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Copyright ©2020 by Jéssica Macedo

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prévia do autor. A violação dos direitos
autorais é crime estabelecido na Lei nº
9.610/98 e punido pelo artigo 184 do
Código Penal.

Projeto Gráfico de Capa e Miolo


Jéssica Macedo

Preparação
Aline Damasceno
Revisão
Gabriel Marquezini

Esta é uma obra de ficção. Nomes de


pessoas, acontecimentos e locais que
existam ou que tenham verdadeiramente
existido em algum período da história
foram usados para ambientar o enredo.
Qualquer semelhança com a realidade
terá sido mera coincidência.
Sumário
Sumário
Dedicatória
Sinopse
Prólogo
Capítulo um
Capítulo dois
Capítulo três
Capítulo quatro
Capítulo cinco
Capítulo seis
Capítulo sete
Capítulo oito
Capítulo nove
Capítulo dez
Capítulo onze
Capítulo doze
Capítulo treze
Capítulo quatorze
Capítulo quinze
Capítulo dezesseis
Capítulo dezessete
Capítulo dezoito
Capítulo dezenove
Capítulo vinte
Capítulo vinte e um
Capítulo vinte e dois
Capítulo vinte e três
Capítulo vinte e quatro
Capítulo vinte e cinco
Capítulo vinte e seis
Capítulo vinte e sete
Capítulo vinte e oito
Capítulo vinte e nove
Capítulo trinta
Capítulo trinta e um
Capítulo trinta e dois
Capítulo trinta e três
Capítulo trinta e quatro
Capítulo trinta e cinco
Capítulo trinta e seis
Capítulo trinta e sete
Capítulo trinta e oito
Capítulo trinta e nove
Capítulo trinta e quarenta
Epílogo
Leia o Livro do Bryan...
Sobre a autora
Outras obras
Dedicatória
Para Mari Sales, por mais um
projeto juntas.
Obrigada!
Sinopse
Logan Mackenzie é herdeiro de
um império secular que rege com
maestria. No entanto, por trás do
excêntrico e recluso homem de
negócios, que vive em um isolado
castelo no interior da Escócia, há muitos
segredos e desejos obscuros. Ele não se
rende a uma única mulher, tem várias, e
com elas explora a sexualidade ao
máximo.
Um convite inesperado o levará
ao exclusivo Clube Secreto, um lugar
onde todos os pecados podem ser
comprados. O que não imaginava era
que se depararia com um leilão de
mulheres. Logan nunca foi uma alma
caridosa, mas até os mais egoístas
vivem um momento de altruísmo. Ele
decide salvar uma delas, e por tê-la
comprado tem direito a tudo, inclusive a
libertá-la.
Camila já havia experimentado o
medo nas suas piores formas. Lançada a
um terrível destino, não esperava
acordar no jato particular de um
milionário a caminho do nada.
Ele já havia feito a sua cota de
boa ação, só esperava que ela fosse
embora, mas o que se fazer quando
Camila se recusa, pois não há para onde
ir? O lar que ela tinha havia se
transformado em pesadelo e aquele que
imaginou que cuidaria dela, roubou sua
inocência e a vendeu para o tráfico
humano.
Logan não queria protegê-la, não
estava disposto a baixar seus muros por
mulher nenhuma. Porém, enquanto ele a
afasta, Camila descobre o lado mais
obscuro daquele homem frio, mas
também vai perceber que existe uma
chama que pode salvar ambos.
Prólogo
A minha vida já foi feliz, muito
diferente do pesadelo em que me
encontrava. Desde que o meu pai havia
morrido, minha mãe e eu não tínhamos
muito, mas vivíamos bem em uma casa
confortável no interior de São Paulo. Eu
amava aquele jardim sempre verde e as
flores que cuidava com tanto apreço.
Entretanto, a minha mãe conheceu um
homem e tudo mudou...
Depois do falecimento precoce
do meu pai por AVC, Tiago parecia o
homem perfeito, tudo aquilo que a minha
mãe precisava para cuidar do seu
coração ferido, mas esse conto de fadas
não durou mais do que algumas semanas.
Logo ele revelou a sua verdadeira face e
descobrimos que, por trás de um homem
bondoso, havia um bandido. Tenho
certeza que a morte da minha mãe era
culpa dele, se não a matou com as
próprias mãos, ela havia morrido de
medo e desgosto.
Quando a perdi, imaginei que
Tiago fosse me enviar para a casa da
minha avó, que morava em uma
cidadezinha de Minas, mas, ao invés
disso, ele fez a coisa mais terrível de
todas.
Assim que ele saiu de cima de
mim e fechou o zíper da calça, percebi
que eu ainda estava viva e respirando,
por mais que a dor fosse tão forte ao
ponto de me deixar tonta. Naquele
momento, desejei ter morrido com a
minha mãe e não ter passado por uma
situação assim.
Ele parou na minha frente e puxou
meu cabelo, erguendo a minha cabeça
para que eu fosse obrigada a encarar
seus olhos, que despertavam em mim
medo e nojo. Umedeceu os lábios,
contornando-os com a língua e abriu um
sorriso largo, exibindo os dentes
amarelados devido ao fumo excessivo.
— Tem uma cara de boneca. —
Deu uns tapinhas no meu rosto com a
mão livre. — Vai me fazer ganhar muito
dinheiro. Amanhã vou colocar você em
um avião, vai ir morar na Europa.
— Não... não quero-ro. — Mal
tinha forças para falar. Ainda estava nua
na cama, sentindo-me um lixo.
— Não perguntei se você quer,
fedelha. Sua mãe morreu e, pelo menos,
me deixou você para ganhar alguma
coisa. Algum milionário gringo vai
pagar muito para ter você como
brinquedo. Uma pena que virgens valem
mais e eu só pude foder a sua bunda. —
Ele me deu um tapa na nádega e urrei de
dor.
Não tinha mais lágrimas para
chorar, mas continuei chorando. Achava
que a dor de perder a minha mãe fosse a
pior que eu enfrentaria, mas não estava
preparada para aquele abuso. Entretanto,
quando aquele monstro saiu do meu
quarto, imaginei que o meu pesadelo só
havia começado.
O que iriam fazer comigo na
Europa?
Capítulo um
Wallace, meu braço direito, disse
que as mulheres que eu havia pedido
estavam esperando por mim. Depois de
um dia exaustivo de trabalho, tudo o que
eu queria era um pouco de distração.
Desci pela escada de pedra que
levava até o calabouço, uma parte do
castelo medieval que um dia fora
destinada a prender inimigos de guerra,
que havia sido transformado para
atender aos meus desejos. Abri a pesada
porta de ferro, ouvindo-a ranger e me
deparei com as duas mulheres paradas
no centro de uma sala ampla com os
mais diversos “brinquedos”.
— Senhor — disseram em coro e
abaixaram a cabeça quando me
aproximei.
Tirei o blazer do meu terno e o
coloquei sobre uma cômoda antes de me
aproximar mais delas. Segurei uma pelo
queixo e levantei a sua cabeça, fazendo
com que me encarasse. Seus olhos eram
profundamente azuis e o cabelo loiro
estava preso em um rabo de cavalo,
exatamente do jeito que eu gostava.
— Meu assessor falou para vocês
como funciona?
— Sim. — Assentiram em
uníssono.
Gostava de deixar as cartas bem
claras na mesa antes de começar
qualquer coisa. Pagava por sexo, não
via mal algum nisso, o dinheiro definia
limites. Escolhia prostitutas de luxo que
passavam por rigorosos exames de
DST’s, que concordavam em se sujeitar
ao meu estilo e gostos sexuais. Não
costumava repetir meninas, isso
ampliava ainda mais o pouco
envolvimento. O que acontecia no meu
calabouço, ficava lá.
— Concordam em ser minhas
submissas e com o pagamento que
receberão por isso?
— Concordamos.
— Quero que fiquem de quatro.
Obedeceram a minha ordem, se
posicionando sobre o chão de pedra lisa
que cobria o lugar desde a última
reforma. Aproximei-me da cômoda e
abri uma das gavetas, tirei dela duas
coleiras e me aproximei das mulheres,
colocando em seus pescoços.
Posicionei-me atrás delas, puxei as duas
cordas de couro, uma em cada mão, e fiz
com que levantassem a cabeça.
— Tirem o sobretudo.
Me obedeceram, ficando de pé,
abrindo a peça que protegia seus corpos
dos meus olhos. Os pesados casacos
caíram, revelando corpos curvilíneos e
incrivelmente sedutores. Usavam apenas
calcinha, sutiã, meias três quartos e
cinta-liga, exatamente do jeito que eu
gostava.
Soltei a coleira da loira e trouxe a
ruiva até um cavalete, fazendo com que
ela subisse no aparelho. Prendi a coleira
em uma parte e atei seus braços e
pernas, deixando-a de quatro e suspensa.
Desci sua calcinha até o meio das coxas,
expondo sua vagina e seu ânus. Voltei
para a cômoda e peguei dela um plug
anal com um rabo de raposa, devido ao
cabelo ruivo, achei que combinasse bem
com ela. Passei um pouco de
lubrificante antes de introduzi-lo no seu
buraco enrugado. Dei um tapa na bunda
empinada, fazendo-a soltar um gemido
rouco antes que eu voltasse minha
atenção para a loira.
Peguei sua coleira e a puxei,
fazendo-a cambalear na minha direção.
— Ajoelha!
— Sim, meu senhor. — Encarou
meus olhos com firmeza antes de se
abaixar na minha frente, ficando de
joelhos e com a cabeça bem perto da
minha pélvis.
Pesei meu olhar sobre ela e dei
outra puxada na sua coleira, fazendo
com que entendesse a minha ordem antes
que ela precisasse ser dita. Seus dedos
delicados escorregaram pela braguilha
da minha calça, provocando pequenas
pulsações no meu membro pela
expectativa enquanto abria o zíper da
minha calça e puxava meu pau para fora
da cueca boxer. Sua boca envolveu o
meu pau, seus lábios eram quentes e
macios e isso me faz estremecer. Com
uma mão, segurei a coleira, e com a
outra, segurei seu rabo de cavalo,
empurrando ainda mais a minha pélvis
contra a sua cabeça, fazendo o meu pau
tocar a sua garganta. Ela gemeu com meu
membro na boca e percebi que estava
revirando os olhos. Quando o prazer
começou a aumentar, percebendo que se
continuasse naquele ritmo eu acabaria
gozando, puxei o cabelo dela num tranco
para trás e fiz com que parasse.
— Fiz algo de errado, senhor?
— Não. — Sorri para ela,
umedecendo os lábios. — Você é uma
boa menina. Agora, quero que beije a
sua amiga e toque o corpo dela. —
Soltei a coleira e o seu cabelo para que
ela fosse até o cavalete onde estava a
outra.
Assisti ela tocar a mulher presa,
contornar suas curvas e beijá-la na boca,
o que fez com que a minha prisioneira
empinasse mais a bunda e balançasse o
rabo de raposa. Fiquei observando-as
por alguns minutos, até me aproximar.
Contornei o plug com os dedos,
sentindo-a se contrair em volta do
objeto de metal e desci com os dedos
até a sua vagina. Introduzi um dedo em
seu canal e ela gemeu, os músculos me
envolvendo em meio ao estímulo. Estava
molhada e quente, e à medida que eu
movia o dedo dentro dela, sua excitação
aumentava. Afastei a mão para colocar
uma camisinha e puxei de volta a corda
da coleira ao penetrá-la, mas o gemido
da prostituta foi abafado pelos lábios da
outra que a beijava.
Segurei a coleira com uma mão e
a sua cintura com a outra, trazendo-a até
mim em trancos firmes, que faziam sua
bunda e o rabo sintético pularem. Ela
rebolou contra a minha pélvis e investi
com mais força, arrancando gemidos
difíceis de se conter.
A outra mulher se levantou e veio
me beijar na boca. Eu não a afastei, ao
invés disso, soltei a coleira para apertar
seus seios. Mordisquei seu lábio
inferior, gemendo também ao sentir que
o meu orgasmo se aproximava. Deixei-o
vir enquanto a puta rebolava gostoso em
mim.
Esperei alguns minutos para me
recuperar dos espasmos e afastei-me,
tirando a camisinha e jogando-a em uma
lata de lixo, antes de ajeitar a minha
calça.
— Solte-a — ordenei a que não
estava amarrada. — No final da
masmorra há uma sala com uma cama,
água e comida, para que possam se
nutrir e descansar. Volto mais tarde para
um segundo round, antes que sejam
levadas de volta para a cidade de onde
vieram. — Peguei meu blazer e saí da
masmorra.
Acariciei o cabelo loiro da
mulher que estava ajoelhada aos meus
pés, com a cabeça no meu colo, como se
pedisse carinho, ao fitar o luxuoso
convite preto com letras escritas em
dourado. Havia sido convidado para o
Clube Secreto, uma festa restrita para
convidados ricos e com gostos sexuais
excêntricos. Não nego, chamou bastante
a minha atenção. Desconhecia os
organizadores, mas, devido a todo o
sigilo descrito no convite, imaginei que
encontraria lá muito mais do que um
simples clube de swing.
Onde todos os seus pecados
podem ser comprados... Estava
acostumado a uma vida regada a sexo
com prostitutas e aquela frase me deixou
com água na boca.
— Vamos descer... — A mulher
no meu colo puxou a minha gravata,
fazendo-me prestar atenção nela.
— Você quer mais?
Fez que sim.
— Eu posso ser uma menina má
ou uma boa menina. O que você quiser...
— Mordeu os lábios ao prender o
cabelo em rabo de cavalo, como sabia
que eu gostava.
— Mais tarde. Agora, tenho
compromissos para resolver.
Ela fez bico, mas sua cara de
pidona não foi o suficiente para me
impedir de levantar da cadeira.
Precisava preparar algumas coisas para
a minha breve viagem para a Ucrânia.
Capítulo dois
Senti o impacto do meu jato ao
pousar e virei a cabeça para a janela.
Do lado de fora, estava um campo
verde, vasto, como o que cercava o meu
castelo, sem nenhuma civilização no
horizonte.
— Chegamos nas coordenadas
indicadas, senhor — anunciou Wallace,
meu braço direito e melhor amigo. —
Tem certeza que quer ir para esse lugar?
Não sabemos nada sobre esses caras. E
se o senhor acabar sendo sequestrado ou
o pior acontecer?
— Não seja pragmático. — Bufei.
— É apenas um clube de sexo. Vou ver
algumas stripers, presenciar ou
participar de algumas orgias e voltar
para casa. Imagino que outras
personalidades importantes, como eu,
estejam nesse evento, por isso todo o
sigilo. Imagine só o escândalo que seria
se algum chefe de estado ou diplomata
fosse fotografado sendo castigado por
uma dominatrix. — Ri ao desprender o
cinto e ficar de pé.
— Você acha graça, mas fico
preocupado com a sua imagem. Não se
envolva em escândalos, por favor.
— Não se preocupe, Wallace, e
não me espere de pé. Eu posso demorar
bastante. Vamos! — Passei por ele e fiz
um gesto para que o meu segurança
particular me seguisse.
Assim que desci pela escada do
avião, senti uma brisa amena tocar o
meu rosto. A temperatura deveria estar
dois ou três graus mais quente do que na
Escócia.
Por mais brincalhão que pudesse
ter sido com o Wallace, entendi a
cautela dele e, por isso, o mantinha
sempre por perto, para ser meu bom
senso. Wallace trabalhava para mim
desde sempre e quando a esposa dele
havia falecido com as complicações de
um tumor, tudo o que ele tinha era aquele
trabalho e eu sabia que poderia contar
com ele para tudo.
Não conhecia bem as pessoas que
organizavam aquele evento e tinha
ciência de que poderiam ser bastante
perigosas. Não era à toa que havia
trazido um segurança armado comigo.
Caso as coisas saíssem do controle,
teria alguma proteção, já que não eram
permitidos celulares ou quaisquer
dispositivos eletrônicos que pudessem
gravar imagens ou compartilhar
localização.
Assim que desci o último degrau,
uma mulher loira e elegante aproximou-
se de mim. Ela tinha belas curvas
acentuadas por um vestido preto e um
sorriso contagiante. Sorri de volta,
criando mentalmente a imagem dela
amarrada na minha cama.
— Senhor MacKenzie, é um
enorme prazer recebê-lo — disse em um
misto de inglês britânico e americano,
que me deixou um pouco confuso quanto
a nacionalidade dela. Certamente não
vinha de um país que possuísse o inglês
como língua nativa.
— Obrigado. — Tentei ser
cordial e minimamente gentil, uma vez
que esse não era um dos meus pontos
mais fortes.
— Peço que me acompanhe, por
favor. Há um outro convidado esperando
e vocês dois seguirão juntos no
transporte até a festa.
Assenti e fiz um gesto com a mão,
sinalizando para que ela fosse na frente.
Não queria apenas que me guiasse o
caminho, mas também observar a forma
como seu quadril se remexia a cada
passo que dava. Presumi, pela forma
como andava, que estava ali para
chamar atenção, pois nenhuma mulher
rebolava tanto naturalmente. Se a sua
intenção era não me fazer desgrudar os
olhos da sua bunda, estava conseguindo.
Ela, meu segurança e eu seguimos
até uma porta de metal. Ao puxá-la,
revelou uma sala de espera sem muitos
atrativos, deveria pertencer ao próprio
aeroporto. Havia dois sofás e uma mesa
de centro. Em um dos sofás estava um
homem, usando um terno elegante, que
moveu a cabeça e olhou na minha
direção.
Caminhou até mim e parou na
minha frente com um sorriso. Achei-o
simpático demais para quem estava em
um local como aquele.
— Muito prazer — falou em
inglês, com um sotaque americano.
Claramente outro não nativo. Estendeu a
mão para mim e fiquei o encarando,
confuso. Não estava naquele lugar para
fazer amigos, mas, como Wallace
sempre dizia, não me custava nada ser
um pouco cordial. — Sou Bryan
Maldonado e não havia nenhuma contra
recomendação quanto a nos apresentar.
— Logan Mackenzie — fui breve,
sem saber se devia ou não revelar a
minha identidade. Apertei a mão dele ao
dar um sorriso discreto. Era o máximo
que eu conseguia. — Sua primeira vez?
— Sim. — Ele voltou a se sentar
e eu me acomodei no outro sofá. — Seu
nome não me é estranho...
— Uísques Royal Mackenzie. —
Droga! Estava me revelando demais. Se
Wallace torrasse a minha paciência por
ter me metido em algum escândalo
sexual, não poderia culpá-lo.
— Ah, claro. Meu resort compra
diretamente com você as bebidas.
Paradise Resort, nas Ilhas Maldivas.
— Claro, senhor Maldonado. —
Havia realmente um sobrenome
Maldonado em meus relatórios, mas
nunca o iria ligar a uma pessoa,
entretanto, isso não importava, bastava
ser cordial e não me meter em
problemas. — Prazer em conhecê-lo,
mesmo que a situação seja inusitada. É
um cliente antigo.
— Meu avô lidou com essa parte
há um tempo e, quando faleceu, eu
assumi.
Fazia todo sentido, já que algum
Maldonado fazia pedidos há décadas, o
que certamente não condizia com a
idade do homem à minha frente. O tal
Bryan não deveria ter mais do que trinta
e cinco anos.
— Negócios de família?
— Senhores. — A mulher que me
recepcionou, retornou à sala na
companhia de dois homens corpulentos
que seguravam um pano preto. — Por
questão de segurança do Clube Secreto e
a de vocês, a partir de agora, não é
permitido ver ou falar até o momento em
que chegarmos ao nosso destino.
Querem dizer algo?
Neguei com a cabeça, olhando
para o Bryan e depois para o meu
segurança, que pareceu alarmado. A
ideia de sermos levados às cegas para
algum lugar não o agradava, mas,
confesso que me deixou um pouco
excitado. Estava muito ansioso para
saber o que me aguardava nesse Clube
Secreto.
Respirei fundo quando a minha
cabeça foi coberta pelo saco preto de
algodão. As fibras estavam presas bem
juntas, o que não me permitia ver nada,
porém, possibilitava que eu respirasse
sem dificuldades.
O convite para o Clube Secreto
veio de uma empresa que agenciava as
prostitutas de luxo com quem eu
transava. Eu não fazia perguntas e
sempre mantinham o meu sigilo.
Provavelmente, ao saberem do tal
evento, deduziram que eu era um
convidado perfeito: rico e com gostos
excêntricos para o sexo.
Senti as mãos leves da mulher
repousarem sobre meus ombros
enquanto ela nos guiava. Não sabia para
onde estava indo, até que ela me ajudou
a sentar em um estofado e colocou um
protetor auricular sobre a minha cabeça,
protegendo meus ouvidos do som
estrondoso das hélices do helicóptero.
Não fiquei nervoso em nenhum
momento, mas estendi o braço para
certificar-me de que o meu segurança
estava comigo.
Assim que o helicóptero pousou,
as mãos suaves da mulher me guiaram
novamente. Percebi a mudança do chão
sobre os meus pés, do áspero concreto
para algo mais frio e rígido. Percebi que
a luz entrava por algumas frestas do
capuz, mas meus olhos estavam
acostumados com a escuridão. Fui
obrigado a fechá-los assim que o capuz
foi removido e uma luz forte envolveu o
meu rosto. Pisquei algumas vezes, até
me acostumar com a iluminação. Logo
que a minha visão retomou o foco, vi um
belo lustre de cristal que pendia do teto,
similar àqueles que via em inúmeros
castelos, inclusive no meu.
A decoração do ambiente era
luxuosa, foi como entrar em um saguão
de uma mansão imperial ou de um
palácio. Eu não esperava menos, devido
ao oneroso valor que me cobraram para
estar ali. Caminhamos por um corredor e
reparei nos afrescos nos tetos,
emoldurados por bordas douradas. Eles
lembravam pinturas renascentistas,
como as da Capela Sistina, mas não
representavam cenas religiosas e sim
imagens eróticas de sexo explícito.
Bacanais gravados e inúmeras posições
do Kama Sutra. Era um lugar decorado
para o seu objetivo, proporcionar sexo e
prazer aos convidados.
Meu olhar encontrou o de Bryan e
apenas nos encaramos antes de voltar a
nossa atenção para a mulher que havia
nos guiado até ali. O vestido que ela
usava havia dado lugar a algo bem mais
provocante, obrigando-me a
esquadrinhar suas curvas mais uma vez.
— Bem-vindos ao Clube Secreto,
sou Crystal. — Abriu um largo sorriso,
encarando-me e depois voltando sua
atenção para o Bryan. Não tinha certeza
se estava sugerindo um ménage, mas eu
preferia ter duas mulheres na cama ao
ter que dividir uma só com outro
homem. — Serei a guia de vocês e
atenderei a todas as suas necessidades,
até o evento final. Por favor, coloquem
as máscaras e não as tirem em hipótese
nenhuma. — Entregou-nos o adereço e
abaixou a cabeça em um ato de
submissão enquanto nos arrumava.
— Qual a programação? —
questionei ao prender a máscara no
rosto, estava cansado de ouvi-la falar.
— Temos o salão voyeur —
apontou para uma porta grande perto da
escada —, o bar — apontou para outra
porta — e os quartos privados, onde
levamos a encomenda conforme o
pedido.
— Encomenda? — Bryan franziu
o cenho e me perguntei o que ficou
passando pela cabeça dele.
— Mulheres, homens,
brinquedos... O que vocês quiserem, não
há limites. Estamos prontos para servi-
los da melhor forma. — Sorriu com
malícia e percebi que o Bryan estava
correspondendo aos olhares dela. Se ele
pretendia ter algo com a guia-turística,
não seria eu a ficar entre os dois.
— Vou para o bar — disse, e
segui para a porta indicada,
acompanhado pelo meu segurança, sem
esperar que me dissesse mais nada.
O espaço era grande, mas não
estava lotado. Presumi que o convite que
me fora feito não se estendia a um grupo
vasto de pessoas, apenas a uma seleção
restrita com predileções e dinheiro para
estar ali.
Fiz um gesto para que o meu
segurança esperasse na porta e segui
para um sofá ao redor de uma mesa
redonda, que ficava diante do palco.
Acomodado, reparei melhor no ambiente
à minha volta. Presas ao teto, haviam
algumas gaiolas com homens e mulheres
dentro, eles dançavam de maneira
sensual, no ritmo da música que tocava
ao fundo. Os garçons e garçonetes
estavam de lingerie ou cueca boxer. Na
frente das peças íntimas havia um zíper.
Não muito longe de mim, vi uma
garçonete segurando uma bandeja tendo
um dos convidados abrindo o zíper da
sua calcinha, sendo o bastante para que
eu soubesse que não era um acessório
falso.
Estava tão distraído observando o
ambiente, que nem percebi que uma
delas se aproximou de mim.
— Posso servi-lo de alguma
forma, meu senhor?
Não respondi a sua pergunta de
imediato, ao invés disso, reparei bem
nela. Era ruiva e possuía um punhado de
sardas sobre as bochechas. Seus cabelos
estavam soltos e caíam em ondas até o
meio das costas. Ela usava uma lingerie
branca, meia três quartos e cinta liga.
— Prende o cabelo num rabo de
cavalo e me traz um martíni.
Ela arregalou os olhos verdes,
estranhando o meu pedido, mas assentiu
e afastou-se de mim, indo até o bar.
Fiquei observando as pessoas dançando
nas gaiolas até que ela voltou. Havia
usado uma das fitas de sua roupa íntima
e feito um laço no cabelo, prendendo-o
na altura da cabeça. Curvou-se na minha
frente, colocando o Martíni sobre a
mesa e deixou a bunda na altura dos
meus olhos. Estiquei a mão e contornei a
sua nádega com as pontas dos dedos,
antes de dar um tapa audível.
Ela gemeu baixinho, mordendo os
lábios, mas não protestou.
— Pode aproximar seu chip, por
favor? É pela bebida. — Esticou uma
pequena máquina.
Havia feito um pagamento
antecipado pela minha entrada, mas
aberto uma conta em criptomoedas para
o que pretendesse consumir ali.
Dinheiro não rastreável, que seria
facilmente transferido para a conta dos
organizadores.
Peguei a taça e beberiquei alguns
goles enquanto olhava a mulher, que
permaneceu parada à minha frente.
— Vem aqui. — Bati ao meu lado
no sofá.
Assentiu, colocando a bandeja
sobre a mesa. Esquadrinhei ela com o
olhar, tinha seios de tamanho moderado
e uma barriga lisa, o que realmente se
destacava era tamanho da bunda.
— O que eu posso fazer com
você?
— Tudo o que quiser, senhor. —
Tentou manter o sorriso, mas percebi
que ela estava tensa.
— Aqui no bar?
— Se for o que deseja.
— Não gosto muito de pessoas
observando.
— Nem eu. — Seu sorriso ficou
mais verdadeiro e notei um certo alívio
em seu olhar.
— Me leve para um quarto mais
particular.
— Como quiser. — Assentiu,
puxando-me pela mão, me levando de
volta ao corredor.
— Senhor... — Meu segurança
quis vir atrás de mim, mas coloquei a
mão em seu peito.
— Pode esperar aqui.
— Não acha perigoso?
— Imagino que uma mulher tão
doce e frágil não possa me fazer mal
algum.
— Se...
— Se precisar, eu chamo. —
Passei por ele, seguindo com a mulher
para um corredor.
Enquanto andávamos, coloquei a
minha mão na sua bunda, sentindo o seu
rebolado com meu tato a cada passo.
Seguimos por um corredor escuro
com apenas uma faixa de luz vermelha
de cada lado. Algumas portas tinham
chaves do lado de fora, outras pareciam
simplesmente trancadas. Imaginei que
fossem os quartos ocupados.
— Prefere uma cama redonda ou
quadrada?
— Uma que tenha lugar para
amarras.
— Amarras? — Arregalou os
olhos e engoliu em seco.
— Sim.
— Tem um quarto com algumas
coisas...
— Ótimo!
Segui com ela até o fim do
corredor, onde abriu uma porta,
revelando um quarto escuro com apenas
uma luz fraca vinda debaixo da cama
redonda, que tinha amarras para as mãos
e pés. Peguei a chave que ela segurava e
fechei a porta atrás de nós.
— Deita na cama — minha voz
assumiu um tom sério.
Ela me olhou e olhou para a cama
umas duas vezes, antes de atender a
minha ordem.
— Só não me machuca. —
Encolheu enquanto eu subia sobre ela
para amarrá-la.
— Quer ir embora? — Soltei seu
pulso antes de prendê-la a corrente. —
Não vou obrigá-la a nada.
— Estou aqui para realizar todos
os seus desejos, senhor.
— Todos eles?
— Sim. — Engoliu em seco e
percebi que suas palavras contradiziam
seus atos.
— Não se preocupa. — Passei
uma mão pelo seu rosto até pressionar
seus lábios com o meu polegar. — Não
vou machucar você, mas vou amarrar
você e vou te foder. Vou perguntar mais
uma vez, quer ir embora?
— Não, senhor. — Posicionou as
mãos e os pés para que eu pudesse
prender as amarras.
Com a permissão dela, amarrei-a
na cama e me afastei para observá-la
melhor. Mesmo à pouca luz, podia ver o
quanto o seu corpo era lindo, o que me
deixava bastante excitado. Antes de
fazer qualquer coisa, iria fazer uma boa
avaliação dela.
Vi seu peito subindo e descendo,
quase em frenesi. As pupilas dilatadas e
a respiração descompassada eram sinais
claros de que ela ainda estava com
medo.
— É prostituta há muito tempo?
Fez que não.
— É daqui da Ucrânia? Tem um
sotaque inglês forte.
— Não, sou da Austrália.
— O que veio fazer tão longe?
Ela cerrou os lábios e percebi
que não estava disposta a me responder.
O motivo disso eu desconhecia.
— Não quer conversar?
Fez que não.
— Okay!
Contornei a cama redonda, que
estava no centro do quarto antes de
parar entre as pernas dela. Abri o zíper
da sua calcinha e a mulher se contorceu.
Sua vagina era lisa e completamente
depilada. Os lábios eram delicados,
assim como seu canal, mas ao descer um
pouco mais o olhar, percebi que seu
ânus não era tão apertado quanto deveria
ser.
— Gostam bastante da sua bunda,
não é?
Assentiu, fechando os olhos.
— Os chefes adoram.
— Diz os homens que organizam
esse lugar?
— Sim.
— Foram bem brutos com você.
— Contornei com a ponta do dedo,
sentindo que as pregas haviam relaxado
um pouco.
Passava longe de ser um primor
de delicadeza na cama, mas os homens
que transaram com ela, certamente
haviam metido na sua bunda sem
qualquer cuidado com lubrificação.
Provavelmente, sendo muito doloroso
para ela. Por mais louco que aquela
bunda redonda e grande me deixasse,
achei que não fosse adequado fazer sexo
anal com uma mulher naquele estado.
Lambi sua barriga, fazendo-a se
contorcer e se espichar na cama.
— Gosta disso?
— Sim... — Revirou os olhos e
percebi que todos os pelos do seu corpo
estavam arrepiados.
Subi na cama, ajoelhando-me
sobre ela. Abri o fecho do seu sutiã, que
prendia na frente, e abocanhei um dos
mamilos rosados. Ela se retorceu,
gemendo, não sabia meu nome para
gritá-lo, nem eu o seu.
Apalpei o seio livre, fazendo-a
arfar, então deslizei a mão pelo seu
corpo, traçando um caminho até o meio
das suas pernas, que estavam bem
distanciadas pelas amarras. Toquei o
clitóris, antes de escorregar o dedo pela
fissura e penetrá-la. Tentou mover as
pernas, para fechar as coxas, mas não
conseguiu. Vi prazer se misturar ao
desespero em seus olhos enquanto eu
introduzia e extraía o dedo em seu
interior.
Saí de cima dela e ouvi um
resmungo de protesto. Estava estampado
no seu rosto como havia gostado dos
meus estímulos. Desci da cama apenas
para tirar a roupa e colocar uma
camisinha. Assim que o meu pau estava
devidamente vestido, segurei-a pela
cintura e investi com um tranco firme.
Estava bem molhada e não encontrei
nenhuma dificuldade ao deslizar para o
seu interior.
Percebi que ela merecia uma
recompensa e levei uma das mãos ao seu
clitóris, pressionando a parte enrijecida
que dava a ela prazer. A prostituta
fechou os olhos e mordeu os lábios,
tentando conter os gemidos que ficavam
ainda mais altos.
Não parei de me mexer, nem de
estimulá-la, até que nós dois tivéssemos
gozado. Assim que recuperei as minhas
forças, joguei a camisinha fora e a
soltei.
Estava me vestindo quando senti
seus braços envolveram os meus
ombros.
— Achei que tivesse que ter
medo de você, que faria essas coisas
malucas, como me queimar que nem
gado, mas é o primeiro homem que tem
um pingo de preocupação com o meu
prazer desde que cheguei nessa droga de
lugar.
— Não me abraça! — rosnei ao
afastar as mãos dela.
— Desculpa. — Encolheu-se.
Ela não tinha como saber, mas eu
odiava esse tipo de proximidade.
— Não sou um bom homem.
— Talvez seja.
Capítulo três
Desde que cheguei naquele lugar
perdido no meio do nada, eu havia sido
estuprada e humilhada tantas vezes, que
já perdera as contas. Tentaram preservar
a minha virgindade, mas meu estômago
revirava todas sempre que me lembrava
daqueles homens empurrando seus paus
contra a minha boca e eu não conseguia
nem gritar.
Me jogaram em um quarto, usando
uma camisola transparente, que deixava
os meus seios à mostra, e uma calcinha
minúscula. Caminhei até um espelho na
parede e observei meu cabelo castanho
solto ao redor do rosto, as unhas bem-
feitas e uma maquiagem leve que me
fazia parecer ainda mais jovem do que
os dezenove anos que eu tinha. Não
entendia o tratamento de salão de beleza
que haviam dado em mim.
Será que finalmente me
entregariam ao monstro gringo
devorador de virgens?
A porta se abriu e o meu coração
parou de bater. Estava preparada para
ser arrastada sabe sê-la para onde,
porém, ao invés de homens fortes
entrarem para me pegar, uma outra
mulher foi jogada para dentro. Vi muitas
desde que havia chegado naquele
inferno, algumas tiveram destinos ainda
piores que o meu. Ao fechar os olhos,
ainda podia ouvir o grito delas, pedindo
por socorro, por esperança, mas apenas
encontravam mais sofrimento.
Aquela que entrou no quarto
estava vestida de forma semelhante à
minha, deveria ter alguns anos a mais do
que eu, mas exibia o mesmo olhar de
desespero.
A porta foi trancada outra vez e
nós duas permanecemos presas ali.
— O que vão fazer com a gente?
— perguntei para ela da melhor forma
que consegui, pois ainda me atrapalhava
um pouco com as palavras em inglês.
— Não sei. — Balançou a
cabeça, perdida. Estava desorientada e
visivelmente cansada.
— Quero voltar para casa...
Queria dizer que ela não era a
única, tudo o que desejava era voltar
para a vida que tinha antes da minha mãe
morrer, porém, não sabia mais o que
esperar caso voltasse para casa. O lar
que meu pai e minha mãe haviam
construído com tanto suor e dedicação,
provavelmente pertencia ao novo
marido dela, o monstro que havia
apagado uma luz que existia dentro de
mim. Se eu voltasse, ele iria me vender
para os traficantes outra vez ou faria
algo pior.
Só queria que a minha mãezinha
estivesse viva e aquilo tudo não
passasse de um pesadelo horrendo, mas
era terrivelmente real.
Capítulo quatro
Após trepar com a garçonete em
um dos quartos, decidi explorar melhor
o local, não era obrigado a fazer nada,
mas poderia conhecer um pouco de tudo.
Entrei no salão do voyeur e presenciei
um verdadeiro bacanal. Haviam homens
e mulheres nos mais diversificados
encontros íntimos, usufruindo de
variados níveis de prazer. O local era
uma espécie de coliseu, com degraus de
arquibancada e alguns divãs no centro.
Meu olhar acabou sendo levado até uma
mulher que era duplamente penetrada,
mas estavam todos mascarados e não
consegui reconhecer ninguém.
Haviam também homens e
mulheres em sexo homossexual. Um
homem estava escorado em uma coluna
com outro segurando a sua cintura. As
investidas eram firmes, mas pelo olhar
daquele que estava sendo penetrado,
percebi que gostava. Ao pensar no meu
lado dominador e um tanto sádico na
cama, não tinha o direito de julgar
aqueles que gostavam de outras coisas.
Continuei caminhando pelo
espaço circular até passar de frente a
três mulheres se beijando. Elas sorriram
e fizeram um gesto para que eu me
aproximasse, mas apenas fiz que não.
Aquele clube poderia ultrapassar
limites, mas eu ainda tinha alguns, isso
incluía não fazer sexo na frente de todo
mundo.
Voltei para o bar e encontrei o
meu segurança no mesmo lugar em que
eu havia o deixado. Percebi que ele
estava tenso, aquele ambiente
certamente não era o mais favorito de
Jax. Imaginei que fosse pelo fato de ele
estar a trabalho e não poder aproveitar
nem a bebida e nem as mulheres.
Passei no bar e peguei uma dose
de uísque, ironicamente, o meu uísque, e
voltei para uma das mesas redondas.
Um show havia começado no
palco e parei para assisti-lo. Havia
cerca de quinze mulheres, todas elas
usavam uma peruca preta Chanel, que
balançava de um lado para o outro à
medida que moviam a cabeça. Usavam
um vestido colado, repleto de paetês e
franjas vibrando e brilhando a cada
movimento. Não levou muito tempo para
que eu percebesse se tratar de um show
de strip-tease, pois elas se viraram de
costas, rebolando e abaixando
lentamente as alças de seus vestidos. A
forma como o tiraram durante a dança
foi lenta e quase angustiante. Se
abraçaram, rebolaram mais e, de
repente, arrancaram o vestido. Ficaram
nuas, não inteiramente nuas, pois havia
um X feito com fita preta sobre o bico
dos seus seios, sobre cada nádega, e um
V contornando a virilha, ressaltando a
vagina. Todas muito bem depiladas e
com seios firmes, o suficiente para
deixar qualquer homem duro. A dança
continuou e eu tombei involuntariamente
o corpo para observar melhor, a forma
como os seios e as bundas delas
vibravam capturou facilmente o meu
olhar.
Achei que tinha acabado quando
começaram a descer do palco, mas o
show continuou no colo dos convidados.
Tombei o corpo para trás e deixei que
uma delas se acomodasse no meu colo.
Rebolou deliciosamente, estimulando o
meu pau com as nádegas, e isso me fez
pulsar e me deixou louco. Cada quicada
leve que dava no meu colo eu ofegava,
ainda que estivesse de calça. Parei de
apoiar as mãos no sofá e apertei os
seios dela, fazendo com que gemesse
também.
Assim que a mulher começou a se
levantar, eu a segurei pela cintura.
— Não vai a lugar nenhum —
rosnei. Ela não tinha me acendido
daquele jeito para ir embora assim.
Vi uma pequena cestinha com
camisinhas sobre a mesa e peguei uma
delas, rasguei com os dentes e abri a
calça. Extraí meu pênis e mal coloquei a
camisinha, antes de fazê-la se encaixar
em mim. Gemi e a mulher também.
Percebi que havia deixado cair
por terra o fato de não querer transar na
frente de ninguém. Ao menos estava
vestido e meu pênis muito bem
encaixado dentro da dançarina. Ela
continuou rebolando no meu colo, dando
leves quicadinhas como se estivesse
dançando. Tomei um gole de uísque,
com a mão na sua cintura, incentivando-
a a continuar. Só a deixaria levantar
quando eu tivesse gozado.
Segurou o meu joelho e rebolou
ainda mais intensamente. As paredes do
seu sexo apertavam meu pau com força,
tornando quase impossível me segurar
por muito mais tempo. Percebi que além
de ótima dançarina, ela era uma
pompoarista com muito talento.
Soltei a cintura dela, quando
tombei o corpo para trás, ofegante, e fui
obrigado a segurar no sofá para não
deitar nele. Sorrindo, a dançarina se
levantou e correu para trás do palco.
Rapidamente, tirei a camisinha,
me limpei com um guardanapo e fechei a
calça.
O dinheiro que havia investido
para estar ali se mostrou bastante
proveitoso.
— Peço a atenção de todos vocês
para o grande evento da noite.
Parcialmente recuperado, voltei a
minha atenção para o palco, vendo uma
mulher de vestido vermelho com uma
fenda lateral ampla o bastante para nos
levar a crer que estava sem calcinha e
sem sutiã, devido ao decote até o
umbigo.
— Estou apenas aguardando que
todos os convidados se reúnam a nós.
Movi a cabeça a tempo de ver
Bryan entrar no bar. Ainda que usasse
uma máscara, tendo o visto colocá-la,
tornou-o praticamente inconfundível
para mim. Estava um tanto despenteado
e com a roupa amassada, me levando a
crer que eu não era o único
aproveitando o lugar.
— Imagino que estejam se
deliciando com todas as atrações que
trouxemos para vocês — continuou a
mulher.
Alguns balançaram a cabeça em
afirmativa, mas a maioria continuou
apenas encarando-a.
— Qual de vocês não quer uma
escrava sexual, uma mulher para atender
seus desejos dia e noite, inteiramente
sua? Os prazeres dessa noite podem se
estender por várias outras....
Escrava sexual... Estavam
falando sério ou era apenas um termo?
— Hoje, não temos apenas uma
virgem, mas duas para satisfazer os seus
desejos.
— É um leilão de virgindade? —
perguntou alguém na multidão,
externando a pergunta que ecoava na
minha mente.
— Não apenas isso. — A mulher
deu um sorriso sombrio, que me deixou
ainda mais alarmado.
Cada um fazia com o próprio
corpo o que bem entendesse, se as
mulheres estavam ali e optaram por
leiloar a virgindade, isso era uma
escolha delas, porém, lá no fundo, me
pareceu algo bem além disso. De
repente, um arrepio espantou a minha
névoa de excitação.
— As virgens sairão daqui como
propriedade de um de vocês ou de dois
felizardos que conseguirem arrematá-las
no leilão. São mulheres sem passado ou
documentos, prontas apenas para o que
desejarem fazer com elas. — A forma
como ela falava me levou a acreditar
que não era apenas uma simples
brincadeira.
Estava falando sério? Iriam
vender mulheres? O prazer tinha um
limite, inclusive para mim. Esse limite
era estourado quando a situação deixava
de ser consensual. Era pouco provável
que alguém realmente ambicionasse ser
vendido como escravo para outra
pessoa.
Custei para perceber que o Bryan
estava sentado ao meu lado, e nos
entreolhamos. A expressão de espanto
não era restrita apenas a mim.
— Que porra é essa? —
balbuciou, movendo apenas os lábios.
— Eu não sei. — Balancei a
cabeça em negativa, estava confuso.
Confesso que não pensei direito a
respeito das pessoas que organizavam
aquele evento, mas traficantes de
pessoas parecia demais.
— Temos joias raras que vocês
irão se apaixonar só de olhar. — A
locutora manteve o sorriso, deixando-me
ainda mais chocado diante daquela
situação. — Que tal começáramos com
um desfile, para que possam apreciar as
peças a serem leiloadas?
Estava abismado, mas não
conseguia tirar os olhos do palco.
Estava paralisado pela indignação e
pelo espanto.
— Será que é alguma
brincadeira?
— Não é o que parece —
sussurrei.
— Isso é errado.
— Em graus que nem consigo
medir. — Cocei o queixo.
Observei as duas virem para o
palco. A expressão de pavor nos olhos
de cada uma me fez ter a certeza de que
não estavam ali por escolha própria.
Estavam vestidas de uma forma que
chamava atenção, isso não podia negar.
Uma camisola fina, branca e
transparente, as cobria e ao mesmo
tempo revelava todas as partes de seus
corpos. Eram lindas e uma parecia tão
jovem que me perguntei se tinha idade
para estar envolvida com um esquema
de sexo como aquele.
— Eu dou mil pela bonitinha com
cara de boneca — gritou alguém da
multidão.
Ela se encolheu e os homens
riram. Será que não percebiam o
quanto ela estava assustada?
— Mil é muito pouco. — Riu a
locutora. — Olhem só como ela é linda
e doce. O lance mínimo por essa é
cinquenta mil, e pela outra, quarenta.
— Como vamos ter certeza de
que ela realmente é virgem?
Eu não sabia se a minha
indignação maior era pela organização
estar se dispondo a leiloar mulheres ou
pelos convidados realmente estarem
dispostos a pagar por escravas sexuais,
que não pareciam felizes ao serem
sujeitadas a isso.
— Sei que essa é uma dúvida que
muitos de vocês têm, então iremos
mostrá-los um exame ginecológico aqui
no palco.
Um homem vestindo roupas de
médico, com uma máscara branca
cobrindo nariz e boca, entrou
empurrando uma maca. Acima do palco,
um telão foi ligado exibindo de mais
perto as duas mulheres sendo leiloadas.
— Vamos começar com você. —
Pegaram a mais velha e a levaram para a
maca. Ela não protestou muito, mas
percebi que estava grogue,
provavelmente haviam dado alguma
droga para que não oferecessem
qualquer resistência diante daquela
exposição ridícula.
Acomodaram a mulher sobre a
maca, abriram suas pernas, tiraram a
pequena calcinha e sua vagina apareceu
enorme no telão. Bryan balbuciava
baixinho, mas estava indignado demais
para prestar atenção nos pensamentos
dele.
O médico afastou os grandes
lábios e os prendeu para o lado com
uma espécie de pinça e aproximou uma
pequena câmera, provando a todos que o
hímen da mulher ainda estava lá. Aquela
demonstração pareceu um show de
horror, o que fez o meu estômago
revirar. Sabia que vir ao Clube Secreto
exploraria os meus limites, mas não
imaginava ser tão negativamente.
— Mostra a boceta da outra. —
Riam e eu me enojava ainda mais.
Queria socar aqueles homens, mas não
sabia se o meu segurança seria o
suficiente para me proteger da briga que
arrumaria.
— Sua vez, bonequinha. — O
médico puxou a moça e eu
impulsivamente me levantei.
— Não! — rosnei, atraindo a
atenção de todos para mim. — Pago um
milhão de criptomoedas por ela, mas
não irão expô-la ao ridículo desse jeito.
Era dinheiro demais, sabia bem
disso, mas simplesmente não podia ficar
sentado sem fazer nada enquanto
promoviam aquele show de horrores.
— Não tem todo esse dinheiro aí
com você — provocou um outro sujeito
que estava a duas mesas de mim.
— Vai dar um lance maior do que
o meu? — Tentei manter o sangue frio e
devolvi a provocação.
— Algum outro lance? — A
locutora abriu um sorriso de orelha a
orelha. Imaginava que ela não fosse
conseguir uma oferta melhor do que a
minha. Havia jogado alto para que não
tivesse que ficar batalhando com
ninguém. — Não, nenhum lance? —
Olhou em volta e todos permaneceram
calados. — Vendida para o cavaleiro de
sotaque forte e voz firme.
— Ah, deveriam pelo menos
mostrar a bocetinha dela antes desse
cara arrancar o cabaço.
Rosnei, mostrando os dentes, e o
homem se encolheu. Precisava sair dali
ou acabaria matando alguém.
A mulher que eu havia comprado
em um ato impulsivo olhou na minha
direção, mas antes que pudesse fazer ou
dizer qualquer coisa, tombou para o
lado, caindo desacordada, mas o médico
a segurou. Deveriam ter exagerado na
dose de sedativos.
Atravessei a distância até o palco
e subi nele, pegando-a nos meus braços.
Eu estava tão possesso que ninguém
ousou me impedir.
— Vai ficar tudo bem — prometi
quando se encolheu junto a mim,
aninhando-se como um animal
inofensivo e acuado.
Levei-a desacordada para um
quarto e paguei por ela antes de sair
dali.
Capítulo cinco
Abri os olhos devagar, sentindo a
minha cabeça doer e os meus braços e
pernas muito dormentes. Tentei me
mexer, mas ainda não havia recuperado
total controle sobre o meu corpo.
Tombei a cabeça para o lado e percebi
que estava deitada em um sofá. Havia
algo me cobrindo com um cheiro
amadeirado, másculo e distinto, e
demorei para perceber que era um
blazer de terno. Não conseguia ver nem
pensar direito...
Levantei num sobressalto ao
perceber que desconhecia
completamente o ambiente ao meu redor.
Estava cansada de ir de um lugar para o
outro, encontrando um destino pior do
que o anterior. Notei as janelas
abauladas e ovais, além do revestimento
creme das paredes. Estava em um sofá
diante de uma pequena mesa, mas, após
ele, havia poltronas confortáveis.
Demorei a entender que estava dentro de
um avião. Não qualquer avião, pois era
menor, porém mais confortável do que
qualquer primeira classe que eu tinha
visto em filmes.
— Calma — disse em um inglês
carregado de sotaque.
Levantei a cabeça e olhei para
frente, notando o homem alto que estava
parado, segurando um copo com bebida.
Ele tinha ombros largos, a barba estava
por fazer e os olhos eram azuis,
penetrantes, profundos e firmes.
Recordei-me de que aqueles olhos
foram a última coisa que eu vi antes de
desmaiar completamente, devido às
coisas que haviam injetado em mim.
Não sabia o que era, mas tinham o efeito
suficiente para me deixar acordada, mas
inofensiva, sem força para falar ou
gritar, muito menos lutar contra as
barbáries que estavam fazendo comigo.
— Você fala a minha língua?
— Você me comprou? — Engoli
em seco, devolvendo a pergunta sem
responder a dele, enquanto memórias
confusas voltavam pouco a pouco para a
minha mente.
— Comprei. — A voz dele se
mantinha firme, para não dizer
assustadora. Provocava em mim uma
sequência de calafrios e acabei me
encolhendo no sofá. Sabia que não
existia lugar para fugir, já havia tentado
algumas vezes e apenas recebera
punições horríveis.
— Para onde está me levando? —
Olhei para fora da janela do avião,
buscando me localizar de alguma forma,
no entanto, tudo o que via era um céu
escuro e nuvens pesadas.
— Para a Escócia.
Senti um arrepio me varrer
seguido de uma dor no estômago. Era
medo?
— Você está com fome? —
Sentou ao meu lado no sofá e eu fui
parar na outra extremidade, recuando o
máximo que consegui.
— E-eu não... Talvez... — O
misto de medo e descoordenação me
deixavam com uma dificuldade enorme
de pronunciar frases inteiras. A dor na
minha barriga poderia ser apenas isso,
fome.
— Traga alguma coisa para ela
comer. — O homem de voz firme e
sotaque carregado, acenou para outro
que estava sentado em uma poltrona
próxima à cabine do piloto. Como ele
usava um uniforme, imaginei que
pudesse ser o comissário de bordo.
Fiquei sentada, encolhida,
enquanto o comissário pegava algo na
frente do avião e voltava com um prato
com o que me pareceu um ravióli e uma
lata de refrigerante.
— Tem salada, mas imagino que
precise de algo mais forte. Parece tão
abatida, tadinha. — Colocou a bandeja
na minha frente enquanto exibia para
mim um sorriso terno.
Havia sido tão maltratada desde
que o meu padrasto havia me estuprado
e vendido para o tráfico, que era muito
estranho ver alguém ser gentil comigo.
— Isso é seu? — perguntei para o
homem, que agora era o meu dono, ao
apontar para o blazer de terno que
estava sobre mim. Não era difícil
deduzir, já que ele estava apenas com
uma camisa branca.
Apenas fez que sim.
— Quer de volta? — Puxei,
tirando-o de cima de mim, mas logo o
abracei de novo ao perceber que não
queria mais ninguém me vendo com a
roupa que estava, ou melhor, a falta
dela, uma vez que aquela camisola não
cobria nada, deixando os meus seios e a
minúscula calcinha visíveis.
— Acho melhor ficar com ele —
respondeu, mantendo-se impassível e
odiei que aquele homem parecesse tanto
uma página em branco. Parecia
extremamente ameaçador ao mesmo
tempo que estava se mostrando
cuidadoso.
— Sim.
— Tem um cobertor, senhor —
comentou o comissário de bordo. —
Talvez a moça queira.
— Pode pegá-lo, James —
ordenou, sem se dar ao trabalho de
perguntar se eu realmente queria.
Tentei não me preocupar com o
meu destino nos próximos minutos. Era
melhor me concentrar no que estava sob
meu controle e aplacar a dor da fome na
minha barriga. Peguei os talheres e
cortei um pedaço da massa em formato
de pastel e o coloquei na boca. Tinha um
recheio de carne e ervas. Estava
delicioso. Havia até me esquecido o
quanto uma boa comida poderia ser
prazerosa. Tomei um gole do
refrigerante e continuei comendo,
rapidamente, com medo de que o prato
fosse arrancado de mim antes que eu
conseguisse terminar.
— Calma, assim vai acabar
engasgando. — O homem colocou a mão
sobre o meu ombro e senti um calafrio
que me varreu inteira, deixando-me
arrepiada. O toque dele, estranhamente,
não me provocou repulsa. — A comida
não esfriará tão rápido, pode ser
degustada. — Afastou a mão.
Ignorei a sua fala e continuei até
que o prato estivesse completamente
limpo.
— Quer mais, menina? —
perguntou o comissário de bordo, mas
antes que eu pudesse responder, o chefe
dele se impôs.
— Não. Se continuar comendo
desse jeito, vai acabar vomitando. Deixa
dar o intervalo de, pelo menos, uma
hora.
O comissário apenas olhou para
mim, deu de ombros e voltou para a sua
poltrona, como se não ousasse desafiar
o seu patrão. Quando a comida começou
a assentar no meu estômago, a dor que
eu sentia nele passou e percebi que
estava saciada. Talvez o homem tivesse
razão e comer outra porção daquela
realmente fosse um exagero. Porém, que
culpa eu tinha se não via uma comida tão
saborosa desde o falecimento da minha
mãe?
Flashes do pesadelo que eu tinha
vivido nas mãos do traficante voltaram
para a minha mente e me encolhi,
tremendo. Queria fingir que nada
daquilo tinha acontecido, mas não havia
segurança para desfrutar dessa ilusão.
Lembrei da outra mulher que estava
comigo e olhei em volta, não havia
nenhum sinal dela.
— A Valkyria... on-onde... cadê?
— Quem? — Franziu o cenho,
tentando entender o que eu falava em
meio ao desespero.
— A... ela...
— Quer dizer a outra mulher que
estava sendo leiloada junto com você?
Fiz que sim em um sutil
movimento de cabeça.
— Foi comprada por outro
homem. — Ele manteve o tom neutro,
beirando a frieza, me provocando outra
vez um calafrio.
Morri de medo do que poderia ter
acontecido com ela. Quem seria esse
outro cara? A qual destino ele
sentenciaria a pobre mulher jogada
nesse pesadelo como eu? Por mais que
quisesse me preocupar com ela,
precisava me atentar aos meus próprios
problemas.
— Descanse um pouco. — Pegou
o cobertor e o colocou sobre mim. — A
viagem ainda vai durar algumas horas.
Tive medo de fechar os olhos,
acabar dormindo e acordar com todos
aqueles homens da aeronave em cima de
mim, contudo, estava tão cansada que,
ao ficar parada, meus olhos pesaram e
acabei pegando no sono. Não sabendo
que seria o cochilo mais tranquilo que
tirava há muito tempo.

O impacto das rodas do avião


batendo no solo me chacoalhou e fez
com que eu abrisse meus olhos. Percebi
que estava presa ao sofá pela cintura e
por isso não havia caído. Não sabia
quem havia me amarrado enquanto eu
dormia.
Olhei de volta para a janela.
Estava claro, o dia havia chegado e eu
nem notara. Balancei a cabeça,
lembrando que havia outras pessoas
comigo no avião e os encontrei atados
às poltronas pelos cintos. Apenas
pararam quando a aeronave cessou seus
movimentos.
— Consegue se levantar? —
Pisquei e o meu comprador estava
parado perto de mim.
Assenti com a cabeça ao soltar o
cinto e me enrolei no cobertor e no
blazer. Poderia ser dia, mas tive a
sensação de que estava fazendo frio ao
observar as montanhas com os picos
nevados. Não poderia estar tão certa,
pois quando coloquei os pés na escada
do avião para descer, uma brisa gelada
tocou o meu rosto, fazendo-me encolher.
Não sabia em qual estação do ano
estávamos, mas alguma fria, ou poderia
ser apenas aquele local.
— Vamos, moça! — Ouvi uma
voz irritada atrás de mim e virei,
notando um homem loiro e baixo.
Deveria ter algo perto dos quarenta ou
cinquenta anos.
Terminei de descer a escada,
reparando que estávamos em uma
pequena pista de pouso e, ao fundo,
havia um hangar. Deveria ser uma
garagem para guardar o avião?
Definitivamente entendia bulhufas
dessas coisas. Contudo, aquele não
parecia um aeroporto comercial como
os que já tinha visto ao longo da vida,
cheio de cargas, pessoas e aeronaves. O
único ali era aquele pequeno jato
particular, com uma lotação máxima
para talvez umas dez pessoas. Quando
meu padrasto me disse que eu seria
vendida para algum gringo milionário,
quem poderia prever que o cara teria o
próprio avião e pista de pouso?
Continuei andando até sairmos da
pista de pouso e nos aproximarmos de
um carro preto. A porta de trás foi
aberta e fizeram um sinal para que eu me
sentasse. Busquei os olhos azuis do meu
comprador, porém, ele não me encarou
de volta, apenas entrou no banco de trás
e me deu a mão para que eu o
acompanhasse. Assim que aceitei,
puxou-me para dentro e o cara loiro
dirigiu, nos levando para longe dali.
Olhei para fora, através do vidro
escurecido pelo insulfilm, observando
uma pradaria ressecada, em contraste
com montanhas altas que surgiam no
horizonte. Passamos em uma pequena
ponte sobre um riacho, até nos
aproximarmos da única construção que
poderia ser vista em quilômetros.
Era um castelo?! No início, achei
que estivesse sonhando, mas depois foi
impossível negar, havia um castelo se
aproximando cada vez mais no
horizonte.
Seguimos por uma estrada
cercada por muros de pedras num tom
bege, ora cinzentas ou avermelhadas. A
estrada nos levou através de um portão
para uma entrada com uma enorme porta
preta. O carro parou e nós saímos de
dentro dele. Fiquei alguns segundos
admirando a arquitetura esplendorosa
daquele lugar. Era como se eu tivesse
sido transportada para um filme
medieval. Quem em pleno século vinte
e um morava em um castelo? Pelo
visto, o homem que havia me comprado
morava.
Segui em inércia com eles pelo
hall de entrada. Enquanto o exterior
parecia velho e retrógrado, o interior
esbanjava luxo e requinte. Um enorme
lustre de cristal pendia do teto e pinturas
decoravam as paredes cobertas por
tapeçarias.
— Wallace, leve a moça para um
dos quartos de hóspedes e veja se ela
precisa de alguma coisa — meu
comprador disse para o cara loiro, e
sumiu de vista para algum canto do
castelo sem nem ter o trabalho de
perguntar o meu nome.
— Venha comigo, senhorita... —
Wallace parou no meio da frase.
— Camila, Camila Ferreira.
— Portuguesa?
— Não, brasileira.
— Ah! Siga-me. — Fez um gesto.
Fomos até uma escada e subimos
para o andar superior do castelo. Eu
observava cada detalhe do corredor
amplo e das galerias por qual
passávamos, experimentando um pouco
de sonho em meio ao pesadelo que
vivia.
Wallace parou diante de uma
porta e a abriu, revelando um quarto que
me deixou de boca aberta. Ele era claro,
não apenas pelas grandes janelas que
inundavam o cômodo com a luz do sol,
mas pelo papel de parede num tom
creme com florais. O teto era branco
com alguns relevos em dourado que
construíam um desenho geométrico. A
cama era espaçosa e possuía uma bela
colcha preta com bordados em dourado,
e no centro do quarto estava um lustre de
cristal menor do que o que vi no hall. Se
aquele era um quarto de hóspedes, fiquei
imaginando como era o do dono daquele
lugar.
— Qual o nome dele? —
perguntei para o Wallace, antes que ele
fosse embora e me deixasse sozinha.
— Do senhor?
Fiz que sim. Ele não havia me
falado, e nem tinha ouvido alguém
chamá-lo pelo nome.
— Logan, Logan Mackenzie, mas
ele não gosta de ser chamado pelo nome.
Então, sempre o trate como senhor.
— Okay! — Engoli em seco,
pensando em como um homem que era
capaz de comprar uma mulher agiria.
— Tome um banho e descanse.
Vou providenciar roupas para você.
— Muito obrigada. — Sorri
diante da gentileza dele. Só de pensar
que não teria que ficar mais tempo com
aquela camisola, já ficava feliz.
Wallace me deu um
empurrãozinho para que eu entrasse no
quarto e eu contemplei o cômodo mais
uma vez, sem saber se aquele seria um
paraíso ou uma prisão de luxo.
Capítulo seis
Estalei os dedos após devolver o
telefone para o gancho. Mal pisei no
escritório e já me deparei com uma
ligação de um dos responsáveis pela
produção de uísque da minha destilaria.
Uma das caldeiras havia dado defeito e,
se não fosse consertada o mais rápido
possível, poderia impactar muito a
minha produção.
Confesso que fiquei feliz por me
afundar em problemas solucionáveis e
me esquecer do que havia feito em um
súbito rompante de impulsividade. Onde
estava com a cabeça para comprar uma
mulher em um leilão? Apoiei o
cotovelo na mesa enquanto massageava
as têmporas e bufei. Tinha ido para
pagar por todos os prazeres naquele
Clube Secreto, não esperava voltar com
uma virgem assustada que havia sido
leiloada para se tornar escrava sexual
de alguém.
Eu não era como aqueles ricos
filantropos que ficavam envolvidos em
causas sociais, não fazia boas ações e
não me preocupava com isso. Contudo,
compactuar com tráfico humano ia muito
além dos meus limites.
Havia feito uma boa ação que me
custara uma pequena fortuna, mas iria
poder deitar a cabeça no travesseiro e
dormir tranquilo. Salvar uma era como
uma gota no oceano, não é mesmo?
Esperava que o Bryan fosse outra gota,
pois havia o visto arrematar a outra
mulher e, pela sua expressão, ele estava
tão indignado quanto eu. Ao menos duas
não seriam transformadas em escravas
sexuais.
— Senhor?
Levantei a cabeça e tirei o
cotovelo da mesa quando o Wallace
entrou no meu escritório. Ele ainda
estava com a mesma expressão de
espanto que havia tomado o seu rosto
quando apareci na porta do jato
segurando uma mulher desacordada e
seminua nos braços. Não falei nada para
ele, disse que explicaria depois. Previ
que estava ali para ter a sua resposta.
— Fecha a porta! — Fiz um sinal
e ele passou por ela, fechando-a atrás de
si. — Senta! — Apontei para a cadeira
de estofado vermelho que ficava diante
da minha mesa de madeira escura, assim
como a textura que cobria as paredes do
meu velho escritório.
— E então, quem é aquela mulher
assustada que acabei de acomodar no
quarto?
Wallace não era apenas um
empregado dez anos mais velho do que
eu, que trabalhava como meu braço
direito, resolvendo problemas pessoais
e profissionais. Era o mais perto de um
melhor amigo que eu possuía. Durante o
tempo juntos naquele enorme castelo,
era meu confidente e maior aliado.
Passei a mão pelo meu cabelo
escuro, puxando o topete para trás,
respirando fundo antes de começar a
falar.
— Eu a comprei.
— Quê?! — Arregalou os olhos
verdes. Estava boquiaberto e seu rosto
poucas vezes fora tomado por tanta
surpresa, nem quando compartilhei com
ele os meus gostos por dominação,
pedindo que encontrasse prostitutas
dispostas a participar dos meus jogos.
Não julgava o seu choque, se estivesse
ouvido ele dizendo que havia,
literalmente, comprado uma mulher,
estaria com a mesma expressão. — Está
brincando? Ela é uma puta?
— Não, é uma virgem.
— Então tem um novo fetiche por
tirar virgindades? Vai trepar com ela e a
mandar de volta? Não seria mais fácil se
tivesse trepado com ela no avião? Só
não entendo porque ela parecia tão
assustada e chapada.
— Provavelmente drogaram ela,
drogaram muito.
— Não posso compactuar com
isso, senhor! Acreditava que você ao
menos levava em consideração o
consentimento das mulheres.
— Eu levo! — rosnei. Conhecia
bem o meu lado sombrio, mas fiquei
furioso quando Wallace, a pessoa mais
próxima a mim e a que melhor me
conhecia, cogitou que eu pudesse tomar
uma mulher a força.
— Então, o que vai fazer com
ela? — Massageou o queixo, apertando
a barba loira.
— Mandá-la de volta para casa
ou qualquer outro lugar de onde tenha
saído. Gosto de dominação, mas tudo
tem um limite.
— Por qual motivo a comprou?
— Balançou a cabeça, ainda estava
bastante confuso.
— Para que outro não comprasse
e fizesse dela uma escrava. Você
precisava ver o que fizeram a ela e outra
mulher. Expuseram-nas nuas como se
fossem objetos. Perdi a cabeça e ofereci
um lance irrevogável por ela.
Encarei o Wallace e contei tudo
para ele, desde a minha entrada no
Clube Secreto até o chocante leilão de
mulheres. Quando acabei, ele estava tão
chocado que mal conseguiu falar.
— Nossa! Não sei o que faria.
— Perdi a cabeça e dinheiro. —
Abri um sorriso amarelo ao pensar no
quanto havia pagado por ela.
— Uma puta bem cara, essa.
— Ela não me parece uma puta,
Wallace, certamente não estava
confortável em ser vendida daquela
forma.
— Vai ficar com ela?
— Não! É óbvio que não. —
Como ele ainda poderia cogitar em
uma coisa dessas?
— O que quer que eu faça?
— Vá até o vilarejo, compre
roupas para ela e consiga dez mil libras.
— O que vai fazer com esse
dinheiro?
— Entregue para ela. Imagino que
seja o suficiente para comprar uma
passagem de retorno para o lugar de
onde veio. Certamente não é escocesa,
já que se esforça para nos entender.
— Farei isso. — Ele assentiu e
me deixou sozinho no escritório.
Olhei para fora, observando o céu
nublado. Não tardaria a chover.
Enquanto observava o clima, pensei
seriamente sobre nunca mais aceitar
convites como aquele. As coisas haviam
saído do controle muito rápido, mas,
assim que a moça fosse embora, tudo
voltaria ao normal.
Capítulo sete
Saí do banheiro e encontrei
sacolas de uma loja de roupas sobre a
cama. Alguém havia as deixado ali sem
que eu notasse enquanto tomava banho.
Aproximei-me delas e vi algumas peças
de roupas, inclusive roupas íntimas,
nenhuma delas chamativa ou sensual.
Escolhi uma calça jeans e uma blusa
com mangas, cobrindo o meu corpo ao
máximo. Senti-me aconchegada por estar
naquelas roupas que não mostravam
nada além do que deveria. Era terrível
me recordar de que tantas pessoas
haviam me visto nua.
Assim que terminei de me vestir,
ouvi uma batida na porta e alguém
perguntou do outro lado se poderia
entrar antes de empurrá-la.
Era o Wallace e ele me olhou de
cima a baixo. Seu olhar me fez encolher,
mas logo notei que não havia cobiça
nele, nem algum indício que ele se
aproximaria para abusar de mim.
— Que bom que as roupas
serviram.
— Foi você?
Fez que sim.
— Obrigada!
— O senhor me pediu para
comprar roupas confortáveis, para que
não precisasse mais andar nua. — Ele
riu e eu me encolhi.
— O que ele vai fazer comigo
agora? Devo ficar aqui no quarto
esperando que ele venha transar
comigo?
— Ele não transa nos quartos —
balbuciou, e percebi que havia algo
sobre aquele homem que eu não sabia.
— Para onde devo ir, então? —
Tentei impedir que a minha respiração
acelerasse demais, mas estava tensa e
preocupada. Imaginava o quanto pudesse
ser assustador e doer quando aquele
homem satisfizesse os desejos dele
comigo.
— Para casa.
— Casa? — Cambaleei alguns
passos para trás até que minhas
panturrilhas batessem em uma poltrona.
— Sim, menina, para o lugar de
onde você veio. O senhor não pretende
tomar você como escrava sexual dele,
só a comprou para tirá-la daquele circo
de horrores. Mandou que desse um
dinheiro para você e a levasse para o
aeroporto de Edimburgo. Assim que
quiser ir, eu vou contatar o piloto.
— Ir embora? — balbuciei,
chocada.
— Sim. — Ele sorriu para mim
animosamente. Estava sendo realmente
gentil. Depois de tudo o que havia
passado, era até estranho me deparar
com esse tipo de atitude. — Não é uma
prisioneira aqui, garota. Imagino que
tenha passado por momentos bem
difíceis nas mãos daqueles bandidos,
mas agora está livre.
— Não preciso fazer nada nem
pagar nada para ele?
O homem loiro apenas balançou a
cabeça em negativa.
— Acredito que tenha se
deparado com o meu patrão em um bom
dia ou a sua situação realmente mexeu
com ele, pois não costuma tomar esse
tipo de atitude.
— Será que você poderia me
arrumar alguma coisa para comer? —
pedi sem pensar, a verdade era que
precisava ficar sozinha.
— Sim, claro.
— Obrigada!
Apenas moveu a cabeça em um
meio sorriso antes de deixar o quarto.
Caí sentada na poltrona. Estava
feliz, feliz como não me lembrava de
sentir, ao mesmo tempo imensamente
chocada. Havia vivido por alguns meses
com os piores dos seres humanos, que
até me esquecera de que algumas
pessoas poderiam simplesmente ser
boas. Mamãe sempre falava um velho
ditado: fazer o bem sem olhar a quem.
Só não imaginava que me veria do outro
lado da moeda, sendo ajudada por um
estranho rico.
Queria voltar para casa, queria
muito. Porém, fui tomada por pavor
quando me recordei de que, a casa que
tanto amava, o lar feliz onde cresci na
companhia dos meus pais, não existia
mais. Quando a minha mãe morreu, pelo
menos parte da casa deveria ter ficado
para o meu padrasto. O mesmo homem
que me mostrou a dor das mais diversas
formas. Ainda que ele não tivesse
direito a nada, como agiria se soubesse
que eu voltei? Poderia ser vendida de
volta, ou pior, morta.
Ao fitar o estranho sonho de estar
no meio do nada na Escócia, tive certeza
de que não queria voltar para aquele
pesadelo. Tinha apenas a minha avó no
Brasil, mas quase não tinha contato com
ela antes de tudo isso acontecer, naquela
altura, era bem provável que achasse
que eu estava morta. De fato, morri
várias vezes no cativeiro.
Não queria voltar para tudo
aquilo, tampouco me afastar das pessoas
que estavam sendo gentis comigo. Só de
pensar que eu não seria estuprada
ficando naquele quarto, me fazia desejar
ficar nele para sempre.
— Aqui está! — Wallace entrou
com uma bandeja e a colocou sobre uma
mesa redonda, não muito longe de onde
eu estava.
Observei a bela salada
acompanhada de camarões em um molho
e algumas fatias de um peixe grelhado.
O cheiro era ótimo.
— Obrigada! — Aproximei-me
do prato e ele me esticou os talheres.
Puxei uma cadeira e me sentei.
Deliciava-me com cada mordida,
sentindo o sabor das coisas na minha
boca, tão diferente da gororoba que me
serviam no cativeiro, que parecia pior
do que lavagem para porcos. Além
delas, havia os suplementos para que os
nossos músculos não mudassem, nem as
formas do nosso corpo. Duvidava muito
que a doutora que cuidou de mim
realmente estivesse preocupada com a
minha saúde. Queria que eu parecesse
minimamente saudável depois de tantos
abusos psicológicos que sofri lá.
— Mais um pouco?
— Não, Wallace, muito obrigada.
Será que eu poderia falar com o Logan,
quer dizer... o senhor? Queria agradecer.
— Ele está no escritório
trabalhando agora e não gosta de ser
interrompido.
— Não vou demorar.
— Não! — Foi enfático e firme,
fazendo-me encolher assustada. Ter
alguém gritando comigo despertava
lembranças horríveis que me fizeram
encolher.
Uma lágrima escorreu pelo meu
rosto e a postura de Wallace mudou. De
repreensivo para preocupado. De
repente, vi um pouco do meu pai nele,
por mais fisicamente diferentes que
fossem. Isso fez com que eu me sentisse
acolhida novamente.
— Desculpa, não queria gritar
com você.
Engoli minhas lágrimas, mas não
o respondi. Ainda estava muito abalada
com tudo e o grito realmente tirou-me
dos eixos. Haviam gritado tanto comigo,
me puxado e jogando-me de um lado
para o outro que não conseguia fazer
outra coisa a não ser me encolher.
— Apenas se arrume para ir
embora. Vou buscar o dinheiro.
— Espera!
— Sim? — Virou-se para mim e
me encarou severamente, esperando o
que eu tinha a dizer.
— Não posso ir. — Sabia que era
mais não querer do que não poder, de
fato. Se saísse de perto daqueles
homens, quem iria me proteger dos
bandidos?
— Por que não?
— Não tenho documento nenhum,
nem nada. Será que me deixarão pegar
um voo para o Brasil sem passaporte?
— Não. É bem provável que não.
— Pela forma como franziu o cenho,
tive certeza de que havia colocado-o
para pensar.
Mamãe sempre dizia que eu era
uma menina esperta, que conseguia usar
a situação ao meu favor e, talvez por
isso, houvesse conseguido sobreviver
aquele tempo nas mãos dos traficantes.
Por mais que o meu inglês fosse
razoável, nunca havia feito uma viagem
internacional antes, no entanto, para
viajar dentro do Brasil sempre precisei
do meu documento de identidade e o
equivalente internacional era o
passaporte, que eu não tinha.
Os traficantes haviam me
mandado para a Europa através de uma
companhia aérea que me colocou dentro
de um avião com outras mulheres, sem
nos contar ou mesmo registrar entre os
passageiros. Era um esquema gigantesco
e assustador, que incluía a polícia de
imigração.
— Vou ver o que posso fazer.
— Obrigada! — Sorri
brevemente. — Preciso ficar aqui dentro
do quarto ou posso olhar o castelo?
Parece tão bonito. Nunca estive em um
castelo antes, achava que era coisa de
filme.
Wallace me olhou e ficou
pensando por um tempo.
— Você disse que eu não sou uma
prisioneira aqui. — Usei suas palavras
contra ele.
— Não é, senhorita — Manteve a
pose, mas percebi que poderia ter
pisado em um calo.
— Pode andar pelo castelo, mas
não abra nenhuma porta que esteja
fechada, nem perturbe o senhor.
— Obrigada!
Abri um largo sorriso e ele saiu
do quarto, pensativo. Imaginei que fosse
tentar resolver o fato de eu não ter um
passaporte, isso me daria ao menos
alguns dias para pensar no que fazer.
Torcia para que eles fossem tão
bons quanto estavam se mostrando e
aquele castelo no meio do nada fosse um
recanto seguro.
Capítulo oito
Ouvi um som que me fez levantar,
pareceu um gritinho que me levou até a
janela e fez afastar o tecido verde-
escuro e fitar o pátio central do castelo.
Perto da fonte circular, ladeada por
pequenos arbustos bem cortados, estava
a mulher que imaginei que não voltaria a
ver. Contava com Wallace para resolver
tudo naquele mesmo dia.
Afastei-me da janela e soltei a
cortina quando vi Wallace entrar no meu
escritório.
— O que ela ainda está fazendo
aqui?
— Onde ela está? — Enrijeceu o
corpo, tenso diante da minha pergunta.
— No pátio, observando a fonte.
— Ah! — Um vislumbre de alívio
brilhou em seus olhos.
— Achei que tivesse sido claro
sobre dar um dinheiro para ela e a levar
para o aeroporto, para que pudesse
voltar ao lugar de onde veio.
— Bom, senhor, quanto a isso,
temos um problema. — Retomou a
postura rígida e eu arquei a sobrancelha,
sem dizer nada, apenas esperando que
continuasse. — Ela me recordou que não
tem documentos, nem passaporte, nem
nada. É provável que os homens que a
venderam tenham tomado isso dela.
— Então, não pode voltar para
casa? — perguntei o óbvio.
Wallace negou com a cabeça.
Massageei as têmporas,
respirando fundo. Onde foi que eu me
meti? Não havia apenas gasto uma
fortuna para tirá-la de lá, como tinha
trazido um grande problema para mim.
O pior era que não podia deixá-la em
Edimburgo entregue à própria sorte.
— Vê de onde ela é e procura o
consulado.
— Farei isso, mas sabe que essas
coisas podem demorar, não é?
— Deixa ela no quarto de
hóspedes por enquanto e banque a babá
para mantê-la longe de problemas.
— Talvez seja bom ter uma
mulher nessa casa.
— Não começa. — Cerrei os
olhos, exibindo uma expressão séria e
severa para ele.
— Vai precisar de mim ou posso
ir para Edimburgo ver o que consigo
fazer pela Camila?
Camila... Então era esse o nome
dela.
— Diga para a cozinheira servir o
jantar no mesmo horário e pode ir. Vá de
helicóptero, que é mais rápido.
— Sim.
Wallace deixou o meu escritório e
voltei para perto da janela. Camila
ainda estava lá embaixo e parecia se
divertir com a forma como as gotas de
água, espirradas pela fonte, refletiam a
luz fraca do sol.
Tentei voltar minha atenção para
o computador e os e-mails que estava
respondendo, porém, quando dei por
mim, havia descido as escadas e ido até
o pátio. Fiquei parado em um ângulo da
porta que me permitia vê-la melhor. O
seu semblante era completamente
diferente do da menina perdida e
assustada que vi naquele leilão.
Camila sentou-se na borda da
fonte e brincou com a água com as
pontas os dedos. Poderia não ser virgem
de fato, pois eu havia agido para que
nem eu, nem ninguém, visse, mas tinha
todo o semblante angelical e puro de
uma. Talvez fosse apenas uma doce
menina que precisava de proteção. Eu
não costumava proteger ninguém, mas
quis protegê-la. Era provável que nunca
conseguisse entender o motivo.
— Você está aí?! — Assustou-se
com a minha presença e cambaleou para
trás. Por sorte, a fonte era rasa o
suficiente para que ela pudesse apenas
apoiar a mão dentro dela, e não se
molhar inteira.
— Estou. — Cruzei os braços. —
Essa é a minha casa.
— É! — Deu um risinho sem
graça, coçando o alto da cabeça,
esquecendo-se de que estava com a mão
molhada. Acabou derramando algumas
gotas no cabelo, mas não o suficiente
para deixá-lo encharcado. — Tem uma
bela casa. — Levantou e saiu de perto
da fonte, percebendo que era o melhor a
ser feito ou acabaria toda molhada. —
Quem hoje em dia mora em um castelo?
— Eu.
— Sim, claro! Mas entendeu o
que eu quis dizer.
— Acredite, senhorita, não sou o
único que mora em um castelo.
— Que estupidez a minha. A
rainha da Inglaterra tem vários. Esse
também pertence a ela? Escócia é do
Reino Unido, não é?
— Esse castelo é meu.
— Desculpa. — Encolheu-se ao
perceber que não havia nada de
divertido na minha expressão.
Nunca fui o tipo de cara que ria e
brincava, contudo, depois de ela ter
acordado tão drogada e assustada no
meu avião, gostei de vê-la daquela
forma.
— Obrigada, pelo que fez por
mim.
— Não precisa agradecer.
Fiz o que fiz sem esperar aquela
expressão de gratidão no rosto dela.
Deparar-me com aquilo me deixou
estranho e incomodado.
— Preciso sim. — Deu alguns
passos cambaleantes na minha direção e
contive o impulso de recuar. — É a
primeira pessoa que é gentil e se
preocupa comigo desde que a minha mãe
morreu. — Ela começou a chorar, seus
olhos ficaram vermelhos e algumas
lágrimas escorreram por suas
bochechas, e eu simplesmente não sabia
o que fazer.
— Não sou um homem gentil,
senhorita.
— É sim.
— Não! — Mantive a minha pose
e cerrei os dentes, porém, ela não
recuou ou se mexeu. Seja lá o que havia
passado, foi o suficiente para que não se
impactasse com a minha cara fechada.
— Obrigada por cumprir a sua
promessa. — Sorriu, mas seus olhos
ainda estavam marejados.
— Que promessa? — Permaneci
a encarando, não me lembrava de ter
feito promessa nenhuma a ela,
principalmente porque mal havíamos
nos falado até aquele momento.
— Eu me lembro de você me
dizendo que tudo ia ficar bem, pouco
antes de eu desmaiar de vez.
Aquilo era verdade, mas dizer
aquilo foi mais uma das coisas que disse
puramente por impulso diante de toda a
indignação que aquele leilão causou em
mim.
— Logo você vai voltar para
casa.
— Obrigada! Nunca vou
conseguir ser grata o suficiente por tudo
o que está fazendo por mim.
— Fique longe desses caras e
estaremos quites. — Dei as costas e a
deixei sozinha no pátio outra vez.
Não queria ficar conversando
com aquela mulher, pois sentia que ela
mexia com algo dentro de mim que me
fazia perder o controle. A coisa que eu
mais odiava era não estar no controle de
tudo.
Capítulo nove
Estava encolhida, sentada em um
chão gelado, ao lado de várias outras
mulheres, presas pelas mãos e pelos
pés com aros de plástico. Nós nos
entreolhamos, todas estavam
assustadas como eu. Havíamos passado
por muita coisa, mas o pesadelo apenas
havia começado.
— Olhem só essa aqui! — Um
homem gritou, chamando a atenção dos
outros para mim.
— Não! — Balancei a cabeça,
mas não consegui mais negar quando
ele segurou meu queixo e prendeu o
meu rosto. Seus dedos estavam sujos
com algo que me pareceu graxa, o que
fez o meu estômago embrulhar.
— Tão bonitinha, tem uma
carinha de menina. Faz muito tempo
que não fodo uma boneca assim.
— Me solta! — Virei o rosto,
tentando me soltar, contudo, não
passava de apenas uma pedrinha
batendo em uma montanha. A luta já
era terrivelmente injusta se eu
estivesse solta, amarrada era ainda
pior.
— Tem uma bocetinha nova
também?
— Não coloca as mãos em mim!
— Chorava, gritava e tentava mordê-
lo, mas o maldito apenas se divertia
com isso. — Sai!

— Camila! — Ouvi a voz grave e


com sotaque forte me chamando. —
Camila! Acorda!
Abri os olhos e a luz fraca da lua,
que entrava pela janela, revelou o rosto
do Logan. Ele estava alarmado, sentado
na beirada da cama segurando-me pelos
ombros.
— O que está acontecendo? Você
não para de gritar. Ouvi a sua voz lá do
meu quarto. Acho que está ecoando pelo
castelo todo.
— Logan! — As lágrimas
pesaram mais quando a presença dele
me trouxe alívio e conforto.
— O que foi? — Percebi que
ainda me analisava com o olhar severo.
— Não deixa! Por favor, não
deixa! — suplicava, chorando, quando
me atirei nos braços dele e envolvi o
seu pescoço.
Ele arqueou as costas para trás,
surpreso com o meu abraço, como se
quisesse fugir dele. Não retribuiu o meu
abraço, envolvendo-me nos braços
firmes e fortes dele como eu desejava
que fizesse, mas também não me
empurrou para trás.
— Não deixar o quê? —
perguntou quando não parei de chorar,
molhando a fina camisa de malha que
ele estava usando.
— Que me estuprem de novo. É
tão horrível!
— Quê? — Passou a mão pelo
meu cabelo e puxou a minha cabeça para
trás, forçando-me a olhar nos seus olhos
outra vez. — Falaram que você era
virgem. Eles não... — Era tão terrível
que nem ele era capaz de completar
aquela frase.
— Enfiaram na minha bunda.
Primeiro, o meu padrasto, depois, os
traficantes, às vezes mais de um por vez.
Sempre doía muito e eu ficava dias
sangrando...
— Calma! — Ele finalmente me
envolveu com os braços e pude me
reconfortar no calor do seu peito. A
presença dele me acalmava. —
Enquanto estiver aqui, ninguém vai
machucar você.
— Obrigada! — Afundei a
cabeça no peito dele, soluçando ao
mesmo tempo que tentava parar de
chorar.
— Agora pode voltar a dormir.
— Afastou os braços e me empurrou de
volta para a cama, senti que ele não
queria que aquele abraço durasse.
— Logan! — chamei quando ele
se levantou da cama. Queria tanto que
ficasse ali, comigo.
— Volte a dormir, Camila! Você
está segura.
Antes que eu pudesse implorar
para que ele ficasse, para que me
esperasse dormir, Logan já havia ido
embora e me deixado sozinha outra vez,
porém, consegui dormir com o som da
sua voz ecoando na minha mente e me
dizendo que eu estava segura.
Sentia que realmente estava...
Capítulo dez
Acordei quando o sol mal havia
raiado e segui para a destilaria, que
ficava às margens de um lago, a dez
minutos do castelo. Parei o carro na
porta, mas não entrei no prédio, segui
até um banco de ferro e fiquei olhando a
água parada. Profunda e densa, era
impossível de se saber quantos metros
tinha ou o que havia embaixo.
Gostava de ser exatamente como
aquele lago, parado, sério e
impenetrável. Não gostava de contato,
mas não sabia por que havia me deixado
abraçar, permitindo a aproximação da
Camila. Provavelmente, devido ao calor
do momento.
Havia deitado há pouco após
conversar com o Wallace, que ainda não
tinha o contato certo da pessoa no
consulado brasileiro que pudesse ajudá-
lo com a situação da Camila. Não tinha
pegado no sono, geralmente demorava,
quando ouvi os gritos dela, ecoando
como se estivesse sendo torturada. De
fato, sonhar com o que havia passado
deveria ser alguma espécie de tortura.
Eles abusaram dela, fizeram anal
sem qualquer preparação, brutos o
suficiente para machucá-la ao ponto de
sangrar. Me enojava saber que havia
compactuado com aqueles homens ao
aceitar o convite para o clube maldito.
Me lembrei da garçonete com quem eu
havia transado, perguntando-me se havia
passado por situação parecida ou talvez
pior.
Já tinha me envolvido demais e
não era problema meu... Tentei repetir
quase como um mantra, mas não
conseguia.
Camila só precisava ir embora
logo para que eu pudesse voltar a ter
uma noite tranquila de sono.
— Senhor! — Um dos
funcionários da destilaria me viu do
lado de fora e acenou para mim.
Apenas acenei de volta, mas
continuei sentado no banco. Entraria
para falar do problema na caldeira
depois. Precisava de mais tempo a sós
comigo e com meus pensamentos.
Tinha me metido onde não
deveria e iria me arrepender muito
disso.

Voltei para o castelo quando já


era quase fim da tarde. O sol baixo
tingia o céu de laranja, tornando ainda
mais avermelhadas as folhas secas das
árvores na propriedade.
Estacionei meu carro na garagem
e segui diretamente para o meu
escritório, sem me dar ao trabalho de
perguntar onde ou como a Camila
estava.
Fechei a pesada porta escura e
puxei meu celular do bolso. Aquele
castelo era grande demais para que eu
me desse ao trabalho de procurar onde o
Wallace poderia estar.
— Alô, senhor? — Ele atendeu
no segundo toque.
— Onde você está?
— Na biblioteca, os empregados
me falaram que o jardineiro viu o senhor
sair bem cedo. Fiquei sem saber se já
tinha voltado.
— Cheguei há pouco. Vem aqui!
— Estou indo!
Desliguei o celular e o guardei de
volta no bolso. Estava incomodado por
me sentir quase um fugitivo dentro da
minha própria casa, mas sabia que
aquela situação era única e
exclusivamente culpa minha.
Wallace abriu a porta e
praticamente terminou de me empurrar
para dentro do escritório. Ajeitei a
postura e me virei para encará-lo.
— Está tudo bem, senhor?
— Por que não estaria? — Cruzei
os braços e fechei a expressão.
— O senhor parece tenso. Algum
problema na destilaria?
Fiz que sim e se Wallace
percebeu que eu estava mentindo,
preferiu não me questionar. Esse era um
dos pontos que mais gostava nele.
— Como foi a ida ao consulado?
— Bom... — Colocou as mãos
dentro dos bolsos e mordeu os lábios,
deveria estar pensando por onde
começaria. Isso me deixou tenso, pois
era sinal claro de que não havia boas
notícias. — Se ela não entrou com um
passaporte e nem possui um visto, para
turista, que seja, está no país ilegalmente
e isso constitui um crime.
— Não pedi para você ir lá para
descobrir se ela é ou não legal. Tudo
que precisa é conseguir um passaporte
para que ela volte para o Brasil.
— Conseguir um passaporte e
torná-la legal pode ser complicado, mas
podemos entregá-la para a imigração. A
moça será detida e deportada quando o
caso for processado.
— Deportada? — rosnei e ele se
encolheu.
— É a alternativa mais fácil para
você.
— Acione todos os advogados
que precisar, dê um jeito! Depois de
tudo o que ela passou, não vou entregá-
la para imigração para que seja tratada
como uma criminosa. Ela é só uma
vítima! — Alterei o meu tom e, quando
percebi que estava gritando, já era tarde
demais.
Por que, desde o primeiro
momento em que coloquei os olhos na
Camila, ela me deixava tão
descontrolado?
— Compreendo e compactuo com
a sua opinião, senhor. Não vamos
entregar a garota para a imigração. Iriei
encontrar o melhor advogado nessa área
para que ele consiga um passaporte
legal para ela.
— Ótimo!
— Avisarei a ela que, enquanto
isso, permanecerá aqui.
— Okay!
Que escolha eu tinha? Não podia
salvá-la dos traficantes para
simplesmente entregá-la para a
imigração. No melhor dos cenários, ela
passaria dias ou meses presa, até voltar
para casa; no pior, acabaria voltando
para as mãos dos traficantes e cada
centavo que gastei para tirá-la daquele
leilão tinha sido por nada.
Capítulo onze
Durante o dia, não vi o Wallace
nem o Logan, os dois pareciam ter
desaparecido em algum canto escuro do
castelo, pois eu procurei e não encontrei
nenhum deles. Talvez não tivesse
procurado o suficiente, o castelo era
grande demais, tinha dezenas de quartos
e outros cômodos, iria precisar de
alguns dias para ver tudo. Porém, no
fim, acabei desistindo de procurar por
eles e fui parar na cozinha.
Fiquei na porta, observando a
mulher que trabalhava lá, sem saber se
deveria ou não deixar que ela notasse a
minha presença. A cozinha era grande,
mas, ao contrário do que eu esperava
ver, não tinha uma fogueira ou fogão a
lenha, estava toda equipada com
eletrodomésticos modernos.
— Olá, senhorita, posso ajudá-la
em alguma coisa? — Ela virou-se pra
mim e sorriu. Secou as mãos no avental
e caminhou na minha direção.
— Será que você poderia me dar
um copo com água?
— Sim. Aguarde um instante. —
Foi até um armário, pegou um copo,
aproximou-o do dispenser, serviu um
copo e entregou-o para mim. — Aqui
está.
— Muito obrigada! — Tomei
alguns goles. Aquela água que me
serviram no castelo era bem melhor do
que a que eu tinha tomado no meu
cativeiro e começava a suspeitar se não
havia outras coisas misturadas a ela,
mas, ainda assim, não tinha o mesmo
gosto da água do Brasil.
— A senhorita é uma convidada
do senhor? — Ela me fitou dos pés à
cabeça, imaginei que estivesse intrigada
com a minha presença. Eu também
estaria, considerando que, após a minha
pequena incursão pelo castelo, não
havia encontrado nem um familiar dele,
esposa ou filhos.
— Acredito que, teoricamente,
sim, já que ele me trouxe para cá.
— São amigos?
— Não sei se seria a melhor
palavra, mas ele está cuidando de mim,
por enquanto.
Ela mordeu os lábios, parecia
parcialmente confusa, confesso que não
dei a melhor explicação de todas, mas a
cozinheira não fez nenhuma outra
pergunta.
— Nem me apresentei, sou Elga
Stewart, mas todos me chamam de
senhora Stewart. — Ela me estendeu a
mão roliça e quente.
— Camila, Camila Ferreira! —
Sorri, contente por conhecer outra
pessoa naquele lugar enorme.
— Nome diferente, de onde você
veio?
— Do Brasil.
— Dizem que é um belo país.
— É sim! — Sorri ao me
recordar das lembranças boas que tinha
da minha terra natal, como a primeira
viagem de férias que fiz com os meus
pais para o nordeste. — A senhora
deveria conhecer um dia.
— Quem sabe eu consiga, mas
meu marido não é um homem que gosta
muito de sair. Só para levá-lo para uma
consulta em Edimburgo é uma luta
danada.
— Ele é um senhor de idade?
Elga fez que sim.
— Pessoas mais velhas tendem a
ser cabeças-duras.
— Não apenas as mais velhas,
criança. — Poderia ser apenas
impressão minha, já que ela não havia
falado diretamente, mas fiquei com a
impressão que estivesse se referindo ao
Logan.
— Você aceita uns biscoitos?
Eles acabaram de sair do forno.
— Aceito sim! — Umedeci os
lábios ao sentir a minha boca salivar.
Parecia ter passado a vida inteira no
cativeiro e nem me recordava o gosto de
um bom biscoito.
Elga acomodou alguns em um
pratinho e me deu, acompanhado de um
copo de leite.
— Posso sentar ali? — Apontei
para um banquinho perto de um balcão
de pedra.
— Poder pode, mas não precisa
comer aqui na cozinha, pode ir até a sala
de jantar.
— Quero ficar aqui. Adoraria
passar mais um pouco de tempo na sua
companhia.
Elga sorriu sem graça e eu me
acomodei para comer os biscoitos. O
gosto deles estava tão delicioso quanto a
aparência, não esperava menos, uma vez
que tudo o que havia comido até o
momento era muito gostoso. Supunha
que tudo fora feito pelas mãos de fada
da Elga.
— Senhorita Ferreira? —
Wallace apareceu na porta da cozinha e
estava bastante ofegante.
— O que foi?
— Não estava a encontrando.
— Estava aqui na cozinha.
— Espero que não esteja
perturbando a senhora Stewart.
Busquei os olhos da cozinheira,
que sorriu para mim antes de buscar os
olhos do outro empregado.
— É sempre bom ter uma
companhia tão agradável.
— Senhorita, pode me
acompanhar?
Encarei a Elga, que fez que sim
com a cabeça antes que eu me levantasse
e seguisse o Wallace para o corredor. O
homem colocou as mãos nos bolsos do
terno antes de levantar a cabeça e olhar
para mim.
— Aconteceu alguma coisa? —
Fiquei receosa, pois ele parecia bastante
tenso.
— Fui ao consulado brasileiro e
percebi que a sua situação é bem mais
complicada, pois não é apenas um caso
de perder o passaporte, você entrou na
Europa ilegalmente. Então pode levar
algum tempo para que possamos
providenciar a documentação para você.
Contatei um advogado que cuidará desse
processo.
— E quanto tempo acha que pode
demorar?
— Alguns dias ou até mesmo um
mês.
— Compreendo. — Abaixei os
olhos e fiquei de cabeça baixa, fitando o
chão sob meus pés. — E o que
acontecerá comigo até lá?
— Permanecerá aqui, sob os
cuidados do senhor Mackenzie.
— Eu agradeço. — Mantive a
expressão neutra, mas, no meu íntimo, eu
estava vibrando. Sabia que, enquanto
estivesse ali, teria alguém para me
proteger daqueles monstros, mas se
voltasse ao Brasil, não teria com quem
contar.
— Se precisar de alguma coisa,
pode me procurar.
— Muito obrigada! Iria adorar se
pudesse providenciar para mim alguns
produtos de higiene básica.
— Faça uma lista que comprarei.
— Obrigada! Vocês estão sendo
muito gentis comigo.
— O senhor quer que fique em
segurança.
— Não só ele, mas você também,
Wallace. Sempre serei muito grata.
— Apenas não se envolva em
uma confusão como essa outra vez.
— Nem pensar.
— Pode terminar de comer o seu
lanche, mas não atrapalhe a Elga, tudo
bem? Ela precisa terminar o jantar do
senhor.
Assenti com um movimento de
cabeça e voltei para a cozinha, enquanto
o Wallace desaparecia pelo corredor.
Depois de ter jantado na cozinha
na companhia da senhora Stewart que,
em apenas poucas horas, havia se
tornado uma grande amiga, voltei para o
meu quarto e me arrumei para dormir.
Wallace já havia providenciado as
coisas que eu tinha pedido e me
perguntei como fez tão rápido, já que,
pela janela, eu não enxergava nenhum
supermercado.
Como senti saudades de ter o meu
próprio desodorante e escova de
cabelos. Durante o cativeiro, ficava
trancada com outras mulheres, mal
tínhamos tempo de tomar banho e
quando tomávamos, precisávamos ser
rápidas. Só fui arrumada para o leilão,
que acabou me colocando no caminho
do Logan Mackenzie.
Enquanto mergulhava o corpo na
espaçosa banheira que ficava na suíte do
quarto, não consegui evitar o
questionamento sobre como um homem
assim havia ido parar em um lugar como
aquele, onde mulheres eram negociadas
como se fossem objetos. Só iria saber
seu real motivo, se perguntasse para ele.
Capítulo doze
Sentei na poltrona do meu quarto
e abri um livro sobre fermentação.
Queria me distrair com alguma coisa e o
trabalho costumava ser a melhor
ferramenta, porém, não naquele dia.
Estava perdido entre o arrependimento e
a certeza de que havia feito a coisa
certa. Costumava ser indiferente a tudo,
honestamente, não sei porque não fui
daquela vez, quem sabe foi a certeza de
que não havia qualquer consentimento
da Camila com a situação que lhe fora
imposta. Era a favor de que as pessoas
levassem suas vidas como bem
entendessem.
Torcia para que todo aquele
incômodo fosse embora junto com a
Camila, mas, dada a atual situação, teria
que lidar com isso por mais tempo do
que o planejado. Certamente não havia
medido qualquer consequência ao me
levantar e oferecer um milhão por ela.
Não foi apenas o dinheiro...
Havia trazido para dentro da
minha casa uma completa estranha com
nítidos traumas.
Fechei o livro, desistindo da
leitura e levantei com a boca seca. Não
costumava tomar água à noite, mas saí
do quarto a caminho da cozinha. Minha
suíte ficava no fim de um longo
corredor, e para chegar à escada, tinha
que passar pelo quarto do Wallace e
onde Camila estava dormindo.
Aproximei-me da porta. Estava
silencioso lá dentro. Será que ela havia
conseguido dormir sem pesadelos ou
não estava dormindo? Afastei meus
pensamentos, isso não era problema
meu. Já havia feito muito mais do que
deveria por ela e precisava deixar que
lidasse com os próprios traumas.
Desci dois níveis de escada e
atravessei o primeiro andar do castelo,
imerso na penumbra da noite, até chegar
perto da cozinha. Estranhei que a luz
estivesse acesa. Elga não era o tipo de
empregada distraída que deixaria algo
assim acontecer. Trabalhando há quase
trinta anos para a minha família, desde
que eu era um menino, ela nunca havia
cometido uma falha. Então, quem
estaria na cozinha?
A primeira coisa que senti antes
de chegar na porta foi um cheiro de
bolo, bolo de chocolate, para ser mais
específico. Será que a cozinheira
estava trabalhando até mais tarde? Era
quase uma hora da manhã, não havia
qualquer justificativa para ela fazer um
bolo naquele horário, nem era
aniversário de alguém.
Embora estivesse esperando
encontrar a Elga, surpreendi-me ao pisar
na cozinha e me deparar com a Camila
tirando um bolo do forno elétrico. Franzi
o cenho, estranhando a situação mais
ainda.
— O que está fazendo aqui? —
questionei em um tom firme que cortou o
silêncio como uma lâmina afiada, e fez
com que ela pulasse de susto.
Se Camila não tivesse apoiado a
travessa quente na bancada de pedra,
provavelmente teria deixado cair e
poderia ter se machucado.
— Logan?! — Arregalou os olhos
castanhos e soltou a travessa, tirando as
luvas que usou para tocar o metal
quente.
— O que está fazendo aqui? —
repeti a pergunta, aguardando
impaciente por uma resposta dela.
— E... eu... eu... — gaguejou, sem
conseguir formar uma frase inteira.
Tinha certeza de que isso não era por
dificuldade com a minha língua.
— Você...? — Cruzei os braços e
apoiei-me no batente da porta, olhando-
a de cima para baixo.
Minha postura intimidadora
pareceu deixá-la ainda mais tensa,
porém, Camila apontou para o bolo e
tentou abrir um sorriso.
— Gosta de chocolate?
— Não fuja da minha pergunta.
Ela engoliu em seco.
— Eu... é que... Bom, estava com
saudade de comer um bolo de chocolate.
Perguntei por alto para a Elga se tinha
os ingredientes, ela me falou que sim,
mas, por favor, não brigue com ela.
Provavelmente imaginou que a pergunta
era para que ela fizesse o bolo para
mim.
— Então, por que não pediu a
ela? Elga é a cozinheira aqui.
— Sei disso, mas estava com
saudades de fazer algo bom e prazeroso.
Eu amo bolo de chocolate, mas não comi
mais desde que a minha mãe morreu. Sei
que, se eu dormir, vou voltar a ter
pesadelos, preferi empenhar o meu
tempo e meus esforços em algo melhor e
menos aterrorizante.
— Entendi. — Não mudei a
minha postura. Queria brigar com ela,
dizer que não poderia simplesmente
invadir a cozinha e fazer o que bem
entendesse, porém, lembrei-me da forma
como o pesadelo havia a deixado
aterrorizada na noite anterior e desisti
de repreendê-la. Que mal tinha querer
fazer um bolo?
— Gosta de bolo de chocolate?
— Prefiro os que têm calda.
— Você é sempre assim? —
questionou-me, mas percebi que o seu
sorriso havia aumentado.
— Assim como?
— Implicante com tudo.
— Não implico com tudo.
— Implica sim.
Dei de ombros, ignorando-a. Não
iria ficar discutindo como se fossemos
duas crianças. Terminei de entrar na
cozinha e puxei uma banqueta de
madeira, sentando-me nela.
— Vou fazer a calda de chocolate,
também prefiro com.
— Okay! — Mantive os braços
cruzados e o olhar firme nela.
Ela pegou uma panela em um dos
armários e percebi que os ingredientes
já estavam separados sobre o balcão.
Será que Elga havia deixado para ela
ou a própria Camila havia ido buscar
na dispensa?
— Não é solitário morar sozinho
nesse castelo?
— Tenho vários empregados.
— E a sua família? Não é
casado?
— Acha que eu estaria num lugar
como aquele onde nos encontramos se
eu fosse um homem casado? — Mantive
o tom frio, mas, dessa vez, Camila não
se encolheu diante da minha resposta
ríspida.
— Faz sentido. — Esboçou um
sorriso. — Sabia que vendiam
mulheres?
— Claro que não! Achei que eram
apenas putas e um sexo diferente.
— Não sou uma puta.
— Não estou me referindo a
você.
— Obrigada mais uma vez por ter
me tirado deles.
Apenas dei de ombros, sem uma
resposta objetiva. Não havia feito aquilo
pela gratidão dela nem de ninguém,
apenas por seguir um impulso idiota da
minha consciência.
— Quantos anos você tem? —
Era difícil não olhar para ela e pensar
que era uma menina, por isso tantos
idiotas naquele clube haviam ficado
alvoroçados quando colocaram os olhos
nela.
— Dezenove — respondeu sem
ressalvas enquanto rebolava ao mexer
levemente o conteúdo da panela. — E
você?
— Eu?
— Sim! Perguntou a minha idade,
eu quero saber qual é a sua.
— Vinte e nove.
— Dez anos mais velho que eu.
Quando faz aniversário?
— Se concentra no seu bolo,
menina. — Mostrei os dentes para que
ela percebesse que não estava disposto
a trocar informações íntimas.
— Está quase pronto. — Desligou
o fogão, reservou a panela e pegou um
garfo, fazendo alguns furos na massa
fofa do bolo antes de despejar a calda.
— Eu faço aniversário em janeiro. Dia
doze de janeiro.
Não respondi, indiferente a
informação que ela havia me fornecido.
Não havia a comprado para ganhar a
amizade de uma fedelha.
Camila cortou um pedaço do bolo
e serviu para mim em um pequeno prato.
Era simples, sem muitos confeitos,
apenas massa e uma fina camada de
calda, mas estava saboroso o suficiente
para que eu comesse todo o pedaço e
tivesse vontade de repetir.
— Quer mais? — Parou na minha
frente, estendendo as mãos.
Elevei o prato para ela e nossos
dedos se tocaram. Ignorei a
aproximação até perceber que as
bochechas dela estavam coradas. Soltei
o prato, por pouco ele não escorregou
por entre os dedos dela e caiu. Levantei
do banco e fui até a geladeira,
lembrando-me do motivo pelo qual
havia descido até a cozinha. Enchi um
copo com água e tomei tudo de uma vez,
depois coloquei o copo na pia.
— Não deixa a cozinha
bagunçada. — Dei as costas e voltei
para o meu quarto sem dar brecha para
que ela pudesse conversar comigo, já
havia falado demais sobre mim para
uma desconhecida.
Só precisava dormir um pouco, e
assim que Wallace desse um jeito,
Camila iria embora e minha vida
voltaria a ter o sossego de antes.
Capítulo treze
Não sabia o motivo de ele ser tão
misterioso e porquê sempre me afastava
toda vez que tentava me aproximar.
Aquele homem tinha praticamente
salvado a minha vida, não poderíamos
ser minimamente amigos? Teria uma
gratidão eterna a ele. Não precisava
fechar a cara toda vez que eu me
aproximava, precisava?
Não consegui dormir, para ser
honesta, nem tentei. Ficava apavorada
só de pensar que meus sonhos me
levariam de volta aos momentos mais
terríveis e angustiantes da minha vida.
Sentia-me feliz pela primeira vez em
meses. Até bolo eu comi.
Saí da cama naquela manhã com o
sol invadindo o quarto do meu pequeno
conto de fadas. Como minha mãe sempre
dizia: depois da tempestade, sempre
vem a calmaria. Apenas almejava que
aquele momento de calmaria durasse
para sempre, eu já havia sofrido demais.
Saí da cama e peguei um dos
conjuntos de roupa que o Wallace havia
comprado para mim. Como não eram
muitas, logo iria precisar lavá-las.
Poderia perguntar a Elga onde
encontrava um tanque ou uma máquina
de lavar roupas, a segunda opção
parecia improvável para um castelo,
mas considerando a forma como a
cozinha era equipada, não era assim tão
impossível.
Fui até a cozinha e Elga estava me
esperando com um ótimo café da manhã,
com direito a ovos, bacon e panquecas.
— Bom dia, querida!
— Bom dia! — Dei a ela um
sorriso tão largo quanto o seu ao me
sentar diante do prato que ofereceu para
mim.
— Dormiu bem, criança?
Fiz que sim, era mentira, mas não
queria falar para ela sobre o que eu
tinha passado. Gostava muito da forma
como sorria com os olhos toda vez que
me via, não queria que essa expressão
fosse substituída por um olhar de pena.
— E você?
— Tive uma ótima noite. Vi que
alguém andou mexendo na minha cozinha
enquanto eu estava fora. — Colocou as
mãos na cintura e estufou o peito,
arrancando de mim uma gargalhada.
— Quis fazer o bolo de
chocolate. — Coloquei uma fatia de
bacon na boca para que não fosse
obrigada a falar pelos próximos cinco
minutos.
— Parece que conseguiu, pois
provei um pedaço e está delicioso.
— Sempre gostei de fazer bolos,
quando era mais nova e não podia mexer
com o forno, minha mãe colocava o bolo
por mim e ficava vigiando-o. —
Suspirei ao me recordar dela com
saudosismo, era uma época em que as
coisas eram tão diferentes.
— Bom saber que tem esse
talento todo, posso recorrer a você
quando o senhor quiser algo de
confeitaria, pois confesso que o meu
forte são os pratos salgados. Sei fazer
um ensopado de peixe divino.
— Iria adorar provar qualquer
dia desses.
— Pode deixar que farei ainda
essa semana.
— Obrigada!
Terminei meu café da manhã e
comi mais uma fatia do bolo que havia
preparado na noite anterior. Ofereci a
minha ajuda para Elga, que iria começar
a preparar o almoço, mas ela se recusou,
incentivando-me a ir fazer outras coisas.
Afinal, eu era uma hóspede ali e não
uma empregada.
Estava encucada que, nem ela ou
nenhum outro empregado com quem
cruzei pelos corredores daquele castelo
ou no jardim, havia me perguntado o
motivo de eu estar ali. Como não vi
nenhuma pena ou espanto nos olhos
deles, imaginei que não soubessem que
eu havia sido leiloada. Ou Wallace e
Logan haviam contado alguma outra
história ou simplesmente eram bem
menos curiosas do que as pessoas no
Brasil.
Decidi andar pelo castelo outra
vez. Tinha conhecido a biblioteca
espetacular com inúmeros títulos no dia
anterior e ansiava por saber o que mais
poderia encontrar ali.
Segui por um corredor mais
afastado, perto do pátio e percebi que no
fim dele havia uma escada. Desci e me
deparei com uma porta escura de ferro
em estilo medieval, lembrei-me de que
Wallace havia me falado para ficar
longe das portas fechadas, mas aquela
em particular me chamou muita atenção.
O que haveria ali no subsolo que era
tão afastado do restante do castelo?
Empurrei a porta, ela parecia
emperrada, mas não fechada. Fiz um
pouco mais de força e a porta abriu. Se
haviam esquecido aberta, não era
problema meu. Dei um passo para
dentro e tateei a parede a procura de um
interruptor. Custei a encontrá-lo em
meio aos tijolos frios. A luz acendeu e
eu cambaleei para trás...
Não era uma luz comum, como
aqueles lustres que iluminavam tanto ou
as lâmpadas florescentes que usávamos
em casa. Ela acendeu uma faixa
vermelha no teto e outra no chão,
traçando os limites da parede. No teto,
havia um lustre menor com lâmpadas
imitando velas. Contudo, não foi a
iluminação do lugar que me deixou de
boca aberta. No fundo, havia uma grade
que fazia o ambiente parecer uma cela.
Era uma masmorra, poderia ter sido
construída junto com o restante do
castelo, mas havia sido bizarramente
remodelada.
Em um canto, uma cama com
colcha vermelha, possuía travas altas
como as das camas com dossel, mas
havia apenas a estrutura, sem qualquer
tecido bonito enfeitando. Havia um
cavalete, uma cadeira estranha e um
banco como aqueles de rezar nas
igrejas, com lugar para apoiar os braços
e os joelhos. Em uma das paredes, havia
um X vermelho e em cada extremidade
da letra, uma algema para prender
braços e pernas. Além disso, visualizei
um baú e uma cômoda, imaginando que
pudesse haver ainda mais coisas
guardadas. Havia visto e passado por
muitas coisas nas mãos dos traficantes,
mas não estava pronta para me deparar
com aquilo.
— O que faz aqui, Camila? — A
voz rouca e grave do Logan ecoou atrás
de mim e saltei com um susto imenso
que fez meu coração disparar.
— O que é tudo isso? — Virei-me
para ele com a mão no peito e percebi
que ele estava logo atrás de mim.
— Não deveria ter vindo aqui. —
Segurou o meu pulso e me puxou para
fora, arrastando-me escada acima sem
se importar com quanta força a sua mão
estava fazendo no meu pulso.
— Me solta! — Bati nele com a
minha mão livre. — Você está me
machucando. — Assim que eu disse
isso, Logan soltou o meu pulso.
— Não pode andar pelo castelo e
entrar onde bem entende. Você não está
em casa. Estou fazendo um favor para
você por ainda mantê-la aqui. Não
morda a mão que a alimenta.
— O que você faz lá embaixo?
Por acaso tortura pessoas? — Busquei
seus olhos azuis, encarando-o com
firmeza. Já havia passado por coisas
demais para descobrir que o medo era o
meu pior aliado e que me tornava
impotente.
— Disse para você que não sou
um homem bom, nem gentil, Camila.
— Você é um sádico?
— Não, sou um dominador. Não
faço as mulheres sentirem dor.
— Agora tudo faz sentido... —
Dei passos cambaleantes para trás, até
conseguir correr.
Confusa e profundamente
assustada, corri o mais rápido que meu
fôlego me permitiu. Subi as escadas
correndo e por pouco não tropecei nos
meus próprios pés. Se caísse de cara
naqueles degraus de mármore, era bem
provável que perderia alguns dentes.
Tranquei a porta do quarto, o lugar em
que o Logan havia me feito sentir segura.
Como fui ingênua, havia confiado
cegamente nele apenas porque ele me
comprou e por não ter tentado me
estuprar como os outros.
Um príncipe encantado não
estaria em um lugar onde mulheres eram
vendidas.
Capítulo quatorze
— Droga! — Bufei em meio a um
rosnado e bati a porta do meu escritório
com tanta força que quase a arranquei
das dobradiças.
Subestimei a curiosidade
daquela menina. Por que ela não
poderia simplesmente ficar quieta no
quarto e não me dar trabalho? Não
tinha nenhum direito de sair
bisbilhotando onde não deveria.
— Senhor? — Wallace colocou a
cabeça para dentro e eu rosnei.
— O que você quer!?
— Aconteceu alguma coisa? —
Atreveu-se a perguntar, mesmo sabendo
que as consequências da minha ira
poderiam ser despejadas nele.
— Eu disse para ficar de olho
nela.
— Está se referindo a Camila?
— Quem mais seria!? — Andei
para o meio do escritório, afastando-me
da porta, e Wallace aproveitou o
momento para entrar.
— O que aconteceu?
— Encontrei ela na masmorra.
Meu braço direito arregalou os
olhos e ficou boquiaberto. Não precisei
falar mais nada para que compreendesse
claramente os motivos da minha ira.
— O que fez com ela?
— Nada, deixei que saísse
correndo.
— Irei conversar com ela para
que isso não se repita.
— Se eu a encontrar lá dentro
outra vez, vai sobrar para você.
— Compreendo, senhor. — Ele
engoliu em seco, mas manteve a postura.
Trabalhando para mim por todos esses
anos, Wallace sabia muito bem como eu
reagia quando espaços que eu
considerava sagrados eram invadidos.
— Isso não vai se repetir.
— Assim eu espero.
— A prostituta que pediu para
essa noite, quer que eu cancele?
— Não! Eu preciso foder alguém.
— Certo. — Assentiu com um
movimento de cabeça.
Assim que Wallace saiu do meu
escritório, não tive tempo de extravasar
a minha raiva, pois o meu celular
começou a tocar.
— O que quer!? — Bufei.
— Senhor... — Ouvi a voz do
gerente de produção da minha destilaria
e ele ficou nitidamente tenso diante do
tom que usei para atendê-lo.
— O que foi?
— Queria apenas informá-lo que
a caldeira já está em pleno
funcionamento e a produção voltou ao
normal. Estamos colocando uma nova
reserva em tonéis e envasando o uísque
de dez anos para que ele siga para a
exportação.
— Ótimo! Só isso?
— Sim.
— Então nos vemos amanhã cedo.
— Desliguei a chamada antes que ele
pudesse dizer qualquer outra coisa.
Estava muito irritado, mas não
sabia se era com a Camila ou comigo
mesmo, por tê-la colocado dentro da
minha casa sem medir os riscos que isso
poderia causar.
Capítulo quinze
Aquele quarto me deixou
assustada e levei horas para que a minha
respiração e a minha pulsação voltassem
ao normal. Entretanto, depois que o
espanto começou a se esvair, veio a
curiosidade. Se ele não torturava as
mulheres naquele quarto, o que fazia
com elas? O mais importante de tudo,
se tinha esses gostos, por que não me
tocou desde o primeiro dia que
cheguei? O que o motivava a fazer com
que o Wallace e advogados
conseguissem documentação para que
eu voltasse para casa?
Ouvi uma batida na porta e me
encolhi na cama, abraçando meus
joelhos.
— Camila? — Ouvi uma voz do
outro lado, mas não respondi. —
Camila? Sou eu, o Wallace.
Pensei umas dez vezes se deveria
ou não me levantar e abrir a porta para
ele. Por fim, acabei fazendo isso. Além
de Elga, ele era a pessoa mais gentil
comigo desde que eu havia chegado.
Será que estava apenas me
alimentando para me oferecer em
algum ritual maluco naquele
calabouço?
— Camila?
Abri a porta, mas dei vários
passos para me afastar o máximo
possível antes que ele entrasse no
quarto.
— O que foi? — Abracei a mim
mesma, numa tentativa inútil de me
proteger.
— Falei para você não sair
bisbilhotando por aí, garota! — Ele
mostrou os dentes para mim, deixando
claro o quanto estava irritado com a
minha atitude.
— Para que eu não visse aquele
lugar?
— Entre isso e outras coisas.
— O que ele faz lá dentro?
— Coisas consensuais com
mulheres adultas, que são muito bem
remuneradas por isso. — Manteve o
olhar pesado e carregado de julgamento
sobre mim. Se Wallace estava tão
nervoso, nem queria pensar no quanto
Logan estaria.
— Prostitutas? — A pergunta
ardeu a minha língua até que fosse
pronunciada.
— Sim, mas você não tem nada a
ver com isso, garota. Se não quiser
deixar o senhor bravo o suficiente ao
ponto de ele entregá-la para a polícia de
imigração, é melhor que fique bem longe
daquele lugar, ouviu bem?
Balancei a cabeça em afirmativa.
— Preciso que assine isso. — Ele
me entregou uma caneta e só então
percebi que estava segurando um
envelope de papel por todo esse tempo.
Nos aproximamos de uma mesa
redonda que ficava no canto do quarto,
onde eu geralmente fazia as minhas
refeições, e Wallace tirou um documento
de dentro do envelope.
— É uma procuração que o
advogado precisa para a emissão do seu
passaporte.
Li por alto, sem entender
exatamente cada parágrafo, mas, assim
mesmo, não era um papel que ia tornar a
minha vida ainda pior, ao menos era o
que eu imaginava.
— Obrigado. — Ele guardou o
documento, mas seu olhar severo e
repreensivo não se afastou de mim. —
Entendeu que não é para voltar lá?
Balancei a cabeça em afirmativa.
— Ótimo! O senhor já está sendo
muito bom com você, mais do que eu o
vi fazer por qualquer outra pessoa, então
não abuse.
— Okay! — Esfreguei as mãos na
calça jeans, sentindo que elas estavam
suando frio devido ao nervosismo que a
bronca do Wallace causou em mim.
Ele saiu do quarto e eu fiquei
sozinha novamente. Poderia até nunca
mais voltar naquela masmorra, porém, ia
ser difícil tirar a imagem dela da minha
mente.
Mais uma noite eu não consegui
dormir. Contudo, dessa vez, não sabia se
poderia culpar os horrores que vivi. A
verdade era que não conseguia tirar o
que tinha visto da cabeça. Havia um
medo tremendo, mas uma curiosidade
maior ainda. Era brincar com o perigo,
sabia bem disso.
Ouvi o som de passos no corredor
e me encolhi na cama, porém, esses
passos foram diminuindo até
desaparecer completamente. Quem
havia passado ali? O Logan ou o
Wallace?
Levantei da cama e fui até a porta.
Abri, mas não vi ninguém. Será que era
coisa da minha cabeça? Logan
provavelmente estaria dormindo e não
iria me ver se eu bisbilhotasse um
pouco mais, iria?
Segui no escuro pelo corredor e
desci as escadas, felizmente havia luz da
lua o suficiente para que eu não pisasse
nos meus próprios pés e não saísse
tropeçando nas coisas.
Desci as escadas, segui pelo
corredor até o pátio e depois pelo
corredor lateral que levava a escada
para o subsolo, a masmorra. Ouvi um
gemido antes de pisar no último degrau.
O barulho me congelou. O que estaria
acontecendo lá dentro?
Cogitei voltar para trás, era
melhor não ver e não ficar ainda mais
assustada, mas a minha curiosidade, ou
talvez a minha simples estupidez, falou
mais alto. Desci o restante da escada e
me aproximei da porta.
A luz estava acesa e reconheci as
costas que pertenciam ao Logan. Ele
estava com apenas uma calça de
moletom e sem camisa. Como sempre o
via de terno, foi a primeira vez que pude
observar o seu corpo. Ele se moveu para
o lado e depois se agachou, então
percebi que estava algemando uma
mulher ao X na parede. Ela era morena e
estava com o cabelo preso em um rabo
de cavalo. A expressão no rosto dela
não era de pavor, e sim de prazer e
expectativa. Logan apertou seus seios e
ela gemeu.
Ele se virou na direção da porta,
mas antes que ele me visse, saí
correndo, subindo a escada e voltando
para o meu quarto.
O coração voltou a acelerar.
Contudo, houve algo que eu senti além
do choque e da surpresa. Talvez uma
pontada de ciúme. Desde que ele havia
me abraçado em meio ao pesadelo e
nossas mãos se cruzaram, não conseguia
parar de pensar no quanto queria mais
dele. Sentia que a salvação que ele me
oferecia estava além de um teto para
dormir, roupas limpas e uma passagem
de volta para casa. Porém, para ter o
Logan, eu precisava me sujeitar aquilo.
Estaria disposta depois de todos os
momentos humilhantes e assombrosos
que eu havia passado? Não sabia dizer,
precisava pensar.
Capítulo dezesseis
Acordei cedo e vesti um terno
alinhado para ir à destilaria. Havia
coisas importantes a serem tratadas com
a equipe, inclusive a implantação de um
museu que contasse a história da minha
família e a abertura desse para a
visitação turística. Meu avô, que
administrava a destilaria antes de mim,
nunca foi muito favorável em abrir as
portas da destilaria para o público e
mostrar como o uísque era produzido
como se fosse um show. Porém, eu já
tinha um pensamento bem diferente, era
uma receita a mais e ajudaria a propagar
a nossa história.
Quanto mais tempo passasse fora
do castelo, melhor, pois poderia me
esquecer da presença da Camila. Ela
seria completamente insuportável, se
não fosse tão bonita.
Estava prestes a sair do quarto
quando o meu celular vibrou no bolso.
Revirei os olhos ao fitar o número no
identificador de chamadas e cogitei por
alguns momentos não atender,
simplesmente deixar cair na caixa-
postal. Já estava irritado demais para
lidar com mais um ponto de estresse.
— Alô! — Acabei atendendo.
— Querido, como você está?
— Bem.
— Liguei para dizer que vou para
casa no fim do mês, passar alguns dias
com você.
— Não está em casa agora?
— Sabe que o castelo também é a
minha casa.
— É, mãe? Não tenho tanta
certeza disso, você nunca gostou desse
lugar. Na verdade, ainda me pergunto se
gostou de alguma coisa na vida,
considerando a quantidade astronômica
de vezes em que você se divorciou.
— Eu gosto de você.
— Tenho minhas dúvidas. —
Revirei os olhos. Tudo o que não
precisava naquele mês era de Amélia
Bordeaux fingindo ser a mãe do ano. As
minhas suspeitas eram que ela estava
falida outra vez e precisava de mais
dinheiro.
— E o fotógrafo que você estava
namorando, vai abandoná-lo para vir
para a Escócia?
— Não estamos mais juntos.
— Era de se prever.
— Querido, achei que iria ficar
feliz em saber que estou indo aí.
— Talvez em outra dimensão.
Quanto está precisando? Me diga o
valor que faço uma transferência, para
que não precise vir para cá.
— Credo, Logan! Como se eu
ligasse para o meu único e amado filho
apenas para saber de dinheiro.
— Se há outro motivo, eu
desconheço.
— Apenas fique feliz por receber
a sua mãe.
— Não venha!
— Nos vemos em breve, docinho.
— Ela desligou antes que eu pudesse me
impor.
Caralho! Quando a derrocada da
minha vida havia começado e eu não
tinha percebido?
Eu não era solitário à toa e talvez
um dos principais motivos disso fosse a
minha mãe. Ela poderia negar até a
morte, mas todos sabíamos que a minha
gravidez foi o bom e velho golpe da
barriga. Ela conheceu o meu pai, um
escocês rico, em um evento beneficente,
talvez por isso eu odiasse tanto essas
coisas. Uma noite com ele e já estava
grávida, era de se prever que esse
casamento não daria certo. Eles se
separaram um ano depois que eu nasci,
meu pai morreu três anos depois em um
acidente de carro e eu acabei sendo
criado pelos meus avôs paternos e,
quando eles partiram, tudo o que
pertencia a família se tornou meu.
Precisava dar um jeito da minha
mãe não aparecer por ali,
principalmente por estar lidando com
um problema muito maior, que era a
Camila.
Saí do corredor e segui até a
porta do quarto do Wallace. Dei uma
batida firme, seguida de outra, sem
esperar que ele respondesse. Estava
prestes a bater pela terceira vez quando
ele abriu a porta.
— Bom dia, senhor! — Esfregava
os olhos em meio a um bocejo. — Que
horas são?
— Seis, talvez sete da manhã. —
Cerrei os dentes, ficando ainda mais
irritadiço, não estava ali para ser o
despertador dele. — Já deveria estar de
pé. — Deveria estar sendo exagerado,
mas não me importei.
— Sim, me desculpe. Para o que
precisa de mim? Algum outro problema
com a menina?
— Não. Não vejo a Camila desde
o incidente na masmorra. Vim para falar
sobre outra coisa.
— Qual outro assunto o deixaria
tão irritado?
— A minha mãe.
Wallace ficou pálido, assim como
eu, compartilhava do mesmo desprazer
em ter notícias dela. Se havia persona
non grata naquele castelo, essa era a
minha mãe.
— O que ela quer? — Seus olhos
já estavam até mais abertos. Tocar
naquele assunto acabou acordando-o de
vez.
— Disse que vai vir para cá.
Transfira umas cem mil libras para ela e
garanta que minha mãe nem pisará no
aeroporto de Edimburgo, não estou com
tempo nem paciência para lidar com ela.
— Pode deixar, senhor.
— Ótimo! — Dei as costas para
ele. — Vou para a destilaria, volto à
noite.
— Bom trabalho, senhor.
Deixei que a voz dele se perdesse
enquanto eu desaparecia pelo corredor.
Trabalhar era a melhor coisa que
poderia fazer por mim mesmo naquele
momento.
Capítulo dezessete
Nos próximos dias que se
seguiram desde que eu o vira com uma
prostituta na masmorra, mal vi o Logan,
mas o Wallace estava sempre de olho
em mim. Parecia uma babá, e eu, uma
criança de cinco anos que iria aprontar a
qualquer momento. Felizmente, ele não
se impôs contra eu ficar próxima a Elga.
Por mais que elas fossem fisicamente
diferentes, a cozinheira fazia com que eu
me lembrasse da minha mãe e me
deixava muito feliz. Gostava muito de
ouvi-la e estar perto dela. Durante
aqueles dias, aprendi várias receitas
escocesas.
Estava sentada no degrau da
cozinha com saída para o pátio interno,
enquanto Elga, de um banco, fazia uma
trança no meu cabelo. Riamos dos casos
do filho dela que ela contava, um homem
que agora estava servindo o exército da
rainha. Enquanto criança, ele era muito
espoleta, deixava-a doidinha.
— Camila? — Ouvi a voz do
Wallace e Elga soltou meu cabelo para
que eu pudesse me levantar. — Vai
trabalhar, mulher! — ele repreendeu a
cozinheira.
— Já acabei o almoço, logo
começo a preparar o jantar.
— Mas eu estou com fome.
— Seu prato está ali. — Apontou
para o balcão. — Não sabia onde
encontrá-lo para servi-lo.
— Okay! Mantenha aquecido, irei
comer em breve.
Elga assentiu.
— Venha comigo, por favor,
Camila. — Fez um gesto para ser
seguido.
Olhei para a Elga, que assentiu
com um movimento de cabeça, antes que
eu seguisse o homem de volta ao quarto
que eu estava cada vez mais apegada. Já
fazia quase um mês morando naquele
castelo e começava a sentir que ele, de
alguma forma, era o meu lar.
— Seus documentos. — Wallace
me entregou uma pasta. — Aí tem um
passaporte com um visto de turista e seu
documento de identificação brasileiro,
para que possa transitar pelo seu país
quando voltar.
— Obrigada. — Abri um sorriso
amarelo. Estava contente por ele ter me
devolvido quem eu era, mas, ao mesmo
tempo, me sentia estranha.
— Posso levá-la para o aeroporto
agora mesmo. Só junte as suas coisas.
— Agora? — Arregalei os olhos.
Ele fez que sim.
— Eu posso ir amanhã? Quero me
despedir da Elga... e do Logan. Ele não
está aqui. Além disso, preciso pensar
para onde ir.
— Não tem família? — Ele me
analisava com o olhar. Torcia para que
não notasse o óbvio, eu não queria ir
embora.
— Minha mãe morreu e foi o meu
padrasto quem me vendeu para o tráfico
humano.
— Eu sinto muito, menina.
— Obrigada. — Eu o abracei e
ele estranhou a minha atitude, mas,
alguns segundos depois, retribuiu o
afeto. — Muito obrigado por tudo o que
fizeram por mim.
— Por nada, garota. — Afastou-
se do abraço e percebi que ele estava
sem jeito. — Amanhã cedo, levarei você
para o aeroporto.
— Okay!
Ele acenou e me deixou sozinha
no quarto.
Caminhei até a cama espaçosa e
confortável, abri a pasta e contemplei os
meus documentos. Todos tinham a
mesma foto com cara de sono da
identidade que eu havia tirado no início
do ano. Não sabia como ele tinha
conseguido, mas o dinheiro certamente
movia montanhas. Abri o passaporte
com um carimbo da Escócia, dizendo
que eu podia ficar no país legalmente
por seis meses, a contar da data do dia
anterior.
Não queria voltar para o Brasil
no dia seguinte, procurar a minha avó,
que deveria acreditar que eu tinha
morrido, contar para ela que tinha sido
estuprada, entregue ao tráfico e vendida.
Isso, na melhor das hipóteses, porque
meu padrasto poderia fazer tudo de
novo, se descobrisse que voltei, ou me
matar com medo de que eu o
denunciasse para a polícia. Poderia ser
nova, mas era esperta o suficiente para
saber que nunca mais teria de volta a
vida que tive antes da minha mãe me
deixar sozinha com o meu padrasto.
Precisava recomeçar e, de certa
forma, sentia que já havia recomeçado.
Tinha a Elga, que me dava um amor e um
carinho semelhante ao de uma mãe; tinha
o Wallace, me dando todo o suporte que
eu precisava; só precisava ter o Logan,
para isso, teria que jogar nas regras
dele.

Aproveitei um momento em que o


Wallace tirou os olhos de mim no
período da tarde, imaginando que ele
tivesse ido resolver alguma coisa para o
Logan e voltei a até a masmorra. Pisar
naquele lugar pela segunda vez me
provocou menos calafrios, imaginei que
tivesse conseguido desassociar o que eu
havia vivido com o que Logan fazia com
as mulheres ali. Abri as gavetas da
cômoda preta e me deparei com
inúmeras coisas que não sabia para que
serviam. Uma gaveta com alguns pênis
de borracha me fez fechá-la
imediatamente com o susto. As pessoas
realmente usavam aquilo? Os abusos
que sofri certamente não haviam me
apresentado o sexo daquela forma.
Encontrei algemas em outra
gaveta e peguei uma, saindo
apressadamente de lá antes que o
Wallace viesse procurar por mim e
descobrisse que eu havia descumprido a
única regra explícita que eles haviam me
dado.
Subi as escadas praticamente
correndo, por pouco não atropelei Beth,
uma das duas mulheres que cuidavam da
limpeza dos cômodos daquele lugar
enorme.
— Cuidado, menina! —
balbuciou.
— Desculpa! — Eu não parei,
segui correndo até chegar ao meu quarto.
Não fazia ideia de como iria explicar o
fato de estar escondendo algemas com
pelos pretos debaixo da minha camiseta.
Coloquei-a debaixo da cama e
segui para o banheiro. Abri a torneira da
enorme e linda banheira branca e
escolhi alguns sais de banho, para
deixar a minha pele perfumada. Por mais
que o Wallace tivesse comprado muitos
produtos para mim, como hidratantes e
shampoo, não tinha nenhum perfume
além daqueles sais de rosas. Também
não tinha nenhuma maquiagem, nem um
batom que fosse, confesso não ter
pedido, mas depois de tudo. havia me
esquecido o que era ser vaidosa, até
aquele momento. Nas mãos dos
traficantes, não queria ser notada, quanto
menos olhassem para mim, melhor, mas
a situação era diferente naquela noite.
Queria toda a atenção do Logan em mim.
Saí do banho, sequei meus
cabelos com uma toalha felpuda e macia
e os penteei, delineando as ondas com
os dedos, para que ele ficasse o mais
bonito possível sem um secador ou uma
prancha. Mordisquei os meus lábios,
esfregando os dentes até que eles
ficassem mais vermelhos do que o
comum. Escolhi um vestido azul simples
e pouco decotado. Ele era discreto, mas
pareceu melhor do que jeans e camiseta.
Olhei pela janela e percebi que o
céu já estava escuro, sem nuvens e cheio
de estrelas. Uma vantagem de estarmos
afastados, no meio do nada, era que,
com menos poluição, poderíamos
observar melhor as estrelas.
Olhei-me no espelho do banheiro
e sorri. Não sabia se estava bonita o
suficiente para chamar a atenção dele,
mas foi o melhor que consegui com os
recursos que tinha. Poderia parecer uma
grande loucura, mas me atirar naquele
abismo era o mais perto que eu tinha de
encontrar uma luz no fim do túnel.
Coloquei a cabeça para fora no
corredor e percebi que uma luz estava
acesa. Saí para ter certeza de que era a
do quarto dele, antes de voltar para
buscar as algemas. Esperava que
Wallace não aparecesse no meio do meu
caminho e todo o plano que eu havia
arquitetado durante o dia esvaísse por
entre os meus dedos.
Desde que eu chegara naquele
castelo, não havia entrado no quarto nem
no escritório do Logan. Eles foram bem
claros quanto a isso, mas, daquela vez,
eu iria desobedecer. No pior dos casos,
iriam me colocar em um avião de volta
para o Brasil; no melhor, eu iria ficar.
Aproximei-me da porta. Vi o topo
da cabeça dele acima do encosto de uma
poltrona. Logan parecia concentrado,
fitando a lareira apagada no extremo
oposto a ele. Entrei no quarto andando
vagarosamente, para que os meus
calçados não fizessem barulho ao tocar
o carpete que cobria o chão.
As algemas escorregavam em
meio aos meus dedos suados. Estava
aflita e o coração batia desesperado. De
repente, comecei a pensar que a decisão
que eu havia tomado era muito estúpida.
O que um homem como aquele iria
querer com uma garota perdida e
assustada como eu?
— Camila? — ele falou meu
nome, deixando-o ecoar por todo o
quarto enquanto eu estremecia com o
som grave e entorpecedor da sua voz.
— Sim... — Senti algo se instalar
na minha garganta que não me deixava
respirar direito.
— O que está fazendo aqui?
Não respondi, apenas terminei de
andar até ele e parei na sua frente,
colocando as algemas no seu colo.
Logan olhou para o objeto e depois para
mim pelo menos umas três vezes,
tentando entender o que estava
acontecendo.
Respirei fundo e tomei todo o
fôlego e coragem antes de falar.
— Você disse que não faz as
mulheres sentirem dor. Eu quero saber o
que é não sentir dor. — Ao dizer aquilo,
senti que estava tomando de volta o
controle sobre meu corpo.
— Eu só trepo com prostitutas. —
A expressão dele era fria e impassível,
como no momento em que acordei no
seu jato.
— Já não acha que pagou o
suficiente por mim? — De fato, ele
havia pagado muito, me comprando em
um leilão para fazer o que quisesse
comigo, porém, desde que chegamos
àquele enorme castelo, não fizera nada a
não ser me dirigir a palavra um punhado
de vezes.
— Por que está fazendo isso,
Camila? Sabe que não precisa. O
Wallace disse que seus documentos
estão prontos e você pode ir embora.
— Não, sei que não preciso, mas
eu quero. — Uni meus pulsos e estendi
para ele, dizendo silenciosamente que
queria que me prendesse com as
algemas. — Me leva para a masmorra.
— Você pode se arrepender
disso...
— Ou posso gostar.
Ele ficou de pé e me olhou de
cima para baixo. Logan pareceu mais
alto do que eu me recordava. Os ombros
largos e a postura firme não me
intimidaram como ele imaginou que
fariam. Já tive que lidar com homens
muito mais ameaçadores, e menos
bonitos, do que ele.
— Se eu levá-la para a masmorra,
eu vou foder você.
— Sei disso.
— É o que quer?
— Sim! — Não deixei que a
intimidação dele me fizesse mudar de
ideia. De todos os caminhos que eu tinha
para seguir naquele momento, ele era o
que mais me interessava.
Eu vi o brilho nos olhos dele e
percebi que, pela primeira vez desde o
início daquele pesadelo, eu tinha
vencido.
— Ótimo! — Ele me estendeu a
mão e eu a segurei, convicta de que tinha
feito a melhor escolha para mim.
Ele colocou sobre uma mesa de
canto a bebida que estava na outra mão e
me guiou para fora do quarto sem falar
nada. A cada passo que dávamos pelo
corredor, aproximando-nos da
masmorra, maior era a minha ansiedade,
que fazia o meu coração disparar e a
minha boca ficar seca.
Atravessamos o corredor deserto
e descemos a escada até a porta da
masmorra. Imaginei que, em algum
momento do passado, aquele lugar
realmente fosse destinado a prisão de
inimigos de guerra, mas fora reformado
para prender mulheres.
Observei a cama, a cadeira e
outros objetos e segurei a respiração.
Tinha decidido chegar até ali e não iria
voltar atrás.
— Ajoelha ali! — Logan apontou
para um tapete vermelho felpudo que
estava a menos de um metro na minha
frente.
Obedeci a ele, ficando de joelhos
com as mãos cruzadas na frente do meu
corpo. Não saber o que iria acontecer,
nem o que ele faria comigo, elevava a
minha ansiedade e me deixava ainda
mais tensa. Lutei com toda a minha força
para espantar as lembranças ruins que
tentavam tomar a minha mente, não
queria, nem podia, me deixar dominar
por elas, ou sairia correndo antes que o
Logan fizesse qualquer coisa comigo.
Ouvi o som de uma gaveta sendo
aberta e não me movi nem mexi a
cabeça, mantendo o meu olhar fixo em
um ponto da parede. Fiz de tudo para
não parecer amedrontada e acho que
consegui.
Senti as mãos firmes e pesadas do
Logan no meu cabelo. Ele penteou os
fios com os dedos e o juntou na parte de
cima da minha cabeça, até prendê-los
em um rabo de cavalo, amarrando-o com
um elástico.
— Eu vou explicar para você
como as coisas funcionam, Camila. —
Soltou o meu cabelo, fazendo o rabo de
cavalo balançar, e deu a volta até parar
na minha frente.
Fiz que sim, mantendo-me
ajoelhada, mas com o olhar firme nele,
esperando as instruções que tinha para
mim.
— Eu mando e você obedece.
Isso parecia bem óbvio, apenas
pensei.
— Eu posso amarrá-la e castigá-
la, mas em hipótese alguma eu quero
machucá-la. Quero que lembre de algo
bem simples, se pedir para parar, eu
paro. Sem mais ou talvez; pediu para
parar, eu pararei. Entendeu?
Fiz que sim.
— Lembre-se de que isso pode
durar horas. O mundo não vai acabar
amanhã.
— Okay, Logan.
— Senhor — corrigiu-me.
Apenas assenti, abaixando a
cabeça. O jogo era dele e estava
disposta a seguir suas regras.
— Tira o vestido.
Sua ordem cortou minha
respiração. Sabia que, mais cedo ou
mais tarde, estaria nua diante dele e em
seus braços. Porém, as coisas seriam
diferentes daquela vez, ao menos era
isso que eu esperava.
Ainda de joelhos, segurei a
lateral do vestido e o puxei para cima,
removendo-o completamente e o
coloquei no chão ao meu lado, ficando
apenas de lingerie branca.
— Escolha adequada. — Ele riu
ao reparar na cor das minhas roupas
intimas. — Agora, vem. — Estendeu a
mão para mim para que eu me
levantasse.
Sorri ao me perder na imensidão
dos olhos azuis que me chamavam em
um ar tão hipnótico. Não conseguia
pensar duas vezes antes de me atirar na
imensidão deles. Logan me levou até a
cama e me fez sentar na borda. Com a
respiração cada vez mais entrecortada,
tive medo de ficar sem fôlego e
paralisar completamente. Empurrou
meus ombros e me fez cair de costas
sobre o colchão macio. Suas mãos
seguraram com firmeza a minha cintura,
fazendo um frisson varrer-me por todos
os pontos. O contato dos seus dedos com
a minha pele acendeu uma chama que eu
desconhecia, um fogo que se alastrou
rapidamente em total descontrole. Não
senti qualquer repúdio ao toque, queria
mais e mais.
Logan me puxou até o centro da
cama e largou a minha cintura,
colocando as mãos atrás das minhas
costas, forçando espaço entre elas e o
colchão. Fiquei sem entender o que ele
pretendia até que meu sutiã pulou
quando o fecho foi aberto. Ele puxou a
peça pelos meus ombros e braços.
— Agora, vou fazer uma inspeção
completa em você — sussurrou ao pé do
meu ouvido, com o hálito quente na
minha orelha que me deixou toda
arrepiada. Não sabia dizer se meu
coração havia parado de bater ou se
acelerava a velocidades inumanas.
Logan perdeu alguns segundos
examinando meus seios, do tamanho de
pequenas laranjas e com mamilos
marrons, que se enrijeceram assim que
as palmas das mãos dele os tocaram.
Mordi o lábio inferior, tensa e ansiosa,
aguardando o que ele faria a seguir. Só
de saber que no momento em que eu
pedisse para parar, ele pararia, já me
deixava bem mais segura quanto àquilo
tudo.
Ele segurou meu braço direito,
escorregando a ponta dos dedos longos
e delgados pela minha pele, provocando
um delicioso formigamento até que
segurou o meu pulso, levando-o até uma
das pontas da cama e prendendo-o com
uma amarra e puxou até que ficasse bem
justo ao redor do meu pulso.
— Assim machuca? — Vi uma
preocupação real em seus olhos e isso
fez com que eu me sentisse ainda mais
segura, mesmo sabendo que logo estaria
atada à cama.
Puxei meu braço, certificando-me
que de que estava bem preso e apenas
balancei a cabeça em negativa. A amarra
me prendia, mas não me machucava.
Logan pegou meu outro braço e fez a
mesma coisa, deixando-me de braços
abertos e pulsos atados. Ele contornou
meus seios com as ponta dos dedos,
causando o mesmo formigamento que fez
nos braços e tentei cobri-los com as
mãos, mas apenas consegui me lembrar
de que os meus braços estavam presos.
Ele escorregou na cama, assim
como as suas mãos pela lateral do meu
corpo, até voltarem para a minha
cintura. As mãos dele, apesar de firmes,
eram sedosas e se não provocassem uma
enxurrada de sensações, seriam como
um tecido macio escorregando por mim.
Buscou meus olhos e percebi que seu
olhar estava carregado de desejo, ver o
quanto deixou-me ainda mais empolgada
com tudo.
A palpitação acelerada e frenética
do meu peito não diminuiu quando ele
desceu com as mãos pela minha cintura,
puxando junto a minha calcinha. Tinha
me depilado no banho e esperava ter
feito certo, mas o sorriso nos lábios dele
me mostrou que não estava desapontado
com o que viu. Expuseram tanto a minha
vagina para os olhares mais repulsivos,
mas, daquela vez, eu queria que ela
realmente fosse admirada. Logan tateou
o monte e bateu os dedos devagar, mas o
breve impacto reverberou pelo meu
corpo e me fez espichar na cama. Estava
provando em doses homeopáticas o que
era o desejo, mas queria beber dele em
goles mais intensos, fortes o bastante
para me esquecer de que ser tocada
poderia não ser tão bom.
Havia um pouco de embaraço, eu
era completamente inexperiente, mas
sabia que, com um pouco de paciência,
Logan me mostraria o caminho. Ele
terminou de tirar a minha calcinha e a
colocou em algum lugar na masmorra,
mas não me preocupei com isso, toda a
minha atenção estava voltada para o fato
de que ele também ataria os meus
tornozelos. Ele testou as amarras antes
de sair de cima da cama para me
contemplar, nua, amarrada e rendida.
Com as pernas bem afastadas, meu sexo
estava completamente exposto, não
havia barreiras para que o Logan fizesse
o que bem entendesse comigo. Já
fizeram tantas vezes, mas, daquela vez,
era uma escolha minha.
A ansiedade pelo que ele faria a
seguir, era tão intensa que me fazia
balançar de um lado para o outro, mas
com os braços e pernas atados, eu ficava
apenas me sacudindo e isso parecia
diverti-lo. Maldoso...
Logan voltou a se aproximar da
cama e se curvou sobre mim,
aproximando as mãos e a cabeça do
meio das minhas pernas. Soltei um
suspiro, seguido de um gemido quando
os polegares dele pressionaram meu
sexo, abrindo os grandes lábios para
uma inspeção mais aprofundada.
— Seu hímen ainda está aqui, isso
significa que vamos precisar ir mais
devagar.
— Temos a noite inteira. — Sorri,
levantando a cabeça o melhor que
conseguia para observá-lo.
— Sim, nós temos. — Logan
sorriu de volta e todo aquele interesse
dele me fez regozijar. — Mas lamento
dizer que vai doer pelo menos um
pouco.
— Okay! — Assenti. Não poderia
dizer que estava desapontada, de certa
forma, já havia me acostumado com a
dor. Apenas um pouco já parecia bem
mais animador.
— Não se preocupa com isso
agora. — Logan saiu do meu campo de
visão e me retorci na cama para tentar
acompanhá-lo.
Vi que ele pegou alguma coisa
dentro da cômoda e isso me causou
certo espanto. Tinha me deparado com
várias coisas lá dentro que não sabia
para que serviam, e outras que me
deixaram completamente amedrontada.
Ele voltou e colocou algumas coisas na
cama, no vão entre as minhas pernas,
que não me permitia enxergar. Isso me
deixou enlouquecida. O que iria fazer
comigo?
Parei de pensar ao sentir algo
gelado ser pressionado contra o meu
sexo. Estava escorregadio ao ponto de
me levar a entender que havia sido
banhado em algum óleo ou gel, não
conseguia ter certeza, mas me pareceu
uma bolinha ou uma gota. Gemi,
contorcendo-me, quis fechar as pernas
no reflexo de impedi-lo de continuar o
que quer que estivesse fazendo, porém,
apenas apertou mais a amarras. Houve
um pouquinho de dor, uma pequena
pontada, mas que parou de incomodar
quando Logan afastou os dedos. Limpou
os dedos besuntados em um lenço e tive
certeza de que um gel envolvia o objeto
dentro de mim quando as paredes do
meu sexo começaram a esquentar, como
a minha boca ficava quando que comia
algum alimento picante.
— O que colocou em mim?
— Um gel de pimenta e um mini
vibrador. — Pelo sorriso devasso nos
lábios dele, tive certeza de que Logan
sabia muito bem os efeitos que causaria
em mim.
— Está esquentando e ardendo
um pouco.
— É uma sensação ruim? —
Aproximou o rosto do meu para me
ouvir falar quando eu confessasse.
— Não... — gemi, tentando fechar
as pernas outra vez. — É delicioso,
muito delicioso. — Queria poder
esconder o rosto, que ardia tanto quanto
o meu sexo, nesse caso, de vergonha; no
entanto, com aquelas amarras me
mantendo exposta e em uma posição
fixa, era impossível.
Logan gargalhou diante do meu
pequeno desespero.
— Acalme-se, Camila, ainda nem
começamos. — Ele ficou de pé, ao lado
da cama, ainda completamente vestido e
segurou um pequeno aparelhinho
quadrado, só me dei conta de que era um
controle quando o que ele havia
colocado dentro de mim começou a
vibrar.
Fechei os olhos, batendo as
pálpebras em meio a um gemido rouco
que escapou do fundo da minha garganta
ao me render ao tremor que começava
no meu sexo, mas que se alastrava por
todo o meu corpo. Arqueei as costas,
testando a resistência das amarras que
me atavam. A ardência e latência do gel
de pimenta intensificava ainda mais o
estímulo.
— Isso é bom? — perguntou ele
em um ar travesso ao desligar.
— Sim — confessei,
envergonhada, sem saber se deveria ou
não estar gostando.
Logan apertou o controle
novamente e dessa vez a vibração foi
mais intensa, quatro ou cinco vezes mais
potente do que da primeira vez e eu quis
saltar na cama. A vontade de quicar e
rebolar era insana, porém, não
conseguia fazer nada a não ser reagir
com sons. Ele desligou de novo e se
aproximou de mim, passou os dedos
pelos meus lábios e eu o lambi, pedindo
com o olhar para que continuasse. Era
muito injusto que controlasse o meu
prazer daquele jeito, mas percebi que
era exatamente dessa forma que ele
jogava, tomando para si o controle de
tudo.
— Liga...
— E se eu não quiser?
— Por favor...
— Sou eu quem dá ordens aqui,
Camila. — Seu olhar ficou mais firme e
eu me encolhi.
— Sim, senhor.
— Boa, menina. — Ele ligou o
vibrador novamente e eu quis me
retorcer de dentro para fora, cada vez
mais refém dos estímulos e das
pulsações.
Estava cada vez mais imersa em
uma entorpecedora névoa de prazer. Se
as coisas seriam sempre daquele jeito,
numa maldita, mas deliciosa tortura,
estava disposta a me submeter a ele
mais vezes. Logan aumentou a
velocidade do vibrador e eu soltei um
grito, deixando-o ecoar por toda a
masmorra, seguido de gemidos
ofegantes, histéricos e agudos. Só me
dei conta do que havia acontecido
comigo e de que havia chegado ao ápice
quando minha respiração começou a
normalizar.
— Acho que, agora, você está
pronta para ser fodida.
Assisti, ansiosa, enquanto o
Logan tirava a camisa e a calça,
colocando-os sobre a cadeira antes de
subir em cima de mim. À pouca luz,
ainda conseguia ver o abdômen bem
definido dele e a perfeição do seu
corpo. Poucas vezes estive diante de um
homem tão bonito, e nunca tão perto. Ele
rasgou um pacotinho laminado e colocou
a camisinha no pau, antes de se
posicionar entre as minhas pernas.
Achei que ele fosse enfiar de uma vez,
rápido e sem aviso, mas pareceu
disposto a brincar um pouco mais
comigo, a levar-me a níveis de desejo
que não sabia serem possíveis.
Logan esfregou o pau na entrada
do meu sexo, contornando a fenda sem
qualquer penetração e o subiu até o meu
clitóris, esfregando-o de leve. Ele não
tinha pudor e gostava da forma como
meus olhos se reviravam em súplica.
Queria abraçá-lo com os braços e
pernas, mas era impossível. Tudo o que
eu queria, dependia exclusivamente dele
para ser realizado, se Logan não fizesse,
eu acabaria apenas ali, amarrada e
morrendo de vontade.
Tentei levantar o meu quadril,
levar o meu corpo a ele, mas era
impossível e isso estava me deixando
aflita. Queria demais e Logan parecia
não ter percebido, ou apenas estava
brincando comigo.
— Você quer? — Roçou o pau na
minha fenda me fazendo retorcer ainda
mais na cama.
Balancei a cabeça em afirmativa,
com os olhos revirados e a boca seca.
Não estava aguentando mais, nem
imaginava que fosse possível querer
tanto ser penetrada.
— Quero ouvir em voz alta. Fala
para o seu senhor, o que você quer?
Achei que fosse explodir
enquanto ele sussurrava no meu ouvido e
brincava comigo. Algumas torturas
machucavam e doíam, outras
provocavam uma pulsação intensa e uma
vontade incontrolável.
— Quero que entre, eu o quero
dentro de mim.
Ele sorriu antes de apoiar as
mãos na cama, na lateral do meu corpo.
Enfiou o dedo em mim, fazendo-me
arquejar e tirou o vibrador antes de
pressionar a glande contra a passagem
do meu canal. Num tranco firme, ele me
invadiu, mas antes que eu pudesse gritar,
seus lábios tomaram os meus. A minha
virgindade, que tanto negociaram e
superestimaram, finalmente havia sido
tirada pelo homem que pagou por ela.
A dor veio, como Logan me disse
que viria, estava preparada para algo
muito mais intenso e traumatizante, mas
não houve nada disso. Depois da
sensação ser rasgada, que veio logo
após a penetração, Logan começou a se
mexer, espalhando o gel de pimenta para
além do local onde ficava meu hímen, e
a ardência dele amenizou a dor,
anestesiando-a. Pouco a pouco, fui
levada de volta para a sensação de
prazer. Era deliciosa, era intensa e os
beijos ferozes do Logan aumentavam
ainda mais meu prazer. Poderia estar
amarrada, com meus movimentos
completamente reduzidos, mas me senti
livre. Livre dos fantasmas e livre da dor.
Poderia recomeçar ali e era exatamente
isso que queria.
Logan ficou de joelhos na cama e
me puxou contra ele, batendo o meu sexo
na sua pélvis, cravando-se fundo em
mim de um jeito que eu nunca iria
esquecer. Tentando me acostumar ao
ritmo, explorando o prazer, movia meu
corpo para o dele e tentava me
sintonizar.
Ele voltou a deitar sobre mim e
puxou meu cabelo pelo rabo de cavalo e
lambeu meus lábios, antes de voltar a
enfiar a língua dentro da minha boca.
Havia ficado com alguns garotos na
escola, mas nada se equiparava a
selvageria e a fome com que os lábios
dele encontravam os meus.
Em meio ao vai e vem que estava
nos levando pouco a pouco ao total
esgotamento, eu o senti pulsar,
derramando-se dentro da camisinha
antes que a fricção dos nossos corpos
me mostrasse o que era gozar com ele
dentro de mim.
Com o calor e o peso dele sobre
o meu, enquanto Logan recuperava as
suas forças, me perguntei por que não
havia tomado aquela decisão antes. Não
precisava de um mês para me atirar nos
braços da minha luz no fim do túnel.
Havia me submetido ao jogo dele
e não estava arrependida.
Capítulo dezoito
Saí de cima da Camila e tirei a
camisinha, jogando-a em uma pequena
lixeira aos pés da cama. Ainda não
estava completamente recuperado do
orgasmo, senti isso pela pequena
incoordenação que me fez trocar os pés
algumas vezes. Peguei de volta a minha
cueca enquanto a observava ainda
entorpecida e amarrada à cama. Não
pretendia tirar a virgindade dela, achava
que já havia sofrido o suficiente nas
mãos dos traficantes, porém, quando ela
se ofereceu e disse convicta que queria,
percebi que era estupidez negar. Era
uma mulher linda, apesar de jovem, que
iria embora logo.
Não podia negar que, durante esse
tempo que convivi com ela, senti desejo
e muita atração. Contudo, não iria me
impor contra os limites dela. Era um
homem que construía muros e não
gostava que os transpusessem, dessa
forma, respeitava os muros das outras
pessoas.
— Preciso passar a noite assim?
— Ela indicou as amarras com um
movimento de cabeça.
— Não. — Voltei para cama
apenas para libertá-la.
Camila massageou os pulsos, que
estavam levemente marcados pelas
amarras, e abriu um sorriso para mim.
Eu não era o único que havia gostado do
nosso breve momento.
— Pode voltar para o seu quarto,
arrumar suas coisas e ir dormir. Amanhã
cedo, o Wallace leva você de
helicóptero para o aeroporto de
Edimburgo.
— Logan — disse o meu nome da
forma que mais ninguém dizia e tocou
meu ombro, sem qualquer autorização
para fazer qualquer uma dessas coisas.
Eu me virei, prestes a rosnar para ela,
mas assim que fitei a meiguice dos seus
olhos castanhos, desisti de repreendê-la.
Algo em seu olhar amenizou a fera em
mim.
— O que foi?
— Não quero ir embora amanhã.
— Por que não? — Franzi o
cenho e acabei sentando-me ao lado
dela na cama. — Achei que estivesse
ansiosa para voltar para casa, para a sua
família.
— Não tenho família, nem
ninguém que se importe comigo ou para
quem eu precise voltar.
Estranhamente, me identifiquei
com aquilo. Desde que os meus avós
haviam partido, eu não tinha mais
ninguém. A minha mãe era mais um
desserviço do que alguém em quem eu
realmente pudesse contar.
— Antes da minha mãe morrer,
ela se casou com um homem perigoso.
Foi ele quem me enfiou nessa confusão
toda. Se eu voltar para a mesma cidade,
é provável que ele faça tudo de novo.
Ainda não sei para onde eu posso ir sem
que ele acabe me vendendo.
Meu sangue ferveu com a
possibilidade de ela voltar para as mãos
daqueles que lhe fizeram tão mal. Não
sabia explicar, geralmente não tinha
atitudes impulsivas, mas agia assim
perto da Camila desde a primeira vez
que a vi. Meus esforços para mantê-la
segura não poderia ter sido em vão.
— Então, o que pretende fazer?
Ela engoliu em seco e desviou o
olhar. Percebi que estava receosa, com
medo, mas de quê? Fora a primeira
impressão dela com a masmorra, eu não
havia dado motivos para que temesse
nada em relação a mim.
— Camila? — Segurei o seu
queixo e a forcei a encarar.
— Sei que já fez muito por mim,
mais do que qualquer outra pessoa faria.
— Soluçou e fugiu do assunto.
— Só fiz o que achei certo, o que
me deixaria tranquilo com a minha
consciência.
— Sempre serei muito grata por
isso.
— Pare de enrolar, menina! —
Fui um pouco mais firme e isso fez com
que ela desse um saltinho na cama.
— Eu... — Engoliu em seco. —
Eu queria poder ficar aqui mais um
pouco, ao menos enquanto o visto ainda
é válido. Enquanto isso, eu penso em um
lugar para ir, onde o meu padrasto não
possa me encontrar.
Por que diabos ela queria
continuar ali? Isso era estranho e
inesperado, principalmente depois dela
ter visto um lado meu que apenas o
Wallace conhecia.
— Camila, olha...
— Por favor... — falou numa voz
chorosa, impedindo-me de continuar o
que eu tinha a dizer para ela.
Provavelmente uma ajuda para que ela
se alocasse em algum outro estado no
Brasil. — Enquanto eu estiver aqui, nós
podemos fazer isso mais vezes. —
Apontou para cama sem quaisquer
ressalvas. Será que aquela menina
tinha ideia do que estava me
propondo?
— Está se oferecendo para ser
usada por mim o quanto eu bem
entender? — Fui firme e lancei para ela
um olhar cerrado, na esperança de
assustá-la para que mudasse de ideia.
Não podia negar que, após ter
experimentado, a queria mais vezes ali
naquela cama e isso poderia ser o maior
de todos os perigos.
— Enquanto eu estiver aqui, você
não precisa pagar uma prostituta, terá a
mim. — Seu olhar era firme demais para
uma garota de apenas dezenove anos. Ou
ela era muito corajosa ou completamente
estúpida.
— Camila, ouça bem, o que eu
faço aqui nessa masmorra vai muito
além de amarras. Não é prudente se
arriscar assim.
— Vai me machucar, furar,
queimar ou sufocar?
— Quê?! Não! De onde tirou
essas coisas? Não sou um torturador.
— Então, o que quer que vá fazer
comigo não se compara a ter aqueles
nojentos se divertindo enquanto
revezavam a minha bunda.
Engoli em seco diante da forma
fria com que ela disse aquilo. Camila
era uma sobrevivente e isso me deixou
abismado. Poucas passavam por traumas
como o dela e continuavam de cabeça
em pé, lutando para se manterem vivas.
Aquela coragem e força de vontade me
fez admirá-la, um sentimento que quase
ninguém me despertou ao longo da vida.
— Então é isso, você quer ficar?
— Iria me arrepender disso em algum
momento, tinha certeza, mas estava
compactuando com a vontade dela e, por
consequência, com a minha em torná-la
submissa a mim pelo tempo que aquele
acordo maluco durasse.
— Quero!
— Sabe que é livre para ir
quando bem desejar.
Fez que sim.
Okay! Estava concordando com
aquilo, mas ainda precisava ter um
pouco de prudência.
— Amanhã, quero que acompanhe
o Wallace a um médico. Quero que faça
todos os exames para termos certeza que
não passaram nenhuma DST para você.
— Entendo a sua preocupação. —
Abaixou a cabeça, concordando.
— Ótimo! Se estiver tudo bem,
peça a ele que receite para você um
anticoncepcional ou coloque um DIU, o
que deixar você mais confortável.
— Como você quiser.
— Precisa de alguma coisa? —
Já que iria usá-la para o meu prazer,
precisava me preocupar com o seu bem-
estar.
— O Wallace me deu algumas
roupas, mas não muitas. Preciso
comprar mais, além de alguns produtos
de higiene e beleza. Um batom, outras
coisas de maquiagem...
— Coisas de mulher. —
Interrompi-a e Camila balançou a
cabeça em afirmativa. — O Wallace vai
entregar para você um cartão de crédito
e levá-la até um shopping, para que
possa fazer compras.
— Obrigada! — Ela estendeu os
braços para me abraçar, mas levantei da
cama antes que ela conseguisse.
— Vista-se e vá para o seu
quarto. — Coloquei a minha calça e
caminhei até a porta. — Boa noite,
Camila. — Saí da masmorra e a deixei
lá, sozinha.
— Eu ouvi direito, senhor? —
Wallace caminhou até a porta do meu
escritório e a fechou antes de voltar a
me fitar.
— Ouviu. — Mantive minha
postura impassível enquanto observava
o sol fraco da manhã adentrar pela
janela e refratar no prisma de cristal que
eu usava como peso de papel. — Camila
vai ficar aqui e quero que a leve ao
médico para testar DST’s e colocar um
DIU, também para fazer compras.
Entregue um cartão para ela e deixe-a
comprar o que achar que precise.
— Desculpe-me a pergunta,
senhor, mas está fazendo sexo com ela?
— Transamos ontem e, antes que
pense qualquer coisa, foi bem
consensual. Sabe que eu não forçaria
ninguém.
— Sei que tem gostos sádicos,
mas, posso ter entendido errado, achei
que não fosse tocar na garota. Uma
escrava sexual é desprezível.
Franzi o cenho e cerrei os dentes,
brevemente irritado por ele cogitar que
eu transformaria a Camila em uma
escrava, porém, tentei não julgá-lo
diante das circunstâncias em que ela
havia parado nas minhas mãos.
— Ela está aqui porque quer,
Wallace. Pediu para ficar por mais
tempo até encontrar um lugar seguro
para ir. Enquanto isso, vou unir o útil ao
agradável, afinal de contas, ela é linda.
Contudo, não pense que estou mantendo-
a aqui contra a sua vontade ou a
explorando, Camila é livre para ir
quando bem entender.
— Compreendo. — Wallace não
parecia satisfeito com a minha
explicação, mas não se impôs, afinal de
contas, a escolha era minha. — Quer que
eu a leve ao médico agora pela manhã?
— Sim, depois do médico, a leve
ao shopping. Eu vou me arrumar e ir
para a destilaria.
— Sim, senhor. Precisa de mais
alguma coisa?
— Por enquanto, é isso.
— Certo. — Ele deu as costas,
mas antes que saísse do escritório, eu o
chamei.
— Wallace!
— Sim? — Segurou no batente da
porta antes de virar-se para me fitar.
— Cancele a prostituta que viria
hoje, não preciso mais dela.
— Como quiser. — Ele assentiu e
desapareceu corredor afora.
Poderia estar cometendo um erro
ao estabelecer aquela relação com a
Camila, mas não me preocuparia com
aquilo no momento.
Capítulo dezenove
Rolei na cama, sentia que, se
levantasse, iria ter dificuldade para ficar
de pé, por mais que minhas pernas não
estivessem mais bambas. O momento
que havia compartilhado com o Logan
havia sido tão irreal que temia ter sido
um sonho. Confesso que, quando me
joguei nos braços dele, cogitava que
pudesse ser horrível, traumatizante e
dolorido, porém, excedeu positivamente
qualquer uma das minhas expectativas.
Gostei de cada minuto, desde o instante
em que ele me amarrou, até tê-lo dentro
de mim.
Ouvi uma batida na porta e, por
reflexo, me cobri com o cobertor, por
mais que estivesse vestida.
— Senhorita? — Ouvi a voz do
Wallace do outro lado.
— Sim?
— Posso entrar?
— Sim. — Apressei-me para me
sentar e quando ele passou pela porta,
eu estava ajeitando o meu cabelo,
penteando-o com os dedos.
— Ainda não está pronta? — Ele
fez um bico ao colocar as mãos na
cintura e eu abri um sorriso amarelo.
Fiquei me perguntando se o Logan não
havia contado para ele que eu ficaria no
castelo, ao menos por mais alguns dias
ou meses.
— Eu não vou voltar para o
Brasil hoje, Wallace.
— Sei disso, o senhor Mackenzie
me disse. Preciso que se arrume para
que eu possa levá-la a um hospital.
— Ah, sim! — Fiquei sem jeito.
Que tonta eu tinha parecido, como se
não soubesse que o Wallace estava
sempre muito bem informado sobre tudo.
— Espero a senhorita em meia
hora na cozinha.
— Obrigada. — Espreguicei e ele
saiu do quarto, deixando-me sozinha
outra vez.
Levantei da cama e fui até a
janela, contemplando o céu azul da
manhã, os pássaros que voavam ao
fundo e as montas no horizonte. Tinha
conseguido mais um tempo naquele lugar
e faria de tudo para que esse tempo se
transformasse no meu “para sempre”.
Por mais adversas que foram as
circunstâncias, estava contente por ter
ido parar na vida do Logan Mackenzie.
Fui até o banheiro, tomei um
banho, lavando bem a minha intimidade,
certificando-me de que havia tirado todo
o gel de pimenta dela. Depois me
sequei, escovei os dentes e prendi o
cabelo em um rabo de cavalo, como
sabia que o Logan gostava, e coloquei
roupas limpas antes de descer para a
cozinha.
Cheguei, indo direto em um
biscoito que estava sobre o balcão, mas
Wallace deu um tapinha de leve na
minha mão e Elga olhou torto para ele.
— Deixa a menina comer, seu
chato! — Ela colocou as mãos na
cintura, estufando o peito e eu ri.
— É melhor que ela não coma
agora.
— Ora, por que não? Não faz bem
sair sem se alimentar.
— Ela vai fazer exame de sangue.
— Está se sentindo mal, criança?
— Elga chegou perto de mim e me
envolveu nos braços, quase me ninando
como se eu fosse um bebê.
— Não, Elga, pode ficar
despreocupada. Irei apenas fazer alguns
exames de rotina. Vou sair com o
Wallace, mais tarde eu volto.
— Que ótimo! Fico feliz. Fiquei
sabendo que você ia embora e essa
notícia me deixou muito triste, que bom
que decidiu ficar.
— Por enquanto, eu vou ficar um
pouco mais.
— Fico muito contente! — Um
largo sorriso se formou nos lábios dela.
— Agora, vá fazer seu exame. —
Empurrou-me pelos ombros. — É muito
importante cuidar da saúde. Espero que
esteja tudo bem.
— Vai estar sim. — Devolvi o
sorriso para ela antes de acompanhar
Wallace até a saída mais próxima, que
nos levava ao pátio central com a bela
fonte.
Seguimos caminhando em silêncio
pelo caminho murado de asfalto por
quase um quilômetro.
— Para onde estamos indo? —
perguntei curiosa. Será que iríamos até
o médico a pé? Não era por ser
preguiçosa, mas não via nenhuma
construção num raio de quilômetros. Ir
andando até a cidade mais próxima
poderia levar horas.
— Para lá! — Ele apontou e eu vi
um helicóptero em uma pista de pouso
redonda.
— É do Logan? — Fiquei
boquiaberta.
— Do senhor? Sim. — Ele fechou
a cara, certamente descontente com o
fato de eu me referir ao patrão dele pelo
primeiro nome. Não iria ficar
chamando-o de senhor, mesmo que isso
pudesse gerar algumas caras feias.
Nos aproximamos do helicóptero
e percebi que só havia nós dois, isso fez
com que eu deduzisse que o Wallace
sabia pilotar aquela coisa. Ele abriu a
porta, entregou para mim um protetor
auricular e fez um gesto para que eu
entrasse no banco de trás.
— Coloca o cinto.
Assenti e me acomodei enquanto
o observava ligar tudo e levantar voo.
Segurei a poltrona de couro olhando
tudo ficar cada vez menor, inclusive o
castelo. Não sei quanto tempo a viagem
durou até que pousássemos no terraço de
um prédio. Estava admirada demais
observando a paisagem para que me
preocupasse com a passagem dos
minutos. Perto do castelo, eu tinha visto
um ou outro vilarejo, o restante era
vegetação e lagos, mas as coisas
começaram a mudar quando me
aproximei da capital do país.
— Desce, menina! — Wallace me
chamou e percebi que estava
completamente dispersa ao ponto de
nem notar que havíamos chegado.
Soltei meu cinto e pulei para fora
do helicóptero, aceitando a mão que ele
havia estendido para mim.
— Wallace?
— Sim? — respondeu, sem parar
de andar e fui obrigada a segui-lo, mas
ainda estava alguns passos atrás.
— Por que quase não há pessoas
morando na região perto do castelo?
— A população se concentrou
toda nas Terras Baixas, apenas cinco por
cento da população do país mora nas
Terras Altas.
— Isso tem alguma coisa a ver
com o massacre inglês à cultura das
Terras Altas? — Ainda me lembrava um
pouco das coisas que havia visto em
uma série de TV.
— Não tenho certeza, mas
acredito que sim, apenas recentemente
foi permitido voltar a ensinar gaélico.
Quase não conheço pessoas que falem,
acho que apenas o senhor. O avô do
senhor ainda era muito arraigado à
cultura, pois os pais dele ainda tentavam
manter tudo às escondidas do governo
britânico.
— Nossa! — Fiquei boquiaberta,
aquilo era algo que eu nunca tinha
pensado a respeito. — O Logan é um
Mackenzie do clã Mackenzie.
— Sim, senhorita, ele é —
confirmou o Wallace, nitidamente
incomodado com todas as perguntas que
eu estava fazendo. — Vamos logo para o
médico, pois temos horário marcado e
não podemos nos atrasar.
Assenti e o segui de elevador até
a entrada do prédio. Era uma grande
recepção com, pelo menos, cinco
funcionários e vi pessoas passando de
um lado para o outro. Presumi que
funcionassem várias empresas ali, mas
não perguntei nada para o Wallace, pois
ele já estava de olhos virados para mim
com tantos questionamentos, também não
parecia muito feliz com o fato de eu não
ter ido embora.
— Jax! — Na saída da recepção,
Wallace acenou para um homem que se
juntou a nós.
Afunilei os olhos enquanto o
observava, recordava-me de tê-lo visto
em algum lugar, mas não sabia ao certo
de onde. Achei isso estranho, pois
alguém com mais de dois metros de
altura e uma postura de montanha não
era algo que passava despercebido.
— Senhorita? — Ele também me
fitou, como se me reconhecesse. Isso me
deixou ainda mais encucada.
— Senhorita Camila, esse é Jax
Roberts. Ele trabalha em uma empresa
de segurança privada que costuma fazer
alguns serviços para o senhor
Mackenzie. Pedi para que ele nos
acompanhasse hoje. — Wallace fez as
devidas apresentações e me recordei
onde havia visto aquele homem. Ele
estava no avião quando eu acordei.
— Prazer em revê-la em melhores
condições.
— Ah, obrigada. — Sorri sem
jeito. Nem queria pensar no que ele
tinha ou não deixado de ver.
— O carro está na garagem —
Jax informou para o Wallace. — Vamos
ao médico primeiro, correto?
— Sim.
Apenas segui os dois até uma
garagem dois níveis abaixo, no subsolo,
e Jax saiu dirigindo por alguns minutos
até chegarmos diante de um pequeno
hospital. Durante o caminho, fiquei
observando o castelo de Edimburgo no
alto de uma colina. Era tão lindo quanto
o que Logan tinha, porém, maior. Quis
ter um celular naquele momento para
tirar algumas fotos. Me perguntei se
poderia comprar um notebook e um
celular para mim quando saísse às
compras com o Wallace, tudo iria
depender do limite do cartão de crédito.
Jax estacionou o carro no
estacionamento do hospital e nós
subimos de elevador até a recepção.
Wallace conversou com uma moça e ele
me entregou um papel para preencher os
meus dados e pediu o passaporte, que,
por sorte, havia lembrado de trazer
comigo. Assim que terminei de colocar
os meus dados na ficha, uma médica me
chamou para um consultório. Wallace e
Jax ficaram do lado de fora. Fiquei
muito grata por isso, pois não queria ser
exposta para mais ninguém que não
fosse o Logan.
— Bom dia, senhorita!
— Bom dia! — Retribui o sorriso
da médica ao me acomodar na cadeira
que ela havia indicado.
Apesar de branco, o consultório
dela tinha alguns objetos divertidos e
fotos de família, o que fizeram com que
eu me sentisse segura.
— Não é escocesa, é?
Fiz que não.
— É tão perceptível assim?
— Um pouco. — Ajeitou os
óculos redondos sobre o nariz, eles
eram tão grossos que faziam os seus
olhos parecerem maiores. — Acho que
por causa dos trejeitos e algumas
expressões que são comuns aos
americanos, e a maioria dos estrangeiros
nativos de outros países acabam
absorvendo.
— Sou brasileira.
— Ah, Brasil! País quente e
lindo.
— Já esteve lá alguma vez? —
fiquei curiosa.
— Minha lua de mel foi em
Fortaleza.
— Nossa! Incrível. — Ela pegou
a ficha e leu. Fiquei tensa pela forma
como ela franziu o cenho e arqueou as
sobrancelhas.
— O que foi?
— Exames para todas as
possíveis DST’S?
— É! — Engoli em seco,
apertando a lateral da cadeira.
— Sei que são algumas perguntas
incômodas, mas eu precisei fazê-las.
Tudo bem?
Assenti. Não tinha escolhas, mas,
no fundo, estava com muito medo. Não
bastava todo o inferno que aqueles
traficantes haviam me feito passar, se
eles tivessem me passado alguma
doença, as minhas chances de continuar
com o Logan seriam brutalmente
reduzidas, ou ficariam nulas.
— Fez sexo recentemente sem
preservativos?
Respirei fundo, acreditando que o
melhor a se fazer era contar para a
médica o que eu havia passado.
Comecei com a morte da minha mãe, e
terminei falando sobre a minha vontade
de continuar na Escócia e com o Logan.
Quando voltei a encará-la, os olhos dela
estavam cheios de lágrimas.
A médica se levantou, deu a volta
na mesa e me deu um abraço. Abracei-a
de volta, surpresa. Já tinha doído tanto
que eu nem me lembrava do quanto
machucava.
— Sinto muito por tudo o que
você passou, querida.
— Obrigada. — Abri um sorriso
amarelo, não sabendo como reagir. As
lembranças eram horríveis, me
machucavam, mas não queria e nem iria
me deixar dominar por elas.
Ela me soltou após longos
minutos e voltou para a sua cadeira.
Estava com os olhos marejados, mas
buscou manter a postura.
— Sei que é delicado, mas
precisarei fazer mais algumas perguntas,
tudo bem?
Fiz que sim.
Ela me perguntou sobre os abusos
e como eles haviam ocorrido. Acabei
ficando com o estômago embrulhado e
ela me deu um pouco de água.
Acreditava ter superado tudo, mas
parecia que não. Depois da pergunta, ela
fez alguns exames em mim e coletou o
meu sangue. O resultado sairia em até
duas horas e seria enviado para o
Wallace por e-mail. Confesso que estava
um tanto nervosa e com o coração
apertado, morria de medo de ter alguma
doença e isso impossibilitar a minha
relação com o Logan.
A médica também havia me
receitado um anticoncepcional oral que
eu teria que tomar todos os dias. Ele só
seria importante se Logan e eu
continuássemos fazendo sexo.
Assim que saí do consultório,
Wallace se levantou do banco onde
estava sentado, mexendo no celular, e
Jax ajeitou a postura, puxando a barra
do blazer que havia enrugado.
— Vamos? — Coloquei as mãos
nos bolsos, acanhada, e fitei o chão
claro sob os meus pés.
— Fez todos os exames? —
questionou-me, sério. Será que estava
achando que eu tentaria enganar a ele
e ao Logan?
— Fiz todos os que você pediu.
— Tirei um papel, que havia dobrado e
colocado no bolso, e entreguei a ele. —
Essa é a receita do medicamento
anticoncepcional.
— Ótimo! Eu irei comprá-lo.
— Obrigada. — Dei um sorriso
amarelo, mas ele não me retribuiu.
— Iremos para o shopping agora.
— Ele me entregou um cartão de
crédito. — É para comprar as coisas
que você precisa, mas não exagere.
— Okay! — Fiquei contemplando
o cartão preto e dourado brilhante nas
minhas mãos. Ele tinha o nome do Logan
em alto-relevo. Era a primeira vez que
alguém me entregava um cartão como
aquele e dizia que eu poderia gastar.
Nunca tive um cartão de crédito.
Trabalhava com a minha mãe na pequena
loja que ela tinha na parte da tarde,
depois que chegava da escola, e
continuei assim quando comecei a cursar
a faculdade. Ela me pagava quinhentos
reais e não dava para fazer muita coisa,
muito menos um cartão.
Voltei com os dois homens até o
carro e seguimos para um shopping. Era
bem diferente dos shoppings que eu
estava acostumada, pois as lojas não
tinham altas paredes, pareciam todas
enormes quiosques e pertenciam às
marcas mais caras do mundo. Algo que
na vida que eu levava estava restrito
apenas aos meus sonhos.
Olhei para um vestido lindo e
quis me aproximar, mas busquei o rosto
do Wallace e esperei ele assentir antes
de entrar na loja.
— Posso ajudá-la, senhorita? —
Uma vendedora parou ao meu lado.
— Quero provar aquele. —
Apontei, empolgada. Que mulher não
gostava de fazer compras? — Tem o
meu tamanho?
— Temos sim. Acompanhe-me,
por favor.
Estava tão empolgada andando
pela loja que precisei me conter para
não dar pulinhos de felicidade. Meu
conto de fadas não se restringia apenas a
um castelo, afinal. Entrei para o
provador e a vendedora me entregou o
vestido. Vi o preço e engoli em seco,
nem sabia o quanto eram seiscentas
libras em reais, porém, certamente era
mais dinheiro do que havia segurado por
toda a minha vida. Wallace tinha falado
para eu maneirar, mas não teria me
levado até aquele shopping se eu não
pudesse comprar as roupas que eram
vendidas ali.
Saí do provador e parei na frente
deles.
— Lindo, não é?
Percebi que Jax iria dizer que
sim, mas apenas balançou a cabeça em
afirmativa.
— Posso levar esse?
— Pode.
— Obrigada! — Voltei saltitando
para o provador.
Devolvi o vestido para a
vendedora e ela me mostrou vários
outros modelos. Escolhi mais uns três e
paguei por tudo, entregando a ela o
cartão, cuja senha apenas o Wallace
sabia.
Depois seguimos para outra loja e
eu comprei sapatos e sandálias.
— O que acham? — Virei-me
para eles com uns óculos de sol no
rosto.
— É legal!
— Quase não faz sol no castelo.
— Vai que algum dia o Logan
decide me levar para um lugar mais
ensolarado?
Wallace não disse nada, apenas
bufou, revirando os olhos e eu ri,
entregando o cartão para a vendedora da
loja. O funcionário do Logan apenas se
aproximou e digitou a senha, sem
questionar muito, apesar de manter a
cara fechada.
Não sabia quanto era o limite
daquele cartão, mas achava que o
Wallace fosse me advertir antes que eu
estourasse.
Seguimos pelo shopping com
Wallace mal-humorado e Jax segurando
as minhas sacolas. Ao passarmos na
porta de uma loja de equipamentos
eletrônicos, eu os puxei para dentro.
Tinha tanto tempo que eu estava sem o
meu celular que até havia me esquecido
do quanto ele costumava ser importante
na minha antiga vida.
— O que quer aqui? —
questionou Wallace, parando na porta da
loja e olhando em volta.
— Um celular e um notebook. O
único acesso que tive a tecnologia é o
computador da biblioteca, queria muito
ter um só para mim. Iria poder voltar a
estudar pela internet, além de ver filmes,
séries...
— Okay! — Wallace me
interrompeu para que a minha
justificativa não se delongasse demais.
— Obrigada! — Dei um beijo na
bochecha dele e fui correndo até o
primeiro vendedor que encontrei.
Ele me mostrou vários modelos,
mas optei pelos mais simples, para que
o Wallace não achasse que eu estava
exagerando demais.
Estava saindo de outra loja de
roupas e segurando sacolas, quando
percebi que ele estava sentado em um
banco lendo algumas coisas no celular.
Sentei-me ao lado dele e estava tão
concentrado, que demorou a notar a
minha presença.
— Camila!
— O que foi? — Engoli em seco.
— Acabei de receber os
resultados dos seus exames.
— E qual o resultado? — Mordi
o lábio, tensa. Aquele e-mail poderia
decidir toda a minha vida, inclusive se
iria poder ficar ou não com tudo o que
havia comprado.
— Você não tem nenhuma doença.
— Que ótimo! — Não contive o
longo e profundo suspiro de alívio. —
Precisamos passar em uma farmácia
antes de voltarmos ao castelo?
— Sim. — Levantou-se e fez um
gesto para que eu seguisse na frente
dele.
Quando voltamos para o
helicóptero, com sacolas que não
cabiam mais nas nossas mãos, eu estava
feliz e ciente que só dependia de mim
para ter um recomeço. As oportunidades
me foram dadas e eu faria de tudo para
agarrá-las.
Capítulo vinte
Depois de passar o dia em
reunião com os funcionários, para
alinhar alguns detalhes de produção,
voltei para o castelo exausto. Tudo o
que mais queria era tomar um bom
banho, comer alguma coisa e me afundar
na cama. Resolvera tantas pendências
que acabara me esquecendo da mais
importante de todas: a Camila.
Havia pensado na sua segurança e
na vontade dela de permanecer ali. Na
Escócia, não seria tocada novamente por
aqueles que lhe causaram tão mal,
porém, esquecera-me das consequências
disso. Mantê-la perto de mim poderia
ser um risco, uma vez que não pensava
com clareza enquanto estávamos
próximos.
Estacionei o carro na garagem,
jogando a chave no bolso e entrei pela
lateral do castelo, seguindo até o meu
quarto. Desfiz-me do meu terno, fiz
alguns abdominais e exercícios na barra
antes de entrar para o banho. Desde que
Camila havia chegado, eu não me
exercitava direito, estava sempre com a
cabeça cheia, mas esperava conseguir
voltar a correr na manhã seguinte.
Depois do banho, fui para a
pequena sala de jantar que compunha os
aposentos do meu quarto. Elga sempre
servia minhas refeições lá quando eu
estava em casa, pontualmente às oito da
noite.
Ao passar pela porta, tomei um
susto ao me deparar com a Camila. Ela
estava sentada junto à mesa redonda de
madeira escura, que possuía refeição
posta para dois.
— O que está fazendo aqui? —
Cerrei os dentes.
— Estava conversando com a
Elga e ela me disse que você sempre faz
as refeições sozinho. Imaginei que não
precisasse ficar tão solitário hoje.
— Já pensou na possibilidade de
eu fazer as refeições sozinho porque
gosto de ficar sozinho? — Mantive a
postura altiva e séria.
— Ninguém gosta de ficar
sozinho.
— Eu gosto.
— Não o tempo todo. — Sorriu
maliciosa e eu entendi nas entrelinhas
sobre o que estava se referindo. Aquela
garota era louca?
— O que quer aqui?
— Jantar com você. — Apontou
para que eu me sentasse na sua frente.
Reparei bem nela antes de cogitar
atender o seu pedido. Estava linda. Não
que já não fosse, mas estava arrumada.
O cabelo arrumado, penteado e liso; os
olhos castanhos marcados por uma linha
preta; os lábios ressaltados por um
batom vermelho; usando um vestido do
mesmo tom, que se moldava às curvas
para lá de provocativas do seu corpo.
— Parece que o Wallace já a
levou para fazer compras.
— Sim! — Abriu um largo
sorriso. — Muito obrigada por tudo.
— Por nada. — Dei de ombros e
acabei me sentando diante dela. Até que
ponto ela pretendia arrastar com tudo
aquilo, eu não sei, mas estava
estranhamente disposto a pagar para
ver.
— Também fomos ao médico. O
Wallace contou para você sobre os meus
exames?
Fiz que não, puxando o prato para
perto de mim e pegando os talheres.
— Estou limpa, não tenho
nenhuma doença.
— Bom. — O meu tom frio não
foi o suficiente para apagar o sorriso
nos lábios dela.
— Tomei a liberdade de comprar
também um celular para mim, imagino
que não se importe.
— De forma alguma. — Dei de
ombros antes de juntar um pouco de
salada no meu garfo e levar à boca.
— Depois, pode me passar o seu
número. — Ela empurrou o aparelho,
que estava atrás do prato, para o meu
campo de visão.
Não pensei muito, apenas peguei
o aparelho, digitei o meu número e
devolvi para ela. No fundo, gostaria que
ela tivesse a mim para recorrer caso
algum problema aparecesse.
— Obrigada!
Beberiquei um gole do vinho e
Camila também dirigiu a sua atenção
para a comida. Distraído, pressionei os
meus lábios contra a taça ao sentir a
ponta dos seus pés subir pela minha
perna.
— O que está fazendo, Camila?
— Nada. — Fez-se de
desentendida, mas seu sorrisinho no
canto dos lábios a denunciava.
— Não me provoque.
— O ou quê? — Continuou
subindo o pé, até aproximá-lo da minha
virilha.
Percebi que ela estava me
fazendo perder completamente o juízo,
mas talvez já fosse tarde demais para
voltar atrás.
— Para com isso! — Empurrei o
pé dela e fiz com que parasse.
Ela se encolheu, bebeu mais
alguns goles do vinho e comeu o restante
do prato.
— Só comprou vestidos e
aparelhos eletrônicos? — Estava mais
curioso do que deveria. Precisava me
conter, odiava quando o controle
escorregava por entre os meus dedos.
Sentia uma ânsia insana por tomá-lo de
volta. Talvez fosse por isso que não
conseguia me controlar perto da Camila,
pois ela era completamente
imprevisível. Imaginava que ela fosse se
agarrar a possibilidade de liberdade e ir
embora, mas, ao contrário disso, ainda
estava ali, me provocando e testando os
meus limites.
— Também comprei sapatos —
respondeu a minha pergunta após longos
minutos.
Mantive o olhar firme nela e
afunilei os olhos. Tinha entendido a
minha pergunta, por qual motivo não
havia a respondido?
— O que mais?
— Você quer saber mais? —
Mordeu os lábios de um jeito sensual,
atraindo a minha atenção para o seu
rosto.
— Sim, eu quero. — Estiquei a
mão por debaixo da mesa e apertei a sua
coxa, fazendo-a soltar um gemidinho e
revirar os olhos.
— Algumas lingeries, talvez você
goste delas.
— Talvez?! Pagou com o meu
dinheiro, deveria pelo menos se esforçar
para me agradar.
— Estou fazendo isso... —
Curvou o corpo sobre a mesa,
insinuando os seios e o generoso decote
do vestido na minha direção. Se aquilo
não era um convite, eu não sabia mais o
que poderia ser. Camila havia
descoberto como eu gostava de transar
com as mulheres e parecia
estupidamente a fim de repetir a dose.
Soltei o talher que ainda estava
em uma mão e dei a volta na mesa.
Puxei-a pelo cabelo e fiz com que se
levantasse, encarando profundamente os
meus olhos.
— Você está brincando demais
com o perigo.
— Quer que eu fique
comportada? — questionou-me e eu não
respondi. Camila sabia o que eu iria
dizer, mas o estranhamento quanto a isso
não foi maior do que a minha vontade de
beijar seus lábios perigosamente
vermelhos.
Segurando firme a sua cabeça,
com meus dedos embrenhados entre os
fios, trouxe a boca dela até a minha e
percebi que Camila soltou o peso do seu
corpo, entregando-se completamente
para mim.
Era desse jeito que eu gostava
dela: calada, entregue e submissa...
— Eu não vou pegar tão leve com
você essa noite — disse, antes de
colocar a minha língua de volta na boca
dela.
Camila apoiou uma das mãos no
meu ombro enquanto correspondia ao
meu beijo com a mesma intensidade
feroz. Ela era uma mistura estranha de
fogo e tempestade que estava abalando
as minhas estruturas sem que eu
percebesse. Talvez notasse que ela
estava minando as minhas muralhas
apenas quando fosse tarde demais.
Capítulo vinte e um
No momento em que perdi o
equilíbrio das pernas, Logan envolveu a
minha cintura com o braço firme feito
aço. Eu mergulhei ainda mais no nosso
beijo, desfrutando-o gota a gota e
deliciando-me com o quanto era bom, a
melhor coisa que eu já havia provado na
vida.
— Hoje, as coisas não serão tão
fáceis quanto ontem — sussurrou ao pé
da minha orelha, me deixando
completamente arrepiada após
mordiscar o lóbulo.
— Eu estou preparada — afirmei
com convicção, sentindo o desejo pulsar
entre as minhas pernas enquanto as mãos
do Logan me percorriam e ele me
empurrava contra a mesa.
— Vem! — Segurou os meus
pulsos e me puxou com ele, fazendo-me
atravessar todo o castelo.
Quando Logan fechou a porta da
masmorra e acendeu as luzes, eu já
estava tremendo e com o coração
acelerado. Olhei à minha volta,
reconhecendo algumas coisas que me
provocaram espanto da primeira vez,
mas que já não assustavam mais.
Antes que ele ordenasse,
ajoelhei-me sobre o tapete e joguei o
cabelo para trás, deixando que o
prendesse. Não compreendia o motivo
de ele gostar de prender meu cabelo,
mas não achava a coisa mais importante
para perguntar no momento. Logan
escorregou os dedos pelo meu cabelo e
me deixei levar pelo estupor de ter seus
dedos roliços o penteando. Prendeu-o
com uma gominha como na noite anterior
e me puxou pelos ombros para que me
levantasse.
Parou atrás de mim, segurando o
zíper do meu vestido e eu fechei os
olhos, tombando a cabeça para o lado,
tornando mais fácil o seu trabalho de me
despir. Minha respiração estava calma,
contrastando extremamente com o
restante do meu corpo, que aguardava
em polvorosa pelo próximo toque quente
e provocativo da sua pele na minha.
Logan abriu o vestido e o
deslizou pelos meus ombros, o frio na
minha barriga aumentou quando a peça
foi ao chão e ele me virou de frente,
para que pudesse observar a lingerie
que eu havia escolhido.
— O que achou, senhor? — disse
a última palavra em um tom
provocativo, e Logan percebeu isso, mas
restringiu a sua indignação a apenas um
enrugar de sobrancelhas.
— Poderia ser um pouco menor.
— Fitou-me duramente ao passar o dedo
por dentro do elástico da minha calcinha
e precisei me conter para não
estremecer ou soltar um pequeno
gemido.
Jogar com ele era um teste apenas
para o coração, mas para o restante do
meu corpo, que beirava o colapso toda
vez que ele me encarava ou tocava.
— Irei querer vê-las.
— Em outras noites. — Sorri e
ele acabou me sorrindo de volta.
— Agora, tira tudo. — O olhar
baixo, de predador, me fazia estremecer
ao mesmo tempo em que me deixava
completamente excitada.
Abri o sutiã enquanto ele me
assistia, tirei-o e fiz o mesmo com a
minha calcinha. Tê-lo assistindo
enquanto eu me despia fazia o ato
parecer completamente proibido e
devasso, aumentando ainda mais a
adrenalina que corria pelas minhas
veias.
Achei que Logan fosse me levar
para a cama, mas ele me segurou e fez
com que eu me agachasse outra vez.
Caminhou até a cômoda e eu o
acompanhei com o canto de olho, com o
coração alternando entre batidas lentas e
desesperadas. O que ele iria fazer
comigo a seguir era sempre uma
incógnita. Passou algo de couro diante
dos meus olhos e envolveu o meu
pescoço. Imaginei que fosse um simples
colar, até que ele puxou meu pescoço
para trás. Uma coleira! Pensei em
protestar devido ao susto, mas não
estava, de fato, me machucando.
Ele segurou a minha mão e me
puxou até a cadeira que estava em um
dos cantos da masmorra. Ela possuía um
estilo medieval, mas seu assento e
encosto possuíam um estofado
confortável.
— Senta! — Abaixou-me,
empurrando-me pelos ombros.
Acomodei-me na cadeira e Logan
se agachou, amarrando primeiro os meus
tornozelos e depois os meus pulsos para
trás. Com os movimentos completamente
restringidos, só me restava esperá-lo.
Logan tirou a camisa, colocou-a
sobre a cama e foi até a cômoda,
pegando dentro dela várias coisas que
não consegui distinguir e as colocou na
pequena mesa redonda ao meu lado.
Tínhamos a noite inteira e ele parecia
disposto a usar cada minuto para testar
os meus limites.
Pegou algo, que só notei ser uma
venda quando o aproximou do meu
rosto. Balancei a cabeça em negativa e
cerrei os dentes.
— Isso não, por favor.
Logan colocou a venda de volta
na mesa e ergueu o meu queixo com o
polegar, obrigando-me a encará-lo,
havia um misto de confusão e receio em
seus olhos azuis.
— Por que não?
— Quero poder olhar nos seus
olhos e ter certeza que é você enquanto
tudo acontece.
Poderia negar para mim mesma e
para todo mundo que não haviam ficado
sequelas, mas, no fundo, ainda era
guiada pelo medo.
— Certo. — Ele assentiu,
acatando bem a ideia de não me vendar.
Queria poder fitá-lo a todo o
momento e ter certeza de que havia
consentido com o que estava
acontecendo.
Ele pegou dois grampos. Fiquei
encarando-os e me perguntando para o
que era, até que segurou um dos meus
seios e prendeu o mamilo. Joguei a
cabeça para trás com a leve dor e a
recostei no encosto da cadeira,
estremecendo com a pressão que vinha
do estímulo constante aos meus
mamilos. Gemi o nome dele baixinho
enquanto ficava inquieta na cadeira; ao
mesmo tempo que havia prazer na
pressão dos grampos, eles eram
levemente dolorosos e eu queria tirá-los
dos meus seios, mas, com as mãos
amarradas, era impossível. Toda aquela
agonia e aflição me deixava ainda mais
sensível à excitação. A sensação, que
saía do estímulo improvável dos meus
seios e se alastrava por todo o meu
corpo, estava me deixando ensandecida.
Eles tinham uma corrente que ligava um
ao outro, e ficou como uma espécie de
colar sobre o meu abdômen.
Logan olhou para mim com ar de
quem estava se divertindo com o meu
momento de aflição e pegou algum gel
na mesa, passando-o nas mãos,
esfregando-as intensamente uma na
outra. Aguardei o que ele iria fazer em
um misto de ansiedade e desespero. Por
mais que houvesse fantasiado sensações
de calor e frio quando ele me tocasse,
não consegui me preparar.
Ele tocou a face interna da minha
coxa e eu saltei na cadeira, bom, apenas
o que permitiu minhas mãos e braços
atados. As mãos dele tinham me dado
um choque. Não um choque doloroso e
intenso, mas um leve choquinho que me
assustou. As mãos dele estavam
energizadas e, à medida que percorriam
a minha coxa, provocava pequenos
choques e formigamentos que me
deixavam ainda mais excitada.
Era agonizante sentir um impulso
louco de esfregar uma perna na outra
para conter o desejo pulsando no meu
sexo, mas não conseguir por estarem
amarradas. Ele parecia se divertir com
todo o meu desespero, pois estava
sorrindo ao contornar meu corpo,
deixando pequenas descargas elétricas
nos locais onde as palmas das suas mãos
me tocavam. Era impossível fechar os
olhos ou deixar de gemer.
Ele se ajoelhou diante de mim
com as mãos segurando firme as minhas
coxas e imaginei que fosse enfiar algum
objeto em mim, talvez outro vibrador.
Queria ter a sensação do brinquedo
vibrando dentro de mim, mas fui
completamente surpreendida outra vez
com seu hálito quente tocando a minha
intimidade.
Logan pegou algo sobre a mesa,
tirou a embalagem e jogou na boca.
Seria uma bala? Não tive tempo de
pensar a respeito, pois fui arrebatada
com a pressão da sua língua tocando o
meu clitóris. Rebolei na cadeira,
remexendo-me, sem poder fazer muita
coisa que não fosse gemer. A forma
como as minhas pernas estavam
amarradas na cadeira, bem distanciadas,
dava ao Logan total acesso à minha
vagina. Ele escorregou a língua pelos
grandes lábios e me penetrou levemente.
Seja lá o que ele estava chupando,
deixou sua língua refrescante de um jeito
que me provocava calafrios ao tocar
naquela parte tão sensível e quente de
mim. Era ainda mais arrebatador do que
o gel de pimenta e deu para ele o
controle sobre cada gemido meu, que
acontecia cada vez que introduzia a
língua no meu canal.
Logan apertou as faces internas
das minhas coxas e eu soltei um grito ao
ser varrida por outro choque em meio a
espasmos cada vez mais intensos de
prazer, que vinham em ondas no ritmo
em que ele me penetrava com a língua
ou me chupava com a boca.
Senti minhas forças serem
drenadas de mim enquanto eu gozava
com os lábios dele envolvendo o meu
clitóris, chupando-o com uma pressão
contida e alucinante, o que fez com que
o meu prazer se estendesse por minutos.
Tombei a cabeça para frente,
ofegante, com as pernas trêmulas e
fracas. Felizmente, estava sentada, pois,
caso contrário, teria desmoronado.
Enquanto eu me recuperava, Logan
soltou as minhas pernas e minhas mãos.
Fui levada por ele até a parede, ainda
trocando as pernas e tropeçando nos
meus próprios pés. Dessa vez, Logan
prendeu apenas os meus pulsos, com
meus braços cruzados em X e de costas
para ele. Seus dedos contornaram a
minha nádega, ele acariciou a minha
bunda antes de bater, mas o estalo do
tapa ecoou por toda a masmorra. Ardeu,
mas foi delicioso na mesma medida,
deixando meu corpo todo aceso outra
vez e ansioso por mais. Achei que ele
fosse me penetrar, mas o que senti foi
outro tapa. Espichei-me contra a parede
como uma gata manhosa e cravei as
minhas unhas atrás de mim enquanto
rebolava nas mãos dele, que seguravam
as minhas nádegas.
Logan finalmente tirou a bermuda
e a cueca, posicionando-se atrás de
mim. Soltei um gritinho de alívio,
quando ele me puxou pela cintura e me
encaixou nele, num tranco firme,
entrando em mim sem qualquer
dificuldade. Estava molhada e mais do
que pronta. Esfregava a minha bunda na
sua pélvis enquanto ele me puxava para
trás, cravando-se o mais fundo possível
em meu interior, seu pau pulsando,
abrindo espaço e tocando a entrada do
meu útero.
Dessa vez, não houve dor e me
senti no meu paraíso particular. Nos
movíamos quase que instintivamente.
Ainda estava com as mãos atadas, mas o
fato de ter minhas pernas livres, me
ajudava a levar meu corpo até o Logan
sem esperar que ele viesse até mim.
Meus gemidos se tornaram mais
audíveis e Logan puxou a coleira,
levando a minha cabeça para trás, até
que eu a apoiasse no seu ombro.
Embriagada por cada onda de
prazer que me varria, até que fosse
levada ao orgasmo novamente. Assim
que Logan apertou um dos meus seios,
que já estava altamente estimulado pelo
prendedor de mamilo, eu desvaneci nos
braços dele, sendo sustentada pelas
amarras que atavam meus pulsos. Ele
continuou se movendo, dessa vez com
mais força, até que senti um líquido
quente jorrar para dentro de mim.
Logan soltou as minhas mãos, mas
precisou me segurar para que eu não
caísse no chão e ficou com os braços ao
redor da minha cintura até que eu
firmasse as minhas pernas. Minha visão
estava embaçada e minha boca seca,
como se eu estivesse há horas sem tomar
qualquer líquido.
Ele me soltou e saiu de dentro de
mim, ignorando os meus gritinhos de
protesto. O vi se limpar com algo que
me pareceu um lenço umedecido, antes
de colocar a cueca e a calça.
— Tem um banheiro ali atrás,
você pode ser lavar lá.
Só depois que ele falou isso que
percebi que o esperma dele estava
escorrendo pelas minhas pernas. Ao me
tocar que havíamos transado sem
camisinha, fez sentido a preocupação
dele em saber se eu possuía alguma
doença e para que eu usasse algum
método contraceptivo. Era provável que
transarmos sem camisinha fosse se
tornar um hábito.
Iria me virar para encará-lo e
comentar alguma coisa, mas antes que eu
fizesse isso, ele foi embora e me deixou
sozinha, nua e completamente sem
forças.
Capítulo vinte e dois
Acordei empolgado naquela
manhã, não poderia negar que estava
gostando do rumo que a situação acabou
tomando. Abominava a ideia de ter uma
escrava sexual, mas o fato de ter Camila
ali ao meu alcance, toda vez que
quisesse uma foda, era no mínimo
interessante. Obviamente, ela poderia ir
embora no momento que desejasse,
porém, enquanto ela continuasse como
minha hóspede, iria desfrutar da sua
companhia. Saber que os testes dela
para DSTs deram negativo me deixou
ainda mais tranquilo. Fazia tempo que
não transava com alguém sem camisinha
ou lambia uma boceta. Por mais que o
Wallace se certificasse de que as
mulheres com quem eu trepava
estivessem limpas, elas ainda eram
putas e eu ficava receoso, mas com a
Camila, tinha certeza de que era o único
homem para quem ela andava abrindo as
pernas.
— Senhor? — Um funcionário
entrou no meu escritório na minha
destilaria e me tirou da minha divagação
momentânea a respeito da mulher que eu
estava abrigando na minha casa.
— Sim!? — Sacudi a cabeça,
tentando colocar os pensamentos em
ordem.
— Os suecos chegaram para a
reunião.
— Leve-os para a sala e diga que
chegarei em alguns minutos.
— Sim, senhor!
Assim que o funcionário saiu,
levantei da minha cadeira e ajeitei o
meu terno. Precisava tratar de negócios,
deixando para pensar na Camila quando
chegasse em casa. Ela era problema ou
solução para outro momento.
Deixei meu escritório e segui
pelo mezanino da destilaria até chegar à
sala de reunião, onde um grupo contendo
duas mulheres e três homens aguardava
por mim. Eles eram responsáveis por
uma rede de empórios por toda a Suécia
e, se fechássemos contrato, o acordo me
renderia um lucro de milhares de libras.
— Bom dia! — Sorri ao entrar na
sala. — É um prazer recebê-los — falei
em sueco, querendo parecer receptivo,
ainda que arranhasse um pouco o
idioma.
— Senhor Mackenzie. — Um
homem deu um passo para frente e me
estendeu a mão. Assim que eu o
cumprimentei, os outros fizeram o
mesmo.
— Podemos falar na sua língua —
disse uma das mulheres, sem tirar os
olhos de mim. Percebi que, se
dependesse dela, o nosso acordo seria
fechado sem qualquer restrição.
Sentei-me no topo da mesa e
indiquei os lugares para os meus
convidados; à frente de cada um, estava
um catálogo com todas as bebidas,
inclusive a água mineral que era
extraída das montanhas não muito
distantes daquele prédio.
— Como já havíamos conversado
anteriormente, tenho um grande interesse
de oferecer o meu produto na rede de
vocês — comecei a falar, quando senti o
meu celular vibrar.
Ignorei a mensagem que havia
recebido e continuei falando com os
empresários, até que eles pararam para
observar o catálogo. Olhei rapidamente,
imaginando ser alguma coisa do
Wallace, ele resolvia tudo no castelo e
poderia ter encontrado algum problema,
mas não era nada disso. Era uma
mensagem da Camila e a imagem
exibida na tela do meu celular me
deixou completamente desconcertado. O
que diabos era aquilo?!
Não havia legenda, nenhum texto,
apenas uma imagem, porém, achei que
dispensava explicações. Uma imagem
valia mais do que mil palavras, como
costumavam dizer. Na foto, Camila
estava com uma meia-arrastão de corpo
inteiro, que cobria dos seus tornozelos
aos pulsos e, ao mesmo tempo, mostrava
tudo através dos quadriculados enormes,
que pareciam uma rede de pesca. Como
se não bastasse a roupa, ela estava em
um ângulo que me deixava ver
parcialmente o seu sexo. Para completar,
havia um buraco na meia para deixá-lo
de fora. Dei zoom na foto, observando a
forma como os mamilos dela se
espremiam para passar pelos buracos da
meia. Fiquei duro e senti o meu rosto
arder, sendo impossível de evitar. Tinha
certeza de que, se estivesse sozinho no
meu escritório, acabaria batendo
punheta para a maldita foto. Aquela
menina tinha ficado louca?
— Senhor Mackenzie? — A
mulher que me comia com o olhar me
chamou. — Está tudo bem?
— Sim, claro que sim! — Abri
um sorriso amarelo, tentando parecer o
mais compenetrado possível, e coloquei
a mão sobre o pau para disfarçar que ele
estava duro e esticava o tecido da calça.
— O que acharam dos produtos? Claro
que os levarei daqui a pouco por um
tour pela destilaria, onde poderão
degustar das bebidas e conhecer um
pouco mais sobre a nossa história. Sei
bem o quanto o mundo está ávido por
mais coisas com a essência dos clãs
escoceses.
— Com toda a certeza. — A
mulher umedeceu os lábios e confesso
que o fato de ela ser feia ajudou a
acalmar o volume dentro das minhas
calças.
Tudo o que tentei naquela tarde
foi tratar de negócios e me esquecer da
foto que Camila havia enviado para
mim, porém, acabei falhando
miseravelmente.

Cheguei no castelo junto com a


noite. Estacionei meu caro de qualquer
jeito, parcialmente torto, e entrei sem me
preocupar com qualquer outra coisa que
não fosse encontrar a garota. Ela não
estava no seu quarto e nem na
biblioteca, mas a encontrei na cozinha.
De longe, pude vê-la debruçada
sobre uma das bancadas, conversando
com a Elga sobre um assunto qualquer
como se nada tivesse acontecido. Ela
estava com um vestido florido e rodado,
como se fosse uma bonequinha, mas suas
pernas estavam cobertas pela meia-
arrastão. Será que, por debaixo da veste
quase infantil, ela estava vestindo a
peça que usara para estragar o meu
dia?
— Camila! — rosnei ao chegar na
porta da cozinha.
Ela se encolheu como se não
soubesse o que havia acontecido e Elga
arregalou os olhos, preocupada com
toda a minha fúria. A pobre cozinheira
não sabia o que aquela menina havia
aprontado comigo. Não permitiria que
brincasse daquele jeito e saísse impune.
— O que foi? — Fez-se de
desentendida, mantendo o olhar
angelical.
— Ainda tem a coragem de me
perguntar o que foi? — Cheguei perto
dela e a puxei pelo pulso.
— Senhor, por favor, não
machuque a menina. — Elga tentou se
intrometer, mas apenas lancei para ela
um olhar feroz.
Estava puto, talvez não devesse,
mas estava. Puto por ter ficado tão
excitado.
— Tudo bem, Elga, não se
preocupa. — Camila sorriu para ela e
permitiu que eu a arrastasse para longe
dali.
Parei num corredor, em uma
distância segura da cozinha e da entrada
do castelo. Acreditava que, ali, nenhum
empregado fosse nos ver, e se visse,
foda-se.
— Você ficou maluca?!
— Não gostou da minha foto? —
Encolheu-se com um ar decepcionado.
— Comprou a porra de um
celular para ficar me mandando nude?
— Não, mas achei que você
pudesse gostar.
— Tenho assuntos muito
importantes para tratar quando estou
trabalhando e não posso ficar excitado
enquanto converso com possíveis
parceiros de negócios.
— Você ficou excitado? — Os
olhos dela brilharam e percebi que a
mulher ouviu apenas o que quis.
— Caralho, Camila!
— Não precisa ficar bravo. —
Fez um ar todo manhoso ao puxar a
minha mão e colocá-la entre as suas
pernas, por dentro do vestido.
Senti as fibras da meia-arrastão e
a garota tola e imprudente guiou meus
dedos até a sua intimidade. Senti a
umidade, os lábios e o clitóris inchado,
e quando o contornei com o dedo,
Camila deu um gemidinho ainda maior.
— Estava esse tempo todo sem
calcinha?
Fez que sim.
— Esperando você chegar.
Naquele momento, eu tive certeza
de que ela me faria perder a cabeça,
pois meus últimos fios de racionalidade
foram arrancados quando eu a empurrei
contra a parede. Mordisquei seus lábios
e a beijei cheio de fome, desejo, raiva e
descontrole, enquanto subia suas pernas
e a fazia abraçar a minha cintura.
Apertei-a mais contra a parede, para
mantê-la firme, e forcei as alças do seu
vestido para baixo, até que seus seios
ficassem expostos e seguros pela meia,
assim como na foto.
Mordisquei o mamilo
pronunciado que estava para fora das
fibras, sentindo uma fera urrando dentro
de mim, selvagem e completamente
descontrolada. Abri o zíper da minha
calça social e extraí o meu pau, que
estava mais do que melado por ter
passado o dia inteiro na vontade.
— Escuta aqui, garota — rosnei
ao pé do ouvido dela e percebi que
estava estremecendo contra mim —, ao
caralho essa coisa de que temos a noite
inteira. Não me mande outra foto dessa
se não quiser ser fodida com força. Eu
tenho regras, mas se você desobedecê-
las, eu não vou ter dó da sua boceta —
ameacei, esperando que ela pensasse
duas vezes antes de fazer algo tão
irresponsável assim novamente.
— Então me fode. — Esfregou o
corpo em mim, pedindo.
Não tive tempo para pensar
direito, foi só um impulso. Meti nela, ali
mesmo, no meio do corredor. Ao inferno
alguém que passasse ali e achasse
imoral. Queria fazer com que ela
pagasse pela sua atitude com gemidos.
Com uma mão, eu segurei a parede, e
com a outra, eu segurei a cintura dela,
descarregando de uma vez toda a
vontade que havia acumulado. Não fui
paciente, nem delicado, muito menos me
perguntei se estava a machucando
enquanto a fazia bater as costas na
parede. Contudo, seus gemidos não eram
de dor e o doce agarre cada vez mais
intensos dos músculos do seu canal no
meu pau, mostravam que a minha
punição estava bem longe de ser ruim
para ela.
Estava tão descontrolado que não
me esforcei para me conter ou fazer
durar, queria puni-la pela
irresponsabilidade, mas estávamos
apenas sentindo prazer. Gozei nela e
Camila continuou se esfregando em mim,
até encontrar o próprio orgasmo.
— Tem certeza que não quer mais
fotos como aquela? — Ela ofegou,
escorando-se na parede quando a tirei
do meu colo.
— Camila, precisa parar com
isso. Atrapalha o meu trabalho. —
Estava nitidamente mais calmo depois
de ter transado com ela feito um animal.
— Tudo bem. — Ela afagou meu
ombro e passou por mim, seguindo até
as escadas. Presumi que fosse para o seu
quarto tomar um banho e tirar aquela
maldita meia.
Ajeitei a minha calça e respirei
fundo. Para onde diabos havia ido o
meu controle?
Capítulo vinte e três
Remexi na cama quando os
primeiros raios da manhã tocaram o meu
rosto. Espreguicei em meio a um
sorriso. Tinha corrido um risco, levado
o Logan ao limite e lidado com as
consequências disso. Por sorte, elas
foram ainda melhores do que eu
imaginava. Ele poderia ter me punido,
brigado comigo, me amarrado,
chicoteado, feito milhares de coisas,
mas acabou apenas querendo concretizar
o desejo que a foto despertou nele.
Queria que ele me quisesse muito e
parecia estar conseguindo.
Logan não me levou para a
masmorra depois do sexo no corredor,
mas se tinha considerado a noite
perdida? Muito pelo contrário. Ver que
ele não tinha conseguido se conter me
deu mais um ponto de vitória naquela
disputa.
Levantei-me da cama, fui até o
banheiro, fiz minha higiene pessoal e
coloquei roupas mais comportadas,
apenas uma bermuda e uma camiseta.
Não podia exagerar, sabia disso ou ele
se irritaria tanto ao ponto de me
expulsar dali. Isso era o que eu menos
queria.
Imaginei que ele já havia saído
para trabalhar e desci direto para a
cozinha. Encontrei Elga mexendo em
uma massa, talvez um pão. Ela se
assustou quando me viu parada na porta.
— Menina!
— Oi! Dormiu bem?
— Sim, preocupada, mas dormi
bem.
— O que aconteceu? — Cheguei
mais perto dela e puxei um banco para
me sentar ao seu lado.
— Você e o senhor ontem, o que
diabos foi aquilo?! — Bateu a farinha
das mãos no avental antes de segurar a
cintura.
— Ah! — Abri um sorriso
amarelo.
— Ele machucou você?
— Não, Elga, claro que não.
— Então, o que foi aquela gritaria
toda no corredor, e os gemidos?
— Sexo. — Escondi o rosto entre
as mãos e a cozinheira ficou
completamente desconcertada.
Elga era o mais perto de alguém
que verdadeiramente se preocupava
comigo que eu tive nos últimos meses.
Eu havia contado para ela tudo o que
passei e choramos juntas por alguns
dias. Ela também sabia do meu intuito
de conquistar o Logan e,
consequentemente, um lugar definitivo
naquele castelo.
— Você parece tê-lo tirado do
sério. — Balançou a cabeça em
negativa, repreendendo-me.
— Só mandei uma foto, nada
demais.
— Que foto? — Franziu o cenho,
descrente de ser algo tão simples, pois
uma bobagem não causaria os efeitos
que causou.
— Uma praticamente nua
enquanto ele estava trabalhando.
— Menina!
— Só queria que ele pensasse em
mim.
— Criança — suspirou ao afagar
o meu ombro –, pode estar se arriscando
demais. Ele não passou todo esse tempo
sozinho sem motivo. Tem muita
dificuldade para se ligar às pessoas.
Estou aqui desde que ele era menino,
sempre foi uma criança muito distante e
solitária. Pode apostar alto demais e
acabar sem nada.
— Eu já não tenho nada, Elga.
Mas sou muito feliz aqui.
Ela se afastou e retornou para a
massa do pão. Sabia que ela estava com
medo, em outras ocasiões, eu também
estaria, porém, não era mais a menina
feliz que tinha passado na faculdade de
moda e que ajudava a mãe em uma loja
de roupas.
Eu não iria voltar para o Brasil e
correr o risco de enfrentar meu padrasto
enquanto catava os cacos que restavam
da minha antiga vida. Tinha uma chance
de ter o Logan e iria agarrá-la com
unhas e dentes. Ele era solitário, eu
também, ele poderia cuidar de mim, e
eu, dar o amor que ele não teve.

Depois do nosso almoço, ajudei a


Elga lavando as louças e voltei para o
quarto, ficando lá no período da tarde.
Wallace havia deixado o cartão do
Logan comigo e eu o usei para pagar um
curso a distância, assim, aproveitava o
meu tempo livre para estudar. Ainda
tinha vontade de poder trabalhar com
moda um dia, ainda que isso ficasse
apenas no sonho.
— Senhorita, não saia do quarto
— Wallace apareceu na minha porta e eu
tomei um susto enorme.
— Por que não? — Franzi o
cenho.
Será que eu havia irritado tanto
o Logan na noite anterior que ele havia
pedido ao capacho para me manter
longe dele? Caso fosse isso, iria
precisar reverter a situação ao meu
favor.
— Wallace, escuta, sei que o
Logan pode....
— Só fica aqui! — Nem terminou
de falar antes de fechar a porta na minha
cara.
Ele não poderia me prender
daquele jeito por causa de uma maldita
foto, poderia?
— Wallace! — Ele não respondeu
e eu fiquei furiosa.
Não iria deixar que o Logan
fizesse aquilo comigo. Disse que eu era
livre naquele castelo e o recordaria
disso.
Capítulo vinte e
quatro
Sem reuniões ou fotos
comprometedoras da Camila, meu dia de
trabalho acabou sendo um marasmo. No
fim do expediente, juntei as minhas
coisas e voltei para o castelo. Confesso
que tinha um estímulo de um metro e
sessenta, e bastante atrevida, que me
fazia querer chegar logo.
Não havia admitido para mim,
para o Wallace, ou para qualquer
pessoa, que eu estava me acostumando a
presença da Camila na minha casa. Por
mais que ela me tirasse do eixo e me
deixasse completamente desconcertado
às vezes, ela dava uma vida ao castelo
que sempre fora tão escuro. Não podia
negar que o ambiente frio, antigo e
afastado de tudo, era um reflexo de mim.
Iria tomar um banho e talvez
chamá-la para jantar comigo, antes que
eu pudesse levá-la para a masmorra.
Quem sabe, até exigisse que usasse
aquela meia-arrastão de corpo inteiro
outra vez, apenas a meia.
Estava fantasiando com a Camila
quando entrei no hall do castelo, mas
antes que eu subisse o primeiro degrau
da escada, ouvi um chamado da sala de
visitas formal. Pensei que fosse um
delírio terrível antes de ouvir
novamente.
— Logan, querido.
Fechei os olhos e inspirei
profundamente.
Ela não está aqui... É coisa da
minha cabeça.
— Logan, filho! — Braços finos
me envolveram, mas eu a empurrei antes
que pudesse prolongar o abraço.
— O que está fazendo aqui?! —
rosnei enquanto ela cambaleava alguns
passos para trás.
— Meu amor, achei que ia ficar
mais feliz de ver a sua mãe.
Havia uma dezena de sentimentos
dentro de mim, no entanto, tinha a total
certeza de que nenhum deles era
felicidade ou algo que fosse sinônimo de
alegria.
A mulher loira e de olhos verdes,
não estava muito diferente da última
imagem mental que eu tinha dela. Um
vestido preto, com o casaco marrom
sobre os ombros, joias nos pulsos,
orelhas e pescoço, esbanjava a vida
ostentosa que sempre quis ter e jogou
todas as cartas para isso, inclusive ter
um filho que ela abandonara.
— Falei para você não vir.
Wallace não transferiu o dinheiro?
— Eu agradeço o presente, mas
sabe que não foi por ele que eu liguei.
— Foi para me atormentar, então?
— Estava arisco a presença e qualquer
aproximação dela.
— Querido — ela suspirou,
fazendo bem o papel de chateada –, não
aja como se eu não sentisse a sua falta.
Dessa forma, me deixa muito chateada.
— Coitada, não é mesmo? — Ri,
sarcástico. — Vou pedir ao Wallace
para levar você a Edimburgo, de lá,
pode pegar um voo de volta para Paris.
Vá para a Champs-Élysées fazer
compras e gastar o meu dinheiro, mas
fique longe daqui.
— Não sei o que fiz para ser tão
mal recebida pelo meu próprio filho.
— Precisa que eu comece a
listar? — Mantive os braços cruzados.
— Wallace vai levá-la embora.
— Por favor, querido, quero
passar um tempo com você.
— Logan? — Ouvi outra voz me
chamando.
Engoli em seco. Pronto! O circo
estava armado. Virei-me e vi a Camila
parada a alguns metros, observando a
mim e a minha mãe com um ar confuso.
A chegada da Amélia me fez esquecer
do problema que poderia enfrentar
quando as duas acabassem se
esbarrando.
— Logan, o Wallace me pediu
para esperar no quarto, não imaginei que
você estava recebendo visitas. — Ela
alternou o olhar entre mim e a Amélia. O
que estava procurando? Tentei não me
importar com isso, mas era difícil. O
que iria dizer quando perguntas
inadequadas começassem a ser feitas?
— Quem é a garota adorável,
filho? — Amélia caminhou até a Camila
e percebi que a media com o olhar, cada
canto da menina e isso me deixou ainda
mais irritado. Já me bastava ter que
lidar com a Camila, não precisava da
minha mãe tornando ainda mais
complexa toda aquela situação.
— Filho? — Camila buscou o
meu olhar e balancei a cabeça em
afirmativa, não tinha a escolha de mentir
naquela situação.
— Sou Amélia Bordeaux, mãe do
Logan. — Ela ajeitou a bolsa e estendeu
a mão esperando ser cumprimentada, e
principalmente esperando que a garota
se apresentasse.
Neguei com a cabeça, encarando
a Camila de forma severa para que ela
não abrisse a boca. Já tinha problemas
demais para lidar, não precisava da
minha mãe intrometida neles.
— Sou Camila, Camila Ferreira.
— Apertou a mão da minha mãe e abriu
um sorriso amistoso, tentando parecer
simpática, mas percebi que estava
receosa.
— Imagino que não seja uma
empregada, para chamar o meu filho
pelo nome.
Foi ingenuidade minha imaginar
que ela contentaria sua curiosidade ao
saber o nome da Camila, porém, percebi
que a situação estava cada vez mais
complicada.
— Ela é... — Mordi os lábios. O
que eu iria dizer? Essa é uma garota
que comprei num leilão e agora
estamos trepando.
— Sou a namorada dele. —
Camila abriu um largo sorriso. Meu
olhar de fúria, atravessado por raios de
raiva, não foi o suficiente para impedi-
la de dar a volta na minha mãe e vir
abraçar a minha cintura.
— Que porra é essa? —
murmurei ao aproximar a minha boca da
orelha dela, baixo o suficiente para que
apenas Camila ouvisse.
— Prefere contar para ela que me
comprou? Fica à vontade.
Maldita! Camila entendeu a
situação e pareceu brincar com isso.
Estava furioso por ela ter dito aquilo. Eu
não era ao tipo de homem que me
envolvia, muito menos tinha uma
namorada, minha mãe sabia disso,
contudo, por mais que ela ficasse
desconfiada sobre a veracidade dos
fatos, era melhor que não soubesse o que
realmente havia acontecido para que a
Camila estivesse ali.
— Sobe para o quarto. — Apertei
a bunda da Camila, fazendo-a dar um
saltinho e soltar um gemido.
— Vai jantar comigo?
— Vou.
Ela se virou, me deu um rápido
selinho, acenou para minha mãe e voltou
pelo corredor, subindo a escada até
desaparecer de vista.
— Namorada, Logan? — Minha
mãe ficou boquiaberta. Acho que foi a
primeira vez que vi aquela mulher
realmente surpresa com alguma coisa,
era como se, com suas artimanhas,
estivesse sempre um passo à frente de
tudo. — Por que não me contou?
— Desde quando eu conto alguma
coisa para você?
— Tem razão. — Fungou, como
se as minhas palavras houvessem a
ferido. Deveria ser atriz e não golpista,
estaria ganhando dinheiro de uma forma
muito mais honesta. — Sinto muito por
todo o tempo que passamos afastados,
mas saiba que eu iriei recompensar cada
segundo.
— Não precisa gastar seu tempo
com isso. Só de pegar um avião de volta
para a França eu ficarei bem feliz.
— Não adianta ficar com essa
cara. Vim para passar um tempo com
você e farei isso. É bom que eu terei a
oportunidade de conhecer a sua
namorada. Ela não parece nova demais
para você? Parece ser até menor de
idade. Não vá se meter em confusão por
causa de um rabo de saia, meu filho.
— Ela tem dezenove, não que
seja da sua conta.
— Vou adorar passar mais tempo
com ela.
— Fique longe dela, Amélia! —
rosnei, mostrando os dentes. Estava a
uma pequena gota de segurar a minha
mãe pelos ombros e enxotá-la do meu
castelo.
— Só quero saber se ela é boa o
suficiente para você.
— Com certeza, não é a mulher
que me abandonou quando eu era um
menino, que tem o direito de decidir
isso.
— Precisa parar de me julgar. —
Coçou os olhos, como se estivesse
tentando esconder as suas lágrimas de
crocodilo. — Você não faz ideia de tudo
o que eu já passei.
— Pois é, mãe! Coitada de você.
Agora, se me dá licença, tenho coisas
mais importantes para lidar do que com
os seus problemas. Pode esperar aqui
mesmo que o Wallace vai preparar o
helicóptero para levá-la embora.
— Eu vou ficar aqui, filho.
— Não vai, não! — Dei as costas
para ela e saí a procura do Wallace em
algum canto do castelo. Provavelmente
ele deveria estar se escondendo de mim,
pois sabia o quanto eu iria ficar puto ao
descobrir que a minha mãe havia
chegado.
Encontrei-o na biblioteca,
escondido atrás de uma estante alta de
madeira, fingindo organizar alguns
livros. Ficou na cara que ele estava
fugindo.
— Wallace!
Tomou um susto com o meu grito
e deixou dois livros caírem, mas eu me
curvei para pegá-los antes que tocassem
o chão.
— Senhor... — disse com a voz
tremida.
— O que eu falei sobre não
deixar a minha mãe vir para cá sob
nenhuma circunstância?
— O senhor já a viu?
— É claro que eu já a vi! — Bati
a mão na estante, fazendo-a tremer
inteira. — Minha mãe não é o tipo de
pessoa que tenta passar despercebida.
— Sinto muito, senhor. Ela
apareceu do nada e não quis sair. Pedi a
Camila para ficar no quarto e estava
esperando você chegar para que
resolvêssemos isso.
— Você acha que a Camila ficou?
— Maldita garota teimosa! —
Bufou. — O que aconteceu? O que a sua
mãe perguntou? Sabe da história dela?
— Camila disse que somos
namorados e eu não tive escolhas a não
ser confirmar a história dela. Se eu
falasse a verdade, a situação ficaria
ainda mais complicada.
— O que quer que eu faça,
senhor? — Ele estava pálido e meus
gritos não amenizavam a expressão de
espanto em seu rosto.
— Tire-a daqui, assim como
deveria ter feito no momento em que
percebeu a chegada dela. Já tenho
problemas demais para lidar, não
preciso desse.
— Tentarei convencê-la a ir.
— Tente, não, faça! Nem que
tenha que chamar o Jax ou qualquer
outro segurança da empresa dele para
colocar essa mulher para fora daqui.
— Sim, senhor. — Abaixou a
cabeça, assentindo. Esperava que o
Wallace desse logo um jeito naquela
situação.
Saí da biblioteca pisando duro.
Se havia algo que eu não gostava, era
perder o controle de tudo.
Capítulo vinte e
cinco
Voltei para o meu quarto e sentei
na cama, pensativa. Não sabia o que o
Logan tinha contra a mãe dele, mas,
através dos gritos e dos olhares, ficou
evidente que ele não gostava da
presença dela. Não estava no meu
direito julgar, mas fiquei curiosa.
Logan nunca tinha comentado
comigo sobre a mãe, não que ele
comentasse alguma coisa sobre a família
de modo geral. Elga falava que ele era
muito solitário, seu pai havia morrido
quando era muito criança e os avôs o
criaram. Esses também partiram há
alguns anos, mas da mãe eu não sabia
nada, até aquele momento. Independente
do motivo que fosse, eles não se
bicavam.
Ouvi uma batida na porta do
quarto e me levantei para abri-la.
Imaginei que fosse o Wallace, ou a Elga,
no máximo uma das mulheres que faziam
a limpeza de todos os cômodos daquela
casa enorme. Entretanto, não era
ninguém que passou pela minha cabeça.
Tomei um susto ao me deparar
com os olhos verdes da mãe do Logan.
— Senhora Amélia? — Fiquei
segurando a maçaneta da porta enquanto
a observava no corredor.
— Camila, certo?
Balancei a cabeça em afirmativo.
— Posso entrar?
Pensei em dizer que não, era o
que Logan iria querer que eu fizesse.
Porém, pensei melhor, não sabia qual
poder aquela mulher tinha sobre a vida
dele e era melhor não fazer inimizades,
já que queria ficar ali em definitivo.
— Pode. — Abri um pouco mais
a porta e saí do caminho para que ela
entrasse.
Acomodei-me na poltrona e ela se
sentou na cama, olhando para o quarto e
depois para mim. Parecia ter algo em
torno dos quarenta anos, imaginei que
tivesse bem mais e a idade fosse
disfarçada pelas plásticas e Botox.
— Esse quarto continua
exatamente como eu me lembro. Parece
que muitas coisas nesse castelo
permaneceram as mesmas desde o tempo
que me mudei.
— Isso faz muito tempo? —
Cruzei as pernas e tombei o corpo na
direção dela, curiosa.
— Provavelmente bem antes de
você nascer.
— Ah! — balbuciei, sem saber o
que dizer.
— Estou muito curiosa a seu
respeito. Meu filho nunca teve uma
namorada antes.
— Tem sempre uma primeira vez
— desconversei. Sabia que tinha me
arriscado muito ao dizer aquilo. Pela
expressão do Logan, ficou evidente que
ele não tinha gostado, mas a ocasião me
permitiu fazer isso e, se perguntasse, eu
simplesmente poderia dizer que foi o
melhor que consegui pensar no calor do
momento, sem me comprometer a
externar que, verdade seja dita, tudo o
que queria era realmente ser namorada
dele.
— Como se conheceram?
Engoli em seco. Se dando bem ou
não, era ela mãe, e interrogatórios
sempre faziam parte do processo quando
namorados conheciam a família.
Demorei um pouco pensando no que
dizer para ela, com toda a certeza ia ter
que omitir o clube de orgia e o leilão de
garotas virgens.
— Foi num bar em Londres.
Começamos a conversar, ele me pagou
algumas bebidas e quando me dei conta,
estávamos transando no banheiro. — Ri,
como se estivesse envergonhada de
contar aquilo para ela. Vergonha teria ao
dizer a verdade, que na primeira vez que
nos vimos, eu estava seminua e drogada.
— Vim para a Europa fazer um
mochilão, passar alguns dias em cada
país, mas aqui estou eu, estacionada na
Escócia. Sem arrependimentos, é claro.
Não poderia me esquecer de
combinar aquela história com o Logan
depois para que fossemos minimamente
convincentes.
— Imagino que não tenha mesmo.
— Ficou me analisando. Não sei dizer
se a minha história a convenceu, porém,
foi o suficiente para que ela não
perguntasse mais a respeito. — Deve ter
outras qualidades, além da beleza, para
chamar tanto atenção do meu filho.
— Espero que sim.
— Pretende se mudar para cá?
— Tenho algum tempo para ficar,
por causa do meu visto de turista. Vamos
decidir como as coisas ficam quando ele
estiver expirando.
— Compreendo. — Mordeu o
lábio e fiquei me perguntando o que
poderia estar passando pela cabeça
dela. Não me pareceu coisa boa. Talvez
ela fosse apenas uma mãe tentando
proteger o filho e eu estava ficando
preocupada à toa. — De qual país você
é?
— Brasil.
— Sim! Lembro das praias
lindas.
— De onde eu vim, não tinha
praia, mas sei que tem umas lindas pelo
país.
— Você... — Ela estava prestes a
fazer outra pergunta quando o Wallace
entrou no meu quarto e dirigiu um olhar
severo para nós duas. Apenas me
encolhi, mesmo que soubesse que não
tinha qualquer culpa.
— Amélia, preciso que me
acompanhe, por favor. O helicóptero já
está pronto.
— Não vou embora agora. —
Estufou o peito. — Pode avisar ao meu
filho que eu vim para passar alguns dias
com ele. E é isso que irei fazer.
— Amélia, por favor. — Ele
respirou e inspirou. Ficou evidente o
quanto estava fatigado com aquela
situação.
— Não vou!
— Vou tomar um banho. —
Levantei e fui até o closet pegar uma
peça de roupa, dentre tantas que eu
havia comprado com o cartão do Logan.
— Sim, que indelicadeza a minha.
— Amélia se levantou. — Nos vemos
no jantar, querida.
Assenti com um movimento de
cabeça e respirei aliviada quando ela
saiu do quarto. Wallace olhou torto para
mim. Mas o que ele esperava que eu
fizesse? Escorraçar a mulher estava fora
de cogitação.
Capítulo vinte e seis
De repente, a minha aguardada
noite de foda com a Camila na
masmorra, transformou-se em um
terrível pesadelo com a chegada da
minha mãe. Fui até o local do castelo
que usava para sexo e dominação e
coloquei um pesado cadeado na porta,
não me importava com os empregados
comentando, mas queria a minha mãe
bem longe daquele lugar.
Esperava que Wallace fosse levá-
la embora o quanto antes, estava
contando com isso, mas antes que eu
chegasse aos meus aposentos, fui
interceptado por ele no corredor,
dizendo que a minha mãe estava batendo
os pés de toda forma para ficar.
— O que quer que eu faça com
ela, senhor?
— Escorrace!
— É a sua mãe, senhor.
— Como se ela houvesse se
importado com isso antes.
— Senhor...
— Dê um jeito! — Passei por ele
e segui para o meu quarto.
Só queria tomar um banho e ficar
a sós com a Camila.
Depois de ter me barbeado e
lavado o cabelo, vesti uma camiseta
preta e uma calça de moletom antes de ir
para a sala de jantar. Esperava encontrar
a Camila, ou a Elga colocando a mesa,
mas a primeira que eu vi foi a minha
mãe.
— O que ainda está fazendo
aqui?!
— Já disse que eu quero passar
um tempo com você. Não adianta aquele
seu empregado tentar me escorraçar.
— Quanto você quer, mãe?
— Não quero dinheiro, querido.
— Então o que diabos está
fazendo aqui?! — Dei um grito tão alto
que vi a Camila parar na porta,
pensando longas vezes se deveria ou não
entrar.
— Quero um tempo com o meu
filho e poder contar uma ótima notícia.
— Ela balançou a mão na minha
direção, fazendo com que eu prestasse
atenção no anel de noivado que exibia.
— Eu vou me casar.
— Lamento pelo otário da vez.
— Logan!
— Eu não tenho nada a ver com o
que faz da vida ou em quem tenta dar um
golpe. Só quero que saia do meu castelo.
— Querido, por favor. Ele
descobriu que tenho um filho e quer
conhecê-lo. Sei que já peço demais para
você, mas, por favor, seja gentil quando
ele chegar amanhã para conhecê-lo.
— Ele vai vir para cá?
— Apenas por uma noite,
prometo não tomarmos muito do seu
tempo.
— Amélia... — Estava prestes a
xingar, quando Camila parou ao meu
lado e entrelaçou seus dedos aos meus.
Estranhamente, o calor da pele macia
dela e seu toque delicado fez com que eu
ficasse mais calmo. — Apenas um
jantar. Se não sumir da minha frente em
dois dias, prometo que arranco você
desse castelo nem que seja à força.
— Irá adorar conhecê-lo,
querido.
— Só quero que leve você para
bem longe daqui. — Virei-me para a
Camila, que me encarou num misto de
receio e medo. — Fala para Elga levar
o jantar no meu quarto. Quero ficar
sozinho.
Ela apenas assentiu e eu soltei a
sua mão, voltando para o interior do
quarto e batendo a porta atrás de mim.
Como, depois de tudo o que ela fez,
ainda tinha audácia de querer passar
como boa mãe?
Capítulo vinte e sete
Logan estava muito irritado e eu
não o julgava. Ninguém tratava a mãe
como ele estava tratando se não tivesse
motivos.
Também não fiquei na sala de
jantar. Avisei para a Elga servir o Logan
e fui para o meu quarto. Algo dentro de
mim me avisava para passar o mais
longe possível da mãe do Logan, se
quisesse continuar na minha jornada
para conquistá-lo.
Fiquei me perguntando se deveria
ir até o quarto dele, mas achei melhor
deixá-lo sozinho. Só o fato de não ter
recuado quando segurei a sua mão já era
um ótimo sinal.
Terminei o meu jantar, coloquei
as coisas num canto da pequena mesa
redonda, esperando a coragem para
descer os níveis de escada e colocar na
cozinha. Peguei um romance que havia
escolhido na biblioteca e sentei na
poltrona para ler. Abri onde estava
marcado, mas antes que lesse a primeira
frase, a porta do meu quarto foi aberta.
Precisava arrumar uma chave para
mantê-la trancada. Imaginei que fosse a
mãe do Logan, para me fazer mais um
milhão de perguntas, talvez tentando me
pegar em alguma contradição que
entregasse a minha mentira. Entretanto,
não era ela, surpreendi-me ao ver o
Logan. Ele estava levemente ofegante e
com as pupilas tingindo o azul dos seus
olhos com um negro enigmático.
— Logan... — sussurrei o nome
dele ao fechar o livro e o colocar sobre
a mesa.
— Sabe o que eu achei no meu
celular?
— O quê? — Fiz-me de
desentendida, ansiosa para ouvi-lo falar.
— Sua foto.
Abri um sorriso discreto e estendi
os pulsos para ele, assim o Logan
poderia prendê-los. Olhei para ele
melhor e percebi que ele carregava uma
pequena mala, como aquelas de
academia.
— Vai me levar para a masmorra?
— Meu coração acelerou ao pensar no
que ele poderia fazer comigo naquela
noite.
— Não. Essa noite não. Minha
mãe é enxerida e não quero que ela
saiba da existência daquele lugar. Vamos
ficar aqui, no seu quarto, e deixar que
ela pense que estamos transando como
um casal normal.
— Eu não sabia o que dizer. —
Encolhi-me, fingindo total inocência, na
esperança que ele acreditasse em mim.
— Você fala demais, garota. —
Ele jogou a mala sobre o livro e a abriu,
tirando algo de dentro dela que não
consegui identificar o que era. Uma bola
de plástico com duas hastes de couro. —
Ajoelha! — Num tom firme, carregado
pela sua voz grossa e seu sotaque, ele
me ordenou.
Fiz o que pediu, ficando de
joelhos no carpete diante dele. Logan
tirou uma gominha do bolso, penteou o
meu cabelo com as pontas dos dedos e o
prendeu em um rabo de cavalo, do jeito
que ele gostava. Então, passou na minha
frente a bola de plástico, pressionando-a
contra os meus lábios, até que eu abrisse
a boca. Me toquei que era uma mordaça
quando o Logan a prendeu atrás da
minha cabeça. Tentei falar alguma coisa,
mas consegui apenas emitir gemidos.
Ele me puxou pelos ombros e me
fez ficar de pé, segurou o rabo de cavalo
e puxou a minha cabeça até que a sua
boca encontrasse a minha orelha,
causando um frisson por todo o meu
corpo.
— Tira essa roupa e coloca a
meia arrastão de corpo todo. Quero
você só com ela.
Assenti e fui até o closet,
voltando alguns minutos depois vestida
da forma que ele havia me ordenado.
Ele me percorreu completamente com o
olhar e esse ar de predador me atiçou,
fazendo as minhas pernas estremecerem
e o desejo começar a pulsar entre elas.
Estava vestida dos ombros aos
tornozelos, mas o quadriculado era tão
grande que permitia ao Logan ver todo o
meu corpo, não apenas isso, havia um
buraco generoso no local da minha
vagina, para que ele pudesse entrar com
o pênis. Confesso que, quando comprei
aquilo, era exatamente aquele olhar de
fome que queria provocar nele.
Logan me pegou pelo braço e me
levou para a cama. Com a mordaça, tudo
o que eu tentava falar não passava de um
punhado de gemidos.
Deitei com as costas no colchão e
ele trouxe a mala até os pés da cama,
tirando dela uma haste preta com duas
algemas de couro nas pontas. Queria
perguntar o que era aquilo, mas não
consegui. Logan apenas puxou as minhas
pernas pelos tornozelos e prendeu cada
um em uma extremidade, deixando as
minhas pernas bem abertas. Havia outro
que ele usou para prender os meus
pulsos. Fiquei com os braços e pernas
abertos, além da boca bloqueada pela
mordaça, enquanto ele me observa.
Completamente presa, Logan tinha todo
controle sobre mim, mas eu confiava
nele.
Senti o calor pulsar na minha
intimidade, a vontade incontrolável de
fechar as pernas e esfregar uma na outra,
mas com aquele separador, era
impossível. Logan segurou a barra que
distanciava as minhas pernas e imaginei
que ele estivesse cogitando tirá-la, mas
ao invés disso, ele a puxou para os dois
lados, tornando-a maior, deixando as
minhas pernas o mais afastadas
possível.
Ele foi até a porta, viu que não
tinha chave para trancá-la e puxou a
poltrona para trás dela, para se
certificar de que ninguém iria entrar e
estragar o nosso momento.
Subiu na cama e me virou de
bruços. Meu gemido ficou ainda mais
abafado pela mordaça e pelo colchão.
Fui dominada por uma pontada de medo
regada a uma ansiedade insana. Não
estava familiarizada com aquelas coisas,
e cada noite de sexo com o Logan me
apresentava novas formas de ser
dominada por ele. Eu ansiava por todas
elas, pois tinha total confiança que não
importava o que ele fosse fazer comigo,
não iria me machucar.
Escorregou as pontas dos dedos
pela linha da minha coluna, até parar na
minha bunda e me dar um tapa. Gemi
com a leve ardência, rebolando na mão
dele, que media a minha nádega com a
palma. Ficou passando as mãos sem
qualquer pudor por ela, até descer o
indicador a uma parte de mim que já
havia sido brutalmente violada.
— Eu posso tocá-la aqui?
Meu corpo retesou. Tentei me
virar, mas não tinha qualquer controle
sobre mim estando presa daquele jeito.
Ele me acariciou lá com o dedo, fiquei
completamente desconcertada.
Lembranças ruins invadiram a minha
mente e tentei gritar, mas a mordaça não
permitia, nem era possível cuspi-la.
Logan percebeu a minha aflição
enquanto eu me debatia para tentar me
livrar da mordaça. Virou-me de frente
para ele e a tirou.
— Não! Por favor... — Minha voz
se perdeu em meio a súplica. — Dói!
Dói muito.
— Você confia em mim?
Estava receosa, mas balancei a
cabeça em afirmativa, pois confiava.
— Não vai doer. Só relaxa e me
deixa fazer.
Respirei fundo e fiquei
encarando-o, para assentir um longo
minuto depois.
Ele tirou a sua camisa e a calça
de moletom, colocando as peças de
roupa sobre a cabeceira da cama,
enquanto eu aguardava num misto de
ansiedade e receio. A dor que senti com
o meu padrasto, e depois com os
traficantes, era algo que não queria
reviver, principalmente com o Logan,
que havia me proporcionado tantas
coisas boas.
Pegou o meu rosto e trouxe para o
seu, e boa parte da minha tensão se
desfez na forma carinhosa com que
Logan me beijou. Esse carinho foi se
dissipando e logo se transformou em
algo mais feroz, selvagem. Queria
abraçar o seu pescoço, puxar seu cabelo
e odiei a forma como estava
completamente imobilizada. Ele
mordiscou meu lábio antes de deixar a
boca escorregar pelo meu pescoço,
chupar, morder e lamber minha garganta,
traçando um caminho até meus mamilos
eriçados, que se sobressaiam pelas
fendas da meia. Contornou-os com a
ponta da língua, deixando-os úmidos e
bem mais suscetíveis aos estímulos do
seu hálito quente e da brisa fresca da
noite que entrava pela janela e
serpenteava pelo quarto.
Logan continuou descendo com
beijos e provocações até encontrar o
caminho para o meu sexo. Colocou o
separador de pernas sobre os ombros,
mantendo-as abertas no ar, antes de se
curvar e lamber lentamente o meu
clitóris. Eu me retorci inteira e soltei um
gemidinho agudo. A onda de êxtase me
deixou eufórica e fez com que eu me
esquecesse de qualquer preocupação.
Não havia calma nem clemência na
forma como a sua língua brincava
comigo, em um beijo íntimo e
enlouquecedor. Um dos seus dedos
parou dentro do meu canal, fazendo-me
arquejar. Quando o Logan me tocava,
não havia dor, não havia medo, apenas
um prazer imensurável. Deixei ser
levada pelo orgasmo, gemendo, gozando
e me retorcendo toda na cama, lutando
contra os separadores de braços e
pernas.
Logan colocou as duas mãos sob
minhas nádegas e levantou meus quadris.
Sua língua desceu dos lábios do meu
sexo, até uma região mais enrugada e
prendeu minhas nádegas com tanta
firmeza entre os dedos, que não consegui
recusar o beijo tão inapropriado.
Logan afastou a cabeça e me
virou de bruços outra vez.
Envergonhada, enterrei a cabeça no
travesseiro, sabendo que não era a
apenas a minha vagina que ele estava
requisitando para si.
Senti algo gelado e levantei a
cabeça, tentando entender o que estava
acontecendo, mas tudo o que vi foi ele
derramando alguma coisa de um tubo.
— O que é isso?
— Lubrificante.
Antes que eu fizesse outra
pergunta, ele introduziu um dedo em
mim. Estava pronta para a dor, mas tudo
o que senti foi meus músculos se
adequando a presença dele. Então,
Logan introduziu outro dedo e aguardou.
Quando ele afastou a mão, imaginei que
houvesse desistido, mas ele apenas tirou
a cueca e colocou uma camisinha, antes
de elevar a minha cintura, colocando
alguns travesseiros por debaixo dela,
para que eu ficasse confortavelmente
com a bunda suspensa.
Suas mãos voltaram para a minha
cintura e senti a sua glande pressionar.
Fechei os olhos, escondi o rosto e me
preparei para a dor, mas ela não veio...
Não era a mesma sensação de quando
ele entrava na minha vagina, contudo,
passou bem longe da traumática
experiência de estar sendo rasgada a
cada investida. Logan começou a se
mover e eu sorri ao notar que poderia
ser confortável, e até prazeroso. Rebolei
nele e deixei que intensificasse os
movimentos, até que encontrasse o
próprio ápice.
Quando Logan acabou, ele saiu de
mim, me virou de frente, procurou meu
clitóris com o indicador e o estimulou
com movimentos circulares, até me fazer
gozar de novo.
Assim que nós recuperamos o
controle sobre nossos corpos, Logan me
soltou e guardou os separadores na
bolsa, juntamente com a mordaça.
Levantou e foi até o banheiro.
Provavelmente para jogar a camisinha
fora.
Quando percebi que ele começou
a juntar as suas coisas e cogitou vestir a
roupa, espichei-me para fora da cama e
segurei um dos seus pulsos, fazendo-o
olhar para mim.
— Fica aqui comigo — supliquei.
— Eu vou para o meu quarto.
— Fica! Vai ser mais fácil
convencer a sua mãe que nós somos
namorados se ficar aqui na cama,
comigo.
Ele balançou a cabeça em
negativa, mas ficou me encarando, como
se ponderasse o meu pedido.
— Por favor...
Olhou para o meu corpo mais uma
vez antes de deitar na cama.
Capítulo vinte e oito
Acordei com um peso no peito e
abri os olhos, percebendo que aquele
quarto era claro demais para ser o meu.
Olhei para baixo e percebi que Camila
estava dormindo calmamente em cima
de mim, aninhada ao meu peito. Tinha
me esquecido completamente de que
concordara em dormir com ela.
Não lembrava a última vez que
transei com uma mulher e acordei com
ela nos meus braços, nem me recordava
se isso já havia chegado a acontecer. A
sensação foi estranha, mas não posso
dizer que era ruim. Ela se moveu, ainda
dormindo e se aconchegou ainda mais,
por reflexo, acariciei seu cabelo. Meu
movimento a despertou e Camila
levantou a cabeça, olhando para mim.
— Bom dia! — Abriu um largo
sorriso que iluminou todo o quarto. Não
consegui compreender o motivo daquela
felicidade que inundou seus olhos e o
restante do seu rosto.
— Bom dia.
— Ainda estou me sentindo
melada.
— Deve ser o lubrificante que eu
usei em você ontem.
— Ah, claro. — Suas bochechas
coraram e eu ri da sua vergonha, pois
não via motivos para ela.
— Vamos levantar e tomar um
banho.
— Vai tomar banho comigo? — A
felicidade aumentou ainda mais no rosto
dela.
— Se você quiser tomar banho
sozinha, posso ir para o meu quarto e
deixá-la mais à vontade.
— Não! Quero que venha comigo.
Ela levantou da cama e me puxou
pela mão com tanta força, que conseguiu
me arrastar até o banheiro.
Abri a porta do box onde ficava a
ducha e a deixei entrar primeiro,
entrando logo depois. Camila abriu o
registro e eu mexi nele, antes que a água
ficasse quente demais.
— Não quero sair daqui
escaldado.
— Eu gosto da água quente. —
Escondeu o rosto no meu peito. — Mas
posso me esquentar em você.
Não neguei, estranhamente,
gostava dela bem junto a mim.
Peguei o sabonete e o esfreguei
nas mãos, até que ficassem cheias de
espumas, e me dediquei a ensaboá-la,
escorregando as minhas mãos pelas suas
curvas. Camila se escorou na parede do
box, facilitando o meu acesso. Contornei
as suas nádegas e desci as mãos até a
sua vagina, penetrando-a com um dedo.
Ela gemeu baixinho dando uma rebolada
e meu pau acordou, ficando
imediatamente duro. Subi com a mão de
volta para a bunda dela e lavei o
lubrificante.
Puxei-a para debaixo do chuveiro
e Camila recuou alguns passos,
esfregando a bunda molhada em mim.
Aquilo era pedir demais para o meu
autocontrole. Peguei os pulsos dela e,
com uma mão, segurei-os contra a
parede, com a outra, puxei sua cintura
até me encaixar nela. Gememos juntos, e
eu ofeguei. Tão quente... tão molhada...
Não podia negar que era uma delícia
estar dentro dela.
— Rebola em mim — ordenei
com a boca na sua orelha e percebi que
todos os pelos do seu corpo se
arrepiaram.
Camila não precisou de outra
ordem para esfregar a bunda em mim
enquanto eu me movia, espirrando água
a cada impacto da minha pélvis nas suas
nádegas. Fechei os olhos ao ser
envolvido pelo prazer do seu canal se
fechando ao redor do meu pau. Mordi
sua orelha, sabendo que ela
estremeceria mais, apertando-me com
mais força. Intensifiquei os movimentos
até gozar nela.
Soltei seus pulsos e levei a mão
até o seu clitóris. Ela se esfregou mais
em mim e seus gemidos se tornaram
quase gritinhos, até se desmontar nos
meus braços.
— Era para ser só um banho. —
Respirou profundamente enquanto se
apoiava nas paredes.
— Nunca precisa ser só um
banho. — Beijei a sua nuca.
— Quero mais banhos assim. —
Virou-se para mim sorrindo e jogou os
braços ao redor do meu pescoço.
— Quem sabe podemos repetir.
— Acariciei o rosto dela e Camila me
beijou.
Nosso momento foi interrompido
por alguém batendo com tanta força na
porta do quarto, que imaginei que fosse
derrubá-la.
— Camila, tem alguma ideia de
onde o senhor está? O celular está no
quarto, mas não há nenhum sinal dele
pelo castelo.
Pensei umas duas vezes se
responderia ou não. Camila até fez um
gesto de silêncio, colocando o dedo
sobre os lábios. A minha vontade era de
continuar ali, com ela, mas sabia que,
mais cedo ou mais tarde, iria ter que
estourar a bolha e voltar para o mundo.
— Eu estou aqui, Wallace. Saio
daqui a pouco.
— Okay, senhor, desculpe.
— Não pode ficar no quarto
comigo o dia inteiro, pode? — Camila
fez bico ao massagear os meus ombros.
— Não — lamentei ao me
recordar que, quando saísse dali, teria
que me deparar com a minha mãe.
Terminei de me lavar, sequei-me
em uma das toalhas limpas e saí do
quarto, deixando a Camila terminar de
se arrumar.
Segui para o meu escritório e
encontrei o Wallace sentado na cadeira
diante da minha mesa, aguardando.
— Desculpa interromper alguma
coisa, senhor. — Olhou para o chão,
envergonhado. Ri da forma como ele
ficava desconcertado com as coisas que
eu fazia com as mulheres.
— Estava tomando banho. — Dei
a volta na mesa e puxei a cadeira,
sentando-me diante dele.
Wallace levantou a cabeça e
imagino que ele tenha percebido que
meus cabelos estavam molhados.
— Com ela? — Ficou
boquiaberto.
— Não posso?
— Cla-claro. — Engoliu em seco,
completamente desconcertado. —
Apenas não é uma atitude comum.
— De qualquer forma, não ajo
dentro do esperado desde o primeiro
momento em que vi a Camila.
— Nisso o senhor tem razão.
Sabe o que vai fazer quando o visto dela
expirar?
Parei de fitá-lo e desviei o meu
olhar para a janela, não havia pensado
nisso até aquele momento. Queria que a
Camila fosse embora? Iria deixar que
isso acontecesse?
— A escolha é dela, Wallace. É
bem-vinda para ficar o quanto quiser.
Além disso, para todos os efeitos, diga a
minha mãe que ela é minha namorada.
— Namorada, senhor? — Nunca
vi os olhos daquele homem tão
arregalados e isso me fez gargalhar.
— É mais fácil do que explicar
toda a nossa relação para a Amélia, não
acha?
— Tem razão.
— Por que me chamou tão cedo?
Hoje é sábado, não iria até a destilaria.
— Ontem acomodei a senhora
Bordeaux em um dos quartos de
hóspedes e ela me disse que um homem
chegaria hoje. Um noivo dela.
— Provavelmente, é o próximo
em quem ela vai aplicar um golpe. Vou
jantar com eles e depois vão embora. Se
não forem, pode trazer o Jax e mais
alguns seguranças para arrancá-los
daqui. Não quero ouvi-lo dizer que é a
minha mãe.
— Sim, senhor.
— Ótimo! — Levantei. — Vou
trocar de roupa e sair para correr. Uma
última coisa: preciso de uma chave no
quarto da Camila e de um jeito de mexer
na fechadura da masmorra, para que eu
possa trancar por dentro. Ainda é a
mesma de centenas de anos atrás. Não
quero ninguém me interrompendo
enquanto eu estiver com ela.
— Sim, senhor.
Saí do escritório e Wallace veio
logo atrás, fechando a porta.
Capítulo vinte e nove
Saí do quarto e fui direto para a
cozinha, onde a Elga me aguardava
todas as manhãs com um belo café da
manhã.
— Bom dia! — Parei ao lado
dela e dei um beijo em sua bochecha.
— Menina! — Ela se virou e me
abraçou bem apertado. Elga era parte
fundamental para que eu me sentisse tão
bem naquele castelo. — Dormiu bem?
— Melhor impossível! — Meu
sorriso era enorme e radiante. Sem
dúvidas, a noite anterior havia sido a
melhor da minha vida em muitos anos.
— Posso saber o motivo?
Fiz que sim, dando leves pulinhos
como uma criança empolgada.
Obviamente, não contava para a Elga
como o Logan conduzia o sexo comigo,
nem iria, mas a noite anterior havia sido
um marco.
— Ele foi para o meu quarto
ontem, nós transamos e ele dormiu
comigo. Pude passar a noite inteira
abraçada a ele.
Elga sorriu e percebi que, pela
forma como ela me olhou, por mais
simples que fosse, vindo do Logan, era
sim alguma mudança.
— Espero que vocês dois se
acertem de uma vez por todas. Seria
muito bom ver aquele menino com uma
esposa e uma família. Vocês dois
precisam muito um do outro.
Uma esposa e uma família...
Aquela frase ficou ecoando na minha
mente repetidas vezes enquanto eu me
sentava para comer. Não almejava um
passo tão grande quanto me tornar
esposa dele, mas confesso que era algo
que me deixaria imensamente feliz, pois
havia algo que precisava admitir para
mim mesma: estava cada vez mais
apaixonada por Logan Mackenzie e nem
queria pensar na possibilidade de me
afastar dele.
— Tome logo, antes que o leite
esfrie. — Elga deu uns tapinhas no meu
ombro até que eu pegasse a caneca e
desse algumas goladas no leite com
chocolate.
Pouco depois que terminei o meu
café da manhã, Logan apareceu na porta
da cozinha e fez um gesto para que eu
me aproximasse dele.
— Oi. — Parei na sua frente com
os braços cruzados atrás do corpo.
— Falei com o Wallace que, para
a minha mãe, estamos namorando e ele
vai confirmar a história.
Não poderíamos simplesmente
namorar de verdade? Aquela foi uma
pergunta que eu guardei apenas para
mim, sabendo que, se a fizesse, correria
o risco de afastá-lo. Com o Logan, havia
percebido que o mais fácil era comer
pelas beiradas.
— Ela me perguntou como nos
conhecemos e eu disse que foi num bar
em Londres. Eu estava fazendo um
mochilão, mas desisti para passar o
restante do visto aqui, com você.
— Ótimo, é uma história
plausível.
— Posso beijar você na frente
dela?
Ele parou de frente para mim,
acariciou meu rosto e me deu um breve
selinho. Quis me perder e mergulhar
para sempre naquela singela
demonstração de carinho.
— Pode. — Ele segurou a minha
mão. — O tal noivo dela vai chegar.
Vamos lá ver quem esse cara é. Quanto
mais cedo esse teatro acabar, melhor.
Torço para que a minha mãe case com
esse otário e me deixe em paz.
Honestamente, estava contente
com as consequências da presença da
mãe do Logan ali. Ela o aproximou de
mim, possibilitou que ele dormisse
comigo, até que tomássemos banho
juntos.
Caminhamos lado a lado até a
entrada do castelo. Mantive meus dedos
entrelaçados nos seus até chegarmos na
porta.
Vi a mãe do Logan parada,
aguardando, quando um táxi parou a
alguns metros dela. Um homem desceu,
mas não consegui ver o rosto dele,
apenas os pés para o lado, pois a
Amélia funcionava como um muro na
minha frente. Quando a mãe do Logan
correu para abraçar o homem e ele o
envolveu com os braços, por cima do
ombro da mulher, o rosto do cara ficou
evidente.
Dei um passo cambaleante para
trás, e acabei puxando a mão do Logan.
— Está tudo bem, Camila?
Balancei a cabeça em afirmativa
e tentei manter o sorriso, mas não estava
bem, nada bem. Jamais, não importava
quanto tempo tivesse passado, nem as
lembranças boas que o Logan me dera,
nunca iria conseguir me esquecer
daqueles olhos cinzentos e aquela
cabeça de ovo, careca e em formato de
elipse.
Achava que estava segura em um
enorme castelo no meio do nada, mas
parecia ter me enganado.
— Logan, meu filho, esse é o
Luther Katsaros, meu noivo.
Senti uma pedra, grande e pesada,
instalar-se na minha garganta,
impedindo-me de respirar.
— Luther, esse é meu amado filho
e a namorada dele.
— Muito prazer. — Ele estendeu
a mão para o Logan, que correspondeu
ao aperto.
Eu me encolhi ainda mais, queria
sair correndo, esconder num lugar onde
ele não conseguisse me encontrar, mas
estava paralisada pelo medo. Aquele
homem não apenas sabia tudo o que
tinha acontecido comigo, como fora ele
quem me comprara do meu padrasto. Até
onde eu sabia, era quem encabeçava o
esquema de tráfico internacional de
mulheres para prostituição.
— Muito bonita a sua namorada.
— Ele abriu um sorriso discreto ao me
encarar. Foi imperceptível para a mãe
do Logan e para ele, mas serviu para
que eu tivesse certeza de que ele havia
me reconhecido.
Quando achei que estava no céu,
o inferno me puxou de volta.
— Vamos entrar. — Logan saiu da
porta e me puxou para o canto, abrindo
passagem para a mãe dele e aquele
monstro.
Minhas mãos estavam suando
frio, mas fiz o máximo para que o Logan
não soltasse meus dedos. Estava
desesperada e precisava da proteção
dele.
— Tem uma bela propriedade
aqui — comentou o homem ao olhar em
volta, observando cada detalhe, mas,
mesmo não tendo os olhos dele em mim,
tinha a impressão de que estava me
vigiando como sempre fizera.
— O castelo pertence à família
do meu pai há séculos. Abrigou
highlanders e até serviu como
residência de campo da rainha Mary da
Escócia. — Logan rendia assunto com o
homem e a minha vontade era pedir para
que o expulsasse dali. Mas com que
argumento?
Logan confiaria em mim se eu
contasse o que aquele homem havia
feito comigo? E se confiasse, iria fazê-
lo pagar? Não sabia e minha aflição não
diminuía.
— Gosto muito de coisas antigas,
mas tenho preferência pelas mais
jovens. — Ele voltou o olhar em minha
direção, umedecendo os lábios.
Estava tremendo de pavor e meu
coração batia acelerado.
— Luther tem uma mansão linda
com arquitetura moderna, na Grécia, que
você precisa conhecer, querido. —
Amélia escorou no ombro do noivo,
abrindo um largo sorriso. Estava toda
empolgada. Será que ela tinha alguma
ideia do tipo de homem com quem
estava cogitando se casar e os
negócios que ele fazia?
— Seria um prazer recebê-los na
Grécia qualquer dia desses.
— Quem sabe? — Logan deu de
ombros.
Passei o braço ao redor da cintura
do Logan e o abracei. O noivo da
Amélia sorriu ainda mais e piscou para
mim. Aquilo era uma ameaça? Quando
ele tocou os lábios em um rápido sinal
de silêncio, percebi que sim. Já havia
sofrido tantas monstruosidades na mão
daquele homem que não sabia o que
mais ele poderia fazer a mim e ao
Logan.
— Você gosta de uísque, Luther?
— Adoro! Sua mãe falou sobre a
destilaria.
— Sim, outra coisa de família.
Vou pegar uma dose para você. — Logan
seguiu até a visita e eu fui agarrada a ele
como um carrapato. Estava com medo,
nem consegui disfarçar.
Nos afastamos alguns passos
deles e Logan segurou meus ombros,
afastando-me delicadamente dele. Chiei
baixinho, descontente. Não queria sair
de perto dele sob hipótese nenhuma.
— Camila, o que foi? — Logan
foi até um pequeno bar na sala de
visitas, tirando do armário uma garrafa
de uísque, servindo uma dose para o
convidado.
— Na-nada — gaguejei, trêmula,
colocando as mãos dentro dos bolsos da
minha calça Jeans, para que Logan não
percebesse o quanto elas estavam
tremendo.
— Tem certeza?
Fiz que sim. Eu deveria falar
para ele que aquele homem perto da
mãe dele era um dos principais
causadores de todo o pesadelo que
vivi? Se eu contasse, o que poderia
acontecer? Não queria que o Logan se
metesse em problemas por minha causa.
Ele fez um gesto com a cabeça
para que eu o seguisse e voltamos para
perto do Luther e da Amélia. Ela sorria
toda boba na presença daquele homem.
Será que fazia alguma ideia do monstro
que ele poderia ser, de todas as coisas
que fez a mim e a outras garotas?
— O uísque realmente é um dos
melhores que já provei. — Luther
bebericou a sua dose, olhando
discretamente e ameaçadoramente para
mim.
— Eu vou ver se a Elga precisa
de alguma ajuda para servir o almoço.
— Dei a primeira desculpa que me veio
à cabeça para sair dali o mais rápido
possível. Esperava conseguir pensar
melhor quando estivesse longe das
vistas daquele homem.
— Camila...
Antes que o Logan conseguisse
completar a frase, talvez me pedindo
para ficar ali, eu desapareci de vista.
Praticamente corri até a cozinha e
cheguei lá com o coração disparado e o
rosto gelado.
— Menina, o que aconteceu?! —
Elga limpou a mão no seu avental antes
de se aproximar de mim e segurar o meu
ombro. — Parece que você viu um
fantasma.
— Eu... A... talvez... — Não
conseguia pronunciar uma frase
completa.
Elga puxou o banco de madeira e
fez com que eu me sentasse nele. Afagou
meus ombros antes de se afastar,
preparando para mim um copo de água
com açúcar. Agradeci ao tomar algumas
goladas. Não fazia ideia se me deixaria
mais calma de fato, ao menos era
gostoso.
— Mais calma?
Balancei a cabeça em afirmativa.
Só não de estar mais diante daquele
homem, sentia que possuía um pouco
mais de controle sobre meu próprio
medo.
— O noivo da mãe do Logan é...
— Não consegui dizer, fui paralisada
pelo medo outra vez.
— O que tem ele, menina? —
Elga segurou as minhas mãos,
relembrando-me, com o seu afeto, que
eu podia confiar nela.
— Ele é o homem que me
comprou do meu padrasto. Ele fez
coisas terríveis comigo até o Logan me
comprar naquele leilão.
— Santo Deus! — Elga colocou a
mão na testa e percebi o seu corpo
vacilar. Teria ficado tonta? — Tem
certeza, criança?
— Tenho, absoluta. Ele me
reconheceu também.
— Contou para o senhor?
— O que ele vai fazer, Elga?
— Chamar a polícia.
— Não tenho nenhuma prova
contra esse homem. É apenas a minha
palavra contra a dele. Também, ninguém
pode acreditar em mim, nem o Logan.
Mesmo que a polícia acredite, Logan
pagou por mim...
— Tem razão, podem acabar
incriminando o senhor também.
A aflição ficou ainda mais forte
no meu peito, não sabia o que fazer e
nem como sairia daquela situação.
— Camila? — Logan apareceu na
entrada da cozinha e eu pulei de susto,
deixando o copo escorregar das minhas
mãos e cair, estilhaçando-se em
milhares de pequenos pedaços.
— Estava com sede. — Agachei-
me para pegar os cacos de vidro, mas a
Elga ajoelhou na minha frente e deu um
tapa na minha mão.
— Deixa que eu limpo isso.
— Vem! — Logan estendeu a mão
para mim. — Minha namorada não tem
que ficar na cozinha.
Eu teria suspirado e achado a fala
dele um tanto romântica, se não
estivesse tão desesperada.
Olhei para a Elga, que limpava a
minha bagunça, e para o Logan, antes de
aceitar a mão dele e seguir pelo
corredor.
— A minha mãe fez alguma coisa
com você? — Segurou os meus ombros
e me encarou com um ar severo quando
ficamos sozinhos. — Se ela fez, você
pode me falar.
— Ela não fez nada — garanti,
abrindo um sorriso amarelo que deveria
ter parecido mais uma careta.
— Você está visivelmente
assustada. Não vai me dizer o que é?
— Não precisa se preocupar.
Nem eu precisava, tentei repetir a
mim mesma. Logo a mãe do Logan e o
maldito noivo dela iriam embora e não
precisaria mais me preocupar com a
sombra daquele monstro.
Voltei com o Logan para sala
onde eles estavam e fiquei grata por ele
não soltar a minha mão por um único
instante. Ele tinha me mantido em
segurança desde que colocara os olhos
em mim e precisava confiar nisso.
— Acho que temos um ótimo
gosto para mulheres, não concorda? —
Luther ergueu a taça de vinho ao pesar o
olhar sobre mim durante o almoço.
— Não sei se concordo com
você. — Logan olhou para a mãe, rindo.
— Filho! — Ela colocou a mão
no rosto, envergonhada. — Ele adora
fazer piadas comigo, Luther. — Ela
tentou reverter a situação, mas percebi
que Logan não estava se referindo a
beleza dela.
— Filhos únicos são sempre
superprotetores com a mãe — comentou
Luther com um ar descontraído.
— Acredite, esse não é o meu
caso. — Logan deu de ombros ao beber
do seu vinho e colocar uma mão sobre a
minha coxa. O calor que o toque dele
provocou por debaixo da mesa, fez com
que eu me sentisse um pouco mais
calma.
Esforcei-me para passar o dia
com um sorriso, não surtar e não parecer
desesperada. Porém, vencer o medo e
não ceder ao desespero não era fácil. A
todo o momento, estava esperando que o
Luther fizesse alguma coisa para
machucar a mim ou ao Logan. Contava
os segundos para que ele e a Amélia
fossem embora e eu pudesse fingir que
tudo aquilo não havia passado de um
terrível pesadelo.
Acreditava que eles fossem ir
embora no fim da noite, após o jantar,
porém, Amélia nos informou que o voo
para a Grécia sairia na manhã seguinte,
pois ela não gostava muito de viajar à
noite. Eu não entendia a diferença, uma
vez que não era ela quem pilotaria o
avião.
Sabia que não iria conseguir
dormir ao passar uma noite com aquele
monstro dentro da casa, por mais que ele
não houvesse feito nada para demonstrar
que ainda era uma ameaça.

Escovei os dentes e coloquei uma


camisola, esperando que o Logan viesse
passar a noite comigo novamente. Com
ele ali, eu ficaria bem mais tranquila.
Peguei o livro que estava lendo e
sentei na poltrona. Era uma boa
alternativa distrair a mente e não ficar
pensando no quanto tudo me apavorava.
Cheguei em uma parte em que o
personagem masculino se declara para a
protagonista, o que aqueceu o meu
coração e me fez suspirar. Não tinha a
ambição de ouvir as palavras “eu te
amo” dos lábios do Logan, por mais que
elas me fizessem muito feliz, mas foi
bom fantasiar com isso por alguns
minutos.
Ouvi o som da minha porta sendo
aberta e abri um sorriso. Com o Logan
por perto, eu não precisava temer nada,
ainda que o diabo estivesse no quarto ao
lado.
— Oi! — Levantei a cabeça do
livro, toda sorridente, esperando me
encontrar com aquele mar azul e me
perder na vastidão daqueles olhos.
Meu sorriso morreu quando
percebi que não era a razão dos meus
suspiros, e sim, a principal fonte dos
meus pesadelos.
— Oi, bonequinha!
Engoli em seco, meus membros
voltaram a tremer e minha voz sumiu.
— Parece que tirou a sorte
grande, não é mesmo? Vejo que está
sendo bem tratada aqui. Namorada de
um milionário que tem o próprio castelo.
Foi de escrava sexual a senhora. Estou
admirado.
— Você veio aqui atrás de mim?
— aquela pergunta escapou, e fiquei
surpresa por conseguir emitir algum som
inteligível em meio a todo pavor que me
congelava profundamente.
— Não, tenho que admitir que
não. Porém, o mundo é estranhamente
pequeno. Quem diria que a mulher que
eu estou fodendo é mãe de um cara que
comprou uma das mulheres que eu
trafiquei. Uma das mais bonitas,
inclusive. Amélia é uma mulher influente
e me ajuda a passar uma imagem de
homem sério e íntegro, mas estou com
saudades de uma carne mais fresca.
Imagino que ele já deve ter rompido o
seu lacre e sua bocetinha esteja
disponível.
— Sai daqui... — comecei a
gritar, mas Luther puxou a camisa e
exibiu um revólver, fazendo com que a
minha voz desaparecesse outra vez.
— Acho melhor você ficar bem
caladinha. Ele já pagou muito caro por
você e, para mim, não tem mais nenhuma
serventia. Eu posso acabar com a sua
existência medíocre agora mesmo ou
você pode ser um pouco mais gentil com
um hóspede.
— O que quer de mim? — Meus
olhos estavam cada vez mais embaçados
pelas lágrimas que se acumulavam
neles.
— Você sabe o que eu quero. —
Deu alguns passos na minha direção e eu
me encolhi em posição fetal na poltrona,
tentando usar o livro como um escudo
para me proteger.
Luther arrancou o livro da minha
mão e o arremessou para longe, antes de
segurar o meu pescoço com força e me
erguer no ar. Sentia-me sufocando com
meus pés no ar, não tocavam o chão
acarpetado.
— Essa camisola é para ele? —
Levantou o fino tecido de seda até exibir
a minúscula calcinha de renda que eu
estava usando.
Era óbvio que eu estava vestida
para o Logan, mas com a mão firme do
Luther envolvendo a minha garganta e
pressionando as minhas cordas vocais,
eu não consegui dizer nada, apenas
lutava para continuar respirando.
Ele me arrastou até a parede,
ainda me sufocando e, com a mão livre,
afastou a minha calcinha, tocando sem
pudor ou decência a minha intimidade.
— Tinha esquecido do quanto a
sua boceta é bonita, principalmente
raspadinha desse jeito.
Meu estômago revirou, queria
mordê-lo, mas não consegui. Todos os
meus gritos por socorro eram abafados e
mal soavam como um sussurro.
Havia acreditado estar segura sob
a proteção do Logan, que homem
nenhum me tocaria outra vez sem a
minha permissão, mas abaixei a guarda
cedo demais. Fui ingênua ao pensar que
poderia ser feliz e viver como estava
vivendo.
Capítulo trinta
Ainda estava intrigado sobre o
que poderia ter acontecido com a
Camila para deixá-la tão tensa durante o
dia. A resposta mais lógica era que
minha mãe poderia ter feito alguma
espécie de ameaça que a deixou
assustada, contudo, o que Camila
precisava compreender era que minha
mãe não possuía qualquer tipo de
influência sobre mim.
Peguei algumas coisas e segui
para o quarto dela. Pensei que, depois
do sexo, pudéssemos conversar, relaxar,
talvez tivesse coragem de me dizer o
que estava acontecendo.
Assim que me aproximei da sua
porta, eu ouvi um gemido, aliás, não um
gemido, mas um murmúrio de choro. O
lamento foi seguido de uma voz
masculina em um tom de ordem.
— Se comporta, sua putinha, que
talvez eu possa soltar o seu pescoço.
Soltei a mala que carregava no
ombro e a deixei cair no meio do
corredor ao correr para dentro do quarto
da Camila. Forcei a porta, que deveria
estar aberta, mas não estava, precisei
arrombá-la, nem sei de onde tirei tanta
força para fazê-la abrir com um único
chute.
O que encontrei no quarto me
deixou furioso. O noivo da minha mãe
estava em cima da Camila na cama,
apertando o pescoço dela com uma força
que certamente estaria a sufocando. As
alças da camisola dela haviam sido
baixadas e seus seios estavam à mostra.
Além disso, ela estava sem calcinha,
com a parte de baixo do corpo exposta.
Esperneava, mas percebi facilmente a
sua falta de forças. O abusador em cima
dela parecia prestes a penetrá-la, mas
cheguei antes que acontecesse.
Eu o puxei pelos ombros e o
arremessei contra a parede.
— Lo-Logan, socorro! — Camila
massageava o pescoço, juntando o resto
de fôlego que possuía para pronunciar
uma súplica.
Avancei para cima dele sem
qualquer vestígio de juízo, apenas raiva.
Que direito ele achava que tinha de
entrar na minha casa e tentar estuprar
a Camila, a minha Camila!? Fui
educado até demais com aquele sujeito
desde que o vi, não poderia prever que
fosse capaz de algo assim. Como noivo
da minha mãe, deveria estar preparado
para me deparar com qualquer tipo de
sujeito.
— Não se aproxime! — Ele
sacou uma arma e apontou na minha
direção.
Arregalei os olhos.
— Por favor, não machuca o
Logan — Camila choramingou. Desde
que ela chegou na minha casa, eu nunca
a vi tão aterrorizada. — Pode fazer o
que quiser comigo, mas não atira no
Logan, por favor.
— Ele vai ficar bem longe de
você! — rosnei. Só de ter a imagem
daquele homem em cima da Camila,
sentia todo o meu corpo queimar com
uma fúria incontrolável. Cerrei os
punhos, cravando as unhas nas palmas
das mãos, disposto a socar aquele
bastardo na primeira oportunidade.
— Logan, por favor... — Camila
se derramava em lágrimas, mas nem em
outra vida alguém iria apontar uma arma
para mim fazendo com que isso fosse o
suficiente para que eu permitisse que ela
fosse abusada.
Camila já havia sofrido demais e
eu estava disposto a levar um tiro para
não permitir que abusassem dela de
novo.
Jax tinha me dito o quanto era
importante fazer aulas de defesa
pessoal, mesmo sempre tendo ele ou
algum outro segurança por perto nos
momentos de maior risco. Quem diria
que a minha casa deixaria de ser um
lugar seguro? Ainda bem que eu tinha
dado ouvidos ao segurança e o deixado
me treinar.
Avancei na direção do cara,
acabando com a distância e deixando a
arma a pouco centímetros do meu peito.
— Logan... — Camila
choramingou.
— Afaste-se ou vou atirar em
você — ameaçou Luther e eu continuei
na mira da arma. Ele acreditava que
estava no controle enquanto eu mantinha
as mãos para o alto de maneira passiva
e em sinal de rendição, mas era esse o
seu erro.
Com a minha mão esquerda, tomei
o cano da arma tirando a sua mira do
meu peito e empurrando para o lado.
Cruzei a mão direita, fazendo um X, e
prendendo o braço dele entre os meus,
joguei a arma para fora, na direção do
chão e ela disparou, deixando um buraco
no piso. Tomei a arma dele, mas Luther
me acertou com um soco na barriga e a
arma escorregou para debaixo da cama
da Camila.
Luther me empurrou e eu
cambaleei alguns passos para trás.
— Você não faz ideia das coisas
que fiz com ela antes que viesse parar na
sua mão — gabou-se em meio a um
largo sorriso diabólico.
Sua fala fez a minha ficha cair e
eu compreendi o medo que a Camila
teve quando aquele homem chegou. Não
era qualquer desconhecido, mas alguém
que ela conhecia e que já havia abusado
dela. Deveria estar por trás da
organização criminosa que gerenciava o
Clube Secreto. Não deveria me
surpreender com a minha mãe se
envolvendo com alguém tão baixo
assim.
Fui para cima dele, bufando ainda
mais, porém, dessa vez, conseguiu se
esquivar do meu golpe e me acertou no
pé da orelha, deixando-me brevemente
atordoado. Lembrei do que o Jax havia
falado sobre manter a guarda de pé, não
podia dar brechas como aquela, para
que ele me acertasse.
Luther foi na direção do local
onde estava a arma, mas eu o puxei
pelos ombros e o arremessei na direção
da porta.
— Você é um maldito que vende
mulheres!
— Alguém que comprou uma não
é tão melhor do que eu, concorda?
Avancei para cima dele, mas o
Luther correu. Desgraçado, covarde!
Segui atrás dele escada acima. Segurei a
sua perna, mas ele me chutou e fez com
que eu cambaleasse e escorregasse
alguns degraus. Estava tão banhado de
raiva e adrenalina que nem percebi o
suor se acumular no meu rosto, nem a
fadiga dos meus pulmões ao subir
correndo vários níveis de escada.
Luther não sabia para onde estava
indo, tentava apenas correr de mim. Saiu
por uma porta que levava ao terraço da
torre. Em meio ao céu noturno e na parte
mais alta do castelo, pareceu perceber
que havia escolhido o pior caminho
possível. Não iria conseguir sair dali
sem lutar comigo e eu estava com sangue
nos olhos.
— Me deixa ir embora que
podemos fingir ser uma família feliz,
posso até me esforçar para não tentar
comer a sua puta de novo. Pode
acreditar que eu consigo, porque só fodi
aquela bunda durante o tempo em que
ela passou comigo. Deixei a boceta para
você, ou para qualquer outro otário que
estivesse disposto a pagar por ela.
Não sabia se o teria deixado
passar caso ele tivesse mantido a língua
dentro da boca. Porém, tudo o que ele
disse, falando da Camila daquele jeito
tão ascoroso e desprezível, fez com que
eu voasse para cima dele outra vez.
Acertei o seu rosto e me esquivei de um
golpe movendo o corpo para trás. Meu
pé chiou contra o chão de pedra, mas a
superfície áspera me impediu de
derrapar.
Dei outro soco e acertei o queixo
dele. Senti meus dedos doerem com a
força do impacto, mas isso não foi o
suficiente para que eu parasse de bater.
Iria fazer aquele maldito pagar por tudo
o que havia feito à Camila.
Ele me acertou com um soco no
meio do abdômen, mas com todos os
exercícios que fazia para deixar aquela
parte do meu corpo rígida e torneada,
praticamente não senti o impacto.
Levantei a perna e o chutei no meio do
peito, Luther deu um passo cambaleante
para trás, mas abriu um sorriso, como se
estivesse debochando de mim, maldito.
Avancei para cima dele outra vez
e Luther deu um passo para trás, porém,
o homem não se deu ao trabalho de notar
que estava na beirada e não havia mais
chão ali. Ele pisou em falso no ar e
cambaleou, seus olhos se arregalaram
em meio ao desespero.
Confesso que não cogitei, por um
segundo que fosse, estender a mão para
evitar que ele caísse. Apenas me
aproximei da beirada e vi seu corpo lá
embaixo, sem vida e rodeado por uma
poça de sangue.
— Logan! — Ouvi o grito da
minha mãe e me virei para trás. — Onde
está o Luther?
— Lá embaixo — disse em um
tom carregado de frieza.
— Você o empurrou? — Ela
estava completamente abalada. Pela
primeira vez, vi alguma situação que
deixou Amélia Bordeaux sem jeito.
— Não, ele caiu.
— Por quê? O que aconteceu?
Acordei com gritos e o Luther não
estava na cama. Vocês estavam
brigando?
— Seu maldito noivo tentou
estuprar a minha garota. — Ainda estava
vibrando de raiva e o fato de o homem
estar morto no meu jardim não amenizou
a minha fúria.
— Senhor, o que aconteceu? —
Wallace logo apareceu, completamente
confuso.
— Liga para polícia! — Passei
por ele e desci a procura da Camila.
Quando cheguei no quarto dela,
ainda estava encolhida em posição fetal
e chorava muito. Levou um tempo para
que ela superasse os seus traumas e a
presença daquele homem ali havia
revivido todos eles.
Sentei na cama e a puxei para o
meu colo. Camila se aninhou em mim e
afundou a cabeça no meu peito.
— Está tudo bem agora. —
Afaguei o seu cabelo e a beijei no topo
da cabeça.
Capítulo trinta e um
Ainda aninhada ao peito do
Logan, não conseguia parar de chorar,
havia revivido os piores momentos da
minha vida e achei que seria atirada no
inferno outra vez.
Com Logan acariciando o meu
cabelo e me afagando carinhosamente,
aos poucos consegui voltar a respirar
normalmente.
— Por que não me contou o que
aquele homem já tinha feito com você
quando eu perguntei o que havia de
errado?
Engoli em seco e abracei o seu
pescoço, buscando forças para continuar
respirando e conseguir falar ao mesmo
tempo.
— Não queria atrapalhar o seu
momento com a sua mãe. Além disso,
imaginei que seria a minha palavra
contra a dele.
— Acha que a sua palavra não é o
suficiente para mim? — falou num tom
firme, que me fez estremecer e eu o
abracei com mais força.
— Não imaginei que ele fosse
tentar abusar de mim de novo, assim, na
frente de todo mundo. Ainda mais com a
noiva dormindo em um quarto próximo,
mas ele apareceu aqui e disse... —
minha voz se perdeu novamente em meio
a lembranças que eram difíceis demais
para lidar. Por muito tempo coloquei
tudo numa caixa de pesadelos e fingia
não ter vivido, mas Luther ter aparecido
derrubou a caixa e fez uma grande
bagunça.
— O que ele disse, Camila? —
insistiu Logan, exigindo que eu falasse.
— Que agora que você tinha
rompido o meu lacre... — Não consegui
terminar a frase, voltando e chorar.
Logan balbuciou palavras de ódio, mas
não me forçou a continuar.
— Escuta — afastou-me e
segurou meu rosto com firmeza para que
eu não pudesse olhar para outro lugar
que não fosse os olhos dele –, da
próxima vez, nunca me esconda algo
sério. Eu vou sempre acreditar em você,
mas preciso que confie em mim para que
eu possa protegê-la. Se tivesse me
contado no momento em que o viu, eu
não teria deixado aquele homem aqui,
muito menos tão perto de você.
— Onde ele está agora? —
Prendi a respiração, com medo de que
ele pudesse entrar no meu quarto
novamente.
— Morto — disse o Logan sem
qualquer cerimônia.
— Você o matou? — Engoli em
seco.
— Não. Ele caiu enquanto
estávamos brigando. Ele nunca mais vai
tocar em você, Camila.
— Obrigada, Logan! — Abracei-
o mais apertado e Logan me deu um
selinho.
— Senhor — Wallace apareceu
na porta –, a polícia chegou.
— Polícia? — Voltei a ficar
tensa.
— Sim. Eu vou conversar com
eles e explicar o que aconteceu. É
provável que eles queriam fazer algumas
perguntas. É melhor que você não fale
nada sobre o Clube ou o que aconteceu
antes. Pode contar para eles apenas o
que aconteceu nessa noite?
Fiz que sim. Sabia que contar
para a polícia sobre o Clube poderia
nos colocar em uma confusão ainda
maior.
— Coloque um roupão e fique
calma. Tudo vai ficar bem. — Beijou-
me mais uma vez antes de sair do quarto
acompanhado do Wallace.
Vesti um conjunto de moletom que
cobria o máximo possível o meu corpo.
Tentei ficar mais calma, porém, ainda
tinha a sensação de que o Luther poderia
aparecer a qualquer momento e tentar
abusar de mim uma outra vez. Aquela
era uma sensação da qual seria difícil
me livrar.
Não demorou muito para que o
Wallace entrasse no quarto
acompanhado de alguns policiais.
Encolhi-me junto a cabeceira da cama.
Era homens da lei, pessoas que estavam
ali para minha proteção, mas havia
ficado arredia outra vez quanto a
qualquer aproximação que não fosse a
do Logan.
Eles vasculharam todo o quarto,
tiraram foto da bala na parede e
pegaram a arma que estava debaixo da
minha cama antes de se aproximarem de
mim.
— Oi, meu nome é Erin. — A
policial se sentou perto de mim na cama.
— Camila. — Abracei-me, com
medo, ainda que fosse uma mulher.
— Camila, eu preciso entender o
que aconteceu aqui e tirar algumas fotos
dos locais onde você foi lesionada,
okay?
Fiz que sim com um movimento
de cabeça.
— Houve penetração do agressor
em você?
Neguei, sentindo-me aliviada ao
menos por isso.
— Ele chegou a tirar a minha
calcinha, mas antes que conseguisse, o
Logan apareceu e o tirou de cima de
mim.
— Você tinha alguma relação com
o agressor?
— Ele era noivo da mãe do
Logan, apareceu aqui hoje. Eu estava no
quarto, esperando o Logan vir dormir
comigo, quando o Luther apareceu, me
segurou... — Levantei o cabelo para que
ela pudesse ver o meu pescoço
machucado.
— O que aconteceu quando o
Logan apareceu no quarto?
Contei para ela tudo o que
aconteceu, desde o momento que o
Luther entrou no meu quarto até ele o
Logan saírem brigando.
— Logan Mackenzie disse que
vocês são namorados, certo?
Assenti.
— Você é brasileira?
— Sou, estou aqui com um visto
de turista.
— Muito obrigada pelo
depoimento. — Ela se levantou, outra
pessoa chegou mais perto para tirar
fotos do meu pescoço.
Os policiais foram embora e,
quando fiquei sozinha no quarto outra
vez, voltei a me sentir insegura.
Capítulo trinta e dois
Dei meu depoimento para a
polícia narrando os fatos daquela noite e
o corpo de Luther foi removido do meu
jardim. Não me fizeram muitas perguntas
nem me acusaram demais, percebi que
havia um certo senso comum entre eles
ao saber que havia um estuprador a
menos nas ruas.
Assim que voltei para o interior
do castelo, minha mãe estava esperando
no hall e parou no meio do meu
caminho, fazendo-me notá-la.
— Você vai ser indiciado?
— Por que eu seria? — Coloquei
as mãos nos bolsos e mantive o olhar
frio.
— Pela morte do Luther.
— Ele caiu, foi um acidente, não
tenho culpa disso. Além do mais, ainda
que eu tivesse o matado com as minhas
próprias mãos, ninguém me culparia por
me livrar do bastardo que tentou
estuprar a minha garota e quase atirou
em mim.
— Aposto que foi aquelazinha
que ficou se oferecendo para ele. Agora,
o meu Luther está morto por causa dela.
— Minha mãe fungou como se
lamentasse a morte daquele infeliz.
— A Camila não se insinuou para
ninguém!! É aquele maldito que era
doente! Aposto que você sabia dos
negócios dele, não é!?
— Negócios? — Ela deu um
alguns passos para trás, cambaleante e
surpresa com o meu questionamento.
— Seu queria noivo traficava
mulheres!
— Como você soube? — O
questionamento deixou evidente que ela
tinha conhecimento disso.
— Eu quero você fora daqui,
agora! — Apontei para a porta.
— Mas... querido, cada um faz o
que pode para sobreviver.
Precisei conter a minha vontade
de bater nela e apenas dei outro grito:
— Fora!! Se você não sair em
cinco minutos, eu chamo a polícia e
denuncio você como cúmplice no tráfico
internacional de mulheres!
— Logan, querido...
— Fora!
Ela olhou para mim uma última
vez e percebeu que a minha posição
seria irredutível, correu escada acima
para recolher suas coisas. Aquela noite
havia testado os meus limites e me
levado a um grau de fúria além do
imaginado.
Tomei um banho para relaxar e fui
até o quarto da Camila. Ela estava de pé
e fitava a noite escura através da janela.
Ela deveria estar tensa por causa dos
acontecimentos daquela noite e era
impossível julgá-la, pois eu também
estava uma pilha de nervos.
— Logan... — Virou-se para mim
ao perceber a minha presença e notei
que ela ainda tremia.
— Vem aqui! — Abri meus
braços e ela atravessou o quarto para
que pudesse se aconchegar neles.
— Não consigo dormir —
confessou, molhando a minha camisa
com lágrimas.
— Acho que aconteceram coisas
demais nesse quarto esta noite. —
Beijei-a no alto da cabeça. — Dorme
comigo no meu.
Não sei porque fiz aquela oferta,
não era do meu feitio, talvez porque
quisesse ter certeza de que ela estivesse
bem perto de mim e que eu pudesse
protegê-la de qualquer outra coisa.
Levei Camila comigo para o meu
quarto e a acomodei na minha cama,
envolvida pelos meus braços. Era a
primeira vez que uma mulher se deitava
na minha cama. Não levava ninguém ali,
nem mesmo para transar, mas, naquela
noite, não houve sexo, mal toquei o
corpo dela e não tive vontade de fazer
isso.
Depois daquela noite e de reviver
o trauma, senti que ela iria precisar de
espaço, que eu estranhamente estava
disposto a dar.
Capítulo trinta e três
Abri os olhos enquanto me
acostumava com a luz que entrava pela
janela e movi o corpo para o lado,
espichando-o e espreguiçando. Percebi
que Logan não estava ao meu lado, mas
aquela não era a primeira manhã que eu
acordava e ele já havia se levantado.
Estávamos dormindo juntos desde que o
Luther apareceu, o que já fazia uma
semana. Todos os dias, o Logan
acordava bem cedo, fazia o mínimo de
barulho possível, saía para correr e
depois ia para a destilaria.
Durante aquela semana, não
houve sexo, nem da forma dele nem do
jeito mais carinhoso, apenas dormimos e
ele vigiou meu sono para que eu não
revivesse, através de pesadelos, os
momentos horríveis de abuso.
Levantei da cama, fui até o
banheiro, fiz minha higiene pessoal,
troquei de roupa no meu quarto e desci
para a cozinha.
Antes que eu chegasse na porta,
fui tomada por um delicioso cheiro de
torta.
— O que está fazendo? —
perguntei para a Elga, que olhou para
mim com um sorriso.
— Torta de framboesas, gosta?
Fiz que sim.
— O senhor, quando era bem
menino, comia até encher, se lambuzava
todo e depois ficava reclamando de
barriga doendo.
Ri ao pensar no Logan, todo cheio
de pompa, com dor de barriga.
— Imagino que ele deveria ter
sido uma criança adorável.
— Era um pentelho. — Elga fez
uma careta e nós duas gargalhamos
juntas.
Cheguei mais perto e ela apontou
para o meu café da manhã, que estava
em um canto do balcão. Puxei uma
cadeira e beberiquei o copo de leite.
— Como você está, menina? —
Elga não foi específica, mas soube bem
sobre o que ela estava perguntando.
Havia poucos empregados naquele
castelo e todos deveriam estar
fofocando sobre a morte do noivo da
mãe do Logan e o que ele havia tentado
fazer comigo antes de morrer.
— Estou bem. — Sorri, ainda que
sem jeito.
Era verdade, eu estava bem.
Dormindo nos braços do Logan, era
difícil ter pesadelos. Sabia que poderia
até não estar segura cem por cento do
tempo, mas sempre o teria perto de mim
para me proteger.
— Fico contente. — Elga me deu
um beijo no alto da cabeça antes de
pegar uma luva de pano para tirar a torta
do forno.
— Eu adoraria fazer um bolo
mais tarde, sabe se tem os ingredientes?
— Se for bolo de chocolate, tem
sim. O que não tiver, podemos ir em
Glencoe comprar.
— Que ótimo!
— Pensa em bolos depois e come
a sua panqueca.
— Okay! — Ri ao derramar um
pouco mais de mel e depois partir um
pedaço com o garfo.
— E como você e o senhor estão?
— Bem — respondi rápido
demais. — Acho que bem...
— Por que “acha”?
— Estamos dormindo juntos
todos os dias, ele me faz alguns carinhos
delicados, me dá alguns selinhos, mas,
desde que a mãe dele apareceu, não me
leva para a masmorra.
— Por que acha isso ruim?
Aquele lugar é terrível, parece um filme
de terror. — Ela se remexeu,
estremecendo, como se tivesse sido
atravessada por um calafrio.
— Não é tão terrível assim. —
Senti minhas bochechas corarem ao me
recordar do que havíamos feito naquele
lugar.
— Se você está dizendo. — Elga
deu de ombros.
Eu amava ter o Logan protetor,
mas eu o queria inteiro, até mesmo o seu
lado mais sombrio.

— Como foi seu dia? —


perguntei para ele quando Logan entrou
no quarto e começou a se despir para
tomar um banho e preparar-se para
dormir.
— Foi bom! — Ele me procurou
pelo quarto até me encontrar dentro do
closet. — O que está... — Sua voz
morreu em meio a pergunta quando
colocou os olhos em mim. Vasculhou-me
dos pés à cabeça e eu estremeci com o
peso do seu olhar. — Camila?
— Oi? — Encarei-o fingindo de
desentendida, mesmo sabendo que o meu
cabelo preso em rabo de cavalo e o
sobretudo que cobria o meu corpo
haviam atiçado a sua imaginação.
— O que está fazendo vestida
assim?
— Se você estiver cansado
demais, podemos dormir, ou você pode
me levar para a masmorra e descobrir o
que tem por debaixo do sobretudo.
— Camila, depois do...
Cobri os lábios dele com o meu
indicador e o forcei a parar de falar.
— Vamos esquecer isso. É o que
eu estou tentando fazer. Com você é
diferente, Logan. Com você eu quero.
— Para a masmorra? — Um
sorriso surgiu nos seus lábios em meio
ao questionamento. — Tem certeza?
— Tenho.
Ele segurou nos meus ombros e
me guiou para fora do quarto, descendo
as escadas e indo até o subsolo do
castelo, onde realizava seus desejos
mais profanos.
Logan fechou a porta e eu percebi
que não era mais aquela medieval, pois
possuía uma tranca na parte de dentro.
Desse jeito, nenhum desavisado poderia
abrir a porta e nos encontrar lá dentro.
— Agora, me deixa ver o que tem
aqui por baixo. — Ele me puxou pela
lapela do sobretudo e me fez estremecer
quando o meu corpo se encontrou com o
seu. Senti o fogo se acender entre as
minhas pernas e me recordei de que
aquilo era o que eu gostava de sentir
quando um homem se aproximava tão
intimamente de mim.
Logan desfez o laço que prendia o
sobretudo ao meu corpo e o abriu,
empurrando-o pelos meus ombros até
que caísse no chão. Demoradamente, ele
vasculhou a minha lingerie vermelha
juntamente com a cinta liga e a meia três
quartos. O largo sorriso que ele exibiu,
me mostrou que havia gostado do que
viu.
— Onde comprou isso?
— Ontem, pela internet. Você
deixou seu cartão comigo.
— Parece que você está fazendo
um ótimo uso dele. — Ele escorregou a
mão pelas minhas costas, provocando
arrepios onde seus dedos me tocavam e
deu um tapa na minha bunda, que estalou
ecoando por toda a masmorra.
Logan subiu com a mão e puxou o
rabo de cavalo, trazendo o meu rosto até
o seu. Quando seus lábios tocaram os
meus com selvageria e ânsia, meu corpo
todo vibrou em euforia. Era louca por
toda aquela fome dele. Ele buscou a
minha língua com a sua, percorrendo
toda a minha boca enquanto contornava
minhas nádegas com as mãos e
pressionava o meu corpo contra o seu.
Aqueles beijos me roubavam o ar me
faziam experimentar o sabor do céu e o
perigo do inferno em um único momento.
Ele interrompeu o beijo para me
levar para cama, deitando-me de bruços.
Enterrei o rosto na almofada aguardando
ele atar meus pulsos e meus tornozelos à
estrutura da cama. Fiquei curiosa para
entender o motivo de Logan me querer
de costas.
Virei a cabeça quando percebi
que ele se afastou da cama e o observei
ir até a cômoda pegar alguma coisa. Não
entendi o que era até que ele usou um
isqueiro para acender e um cheiro de
chocolate tomou conta do ambiente. Vi
que era uma vela redonda e aromática
quando ele chegou mais perto e a deixou
repousando sobre a mesa. O que Logan
iria fazer com aquela vela? Achava que
ele não fosse capaz de me surpreender
mais, porém, havia sempre algo novo.
Logan tirou os sapatos e subiu na
cama, acomodando-se sobre as minhas
nádegas. Ele tirou o cabelo das minhas
costas, puxando o rabo de cavalo para o
lado e me lambeu, subindo com a língua
da base das minhas costas até o fim da
minha nuca. Eu me retorci inteira com a
sequência de calafrios e arrepios que
ele despertou. Tentei me soltar, mas
apenas me debati com os braços atados.
Ele deu um risinho diante da
minha luta tola para me soltar e abriu o
fecho do meu sutiã, deslizando as alças
pelos meus ombros e deixando minhas
costas completamente expostas. O vi
pegando a vela e trazendo para perto de
mim, senti um pouco de medo ao pensar
na possibilidade de ser queimada, mas
eu confiava que o Logan não iria me
machucar. Percebi que ele tinha virado a
cera da vela quando algo quente tocou o
meio das minhas costas. Estava muito
quente, mas não o suficiente para
queimar, apenas me deixou ainda mais
em chamas, como se lava de vulcão
estivesse escorrendo pelas minhas
veias.
Percebi que não era uma cera de
vela qualquer, quando o Logan a
colocou de volta sobre a mesa e passou
as mãos firmes e pesadas pelas minhas
costas. Sua palma escorregava com
facilidade pela minha pele. Era óleo.
Suspirei com o peso das suas mãos e a
fricção dos seus dedos deslizando pelas
minhas costas. Não poderia prever que o
perigo de uma vela poderia acabar em
uma deliciosa massagem.
Ele abaixou a cinta liga e a minha
calcinha, deixando-as no meio das
minhas coxas. Soltei um gemido mais
alto quando o óleo quente escorreu por
uma das minhas nádegas, e depois pela
outra. Não podia ver, mas sentia que o
Logan havia deixado um filete de óleo
de cada lado. Ele me deu uma palmada
do lado esquerdo que me fez vibrar
inteira, mas não teve o impacto que
costumava ter, pois sua mão escorregava
com facilidade. Ele mediu minhas
nádegas com as mãos antes de começar
a contorná-las com os dedos, os quais
ele escorregou percorrendo a minha
virilha. Minha vagina pulsou, pedindo
atenção, mas Logan apenas passou os
dedos em volta, sem encostar na minha
intimidade diretamente, deixando-me
ofegando e morrendo de desejo.
Me toca! Contive o grito
desesperado enquanto me elevava na
direção dele, pedindo para que parasse
de brincar. Contudo, ele não parou,
jogando ainda mais combustível no meu
desejo, que gritava insano.
Logan lambeu as minhas costas,
contornando a minha virilha com os
dedos e eu gemi ensandecida, quando
roçou minha orelha com os lábios
molhados de óleo.
— O que você quer?
— Quero que me solte.
— Soltar você? — Havia
surpresa em seu tom de voz.
— Sim, me solta, por favor...
Logan atendeu ao meu pedido,
abrindo as amarras que prendiam os
meus pulsos e meus tornozelos. Assim
que percebi que estava solta, girei na
cama e fiquei em cima dele.
— Não quero mais esperar —
disse ao tomar seus lábios com os meus.
Eles estavam escorregadios e tinham
sabor de chocolate.
Abri sua camisa, praticamente
puxando os botões das casas e Logan
sentou na cama, me ajudando a me livrar
da peça de roupa. Depois foi a vez de
sua calça e cueca, que foram parar no
chão com a minha calcinha e terminou
de remover meu sutiã. Fiquei apenas de
meia e cinta liga.
Logan continuou me beijando e
passando suas mãos em mim,
espalhando óleo por todo o meu corpo.
Peguei o membro dele e o encaixei em
mim, rebolando até que entrasse fundo.
Gememos juntos quando comecei a
quicar e a me esfregar nele, deliciando-
me com o atrito do seu corpo no meu.
Estava tão molhada e excitada que seu
pau escorregava em mim como se
estivesse cheio de óleo.
Segurei o rosto dele, sem parar de
me mover e fiz com que me encarasse.
Com a outra mão, puxei o elástico que
prendia o meu cabelo, deixando-o cair
solto nas minhas costas, sem me
preocupar com o fato de que ele sujaria
de óleo. Logan não me repreendeu por
estar, de certa forma, me libertando da
dominação dele, apenas puxou a minha
nuca e me fez voltar a beijá-lo.
Aumentei a velocidade dos
movimentos, cavalgando nele,
esfregando mais e mais meu clitóris na
sua pélvis. Logan segurou minha cintura
e me fez sentar nele com mais força,
naquele ritmo, não demorei a ser tomada
pelas ondas do êxtase, gemendo e
gozando sem parar de rebolar.
Logo caímos sobre a cama, estava
tremendo, sem fôlego e completamente
entorpecida, mas não poderia estar mais
feliz. Naqueles braços, eu tinha
encontrado o meu lugar.
Capítulo trinta e
quatro
— Bom dia. — Acariciei o rosto
dela quando Camila espreguiçou na
cama naquela fria manhã de outono.
Felizmente, o aquecedor estava ligado, o
que não nos permitia sentir a
temperatura do lado de fora do castelo.
— Bom dia! — Ela esfregou os
olhos, coçando-os. Ainda parecia
bastante sonolenta. — Dormimos na
masmorra?
— Quê?! Claro que não. Trouxe
você para o quarto.
Ela arregalou os olhos como se
tivesse tomado um susto, mas começou a
sorrir quando contemplou as paredes
escuras do meu quarto. Eu a trouxe nos
braços, Camila estava dormindo, mas
confesso que já havia me acostumado a
presença dela na minha cama e não
queria pensar em como seria uma noite
sem ela ali.
— Levanta. — Saí da cama e
estendi a mão para ela.
— Por quê? — Aninhou-se no
travesseiro. — A cama está tão
quentinha.
— Vem tomar banho.
— Banho, é? — Abriu um sorriso
malicioso.
— Ou o que você quiser... —
Umedeci os lábios, prevendo o que
passava pela cabeça dela. Não poderia
reclamar, ter ela nua no meu chuveiro
era um motivo muito forte para querer
tomar banho.
Camila aceitou a minha mão e
saiu da cama. Estava nua. Na noite
anterior, eu havia a enrolado no
sobretudo apenas para trazê-la para o
quarto, mas após trancar a porta, removi
a peça e a deitei nua na minha cama.
Ela entrou para o chuveiro e eu
peguei shampoo e condicionador para
que pudesse lavar o cabelo. Na noite
passada, quando o soltou, havia o sujado
todo de óleo.
— Por que soltou o cabelo? —
Entrei debaixo da água junto com ela.
— Porque prendê-lo é uma
exigência sua.
— Não vai mais cumprir as
minhas exigências? — Em outro
momento, eu poderia ter ficado bravo,
mas, naquele, estava apenas curioso.
— Não disse isso, só acho que as
coisas podem ser um pouco mais
flexíveis. — Ela se ajoelhou diante de
mim e me lançou um olhar travesso ao
segurar o meu pau entre os dedos.
— Flexíveis quer dizer menos
masmorra e mais banheiro? — Sorri,
incentivando-a a colocar o meu pau na
boca enquanto eu observava a água
escorrer pelo rosto e o corpo dela.
— Flexíveis, não precisa ser
menos masmorra, mas pode ser mais
banheiro, mais no quarto e até mesmo no
jardim...
— Quer dar para mim no jardim?
Não está se achando muito safada?
— Só estou levantando algumas
possibilidades, mas posso dar para você
onde quiser. — Ela envolveu minha
glande com os lábios.
Camila ficou em silêncio e
roubou a racionalidade dos meus
pensamentos. Apoiei as costas na parede
do banheiro e me entreguei a deliciosa
onda de sensações provocada pela sua
língua habilidosa e seus lábios macios.
Ela me chupou, me lambeu e me
enlouqueceu enquanto eu me revirava a
cada espasmo.
Segurei seu cabelo e a fiz se
mover mais rápido, levando a minha
pélvis a sua boca, até explodir. Mantive
sua cabeça imóvel, com seu cabelo
enrolado na minha mão até o fim do meu
gozo. Quando finalmente a soltei, ela se
levantou com um sorriso e limpou os
lábios ao se enfiar debaixo do chuveiro.
Confesso que não iria achar
nada mal ter mais banho como aqueles.
— Banheiro e jardim, é?
— Por que não? — Abriu um
sorriso malicioso e eu dei um tapa na
sua bunda, devolvendo o olhar.
— Vou pensar no seu caso.
— Pensa com carinho.
Puxei-a para mim e a beijei,
fazendo com que aquele banho durasse
muito mais do que alguns minutos.
Capítulo trinta e
cinco
— Não parece bem, menina! —
Elga chegou perto de mim e me entregou
uma xícara com chá fumegante.
Eu o empurrei com as mãos,
negando com a cabeça ao sentir meu
estômago revirar com o aroma.
— Estou com uma dor de cabeça
horrível e cólica. — Coloquei a mão na
barriga.
Estava me sentindo um pouco mal
desde o episódio com o Luther, mas
achava que iria passar com os dias. Era
nojo das lembranças e do toque dele,
tinha certeza, porém, não passou, ao
invés disso, acabou se tornando mais
intenso com o passar dos dias, e
naquele, eu estava particularmente mais
alterada. A minha cabeça doía muito e
os cheiros estavam me deixando
imensamente enjoada. Ainda não tinha
vomitado, mas estava me segurando
fortemente para evitar isso.
— Tem certeza que não quer o
chá, Camila?
— Tenho sim, Elga, muito
obrigada. Não estou me sentindo bem
hoje. Uma dor de cabeça terrível.
— O chá pode ajudar. Você
sempre gostou do meu chá de camomila
com fava de baunilha.
— Eu sei! Desculpa, mas hoje eu
não quero. Iria fazer alguns exercícios
do meu curso online, mas acho que vou
deixar para mais tarde. Vou para o
quarto dormir um pouco enquanto espero
o Logan chegar da destilaria.
— Acho melhor pedirmos para o
Wallace levá-la ao médico. — Ela veio
atrás de mim enquanto eu cambaleava no
corredor para fora da cozinha.
— Não, Elga! — Abri um sorriso
amarelo, tentando convencê-la de que
estava bem, não queria que o Logan o
mais alguém naquele castelo ficasse
preocupado comigo.
— Tem certeza que não quer ir ao
médico?
— Vou ficar bem, Elga. É só um
mal-estar que venho sentindo há alguns
dias. Nada com que se deva preocupar.
Só preciso dormir um pouco que passa.
— Criança, a sua menstruação
está atrasada?
Franzi o cenho e busquei o olhar
dela em meio àquela pergunta que me
deixou tão confusa.
— Desde que a médica me
receitou o remédio, eu o tomo todos os
dias e não menstruo mais, isso já faz uns
dois meses e meio.
— Talvez seja esse remédio te
fazendo mal.
— Eu estou bem, Elga. —
Afaguei o rosto dela em meio a um
sorriso. — Deve ser apenas alguma
reação ao trauma. — Sei que já faz um
mês que o Luther esteve aqui, mas não
devo ter superado tão bem as coisas
como acho que superei.
— Então, vai descansar. —
Segurou os meus ombros e me guiou
escada acima para o meu quarto, mas
antes que eu chegasse perto da cama,
minha visão ficou turva e eu titubeei.
Desmaiei e tudo ficou escuro num
rompante.
Capítulo trinta e seis
Aproximei a dose de uísque do
nariz e senti o seu aroma antes de tomar
uma única gota, deixando que ela
escorresse pelas papilas gustativas da
minha língua e me revelasse
completamente todo o sabor contido na
bebida.
— O que acha, senhor? —
perguntou o gerente de produção parado
diante da minha mesa, esperando a
minha resposta a respeito do novo blend
que estavam testando.
— Acho que está frutado demais,
doce. O aroma é bom e o sabor também,
mas está suave demais. Que queria algo
mais marcante. Mais forte.
— Compreendo. Iremos fazer
novos testes. — Ele pegou a garrafa e o
copo que estavam na minha frente. —
Em breve, terei novos resultados para
mostrá-lo.
— Obrigado.
Antes que o homem saísse do meu
escritório, vi meu telefone vibrar sobre
a mesa e o nome do Wallace aparecer no
visor. Fiquei surpreso, pois ele não tinha
o costume de me ligar, geralmente falava
o que precisava antes que eu saísse do
castelo pela manhã. Deveria ser algo
urgente que não poderia esperar o meu
retorno.
— Alô!
— Senhor, lamento perturbá-lo,
mas imaginei que gostaria de ser
informado sobre o que aconteceu.
— O que aconteceu, Wallace? —
O tom de voz dele havia me deixado
tenso ao ponto de segurar o celular com
mais força.
— Camila desmaiou, eu a trouxe
para a clínica do Donald Scott, na vila.
— Ela está bem? — O ar
desapareceu dos meus pulmões.
— Ainda não sei, o médico está a
examinando. Elga e eu estamos aqui com
ela.
— Eu já estou indo. — Empurrei
a cadeira para trás e me levantei num
salto.
— Estou aguardando o senhor
aqui.
— Obrigado por avisar.
Joguei o celular dentro do bolso e
saí do meu escritório na destilaria sem
pensar duas vezes. Senti um aperto
desconfortável dentro do peito e uma
pontada que doeu. Pensar que a Camila
estava doente, seja lá qual fosse o
motivo, me deixou desesperado. Lutei
contra aquele sentimento, mas não
consegui. Já era tarde demais, eu havia
me apegado demais a presença dela e
não queria perdê-la.
— Não sei se volto hoje — avisei
para alguém na produção antes de seguir
porta afora.
Fui até a entrada da destilaria e
entrei no carro. Dirigi para o vilarejo
com menos de mil habitantes, que era o
mais perto de uma civilização que havia
próximo ao castelo. Inclusive, boa parte
dos funcionários da destilaria morava
lá, tendo o negócio da minha família
como o principal gerador de empregos
na região por séculos.
Durante o percurso, fiquei me
perguntando porquê Wallace não
colocou a Camila no helicóptero e a
levou até Edimburgo. Um desmaio
deveria ser uma coisa séria. Ela
precisava de atendimento especializado.
Desci do carro, após pará-lo de
qualquer jeito na porta e segui para o
interior da clínica.
— Senhor? — Ouvi a voz da
Elga, mas a ignorei, procurando pelo
Wallace.
— Onde está a Camila? — Parei
diante do meu empregado.
— Ela está com o doutor lá
dentro do consultório, aguarde um pouco
que ele irá chamá-lo — disse uma
enfermeira sentada atrás do balcão.
Não queria aguardá-lo, rosnei
para ela, mas a minha cara feia não a
intimidou. A enfermeira apenas apontou
para um banco de aço com um estofado
gasto, esperando que eu me sentasse
nele. Porém, antes que eu a obedecesse,
o médico abriu a porta e olhou para
mim.
Ele era um homem velho, na faixa
dos sessenta anos, com poucos cabelos
brancos e olhos azuis. O leve sorriso
que ele tinha nos lábios estranhamente
me deixou mais calmo.
— Senhor Mackenzie, há quanto
tempo?
— Como a Camila está?
— Entre, por favor. — Ele abriu
mais a porta para que eu pudesse passar
por ela e percebi que Camila estava
deitada sobre uma maca, mas estava
acordada. Isso aliviou um pouco mais a
pressão do meu peito.
— Como você está? — Fui direto
nela e segurei as suas mãos entre as
minhas.
— Eu estou bem. Disse para a
Elga que foi só um mal-estar passageiro.
— Ninguém desmaia por nada,
Camila. — Lancei um olhar severo para
ela, realmente estava preocupado.
— Não foi por nada — disse o
médico –, mas não é nada com que
devam se preocupar, na verdade, é uma
boa notícia.
— Desde quando um desmaio é
uma boa notícia?! — Cerrei os dentes.
— Vertigens, enjoos, e até mesmo
desmaios são sintomas da gravidez. Pelo
ultrassom, o embrião tem
aproximadamente nove semanas.
— Gravidez? — Soltei a mão da
Camila e afastei alguns passos para trás,
tonto e desnorteado, como se tivesse
sido acertado em cheio por um coice.
— Não, eu não posso estar
grávida. — Camila balançou a cabeça
em negativa. — Tenho tomado o
anticoncepcional todos os dias, assim
como a ginecologista me indicou, tem
três meses.
— Esses métodos contraceptivos
não têm cem por cento de eficácia, há
casos de mulheres que engravidaram
mesmo utilizando. Além disso, se faz
apenas três meses que começou a tomar,
a gravidez ocorreu durante o primeiro
mês, onde a proteção do medicamento
não é efetiva. É recomendado ao menos
um ciclo do medicamento antes de ter
relações sexuais sem outros métodos
contraceptivos.
Depois da surpresa, veio a raiva.
— Você fez de propósito?!
— Logan, não! — Ela tentou se
levantar da maca, mas pareceu ainda um
tanto tonta para ficar de pé.
A fúria me fez cerrar os punhos e
os dentes. Não acreditava que tinha feito
tudo o que fiz por ela para que a Camila
tentasse dar um golpe da barriga, assim
como a minha mãe fez com o meu pai.
— Eu não sou um idiota... —
balbuciei ao me afastar alguns passos,
até dar as costas e deixar o consultório.
— Senhor! — Elga gritou e tentou
segurar o meu braço, mas me esquivei
dela e voltei para o carro.
Capítulo trinta e sete
— Logan! — Tentei ir atrás dele,
mas o médico me impediu, fazendo com
que eu me sentasse na maca.
— Fique calma ou pode acabar
desmaiando de novo.
No fim, aquela era a minha última
preocupação. A única imagem que eu
tinha na mente era o olhar de desprezo
que o Logan dirigiu a mim quando
descobriu que eu estava grávida. Senti
um aperto tremendo e uma pontada de
medo. Tomava o remédio rigorosamente
e não estava planejando ficar grávida.
Se isso havia acontecido, não era culpa
minha e nem fora de propósito.
— Eu preciso ir atrás dele. —
Levantei da maca e, dessa vez, o médico
não me impediu. Certamente, aquela não
era uma reação comum no consultório
dele quando revelava que um casal iria
ter um filho, mas aí que estava: Logan e
eu éramos um casal? Até o momento,
tudo tinha sido apenas uma troca
mutualística. Eu transava com ele,
aceitando seu lado dominador e ele me
oferecia proteção, mas aquela gravidez
certamente mudaria tudo. Acima da
nossa relação aquele bebê era real, era
meu.
Eu não estou mais sozinha...
Toquei a minha barriga ao perceber que
havia alguém crescendo ali, uma
esperança.
— O que aconteceu, menina? —
questionou Elga quando saí para a
entrada da clínica, onde ela e Wallace
esperavam.
— Eu estou grávida e o Logan
não gostou nem um pouco disso.
— Ah, meu Deus!
— Não entendendo por que ele
ficou tão bravo. — Deixei que ela me
levasse até um banco e sentei ao seu
lado quando percebi que o Logan não
estava mais lá. — Onde ele está?
— Entrou no carro e foi embora.
— Eu não engravidei de
propósito, Elga. Eu juro! — Cobri o
rosto com as mãos quando senti as
lágrimas pesarem nos meus olhos, se
preparando para escorrer.
— Isso é algo que pode acontecer
com o sexo. Algo que certamente você
não fez sozinha.
— Então, por que ele está tão
furioso? — Limpei as lágrimas com as
costas das mãos, para que pudesse
encará-la, mas era difícil parar de
chorar. — Eu quero esse bebê —
revelei a verdade do meu coração.
Logan e eu estávamos vivendo
uma ótima fase e eu nunca me senti tão
conectada a alguém, mas, de repente,
aquela notícia mudou tudo.
— Ele tem um passado
complicado quanto a isso. A mãe dele
ficou grávida só para aplicar um golpe
no pai dele. Essa notícia certamente
desencadeou traumas ruins.
— Eu não sou como a mãe dele,
Elga!
— Sei que não, querida. —
Afagou o meu cabelo. — Vai ficar tudo
bem. — Me deu um beijo no alto da
cabeça, mas eu não tinha tanta certeza
disso.
Queria ficar com o Logan, estava
completamente apaixonada por ele.
Aquele bebê não deveria ser algo bom?
Capítulo trinta e oito
Dirigi a esmo, sem destino,
enquanto tentava pensar e amenizar a
minha raiva. Eu tinha confiado na
Camila, tratado ela diferente de
qualquer outra mulher com quem me
envolvi, e talvez esse houvesse sido o
meu maior erro. Talvez todas as
mulheres fossem como a minha mãe,
apenas esperando um momento para
tirarem proveito da situação.
Parei o carro perto de uma ponte
sobre um riacho de pedras diante das
montanhas. O pico delas já estava
congelado, ainda que o inverno não
tivesse começado. Desci do carro e uma
brisa gelada se deparou contra o meu
rosto, tão fria que cortava como
pequenas lâminas. Coloquei as mãos nos
bolsos, pois estava sem luvas e peguei o
celular. Sem pensar muito, liguei para o
Wallace.
— Senhor? — O tom de voz dele
estava tenso, imaginei que fosse por
causa da cena que eu havia feito na
clínica.
— Leve a Camila de volta para o
castelo, fale para ela juntar as coisas e a
leve para Edimburgo, coloque-a em um
voo de volta para o Brasil. Depois
disso, abra para ela uma conta bancária
com depósitos mensais agendados, para
garantir que esteja financeiramente
assistida.
— Tem certeza?
— Você tem questionado demais
as minhas decisões e eu não o pago para
isso.
— Como quiser, senhor.
— Quando eu chegar ao castelo,
não quero mais vê-la aí.
— Certo.
Desliguei o telefone e voltei a
contemplar as montanhas.
Havia um ótimo motivo pelo qual
eu sempre me envolvia com prostitutas,
mulheres com limites e preços muito
bem definidos, cujos nomes, na maioria
das vezes, eu nem conhecia. Assim,
coisas como aquela não aconteceriam.
Eu me achava mais esperto, mas, no fim,
acabei na mesma armadilha do meu pai.
Fazia muito frio, eu não estava
agasalhado o suficiente, mas o clima não
era o que mais me incomodava. Estava
furioso demais para me importar ou me
incomodar com ele.
O celular tocou e eu o peguei,
achando que era o Wallace, mas, ao
atender, deparei-me com uma voz
feminina.
— Senhor?
— O que foi Elga? — rosnei. Até
onde eu me recordava, ela não deveria
ter o meu número de telefone.
— Não pode mandar a Camila
embora, senhor.
Eu ri, gargalhando alto.
— Desde quando cabe a uma
empregada decidir isso por mim? Se
quer manter o seu emprego e não ir
embora com ela, é melhor que não se
intrometa.
— Se perder o meu emprego
significa fazer o senhor refletir a
respeito e mudar de ideia quanto ao que
está fazendo, tudo bem. Já sou uma
mulher velha e talvez seja o momento de
me aposentar, passar mais tempo com o
meu filho e a esposa, em Windsor. Já o
senhor, é um homem jovem, que vai ser
pai. Sei que não teve uma infância fácil,
mesmo tendo crescido cercado pelo
luxo, seu pai morreu muito jovem e a sua
mãe o abandonou. Cresceu sem amor
dos pais, mas pode tomar uma decisão
diferente pelo seu filho. No fundo, o
senhor sabe que essa gravidez foi um
feliz acidente e que ama a Camila.
Assim como ela o ama.
Não sei por que permiti que Elga
prolongasse sua fala por tanto tempo.
Deveria ter desligado ao ouvir as
primeiras palavras sobre a minha
infância, mas não fiz isso, deixei que
falasse e talvez esse tivesse sido o meu
maior erro.
— Ótimo, pode juntar as suas
coisas também.
— Senhor, você pode dar para o
seu filho uma infância melhor do que a
sua.
— Está demitida, Elga. —
Desliguei a chamada.
Meu filho... Aquelas duas
palavras ecoaram pela minha mente.
Estava tão puto com tudo o que
acontecera, que apenas naquele
momento a minha ficha caiu.
— Eu vou ser pai... — balbuciei.
Capítulo trinta e
nove
Desfazendo-me em lágrimas,
dobrei uma camiseta e a coloquei dentro
da mala que o Wallace me entregou.
Logan sequer teve coragem de olhar na
minha cara antes de me expulsar da casa
dele, depois de tudo o que havíamos
vivido, mandou o capacho fazer isso no
lugar dele.
Tinha feito muitas coisas para
ficar com ele, para permanecer ali nos
seus braços e sob a sua proteção, mas
ficar grávida não era uma delas. Nem
sabia se estava pronta para ser mãe e,
honestamente, nem havia pensado nisso.
Tinha planejado outra vida antes da
minha mãe morrer, estava estudando e
mal tive tempo para namorar.
Enquanto fazia as malas com o
Wallace parado na porta feito um cão de
guarda, para garantir que eu não me
escondesse em algum canto do castelo,
estava pensando para onde deveria ir.
Certamente, para o canto mais distante
possível do meu padrasto. Precisaria
recomeçar sem saber por onde, criar
novos laços e uma criança que eu não
estava preparada para ter, mas que
assim que eu soube da existência me fez
sentir que eu não estaria mais sozinha.
Talvez, mais do que do Logan, era dela
ou dele que eu precisava para começar
uma nova vida após ter sido traficada e
vendida.
— Não temos o dia todo! —
resmungou Wallace, e eu olhei torto para
ele.
— Já estou terminando. — Sequei
a nova leva de lágrimas e fui até o
banheiro, pegando alguns frascos.
— Pode deixar isso tudo aí. —
Wallace apareceu atrás de mim e eu
tomei um susto.
— Não posso levar os cremes?
— Olhei para ele sem entender. O que
iriam fazer com cosméticos usados?
— No avião, você não pode
entrar com nenhum frasco que contenha
mais de cem mililitros.
— Ah! — Olhei para as
embalagens que se encaixavam no limite
e as peguei, mas não pude levar nem a
pasta de dentes e o meu shampoo
favorito.
Peguei as coisas e voltei para a
cama, colocando-as dentro da mala.
Se eu tivesse entendido desde o
início que aquele castelo não era a
minha casa, provavelmente não estaria
doendo tanto. Porém, eu me iludi, me
apaixonei por aquele lugar e pelo dono
dele e teria que lidar com o peso disso
para sempre. Deveria ser grata ao Logan
por tudo e não estar tão puta com ele.
Logan poderia não ter me
comprado e eu ainda estaria presa num
porão, vestindo trapos e sendo abusada
como se não possuísse opinião própria
ou qualquer escolha. Ele me salvou de
me tornar uma escrava sexual nas mãos
de outro homem, mas não significava
que ele era o meu final feliz.
— Já estou terminado — falei
para o Wallace, que não tirava o olhar
de mim.
— O senhor me falou para criar
uma conta bancária para você, mas vou
entregar algum dinheiro para a viagem.
— Obrigada. — Minha voz era
apática, sem qualquer emoção, pois
tentei esconder o quanto estava
sofrendo. Doía, doía muito.
— Já pensou para onde vai?
— Pode me comprar uma
passagem para o sul do país. Porto
Alegre. Espero que, lá, não corra risco
de esbarrar com o meu padrasto e que
ele também não me descubra.
— Farei isso. Pronta para ir?
— Posso tomar um banho antes,
por favor? O médico passou um gel na
minha barriga e eu ainda estou melando.
O coração estava despedaçado,
mas fiz de tudo para manter a postura.
— Não demore.
— Obrigada. — Peguei a roupa
que havia separado e entrei para o
banheiro.
O momento que eu tanto havia
lutado para postergar havia finalmente
chegado, antes do previsto, pois meu
visto ainda estava valendo. Contudo, eu
não voltaria sozinha, iria ter uma parte
do Logan crescendo dentro de mim.
Alguém para me dar força de vontade
para continuar vivendo. No fim do túnel
realmente havia uma luz, mas ela não era
o Logan, como eu havia imaginado, era
o meu bebê.
Capítulo trinta e
quarenta
Estacionei meu carro diante do
castelo e corri para a cozinha,
imaginando que a Camila estaria com a
Elga, tecendo comentários maldosos a
meu respeito. Não as culparia por isso,
de certa forma, eu tinha feito por onde.
Ao pisar na cozinha, vi apenas a
Elga, ela estava segurando uma caixa de
papelão e guardando algumas coisas
dentro dela, as suas coisas, como fotos
da família e aventais.
— Elga?! — Parei na frente dela,
ofegando.
— Senhor? — Arregalou os
olhos, surpresa ao me ver daquele jeito.
— Já estou guardando as minhas coisas,
saio em minutos.
— Pode ficar, mulher.
— Não estou demitida?
— Acho que esse foi um dos
muitos equívocos que cometi de cabeça
quente. Onde está a Camila?
— Acabou de se despedir de
mim. Ela e o Wallace iriam de
helicóptero até Edimburgo para que
pegasse um voo para o Brasil lá.
— Isso faz muito tempo?
— Menos de dez...
Não esperei que ela terminasse de
falar. Saí correndo, mesmo com toda a
minha prática atlética, não me senti
rápido o bastante. Corri por quase um
quilômetro até chegar ao heliporto do
castelo, e quando pisei na marca no
chão, o helicóptero já havia levantado
voo.
— Wallace, volta! — gritei,
acenando com as mãos para o alto. —
Camila!
Por um momento, achei que os
meus gritos não seriam audíveis e pensei
quantos limites de velocidade teria que
quebrar para chegar em Edimburgo antes
de um helicóptero. Contudo, acabei
sendo notado e Wallace retornou com o
helicóptero. Precisei dar alguns passos
para trás para que ele parasse na marca.
Antes que desligasse, eu corri
para a porta e bati nela para que fosse
aberta. Imaginei que, se ele demorasse
mais um pouco, acabaria abrindo um
buraco na janela de vidro blindado.
— Logan?! — Camila arregalou
os olhos castanhos, surpresa ao me ver,
quase colocando o coração para fora e
ofegando.
Abri o casaco que estava usando
e tirei dele uma caixinha de presente.
— O que é isso? — questionou,
receosa. Seus olhos estavam muito
vermelhos e inchados, sabia que havia
chorado muito e que eu era o causador
disso, mas estava disposto a consertar,
dependendo do rumo daquela conversa.
— Abre! Eu vi em uma vitrine no
vilarejo.
Ela puxou tampa da caixa e o seu
olhar ficou ainda mais confuso ao ver os
sapatinhos de bebê.
— Promete que não importa o que
aconteça, você não vai abandoná-lo?
— Ele já é a coisa mais
importante para mim. — Abraçou a
barriga. Camila sempre foi muito
transparente e foi fácil perceber que ela
estava falando a verdade.
— Então, vamos fazer da infância
dele algo diferente da minha. — Estendi
uma mão para ela enquanto, com a outra,
pegava um pequeno anel dentro do
sapatinho.
Ele não era luxuoso, não custava
milhares de libras, nem ostentava uma
bela pedra de diamante, mas foi o
melhor que consegui com alguns minutos
passando de carro pela vila, pensando
sobre o que deveria ou não fazer.
— Isso é... — Camila não
conseguiu terminar de falar, ainda me
fitava perplexa.
— A minha mãe me fez temer
relacionamentos, acreditar que nunca
deveria me envolver, pois tudo o que
importava era o dinheiro. Me mostra que
ela estava errada, Camila.
Ela abriu um largo sorriso, o
Wallace desligou o helicóptero de vez e
também me lançou um sorriso.
Surpreendi-me ao perceber que ele
aprovava a minha decisão.
— Eu amo você, Logan! —
Camila se atirou nos meus braços.
— Eu também, minha garota. —
Peguei ela no colo e coloquei o anel no
seu dedo. Era a primeira vez que eu
dizia aquilo, mas percebi que poderia
ser a primeira de muitas, se eu me
permitisse.
— Podemos nos casar no jardim?
— Ela tombou a cabeça, apoiando-a no
meu peito, percebi que todo o seu ar de
tristeza havia dado lugar a uma profunda
felicidade.
— Podemos nos casar onde você
quiser. — Ao dizer aquilo, eu me dei
conta que sempre quis controlar tudo,
mas estava abrindo mão disso em função
dela.
Eu tinha comprado uma garota por
impulso, trouxe-a para a minha vida e
não percebi que ela estava mudando
tudo até ser tarde demais.
Epílogo
Dois anos depois...

Coloquei meu filho no berço


assim que ele dormiu após terminar de
mamar e ajeitei o cobertor sobre os seus
ombros, antes de me curvar para beijá-
lo, no alto da cabeça.
Elga sempre me dizia que eu o
mimava de mais, mas era apenas um
bebezinho e eu queria dar a ele todo o
meu amor. Depois do meu casamento
com o Logan, eu não havia ganhado
apenas um marido e um filho, mas uma
família. Elga era muito mais do que uma
cozinheira, havia se tornado uma amiga,
uma confidente e o mais perto de
carinho materno que poderia ter.
Wallace continuava atendendo todas as
nossas necessidades e eu ficava contente
por ele ter uma vida. Eu também estava
construindo uma carreira, ainda estava
estudando e pretendia me tornar uma
estilista. Logan me apoiava e isso me
fazia muito feliz.
Ele também estava contente, tinha
a família que nunca teve e a sua mãe
felizmente não voltou a aparecer. Eu
acreditava que ela tinha medo de ser
responsabilizada por partes dos crimes
horrendos do ex-noivo, era melhor
assim para todo mundo.
Tomei um leve susto quando senti
mãos pensadas tocarem a minha cintura,
apertando-as com firmeza.
— Nosso filho dormiu, senhora
Mackenzie? — Logan levou a boca até a
minha orelha fazendo com que eu me
arrepiasse toda.
— Sim. — Sorri ao me derreter
nos seus braços.
— Isso é muito bom. — Ele subiu
as mãos até o meu cabelo e o penteou
com os dedos, até prendê-lo em um rabo
de cavalo bem firme. — Vamos para a
masmorra.
Um arrepio varreu meu corpo ao
pensar na possibilidade, mas não
naquela noite.
— Eu tenho outros planos para
nós. — Girei de frente e envolvi seu
pescoço com os braços.
— Quais planos? — Sorriu
malicioso.
— Vem comigo! — Puxei-o pela
mão, o arrastei para fora do quarto do
nosso filho e fomos até o nosso.
Fechei a porta atrás de nós e
Logan ficou me olhando com um ar
curioso, até que eu o empurrasse para
cima de uma cadeira de madeira. Fui até
o closet e peguei algumas algemas.
— O que você acha que vai... —
Ele começou a questionar, mas eu o
silenciei colocando meus dedos sobre
seus lábios, e subi em cima dele e me
sentei de frente no seu colo.
Escorreguei as mãos pelos seus
braços fortes, os músculos torneados,
até puxá-los para trás e algemá-los.
— Camila! — Logan cerrou os
dentes e rosnou para mim, mas o seu
protesto se dissolveu sob o peso dos
meus lábios e a pressão da minha língua
buscando pela sua.
Eu estava usando uma camisola
fina com uma calcinha de renda, e senti
o volume na sua calça de moletom
crescer enquanto eu me esfregava no seu
colo em meio ao beijo acalorado. Senti
que o Logan queria me tocar, escorregar
as mãos em mim, mas as algemas não
permitiam, e isso estava o deixando
agoniado. Confesso que gostei de ver o
seu olhar desesperado e ao mesmo
tempo cheio de desejo. Deliciei-me com
cada gemido agoniado enquanto
levantava meu quadril e me esfregava
nele.
— Isso não faz parte das minhas
regras, Camila.
— Eu sou a sua esposa e mudei
um pouco as regras. — Saí de cima dele
e puxei sua calça e a cueca, ajeitando-
me entre as suas pernas.
Segurei seu membro entre as
minhas mãos e Logan revirou os olhos
azuis enquanto me observava, atento a
cada coisa que eu cogitava fazer com
ele. Desci a boca, roçando os lábios na
sua glande, saboreando seu gosto e os
gemidos que arrancava dele. Pressionei
a pequena fenda com a língua, antes de
lambê-lo de cima a baixo, percorrendo
toda a sua extensão até envolvê-lo com
os lábios, acolhendo-o no interior da
minha boca. Ele pulsou e chupei com
mais força, minha excitação se
intensificava entre as pernas a cada
sorvida. Eu o chupei, lambi e o
enlouqueci, brincando com a língua sem
pudor algum, fazendo Logan se retorcer
na cadeira, brigando com as algemas. Eu
o fiz provar um pouco do próprio
veneno e provar o que eu sentia
enquanto ele fazia aquilo comigo presa.
Parei de chupá-lo e Logan soltou
um gritinho de protesto, mas sorriu
quando fiquei de pé diante dele e tirei a
minha calcinha, escorregando-a pelas
coxas até deixar cair no chão, antes de
me acomodar novamente no seu colo.
Contudo, diferente das expectativas
dele, não o encaixei em mim, apenas
fiquei esfregando com as mãos apoiada
em seus ombros, deixando-o sentir
minha umidade. Roçava meu clitóris no
seu membro pulsante e delirava de
prazer com isso, mas Logan estava
sendo torturado.
— Me solta, Camila! —
vociferou em seu bom e velho tom
autoritário. Algumas coisas nunca
mudavam.
— Acho que não. — Rebolei
mais um pouco, quicando levemente e
podia sentir a sua aflição apenas pelos
movimentos do seu pau.
— Caralho, me solta!
Ri ao me debruçar sobre os
braços dele e abrir as algemas, que
caíram no chão, libertando os seus
pulsos.
Sem calma, cuidado ou ternura,
Logan segurou a minha cintura com uma
mão, e com a outra, encaixou o pau no
meu sexo num tranco firme, puxando-me
para o seu quadril de uma vez. Joguei a
cabeça para trás, revirando os olhos e
me rendendo ao prazer de tê-lo dentro
de mim. Com os dedos enterrados nas
minhas nádegas, Logan só me permitia
subir para se cravar no meu interior
outra vez, e cada estocada preenchia o
quarto com altos gemidos.
Segurei o rosto dele e encostei
minha testa na sua, para não fitar outra
coisa que não fosse os seus olhos.
Queria me perder naquela imensidão
azul enquanto ele me levava ao prazer
da forma mais arrebatadora.
Logan mordeu meu lábio inferior
ao mesmo tempo em que gozava em mim
e eu continuei me movendo, até me
juntar a ele em uma onda alucinante de
espasmos que explodiam do meu sexo e
varriam o meu corpo todo.
— Agora, podemos ir para a
masmorra. — Ri, ainda estremecendo e
ofegante, com as pernas bambas demais
para conseguir sair do seu colo.
— Acho que podemos continuar
no banheiro, esposa. — Abraçou-me
para me levantar. — O que acha de uma
viajem de férias, amor?
— Férias? — Fiquei surpresa,
Logan sempre foi muito recluso. Aquele
convite me surpreendeu.
— Sim, pensei em irmos para as
Ilhas Maldivas, no resort do Bryan
Maldonado.
— O cara que comprou a
Valkyria?
— Sim.
— E como ela está?
— Vai ver por você mesma
quando chegarmos lá. — Deu de
ombros.
— Obrigada! — Eu o abracei. —
Logan... — Minha voz assumiu um tom
mais sério.
— Sim? — Abriu a porta do box,
mas continuou me encarando.
— Tem algo que eu preciso te
contar.
— O que foi? — Ficou tenso e o
ar descontraído se dissolveu.
— Eu estou grávida de novo. Juro
que estou tomando o anticoncepcional.
Ele balançou a cabeça em
negativa e eu prendi a respiração.
— Vamos ter que conversar com a
sua ginecologista e arrumar outro
método anticoncepcional, depois do
terceiro filho.
— Terceiro?! — Arregalei os
olhos e fiquei boquiaberta. — Você quer
três?
— Eu adorei ser pai. — Ele se
curvou e beijou a minha barriga.
Ri enquanto ligava o chuveiro,
desfrutando do calor dos seus beijos e
dos braços onde eu havia encontrado o
meu final feliz, depois de todo o
sofrimento.

Fim!
Leia o Livro do Bryan...

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Sinopse:
Proprietário do Paradise Resort
nas Ilhas Maldivas, Bryan Maldonado
construiu seu patrimônio com dedicação
na administração de sua herança. Além
do sucesso profissional, ele explorava
sua sexualidade ao extremo. Sem
compromisso ou paixões que durassem
mais que uma noite, Bryan era racional e
sabia como lidar com as mulheres,
tomando o que ele queria e dando a elas
o que necessitavam.
Convidado para participar do
exclusivo Clube Secreto, ele estava
disposto a investir altas quantias para
experimentar uma nova forma de sentir
prazer. Ao descobrir que se tratava de
um leilão de mulheres, percebeu que
estava além do seu limite, ele tinha
princípios. Todavia, não conseguiria ir
embora sem tentar salvar pelo menos
uma delas.
Valkyria não sabia o que tinha
acontecido com ela até acordar em um
quarto desconhecido. Até que chegasse
nas mãos de Bryan, ela conheceu o pior
do ser humano, ela não sabia o que tinha
feito para merecer tanto.
Ele não era um salvador, muito
menos um príncipe, Bryan estava mais
para o perfeito representante do deus
Afrodite.
Disposto a libertá-la, a última
coisa que ela queria era rever aqueles
que poderiam ser os causadores da sua
desgraça. E, enquanto ela não decidia o
que fazer da sua vida, tornou-se parte da
rotina de Bryan, conheceu seus gostos,
experimentou suas habilidades e tentou
não se apaixonar pela melhor versão de
homem que já conheceu.
O único problema era que Bryan
tinha limitações e Valkyria parecia
disposta a ultrapassar todas elas antes
que seu tempo com ele terminasse. 
Sobre a autora
Jéssica Macedo é mineira de 24
anos, mora em Belo Horizonte com o
marido e três gatos, suas paixões.
Jéssica escreve desde os 9 anos,
publicou seu primeiro livro aos 14 anos.
Começou na fantasia, mas hoje escreve
diversos gêneros, entre romance de
época, contemporâneo, infanto juvenil,
policial e ficção científica. Com mais de
trinta livros publicados, é escritora,
editora, designer e cineasta. Tem ideias
que não param de surgir, novos projetos
não faltam.
Acompanhe mais informações
sobre outros livros da autora nas redes
sociais.
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www.facebook.com/autorajessicamacedo
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www.instagram.com/autorajessicamacedo
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Outras obras
A virgem e o cafajeste
(im)perfeito (Minha redenção
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Sinopse:

William e Elizabeth são completos opostos,


mas cresceram juntos e se tornaram
inseparáveis.
Ele é um playboy rico que sempre teve tudo
o que quis e está assumindo os negócios da
família a frente de uma rede de hotéis de luxo.
Ela, uma moça humilde, filha dos empregados e
apaixonada por história, vive de uma pequena
loja de antiguidades.
Uma amizade forte entre uma virgem, que
espera encontrar o homem dos sonhos, e um
cafajeste com incontáveis conquistas. Porém, a
relação deles está prestes a mudar quando
Elizabeth sofre uma desilusão ao ver o noivado
perfeito da sua melhor amiga acabar e percebe
que esse homem idealizado, pelo qual tanto
esperou, pode não existir. Decidida a curtir a
vida como não fazia antes, percebe que precisa
fazer algo primeiro: perder a virgindade.
Elizabeth vai ver no seu melhor amigo o
cafajeste perfeito para a sua primeira noite de
sexo casual. Preocupado com a amizade,
William a faz prometer que a transa não
mudaria a relação deles, mas será que vão
conseguir cumprir a promessa de continuarem
melhores amigos?
Trevor: e o bebê proibido
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Sinopse:

Diana era o motivo de orgulho para os seus pais


adotivos. Esforçada, estudiosa, cursava
medicina, com um futuro muito promissor, mas
um convite para visitar o Inferno vai mudar
tudo.
O Inferno era apenas um bar pertencente a um
moto clube, ao menos era a imagem que
passava a quem não o frequentava. Porém, ele
era uma porta para o submundo, um lugar de
renegados, como Trevor. Um dos irmãos que
lidera o Dark Wings é a própria escuridão,
nascido das trevas e para as trevas, que acabará
no caminho de Diana, mudando a vida da jovem
para sempre.
Uma virgem inocente que foi seduzida pelas
trevas...
Uma noite nos braços do mal na sua forma
mais sedutora, vai gerar uma criança incomum
e temida, além trazer à tona um passado que
Diana desconhecia, e pessoas dispostas a tudo
para ferir seu bebê.
Um milionário aos meus pés
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Sinopse:
Harrison Clark abriu uma concessionária de
carros de luxo em Miami. Se tornou
milionário, figurando na lista dos homens mais
ricos do Estados Unidos. O CEO da Golden
Motors possui mais do que carros de luxo ao
seu dispor, tem mulheres e sexo quando assim
deseja. Porém, a única coisa que realmente
amava, era o irmão gêmeo arrancado dele em
um terrível acidente.
Laura Vieira perdeu os pais quando ainda era
muito jovem e foi morar com a avó, que acabou
sendo tirada dela também. Sozinha, ela se viu
impulsionada a seguir seus sonhos e partiu para
a aventura mais insana e perigosa da sua vida: ir
morar nos Estados Unidos. No entanto, entrar
ilegalmente é muito mais perigoso do que ela
imaginava e, para recomeçar, Laura viveu
momentos de verdadeiro terror nas mãos de
coiotes.
Chegando em Miami, na companhia de uma
amiga que fez durante a travessia, Laura vai
trabalhar em uma mansão como faxineira, e o
destino fará com que ela cruze com o
milionário sedutor. Porém, Harrison vai
descobrir que ela não é tão fácil de conquistar
quanto as demais mulheres com quem se
envolveu. Antes de poder tirar a virgindade
dela, vai ter que entregar o seu coração.
Quando a brasileira, ilegal nos Estados Unidos,
começa a viver um conto de fadas, tudo pode
acabar num piscar de olhos, pois nem todos
torciam a favor da sua felicidade.
Uma virgem para o CEO
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Sinopse:

Dean Clark nasceu em meio ao luxo e o


glamour de Miami. Transformou a
concessionária de carros importados que
herdou do pai em um verdadeiro império. Ele é
um CEO milionário que tem o que quer, quando
quer, principalmente sexo. Sua vida é uma
eterna festa, mas sua mãe está determinada a
torná-lo um homem melhor.

Angel Menezes é uma moça pacata e


sonhadora que vive com a mãe em um bairro de
imigrantes. Trabalhando como auxiliar em um
hospital, sonha em conseguir pagar, um dia, a
faculdade de medicina. As coisas na vida dela
nunca foram fáceis. Seu pai morreu quando ela
ainda não tinha vindo ao mundo, e a mãe, uma
imigrante venezuelana, teve que criá-la sozinha.
Porém, sempre puderam contar com uma amiga
brasileira da mãe, que teve um destino
diferente ao se casar com um milionário.

Laura mudou de vida, mas nunca deixou para


trás a amiga e faz de tudo para ajudar a ela e a
filha. Acredita que Angel, uma moça simples,
virgem, e onze anos mais jovem, é a melhor
escolha para o seu filho arrogante e cafajeste,
entretanto, tudo o que está prestes a fazer é
colocar uma ovelhinha ingênua na toca de um
lobo.

Dean vai enxergar Angel como um desafio,


ele quer mais uma mulher em sua cama e
provar que ela não é virgem. No jogo para
seduzi-la, ganhará um coração apaixonado que
não está pronto para cuidar...

Será que o cafajeste dentro dele se redimirá


ou ele só destruirá mais uma mulher?
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Sinopse:
Dylan Clark sempre teve o mundo aos seus pés.
Dono de uma voz cativante e um carisma ímpar,
ele é um astro do pop famoso mundialmente,
com uma legião de fãs apaixonadas. Lindo,
sexy e milionário, ele tem uma lista
interminável de conquistas. Entretanto, seu
estilo de vida cafajeste está ameaçado pelo
noivado do seu irmão gêmeo.

Caroline Evans é determinada e uma


profissional impecável. Viaja o mundo como
parte da equipe do astro do pop. Produtora, ela
cuida para que tudo corra bem durante as
turnês, mas Dylan, o estilo de vida dele e sua
personalidade egocêntrica, talham o seu sangue
e a tiram do sério.

Com o casamento do seu irmão, Dean,


Dylan sabe que sua mãe tentará fazer o mesmo
com ele, mas não quer abrir mão da vida que
leva. Acha que a melhor solução é dar a mãe o
que ela quer, um noivado. A primeira mulher
que vem a sua mente é Caroline, ninguém o
conhece melhor do que ela e é a candidata
perfeita para convencer sua mãe da farsa.

Será que o cafajeste vai ser livrar de um


casamento ou cair na própria armadilha?
Um canalha para a estrela
(Irmãos Clark Livro 3)

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Sinopse:
Daphne Clark é uma aclamada atriz de
Hollywood que nasceu em berço de ouro e tem
tudo a um estalar de dedos: dinheiro, luxo e
glamour, exceto um grande amor. As relações a
sua volta são superficiais, prezam muito mais
pelo que ela tem do que pelo que é. Imersa em
um mundo onde apenas as aparências
importam, ela só viveu relacionamentos vazios.
Vendo seus irmãos casados e apaixonados,
pensa que o seu dia nunca vai chegar.

Adan Watson já acreditou no amor, mas não


acredita mais. O magnata, dono de uma
destilaria de uísque e um hotel de luxo, foi
traído, abandonado e fechou seu coração para
sempre. Sua vida se resumiu a dinheiro e sexo.
Seu único motivo de felicidade é o filho de
seis anos.

O destino fará com que a vida dos dois se


cruze. A estrela vai se hospedar no hotel do
canalha para as gravações de um filme. Em
meio a uma relação explosiva, podem descobrir
que são exatamente o que o outro precisa, mas
fantasmas do passado podem voltar e por tudo a
prova.

Será que Daphne está pronta para brigar pelo


amor de verdade ou o deixará ir?
Meu primeiro amor é o meu
chefe
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Sinopse:
Jeniffer nunca acreditou no destino, mas ele
parece sempre unir ela ao Leonardo...

Depois de tê-lo conhecido na escola quando


ainda eram adolescentes, tê-lo desprezado e
visto tudo desmoronar quando finalmente
confessou seus sentimentos a ele, Jeniffer
achou que nunca mais voltaria a vê-lo. Contudo,
o destino gostava de juntar os dois.

Ao começar a trabalhar em um grande


projeto, Jennifer se depara com o chefe que
menos esperava: o primeiro homem que
ganhou seu coração e que não via há mais de
uma década. Entretanto, muitas coisas
aconteceram nesses anos longe um do outro.

Será que ainda há amor entre eles ou já


seguiram em frente?
E se... Ele fosse real?

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Sinopse:
Kalina Richter é uma aclamada escritora de
romances, mas seus próprios relacionamentos
não tiveram tanto sucesso. Divorciada e com
uma filha, sua maior paixão, focou apenas nos
livros, nos quais os homens podiam ser
"perfeitos". Quando um dos seus livros se torna
filme, tudo pode mudar.
Jake Montagu é um herdeiro inglês que
desistiu de tudo para se tornar galã de
Hollywood e vê no filme "Paixão Avassaladora"
a oportunidade de se tornar um grande astro.
Está determinado a fazer desse o seu maior
papel.
Com jeito de lorde inglês, cavalheirismo e
charme, Kalina pode acabar se deparando com
o "homem dos seus sonhos" de carne e osso.
Possessivo & Arrogante
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Sinopse:

Atenção: Esta é uma obra de ficção imprópria para


menores de 18 anos. Pode conter gatilhos, incluindo
conteúdo sexual gráfico, agressão física e linguagem
imprópria. Não leia se não se sente confortável com
isso.
_______________________
"Entre a cruz e a espada." Esse ditado nunca fez tanto
sentido para Vânia.

Uma mulher brilhante, uma advogada admirável, mãe


de um adorável bebê, mas que não consegue se livrar
de um relacionamento abusivo com o pai da criança.
Entretanto, a vida está prestes a brincar com o seu
destino.

Um caso polêmico a levará a defender o CEO Franklin


Martins, um homem arrogante, excêntrico e
extremamente sexy... Suas próprias feridas farão com
que ela duvide da inocência dele, contudo, haverão
provas irrefutáveis e uma atração quase explosiva.
Porém, qualquer envolvimento entre os dois pode
colocar a vida de ambos em risco.
E agora... quem é o pai?
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Sinopse:
Quantas burrices você pode fazer quando tá
muito triste depois que pegou seu futuro
marido transando com uma aluna dele?
Cortar o cabelo, comer uma panela de
brigadeiro sozinha, torrar o limite do cartão de
crédito no shopping com as amigas... Eu fiz a
maior besteira de todas! Transei com meu
melhor amigo e um tempo depois eu descobri
que estava grávida. Agora não sei se é dele ou
do ex babaca.
Esse filho é meu!
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Sinopse:
Ter um filho sempre foi um sonho para mim,
mas não significava que eu precisava de um
homem para isso. Decidi que teria meu bebê
sozinha, produção independente, mas eis que
um cara bonito e rico cisma de sacanear a vida
de uma mulher bem-sucedida e cheia de si. Foi
exatamente o que pensei quando aquele sujeito
arrogante decidiu que tinha qualquer direito
sobre o meu filho. Ele não deveria passar de
um doador de esperma, mas ao que parece, a
clínica que fez a minha inseminação artificial
usou uma amostra que não deveria, e um juiz
sem noção determinou uma guarda
compartilhada. Terei que conviver com ele
como "pai" do meu filho, até conseguir reverter
essa situação insana.
Minha bebê
coreana
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Sinopse:

Minha viagem para a Coreia não deveria


passar de uma experiência cultural e artística,
mas ela mudou a minha vida inteira.
Como artista plástica, eu sempre me
encantei pelas cores e formas do oriente, mas
isso não foi a única coisa que me seduziu por
lá. Conheci o Kim Ji Won, um médico gentil
que evitou vários micos meus pela diferença de
cultura. Ou, pelo menos, tentou... Passamos
algumas noites juntos e, como toda viagem tem
um fim, voltei para o Brasil. Só que, ao chegar
aqui, descobri que estava grávida e não contei
para o pai do outro lado do mundo.
Um CEO enfeitiçado

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Sinopse:
Ela é uma mulher determinada, que tem um
único objetivo: tê-lo aos seus pés.
Marcus Werner é o CEO de uma grande
empresa de games. Dono de uma beleza
sedutora e carisma ímpar, é o homem perfeito
para as pretensões de Melissa, que está
disposta a fazer de tudo para tê-lo.
Trabalhando como recepcionista na
empresa, nunca foi notada até que consegue ir a
uma festa e ter uma chance de ficar a sós com
Marcus. A química entre eles é intensa e
evidente. Melissa estava certa de uma ligação
no dia seguinte, mas isso não aconteceu...
Chateada por tudo apontar para apenas o
caso de uma noite, ela se vê desesperada e
encontra em um cartaz na rua a única solução
para tê-lo aos seus pés.
E a ligação acontece...
Leve-me à loucura

Lucas sempre foi um policial exemplar, em


todas as áreas, mas ele nunca imaginou que a
sua beleza e charme um dia seriam usados
como arma.
Trabalhando para a narcóticos na luta constante
contra o tráfico em São Paulo, ele receberá
uma missão um tanto inusitada: se infiltrar
entre os bandidos para seduzir e conquistar a
princesa do tráfico, filha de um dos maiores
líderes de facção criminosa no país.
Era simples, pegue, não se apegue e extraia
as informações necessárias para prender todos
os bandidos, porém em jogos que envolvem o
coração as coisas nunca saem como esperado e
Patrícia o levará à loucura.
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