ABDI (2014).

Atividade operacional da etapa E9: na etapa de geração de energia ocorrem às ativida-


des de operação e manutenção (limpeza, desbaste e recapeamento das lâminas, lubrificação
das partes móveis, revisão geral do gerador, substituição de componentes das unidades de
controle elétrico, rotor, caixa de velocidade, conversor, nacele, verificação dos isolamentos
dos cabos de alta tensão próximos de partes móveis etc.) e repotencialização (nas UEOL,
devido o recente desenvolvimento tecnológico é sempre recorrente o processo de substi-
tuição de turbinas mais velhas por outras mais novas e/ou maiores, processo semelhante à
etapa de construção) (Silva, 2017; EU-OSHA, 2013):

1. Integração da energia gerada no Sistema Interligado Nacional (SIN), manutenção


dos suprimentos de energia auxiliar e de emergência; manutenção civil; operação
de painéis de controle elétrico; acompanhamento e supervisão dos processos, me-
dição e supervisão dos processos de transformação, elevação e sincronização da
energia elétrica (CPNSP, 2005);
2. Interligação com a etapa de transmissão; atividades nas áreas das oficinas e labo-
ratórios de testes e manutenção elétrica, eletrônica e eletromecânica; realização de
testes, ensaios, calibração e reparos de equipamentos energizados ou passiveis de
energizamento acidental (Brasil, 1986);
3. Atividades em pátios e salas de operação de subestações, cabines de distribuição,
estruturas de redes de tração elétrica incluindo escadas, plataformas etc.;
4. Montagem eletromecânica, instalação, substituição, conservação, reparos, ensaios

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e testes de verificação, inspeção, levantamento, supervisão e fiscalização de: fusí-
veis, torres, condutores, pára-raios, postes, chaves, muflas, isoladores, transforma-
dores, capacitores, medidores, reguladores de tensão, religadores seccionalizado-
res, cruzetas, relé, aparelho de medição gráfica, bases de concretos ou alvenaria
de torres, postes e estrutura de sustentação de redes e linhas aéreas e demais
componentes das redes aéreas (Brasil, 1986).

METODOLOGIA

A busca dos dados de acidentes de trabalho fatais nas etapas selecionadas da energia
eólica ocorreu nos bancos de dados brasileiros:
No Anuário Estatístico de Acidentes de Trabalho (AEAT), que fornece dados nacionais
sobre os acidentes de trabalho no Brasil, a partir da Classificação Nacional de Atividade
Econômica (CNAE). O AEAT apresenta dados sobre acidentes de trabalho com e sem
afastamentos, acidentes de trabalho fatais, incapacidade permanente e doenças do tra-
balho. Os indicadores são elaborados em conjunto pelo Ministério da Previdência Social e
Secretaria da Previdência (Brasil, 2020). O Quadro 2 traz os dados encontrados dos acidentes
de trabalho fatais por CNAE entre 2017-2019 na cadeia de energia elétrica.

Quadro 2. Acidentes de trabalho fatais no Anuário Estatístico de Acidentes de trabalho.

Indicadores 2017 2018 2019


Geração de energia elétrica (3511) 6 3 6
Transmissão de energia elétrica (3512) 3 1 -
Distribuição de energia elétrica (3514) 10 6 5
Obras para geração e distribuição de energia elétrica e para
43 33 32
telecomunicações (4221)
Instalações elétricas (4321) 16 15 15
Fonte: Brasil (2020)

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) divulga anualmente desde 2009, dados
dos acidentes de trabalho fatais ocorridos com os trabalhadores próprios e trabalhadores
terceirizados das empresas de distribuição de energia elétrica do Brasil, espalhadas pelas
cinco regiões brasileiras. Além disso, traz os dados sobre acidentes fatais ocorridos com a
população nas instalações das RD.
No banco de dados da Aneel é possível identificar em qual concessionária ocorreu o
ATF (Aneel, 2021). O Quadro 3 traz os dados disponibilizados pela Aneel entre 2017-2020.

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Quadro 3. Acidentes de trabalho fatais nas empresas de distribuição de energia elétrica.

Indicadores 2017 2018 2019 2020


Trabalhadores próprios 6 3 6 11
Trabalhadores terceirizados 37 18 28 32
Fonte: Aneel (2021).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A energia eólica como demonstrado anteriormente trata-se de uma indústria fortemen-


te organizada no país. No entanto, no Brasil não há dados oficiais sobre os acidentes de
trabalho fatais originados pela energia eólica.
Especificamente, sobre as etapas selecionadas nada foi encontrado (construção da
infraestrutura e/ou geração de energia). Sejam no banco de dados oficial (AEAT) e/ou do-
cumentos, relatórios, estudos sobre as perspectivas e potenciais da energia enquanto al-
ternativa a outras fontes primárias.
O AEAT traz que na geração de energia elétrica (CNAE-3511) ocorreram em 2017, 2018
e 2019, respectivamente seis, três e seis acidentes de trabalho fatais. Não há informação
sobre as fontes primárias da matriz de energia elétrica do país (Brasil, 2020).
O AEAT para as obras para geração e distribuição de energia elétrica e telecomunica-
ções (CNAE-3221) e Instalações elétricas (CNAE-4321) traz que entre 2017-2019 ocorreram
153 acidentes de trabalho fatais. Nas duas CNAE se encontram empresas que oferecem
mão de obra terceirizada para as empresas líderes da cadeia de energia elétrica. Contudo
as informações não trazem detalhamento público onde ocorreram os acidentes de trabalho
fatais (Brasil, 2020).
Os únicos dados sobre acidentes de trabalho fatais nas etapas da energia eólica dentro
da cadeia de energia elétrica no Brasil são obtidos através de notícias de Jornais diários
(impressos e/ou on-line).
Desta maneira uma das limitações deste estudo foi não ter tido tempo hábil para realizar
uma investigação minuciosa e organizada metodologicamente neste veículo de informação.
Entretanto, a escassez de dados sobre acidentes de trabalho fatais nesta indústria que
apresenta um crescimento substancial entre 2009 e 2019 (de 0,2% para 8,6%) na matriz
elétrica do Brasil parece ter uma finalidade incompreensível.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O banco de dados oficial sobre acidentes de trabalho nas etapas de energia elétrica
deve permitir a rastreabilidade das causas raiz dos acidentes de trabalho e propor ações

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para a supressão dos acidentes de trabalho fatais. Ou seja, sua estrutura deve permitir
análises abrangentes sobre as causas raiz dos acidentes registrados e desta forma neutra-
lizá-las no futuro.
Um banco de dados deve ser capaz de oferecer elementos para uma avaliação compa-
rativa entre as etapas da cadeia de energia, por exemplo, na cadeia de energia elétrica, onde
ocorrem os acidentes de trabalho fatais na geração de energia elétrica, na usina hidrelétrica,
na usina eólica, na usina termoelétrica a carvão mineral, na usina termoelétrica a biomassa
etc. Ou nas construções de infraestrutura ocorrem acidentes de trabalho fatais onde?
A estrutura mínima de um banco de dados de acidentes de trabalho para as etapas da
cadeia de energia elétrica no Brasil deve ser considerada a partir da necessidade de se obter
informações que possam proporcionar ações de supressão dos acidentes de trabalho fatais.
Os bancos de dados brasileiros demonstraram a fragilidade das informações públicas
contidas nestes bancos. As informações não propiciam lições para evitar a repetição dos
acidentes de trabalho fatais ocorridos. Elas não permitem a rastreabilidade das causas raiz
dos acidentes de trabalho fatais.
Um observatório de acidentes de trabalho fatais da cadeia de energia elétrica do Brasil a
ser implantado na Universidade Federal do ABC pode contribuir com a formatação de bancos
de dados que rastreie os acidentes de trabalho fatais e assim contribuir para a supressão
destes acidentes de trabalho fatais.

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ano base 2018. Rio de Janeiro: EPE, 2019.

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ano base 2009. Rio de Janeiro: EPE, 2010.

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-transportada-por-carreta-esmaga-carro-e-deixa-dois-mortos-na-br-020-no-interior-do-
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07
Sonolência excessiva diurna entre os
agentes penitenciários em uma Unidade
Prisional do estado do Acre

Anderson Oliveira Nogueira Maura Bianca Barbary de Deus


LaMEECCS LaMEECCS
Universidade Federal do Acre - UFAC Universidade Federal do Acre - UFAC

Larissa Carolynne da Silva Mendes Fabiano Santana de Oliveira


LaMEECCS LaMEECCS
Universidade Federal do Acre - UFAC Universidade Federal do Acre - UFAC

Francisco Naildo Cardoso Leitão Rejane Rosas Barbary de Deus


LaMEECCS LaMEECCS
Universidade Federal do Acre - UFAC Universidade Federal do Acre - UFAC

Vitor Djannaro Eliamen da Costa Júlio Eduardo Gomes Pereira


LaMEECCS LaMEECCS
Universidade Federal do Acre - UFAC Universidade Federal do Acre - UFAC

Mauro José de Deus Morais Carlos Roberto Teixeira Ferreira


LaMEECCS LaMEECCS
Universidade Federal do Acre - UFAC Universidade Federal do Acre - UFAC

'10.37885/220408712
RESUMO

Objetivo: Verificar a sonolência excessiva diurna dos agentes penitenciários da Unidade


de Regime Fechado N°02 A.A.A. de Rio Branco – Acre. Métodos: Trata-se de um estudo
exploratório e de natureza transversal, composto de uma população por conveniência, do
sexo masculino do sistema prisional URF-02 A.A.A. de Rio Branco – Acre. Para a avaliação
da sonolência excessiva diurna, será utilizado o questionário da Escala de Sonolência de
Epworth (ESE), já testada e validada para língua portuguesa. Para participarem da pes-
quisa, os voluntários receberam todas as informações relacionadas aos objetivos e meto-
dologia do estudo e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os dados
foram tabulados no programa Excel® e posteriormente analisados no software livre Biostat
5.5. A análise dos dados ocorreu através de estatística descritiva utilizando-se os cálculos
de frequências relativas e porcentagem. Resultados: São apresentadas algumas caracte-
rísticas dos indivíduos que participaram da pesquisa. Observa-se primeiramente o total de
50 Agentes Penitenciários que participaram da pesquisa com idade média de 35,18 anos, e
que conforme os dados coletados foram constatados que a incidência de SED é de 6,44%
entre o grupo, as considerações da qualidade do sono, em que 27 consideram o sono bom
dando um percentual de 54,0% e 23,0% consideraram o sono ruim com um percentual de
46,0%. Conclusão: Com base nas discussões e nos resultados obtidos durante a pesqui-
sa, concluímos que os Agentes Penitenciários da URF-02 A.A.A. de Rio Branco - AC não
estão tendo sonolência excessiva diurna, com isso não interferindo na realização de suas
tarefas operacionais.

Palavras-chave: Agente Penitenciário, Sono Diurno, Sonolência Excessiva.


INTRODUÇÃO

O sono é um processo fisiológico natural, reversível e que acontece de maneira cícli-


ca (GUIMARÃES; SOUZA, 1999). O sono exerce um importante papel na restauração de
energia, na concentração, na consolidação da memória e nos processos que envolvem a
aprendizagem (CARVALHO; GOMES; TRINDADE-FILHO, 2010).
A sonolência excessiva e o déficit de atenção durante o trabalho, e fora dele, impli-
cam também riscos para a segurança do trabalhador e seu relacionamento. Numerosos
acidentes, nos quais o fator humano é considerado responsável, ocorrem em horários de
maior tendência a dormir (FISCHER; MORENO; ROTENBERG, 2003). O termo sonolência
é empregado aqui como a propensão a cochilar ou a adormecer quando a intenção é ficar
acordado, distinguindo-se do cansaço ou fadiga, que não estão sempre relacionados à so-
nolência (JOHNS E HOCKING 1997).
De acordo com Verri et al (2008), os indivíduos que sofrem privação do sono mostram-
-se menos produtivos e ambiciosos. Além de que, a perda de sono altera o desempenho de
habilidades cognitivas, tais como memória, raciocínio lógico, cálculos e tomada de decisões.
A sonolência excessiva diurna (SED) é um sintoma complexo e não um transtorno, e
é definida pela classificação internacional dos transtornos do sono, 2005 (IDSD-2) como a
incapacidade de se manter acordado e alerta durante os principais períodos de vigília do
dia, resultando em sonolência e lapsos de sono não intencionais (STORES G, 2007).
Os principais fatores que colaboram para a SED são: quantidade e qualidade do sono,
horário de acordar; condições médicas ou neurológicas associadas ou um estado clínico
geral que poderia ter impacto no sono; uso de substância psicoativa e presença de hipersonia
primária (MORRISON; RIHA 2012, OHAYON, 2008). Neste sentido, o objetivo deste estudo
foi verificar a sonolência excessiva diurna entre os Agentes Penitenciários da Unidade de
Regime Fechado N°02, A.A.A de Rio Branco - Acre.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo exploratório e de natureza transversal, composto de uma po-


pulação por conveniência, do sexo masculino do sistema prisional URF-02 A.A.A. de Rio
Branco – Acre. Para a avaliação da sonolência excessiva diurna, foi utilizado o questionário
da Escala de Sonolência de Epworth (ESE), já testada e validada para língua portuguesa.
Os dados obtidos por meio da escala foram autoaplicáveis ​​e os sujeitos foram solici-
tados a classificar, em uma escala Likert de zero a três, a probabilidade de adormecer em
oito situações com base em sua vida habitual recente. Os participantes foram convidados
a distinguir entre dormir e apenas estar cansado. Se o sujeito não tivesse experimentado

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99
nenhuma das situações recentemente, ele foi solicitado a avaliar a probabilidade de dormir
de qualquer maneira. A pontuação total pode variar de 0 a 24. Assim, os resultados entre 0
e 10 pontos indicam ausência de sonolência; entre 11 e 16 pontos, sonolência leve; entre
17 e 20 pontos, moderada; e entre 21 e 24 pontos, severa.
Para participar da pesquisa, os voluntários receberam todas as informações relacio-
nadas aos objetivos e metodologia do estudo e assinaram o Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido (TCLE). Como critério de exclusão, foram excluídos do estudo os indivíduos
que se recusaram a participar e/ou tivessem de férias ou licença do serviço.
Os dados foram tabulados no programa Excel e posteriormente analisados no software
livre Biostat 5.5. A análise dos dados ocorreu através de estatística descritiva utilizando-se
os cálculos de frequências relativas e porcentagem.

RESULTADOS

No estudo, são apresentadas algumas características dos indivíduos que participaram


da pesquisa. Observa-se primeiramente o total de 50 Agentes Penitenciários (AGEPENs)
que participaram da pesquisa com idade média de 35,18 anos, e que conforme os dados
coletados foram constatados que a incidência de SED é de 6,44% entre o grupo, sendo
assim foi considerado sem sonolência excessiva diurna.
Em seguida, são apresentadas as considerações da qualidade do sono do
AGEPENs. Do total de 50 participantes, 27 (54,0%) consideram seu sono bom, enquanto
23 (46,0%) consideraram seu sono ruim.
Na tabela 1 podemos observar uma distribuição mais detalhada e complexa quanto
à presença de Sonolência Excessiva Diurna (SED), onde dos 50 AGEPENs entrevistados,
o diagnóstico e resultado da pesquisa foram apresentados em maior quantidade níveis de
SED normais para 86,0% dos entrevistados, e para os demais que apresentaram SED, com
diagnóstico de sonolência leve, sonolência moderada e sonolência severa, onde podemos
observar que dos diagnósticos abaixo, há apenas predominância do estado de Sonolência
Leve com um total de 14,0% dos entrevistados, sem resultados obtidos para casos mode-
rados e nem severos de SED.

Tabela 1. Distribuição dos AGEPENs quanto à presença de SED.

Agentes Penitenciários da URF-02 A.A.A. de Rio Branco – Ac


Diagnóstico
Número de Avaliados Porcentagem
Normal 43 86,0%
S. Leve 07 14,0%
S. Moderada 00 00,0%
S. Severa 00 00,0%
Total 50 100,0%
Fonte: Próprio Autor.

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100
DISCUSSÃO

O trabalho por turnos noturnos fixos, rotativos ou em regime de plantões é comum em


diferentes ocupações, especialmente na área da segurança pública. O aumento da atuação
em turnos noturnos tem provocado o crescimento no número de pessoas com dificuldades
de sincronia entre os ambientes físicos, sociais e profissionais (ESPINOSA, 2002).
Para Lourenço (2010), o agente penitenciário tem uma vida com duas dimensões: uma
interna, dentro dos presídios, que expõe o profissional ao desempenho de uma função de
alto risco e a situações estressantes, causando-lhe, com isso, inúmeras doenças, conforme
demonstra o Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2015); outra externa, que se relaciona
com a sociedade, de modo geral.
Klawe et al. (2005) expõem que o trabalho por turnos está relacionado com distúrbios
de saúde, sendo o turno noturno o que apresenta uma maior influência negativa sobre os
aspectos biológicos, de trabalho, pessoais e médicos. O agente de segurança que trabalha
no turno noturno dorme durante o dia, reduzindo assim o tempo para a família, estudo e la-
zer (PANDI-PEREUMAL; VILA B, 2006). Com relação aos aspectos médicos, encontram-se
problemas de respiração, ronco e lesão (CHARLES et al., 2007; TAFIL-KLAWE M et al.,
2005; VIOLANTI et al., 2012).
Conforme acima exposto, observa-se que 46,0% dos participantes consideraram a
qualidade do sono ruim, em que com a qualidade do sono prejudicada diminui o estado de
alerta e a dificuldade de manter o foco, além de lapsos de atenção. Ao tentar cumprir as
obrigações profissionais, surge o débito de sono, resultando em privação crônica parcial do
sono e sonolência excessiva diurna (ZEE; ZHU, 2012).
A sonolência excessiva diurna (SED) é o segundo transtorno do sono mais comum
na população geral, depois apenas da insônia (MAIRE; REICHERT; SCHMIDT, 2013;
KOROMPELI et al., 2014). Afeta as funções cognitivas, como memória e concentração, e
a qualidade de vida, constituindo-se preocupante problema de saúde pública (ANDREOLI;
MARTINO, 2012; CARVALHO et al., 2013; KOROMPELI et al., 2014).
Ainda, os agentes de segurança que trabalham no período noturno possuem opor-
tunidades restritas para participação de exercícios físicos, aumenta o risco de doenças e
consequentemente prejudica o desempenho ocupacional. Estudos indicam que o aumento
do comportamento sedentário em indivíduos que passaram por privação do sono, devido
a diminuição dos níveis de atividade física e redução do condicionamento físico, ocorrem o
aumento do risco de doenças cardiovasculares e metabólicas, tais como diabetes do tipo 2
e obesidade (BROMLEY et al., 2012; SCHMID et al., 2009).

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101
CONCLUSÃO

Com base nas discussões e nos resultados obtidos durante a pesquisa, concluímos
que a qualidade do sono é fundamental para o sistema penitenciário como também para as
outras categorias e instituições públicas. A qualidade do sono permite ao servidor do sistema
penitenciário, a disposição necessária para resolver determinadas situações inesperadas
que possam ocorrer durante o andamento do serviço de forma eficiente e satisfatória.
Assim sendo, os Agentes Penitenciários da URF-02 A.A.A. de Rio Branco- AC não estão
tendo sonolência excessiva diurna significativa, consequentemente, não havendo prejuízos na
realização de suas tarefas operacionais de acordo com os resultados obtidos nessa pesquisa.
As principais limitações deste estudo são a utilização de um questionário para avaliar
indiretamente problemas da sonolência excessiva diurna, o que pode levar a interpretação
de medidas subestimadas ou superestimadas dos agentes penitenciários e a amostragem
por conveniência.

Agradecimentos

Agradecemos ao Laboratório Multidisciplinar de Estudos e Escrita Científica em Ciências


da Saúde (LaMEECCS) da Universidade Federal do Acre (UFAC) e a todos os pesquisa-
dores e estudantes das diversas instituições parceiras pelo Brasil, que de forma direta e
indiretamente contribuem para o desenvolvimento de pesquisas científicas na Amazônia
Ocidental Brasileira.

REFERÊNCIAS
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Saúde do trabalhador: estudo de acidentes
de trabalho com animais peçonhentos em
atividades rurais no estado de Minas Gerais
e suas medidas preventivas

Grasiela Aparecida Coura Querobino Risa Cordeiro Alves de Brito Ruela


Alvarenga UNIVALE
IFMG -GV
Renato Tolentino de Sene
Thainá Richelli Oliveira Resende IFMG-GV
UFJF

Edilene Márcia de Sousa


UFJF

'10.37885/220207915
RESUMO

Os animais peçonhentos são um dos riscos presentes na rotina do trabalho rural. Objetivo:
indicar a incidência de acidentes com animais peçonhentos no estado de Minas Gerais, escla-
recendo os aspectos sobre os gêneros naturalmente encontrados no estado, os equipamentos
de proteção individual - EPI e as medidas de proteção contra esses acontecimentos. Método:
foi uma explanação teórica e quantitativa que se baseou em pesquisa bibliográfica em publi-
cações informativas, artigos científicos e outros similares de instituições de pesquisa. Como
também as notificações do Datasus no período de 2015 a 2020. Os dados foram processados
no software MS Excel por meio de estatística descritiva, organizando-os, apresentando-os
e sintetizando-os através do uso de medidas de posição/tendência central (média) e de dis-
persão/variabilidade (amplitudes, desvios-padrão, coeficientes de variação). E para avaliar
se houve diferença estatisticamente significativa na ocorrência destes acidentes entre cada
tipo de animal utilizou-se a análise da variância (ANOVA). Resultados: foram encontradas
várias incidências dos acidentes, ao qual analisadas a partir dos dados do Datasus. O que
nos revelou um aumento progressivo na quantidade de ocorrências registradas, e além disso,
que a maior parcela dos acidentes corresponde àqueles envolvendo escorpiões, seguido
de aranhas e serpentes. Conclusão: em função de suas atividades laborais e de onde
estas são realizadas, o trabalhador rural mineiro está constantemente sujeito à ocorrência
de acidentes com animais peçonhentos, tornando-se necessária, portanto, a aplicação de
medidas de proteção para o trabalhador rural, visando protegê-lo em casos de contato com
esses animais, como: orientações, treinamentos de segurança e o fornecimento de EPI de
acordo com as suas atividades laborais.

Palavras-chave: Animais Peçonhentos, Trabalho Rural, Medidas de Proteção, Saúde Pública.


INTRODUÇÃO

Assim como os trabalhadores urbanos, os rurais também estão sujeitos a acidentes


durante o exercício de suas funções. Grande parte desses acidentes são causados por uso
incorreto de maquinário e pela exposição do trabalhador rural a riscos ambientais (COIMBRA
JR, 2018). Além destas causas citadas, um outro risco importante assola os trabalhadores
rurais: o acidente com animais peçonhentos. Tais animais, quando em busca de presas ou
em situação de ameaça, são capazes de inocular substâncias venenosas através de ferrões
ou dentes inoculadores, provocando reações diversas no organismo picado. Os animais
peçonhentos são considerados aqueles que tem glândulas de veneno e que podem injetar
este por dentes, ferrões ou aguilhões; são estes considerados: serpentes, aranhas, abelhas,
escorpiões, lagarta, entre outros (BRASIL, 2020). Estes animais geralmente se abrigam
próximo a locais frequentados pelos trabalhadores rurais, como instalações de madeira e
plantações, provocando um aumento no nível de exposição a esse tipo de risco (INSTITUTO
BUTANTAN, 2017).
Devido a essas circunstâncias, a Secretaria de Saúde do estado de Minas Gerais regis-
trou cerca de 51.333 casos somente em 2018, envolvendo animais peçonhentos; e nos anos
entre 2015 a 2020 foram registradas quase 260 mil ocorrências e infelizmente mais de 300
mortes de trabalhadores. Isso, ocorrendo um aumento considerável de ocorrências durante o
período chuvoso. Esses números aumentaram em relação ao ano de 2017 quando ocorreram
cerca de 40 mil casos e 49 óbitos, e a maioria dos acidentes é causada por escorpião (BRASIL
– MINSTÉRIO DA SAÚDE, 2022; SECRETARIA DA SAÚDE DE MINAS GERAIS, 2022).
Dadas a alta incidência de acidentes com animais peçonhentos em Minas Gerais (me-
lhor detalhada mais à frente) e a potencial gravidade destes acidentes (que pode levar à
perda de um membro ou mesmo à morte), o presente trabalho teve como objetivo analisar a
situação dos acidentes com animais peçonhentos no estado nos últimos 5 anos, buscando
apresentar um panorama o mais atual possível. Além disso, esta pesquisa pretende indicar
os animais peçonhentos naturalmente encontrados na região, focalizando a descrição de
aspectos dos gêneros de serpentes, aranhas e escorpiões presentes no estado. Por fim, é
também objetivo desta pesquisa apontar, dentre outras medidas de proteção, os equipamen-
tos de proteção individual (EPIs) capazes de proteger o Trabalhador Rural contra acidentes
com animais peçonhentos.

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MÉTODO

Pesquisa Bibliográfica

Trata-se de um estudo epidemiológico, descritivo de caráter quantitativo. Foi reali-


zada, uma pesquisa bibliográfica na base de dados Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) a
fim de estabelecer os primeiros conhecimentos a respeito do tema e identificar possíveis
fontes primárias para obtenção de dados epidemiológicos e informações específicas sobre
os animais pesquisados. Entende-se por fontes primárias, no contexto deste artigo, publi-
cações oficiais, manuais de diagnóstico, textos educativos e outros que foram publicados
por órgãos governamentais de saúde, além de instituições de pesquisa especializadas em
animais peçonhentos, como a Fundação Oswaldo Cruz e o Instituto Butantan. Utilizou-se
dados fornecidos pela Secretaria do Estado de Minas Gerais para o estudo temporal (2015-
2020) na população investigada. As notificações dos acidentes com animais peçonhentos
na região de Minas Gerais (MG) ente os anos de 2015 a 2020 foi de quase 260 mil, dos
quais 327 ocasionou em óbitos.

Uso do TABNET

Já para os resultados quantificados de acidentes com animais peçonhentos em Minas


Gerais, foram utilizados os dados disponibilizados no recurso TABNET, da página eletrônica
Datasus, administrada pelo Ministério da Saúde. Para a coleta dos dados, foram seguidos
os seguintes passos:

I) Acesso ao recurso TABNET, na plataforma Datasus;


II) seleção dos seguintes campos, de modo sequencial: “Epidemiológicas e Morbi-
dade”, “Doenças e Agravos de Notificação - 2007 em diante (SINAN) ”, “Acidentes
por Animais Peçonhentos”, “Minas Gerais”;
III) na página seguinte, no campo dito “ACIDENTE POR ANIMAIS PEÇONHEN-
TOS - NOTIFICAÇÕES REGISTRADAS NO SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE
AGRAVOS DE NOTIFICAÇÃO - MINAS GERAIS”, foram selecionadas as seguin-
tes características de pesquisa: “Linha: Ano acidente”, “Coluna: Tipo de Acidente”
e “Conteúdo: Notificações”;
IV) na seção “PERÍODOS DISPONÍVEIS”, os seguintes anos foram selecionados,
nesta ordem: “2015”, “2016”, “2017”, “2018”, “2019” e “2020”. Após a seleção de
cada ano, as delimitações descritas no item IV foram revisadas e, clicou-se na op-
ção “Mostra”, mais abaixo na página eletrônica. Cinco tabelas foram obtidas a partir
desta pesquisa, relativas aos respectivos anos selecionados.

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Os dados relatados com “Ign/Branco” foram desconsiderados para os cálculos das
categorias “Outros” e “Total”. Além de outros não identificados pelo Datasus, os dados lan-
çados na plataforma como as colunas “Lagarta” e “Abelha” foram incluídos na tabela acima
na seção “Outros”.

Organização dos dados

Para a organização dos dados obtidos na plataforma Datasus, utilizou-se o recurso


denominado “Excel”, da plataforma Microsoft Office, a qual foi disponibilizado em tabelas.

Análises dos Dados

Os dados referentes aos acidentes de trabalho com os animais peçonhentos foram pro-
cessados no software MS Excel por meio de estatística descritiva, organizando-os, apresen-
tando-os e sintetizando-os através do uso de medidas de posição/tendência central (média)
e de dispersão/variabilidade (amplitudes, desvios-padrão, coeficientes de variação). Para
avaliar se houve diferença estatisticamente significativa na ocorrência destes acidentes entre
cada tipo de animal utilizou-se a análise da variância (ANOVA). Deste modo, para examinar
a associação entre as variáveis utilizou-se o teste t de student para avaliar a rejeição ou
não rejeição da hipótese inicial (H0 ou hipótese nula). Essa etapa foi realizada com o auxílio
do software IBM SPSS Statistics, sistema computacional dedicado a esses tipos de cálcu-
los. Os resultados foram considerados estatisticamente significantes para um valor p ≤ 0,05.

Indicação do EPI

Quanto à identificação dos EPI’s capazes de proteger o Trabalhador Rural contra aci-
dentes com animais peçonhentos, a pesquisa se deu de forma a correlacionar as informa-
ções constantes na NR-6 e as características comuns aos ataques por serpentes, aranhas
e escorpiões no estado mineiro. A partir da pesquisa qualitativa, concluiu-se que os ataques
de escorpiões, serpentes peçonhentas e de alguns gêneros de aranha ocorrem através de
dentes inoculadores, ferrões ou similares, todos tendendo a causar perfurações para inocular
a peçonha. Logo, os EPIs indicados neste artigo são aqueles que a norma NR-6 estabelece
como possibilidade de proteção contra agentes cortantes e perfurantes (BRASIL, 2020).

Medidas de prevenção

Algumas medidas de prevenção citadas neste estudo (e complementares ao uso de


equipamentos individuais) podem ser aplicadas ao ambiente de trabalho e/ou ao ambiente
domiciliar. Para o embasamento dessas medidas, foram utilizados os parâmetros indicados

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pelas instituições Fiocruz e Butantan como as manifestações mais comuns de habitat e
comportamento de animais peçonhentos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com as buscas de notificações e registros de acidentes de trabalho, po-


demos observar na tabela abaixo que foram encontrados de 2015 a 2020, sendo os anos
de sua ocorrência.

Tabela 1. Notificações de acidente por animais peçonhentos registradas pelo SINAN em Minas Gerais

Ano de ocorrência
Tipo
2015 2016 2017 2018 2019 2020
Aranha 3.306 3.425 3.713 5.245 5.231 4.898
Escorpião 19.925 21.577 28.166 35.770 35.598 36.450
Serpente 2.618 2.511 3.328 3.336 3.397 3.439
Abelha 2.310 2.255 2.630 2.923 2.850 2.400
Lagarta 738 819 1.103 1.695 1.550 1.263
Outros 1.422 1.265 1.601 1.986 2.002 1.649
Total 30.515 32.074 40.880 51.333 51.032 50.625
Fonte: Ministério da Saúde/SVS - Sistema de Informação de Agravos de Notificação - Sinan Net. / Acessado em 23 de fevereiro, 2022.

Os dados demonstrados nesta tabela acima relatam os acontecimentos de acidentes


de trabalho acometidos pelos animais peçonhentos das regiões rurais do estado de Minas
Gerais, e que destaca o maior número com o escorpião, justificando pelo fato de ser locais
propícios de seu habitat, pelo fato da região ter climas favoráveis para sua sobrevivência e
proliferação. Entre outros aspectos que contribuem como por exemplo, o crescimento urbano
e o descarte incorreto de lixo e entulhos nas cidades, considerado um desrespeito com o
meio ambiente (PORTAL DA SAÚDE, 2017; FERREIRA, ROCHA; 2019).
E fazendo uma comparação entre os períodos deste tipo de animal peçonhento ob-
servamos que só em 2020 em relação ao ano de 2015 teve um aumento significativo de
mais de quase 50%, destacando a importância de se trabalhar com medidas preventivas e
orientavas aos trabalhadores desta região. A prevalência dos acidentes com o Escorpião foi
demonstrada em destaque que foi quase 70% em relação a quantidade total dos acidentes
nos períodos estudados. Já em segundo, a aranha foi que mais houve acidentes com qua-
se 26 mil casos destes períodos. Podemos observar uma grande diferença entre os dois
primeiros. Depois vem sucessivamente de forma crescente em números de acidentes, a
serpente (18.629), a abelha (15.368), a lagarta (7.168) e outros. Assim, podemos observar
que a partir do ano 2017 estes acidentes tiveram aumentos a cada ano após, mas o ano que
se destacou em maior quantidade foi o ano de 2018 com mais de 51.300 (BRASIL, 2022).
Desta forma, a tabela pode nos fazer atentar que muitos trabalhadores sofreram com estes

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tipos de acidentes e que houve até número de mortes registradas no período estudado,
fazendo com que devemos buscar medidas para eliminar e/ou diminuir estes agravos na
saúde para o trabalhador e como também a Saúde Pública de Minas Gerais.

Tabela 2. Comparação das médias obtidas em cada grupo de animais peçonhentos.

Média Variância Desvio Padrão


4.303 702594,3333 838,2090034
29.581 46832624,67 6843,436612
3.105 148319,1389 385,1222389
2.561 66980,55556 258,8060192
1.195 123222,8889 351,0311794
1.654 73217,80556 270,5878888
Grupo Contagem Soma Média Variância
Aranha 6 25818 4303 843113,2
Escorpião 6 177486 29581 56199149,6
Serpente 6 18629 3104,833333 177982,9667
Abelha 6 15368 2561,333333 80376,66667
Lagarta 6 7168 1194,666667 147867,4667
Outros 6 9925 1654,166667 87861,36667
Total 6 256459 42743,16667 94288771,77
ANOVA
Fonte da variação SQ gl MQ F valor-P F crítico
Entre grupos 10231771305 6 1705295217 78,62 7,67E-19 2,37
Dentro dos grupos 759125615,2 35 21689303,29
Total 10990896920 41

Foi aplicado o teste de variância (ANOVA) para comparar as médias obtidas em cada
grupo, estabelecendo um nível de significância de 0,05. O valor-p calculado está abaixo do
nível de significância alpha escolhido (0,05) e conforme o teste F aplicado foi obtido um F crí-
tico de 2,371 aproximadamente, diante de um F observado de 78,64.
Dados que nos mostram evidências de rejeição da hipótese nula, ou seja, as médias
dos grupos Aranha, escorpião, serpente, abelha, lagarta e outros apresentam diferenças
significantes do ponto de vista estatístico. Isso significa que em pelo menos um dos grupos
a média obtida tenderá a ser maior ou menor para futuras distribuições.
Já um estudo realizado por Alencar et al. (2019), na região de Guaraí em Tocantins,
dos anos de 2015 a 2017 tiveram mais de 170 casos de acidentes com animais peçonhentos.
Sendo a metade do período deste estudo, mas ainda o estudo deles mostrou que o maior
número de acidentes ocorreu com as serpentes em seguida com os escorpiões.
Estes tipos de acidentes são complicados de acordo com cada tipo de animal, devido
a substâncias tóxicas injetada, como também a imunidade do atacado e principalmente
a quantidade de tempo entre o ataque e assistência. As dificuldades com estes agravos
são diversas, podemos citar, uma queimadura leve e até mesmo a morte do trabalhador
(CARDOSO et al., 2009). Tem certas populações que não consideram importante estudar

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estes casos de acidentes. No Brasil, de 2010 a 2016 foi registrado mais de 890 mil casos
por ataques de animais peçonhentos, somente na região do Nordeste foi de 32% destes
casos (ROSA et al., 2015).
O escorpião se adapta em acúmulos de lixos, monteados de tijolos, telhas e eles se
alimentam de insetos em geral. O que favorece as moradias destes animais são a falta de
coleta seletiva, problemas com a falta de saneamento básico e a consciência dos moradores
da região (CANTER, 2008; NODARI et al., 2006).
Assim de acordo com os resultados encontrados podemos perceber que atitudes ur-
gentes devem ser tomadas por parte da segurança do trabalho e seus empregadores das
regiões de zona rural, pois acidentes deste tipo podem levar a lesões graves a morte. De
acordo com Alves et al. (2017), estes animais são muito perigosos, seja por reações anafi-
láticas resultante de uma picada ou por uma intoxicação que pode resultar a morte.
Outro estudo na região do Norte do Brasil verificou que esta região é a segunda maior
incidência do país, tornando uma grande problemática para a saúde pública federativa. A pes-
quisa foi realizada no município de Tabatinga, no período de um ano (2013 – 2014), mas
foi registrado 74 acidentes de trabalho, sendo a maior proporção entre as serpentes (71) e
depois a aranha (02) e seguinte o escorpião (01). Portanto, é essencial a implementação de
estratégias de prevenção que sejam trabalhadas junto às comunidades ribeirinhas (ASSIS;
RODRIGUES; LIMA, 2019).
Os equipamentos de proteção individual de segurança indicados para este tipo de tra-
balho, segundo a Norma regulamentadora de número 6 (NR-06) na zona rural são: sapatos
de segurança ou bota, calças compridas, luvas de raspa ou de vaquetas, perneira de raspa.
Como também é importante salientar a orientação quanto ao uso destes equipamentos a
cada trabalhador (BRASIL, 2020). Segundo o Departamento de Segurança no Trabalho,
o uso de equipamentos de proteção individual são atribuições necessárias e importantes
junto com outras medidas, como, exames ocupacionais, equipamentos de proteção coletiva,
condições sanitárias do local realizadas pela empresa (CHAGAS et al., 2012).
Já para Saliba (2013), a eliminação destes possíveis acidentes, podem ser por medidas
preventivas as quais devem ser implantadas com a finalidade de prevenir e controlar estes
riscos que são relativos ao ambiente de trabalho e ao profissional. As medidas podem ser
relativas ao ambiente de trabalho, que podem ser aplicadas na fonte ou na trajetória, estas
devem ser prioritárias; medidas administrativas, como limitação de tempo de exposição
ao risco do profissional, educação, treinamentos e exames médicos; e por último o uso de
equipamento de proteção individual (EPI) (quando não é possível o controle coletivo ou
administrativo).

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Em uma pesquisa realizada também no Estado de Minas Gerais, com o objetivo de
verificar situações relacionadas à segurança do trabalho de trabalhadores rurais, verificou
que todo exercício desta profissão está sujeito a acidentes, mas que estes devem estar
orientados quanto a estas atividades, principalmente devido a exposição de outros agentes
como: objetos cortantes, máquinas providas de serviços agrícolas e as quedas humanas.
Nesta pesquisa observou que os animais peçonhentos foi o segundo tipo de acidente mais
causado entre estes trabalhadores, sendo 26,7% com cobras e escorpiões (LIMA et al., 2021).
Portanto a necessidade de cobrar dos nossos órgãos competentes de saúde pública
para investir em estratégias e medidas de segurança para os trabalhadores que trabalham
nas zonas rurais do estado de Minas Gerais, buscando realizar práticas de segurança do
trabalho, fiscalizando as empresas que possuem atividades nestas regiões. Orientando sobre
as noções de prevenção dos riscos de acidentes ocasionados com animais peçonhentos,
como também auxiliar na distribuição de equipamentos de proteção individual e principal-
mente orientá-los quanto ao uso dos mesmos.

CONCLUSÃO

O presente estudo mostrou que os acidentes com animais peçonhentos ainda são pou-
cos estudados, ratificado sua respectiva importância para a saúde pública, tendo em vista que
muitos acidentes podem ser evitados se houver mudanças nos órgãos fiscalizadores e de
saúde. A incidência dos acidentes foi detectada com o maior número através dos escorpiões,
seguido de serpentes, aranhas, abelhas e outros. Segundo a NR-06, o trabalho realizado
na zona rural deve ser utilizado alguns dos equipamentos de proteção individual que são
sapatos de segurança ou bota, calças compridas, luvas de raspa ou de vaquetas e perneira
de raspa e principalmente a orientação quanto ao uso destes equipamentos. Em função das
atividades laborais dos trabalhadores rurais mineiros e de onde estas são realizadas, estes
estão constantemente sujeito à ocorrência de acidentes com animais peçonhentos, o que
deve ser investigado e analisado para que medidas de segurança sejam inseridas e adap-
tadas nos locais de trabalho. Dados os índices desses acidentes no estado, percebe-se um
aumento progressivo no número de ocorrências entre 2017 a 2020. Torna-se necessária,
portanto, a aplicação de medidas de proteção para o trabalhador rural, visando protegê-lo
em casos de contato com esses animais.
O trabalho realizado na zona rural ainda é muito precário, pois há carência de recursos
econômicos para melhor investimento em segurança do trabalho, para que estes trabalha-
dores possam ser mais orientados e informados de situações de riscos de acidentes. Neste
estudo observou que os animais peçonhentos são um problema de saúde ocupacional entre
os trabalhadores rurais de Minas Gerais, e que o escorpião se destacou com o maior número

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113
de Comunicação de acidentes de trabalho - CAT abertas ao sistema de saúde. Observa-
se também que há um grande desafio quanto a utilização dos EPI’s, de forma adequada e
suficiente, tendo aí, desta forma um desafio para os profissionais da segurança do traba-
lho. E ainda um obstáculo para esta área é o investimento em treinamentos de segurança
do trabalho, por ser difícil ser aplicada em todo contexto rural.
Considerando-se a proposta desta pesquisa, pode-se dizer que os objetivos foram
atingidos. No entanto, é importante considerar as limitações do estudo, assim como possibili-
dades para futuras pesquisas. A pesquisa foi realizada apenas na região do estado de Minas
Gerais, o que restringe a análise da configuração territorial de um modo geral, considerando
que há realidades diferentes em outras regiões e estados. Assim recomenda-se que estudos
sejam realizados envolvendo outras localidades e empresas do ramo rural, seja em públicas
ou particulares, contemplando diferentes realidades. Também não se pode generalizar os
dados, nem afirmar que sejam representativos da população da região.
Ressalta-se ainda que conhecer os riscos de acidentes do trabalho acometidos por
animais peçonhentos seria muito oportuno. Compreender suas atitudes e conhecimentos
quanto ao risco e suas medidas de proteção; individual e/ ou coletivas.
Destaca-se ainda ser oportuno conhecer o entendimento dos empregadores quanto ao
assunto, como também a exigência dos órgãos fiscalizadores neste ambiente de trabalho,
pois a prevenção inclui ações conjuntas, estabelecidas entre trabalhadores e gerência dos
serviços, uma vez que ações isoladas são consideradas ineficazes para a minimização/
eliminação destes agravos.

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datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sinannet/cnv/animaismg.def. Acesso em: 23 fev. 2022.

Segurança do Trabalho: experiências exitosas - ISBN 978-65-5360-124-6 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org - Vol. 2 - Ano 2022
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09
Cultura preventiva: análise de implantação
do programa de segurança do trabalho
DuPont na empresa mosaic fertilizantes
cajati

Robson Cardoso de Freitas

'10.37885/220508909
RESUMO

A segurança do trabalho é algo que precisa ser levado muito a sério nas mais diversas
empresas. Em pleno século XXI, com as transformações das tecnologias, com avanços
dos métodos de segurança do trabalho a preocupação está principalmente na redução de
riscos que a empresa pode gerar ao trabalhador e como como estes riscos podem afetar
a curto e a longo prazo. Desta forma o presente estudo tem como objetivo demonstrar na
prática como a cultura preventiva pode ser utilizada dentro da empresa Mosaic Fertilizantes
Cajatí para a redução de risco de segurança do trabalho. Tal metodologia trata-se de uma
análise de um trabalho de pesquisa que ocorreu na empresa Mosaic Fertilizantes Cajati no
ano de 2020, ao mesmo tempo. Como resultados pode-se observar que a implantação das
metodologias disponibilizadas pelo sistema Dupont demonstrou novos paramentos para uma
nova regulamentação de política de prevenção a riscos na empresa Mosaic Fertilizantes
Cajati. Uma vez que nos resultados demonstrados pela empresa, a empresa começou a
observar que metodologias simples podem ajudar na redução de riscos. Com conclusão,
pode-se afirmar que é necessária qualquer empresa mantenha uma cultura preventiva de
risco ao colaborador e ao mesmo tempo entenda que todos são responsáveis por esta cul-
tura. A metodologias prevencionistas podem muitas vezes ser simples e que geram grandes
consequências positivas a longo prazo tanto para a empresa quanto para o trabalhador.

Palavras-chave: Cultura Preventiva, Sistema DuPont, Segurança do Trabalho.


INTRODUÇÃO

Na década de 1990, o CEO da DuPont, Ed Woolard, criou o chamado DuPont Discovery


Team, o sistema propunha um espectro dimensional no qual a organização pode ser colo-
cada, de acordo com a pontuação que obtém no processo de avaliação que consiste em um
questionário de percepção de segurança, no qual os membros da organização expressam seu
grau de posição em relação a uma série de 27 questões do tipo Likert (ALMEIDA et al., 2018).
As questões colocadas estão centradas em três eixos que são elementos comuns e
essenciais da cultura da empresa, aplicada neste caso à saúde e segurança no trabalho:
liderança, estrutura e processos. Um dos resultados mais conhecidos derivados em 1994
desse grupo de trabalho foi a chamada Curva de Bradley (nome de um dos operadores da
usina que participou desse grupo de trabalho: Vernon Bradley (FRANÇA, NOGUEIRA, 2021).
A curva de Bradley é uma das primeiras e mais conhecidas tentativas de abordagem
da Cultura Preventiva, a mesma permite que as organizações entendam onde estão no
caminho para alcançar uma cultura de segurança eficaz. Uma vez conhecido esse pon-
to de partida, é possível realizar ações para atingir níveis mais avançados de segurança
(ALMEIDA et al., 2014).
Ao longo do tempo, a curva de Bradley tornou-se um indicador amplamente utilizado
para classificar o grau de maturidade da cultura de segurança de uma organização. Tanto
naquela época quanto hoje, é surpreendente observar como empresas do mesmo setor,
com procedimentos semelhantes e em ambientes muito semelhantes, registram índices de
acidentes muito diferentes (MAGALHAES et al., 2017).
A proposta da DuPont é baseada em três eixos fundamentais: A liderança, a organiza-
ção e os processos e atividades. No entanto, a DuPont considera essencial e transversal o
papel da liderança na transformação da cultura de segurança das empresas (FOCHI, 2018).
A Cultura Preventiva ou cultura de segurança é o compromisso com a segurança,
promoção da saúde, bem-estar e controle total das perdas de absolutamente todos os co-
laboradores de uma empresa. No contexto trabalhista, é um termo que começou a ganhar
importância entre os gerentes gerais, recursos humanos e prevenção, pois envolve a re-
solução de todos os problemas relacionados à segurança, saúde e bem-estar corporativo
(MENDES, WÜNSCH, 2007).
De acordo com Sampaio, Lavezo & Coutinho (2020) com a implementação de uma
cultura preventiva correta para organização é possível observar que os resultados podem
durar a longo prazo. Isso é possível porque a base está em mudar a forma de pensar e fazer
as coisas na empresa, envolvendo tudo e todos (independentemente do cargo que ocupem).
A curva de Bradley tenta mostrar é a evolução da cultura de segurança da organização
do reativo ou instintivo (é atuado a posteriori, após um acidente) para o interdependente ou

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coletivo e antecipatório, onde os funcionários assumem a responsabilidade pela seguran-
ça, não aceitam padrões baixos nesta área e trabalham para que não ocorram acidentes.
Poderíamos falar de um “empoderamento” em segurança (PONTAROLO, 2018).
De acordo com Resende (2021) as fases do nível de força da cultura de segurança na
curva de Bradley:

• Na fase reativa, a segurança baseia-se no instinto, onde, os trabalhadores são


parte do problema e não parte da solução. Nem os trabalhadores, nem os gesto-
res, nem a Direção se sentem responsáveis ​​ou comprometidos com a segurança.
Acredita-se que o principal fator de acidentes seja a má sorte. Acidentes ocorrem e
ações são tomadas posteriormente, aplicando medidas precipitadas e não direcio-
nadas à raiz do problema.
• Na fase dependente, a segurança baseia-se na existência de supervisores, onde,
os trabalhadores são parte do problema e não parte da solução. A segurança é cui-
dada pelos gerentes de segurança, que estabelecem regras, regulamentos e pro-
cedimentos para os demais trabalhadores. O sucesso em segurança é alcançado
quando esses padrões são atendidos. A taxa de acidentes é reduzida e assume-se
que os acidentes ocorrem devido à não conformidade com os regulamentos.
• Já a fase independente, a segurança baseia-se na autoproteção, onde, os traba-
lhadores são parte da solução, não parte do problema. A segurança é zelada pela
gestão, pelos gestores e por cada trabalhador, por meio do uso adequado dos
equipamentos, cumprimento responsável dos procedimentos, treinamento e com-
prometimento de cada um. O sucesso em segurança é alcançado quando todos
cuidam de si mesmos. A taxa de acidentes é reduzida e assume-se que os aciden-
tes são devidos à falta de autoproteção.
• E por fim na fase interdependente, a segurança baseia-se no trabalho em equipe,
onde, as equipes de trabalhadores são a solução. A segurança é cuidada pelos tra-
balhadores, gestores e gestão coletivamente, formando uma equipe. A segurança
faz parte do trabalho, não se aceita que alguém da equipe se arrisque. A comunica-
ção, a formação e a participação são fundamentais para melhorar o desempenho
em segurança, bem como o orgulho de pertencer a uma equipa, a uma organiza-
ção. É inadmissível que alguém possa se ferir durante o trabalho, e assume-se
seriamente o compromisso de alcançar zero acidentes na organização.

A DuPont realizou um estudo em 2009 que demonstrou a correlação entre a curva,


empírica e preditiva, construída por Vernon Bradley, e a cultura de segurança de uma or-
ganização, sua taxa de frequência de lesões e desempenho de segurança. Esse estudo foi

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baseado em informações coletadas desde 1999 na chamada DuPont Security Perception
Survey , com dados coletados principalmente na América do Norte, mas também em outros
países e entre organizações com desempenho excelente e altamente melhorável. A Pesquisa
de Percepção de Segurança da DuPont tem 24 perguntas relacionados com os 3 eixos funda-
mentais indicados acima (8 questões para cada área): chefia, a organização e os processos
e atividades (KUSMA, 2020)
Segundo Silva (2019) a pesquisa é direcionada a diferentes níveis da organização (di-
retores, gerentes, trabalhadores, etc.) para analisar em que medida a percepção e a cultura
de segurança são compartilhadas por todos eles. Agrupando os dados dos principais setores
industriais, observa-se que eles desenvolveram uma cultura de segurança avançada, des-
de a fase dependente até a fase independente, variando em seu nível de desenvolvimento
cultural: Cultura de segurança e desempenho de segurança estão relacionados.
Luciano et al (2020) afirma que uma associação pode ser estabelecida entre cultura de
segurança e desempenho de segurança, ambos os conceitos sendo associados. Quando os
dados das respostas obtidas em diferentes empresas ao DuPont Safety Perception Survey
são sobrepostos à curva de Bradley (mediana e desvios são indicados): aplicações da curva
de Bradley em relação ao desenvolvimento de uma cultura de segurança sustentável para
redução de incidentes
Loçano, Melo (2019) explicam que os objetivos do sistema Dupont é demonstrar que
todos são responsáveis pela segurança no ambiente de trabalho, desta forma cada um tem
o dever e obrigação de colaborar com cada etapa do processo. Uma cultura preventiva de
segurança do Trabalho pode surgir dentro de qualquer empresa e os métodos Dupont podem
servir de base para esse desenvolvimento.
Desta forma tal justificativa deste trabalho se dá devido a empresa Mosaic Fertilizantes
Cajatí colocar em prática o método utilizado pela Dupont na em empresa em questão, de
forma que a mesma possa contribuir para o desenvolvimento de uma cultura preventiva de
segurança do trabalho do local e ao mesmo tempo demonstrar como estratégias podem ser
eficientes, mostrando as particularidades de cada etapa.
Sendo assim como objetivo deste trabalho procura-se demonstrar na prática como a
cultura preventiva pode ser utilizada dentro da empresa Mosaic Fertilizantes Cajatí para a
redução de risco de segurança do trabalho.

DETALHAMENTO DA EXPERIÊNCIA

Durante dois dias de palestra sobre Plano de Desenvolvimento Individual (PDI), foi
apresentado a curva de Bradley como instrumento de redução de risco de segurança do
trabalho (figura 1):

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Figura 1. Curva de Bradley.

Fonte: Autor (2020).

O entendimento da curva de Bradley mostrou que muitas vezes simples atividades po-
dem reduzir ou eliminar riscos dentro da empresa, entretanto, é preciso entender que nada
se faz sozinho e durante este período de palestra foi possível observar como a liderança, a
equipe, o comprometimento podem andar juntos.
Segundo França (2022) todos os acidentes e todas as doenças profissionais podem ser
evitadas. Não é um objetivo teórico, mas muito pelo contrário, um objetivo completamente
realista, e define claramente a política de Saúde e Segurança da DuPont. Baseiam-se no
princípio da causalidade dos acidentes, pelo qual todo acidente tem uma causa original que
pode ser evitada.
Observou-se que o gerenciamento de conflitos através de 5 métodos: fuga, competição,
acomodação, acordo e colaboração é um papel primordial para se possa tomar decisões
importantes de forma que a postura de gerentes, equipe possam estar lado a lado e acima
de tudo, entender que todos são responsáveis pela segurança de todos.
Para Kusma, (2020) a segurança é de responsabilidade da Administração. Cada nível
de comando é responsável pela segurança dentro de suas funções. Cada membro da linha
é responsável perante seu superior imediato.
Verificou-se que a figura do Coaching é fundamental no desenvolvimento de um indi-
víduo: indica a direção a seguir, desafia a atingir metas e objetivos, estimula o aprendizado
contínuo e crescimento pessoal e profissional.
De acordo com Almeida et al (2018) a educação e a formação constituem um elemento
essencial para a existência de emprego seguro. A conscientização sobre segurança no tra-
balho não ocorre de forma espontânea, exige uma mudança de cultura no trabalhador que só
pode ser alcançada por meio de treinamentos. Não se destina apenas a ensinar, mas também

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a motivar. A educação e a formação devem também visar dotar os trabalhadores de conhe-
cimentos sobre os riscos do seu trabalho, bem como sobre métodos de trabalho seguros,
devendo também ser contínuas com o objetivo de sustentar os conhecimentos adquiridos.
Observou-se como a condução do Diálogo Comportamental (figura 2) de forma efetiva
(saber o que procurar) usando processo estruturado, com foco na aplicação buscando o
que ver, como falar e agir.

Figura 2. Necessidade do Dialogo Comportamental.

Fonte: Autor (2020).

Segundo Palhares (2018) as pessoas são o elemento chave para o sucesso de um


programa de Prevenção de Riscos. A responsabilidade da direção deve ser complementada
pelo entendimento do comportamento dos colaboradores e pelo seu envolvimento ativo na
manutenção dos locais de trabalho seguros.
O estudo do dialogo comportamental dos funcionário faz entender as reações das
pessoas, uma vez que cada ser humano age de um jeito diferente, posições de pessoas,
afinal o posicionamento de cada funcionário pode trazer resultados positivos ou negativos
para empresa, principalmente quando este corre risco, equipamento de proteção individual,
assume um papel essencial na segurança do trabalho, pois sua utilização pode reduzir
drasticamente os acidentes do trabalho, as ferramentas e equipamentos, como utilizá-los
de modo correto, procedimentos que cada situação, ordem, limpeza e arrumação podem
contribuir para uma segurança exemplar dos trabalhadores.
Analisou-se que o líder tem um papel importantíssimo durante todo o processo de ges-
tão de segurança, uma vez que é ele quem determina o que pode e o que não pode, mais
acima de tudo cria possibilidades para que ele entender todas as peças que compõem seu

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ambiente de trabalho e quem trabalha nele. Desta forma a liderança tem um papel primordial
dentro das empresas:

• Realizar reuniões com sua equipe salientando essas diferenças, quais os possíveis
riscos para processos, pessoas, instalações e Meio Ambiente;
• Enfatizar sempre a disciplina em utilizar a Gestão de Mudanças, e o possível uso
da Política de Consequências no caso de improvisações e mudanças sem análise
de riscos;
• Parabenizar e reconhecer a utilização do processo de Gestão de Mudanças da
organização.

Mattia (2018) explica que a liderança tem um papel primordial na motivação de todos
os membros da organização deve começar pelo exemplo da cadeia de comando, e conti-
nuar com o envolvimento de todos os trabalhadores, formação, reconhecimento positivo,
convicção melhor do que imposição e por fim os métodos disciplinares.
Tudo o que foi aprendido foi analisado para que pudesse ser colocado em prática
apesar de na teoria ser um pouco complexo mais na prática se tornou algo simples e
sem dificuldades.
Após os estudos, a metodologia começou a ser posta em prática dentro da empresa
Mosaic fertilizantes, seguindo todos os passos que foram ensinados junto ao desenvolvimento
da equipe do Beneficiamento, buscando caminhar para Cultura de Segurança Independente.
Durante a primeira etapa de desenvolvimento do PDI, foi colocado em prática a análise
da dificuldades observadas dentro da empresa como o desbalanceamento das entregas
dos operadores da equipe e a cultura dependente, ao mesmo tempo foi necessário verificar
quais competencias precisavam ser desenvolvidas e entre elas foram segurança como va-
lor, engajando outros, coaching para desempenho e por fim gestão de mudança e por fim
as ferramentas que foram utilizadas para um bom desenvolvimento do trabalho dentro do
sistema como Padrão Operacional Seguro (POS), Análise de Risco da Atividade, Permissão
de Trabalho (PT), Observação Planejada da Tarefa e Gestão de mudança.
Quando referiu-se a primeira temática que era desbalanceamento das entregas dos
operadores da equipe e cultura dependente, observou-se que como solução era necessário:

• Coaching para Desempenho com foco na formação de sucessor para a supervi-


são.
• Formação de equipes com liderança dos operadores de nível sênior.
• Desenvolvimento comportamental através da solução de problemas

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De acordo com Saraiva (2018) trabalhar com segurança é uma condição de emprego.
Cada funcionário deve assumir sua parte de responsabilidade pela segurança. Isto demonstra
o rigor com que são prosseguidos os objetivos de saúde e segurança no trabalho subscritos
pela organização.
Entre os erros que precisaram ser ajustados dentro da mosaic fertilizantes pu-
deram ser citados:

• Suporte de bomba flygt improvisado no guarda corpo;


• Acesso de pessoas a áreas restritas;
• Distribuição de reagente coletor;
• Suporte para ciclones;
• Distribuição de reagente depressor;
• Eliminação de limpeza no Stacker;
• Eliminação de atividade antiergonômica no BT04BR;
• Eliminação de trabalho manual no peneiramento;
• Eliminação de vazamento de cavaco de madeira;
• Eliminação de transbordo de polpa para o canal de efluentes;
• Aplicação da indústria 4.0 para redução de exposição a ruídos;
• Eliminação de atividade com esforço físico;
• Eliminação do risco de descarrilamento do MO01TM.

Através desta temática foi necessário ter Brainstorming, ou seja, uma colaboração
de ideias que poderiam da certo para a resolução dos problemas listados. Diante tantas
situações executados foram realizados 65 acordos de plano de ação e sempre analisados
através da matriz de esforço e impacto ao logo de cada trimestre.
Araújo et al (2018) explica que graças ao uso de adequada estrutura das metodologias
Dupont, nossos consultores integram processos, tecnologia, gestão, atitudes e comporta-
mentos, culturas e capacidade de reduzir riscos e criar ambientes de trabalho mais seguros
e produtivos. Podendo ajudá-lo a melhorar o desempenho da empresa protegendo, criando
e dando mais valor de todos funcionários das empresas.
Após a execução do PDI, pode-se observar que as estruturas foram alteradas, ao mes-
mo tempo com estas execuções o desenvolvimento de 100% da equipe nas ferramentas de
EHS conforme PGS-3209-011, além do desenvolvimento de sucessor para a supervisão da
área de Beneficiamento, ao mesmo tempo foram realizados 13 kaizens, que foram registra-
dos como projetos de redução de riscos para a Mosaic Cajati e por fim a equipe realizou a
transição da cultura de segurança dependente para a cultura de segurança independente.

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Fernandes, Chiavegatto (2019) afirma que um bom nível de segurança é economi-
camente rentável. Mesmo quando uma política de segurança consistente traz benefícios
econômicos para a empresa (sabe-se que um acidente de trabalho gera custos diretos e
indiretos, sendo os últimos consideravelmente maiores que os primeiros e mais difíceis de
contabilizar), a principal motivação é a preocupação com a saúde e o bem-estar dos traba-
lhadores, que é o bem mais valioso de uma empresa.

DISCUSSÃO

Cultura prevencionista nas empresas

Araújo et al (2018), Saraiva (2018) afirmam que quando falamos de cultura preventiva
nos referimos ao conjunto de atitudes e crenças compartilhadas por todos os membros de
uma empresa ou organização sobre saúde, riscos, acidentes, doenças e medidas preventivas
Já Mattia (2018) explica que as estratégias de prevenção sem uma boa comunicação
não teriam resultados ótimos. Atualmente, a comunicação de ocorrências de acidentes tor-
nou-se uma ferramenta estratégica dentro do sistema de gestão de qualquer organização.
As relações com os trabalhadores devem ser uma prioridade, pelo que devem ser
asseguradas condições de trabalho seguras e saudáveis. As condições de trabalho são o
conjunto de variáveis ​​que determinam a qualidade de vida no trabalho (PALHARES, 2018).
Podem ser um fator de risco e gerar danos ocupacionais de toda ordem, mas, ao
contrário, podem e devem contribuir para o bem-estar e a saúde das pessoas e organiza-
ções. A conformidade com os regulamentos atuais é um primeiro passo essencial que não
deve se limitar ao cumprimento dos requisitos mínimos (FRANÇA, 2022).
Luciano et al (2020) afirma que a prevenção de riscos laborais deve ser assumida não
só como uma obrigação, mas como uma oportunidade, e mais como um investimento do que
como um custo, procurando a eficiência em todas as ações sob uma concepção empresarial.
Sampaio, Lavezo & Coutinho (2020) explica que a satisfação no trabalho como um dos
objetivos de uma política bem-sucedida neste campo deve ser um dos resultados a serem
alcançados, além de alcançar um bom ambiente de trabalho. Dessa forma, a atenção às
condições de trabalho torna-se condição essencial para o envolvimento das pessoas nos
objetivos do negócio. As pessoas e com elas as suas condições de trabalho estão no centro
de sistemas eficazes.
A necessidade da empresa de se adaptar às contínuas mudanças e exigências exige
o pleno desenvolvimento da sua capacidade inovadora em todas as áreas. Palhares (2018)
afirma que os recursos para Pesquisa e Desenvolvimento na empresa são essenciais, mas
também devem integrar a Inovação (PDI).

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A inovação tecnológica para tirar partido das melhores tecnologias disponíveis, adap-
tando-se às capacidades das pessoas, deve ser complementada pela contínua contribuição
e criatividade de todos os membros da empresa. Isso só é possível se as pessoas agirem
em um quadro de liberdade e em um ambiente de trabalho saudável, baseado na confiança
(MAGALHAES et al., 2017).
A participação dos trabalhadores é fundamental para o bom funcionamento de uma
organização. As pessoas exigem participar de todas as decisões que as afetam de alguma
forma. França, Nogueira (2021) afirmam que as suas opiniões devem ser consideradas e,
se possível aplicadas, responderão seguramente à melhoria dos processos de trabalho e
interesses empresariais, se a empresa também atuar com rigor e generosidade. O traba-
lho em equipe entre pessoas competentes favorece o aprendizado contínuo de todos os
seus integrantes, a busca contínua das melhores formas de fazer e organizar, a interna-
lização do processo e conhecimento (capital estrutural) e o autocontrole da qualidade do
trabalho realizado.
A formação é o instrumento fundamental para que as pessoas melhorem as suas com-
petências e atitudes no trabalho, sendo essencial nos processos de mudança. Ao mesmo
tempo, o desenvolvimento pessoal e profissional das pessoas, necessário para estar inte-
lectualmente vivo, requer formação contínua. De acordo com Almeida et al (2018) o local
de trabalho deve ser o meio adequado para desenvolver os conhecimentos e competências
necessários, desde que a empresa disponibilize os meios adequados e as próprias atividades
laborais sejam fonte de aprendizagem.
As pessoas poderão contribuir com o melhor de suas capacidades e estarão ajudando
a garantir sua “empregabilidade”, que é necessária tanto para elas quanto para a própria
sociedade. Mattia (2018) explica que o treinamento deve abranger todos os níveis da empre-
sa. O treinamento em habilidades gerenciais para todo o pessoal com comando é vital, assim
como a capacitação dos trabalhadores em atividades preventivas nas quais sua participação
deve ser planejada. A organização deve estar em aprendizado contínuo.
Os requisitos do marco regulatório tornam necessário evitar e controlar a poluição e
a geração de resíduos não controlados. Fernandes, Chiavegatto (2019) afirma que isso
não é suficiente diante das necessidades ambientais de sobrevivência da humanidade e
do desenvolvimento sustentável do planeta. Esforços notórios são necessários para o uso
racional das fontes de energia e o uso de energias renováveis, a implantação de uma nova
cultura de segurança com o meio ambiente.

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Estratégias prevencionistas nas empresas

Segunfo Araújo et al (2018) as empresas e organizações, conscientes da importância


da saúde no trabalho, estão implementando programas e desenvolvendo ações para a me-
lhoria contínua da cultura preventiva. O fato de identificar essas práticas e disponibilizá-las
para outras empresas contribuirá para o fortalecimento e implantação dessa cultura nas
demais organizações.
Boas práticas são entendidas como aquelas formas de ação que deram resultado
positivo em um contexto específico e geraram efeitos de melhoria, e que podem ser transfe-
ridas para outras áreas similares ou servir de exemplo para outras organizações. Permitem
aprender com outras experiências para poder adaptá-las a outras empresas e promover
novas ideias. (KUSMA, 2020).
Fochi (2018) afirma que boas práticas de metodologias ou qualquer ação lançada numa
empresa que tenha sido eficaz na melhoria real das condições de trabalho ou, pelo menos, na
redução dos riscos em e que provavelmente servirá de exemplo em outras empresas do setor.
As estratégias voltadas para a promoção da saúde psicossocial no local de trabalho,
há iniciativas integradoras que buscam articular as diferentes tendências da abordagem psi-
cossocial para dotar trabalhadores e empresas de ferramentas integrais de desenvolvimento
visando melhor desempenho no local de trabalho, fortalecimento de uma cultura preventiva
(PALHARES, 2018).
Sua abordagem abrangente de gestão de riscos inclui a aplicação de instrumentos
técnicos, administrativos e educacionais, guias de referência, registros e recursos que mo-
bilizam a gestão preventiva nas empresas (FERNANDES, CHIAVEGATTO, 2019).
Saraiva (2018) afirma que dentro destes Modelos de Gestão de Promoção e Prevenção,
pretende-se reconhecer as boas práticas através de iniciativas que destaquem as empre-
sas comprometidas com a segurança e saúde dos seus trabalhadores, aprendam com as
experiências e conhecimentos dos outros e as apliquem de forma mais pertinente em dife-
rentes contextos.
Fochi (2018) elucida que em tempos atuais existem manuais e metodologias utilizadas
pela gestão de segurança para boas práticas para o controle de perigos associados à mo-
vimentação, produtos, equipe como é o caso das DDS, Modelo DuPont, controles de EPIM
controles de riscos, ISSO, que são de baixo custo e altamente lucrativos para prevenção de
riscos ao trabalhador em todos os setores como administração, produção, etc.

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Sistema Dupont como modelo de estratégia positiva para empresa.

Para Mendes,Wünsch (2007) o modelo Du Pont surgiu como método de gestão da


prática, e a partir dele o sistema utilizado foi dotado de corpo teórico-metodológico próprio,
reunindo elementos da Teoria da Excelência. Este modelo foi primeiramente homogeneizado
em todas as suas fábricas e depois transformado em um produto-serviço que oferece através
de sua consultoria há mais de 25 anos. O princípio fundamental da Du Pont é que qualquer
acidente pode ser evitado, e se algo acontecer é porque houve uma falha na gestão.
Já Sampaio, Lavezo, Coutinho (2020) explica que a partir dos princípios orientadores
deste modelo DuPont, podemos concluir que o comportamento humano tem muito a ver
com o seu sucesso final, o que nos leva diretamente ao importante papel que a formação
desempenhará na melhoria das condições de trabalho. Fochi (2018) entende que como
qualquer sistema de gestão, deve ter um método de análise do próprio sistema, a partir do
qual se propõe um plano de melhoria, definindo os objetivos e o plano de ação necessários
para iniciar a mudança cultural no caminho da eficácia na prevenção.
Mesmo quando esta denominação é utilizada, esta auditoria é na verdade uma inspeção
de segurança, realizada de forma participativa (é realizada por uma equipe permanente com
uma equipe da área auditada designada para o efeito) e com registro escrito que deve ser
muito sintético em comparação com as medidas corretivas que são tomadas no trabalho de
campo. Para Mattia (2018) a filosofia também é diferente, pois os resultados obtidos durante
as observações da auditoria são tratados como ensinamentos ou lições. Tudo isso dá muita
agilidade e operabilidade.
Almeida et al (2018) afirma que esta ferramenta se baseia na observação do trabalho e
no estudo do comportamento das pessoas durante o trabalho para a ajuda e sensibilização
de todos os colaboradores. Os grupos de trabalho, cujo objetivo é melhorar a comunicação
vertical, têm como foco o acompanhamento do plano de ação definido pela empresa. De acor-
do com Kusma, (2020) são estabelecidos comitês para centros de trabalho, departamentos,
áreas, passagem de plantão, subcomitês específicos, reuniões para tomada de decisão,
comitês de supervisão, etc. Dependendo do comitê, as reuniões podem ser realizadas várias
vezes ao dia, uma vez por dia, uma vez por semana ou por mês, com duração que varia de
10 minutos a uma hora.
Segundo Fochi (2018) esta ferramenta vem ao encontro da Lei de Prevenção de Riscos
Laborais no que respeita à obrigatoriedade de controlo dos riscos no trabalho, com um en-
foque muito orientado para a melhoria dos procedimentos operacionais elaborados.
Para Fernandes, Chiavegatto (2019) a motivação de todos os membros da organiza-
ção deve começar pelo exemplo da cadeia de comando, e continuar com o envolvimento

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de todos os trabalhadores, formação, reconhecimento positivo, convicção melhor do que
imposição e por fim os métodos disciplinares.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na prevenção dos riscos, a comunicação eficaz tem um efeito gigantesco, reduz a


resistência à mudança, facilita a troca de informações, promove a troca de preocupações,
sinergias e soluções em matéria preventiva.
Por meio de uma comunicação eficaz, o trabalhador adquire as informações e conhe-
cimentos necessários para a correta tomada de decisão diante de uma situação de risco
apresentada no passado.
A comunicação eficaz estabelece em si uma liderança visível que estabelece sistemas
eficazes de troca de ideias e de procura de sinergias, o que representa um valor acrescen-
tado para as organizações.
Boas práticas, melhorias e inovações na cultura de segurança podem reduzir ou prevenir
ocorrências de acidentes permitirão elevar o nível de atenção, conscientização, conhecimento
e criação de uma cultura de segurança na empresa.
Por meio de uma comunicação eficiente, cria-se uma cultura de segurança onde a
equipe conhece, participa, compartilha e vive a cultura de segurança da organização.

Agradecimentos

Gostaria de agradecer primeiramente a Deus, pois sem Ele eu nada seria, em seguida
a todos aqueles que puderam contribuir para a evolução do estudo e a montagem (empre-
sa, amigos, família) e pôr fim a esta editora que contribui para que este trabalho esteja ao
alcance de todos aqueles que necessitam.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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a Cultura Prevencionista e os Acidentes de Trabalho. XXIII Amostra de Iniciação
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Intervenção em bibliotecas de uma
Universidade Pública: relato de experiência

Catherine Michie Mota Kobayashi


Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP

Maria do Carmo Baracho de Alencar


Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP

Angela Paula Simonelli


Universidade Federal do Paraná - UFPR

'10.37885/220508787
RESUMO

Objetivo: Descrever as vivências de atividade de extensão, realizada em bibliotecas de


uma Universidade Pública. Métodos: Seleção do setor de bibliotecas de uma Universidade
Pública, aplicação de questionário para obtenção de dados pessoais e de trabalho, realiza-
ção de encontros grupais e de entrevistas individuais com os trabalhadores e estagiários.
Resultados: Participaram da intervenção 8 trabalhadores e 2 estagiários, a maioria do sexo
feminino. Surgiram as seguintes situações: equipe subdimensionada, pouco reconhecimento
pelo trabalho, ausência de reuniões periódicas, conflitos interpessoais, pouca cooperação,
entre outros. Conclusão: As intervenções promoveram melhorias no ambiente de trabalho.
Promover espaços de escuta e diálogos é importante e necessário.

Palavras-chave: Saúde Mental, Saúde do Trabalhador, Administração de Biblioteca, Con-


dições de Trabalho.
INTRODUÇÃO

O trabalho se caracteriza como uma das principais atividades da vida adulta, além
de ser um meio de subsistência do sujeito e de convívio social. Considera-se aqui que o
trabalho, implica em gestos, o saber-fazer, a mobilização da inteligência, o engajamento
do corpo, a capacidade de refletir, interpretar, sentir e agir, entre outros (DEJOURS, 2012).
Segundo Aerosa (2019), o trabalho tem um papel importante na construção de identidades
(individual e coletiva).
E dentro do contexto de trabalho há diferenças entre o trabalho prescrito e o trabalho
real. O trabalho prescrito é definido pelas instruções, atribuições e procedimentos organiza-
dos pelos superiores, que dão direcionamentos durante a execução do trabalho, e o trabalho
real é como o trabalho se realiza, envolvendo situações imprevistas entre a sua prescrição e
as condições reais para esta execução (PEREIRA et al., 2017). A tarefa prescrita se difere
do trabalho real por conta de um contexto com interações subjetivas, condições específicas
e situações reais de vida que envolvem o trabalho, sendo assim, a forma de executar, bem
como o produto final do trabalho, terá traços de singularidade dos sujeitos e da realidade
coletiva que os trabalhadores estão inseridos (GOYA; MANSANO, 2012). Sendo assim, no
trabalho real, nem sempre é possível realizar o que foi planejado por causa das diversas
variabilidades presentes nos contextos de trabalho, assim, trabalhar seria o exercício e ela-
boração de respostas para situações que não foram prescritas pela organização do trabalho
(GIANNINI et al., 2019).
Também, segundo Augusto et al. (2014), o choque entre os desejos e ambições pes-
soais do sujeito, e uma organização do trabalho que não acolhe esses desejos e esperanças,
pode desencadear o sofrimento. De acordo com os autores, sempre haverá vivência do
sofrimento no trabalho, porém, é preciso que haja um equilíbrio entre o prazer e o sofrimen-
to para que o trabalho não seja patogênico, e sim, estruturante. A vivência de sofrimento
e prazer no trabalho está associada à carga psíquica do trabalho, que não é mensurável,
por ter um caráter subjetivo e dinâmico, e o trabalho pode aumentar ou diminuir esta carga
(MORETTO; PADILHA, 2020).
Oliveira e Mendes (2014) descrevem que no trabalho há duas possibilidades de transfor-
mação desse sofrimento: uma em algo positivo (sofrimento criativo) e outra em algo negativo
à saúde do trabalhador (sofrimento patogênico). Segundo as autoras o sofrimento criativo
constitui-se de mecanismos criativos para lidar com o sofrimento, o transformando, e assim,
promovendo resistência às dificuldades e favorecendo a saúde do sujeito; já o sofrimento
patogênico constitui-se do esgotamento de estratégias de defesa e dos modos negativos de
lidar com o sofrimento, sendo prejudicial à saúde e podendo levar ao adoecimento. Sendo
assim, deve-se possibilitar prazer no trabalho com possibilidades de crescimento profissional

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e desenvolvimento de competências, ou seja, em uma organização do trabalho que faça
sentido para o sujeito (TOLFO; PICCININI, 2007).
Ainda, a condição necessária para a transformação do sofrimento em prazer é o reco-
nhecimento, sendo ele norteador para que o sujeito reconheça seu valor no trabalho, trazendo
o sentimento de utilidade e de pertencimento ao ambiente em que trabalha (AUGUSTO et al.
2014). E o reconhecimento pode ser proveniente da chefia ou dos pares, ou até mesmo do
público que consome o produto gerado pelo trabalho (BENDASSOLLI, 2012).
No Brasil, existem duas principais esferas de trabalho, a pública e a privada, e na pú-
blica encontram-se os servidores públicos. Servidores públicos apresentam uma quantidade
maior de afastamentos do trabalho por absenteísmo-doença comparado aos funcionários
de empresas privadas (PAWLINA et al.,2009; FARIA et al.,2005). E no setor público pre-
dominam doenças de ordem psíquica, relacionados aos agravos crônicos e aos modos de
organização do trabalho (LEÃO et al., 2015).
Diversas mudanças ocorreram no mundo trabalho, e as instituições públicas de en-
sino superior não ficaram imune à estas transformações ocorridas, sofrendo também com
a precarização das condições de trabalho e com a impregnação da lógica do capitalismo
organizacional e acadêmico, resultando em um ambiente de trabalho competitivo e individua-
lista (ARBEX et al., 2013). Com isso, os servidores públicos estão expostos a precarização
das condições de trabalho e falta de recursos, além da situação de responsabilização deles
pelas deficiências existentes nos serviços (LANCMAN et al., 2007). O desgaste mental em
servidores públicos tem como os seus principais desencadeadores elementos da organi-
zação do trabalho, como a pressão, as sobrecargas, o ritmo imposto, a divisão das tarefas,
relações interpessoais, participação nas decisões e com pouco reconhecimento pelo trabalho
(LEMBO et al., 2016). Cabe destacar que o adoecimento mental é um fator importante, por
produzir incapacidades temporárias e permanentes, e a preocupação com a saúde mental
de servidores de universidades públicas tem suscitado várias pesquisas nos últimos anos
(CALDAS et al.,2022).
Há poucas ações e programas para a promoção de saúde, bem-estar e segurança do
trabalho para funcionários de bibliotecas (CAPRI et al., 2012). E em relação aos servidores
públicos que trabalham em bibliotecas universitárias, além do desgaste mental, há também
outros riscos que acometem a saúde, como os aspectos biológicos e químicos, a presença
de fungos, insetos, roedores e os produtos químicos que são utilizados para exterminá-los,
além de aspectos ergonômicos como altura, disposição de móveis e equipamentos, e ilu-
minação que são em geral inadequados (SOUZA; SILVA, 2007). Muitas vezes a biblioteca
tem pouca ventilação, e se torna um local propício para a proliferação de bactérias, e as
atividades em geral são repetitivas e que podem gerar problemas ergonômicos (RAMOS,

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2021). Em outro estudo, o ritmo excessivo de trabalho e a falta de pausas para o descanso
foram aspectos causadores de mal-estar entre os funcionários de bibliotecas universitárias
(MENDES; BERGIANTE, 2018).
Sendo assim, foi elaborado um projeto de Extensão Universitária intitulado “Diálogos
e reflexões sobre o trabalho - DITRAB”, com o intuito de propiciar espaços de discussão
e reflexões visando a promoção à saúde de servidores de uma Universidade Pública. E o
presente texto teve como objetivo descrever as vivências durante as atividades deste projeto
que foi realizado nas bibliotecas de um campus desta Universidade.

MÉTODOS

Após a aprovação do projeto pela Direção de Campus, de uma Universidade Pública,


foi obtido inicialmente uma listagem com os nomes dos servidores, setores de trabalho e
endereço eletrônico, junto ao Departamento de Gestão com Pessoas da Universidade, e
foi selecionado aleatoriamente o setor de bibliotecas, e de dois Institutos. Inicialmente foi
aplicado um questionário sob forma de entrevista para obtenção de dados demográficos, de
trabalho e saúde dos servidores, e posteriormente foram estabelecidos previamente horá-
rios junto à coordenação dos serviços para observações livres das atividades de trabalho.
Essas observações livres do trabalho foram fundamentais para uma melhor compreensão
do trabalho, e tiveram o consentimento prévio do responsável pelo setor e dos servidores
envolvidos. Para as observações foram realizados registros em diário de campo, que eram
analisadas em supervisão.
Foram programados encontros quinzenais em grupos com os servidores e estagiá-
rios, que tiveram uma duração média de 1h15m. Esses encontros em grupo tiveram como
objetivo promover espaços de escuta, discussão e reflexões para a promoção à saúde no
trabalho, além de investigar sobre os aspectos da organização do trabalho geradores de
sofrimento, as relações no trabalho, e de propor ao final melhorias em relação aos meios e
modos de organização do trabalho. Utilizou-se predominantemente as abordagens teóricas
da Psicodinâmica do Trabalho. E como complemento, ocorreram também entrevistas indi-
viduais, com duração de 30 a 40 minutos, a fim de proporcionar também uma escuta atenta
individual e acolhedora sobre os sentimentos vivenciados em relação ao trabalho.
Em relação aos encontros grupais (grupos de discussão), alguns depoimentos foram
registrados em papel e caneta para análise de conteúdo. Os encontros tiveram a partici-
pação de 3 a 4 servidores em cada grupo, que incluíram de um a dois discentes e um pro-
fessor responsável. Foram realizados encontros distintos entre a chefia responsável (duas
bibliotecárias) pelo setor e os demais servidores, de forma que todos se sentissem mais
à vontade para expor as suas opiniões. Os temas dos encontros foram programados da

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seguinte forma: inicialmente após a apresentação de cada servidor, eles foram convidados a
falar livremente sobre o trabalho, o que sentiam, as vivências intersubjetivas e dificuldades,
e nos encontros seguintes foram aprofundados os assuntos trazidos, com vistas à proble-
matização (discussões) dos meios e modos da organização do trabalho. Nos dois últimos
encontros foram discutidas proposições sobre melhorias das condições e de aspectos da
organização do trabalho.
A atividade teve a duração de um ano, ocorrendo em dois semestres, duas vezes por
semana, e ao final foi elaborado um relatório a partir dos dados obtidos. Os resultados foram
validados junto aos participantes (servidores), e posteriormente apresentados às chefias.

RESULTADOS

Havia duas bibliotecas em duas Unidades distintas da Universidade, sendo seis servido-
res de uma Unidade Central e duas da outra Unidade, e todos com a mesma chefia (bibliote-
cárias). Os estagiários atuavam na Unidade Central do campus da universidade. As principais
tarefas realizadas nas bibliotecas eram o atendimento ao público no balcão, principalmente
no empréstimo e na devolução de livros, a organização de livros nas estantes, a catalogação
de livros, a restauração de livros, o atendimento virtual ao público através de e-mail, e uma
vez ao ano era realizado o inventário de acervos.
Participaram desta intervenção oito (8) servidores e dois (2) estagiários de administra-
ção. Em relação aos sujeitos, nove (9) eram do sexo feminino e um (1) do masculino, com
idade entre 21 e 50 anos. Os cargos presentes eram: bibliotecário (2), auxiliar administrativo
(1), assistente administrativo (4), técnico em assuntos educacionais (1), além de estagiário
de administração (2). E participaram da organização, condução e supervisão 2 docentes e
6 discentes envolvidos no projeto.
Os servidores tinham uma carga horária de trabalho de 40 horas semanais e os esta-
giários de 30 horas semanais. O tempo de serviço dos servidores na Universidade variou
de 2 a 10 anos, e dos estagiários era inferior a 1 ano. Dos servidores e estagiários, sete (7)
referiram alterações na saúde nos últimos 12 meses, sendo que a cinco (5) referiu relações
com o trabalho. As principais queixas de saúde que foram agravadas nos últimos 12 meses
foram: ansiedade, alergias corporais, lombalgia, cervicalgia, problema renal, e tendinite de
punho e dedos. As principais queixas em relação ao trabalho, foram: questões organizacio-
nais (9), ambiente físico e equipamentos (5).

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Dos grupos

Os depoimentos dos encontros foram registrados, e por questões éticas, foram utili-
zados nomes fictícios para preservação das identidades dos sujeitos. Foram separadas as
análises dos encontros - gestão (bibliotecárias) e demais servidores.

Dos encontros com as bibliotecárias (gestoras)

Durante os encontros, surgiram questões como a falta de apoio da Direção do Campus


para novas proposições do setor da Biblioteca. Havia um desejo manifestado de realizar
projetos maiores, e que pudessem valorizar os trabalhos desenvolvidos pela biblioteca, e a
frustração pelo aparente “descaso” dos gestores.

“(…) É frustrante. A Direção entende, mas só fica nisso. Ninguém vai para a frente.
“(…) A gente faz as coisas já sabendo que não vai para frente.” (Girassol)
“(…) Nunca tive um feedback, não tive retorno. Indiferença acho que é a pior coisa!”
(Orquídea)

Evidenciou-se o pouco reconhecimento pelo trabalho entre os pares, e havia também


a falta reconhecimento do público, que também gerava sofrimento. Os servidores relataram
que muitas pessoas que usufruíam do serviço da biblioteca consideravam o espaço apenas
um serviço de emprestar e devolver livros, sendo que o papel da biblioteca iria, segundo a
participante, era muito além disso.

“(…) É decepcionante ver a gestão e os professores com esse pensamento, de que


a biblioteca é um serviço apenas para empréstimo e devolução de livros. Não dá fô-
lego!” (Orquídea)

As queixas acerca das dificuldades encontradas na realização de novos trabalhos para


além da tarefa de “empréstimo/devolução” da biblioteca, foram ressaltadas.

“(…) O mundo está mudando. Poderia ter um monte de coisa legal que poderia estar
aqui dentro, mas a gente não consegue, [...] biblioteca é muito mais. E queremos que
saibam! [...]. Estamos muito aquém do que deveria ser.” (Orquídea)

Também houve debates sobre a dificuldade de lidar com alguns servidores, havendo
dificuldades de comunicação e de realização de algumas tarefas por alguns.

“(...) tem servidor que não adianta a gente conversar, parece que não quer traba-
lhar...” (Girassol)

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Dos encontros com os servidores (não gestores)

As dificuldades de comunicação e a insatisfação entre os servidores e estagiários esteve


presente nos encontros, porque quando havia alguma reunião, o que raramente ocorria, o
clima organizacional e coletivo não era agradável.

“(…) Tem algum tempo que a gente não tem reunião. Na última reunião teve muitas
discussões! Muito estressante!” (Gérbera)

Havia poucos espaços para reuniões coletivas. E o fato de alguns não serem convo-
cados para as reuniões gerava um sentimento de desvalorização das suas potencialidades
e experiências, além da impossibilidade de contribuírem para o trabalho.

“(…) O que você tem a dizer, a sua experiência, não conta de nada!” (Azaleia)

Ainda, os servidores mencionaram que na última reunião, não foram convocados todos
os servidores, e, portanto, não tinha a presença de todos, gerando para os que não haviam
sido convocados, um sentimento de exclusão, pois os assuntos debatidos eram também de
sua atuação e interesse.
Ademais, os servidores e estagiários durante os encontros refletiram como isso (pouca
possibilidade de se expressarem) impactava na má comunicação e nos relacionamentos entre
eles. Além disso, muitos assuntos que poderiam ser decididos coletivamente, se tornavam
uma “regra imposta”, apontando para uma falta de horizontalidade nas relações sociais e,
ressaltando a falta de diálogos coletivos.

“(…) É uma regra e não um acordo. Deveria ser um acordo, mas veio como regra!”
(Azaleia)

Os trabalhadores também apontaram a má distribuição de tarefas entre eles, sobre-


carregando alguns, e não ficava claro quais tarefas competiam para os diferentes cargos.

“(...) Falta esclarecer o que cada um pode fazer dentro do seu cargo! Tem coisas que
eu não tenho que fazer.” (Margarida)

Pelo fato de os cargos serem variados, havia tarefas que eram consideradas específicas
para bibliotecários, e, portanto, alguns servidores não consideravam adequado a execução.
Essas situações dificultavam ainda mais o diálogo, o apoio e a cooperação entre eles. Ainda,
os servidores ficavam indignados pelo fato da gestão não se preocupar em promover um
bem-estar e satisfação no trabalho da equipe.

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“(…) Como posso exigir trabalho de equipe, se não promove essa equipe?” (Azaleia)

Ao final da intervenção foram levantadas sugestões para melhorias no trabalho, tanto


pelas gestoras quanto pelos demais servidores das bibliotecas, que foram validadas pelos
participantes e que estão demonstradas no quadro 1.

Quadro 1. Sugestões dos servidores para melhorias no trabalho nas bibliotecas.

Sugestões de melhorias
• Aumentar o número de servidores;
• Evitar “fofocas” e “favoritismos” no ambiente de trabalho;
• Incentivar novos projetos e ideias;
• Melhorar os meios de comunicação interna;
• Promover o trabalho em equipe e a cooperação entre os pares;
• Propiciar espaços de escuta e discussão;
• Realizar reuniões frequentes e com possibilidade de debates coletivos sobre os assuntos;
• Rever as distribuições das tarefas.
Fonte: Produzido para o estudo, 2019.

Durante os encontros os servidores foram se expressando, refletindo, e revendo os


modos de agir de cada um. Houve espaços de escutas sobre os sentimentos vivenciados,
além de trocas entre os participantes sobre suas percepções. Durante os encontros com
as gestoras também houve a sensibilização sobre a importância de espaços de escuta e
debates, e de reuniões coletivas. Os encontros promoveram melhorias nas relações inter-
pessoais e no ambiente social de trabalho. As sugestões para melhorias foram apresentadas
posteriormente para as gestoras, e houve o respeito e acolhimento, e demonstraram estarem
abertas às sugestões.
Além disso, após a intervenção, houve mobilizações internas e ocorreram mudanças
no ambiente físico, onde os servidores da biblioteca decidiram limpar e melhor organizar
as suas salas, para tornarem o ambiente físico de trabalho mais agradável, incentivado e
apoiado pela chefia, o que foi considerado um aspecto positivo da intervenção.

DISCUSSÃO

Evidenciou-se o pouco envolvimento e retorno da Direção, caracterizado como falta


de apoio e em relação às necessidades e interesses do setor, desencadeando sentimentos
de injustiça, indignação e frustração. Em outro estudo com bibliotecários, também surgiu
frustrações em projetos que consideravam essenciais para o setor, e que esbarravam nas
decisões e deliberações de outros, deixando-os sem poder de decisão e com limitações de
instâncias superiores (ANDRADE; SANTOS, 2015). Ainda, em um estudo também foi aponta-
do a percepção de sobrecargas no trabalho em gestores, relacionada às cobranças e a res-
ponsabilidade pelo desempeno de outros, gerando sofrimento (MORETTO; PADILHA, 2020).

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Também foi apontado a falta de reconhecimento dos gestores, e até uma indiferença
pelos esforços dispendidos. Bendassolli (2012) descreve que os sujeitos esperam uma retri-
buição pelo seu trabalho além da financeira, essa retribuição simbólica é o reconhecimento
pelo trabalho realizado. Para Augusto et al. (2014) sem o reconhecimento, podem surgir os
sentimentos de desvalorização e de não pertencimento ao ambiente de trabalho, e isso pode
ocasionar uma desmotivação dos trabalhadores. Sendo assim, as atitudes dos gestores po-
dem colaborar para que os profissionais se sintam motivados e reconhecidos (GOMES, 2019).
Havia também pouco reconhecimento do público usuário, em relação ao trabalho em
bibliotecas. É importante ressaltar que a biblioteca pública possui, assim como outros es-
paços, importância social de grande relevância. Segundo Ferraz (2014), essa importância
social se desenvolve a partir do pensar nas necessidades da comunidade na qual a biblioteca
está inserida, e de saber reconhecer os interesses da população, tornando-se um espaço de
interação, debates, manifestações culturais e artísticas. Em um estudo, o reconhecimento
de pessoas externas à organização, como os clientes, apareceu como fonte de prazer no
trabalho (MORETTO; PADILHA, 2020).
A falta de uma comunicação respeitosa e amigável com alguns servidores, e as difi-
culdades relacionadas a este modo de comunicação foram assuntos centrais nos encontros
com as gestoras, e por este motivo estavam evitando reuniões coletivas. Indicaram também
a dificuldade que alguns servidores tinham de realizar algumas tarefas, alegando que não
queriam trabalhar. Para Dejours (2012) o trabalho é também uma relação social, caracteri-
zado pelas relações de iniquidade, de poder e dominação. Portanto para o autor, o real do
trabalho não é apenas o cumprimento de uma tarefa, envolvendo também a experimentação
da resistência ao mundo social, mais precisamente das relações sociais.
Quando as pessoas são impedidas de se expressar, quando se limita o tempo de
trocas, sem razão clara, se advogando a todo o instante o “seja breve”, a subjetividade
do indivíduo é impedida de se expressar (CHANLAT, 2011). Destacou-se nos encontros
o distanciamento gerado em relação à alguns servidores, para se evitar discussões mais
acaloradas e desgastantes. Uma organização de trabalho prescrita se difere da organização
de trabalho real, e entre uma e outra ocorrem várias situações e iniciativas que são comple-
xas. E segundo Chanlat (2011) um gestor que escuta, e que permite que seus funcionários
digam o que querem e francamente, possibilita criar bases para uma gestão mais próxima e
concreta do real do trabalho. Ainda, segundo Aerosa (2019) se o trabalho real funciona bem,
são produzidos consensos no coletivo de trabalho, cuja somatória tende a se transformar
em novas regras de trabalho, sendo importante a coesão dos coletivos de trabalho.
Havia poucos espaços para reuniões coletivas, onde os servidores poderiam discutir e
decidir em grupo questões em relação a divisão de tarefas, período de férias, afastamentos,

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entre outros, gerando revolta para alguns. Andrade e Santos (2015), descreveram que a
ausência de participação em decisões, a falta de reconhecimento profissional, mau rela-
cionamento entre os pares, atribuições de tarefas repetitivas e pouco significativas podem
desencadear mal-estar e insatisfação no trabalho. Sem a capacidade de expressão, criação
e transformação no ambiente de trabalho, a estruturação de identidade do sujeito pode ser
afetada, levando ao sofrimento (SANTOS et al., 2015).
A coordenação era muito rígida, impondo modos e regras no trabalho, com poucas ten-
tativas de diálogo. Segundo Dejours (2012) regras de trabalho, ou de ofício, são provenientes
de acordos entre os membros do coletivo de trabalho, e sobre as formas de trabalhar, e de-
vem ser elaboradas pelos trabalhadores e em debate coletivo. Evidenciou-se nos encontros
a falta de um espaço para decisões coletivas, acordos e de debates entre os servidores e
estagiários, e com isso, surgiam individualismo, favoritismo e fofocas. Regras impostas no
trabalho tendem a gerar sentimento de revolta, além de comprometer a confiança e coo-
peração. Segundo Dejours (2012) a confiança constitui uma das grandes dificuldades do
trabalho coletivo, sendo a confiança e lealdade indissociáveis, e que envolvem uma ordem
ética. Para o autor, os aspectos éticos da confiança favorecem a cooperação.
Para Dejours (1999), sem a cooperação tanto horizontal quanto vertical, há uma para-
lisação do trabalho. Ou seja, a falta de cooperação e de decisões coletivas torna o trabalho
algo “engessado”, dificultando a sua execução. De acordo com Giannini et al. (2019), a
cooperação implica não somente nas trocas de potencialidades individuais, para que todos
trabalhem juntos e se ajudem mutuamente, mas também na exposição de dificuldades e
experiências, bem como na abdicação de parte do potencial subjetivo individual em bene-
fício do coletivo.
A necessidade de promover boas relações e a cooperação entre os membros da equipe,
principalmente pelos gestores, ficou evidente nos encontros. A cooperação é fundamental
para a construção da saúde mental e um elemento central para um ambiente de trabalho
em que haja confiança entre os trabalhadores, e para que isso aconteça, é necessário um
ambiente de trabalho onde o sujeito possa se expor e ser acolhido, e com respeito às de-
cisões coletivas. Pois, através da cooperação, os trabalhadores podem compartilhar suas
vivências e pensar em estratégias coletivas de enfrentamento das questões e problemas
resultantes da organização do trabalho (AUGUSTO et al., 2014).

CONCLUSÃO

Durante a intervenção foi possível para os discentes observarem a complexidade do


trabalho e de suas relações, especialmente diante dos cargos diferentes, posições hierárqui-
cas e modos de organização do trabalho, além das repercussões de determinadas situações

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para a saúde mental. Em relação aos servidores participantes, observou-se mobilizações
internas e coletivas, além de reflexões acerca da importância de um ambiente de trabalho
agradável, do reconhecimento pelos esforços, de comunicações claras e respeitosas, e da
cooperação para a saúde mental dos trabalhadores.
Os encontros realizados se mostraram satisfatórios, já que foi promovido o diálogo
sobre as ressonâncias no trabalho. Nos encontros, os sujeitos foram capazes de se escuta-
rem, promovendo reflexões também acerca de seus modos de pensar e agir, com trocas de
experiências, vivências e sentimentos. E os gestores se sensibilizaram a partir dos debates
promovidos, sendo sensibilizados para a necessidade de mudanças.
O estudo apresentou limitações por ter sido realizado em apenas um Campus da
Universidade e em duas bibliotecas, porém, o projeto em questão se mostrou uma estratégia
satisfatória neste setor. Enfatizou-se ao final, a importância da criação e manutenção desses
espaços de escuta e discussões sobre o trabalho e com a equipe, e não somente no setor
de bibliotecas, mas em todos os setores da Universidade.

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SOBRE OS ORGANIZADORES
Leonardo Augusto Couto Finelli
Leonardo Augusto Couto Finelli possui graduação em Psicologia pela Universidade Federal
de Minas Gerais (2002), graduação em Pedagogia pela Faculdade de Educação, Tecnologia
e Administração de Caarapó (2015), especialização em Teoria Psicanalítica pela Universidade
Federal de Minas Gerais (2004), especialização em Metodologia Quantitativa em Ciências
Humanas pela Universidade Federal de Minas Gerais (2005), especialização em Desenvolvimento
Humano pela Universidade Federal de Minas Gerais (2006), especialização em Psicologia do
Trânsito pelo CFP (2009), especialização em Educação a Distância pela Universidade Estadual
de Montes Claros (2011), especialização em Didática e Metodologia do Ensino Superior pela
Universidade Estadual de Montes Claros (2013), mestrado em Psicologia ? Ênfase em Avaliação
Psicológica pela Universidade São Francisco (2010), doutorado em Ciências da Educação pela
Universidad Evangélica do Paraguay (2015 - Convalidado no Brasil pela Universidade Federal do
Rio Grande do Norte - UFRN). Atualmente é Professor Adjunto das Faculdades de Saúde Ibituruna
- FASI, Faculdades Integradas do Norte de Minas - FUNORTE, Universidade Estadual de Montes
Claros ? UNIMONTES e coordenador da RHeCURSOS. Tem experiência na área de Psicologia
e Educação, com ênfase em Fundamentos e Medidas da Psicologia. Publicou 51 trabalhos em
anais de eventos. Possui 3 softwares. Participou de 68 eventos científicos no Brasil. Orientou 16
trabalhos de iniciação científica. Entre 2001 e 2016 participou de 91 projetos de pesquisa, sendo
que coordenou 87 destes. Atua na área de Psicologia, com ênfase em Metodologia, Instrumentação
e Equipamento em Psicologia. Em suas atividades profissionais interagiu com 54 colaboradores
em co-autorias de trabalhos científicos. Em seu currículo Lattes os termos mais frequentes na
contextualização da produção científica, tecnológica e artístico-cultural são: Álcool, Avaliação
psicológica, Instrumentos psicológicos, Saúde Coletiva, Testes Psicológicos, Ensino de avaliação
psicológica, Psicodiagnóstico de Rorschach, Inteligência e Informatização de Instrumentos.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/6799586549817808

Bruno Couto Ferreira Maciel


Possui graduação em Engenharia Elétrica pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas
Gerais (2007) e pós-graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho pela Universidade
FUMEC (2012). Tem experiência na área de Engenharia Elétrica e Engenharia de Segurança do
Trabalho. Mestrando em Engenharia Elétrica pela PUC-MINAS.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/8100799258209567

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ÍNDICE REMISSIVO
A Trabalhador: 69, 107, 109

Acidentes: 82, 83, 87, 92, 93, 94, 95, 108, 114, Trabalho Rural: 106
115, 119, 129
Triagem: 29, 30, 33, 38
Animais Peçonhentos: 106, 115
V
B
Vascular: 66
Banco de Dados: 83

C
Catadores: 29

Construção Civil: 11

Cultura Preventiva: 116

E
Ergonomia: 25, 40, 41, 48, 49, 65, 66, 69, 80, 81,
143, 145

M
Medidas de Proteção: 106

P
Prevenção: 11, 122, 127, 128, 129

Produtividade: 69, 79

Q
Qualidade de Vida: 69, 81

R
Riscos: 11, 37, 38, 44, 122, 128

S
Saúde: 19, 24, 25, 38, 42, 49, 50, 94, 95, 102, 105,
106, 107, 108, 110, 111, 114, 115, 121, 129, 130,
143, 144
Saúde do Trabalhador: 105, 129

Segurança do Trabalho: 10, 11, 24, 130

Sonolência Excessiva: 97

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