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Agrostologia

Aula 2
Cassia Pereira
Valor nutricional e análise bromatológica
das principais forrageiras utilizadas em
produção animal
• A distribuição dos componentes químicos entre os
diversos tecidos vegetais apresenta variações. De
forma geral, na parede celular estão,
principalmente, celulose, hemicelulose e pectina.

• Também podem estar presentes os beta-glucanos


e compostos como lignina, tanino e proteínas.

• No citoplasma (conteúdo celular) estão ácidos


orgânicos, amido, frutosanas, lipídeos e proteínas.
→ Os carboidratos constituintes da parede celular
não podem ser digeridos pelas enzimas dos
mamíferos, devendo ser submetidos à fermentação
microbiana.

Geram como produtos os ácidos graxos de cadeia


curta e são fontes de energia para a síntese de
proteína microbiana.

 Manter a adequada concentração de fibra efetiva


da dieta, garantida pelo fornecimento desses
carboidratos, é essencial na manutenção da saúde
dos herbívoros.
• Entre os carboidratos estruturais, a celulose é o mais abundante,
perfazendo de 20 a 40% da matéria seca das plantas superiores. É
formado por moléculas de D-glicose, unidas por ligações beta 1-4.

• Já a hemicelulose é composta por arabinose, xilose, manose, galactose


e ácido glicurônico, possuindo ligações mistas.

• Enquanto no polímero de xilano as ligações são do tipo beta 1-4, as


ramificações apresentam grande variedade delas, por exemplo, a
arabinose fixa-se por ligações 1-3, enquanto o ácido urônico pode
apresentar ligações 1-2, 1-3 ou 1-4.

• Por sua vez, a pectina, uma fibra solúvel, é um polissacarídeo


constituído essencialmente de ácido galacturônico com arabinano ou
galactano nas cadeias laterais. Assim como o amido possui ligações alfa
1,4. No entanto, a posição axial das ligações no carbono faz com que
elas não sejam atacadas pela amilase, mas pelas enzimas bacterianas.
Classificação da Associação Americana Oficial de Controle de
Alimentos Americana (AAFCO)

• Os volumosos são aqueles que possuem menos de 60% de


nutrientes digestíveis totais (NDT – que corresponde à soma
da % de proteína e fibras brutas, extrativos não
nitrogenados e extrato etéreo-multiplicado por 2,25, já que
as gorduras fornecem mais energia por unidade- digestíveis)
ou mais de 18% de fibra bruta e, por sua vez, são
subdivididos em secos, como os fenos e palhas, e úmidos,
como as pastagens naturais ou artificiais, as capineiras e as
silagens.

• Já os concentrados possuem alto teor de energia (mais de


60% de NDT) e menos de 18% fibra bruta e podem ser
energéticos (quando têm menos de 20% de proteína bruta)
de origem vegetal (milho, arroz, melaço, polpa cítrica) ou
animal (sebos e gorduras) ou proteicos com mais de 20% de
energia bruta.
Os alimentos de dividem em dois grupos
• Alimentos com muita fibra • Alimentos com pouca fibra

quantidade ≥ 18% FB/MS quantidade < 18% FB/MS

VOLUMOSOS CONCENTRADOS
VOLUMOSOS
• Classe 1: volumosos secos
< 13% umidade

• Classe 2: volumosos verdes


> 13% umidade

• Classe 3: silagens
CONCENTRADOS
• Concentrados basais ou • Concentrados protéicos
energéticos (Classe 4) (Classe 5)
<18% FB/MS <18% FB/MS

< 20% de PB/MS > 20% de PB/MS

Milho, sorgo, mandioca,


aveia, centeio Vegetal Animal
CONCENTRADOS
• Vegetal • Animal
Soja Farinha de carne

Girassol Farinha de penas

Canola Farinha de sangue

Algodão Farinha de peixes

Amendoim Farinha de vísceras avícola


Leveduras
Microrganismos
A concentração de nutrientes nas plantas pode ser influenciada
por diversos fatores.

• Dessa forma, espécie, tipo de solo, clima, estágio de


desenvolvimento e de corte são importantes na determinação
da composição química das forrageiras.

• Em relação à espécie, é possível verificar que, mesmo sendo


tratadas sob as mesmas condições, as respostas são diferentes.

• As leguminosas, por exemplo, apresentam maiores


concentrações de proteína, cálcio e fósforo do que as
gramíneas.

• Leguminosas tropicais também apresentam mais lignina e


menor conteúdo de parede celular do que as gramíneas
tropicais, mas maior conteúdo de parede celular e lignina do
que leguminosas temperadas.
As variáveis climáticas como temperatura, luminosidade e umidade também
têm efeitos.

• Quanto maior a temperatura, menor a digestibilidade devido à presença


de mais tecido lignificado na parede celular.
• A alta temperatura também acelera a taxa metabólica e deprecia o pool
de metabólitos do conteúdo das células que são rapidamente convertidos
em componentes estruturais.

• Já a luminosidade interfere diretamente na fotossíntese. Seu produto


final é a glicose e a eficiência do processo fotossintético é baixa, sendo
que apenas 1 a 3% da luz recebida é fixada. A luz adicional leva ao
acúmulo de açúcares. Como o nitrato requer energia fotossintética para
redução da amônia e da síntese de aminoácidos, quanto maior a
luminosidade total, menores os níveis de nitrato. Os componentes da
parede celular diminuem com o aumento da luz por conta da diluição
provocada pela síntese de carboidratos não estruturais, aminoácidos e
ácidos orgânicos. Assim, o sombreamento afeta a quantidade de luz que
as plantas recebem e tendem a diminuir o valor forrageiro. No frio, a
concentração de nitratos é maior, uma vez que há a redução da sua
conversão em aminoácidos.
• A severa restrição de água interfere negativamente no crescimento e causa a
morte da parte aérea do vegetal, diminuindo a sua produção.

• Uma limitação moderada, por outro lado, pode melhorar a digestibilidade nas
gramíneas, mas expor os animais aos efeitos tóxicos de alcaloides e glicosídeos
que algumas forrageiras possam ter.

• Já as deficiências menos graves, embora reduzam a velocidade de crescimento


dos vegetais, diminuem a formação de caules e aumentam a proporção de
folhas, melhorando o valor nutritivo.

• No entanto, esse último efeito é visto apenas em gramíneas porque as


leguminosas perdem folíolos e têm o seu valor nutritivo bastante diminuído.

• Por sua vez, o solo e o tipo de adubação realizado afetam o rendimento da


matéria seca, interferindo nos teores de proteína bruta, fósforo, potássio e
afetando a sua digestibilidade e o seu consumo.

• Com relação à idade, as plantas mais velhas apresentam baixa concentração de


carboidratos solúveis e baixa digestibilidade porque aumentam a proporção de
caule em relação às folhas e este efeito é mais marcante em gramíneas do que
em leguminosas.
Análise bromatológica dos alimentos

Amostra laboratorial

Proteínas
água
10% Lipídios
Matéria orgânica
Alimento Carboidratos
85%
matéria seca Vitaminas

90%
Matéria mineral
5%
Análise bromatológica dos alimentos
Proteínas
água
10% Lipídios
Matéria orgânica
Alimento Carboidratos
85%
matéria seca Vitaminas

90%
Matéria mineral
5%

Análises gravimétricas
Determinamos grupos de compostos
Método de Weende ou análise proximal
Matéria seca (MS)

Proteína bruta (PB)

Fibra de bruta (FB)


AMOSTRA
Extrato etéreo (EE) LABORATORIAL

Matéria mineral (MM)

Extrativos não nitrogenados (ENN)


Método de Weende ou análise proximal

Fibra de bruta (FB) AMOSTRA


LABORATORIAL

Celulose + Hemicelulose + Lignina


Determinação de matéria seca
• As forragens são colocadas em bandejas previamente pesadas e taradas e submetidas
a uma pré-secagem em estufa com ventilação forçada a aproximadamente 55 °C, por
72 horas, até que o material apresente uma consistência quebradiça que permita a
adequada moagem. Posteriormente, o material é retirado, deixado para esfriar por
aproximadamente uma hora para obtenção da amostra seca ao ar (ASA). O cálculo da
ASA é feito da seguinte forma:

ASA(%) = (peso do material após a pré-secagem x 100) / peso do material verde.

• Posteriormente, a amostra é moída e cerca de três gramas são pesados em cadinhos


de porcelana previamente secos, tarados e esfriados em dessecador (por 20 a 30
minutos) e colocados em estufa de 100-105 °C por quatro horas. Após esse período, os
cadinhos com a amostra são submetidos novamente a esfriamento em dessecador.
Então, é só aplicar a fórmula:

Matéria seca definitiva= (peso da amostra pós estufa x 100)/peso da amostra antes da estufa

• Para cálculo da matéria seca da forrageira, multiplicam-se os valores da matéria seca a


65 °C e 105 °C, e divide-se por 100. No caso demonstrado, esse valor seria de 37,21%.
Determinação de Proteína Bruta
• É feita pelo método de Kjelhdal em que se determina o teor de
nitrogênio da amostra.

• Ele vem não só das proteínas, mas também de compostos


nitrogenados não proteicos, o que constitui um dos seus erros
metodológicos.

• Como as proteínas têm em média 16% de nitrogênio, multiplica-se o


valor de nitrogênio encontrado na análise pelo fator de 6,25 (100/16)
para a determinação do teor proteico do alimento.

• Ela é feita em três fases:


– uma digestão da amostra com ácido sulfúrico para geração de sulfato de
amônio;
– a destilação em que a amônia liberada é captada em uma solução de
ácido bórico marcada com um indicador e
– titulação com ácido clorídrico ou sulfúrico.
Determinação do Extrato Etéreo
• O alimento é banhado por
quatro a seis horas com
éter etílico no
equipamento de Soxhlet.
• São usados balões
previamente tarados e a
diferença de peso entre
eles, pré e pós-estufa, são
usadas para o cálculo da
concentração de extrato
etéreo.
Análise de Matéria Mineral
• A amostra é calcinada no forno mufla, em
temperatura de 600 °C, por um período de
quatro horas.
• É essencial para os cálculos de matéria
orgânica (que corresponde a % matéria seca -
% de matéria mineral).
Extração de Fibra Bruta
• A amostra desengordurada é submetida inicialmente a uma digestão ácida com
ácido sulfúrico a 1,25%, seguida da digestão básica com hidróxido de sódio a
1,25%, com duração de 30 minutos cada.

• O resíduo após essas duas digestões é filtrado em cadinho de vidro poroso e


queimado em mufla a 500 °C.

• Dessa forma, só restará a matéria mineral e a diferença entre o peso do


resíduo após digestão básica e o peso do resíduo após a calcinação é a
quantidade de fibra bruta do alimento.

• A determinação do extrativo não nitrogenado (ENN), que corresponderia à
fração de carboidratos solúveis da dieta, é feita por cálculo:

ENN= 100 – (umidade+proteína bruta+extrato etéreo+matéia mineral)

• A fibra bruta, no entanto, não fornece informações precisas sobre a fração de


carboidratos da dieta. Isto porque no resíduo da digestão ácida temos
basicamente celulose e lignina insolúvel.
FB

PB MM
EE ENN
Método de Van Soest
Mais utilizado para análise de alimentos
destinados aos ruminantes, embora alguns
monogástricos também utilizem esta informação

AMOSTRA

Fibra em detergente neutro (FDN) LABORATORIAL

Fibra em detergente ácido (FDA)


• Van Soest desenvolveu, em 1967, as análises de fibra
detergente neutro (FDN) e de fibra detergente ácido
(FDA) – importantes na formulação de dietas para os
ruminantes.

• O detergente neutro separa o conteúdo celular


(constituído basicamente de proteínas, gorduras,
carboidratos solúveis, pectina etc.), que é solubilizado,
dos carboidratos estruturais, como a celulose, a
hemicelulose, as frações de lignina, proteínas da parede
celular e minerais.

• Já a solução detergente ácido solubiliza, além do


conteúdo celular, a hemicelulose, minerais solúveis e
parte de proteína, deixando como resíduos a celulose, a
lignina, proteínas danificadas pelo calor, além de parte
da proteína da parede celular e os minerais insolúveis.
Método de Van Soest

Fibra em detergente neutro (FDN)

Celulose + Hemicelulose + Lignina


AMOSTRA
LABORATORIAL
Fibra em detergente ácido (FDA)

Celulose + Lignina
OBS: Para que as análises bromatológicas sejam eficientes, é necessário que a amostragem
seja bem realizada.
• Fim da aula 2

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