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ANÁLISE SOBRE ASPECTOS RELEVANTES NO PROCESSO DA

INCLUSÃO DE PESSOAS COM AUTISMO NO MERCADO DE TRABALHO

Anderson Rodrigo Ferraz¹, Simone Alves Gomes dos Santos² Rosangela Monteiro dos Santos3
¹Fatec Jahu, anderson.ferraz@fatec.sp.gov.br.
²Fatec Jahu. 3Fatec Jahu.

RESUMO

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) aparece nos primeiros anos de vida e afeta a
interação social, comunicativa, familiar e profissional. Entre os sintomas do TEA estão
dificuldades em se relacionar com pessoas, irritação ao tentar interagir, dificuldade em
comunicação e movimentos estereotipados e interesses restritos. Este trabalho tem como
objetivo avaliar a percepção dos profissionais pedagógicos quanto à percepção da
inserção das pessoas com autismo no mercado de trabalho. Para isso, foi realizada uma
pesquisa exploratória por meio de buscas em livros, sites e artigos na Web, além duas
entrevistas com uma profissional psicopedagoga, especializada em educação especial e
uma pedagoga, com o propósito de identificar os fatores que interferem na atuação dessas
pessoas no ambiente de produção. Observou-se que, para a contração de indivíduos com
TEA, é necessário que as empresas forneçam treinamentos para os líderes e liderados,
não é possível fazer inclusão social, sem antes investir e fazer adaptações nas empresas,
principalmente no quesito em relação às pessoas.

Palavras-chave: INCLUSÃO SOCIAL/ AUTISMO / MERCADO DE TRABALHO

1 INTRODUÇÃO
O autismo é classificado como um transtorno que afeta as capacidades de
comunicação e de socialização e aparece nos três primeiro ano de vida. Ainda não se sabe
a causa exata do autismo, mas sabe-se que o fator da genética é um dos principais
causadores da síndrome (PAIVA, 2019). Segundo Gadia et al. (2004), os comportamentos
principais do TEA são: privação social, falta de comunicação; comportamentos
padronizados e repetitivos.
Segundo Klin (2004), 20 a 30% dos indivíduos com autismo não chegam a falar.
Por outro lado, cerca de 10% possuem alto desempenho em algumas atividades, tais como
cálculos, engenharias, habilidades vísuo- espaciais e musicais (KLIN, 2004).
O primeiro estudo sobre o autismo foi realizado em 1966 por Victor Lotter, no
qual era possível observa- se que, = em cada 10.000 crianças em toda a população de 8 a
10 anos de Middlesex, 5 possuíam autismo. Em 2004, o índice estava em 1 pessoa com
autismo para 1.000 pessoas. Isto deve- se ao melhor diagnóstico e conhecimento do
transtorno (KLIN, 2004).
Existe a hipótese que o Transtorno do Espectro Autista possa ser uma fase da
evolução genética humana. Sendo assim, tem como embasamento as características
apresentadas em pessoas com autismo, entre elas estão o interesse restrito e hiper foco,
em que eles conseguem se destacar em determinados assuntos e tornar-se profissionais
no mesmo (PAIVA JR. 2019). Pesquisas realizadas nos Estados Unidos, Suécia e
Austrália mostra que apenas 22,5% dos portadores de TEA estão empregados em período
integral. No Reino Unido este número chega 16% que trabalham em turno integral e 32%
em meio período (PAIVA JR, 2019).
Para ter sucesso na inclusão, é necessário trabalhar em conjunto, a empresa deve
buscar parcerias com instituições que cuidam da formação e adaptação de pessoas com
autismo. A qualidade de vida, satisfação e produtividade são fatores fundamentais a serem
observados, principalmente o acompanhamento de profissionais treinados para isso, do
mesmo modo os serviços de assistência psicológica, médica e social (LEOPODINO;
COELHO, 2017).
O presente trabalho tem como avaliar a percepção dos profissionais pedagógicos
quanto à percepção da inserção dos autistas no mercado de trabalho, indicando os fatores
necessários para a inclusão dentro das indústrias e outros.

2 MATERIAL E MÉTODOS
O presente trabalho consiste em uma pesquisa exploratória. As técnicas utilizadas
para o desenvolvimento do mesmo são pesquisas bibliográficas e entrevistas.

Foram realizadas duas entrevistas a fim de solucionar algumas questões sobre


autismo no mercado de trabalho. As entrevistas aconteceram em setembro e participaram
uma Psicopedagoga especialista em alfabetização e educação especial, e uma pedagoga
com certificação TEACCH (Tratamento e Educação para Autistas e Crianças com
Limitações).

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os temas abordados foram: necessidades para cada nível de autismo; aspectos
sobre preparação dos autistas para o mercado de trabalho, pontos fortes e fracos dos
autistas e o ambiente de trabalho.
3.1 NECESSIDADES PARA CADA NÍVEL DE AUTISMO
Segundo as entrevistas realizadas, foi definida a necessidade de apoio no ambiente
de trabalho segundo o nível de autismo, conforme a Tabela 1

Tabela 1: Necessidade de apoio no ambiente de trabalho segundo o nível de


autismo
NÍVEL DE AUTISMO NECESSIDADE DE APOIO
Nível 1 Pouco apoio
Nível 2 Apoio moderado
Nível 3 Muito apoio
Fonte: criada pelos autores, 2020

Os níveis de autismo dependem da intensidade de apoio que eles necessitam em


situações diferentes, e determinadas pelas empresas. Os de nível 1; são aqueles mais
facilidade de adaptação, já o de grau 2 precisam de apoio moderado, os de nível 3
necessitam de muito apoio para desenvolvimento de atividades.
Para ambas entrevistadas, os indivíduos de nível 1 e 2 possuem condições de
trabalharem, desde que tenham uma estrutura ambiental, pessoal e psicológica
preparadas para eles, Porém os do nível três é praticamente impossível , pois a linguagem
e a comunicação são totalmente perdidas, neste nível muitas famílias não conseguem
aceitar o momento crítico do transtorno, e acabam adquirindo problemas psicológicos.

3.2 ASPECTOS SOBRE A PREPARAÇÃO DOS INDIVÍDUOS COM


AUTISMO PARA O MERCADO DE TRABALHO
A tabela 2 mostras os principais aspectos abordados pelas entrevistadas em
relação a preparação dos indivíduos com TEA para o mercado de trabalho
Tabela 2: Preparação dos indivíduos para o mercado de trabalho
PREPARAÇÃO DOS INDIVÍDUOS PARA O MERCADO DE
TRABALHO
• Necessário treinamento com a
equipe do trabalho.
Psicopedagoga
• Dificuldade na manutenção do
emprego.
• Preparação inicia na infância com
o foco nas relações de
Pedagoga convivência.
• Dificuldades: preconceito e
comportamentos de higiene.
Fonte: criada pelos autores, 2020

Para Psicopedagoga, o principal problema na contratação não está em mantê-los


no mercado de trabalho, mas sim como treinar e conscientizar as pessoas que irão interagir
com eles. Para ela, é preocupante a falta de empatia no ambiente de trabalho com pessoas
no espectro autista, sendo assim necessário treinar a equipe na qual eles participarão, para
que não haja problemas entre ambas as partes.
Já para pedagoga a preparação dos indivíduos, é importante já na infância devendo
olhar no futuro como adultos, vendo assim as características que devem ser melhorados
para convivência deles na sociedade. A estrutura criada para eles pode ser diminuída
conforme eles vão aprendendo e se adaptando ao ambiente. Uma técnica utilizada para
ajudar na preparação é a análise comportamental, pois através delas são analisados os
fatores antecedentes e posteriores que justificam os comportamentos inadequados deles.
Umas das dificuldades da inclusão é o preconceito, onde as pessoas imaginam uma coisa
que não é. Outra dificuldade é a higiene pessoal devendo ser trabalhada desde criança
junto às outras habilidades sociais.

3.2 PONTOS FORTES DAS PESSOAS COM AUTISMO


A Tabela 3 mostra as características de autismo que podem contribuir no ambiente
de trabalho segundo as entrevistas.
Tabela 3: Características positivas
CARACTERÍSTICAS POSITIVAS
• Facilidade com rotinas repetitivas
• Pontualidade
Psicopedagoga
• Foco
• Perfil detalhista
• Atenção aos detalhes
• Cumprimento de ordens
Pedagoga • Assiduidade
• Pontualidade
• Descrição
Fonte: criada pelos autores, 2020

Para Psicopedagoga, por mais que por causa do transtorno possua características
negativas quanto à comunicação e socialização, ela também apresenta aspectos desejados,
tais como: facilidade em rotinas repetitivas, pontualidade, super foco, sinceridade e perfil
detalhista. Já para pedagoga, eles são atentos aos detalhes, não fazem fofocas, sabem
cumprir regras, não faltam e cumprem o tempo estabelecido quanto a horários de entrada,
saída e intervalos no local de emprego.

3.4 AMBIENTES DE TRABALHO


Conforme mostrado na Tabela 4, é possível observar os fatores importantes no
ambiente de trabalho para recepção dos indivíduos segundo cada entrevista.
Tabela 4: Ambiente de trabalho
AMBIENTE DE TRABALHO
• Organização
• Sem poluição visual
Psicopedagoga • Sem ruídos
• Carga horária reduzida
• Trabalho repetitivo
• Adaptado segundo as
Pedagoga
características do indivíduo
• Ambiente sem ruído
Fonte: criada pelos autores, 2020

Antes da contratação das pessoas com TEA, é necessário estudar os níveis, pois
os fatores como: ambiente de trabalho, iluminação, som, decoração, até a limpeza
interfere no desenvolvimento deles no ambiente de trabalho.
Para Psicopedagoga, o ambiente laboral tem que estar sempre organizado,
recomenda- se um local sem poluição visual e sonora, é necessário ajustar, preparar e
acompanhar. Isto deve-se às características de hipersensibilidade sonora, podendo distraí-
los. O horário de trabalho tem que ser em tempo menor e não se deve cobrá-los como os
demais. É aconselhável trabalho repetitivo e de acordo com o grau, eles podem trabalhar
em ambientes que tenham maquinários, sendo necessária a utilização de protetores
auricular, pois são sensíveis a barulho. Recomendam-se setores onde há necessidade de
checagem de qualidade. Já para a pedagoga, o ambiente de trabalho e a rotina ideal vão
depender muito das características de cada indivíduo, pois cada um apresenta
comportamento diferente. Para ela quanto menor o ruído maior a chance da adaptação no
ambiente.
Ambas concordam que, antes de qualquer mudança no ambiente de trabalho, deve
haver uma preparação psicológica, isto devido à característica de dificuldade de mudança
de rotina.

3.5 TREINAMENTO
Para as entrevistadas, para a supervisão dos indivíduos com TEA, é necessário
que haja pessoas treinadas para isso. Para Psicopedagoga, eles devem ser cobrados de
acordo com a proposta que lhe foram feitas, sem muita pressão. A empresa pode investir
em treinamentos, palestras, técnicas para ter um bom relacionamento com eles. É
importante ganhar a confiança deles aos poucos, não gritar com eles, ter paciência ao
ensinar e possuir empatia.

4 CONCLUSÕES
De acordo com o estudo realizado, chegou- se às considerações que, para a
integração das pessoas com autismo no mercado de trabalho, é necessário que a empresa
invista em treinamentos para a equipe de trabalho, a fim de ajudá-los na compreensão do
transtorno e inclusão social, sem causar nenhuma perturbação para ambas às partes.
Devem-se fazer melhorias no ambiente de trabalho de acordo com as características de
cada indivíduo para o melhor desempenho e adaptação do funcionário no espectro autista.

5 REFERÊNCIAS
GADIA, C.-; TUCHMAN, R-; ROTTA, N. T. Autismo e doenças invasivas de
desenvolvimento. Jornal de Pediatria, Rio de Janeiro, v. 80, n. 2, p. 83-91, 2004.
Disponível em:<http://www.scielo.br/pdf/jped/v80n2s0/v80n2Sa10>. Acesso em 05 de
novembro de 18.

KLIN, A. Autismo e síndrome de Asperger: uma visão geral. Revista Brasileira de


Psiquiatria, v. 28, n. 1, p. 3-10, 2006. Disponível
em:<http://www.scielo.br/pdf/%0D/rbp/v28s1/a02v28s1.pdf>. Acesso em 05 de
novembro de 18.

PAIVA JR., F. AUTISMO É UMA FORMA DE EVOLUÇÃO DO HOMEM?.Revista


Autismo, São Paulo, n. 5, p. 20- 23, jun./jul./ago. 2019. Disponível em:
<https://www.revistaautismo.com.br/versao-digital/download-gratuito-em-pdf/>.
Acesso em 29 setembro de 2019.

PAIVA JR., F. O ESPECTRO DO MERCADO DE TRABALHO. Revista Autismo, São


Paulo, n. 5, p. 36- 42, jun./jul./ago. 2019. Disponível em:
<https://www.revistaautismo.com.br/versao-digital/download-gratuito-em-pdf/>.
Acesso em 29 setembro de 2019.

LEOPODINO,C. B.; COELHO, P. F. C.O PROCESSO DE INCLUSÃO DE AUTISTAS


NO MERCADO DE TRABALHOE&G Economia e Gestão, Belo Horizonte, v. 17, n.
48, Set./Dez. 2017.Disponível em:
<http://periodicos.pucminas.br/index.php/economiaegestao/article/download/15660/130
69>. Acesso em 24 agosto de 2020.

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