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Como distinguir depressão de demência na 3.ª idade? O diagnóstico diferencial deverá ser realizado preferencialmente por um A depressão em idosos apresenta uma alta prevalência e se caracteriza
médico especialista, nomeadamente de neurologia ou psiquiatria. De por elevado grau de sofrimento, morbidade e mortalidade elevadas e
entre os vários exames complementares que poderão ser requisitados, prognóstico desfavorável associado à diminuição da qualidade de vida.
Sabia que a depressão afecta uma em cada dez pessoas com idades
tais como a T.A.C. (Tomografia Axial Computorizada) ou R.M. Mesmo assim, apesar de, hoje em dia, dispormos de diversas
acima dos 65 anos? Que é a perturbação mais comum na saúde mental
(Ressonância Magnética) crânio-encefálicas, é também aconselhável a abordagens psicoterapêuticas e de tratamentos medicamentosos eficazes
em idosos e é frequentemente desvalorizada por pacientes, técnicos de
realização de uma avaliação neuropsicológica. e seguros para o tratamento dos transtornos depressivos, principalmente
saúde e familiares, sendo considerada parte integrante do
com inibidores seletivos da recaptação da serotonina, a depressão em
envelhecimento?
idosos tem sido subdiagnosticada e permanece não tratada, levando à
A título ilustrativo deixamos uma tabela com o resumo das principais
incapacitação e ao prejuízo funcional, com riscos aumentados de
diferenças entre depressão e demência na terceira idade:
A desvalorização talvez aconteça porque na depressão na terceira idade, hospitalização e maior utilização dos serviços médicos. Diante desses
além da apatia e fraca motivação, também típicas do envelhecimento, fatos, torna-se evidente que não é possível considerar a depressão no
existem normalmente poucas queixas de tristeza que, por sua vez, é Depressão: idoso uma simples conseqüência "natural" do envelhecimento, mas um
muitas vezes substituída por hipocondria e preocupações somáticas. No Início bem demarcado; problema de saúde pública que nos leva a pensar na importância de se
entanto, a depressão tem vindo a aumentar, reduzindo a qualidade de Historial familiar de depressão; identificar grupos de risco e tratá-los preventivamente. Este artigo
vida, aumentando incapacidades físicas – sendo uma das principais Queixas de perdas cognitivas; aborda alguns dos desafios diante do diagnóstico da depressão no idoso,
causas da dependência funcional de cuidadores para actividades da vida História de dificuldades psicológicas bem como seu diagnóstico diferencial, principalmente com quadros
diária como a higiene e a alimentação, e é um dos maiores prenúncios ou de crise de vida recente; neurológicos e outras condições médicas, e faz uma revisão dos
de suicídio na terceira idade. Perdas cognitivas posteriores à sintomatologia depressiva; principais ensaios clínicos controlados com placebo ou comparador
Pouco esforço durante a aplicação do exame neuropsicológico; ativo, sobre a eficácia dos antidepressivos no tratamento do episódio
Maiores défices na memória a longo prazo; depressivo agudo em idosos.
Muitas das vezes, a depressão na terceira idade vem acompanhada de
Melhoria de défices cognitivos com medicação antidepressiva;
perdas cognitivas, sendo nestes casos denominada de pseudodemência
Início indistinto;
depressiva, o que dificulta o diagnóstico diferencial entre depressão e Epidemiologia
Historial familiar de demência;
demência. Muitos dos sintomas depressivos, como a desmotivação,
Poucas queixas (por parte do próprio) de perdas cognitivas;
apatia, embotamento afectivo, dificuldades de concentração, discurso e
História de dificuldades psicológicas ou de crise de vida pouco O conceito de depressão abrange quadros com alterações
psicomotricidade mais lentos são também sintomas de quadros
frequente; psicopatológicas diversas que podem diferir consideravelmente em
demenciais.
Alterações cognitivas anteriores aos sintomas depressivos; relação à sintomatologia, gravidade, curso e prognóstico. Considerada
Luta frequente para executar as tarefas cognitivas; pela Organização Mundial da Saúde como a quarta causa específica de
Sendo assim, como podemos diferenciar a depressão da demência na Maiores défices na memória a curto prazo; incapacitação social comparativamente a outras doenças durante os anos
terceira idade? Melhoria pouco significativa dos défices cognitivos com 1990, a previsão para 2020 é de que a depressão será a segunda causa de
antidepressivos; incapacitação em países desenvolvidos e a primeira nos países em
desenvolvimento(1).
A ordem de ocorrência dos sintomas ajuda a distinguir depressão de Demência
demência, pois normalmente os doentes cujas alterações cognitivas Início indistinto;
precedem os sintomas depressivos parecem ter maior probabilidade de Dados do National Comorbidity Survey, nos EUA (1992), que incluíram
Historial familiar de demência;
estarem a desenvolver uma “verdadeira” demência do que aqueles em indivíduos de ambos os sexos, numa faixa etária entre 15 e 54 anos,
Poucas queixas (por parte do próprio) de perdas cognitivas;
que a sintomatologia depressiva precede as alterações cognitivas. demonstraram que as taxas de prevalência ao longo da vida para
História de dificuldades psicológicas ou de crise de vida pouco
depressão maior na população geral chegam a 17,3% (10,3% em um
frequente;
ano)(2). A depressão costuma ser recorrente em 75% a 80% dos
Pessoas com depressão catastrofizam as suas dificuldades mnésicas e Alterações cognitivas anteriores aos sintomas depressivos;
pacientes e o número de episódios (em média, 3 a 5) pode chegar a mais
podem até ter resultados inferiores à média nos testes de memória, mas Luta frequente para executar as tarefas cognitivas;
de 20 durante a vida(3). Em idosos, embora as taxas de depressão maior
isto apenas acontece não por dificuldades mnésicas reais mas por pouca Maiores défices na memória a curto prazo;
não sejam muito elevadas, o relato de sintomas depressivos nessa
motivação para o desempenho de tarefas. Melhoria pouco significativa dos défices cognitivos com antidepressivos
população costuma ser alto. Dados da NIH Consensus Conference
https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/2544.pdf
(1992)(4) referem taxas de 1% de depressão maior em idosos, 3% de
Depressão em idosos - desafios no diagnóstico e tratamento
Normalmente apresentam maiores dificuldades na memória a longo distimia, enquanto que entre 8% e 15% dos idosos apresentam
Depression in the elderly
prazo, o que poderá ser confirmado através de uma avaliação de sintomatologia depressiva significativa. Estes números atingem de 5% a
Luiz Paulo Grinberg
neuropsicologia, que escrutina as várias memórias. É também 16% em serviços primários de saúde(5,6,7,8), podendo alcançar de
fundamental avaliar se as dificuldades mnésicas se instalaram súbita ou 22%(5) a 60%(9) em casas de repouso. Estas taxas predominam na faixa
gradualmente e se o idoso tem historial familiar de depressão ou Médico psiquiatra, analista junguiano, membro da SBPA (Sociedade de 55 a 64 anos, com um pico entre 60 e 69 anos, porém estes números
demência. Brasileira de Psicologia Analítica). Coordenador do setor de variam, dadas as diferenças metodológicas entre os estudos(10). Em
atendimento a adultos com transtornos afetivos - PRODAF - UNIFESP relação à incidência, um estudo epidemiológico longitudinal, realizado
(Escola Paulista de Medicina). durante três anos com uma coorte de 2.200 sujeitos da população
No entanto, muito frequentemente, um quadro clínico de demência pode holandesa com idades entre 55 e 85 anos, verificou que a taxa de
ser acompanhado de depressão, o que dificulta o diagnóstico diferencial. transtorno depressivo, numa estimativa conservadora, foi de 2,8% de
casos novos por ano(7).
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Além da alta prevalência, a depressão em idosos se caracteriza por um Na síndrome depressiva se pode dizer que tanto as esferas do humor diagnósticas incluem: depressão melancólica (acentuado retardo
elevado grau de sofrimento e elevada morbidade, estando, quanto da psicomotricidade estão diminuídas. Há sentimentos de vazio psicomotor, qualidade distinta do humor e insônia terminal); distimia
freqüentemente, associada a outras condições médicas gerais(8,11). Em ou tristeza (o indivíduo se sente triste, sem esperanças, desencorajado ou (humor deprimido na maior parte do dia, por, no mínimo dois anos,
cerca de 50% dos casos, particularmente em idosos com saúde física "na fossa"). Pode haver, ainda, irritabilidade aumentada, ansiedade ou segundo os critérios do DSM-IV(15)); depressão atípica
comprometida, a depressão pode tornar-se um problema crônico ou apatia (sentimento da "falta de sentimentos"), com redução do interesse (hipersensibilidade à rejeição, sensação acentuada de fadiga e "peso"
recorrente(6). Com uma morbidade elevada e um prognóstico pelas atividades diárias ("não se importam mais" com nada), decréscimo nos membros, hipersônia e hiperfagia); transtorno misto de ansiedade e
desfavorável com diminuição da qualidade de vida, a depressão em da capacidade para experimentar prazer (anedonia) e retraimento social. depressão (justifica-se este diagnóstico quando os sintomas de ansiedade
idosos também costuma estar associada a uma mortalidade Podem estar presentes sentimentos de baixa auto-estima, pouca e depressão estão presentes, porém não são suficientes para preencher o
aumentada(5,12). Em idosos as taxas de suicídio são duas vezes mais autoconfiança e ruminações sobre frustrações do passado, bem como diagnóstico de "transtorno de ansiedade" ou "transtorno depressivo");
freqüentes que na população geral e, embora as tentativas de suicídio idéias de culpa (os pacientes sentem-se um peso para os outros), depressão bipolar (depressões recorrentes + história de episódios de
diminuam com a idade, sua letalidade aumenta(5). pessimismo (avaliam quaisquer dificuldades como obstáculos mania ou hipomania devem, via de regra, ser tratadas primeiro com um
intransponíveis), auto-recriminação, menos valia e suicídio (desde o estabilizador do humor e, só então, com um antidepressivo(17));
desejo de que seria melhor estar morto ou pensamentos transitórios e ciclotimia (alternância entre sintomas de depressão e hipomania, com
Diante de todos estes dados se torna evidente que não é possível
recorrentes sobre suicídio, até planos específicos para se matar). Podem duração de pelo menos dois anos, cuja intensidade não caracteriza um
considerar a depressão no idoso, simplesmente, uma conseqüência
ocorrer, ainda, idéias delirantes congruentes com o humor (delírios de episódio depressivo nem um episódio hipomaníaco).
"natural" do envelhecimento. Apesar de, hoje em dia, dispormos de
culpa, de punição merecida, de ruína financeira, espiritual ou corporal e
diversas abordagens psicoterapêuticas e de tratamentos medicamentosos
de morte - também chamada de síndrome de Cotard). O curso do
eficazes e seguros para o tratamento dos transtornos afetivos, a Diagnóstico diferencial
pensamento pode estar lentificado, com diminuição da concentração e
depressão em idosos tem sido subdiagnosticada e permanece não
dificuldade para tomar decisões. O humor diminuído varia pouco dia
tratada(5,6,12), levando à incapacitação em grau elevado e ao prejuízo
após dia e parece não responder às circunstâncias exteriores(15). O diagnóstico de um episódio depressivo maior deve considerar,
funcional, com riscos aumentados de hospitalização e maior utilização
principalmente, se as alterações psicopatológicas são primárias ou
dos serviços médicos(12). Todas esses fatos tornam a depressão em
secundárias. Várias condições médicas gerais (p. ex.: câncer, acidente
idosos um problema de saúde pública(12) que nos leva a pensar na Além dos sintomas psíquicos, estão presentes num episódio depressivo
vascular cerebral, infarto do miocárdio, diabetes, hipotireoidismo) e
importância de se identificar grupos de risco e tratá-los os chamados "sintomas somáticos": sensação de diminuição da energia,
outros quadros de transtornos psiquiátricos (p. ex.: transtornos de
preventivamente(7). cansaço e fadiga (tarefas mais leves exigem um esforço considerável),
personalidade borderline* e histriônica, transtornos de ansiedade,
alterações de sono - com insônia inicial, intermediária (o paciente
transtornos esquizofrênicos, esquizofreniformes e esquizoafetivos,
acorda durante a noite e tem dificuldade para voltar a dormir) ou
DIAGNÓSTICO, QUADROS CLÍNICOS E DIAGNÓSTICO transtorno bipolar, alcoolismo e farmacodependências), além dos efeitos
terminal (despertar precoce com incapacidade de conciliar novamente o
DIFERENCIAL diretos da intoxicação por uma droga de abuso (álcool, maconha,
sono) e, menos freqüentemente, hipersônia -, além de alterações do
cocaína) e os efeitos colaterais de medicamentos ou tratamentos devem
apetite (sentem que precisam forçar a comer ou ocorre uma avidez por
ser afastados no diagnóstico diferencial dos estados depressivos.
A depressão pode ser vista como um sintoma presente em diferentes doces e carboidratos), alterações do peso (perda ou elevação),
Finalmente, diante de um quadro depressivo devemos ainda considerar
quadros clínicos de doenças físicas e/ou psiquiátricas ou uma síndrome diminuição da libido e retardo (ou agitação) psicomotor.
as situações de luto, definido, segundo o DSM-IV, por um quadro cujos
caracterizada por alterações psicopatológicas nos planos psíquico,
sintomas se iniciam dentro de dois meses após a perda de um ente
fisiológico e comportamental. Nas últimas décadas diversos sistemas
Segundo o DSM-IV, um "Episódio Depressivo Maior" é caracterizado querido e não perduram mais que dois meses(15). Após este período,
dicotomizados, baseados em algumas hipóteses etiológicas foram
por um período mínimo de duas semanas consecutivas em que ocorre pode-se falar em luto patológico.
propostos para classificar as depressões: bipolar vs. unipolar; reativa vs
humor deprimido ou perda de interesse ou prazer em quase todas as
endógena; neurótica vs. psicótica; primária vs. secundária - estas últimas
atividades, na maior parte do dia, praticamente todos os dias. Estes dois
englobando cerca de 40% das depressões(13). Como veremos, muitas A AVALIAÇÃO DA DEPRESSÃO NO IDOSO
sintomas devem ser acompanhados por, no mínimo, quatro outros
das depressões no idoso estão relacionadas a diversas comorbidades
sintomas adicionais de uma lista que inclui: alterações de apetite ou
médicas. Além dessas, o idoso pode tanto manifestar um episódio
peso, sono e atividade psicomotora; diminuição da energia; sentimentos Vários autores têm demonstrado que a depressão em idosos é
depressivo como manifestação de um transtorno depressivo recorrente
de desvalia ou culpa; dificuldades para pensar, concentrar-se ou tomar subdiagnosticada e, conseqüentemente, não tratada
ou de uma distimia, cujo início se deu em idade mais jovem, ou
decisões; e pensamentos recorrentes sobre morte ou ideação suicida, adequadamente(12,5,19). Alguns estudos sugerem que cerca de 40% dos
apresentar um primeiro episódio após os 60 anos - a chamada
planos ou tentativas de suicídio. Deve haver, ainda, um prejuízo pacientes deprimidos não são identificados por seus médicos em
"depressão de início tardio"(14). Este subgrupo de pacientes representa
clinicamente significativo no funcionamento social, profissional ou serviços primários de atendimento(4) que costuma ser o local mais
uma população com uma carga médica e transtornos neurológicos
outras áreas importantes da vida do indivíduo(15). freqüentemente procurado por esta população para se tratar(12). As
(maior prevalência de quadros demenciais, maior prejuízo em testes
razões para este problema incluem: 1) fatores culturais relacionados à
neuropsicológicos, maior prejuízo auditivo) que podem ser
atitude e ao preconceito em relação ao estigma do diagnóstico
"confundidos" quando surge a depressão(4). Além disso, é bastante Classificação das depressões
psiquiátrico - tanto por parte do paciente e seus familiares quanto por
comum o fato de que idosos apresentem uma quantidade de sintomas
parte do cuidador - que tendem a considerar a depressão no idoso como
depressivos insuficientes para preencher critérios diagnósticos de
Ainda que a classificação dos estados depressivos em idosos seja "conseqüência natural" do avanço da idade(12,19) ou decorrente de luto,
"transtorno depressivo maior". Daí falarmos no idoso em "depressão
semelhante a dos adultos mais jovens, no idoso, como abordaremos a problemas financeiros ou doença física - a chamada "falácia do bom
subsindrômica" (também conhecida como "depressão leve", "depressão
seguir, as características clínicas costumam diferir um pouco, tanto motivo"(5); 2) o fato de que o quadro clínico da depressão no idoso
subclínica" ou "depressão menor").
devido a uma chance maior de ocorrerem comorbidades orgânicas como possui peculiaridades próprias que o distinguem da apresentação em
em decorrência das pressões psicológicas e adaptativas (sociais, indivíduos mais jovens; 3) o desconhecimento e/ou a falta de
econômicas) presentes nesta faixa etária(16). As principais categorias treinamento dos profissionais de saúde; e 4) a falta de suporte do
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sistema público de atendimento(12). Portanto, as chances de que os Depressão e doenças físicas transversais), constatando-se, entretanto, sua importância como fator de
sintomas depressivos nesta população vulnerável a múltiplos sintomas risco que prediz sintomas depressivos, através de estudos
físicos não sejam reconhecidos é bastante elevada. longitudinais(8). Portanto, a incapacitação e a fragilidade do idoso não
Outro aspecto que pode dificultar o diagnóstico é a sobreposição dos
devem ser vistas como sinônimos de depressão, mas sim como fatores
sintomas somáticos da depressão e comorbidades com outras doenças
que podem ser amplificados pelo estado depressivo(12). Finalmente,
* É comum o sentimento de desamparo, vazio e solidão nestes crônicas. Se por um lado, como vimos, a depressão está relacionada a
aspectos culturais, principalmente no Ocidente, como o "culto à
pacientes, e a queixa de que suas necessidades afetivas não estão sendo uma série de patologias, os estados depressivos têm sido associados a
eficiência e à produtividade"(16), obrigam o idoso a conviver com
preenchidas pelos outros. um aumento da carga médica, internações hospitalares mais longas e
diversas situações de perda relacionadas à restrição das oportunidades
custos maiores em serviços básicos de atendimento(24). Sabe-se que
de emprego e conseqüente diminuição do padrão econômico,
65% dos pacientes deprimidos recebem mais do que cinco medicações
Como mencionamos, a depressão no idoso é basicamente heterogênea, aumentando ainda mais sua vulnerabilidade à depressão.
comparativamente a 35,6% dos pacientes não deprimidos(24). Segundo
podendo-se iniciar na fase adulta e persistir com episódios recorrentes
Krishnan (2002), cerca de 20% dos pacientes cardíacos submetidos ao
durante a velhice ou iniciar tardiamente (> 60 anos). Este fato tem
cateterismo apresentam depressão maior à época do exame, um terço Depressão, pseudodemência e demências
implicações importantes tanto no diagnóstico diferencial,
dos pacientes desenvolve depressão em algum período 12 meses após
principalmente com os quadros orgânicos, como a própria implicação de
infarto agudo do miocárdio e um quarto dos pacientes portadores de
que a depressão de início tardio possa funcionar como um fator de risco A relação entre depressão e demências pode se dar de três formas
câncer apresenta sintomas depressivos(11). Comparados a pacientes
para o desenvolvimento de quadros demenciais(14, 20). principais: podemos encontrar prejuízo cognitivo entre pacientes
jovens, os idosos sofrem de múltiplas doenças coexistentes(25), cujos
deprimidos sem demência; a depressão pode funcionar como fator de
efeitos do estresse fisiológico, da incapacitação funcional e das
risco para a demência ou representar o início de um quadro demencial;
Idosos deprimidos não costumam apresentar os sintomas típicos do mudanças de vida decorrentes de sua cronicidade podem precipitar uma
ou podemos estar diante de uma comorbidade entre transtorno
transtorno depressivo maior, como, por exemplo, tristeza, nem da depressão em indivíduos suscetíveis. Da mesma forma, o próprio estado
depressivo e demência. O DSM-IV(15) descreve as alterações
distimia (depressão crônica), mas referem um maior número de depressivo pode intensificar a percepção dos sintomas de uma doença
neuropsicológicas do transtorno depressivo maior, como um quadro
sintomas somáticos e cognitivos que afetivos, que nos podem fornecer física(24), o que, por sua vez, piora os sintomas depressivos. Portanto,
denominado de "pseudodemência", quando estas forem reversíveis com
pistas importantes de sua condição depressiva(5,19). Alterações se o diagnóstico diferencial de um episódio depressivo maior deve, de
o tratamento adequado.
neuropsicológicas, quando presentes, parecem estar relacionadas ao acordo com o DSM-IV(15), excluir um "transtorno devido a uma
chamado padrão subcortical frontal(21), com lentificação do condição médica geral", no caso dos deprimidos idosos, esta expressão
processamento de informações e déficit de funções executivas, torna-se-á irrelevante, uma vez que, como afirmam Alexopoulos e cols. Raskind (1998)(30) descreve alguns critérios que são fundamentais para
particularmente nas depressões de início tardio(22). Sintomas (2002), "pode-se dizer que existe uma relação de reciprocidade entre se diferenciar a pseudodemência depressiva (PD) e a doença de
depressivo e de ansiedade mais graves e sintomas vegetativos costumam sintomas depressivos e o impacto de uma doença física"(5). Diversos Alzheimer (DA). Na pseudodemência, os sinais e sintomas da depressão
estar mais associados a alterações neuropsicológicas(22). estudos transversais têm apontado esta correlação. No entanto, não se são a expressão inicial do transtorno, usualmente num paciente com
pode afirmar que ela seja específica. história anterior de episódios afetivos; o paciente tende a não colaborar
com o exame e sua capacidade cognitiva flutua conforme se tenta
Pode-se falar de uma depressão subsindrômica em idosos que, segundo
esclarecer suas motivações; não ocorre afasia da linguagem nem apraxia
alguns autores, pode manifestar-se de duas formas básicas: uma variante Um modelo que tem sido proposto para a compreensão desta mútua
durante a execução dos testes; o paciente não responde a estímulos
do transtorno depressivo maior com uma menor quantidade de sintomas influência entre doenças físicas e depressão leva em conta a interação de
positivos ou prazerosos; e, finalmente, o paciente com PD quase sempre
e menor continuidade, e um quadro qualitativamente diferente, com aspectos biológicos como a patologia somática, alterações hormonais e
responde à farmacoterapia com antidepressivos e, uma vez tratada a
menor quantidade de pensamentos suicidas ou sentimentos de culpa e de metabolismo de neurotransmissores(16), e a vulnerabilidade genética
depressão, a remissão dos déficits cognitivos costuma ser a regra. Em
desvalia, e presença de preocupações hipocondríacas e o sentimento de individual, de um lado, e os estressores psicossociais, eventos de vida
contraste, na doença de Alzheimer, o prejuízo da memória de fixação e
"estar cansado de viver"(23). (isolamento social, situações de luto e outras perdas) e a disponibilidade
das funções executivas ocorre, usualmente, antes do desenvolvimento
de suporte social, de outro, como possíveis desencadeantes de um
do quadro depressivo; o paciente, geralmente, colabora com o
quadro depressivo(12, 25).
Uma vez negado, o humor depressivo costuma ser relatado como uma examinador, mas apresenta déficits cognitivos persistentes, embora se
falta de sentimento. Este quadro, que tem sido descrito por alguns esforce em desempenhar as tarefas cognitivas; afasia e apraxia são
autores como "depressão sem tristeza"(19), constitui-se de apatia, perda Deve-se ainda levar em conta o fato bem estabelecido de que a comuns (particularmente nos estágios intermediários ou avançados da
de interesse e prazer nas atividades, sentimentos de desesperança (que depressão pode afetar a adesão do paciente ao tratamento, influenciando doença); mesmo apresentando apatia o paciente usualmente responde
costumam estar associados à ideação suicida), fadiga, insônia e negativamente o desfecho de condições médicas crônicas, como no caso positivamente a estímulos ambientais conhecidos; e, no paciente com
dificuldades de memória e de concentração, além de queixas somáticas da doença coronariana ou do diabetes(11). Numa metanálise, DiMatteo DA, os déficits cognitivos não melhoram com antidepressivos, mesmo
vagas e, muitas vezes desproporcionais, cuja etiologia orgânica não e cols. (2000) observaram que a probabilidade de não adesão às se houver melhora do quadro depressivo. Finalmente, exames de
pode ser comprovada. Assim, diversos sintomas físicos podem recomendações do tratamento médico foi três vezes maior em pacientes imagem e EEG podem estar alterados na DA.
mimetizar ou "mascarar" a depressão. Por conseguinte, a depressão deve deprimidos comparativamente aos não deprimidos (odds ratio= 3.03;
ser suspeitada e investigada em pacientes idosos que apresentam IC= 95%, 1,96-4,89)(26).
Butters e cols. (2004) colocam que uma das implicações importantes do
anedonia, ansiedade, lentificação psicomotora, sentimentos de
prejuízo cognitivo na depressão em idosos é o risco substancialmente
desesperança e fadiga ou perda de peso, assim como nos usuários
Além desses fatores, uma discussão tem surgido sobre a importância da elevado de se desenvolver um quadro demencial nos dois a quatro anos
freqüentes dos serviços de saúde que se apresentam com sintomas
inclusão de medidas de incapacitação (disability) no diagnóstico da que se seguem a um episódio depressivo(22). Apesar de as primeiras
persistentes e inexplicados de cefaléia, dor, cansaço, insônia ou perda do
depressão em idosos(12), ainda que a potencial relação causal entre manifestações da demência serem, na maioria das vezes, as alterações
apetite(12).
declínio funcional e sintomas depressivos seja um conceito neuropsicológicas (principalmente a memória), em muitos pacientes os
intuitivamente assumido (que não foi demonstrado em estudos sintomas afetivos (apatia e depressão) podem preceder o prejuízo
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cognitivo. Assim, diversos quadros demenciais apresentam sobreposição O tratamento de um episódio depressivo no idoso segue, em linhas Tem se padronizado a definição de resposta nos ensaios clínicos
com transtornos depressivos, cujas taxas de prevalência variam gerais, o esquema terapêutico de um adulto mais jovem, mas conta com controlados com AD como uma redução de 50% dos escores basais,
amplamente, alcançado números entre 0% e 87%, uma vez que se trata algumas peculiaridades próprias dessa população. Comparativamente segundo dois instrumentos clínicos principais de avaliação: a Hamilton
de populações de pacientes psiquiátricos e não da população geral(5). aos pacientes mais jovens, os idosos apresentam uma capacidade Depressive Scale(38) (HAM-D nas versões com 17, 21 ou 24 itens) ou,
Além disso, complica ainda mais o diagnóstico o fato de um paciente diminuída em metabolizar determinadas drogas; uma variabilidade menos freqüentemente, a Montgomery-Asberg Depression Rating
portador de demência, na maioria das vezes, não informar maior em relação às concentrações plasmáticas dos fármacos (já que Scale(39) (MADRS). Observa-se que, com esta definição,
adequadamente(5,12). apresentam níveis séricos de proteína mais baixos que podem levar a aproximadamente entre 50% e 70% dos pacientes respondem aos AD, o
maiores concentrações da droga livre - ou seja, não ligada à proteína - e, que não significa que, necessariamente, melhoraram(40). Por exemplo:
conseqüentemente, mais ativa)(34); e uma sensibilidade aumentada aos um paciente com uma depressão grave, cuja pontuação basal seja de 36
Alguns aspectos podem ajudar no diagnóstico diferencial entre quadro
efeitos colaterais(12,34,35). Além disso, freqüentemente, os idosos na HAM-D17 - cuja pontuação vai de 0 a 52 -, alcança o índice de
demencial e transtorno depressivo. Nas demências os sintomas
estão fazendo uso concomitante de alguma outra medicação clínica que "resposta" (=18) ainda com um escore suficientemente alto para
depressivos são mais instáveis e podem mudar com a progressão do
pode interagir com o AD. Finalmente, não há critérios claramente satisfazer os critérios diagnósticos(41). Ou seja, ainda continua
quadro ou não alcançam a duração ou o impacto funcional requeridos
estabelecidos que permitem prever qual subgrupo de pacientes idosos deprimido, apesar de haver "respondido" de acordo com a medida de
para um diagnóstico de depressão maior(5). As idéias de desvalia e
deverá submeter-se a um regime cauteloso em relação à dosagem de desfecho preestabelecida. Portanto, o padrão-ouro daquilo que se espera
desesperança na demência estão ausentes ou mal-sistematizadas.
AD(34). Portanto, via de regra, recomenda-se que se comece com uma para um resultado ótimo no tratamento é a remissão completa, visando o
Enquanto na demência as dificuldades são minimizadas e
dose inferior e que o incremento seja gradual. retorno em nível de funcionamento pré-mórbido e a uma situação de
racionalizadas, na depressão elas tendem a ser hipervalorizadas. Na
bem-estar, definida por diversos estudos como um escore £ 10 (alguns
demência encontramos déficits corticais, como afasias e apraxias, que
até £ 6) na HAM-D, independentemente da pontuação inicial(41) - o que
não são encontrados na depressão. Alguns estudos têm enfatizado Fase aguda
baixa os índices de eficácia com AD para 25% ou 35%(40). Esta
sintomas como a redução de afetos positivos (mais do que a anedonia) e
definição é importante, pois sabe-se que a presença de sintomas
incluído a irritabilidade, isolamento e retraimento social como critérios
A fase inicial inclui os dois a três primeiros meses e costuma ser a mais residuais (depressão sub-sindrômica) é um fator de risco para recaídas
diagnósticos para a depressão na doença de Alzheimer, que, entretanto,
delicada. É o momento em que se estabelece o início da construção de ou recorrências(42).
necessitam de estudos de validação(12).
uma relação de confiança entre o médico e o paciente que chega com
todas as expectativas, buscando aliviar seu sofrimento. Há necessidade
Inúmeros AD têm sido avaliados em ensaios clínicos controlados, em
Tratamento de se avaliar o risco de suicídio, monitorar a resposta e manejar os
relação à eficácia no tratamento da depressão em idosos. Devido ao
efeitos colaterais. Muitas vezes, é de fundamental importância
melhor perfil e tolerabilidade com menor quantidade de efeitos
estabelecer também um vínculo com um familiar cuidador mais
O sucesso do tratamento, com freqüência, irá depender, em primeiro colaterais (vide abaixo) e maior segurança em relação à toxicidade
próximo. A Diretrizes da Associação Médica Brasileira para o
lugar, de uma boa comunicação e aliança entre médico e paciente e do cardiológica, na última década, os Inibidores Seletivos da Recaptação de
Tratamento da Depressão recomenda consultas semanais, pelo menos,
engajamento deste (e, freqüentemente, de seus familiares e/ou cônjuges) Serotonina (ISRS) têm sido apontados como as drogas de primeira
durante as quatro a seis semanas iniciais(3). Os objetivos são a
como participante ativo dentro de um esquema terapêutico. Aliança escolha no tratamento de um episódio depressivo agudo (unipolar) no
diminuição dos sintomas depressivos (resposta) ou a remissão completa
terapêutica significa, principalmente, "escutar e empatizar com o ponto idoso, em substituição aos AD tricíclicos e inibidores da
do quadro.
de vista do outro"(31), buscando entender a compreensão que o próprio monoaminoxidase (i-MAO)(35). Os principais AD utilizados em nosso
paciente tem de sua doença, ajudando-o a elaborar o significado de sua meio são: ISRS (citalopram, sertralina, fluoxetina, paroxetina,
depressão e relacionando-a com seu contexto interpessoal de vida. Antidepressivos são efetivos nas depressões moderadas e graves, fluvoxamina); os chamados antidepressivos duais (ISRS + inibição
Fatores como personalidade pré-mórbida(32,33) e neuroticismo(31), enquanto que, em depressões leves, não parece haver resposta diferente seletiva da recaptação de norepinefrina) - como a venlafaxina e
além de informações objetivas sobre a doença e o grau de suporte do placebo(3). As taxas de resposta aos AD em idosos costumam ser duloxetina; e outros, com perfis mais específicos: mirtazapina (bloqueio
familiar e social adequados, podem facilitar ou não a adesão ao similares às dos adultos mais jovens(36), ocorrendo entre a segunda de receptores pré-sinápticos a2-adrenérgicos e receptores pós-sinápticos
tratamento e contribuir para seu desfecho positivo ou negativo. Assim, é equarta semana, embora alguns pacientes possam responder a partir da 5HT2/3) e bupropiona (antagonista dopaminérgico).
importante ter-se em mente que estamos tratando do paciente deprimido sexta semana(3). O tempo maior na resposta observado na clínica
em seu contexto de vida e não simplesmente de uma depressão. costuma ser devido a um aumento mais gradual da dose a fim de se
Numa revisão sobre as evidências da eficácia dos antidepressivos no
evitar os efeitos colaterais. Numa metanálise avaliando os ensaios com
tratamento do episódio depressivo agudo em idosos com depressão
AD que consideraram o tempo e a velocidade de resposta em idosos,
Antes da escolha do tipo de antidepressivo (AD) mais bem indicado é unipolar, por meio de ensaios clínicos randomizados e duplo-cegos
Whyte e cols. (2004) identificaram evidências robustas em relação à
fundamental fazer um inventário dos ensaios medicamentosos prévios, controlados com placebo (ECRDP), Roose & Schatzberg (2005)
gravidade dos sintomas depressivos, anormalidades do sono e
bem como das medicações atuais e respectivas doses, principalmente constataram que apenas cinco estudos* apresentavam rigor
comorbidade com sintomas ansiosos, como sendo os principais fatores
devido às possíveis interações medicamentosas entre algumas classes de metodológico suficiente, dentre os quais, parâmetros de resposta e de
de risco responsáveis pelo prolongamento do tempo de resposta
remédios e AD (vide abaixo). A eficácia dos antidepressivos, das remissão claramente definidos(41). Paroxetina, fluoxetina e sertralina
terapêutica(36). Outros fatores, como idade de início, suicidalidade,
psicoterapias e da eletroconvulsoterapia(34) no tratamento do episódio apresentaram diferenças significativas comparativamente ao placebo,
transtornos e traços de personalidade(31,32,33), prejuízo cognitivo,
agudo de depressão em idosos tem sido demonstrada em diversos tanto em relação às taxas de resposta como de remissão(41). Nos dois
suporte social, comorbidade com doenças crônicas, eventos estressores
estudos controlados (Tabela 3). Igualmente, as evidências têm outros estudos não houve superioridade da venlafaxina e do citalopram
de vida e qualidade do ambiente físico, podem isolados ou em
demonstrado a eficácia dos antidepressivos, da psicoterapia interpessoal comparativamente ao placebo(41). Neste último estudo, entretanto, o
combinação, potencialmente, afetar a resposta ao tratamento, porém as
e da combinação de ambos na prevenção das recorrências no transtorno citalopram foi superior a placebo nos pacientes com sintomatologia
evidências até agora são mais limitadas e não conclusivas(36).
depressivo maior em idosos(12). Por outro lado, o tratamento das grave, tanto em relação à resposta quanto à remissão. A seguir, um
Gildengers e cols. (2005) observaram que uma auto-estima elevada
depressões psicóticas e do transtorno afetivo bipolar permanece pouco resumo destes cinco estudos:
esteve associada à resposta mais rápida ao AD(37).
estudado em idosos(12).
5

· Num estudo multicêntrico com a paroxetina (12 semanas, n = 319, · Num estudo de seis semanas com 81 pacientes com depressão unipolar secreção inadequada do hormônio antidiurético pode ocorrer nas
idades entre 60-88), Rapaport e cols. (2003) verificaram taxas e doença isquêmica do coração, Nélson e cols. (1999) verificaram que, primeiras semanas de tratamento e costuma ser um efeito colateral mais
significativamente superiores tanto de resposta (definida como um dos pacientes que completaram o ensaio (63%), 73% responderam comum em idosos que na população geral(24,35). Na Tabela 2 estão os
aumento de 1 a 2 pontos na CGI) da paroxetina cr (72%) vs. paroxetina (HAM-D) à paroxetina (20-30 mg/d) e 92% à nortriptilina (níveis perfis farmacológicos dos principais AD e seus respectivos efeitos
ir (65%) vs. placebo (26%) quanto de remissão (HAM-D £ 7) da séricos de 50-150 ng/ml). A taxa de remissão (HAM-D £ 8) para os que colaterais. Note-se a elevada incidência de efeitos anticolinérgicos e
paroxetina cr (43%) vs. paroxetina ir (44%) vs. placebo (26%). Em completaram o estudo foi de 68% com a paroxetina e 85% para a adrenérgicos, principalmente com AD tricíclicos. Mesmo assim, em
relação ao abandono devido a efeitos colaterais, as taxas foram de nortriptilina. Os pacientes no grupo da nortriptilina descontinuaram o depressões mais graves a opção pode ser a venlafaxina ou
16,0% (paroxetina ir) vs. 12,5% (paroxetina cr) vs. 8,3% (placebo)(43). tratamento mais precocemente (35% vs. 10%) e apresentaram maiores nortriptilina(34).
taxas de efeitos colaterais (25% vs. 5%)(48). Esse estudo incluiu
pacientes mais jovens, com faixa etária entre 33-84 anos (média de
· No estudo da fluoxetina (6 semanas, n = 671, > 60 anos), Tollefson e Interações medicamentosas
57,8), o que limita a generalização para uma população de idosos.
cols. (1995) verificaram uma diferença estatisticamente significativa da
fluoxetina comparativamente ao placebo, tanto em relação à resposta
Em relação às interações medicamentosas via sistema citocromo P450
(43,9% vs. 31,6%, p = 0.002) quanto à remissão (31,6% vs. 18,6%, p < · Num segundo estudo (12 semanas, com n = 116 pacientes, idade média
(CYP450), os antidepressivos apresentam diferentes perfis, com
0.001). As taxas de descontinuação devido a efeitos colaterais não entre 75 ± 7,4), Mulsant e cols. (2001) verificaram que as taxas de
metabolismo e inibições exclusivas. O sistema P450 em humanos é
revelaram diferenças (fluoxetina = 11,6% vs. placebo = 8,6%)(44). remissão com paroxetina 20-40 mg/d (55% com HAM-D £ 10 e 32%
composto por cerca de 40 enzimas codificadas por um gene específico,
com HAM-D £ 6) foram semelhantes às da nortriptilina (57% com
seis das quais - encontradas no retículo endoplasmático liso dos
HAM-D £ 10 e 35% com HAM-D £ 6). As taxas de descontinuação,
· No estudo com a sertralina (8 semanas, n = 747, idade média = 69,8), hepatócitos e nas células epiteliais do lúmen do intestino delgado - são
devido aos efeitos colaterais, foram significativamente superiores com a
Schneider e cols. (2003) encontraram taxas de resposta (CGI) responsáveis por cerca de 90% de toda sua atividade metabólica: 1A2,
nortriptilina (33% vs. 16%)(49).
significativamente superiores da sertralina (45%) vs. placebo (35%) na 2C9, 2C19, 2D6, 2E1 e 3A4(53).
análise por intenção de tratar (p = 0.005) e uma diferença em favor da
sertralina (53% vs. 37%) no grupo que completou o estudo (p < 0.001). · Finalmente, num estudo de 12 semanas com 58 pacientes e idade
Citalopram e seu enantiômero, o escitalopram, apresentam poucas
Os pacientes tratados com sertralina tiveram uma redução média de 7.4 média= 70,6, Navarro e cols. (2001) constataram taxas de remissão
interações medicamentosas e possuem um perfil relativamente seguro,
na HAM-D, significativamente superior (p = 0.01) aos do grupo placebo (HDRS £ 7) significativamente superiores da nortriptilina (80-120
dada a relativa ausência de inibição do CYP450. Paroxetina, fluoxetina
(6.6) e uma melhora de 2.7 (sertralina) vs. 2.9 (placebo) na CGI (p = ng/ml) comparativamente ao citalopram (10-40 mg/d), particularmente
(e seu metabólito ativo a norfluoxetina) são potentes inibidores da
0.02). As taxas de abandono devido a efeitos colaterais foram de 8% nos pacientes com sintomatologia mais grave: melancolia (85,7% vs.
enzima 2D6 - uma isoenzima que metaboliza diversas drogas como
para sertralina vs. 2% com placebo(45). 16,6%, p= 0.03), sintomatologia psicótica (75% vs. 0%, p< 0.05) ou
analgésicos, antiarrítmicos, antipsicóticos, opiáceos, b-bloqueadores,
retardo psicomotor grave (81,8% vs. 11,1%, p < 0.01), respectivamente
bupropiona e venlafaxina(34, 35). Portanto, pacientes em uso de alguma
com nortriptilina vs. citalopram(50).
· No estudo com o citalopram (8 semanas, n = 174, idade média = 79.6 destas medicações concomitantemente à fluoxetina ou paroxetina
± 4.4), Roose e cols. (2004) verificaram que tanto as taxas de resposta apresentam risco de elevação das concentrações plasmáticas de seus
(CGI) quanto de remissão (HAM-D £ 10) nesta população de idade mais Na Tabela 3 se encontram, resumidos, os dados dos principais estudos substratos. A fluvoxamina é descrita como um "pan-inibidor", pois
avançada foram semelhantes ao placebo. Entretanto, pacientes com randomizados duplo-cegos com placebo ou comparador ativo sobre a funciona como inibidora de quase todas as enzimas do sistema P450(53)
sintomatologia mais grave (HAM-D ³ 24) representados por 68 eficácia dos AD no tratamento do episódio depressivo agudo em (potente para 1A2 - que metaboliza tricíclicos e diazepam - e 2C19; leve
pacientes (39.1%) apresentaram taxas melhores com citalopram vs. idosos(43-50,60-79). Há poucos estudos em relação ao tratamento da a moderada para 2B6, 2C9 e 3A4 - esta última responsável pela
placebo tanto de resposta (46% vs. 23%, p = 0.007) quanto de remissão depressão psicótica em idosos, mas há um consenso, entre alguns metabolização de drogas freqüentemente prescritas aos idosos, como
(35% vs. 19%, p < 0.005)(46). autores, em se optar pelos novos antipsicóticos atípicos e a cisaprida, antiarrítmicos, benzodiazepínicos, antibacterianos, estatinas,
eletroconvulsoterapia nesses casos(51). corticoesteróides(34,35)). Portanto, sempre que se associar qualquer
outra medicação à fluvoxamina, deve-se começar com doses baixas,
· Finalmente, o estudo de oito semanas, com 300 pacientes, realizado
elevando-as gradualmente e monitorando cuidadosamente os níveis
por Schatzberg & Roose (2006) foi negativo: as elevadas taxas tanto de Efeitos colaterais
plasmáticos e a potencial toxicidade. Sertralina (e seu metabólito ativo,
resposta (HAM-D/MADRS e CGI-I) quanto de remissão (HAM-D £ 7)
a desmetilsertralina) são inibidores fracos de 2C9, 2C19 (tolbutamida,
com placebo limitaram as inferências sobre a eficácia da venlafaxina
Na prática, será, muitas vezes, o perfil dos efeitos colaterais que irá warfarin) e 3A4(53). Venlafaxina e seu metabólito ativo, a O-
(até 225 mg/d) vs. fluoxetina (20-60 mg/d) (Tabela 3). As taxas de
determinar a escolha de um determinado AD. Em relação aos ISRS, são desmetilvenlafaxina, são inibidores fracos de 2D6(53). Em relação aos
efeitos colaterais foram superiores com a venlafaxina (27%) quando
particularmente importantes os efeitos decorrentes do próprio estímulo tricíclicos, amitriptilina e imipramina são inibidores de 2C19, enquanto
comparadas com a fluoxetina (19%) ou placebo (9%)(47).
dos receptores serotoninérgicos: 5HT2: agitação, acatisia, tremores, que nortriptilina e desipramina são inibidores leves a moderados de
sintomas extrapiramidais, aumento de ansiedade (no início do 2D6(53). Dentre os AD "atípicos", a mirtazapina não é um inibidor
Ainda, segundo Roose & Schatzberg (2005)(41), dos diversos estudos tratamento), insônia, mioclonia noturna e disfunção sexual (retardo da potente de P450 e a bupropiona é um inibidor fraco de 2D6(53).
randomizados duplo-cegos que utilizaram um comparador ativo (em vez ejaculação, diminuição da libido, anorgasmia); 5HT3: náusea, vômitos,
do placebo) - indicando, portanto, a efetividade (e não eficácia) dos diminuição do apetite e diarréia(52). Os demais efeitos colaterais
Não resposta: o que fazer?
ISRS -, somente três monitoraram os níveis plasmáticos do comparador decorrem de efeitos anticolinérgicos periféricos, como boca seca, visão
ativo (nortriptilina), dois com paroxetina(48,49) e um com turva, constipação ou retenção urinária, ou centrais, como tonturas,
citalopram(50): sedação, delirium, prejuízo cognitivo e alterações de memória. Os Pode-se afirmar que, em condições que se aproximam da prática clínica,
efeitos anti-histamínicos provocam sedação e ganho de peso e os efeitos as taxas de remissão com AD alcançam entre 50% e 90%(41), o que
noradrenérgicos, como a hipotensão postural, podem levar a quedas e, significa que, em muitos casos, cerca de metade dos pacientes poderá
conseqüentemente, fraturas. Hiponatremia causada pela síndrome de não remitir com o primeiro ensaio clínico com um antidepressivo. Além
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disso, cerca de um terço dos idosos deprimidos é resistente ao FASE DE CONTINUAÇÃO podem ser inúmeras: o estigma da doença mental associado ao uso de
tratamento medicamentoso com AD e apresenta graus importantes de antidepressivos, o fato do paciente sentir que não merece melhorar, o
incapacitação e diminuição da qualidade de vida(54). desejo inconsciente de manter a depressão, pouco esclarecimento e
A fase de continuação corresponde ao quarto e sexto meses após o
suporte por parte do cuidador, efeitos colaterais, interações
tratamento agudo e visa à consolidação da melhora obtida com a
medicamentosas, a complexidade do regime de doses diárias e a falta de
Segundo Sackeim (2005), nas primeiras quatro a seis semanas, redução gradual de todos os sintomas depressivos, a fim de se evitar as
percepção sobre as seqüelas e a cronicidade dos transtornos
avaliando-se o nível de resposta, já é possível identificar, com algum recaídas(3,55), e o incremento do funcionamento psicossocial. Alguns
afetivos(12,31). Portanto, além de ser indicada para os pacientes que se
grau de acurácia, quais pacientes não responderão a um ensaio com autores recomendam a extensão deste prazo até 12 meses após o
recusam a tomar a medicação, como diz Gabbard, a psicoterapia deve
determinado AD - que, então, poderá ser trocado(55). Segundo Kupfer primeiro episódio(51).
ser utilizada para os pacientes que têm contra-indicações aos AD devido
(2005), fatores como níveis altos de estressores (agudos e crônicos),
a condições médicas preexistentes, não toleram os efeitos colaterais ou
suporte social pobre, idade de início mais precoce, depressão endógena
FASE DE MANUTENÇÃO são parcial ou totalmente refratários a qualquer tratamento somático(31).
(melancolia), maior ansiedade, idade atual mais avançada e padrão
Desse modo, "o psiquiatra que associa abordagens dinâmicas e medidas
reduzido de sono costumam predizer uma resposta pior aos AD(40).
farmacológicas estará mais equipado para tratar a ampla gama de
Portanto, se o paciente não responder após este período, deve-se revisar Recomenda-se a manutenção para os pacientes com risco de recorrência pacientes com transtornos afetivos vistos na prática clínica"(31).
o diagnóstico e a possibilidade de comorbidades físicas e/ou dos episódios depressivos. Estão indicadas tanto a farmacoterapia
psiquiátricas (transtornos ansiosos, sintomas psicóticos, transtornos de quanto a associação do AD com a psicoterapia. Num estudo
personalidade) e avaliar a presença de estressores sociais e eventos de randomizado duplo-cego, Reynolds e cols. (2006) demonstraram a Depressão no idoso
vida persistentes(3). Além desses aspectos, a adesão ao esquema eficácia da paroxetina no tratamento de manutenção de n= 116 idosos
terapêutico também deve ser verificada. As estratégias para manejar a com depressão maior, com idade média de 77 ± 5,6. Após dois anos
Professora e especialista em neuropsicologia
falta de resposta compreendem a troca do AD por um similar (ou a sofreram recorrências somente 35% dos pacientes que receberam
mudança da classe do AD) e/ou a potencialização (vide abaixo). Ambas, paroxetina + sessões mensais de terapia interpessoal (TIP)* e 37%
mudança ou potencialização, demonstram taxas de resposta daqueles que receberam o ISRS + manejo clínico vs. 58% dos que A depressão é o problema psicológico mais comum no idoso. Embora
semelhantes(54). receberam manejo clínico + placebo e 68% dos pacientes dos que seja comumente negligenciada no idoso, ela é, na realidade, bastante
tomaram placebo + TIP. O risco relativo de recorrências para os tratável. O importante seria a identificação das causas,pois é possível
pacientes que receberam placebo (ajustado o fator TIP) foi de 2,4 (95%, encontrar todos os tipos de depressão entre os idosos, desde a
ALGORITMOS PARA O TRATAMENTO DA DEPRESSÃO EM
IC= 1,4-4,2) vezes maior que nos pacientes tomando paroxetina(58). recorrência da depressão bipolar, depressão maior crônica, distúrbio
IDOSOS
distímico agravado pelas condições de vida, distúrbios de ajustamento a
outros transtornos orgânicos, afetando dramaticamente a resposta do
Numa revisão, Hollon e cols. (2005) verificaram que alguns estudos
Numa revisão sobre cinco guidelines para o tratamento da depressão em paciente idoso à reabilitação. A atividade física, quando regular e bem
sugeriram a eficácia da terapia interpessoal (TIP) e da terapia cognitivo-
idosos, Kennedy e Marcus (2005)verificaram que todas iniciam com um planejada, contribui para minimização do sofrimento psíquico do idoso
comportamental (TCC), tanto na fase aguda (porém sem grupos
antidepressivo de meia-vida curta e baixo potencial de interações deprimido, além de oferecer oportunidade de envolvimento psicossocial,
controlados com placebo) quanto no tratamento de manutenção das
medicamentosas ou síndrome de descontinuação, referem estratégias elevação da auto-estima, implementação das funções cognitivas, com
depressões leves e moderadas em idosos, isoladamente ou em
praticamente idênticas em relação à duração, identificação da remissão saída do quadro depressivo e menores taxas de recaída. O objetivo deste
combinação com a farmacoterapia. Segundo os autores, a TIP pode
ou resposta parcial e esforços para favorecer a adesão ao tratamento(56): artigo foi realizar uma revisão bibliográfica sobre depressão em idosos,
melhorar o funcionamento interpessoal, enquanto que a TCC parece
fazer uma abordagem global e relacionar aos benefícios da atividade
aumentar a adesão ao tratamento. Ainda, o tratamento combinado
física.
1. Iniciar com ISRS de meia-vida curta e baixo potencial de interações parece levar um discreto aumento na resposta e retém as vantagens
medicamentosas: CITALOPRAM, escitalopram ou sertralina (ou específicas de cada uma das técnicas(59). A psicoterapia dinâmica breve
otimizar a dose se já estiver em uso de algum outro ISRSR); também tem sido testada no tratamento da depressão. Introdução

se resposta parcial ou não resposta: * Todos os pacientes haviam respondido à paroxetina e à TIP, durante a O envelhecimento é hoje um fenômeno universal, tanto nos países
fase aguda do tratamento. desenvolvidos como nos países em desenvolvimento. No Brasil,
impressiona a rapidez com que tem ocorrido, visto que, segundo a
2. Trocar por outro ISRS: fluoxetina ou paroxetina, ou trocar a classe do
Organização Mundial de Saúde (OMS), até o ano de 2025, a população
ad: bupropionaSR ou dual (se melancolia / ansiedade): venlafaxinaXR / INTEGRANDO FARMACOTERAPIA E PSICODINÂMICA
idosa no Brasil crescerá 16 vezes, contra cinco vezes da população total.
duloxetina(57);
Isso classifica o país como a sexta população do mundo em idosos,
Embora o papel de fatores biológicos e genéticos venha tornando-se correspondendo a mais de 32 milhões de pessoas com 60 anos ou mais
3. Ou potencializar com: bupropiona (agonista dopaminérgico), lítio, cada vez mais evidente, principalmente em depressões graves, mesmo de idade (OMS, 2006). Esse aumento da população idosa esta associado
triiodotironina (t3), metilfenidato (estimulante), terapia cognitiva ou quando a psicoterapia analítica convencional não constitui parte do à prevalência elevadas de doenças crônico-degenerativas, dentre elas
associar ansiolítico (buspirona); esquema terapêutico, princípios como transferência, contratransferência aquelas que comprometem o funcionamento do sistema nervoso central,
e resistência podem ser extraordinariamente úteis e contribuir na como as enfermidades neuropsiquiátricas, particularmente a depressão.
compreensão dinâmica de situações como, por exemplo, a não adesão de Embora o envelhecimento mental possa apresentar um lentificação dos
4. Trocar por tricíclico (nortriptilina) - se melancolia - ou por
tratamento e, indiretamente, ampliar a efetividade da processos mentais, isto não representa perdas de funções cognitivas.
mirtazapina (se insônia) ou por tranilcipramina (inibidor da
farmacoterapia(31), independentemente da gravidade do quadro. Cerca
monoaminoxidase - i-MAO) - nas depressões atípicas.
de 40% dos pacientes com depressão maior em todas as faixas etárias
não aderem ao tratamento com antidepressivos(12). As razões para isso
7

Todo ser humano em qualquer fase de sua vida pode experimentar Desenvolvimento e envelhecimento eventos estressantes, no entanto, os mecanismos de auto-regulação,
sintomas depressivos. Nos idosos a probabilidade de padecer desta mantêm-se intactos na velhice, ou seja, há uma continuação do
doença é ainda maior, pois apresentam inúmeras limitações e perdas, funcionamento psicossocial e bem estar subjetivo, mesmo na presença
Segundo a Psicologia do Desenvolvimento, fazer uma definição do
tendo como conseqüências sentimentos de autodepreciação de doenças e de outros fatores externos, que são considerados
desenvolvimento não é uma tarefa fácil, pois esta está de certa forma
(ZIMERMAN, 2000). incompatíveis com a satisfação, por pessoas mais jovens.
relacionada ao desenvolvimento infantil, apesar de não se restringir às
faixas etárias e que tem sido vista como o desenvolvimento dos
A depressão é o problema psicológico mais comum no idoso. Embora indivíduos ao longo de sua vida, principalmente no envelhecimento. Há também o desenvolvimento de um equilíbrio entre os ganhos e as
isso também seja verídico em outras faixas etárias, a depressão perdas. Assim, a definição do que é ganho e do que é perda é bem
permanece comum um problema significativo encontrado por controlada psicologicamente.
Assim sendo, um processo ao longo da vida, o tempo não pode ser
profissionais que trabalham com o idoso.
tomado como um para padrão de comportamentos, muito menos tomar
uma idade cronológica, pois o tempo não é uma variável de Ainda assim, o desenvolvimento pode assumir direções diferentes, onde
Frequentemente se observa que o idoso deprimido passa por uma comportamento. Com isso, a Psicologia do Desenvolvimento não se ocorra crescimento em um domínio, e declínio em outro. Por exemplo,
importante piora de seu estado geral e por um decréscimo significativo interessa pelas mudanças em função do tempo, e sim, pelos processos pode ter um declínio na memória operacional, e um crescimento na
de sua qualidade de vida. A gravidade da situação reflete-se na alta intra-organísticos e a influencia do meio externo ao indivíduo dentro de memória declarativa. Pode também progredir com respeito ao controle
prevalência de suicídio entre a população de idosos deprimidos uma determinada faixa de tempo (BARROS, 2002). das emoções e sentimentos.
(BALLONE, 2001).
No caso da velhice e do envelhecimento, a Psicologia do Neri (2004, p.44) ressalta que “o envelhecimento é uma experiência
A atividade em geral, seja física ou de outra ordem, é uma variável Desenvolvimento tem estudado esta fase da vida do ser humano na heterogênea, isto é, que pode ocorrer de modo diferente para indivíduos
frequentemente citada na literatura como sendo de grande relevância busca de resolver uma ambigüidade: se o envelhecimento é processo de e coortes que vivem em contextos históricos e sociais distintos”. Essa
para qualidade de vida na velhice. desenvolvimento ou um processo de perca do desenvolvimento. diferenciação depende da influência de circunstâncias histórico-
culturais, de fatores intelectuais, de personalidade e da incidência de
patologias durante o envelhecimento normal. Assim, segundo a autora o
O exercício físico, o chamado aeróbio, realizado com intensidade Por muito tempo o envelhecimento foi considerado como o caminho
estudo do desenvolvimento e do envelhecimento exige a contribuição de
moderada e longa duração, propicia alívio do estresse ou tensão, devido contrário ao desenvolvimento, pois era visto como sinônimo de doença
várias disciplinas como a psicologia, a biologia e as ciências sociais para
a um aumento da taxa de um conjunto de hormônios denominados e de um problema a ser resolvido. Esta era uma visão limitada e
que haja uma compreensão coerentes dos fenômenos evolutivos.
endorfinas que agem sobre o sistema nervoso, reduzindo o impacto unidimensional sobre o envelhecimento. Com o avanço dos estudos e
estressor do ambiente e com isso pode prevenir ou reduzir transtornos pesquisas, assim como de discussões, tem-se chegado a desenvolver um
depressivos, o que é comprovado por vários estudos (STELLA, 2002). conceito sobre a velhice e desenvolvimento onde seriam processos Velhice e conceitos gerais
concorrentes onde na velhice estes processos são tidos como perdas, e a
evolução, no caso de uma criança são tidos como ganhos (BIAGGIO,
Contudo, não adianta ter só habilidade física e esquecer da emocional e Conforme Neri e Freire (2000), ser idoso é um fim que afeta a todos,
1988). Esta visão traz consigo a idéia multidimensional nos processos
social. O exercício físico deve ter estratégias que associem a ação não há como escapar. Embora o idoso esteja levando uma vida mais
de desenvolvimento e envelhecimento, buscando compreender os
mecânica com a ação mental, contribuindo para a melhora global das produtiva que no passado, o declínio de certas capacidades prejudica a
processos envolvidos em ambos os casos e dar respostas mais adequadas
habilidades do idoso e evitando o declínio que naturalmente acompanha qualidade de vida.
que garantam bom desenvolvimento e bom envelhecimento dos seres
a velhice.
humanos.
Embora a expectativa de vida tenha aumentado, a duração da vida não.
A importância em se diagnosticar esse quadro, é que, ao se estabelecer à Isso porque os avanços nas pesquisas biomédicas e a introdução de
Os critérios adotados para se estabelecer o início e os eventos no ciclo
terapia indicada, devolve-se ao indivíduo a capacidade de amar, pensar, aperfeiçoados tratamentos de saúde, permitiram que mais pessoas
vital dependem de parâmetros sociais, e não do tempo cronológico, pois
interagir e cuidar de pessoas, trabalhar, sentir-se gratificado e assumir atingissem o fixado limite para a duração da vida, mas passando dos 85
este serve apenas para indicar os processos de desenvolvimento e de
responsabilidades. anos, as pessoas morrem de velhice, apesar de muitos esforços, parece
envelhecimento, usando a escala de tempo como referencial.
difícil prolongar por mais tempo nosso tempo de vida (OMS, 2006).
Neste artigo são apresentados as características do idoso deprimido, os
De acordo com Neri (2001), o desenvolvimento e o envelhecimento
modelos de depressão, a prevalência, tratamento medicamentoso e os Nota-se que o desejo de controlar o envelhecimento é um anseio
podem ser analisados como uma seqüência de mudanças previsíveis, de
benefícios da atividade física. legitimo. A rejeição à terceira idade é um mecanismo de defesa natural
natureza genético-biológica, que ocorrem ao longo das idades e por isso
do homem, mas sua aceitação como realidade junto a compreensão de
são chamadas de mudanças graduais por idade.
que se pode ser plenamente feliz em qualquer idade é o melhor caminho
Metodologia
para a longevidade.
Dessa forma, o envelhecimento compreende os processos de
Para a realização deste estudo, escolheu-se como eixo condutor a transformações do organismo que ocorrem após a maturação sexual e
O envelhecimento bem-sucedido é visto como uma competência
pesquisa bibliográfica que permitiu uma investigação a partir do que implicam a diminuição gradual da probabilidade de sobrevivência.
adaptativa do individuo, ou seja, a capacidade generalizada para
material já elaborado, livros e artigos científicos relevantes para o objeto
responder com flexibilidade os desafios resultantes do corpo, da mente e
do estudo, que teve como objetivo realizar uma revisão bibliográfica
O envelhecimento causa a diminuição da plasticidade comportamental, do ambiente. Esses desafios podem ser biológicos, mentais,
sobre depressão em idosos, fazer uma abordagem global e relacionar aos
o que também diminui a capacidade de reagir e recuperar-se do efeito de autoconceituais, interpessoais ou socioeconômico. Essa competência
benefícios da atividade física.
8

adaptativa é multidimensional, é emocional, no sentido de estratégias e conosco ao longo da vida, o envelhecimento aos poucos irá se tornando Durante o envelhecimento todas as pessoas sofrem mudanças físicas,
habilidades do individuo, para lidar com os fatores estressores, uma realidade. Talvez seja necessário mudar comportamentos, adquirir como rugas, cabelos brancos e mais ralos. Isso pode abalar a auto-estima
cognitiva, em relação à capacidade para a resolução de problemas, e novos hábitos e criar outra postura. É preciso ter coragem para enfrentar de alguns, pois a aparência física é bastante valorizada pelos meios de
comportamental, no sentido de desempenho e da competência social. a terceira idade, para superar as perdas, continuar amando e tendo comunicação, por outro lado algumas pesquisas mostram que quando se
(NERI, 2004) prazeres na vida. busca um relacionamento significativo, ela não é um fator importante,
pois podem ser compensados, pois cada pessoa pode trazer para o
relacionamento, suas qualidades, seus valores, sua capacidade de ouvir e
Como competência adaptativa, o envelhecimento envolve a preservação Desde crianças devemos ser preparados para envelhecer e para olhar a
compreender o outro, estes são fatores muito atraentes (ZIMERMAN,
e a expansão das reservas para o desenvolvimento pessoal. Está velhice como uma etapa que depende da forma como nos comportamos
2000).
relacionado à qualidade de toda uma vida, o que depende dos ao longo da vida.
acontecimentos vivenciados pelo individuo desde a gestação e de sua
herança genética e dos fatores socioculturais, dessa forma os indivíduos Para que o idoso mantenha sua saúde mental é necessário encarar o
Se formos um adulto saudável e feliz, provavelmente seremos um velho
envelhecem de forma mito diferenciada, dependendo de como futuro com esperança, mantendo uma saúde positiva para com a vida,
com as mesmas características. Nem mesmo as doenças e as
organizaram suas vidas, das circunstancias históricas e culturais em que manter a mente ativa, viver um dia de cada vez sem preocupar-se
dificuldades físicas afetaria nossa afetividade e maneira de encarar a
vivem e viveram, da ocorrência de doenças durante o envelhecimento e exageradamente com o futuro, manter o senso de humor, procurar não
vida de acordo com a visão mais ou menos positiva que tivemos no
da interação entre fatores genéticos e ambientais. guardar magoas, ter um bom relacionamento com a família e grupos
mundo. Flexibilidade e equilíbrio são duas condições fundamentais para
sociais, manter atividades que proporcione estimulo psicológico como
um envelhecimento sem traumas.
afeto, sentimento de identidade, capacidade de tomar decisões e adaptar-
Todo esse conjunto de fatores dará condições diferenciadas para cada
se à novas situações.
individuo lidar com as perdas e as transformações decorrentes do
Aspectos Psicológicos
envelhecimento, ou seja, para adaptar-se às transformações ocorridas em
si e no meio em que está inserido. Considerando tais aspectos, pode-se Depressão na Terceira idade
concluir que o envelhecimento humano é um processo individual e Além das alterações no corpo, o envelhecimento traz ao ser humano
diferenciado em relação às variáveis mentais, comportamentais, uma série de mudanças psicológicas.
Os idosos, por apresentarem características bastante peculiares das
comportamentais e sociais.
demais faixas etárias, requerem uma avaliação de saúde mais cuidadosa,
Segundo estudos internacionais, 15% dos velhos necessitam de a fim de identificar problemas subjacentes a queixa principal. Portanto
Zimmerman (2000, p.19) afirma que a maior parte das características atendimento em saúde mental, e dentro desses !5%, 2% das pessoas com faz-se necessário priorizar, no seu atendimento, a avaliação
dos velhos não são peculiares a uma faixa etária, uma pessoa não passa mais de 65 anos apresentam quadro de depressão, que muitas vezes não multidimensional, geriátrica abrangente ou avaliação global.
a ter determinada personalidade porque envelheceu, ela simplesmente são percebidos pelos familiares e cuidadores, sendo encarados como
mantém ou acentua características que já possuía antes. características naturais do envelhecimento (NERI, 2004). Além de
Muitas pessoas classificam a característica predominante da depressão
estarem sujeitos à depressão, os idosos são atingidos por estados de
com o humor deprimido, sentimentos de tristeza, desesperança, além da
paranóias, hipocondria e outros transtornos.
Envelhecer pressupõe alterações físicas, psicológicas e sociais no perda de interesse e prazer em atividades previamente prazerosas.
individuo. Tais alterações são naturais e gradativas, é importante
salientar que essas alterações são gerais, podendo se verificar em idades O bem estar psicológico na velhice está relacionado à auto-estima, auto-
De acordo com Porcu et. al., (2002), em pacientes idoso, além dos
mais novas ou mais avançada e em maior ou menor grau de acordo com conceito e auto-imagem, conceitos estes que desenvolvem parte de
sintomas comuns, a depressão costuma ser acompanhada por queixas
as características genéticas de cada individuo e principalmente com o nossa personalidade, eles são essenciais para envelhecermos com saúde
somáticas, hipocondria, baixa auto-estima, sentimentos de inutilidade,
modelo de vida de cada um. mental, pois na velhice é exigido uma auto-aceitação das próprias
humor disfórico, tendência autodepreciativa, alteração do sono e do
limitações em varias situações da vida, e nesta aceitação e o gostar de si
apetite, ideação paranóide, e pensamento recorrente de suicídio.
próprio surge a paciência com as limitações que aparecem no decorrer
A experiência mostra que assim como as características físicas do
do envelhecimento, mas para que tudo isso seja possível é necessário
envelhecimento, as de caráter psicológico também estão relacionadas
saber de quem gostar e a quem compreender. Não se trata de um Em idosos deprimidos há maior probabilidade de sintomas somáticos
com a hereditariedade, com a história e com a atitude de cada individuo.
excesso de valorização da nossa própria pessoa, de arrogância ou inespecíficos, tais como suores, náuseas e palpitações, quando
egocentrismo, e sim gostar daquilo que somos, reconhecendo e apresentam um transtorno de ansiedade conjuntamente com o quadro
As pessoas mais saudáveis e otimistas tem mais condições de se valorizando nossas habilidades e também aceitando nossas limitações. depressivo. Esta somatização produzida pela ansiedade concomitante à
adaptarem às transformações trazidas pelo envelhecimento, elas estão depressão tem importância clínica, já que esses pacientes podem
mais propensas a verem a velhice como tempo de experiência confundir tais sintomas somáticos com efeitos colaterais de
Construir a identidade é diferenciar-se dos outros com uma impressão
acumulada de maturidade e liberdade para assumir novas ocupações e medicamentos, agravamentos de outras doenças.
digital, que não se trata de um processo rápido mas exige tempo e
até mesmo de liberação de certas responsabilidades.
experiência de vida, uma vez que conseguimos nos separar dos outros
temos nossa própria identidade e o segundo passo é integrar-nos a De um modo geral, a clínica da depressão nos idosos é mais variada e
É preciso ver o envelhecimento como um processo que vai ocorrendo de outros, isso significa que a pessoa idosa assim como qualquer outra atípica que no adulto jovem. Os idosos apresentam freqüentemente
forma gradual. Desde que nascemos estamos envelhecendo um pouco a necessita saber quem é e também fazer parte de um grupo, pertencer ao sintomas depressivos que nem sempre se ajustam aos requisitos
cada dia. Uma pessoa não se torna velha de um dia pro outro, assim meio para compartilhar os valores que possui. necessários para categorias diagnósticas das classificações tradicionais
como não vai dormir criança e acordar adolescente, nem de adolescente (CID.10 e DSM.IV) (MIGUEL FILHO; ALMEIDA, 2000). Os sintomas
passar a ser adulto de repente, tudo é um processo. Se soubéssemos nos mais freqüentes costumam ser inquietação psicomotora (depressão
adaptar às mudanças físicas, psíquicas e sociais que vão ocorrendo ansiosa), sintomas depressivos (insuficientes para categorias de
9

diagnóstico formal), somatizações variadas, sinais de alterações Embora existam muitos tratamentos farmacológicos para depressão, os A atividade física colabora para a formação de redes sociais além é
vegetativas, perda da autoestima, sentimentos de abandono e medicamentos utilizados para tratar a depressão maior podem ser claro, dos benefícios corporais e fisiológicos.
dependência, eventuais sintomas psicóticos, déficit cognitivo variável, divididos em cinco categorias principais: inibidores seletivos da
idéias de ou suicídio. Assim, é necessário um encaminhamento recaptação de serotonina (ISRS), antidepressivos tricícliclos ou
Na indicação ou elaboração de um programa de exercícios físicos, é
psicológico. tetracíclicos (ATC), antidepressivos heterocíclicos, inibidores da
necessário um planejamento rigoroso, levando em consideração
recaptação de serotonina /norepinefrina e inibidores da
objetivos específicos e a avaliação dos riscos de lesão de cada indivíduo.
monoaminoxidase (IMAO).
Os psicólogoss podem encontrar duas categorizações da depressão, Atividades que estimulem a consciência corporal e cognição devem ser
sendo eles o episódio depressivo maior ou depressão endógena que deve incentivadas. Exercícios na água podem ser uma boa opção para idosos
apresentar pelo menos cinco dos seguintes sintomas, presentes durante A escolha de um antidepressivo para uma determinada pessoa depende que necessitem de relaxamento, diminuição da tensão articular e ganho
um período de duas semanas, humor deprimido, interesse ou prazer de muitos fatores, inclusive a resposta prévia, doenças clínicas de amplitude nos movimentos.
acentuadamente diminuído, perda ou ganho de peso quando não em concomitantes e outros medicmentos utilizados pelo
dieta, insônia ou hipersonia, retardo ou agitação psicomotora, fadiga ou paciente.Geralmente, o uso dos ISRS e dos antidepressivos
A atividade física colabora para a formação de redes sociais além é
perda de energia, sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva, heterocíclicos e preferido no idoso.
claro, dos benefícios corporais e fisiológicos. Os índices de depressão
capacidade diminuída de pensar ou de concentrar e pensamentos
são menores em idosos que praticam atividade física, estudos
recorrentes de morte (BALLONE, 2001).
Psicoterapia comprovam melhora no aspecto emocional, como aumento da auto-
estima, humor, sensação de bem-estar, diminuição da ansiedade e da
Zimerman (2000) enfatiza que no transtorno de adaptação com humor tensão. Miranda e Godeli, (2003) ressalta que em pesquisa realizada
Tem como objetivo proporcionar apoio emocional ao idoso, reduzindo
deprimido, depressão reativa ou secundária, os critérios são a presença com mulheres demonstrou que as sedentárias apresentaram índices de
sua ansiedade e aumentando sua confiança e auto-estima. Citaremos as
de sintomas emocionais ou comportamentais em resposta a estressores, depressão e patologias mais elevados quando comparadas as praticantes
técnicas mais utilizadas para o trabalho com o idoso.
identificáveis que ocorrem dentro de 3 meses do início dos estressores, de dança. Outro estudo realizado no Japão com indivíduos de idade
sintomas ou comportamentos clinicamente significantes como: angustia entre 65-70 anos praticantes de exercícios diários demonstrou que os
acentuados, comprometimentos significativos no funcionamento social Psicoterapia Breve – Técnica bastante utilizada, por ser dinâmica, idosos reduziram os sintomas de depressão.
ou ocupacional. flexível e de tempo limitado.Ela tem limites elásticos para incluir
elementos de psicoterapia de apoio, psicoterapia reeducativa (terapia
Considerações Finais
cognitiva) e psicoterapia reconstrutiva (psicanálise).
Modelos de depressão
Existem muitos fatores que podem desencadear ou mesmo predispor ao
Terapia Cognitiva – É uma técnica de tempo limitado, que inclui
Segundo Miguel Filho e Almeida (2002) cinco dos modelos mais aparecimento do estado depressivo. Seus principais sintomas são:
confrontação, educação e explicação, essa tríade chama de cognitiva da
freqüentemente citados são o modelo cognitivo, o modelo do desamparo tristeza duradoura e profunda, acompanhada de desânimo, apatia,
depressão.Busca uma abertura para o futuro, questiona com o paciente
aprendido, o modelo interpessoal, neurobiológico e o de recursos desinteresse, não dorme bem, falta de apetite, queixam-se se coisas
seus conceitos alterados a respeito de si próprio, do futuro e do mundo
sociais. como fadiga, dores na cabeça e nas costas. Têm pensamentos ruins,
ao redor tentando alterar a tríade.
como idéia de culpa, inutilidade, perdem o gosto pela vida, e em casos
mais extremos a depressão pode vir acompanhada pelo risco de suicídio.
Cognitivo: Ocorrem erros de processamentos de informações resultando
Terapia da revisão de vida – Indicada para resolver problemas antigos,
em uma estimativa excessiva do estímulo negativo e em uma
aumentar a tolerância do conflito, aliviar culpas e medos, aumentar a
subestimativa dos estímulos positivos. Suas causas podem vir de fatores biológicos, psicológicos e sociais,
criatividade, generosidade e aceitação do presente.
podendo ser um relacionado a outro. A depressão nos idosos, pode vir
acompanhada de outros problemas físicos, o que acaba mascarando a
Modelo do desamparo aprendido: A motivação diminuída e as
Terapia de Grupo – O grupo funciona como um espaço no qual o idoso doença, fazendo com que as pessoas não dêem atenção, pois acham que
percepções de incontrolabilidade dos eventos pela pessoa deprimida,
encontra proteção para as angústias decorrentes das perdas. não é nada grave, e não descobrem na verdade o que realmente e passa.
onde o resultado pode ser um comportamento excessivamente passivo, a
falta de motivação de a depressão do paciente.
Atividade Física como Tratamento Outro fator que pode levar à depressão nos idosos estão relacionados,
sobretudo, à morte de parentes, de amigos, irmãos, assim como perdas
Modelo interpessoal: Frequentemente atribuída a experiências ou
financeiras, perda de status e de papéis sociais. Esse tipo de situação
relacionamentos interfamiliares adversos na infância. A Atividade Física regular deve ser considerada como uma alternativa leva as pessoas acreditarem que sua morte pode não estar muito longe, o
não farmacológica do tratamento do transtorno depressivo. De acordo que faz com que alguns idosos passem a aproveitar mais a vida,
com Stella et. al. (2002) o exercício físico apresenta, em relação ao
Neurobiológico: Transtornos da transmissão das catecolaminas e enquanto outros, diante talvez do " desespero", não conseguem mais
tratamento medicamentoso, a vantagem de não apresentar efeitos
transmissão serotoninérgica cerebral deprimida. formular perspectivas de vida.
colaterais indesejáveis, além de sua prática demandar, ao contrário da
atitude relativamente e passiva de tomar uma pílula, um maior
Modelo de recursos sociais: Enfatiza os efeitos do ambiente sobre o comprometimento ativo, por parte do paciente que pode resultar na A depressão produz com freqüência uma queda na imunidade,
indivíduo. melhoria da auto-estima. diminuindo a resistência física às doenças (destaque para as doenças
infecciosas e o câncer). A depressão severa na pessoa idosa pode
apresentar um estado confusional semelhante a que ocorre com a
Tratamento Medicamentoso demência
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Os medicamentos antidepressivos (chamados antidepressivos tricíclicos) mais jovens. De fato, o que teria de diferente nos idosos seria, não a DEPRESSÃO SECUNDÁRIA (Secundária à alguma condição
atuam nos neurotransmissores permitindo uma recuperação do depressão em si, mas as circunstâncias existenciais específicas da idade. orgânica)
equilíbrio químico do cérebro. Alguns psiquiatras também utilizam a
eletroconvulsoterapia, porem, por razões culturais, o uso de
Do ponto de vista vivencial, o idoso está numa situação de perdas De fato o idoso costuma desenvolver estados patológicos e
eletrochoques é visto como um recurso traumático e cruel, quando na
continuadas; a diminuição do suporte sócio-familiar, a perda do estatus degenerativos que facilitam o desenvolvimento da depressão.
realidade é o contrario. Se for bem-indicado, ele dá excelentes
ocupacional e econômico, o declínio físico continuado, a maior
resultados, sem traumas para o paciente.
freqüência de doenças físicas e a incapacidade pragmática crescente
DEPRESSÃO ENDÓGENA (Endógena é constitucional, atrelada à
compõem o elenco de perdas suficientes para um expressivo
personalidade)
O acompanhamento psicoterápico permite complementação do rebaixamento do humor. Também do ponto de vista biológico, na idade
tratamento medicamentoso, propiciando a recuperação da qualidade de avançada é mais freqüente o aparecimento de fenômenos degenerativos
vida do idoso. ou doenças físicas capazes de produzir sintomatologia depressiva. Ora, de fato as pessoas com depressão endógena ou constitucional
envelhecem e continuam depressivas
A realização de atividade física regular é muito eficiente no tratamento Assim sendo, embora os fatores bio-psico-sociais agravantes possam
da depressão, como também pode ser utilizado para estimulação, de estar associados ao rebaixamento do humor na idade avançada, eles Como vemos no quadro acima, pelas condições existenciais a depressão
jogos de memória, passeios, discussões, leitura e conversas com o podem gerar confusão a respeito das características clínicas da do idoso bem que poderia ser, de fato, reativa. Poderia igualmente ser
objetivo de aumentar a auto-estima. O apoio da família nesse momento depressão nessa idade. Os clássicos conceitos de depressão reativa, secundária às condições físicas do idoso e, finalmente, pelos eventuais
é de extrema importância para obter bons resultados, já que nesse depressão secundária e depressão endógena se confundem na depressão antecedentes, poderia ser endógena. Nos adultos jovens esta confusão
período da vida muitos idosos se sentem, e são desprezados e rejeitados senil. causal é menor, pois os aspectos do entorno existencial estão mais
tanto pela sociedade, quanto pela própria família. claramente definidos.
CAUSALIDADE DA DEPRESSÃO
http://www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/LerNoticia&idNoticia=124 A depressão nos idosos depende da interação entre fatores ambientais,
constitucionais, biológicos e suporte social. Os eventos ambientais são
DEPRESSÃO REATIVA
representados pelas questões vitais negativas, como por exemplo perdas
Depressão e Ansiedade no Idoso
e limitações, podem funcionar como desencadeadores da depressão. Os
Reativa a alguma situação vivencial traumática elementos constitucionais são as propensões genéticas ao
Somente o estudo detalhado, a sensibilidade e prática poderão preparar desenvolvimento da depressão, bem como os traços de personalidade de
para que se possa perceber as sutileza dos transtornos emocionais nessa marcante ansiedade. A biologia do envelhecimento contribui para a
De fato o idoso passa por uma condição existencial problemática e,
idade. eclosão da depressão através das doenças físicas e a conseqüente
muitas vezes, sofrível
incapacitação, inclui-se aqui a chamada Depressão Vascular de início
tardio, conseqüência das alterações da circulação cerebral. A ruptura de
| Depressão | Geriatria |
DEPRESSÃO SECUNDÁRIA vínculos sociais, perda do espaço ocupacional, a diminuição do
rendimento econômico, o isolamento são elementos do suporte social
A conhecida relação entre sintomas depressivos e idade avançada que favorecem a depressão.
Secundária à alguma condição orgânica
sempre tem gerado numerosos estudos. A maioria desses estudos aborda
a polêmica sobre o fato da depressão no idoso ser considerada, ou não,
A incapacidade decorrente da senilidade, por exemplo, é um fator de
um tipo diferente das demais depressões. Esse debate inicialmente se De fato o idoso costuma desenvolver estados patológicos e risco importante a curto e longo prazo para o desenvolvimento da
concentrou sobre a idade do paciente idoso que sofria de depressão, degenerativos que facilitam o desenvolvimento da depressão depressão nos idosos. O início da incapacidade gera considerável
interessava saber se a depressão era senil, involutiva, pré-senil, etc.
estresse e alterações negativas do estilo de vida. A imobilidade, a dor,
DEPRESSÃO ENDÓGENA ansiedade, necessidade de hospitalização demorada e reabilitação
Posteriormente, enfocou-se as comparações da idade dos pacientes intensiva, aumento de eventos vitais negativos (perdas de pessoas,
quando se iniciou a depressão. Nesse caso enfatizava-se antecedentes materiais, sociais, ocupacionais), sensação de perda do controle sobre a
Endógena é constitucional, atrelada à personalidade própria vida, baixa autoestima, desmoralização, restrições das atividades
depressivos, episódios depressivos ou distimia na história pregressa do
paciente. Neste caso pretendia-se saber se a depressão era, de fato, senil sociais e relações interpessoais dificultadas são algumas dessas
ou era uma depressão antiga apresentando mais um episódio agudo no Ora, de fato as pessoas com depressão endógena ou constitucional alterações, que podem precipitar o início da depressão.
idoso. envelhecem e continuam depressivas
A Situação Existencial do Idoso
Os argumentos que sustentam ser a depressão no idoso um tipo diferente DEPRESSÃO REATIVA (Reativa a alguma situação vivencial
da depressão de outras faixas etárias se apóiam nas diferenças de traumática) O estudo da psicopatologia da velhice a partir de três aspectos
sintomatologia. Nos idosos, por exemplo, a depressão se apresentaria
concretos: saúde mental, percepção do envelhecimento e autonomia
com sintomas somáticos ou hipocondríacos mais freqüentes, haveria
De fato o idoso passa por uma condição existencial problemática e, funcional. Segundo César Vásquez Olcese (2001), parece haver
menos antecedentes familiares de depressão e pior resposta ao
muitas vezes, sofrível. diferenças significativas entre saúde mental e percepção do
tratamento. Apesar disso, a tendência atual é não estabelecer diferenças
envelhecimento.
marcantes entre a depressão da idade tardia e a depressão dos adultos
11

Em países como o nosso, cheios dos problemas derivados do Uma das principais necessidades humanas básicas, para o idoso ou Entre as principais características da perda progressiva da Autonomia
subdesenvolvimento e de necessidades cada vez maiores, normalmente qualquer um outro, é a chamada Autonomia Funcional. Esta, diz Funcional estão os problemas de mobilidade, de mover-se de um lugar a
o Estado tende a fixar sua atenção e esforço na solução de problemas respeito à capacidade que tem a pessoa para valer-se de si mesmo, outro, principalmente entre lugares distantes (40.9%). Outra limitação
conjunturais, problemas que afligem à generalidade dos habitantes. O interatuar com o ambiente e satisfazer suas necessidades. importante está no ato de preparar seus alimentos (32.7%) e, finalmente,
estado empobrecido não prestigia determinados setores da população, em conseguir as coisas que necessitam (29.6%).
como exigiria a terceira idade.
Percepção do envelhecimento é a manifestação subjetiva das alterações
sofridas a nível somático e funcional, atribuibuídas ao envelhecimento. A discriminação que sofrem as mulheres no campo ocupacional,
Por isso, é quase certo dizer que os idosos de nossa sociedade estão Isto se expressa numa troca da identidade pessoal, a imagem corporal, a econômico, familiar e outros, notadamente a descriminação maior da
marginados. Eles estão excluídos da produção contra sua vontade, autovalorização, etc. Operacionalmente pode definir-se como a auto- qual foi vítima a mulher hoje senil, produz um efeito acumulativo que
tornam-se pouco consumidores, tendem a consumir maiores recursos da atribuição de traços de velhice. Assim sendo, a percepção do acaba resultando numa velhice mais problemática.
saúde, e acabam sobrevivendo a expensas de uma sociedade quase envelhecimento se dá, mais destacadamente, nas seguintes observações:
sempre hostil, recebendo as ajudas caridosas que esta se digna oferecer-
Tendo uma vida marginalizada e deficitária produz-se, quase sempre,
lhes. Estão excluídos da produção porque ninguém lhes dá emprego,
Alterações na aparência física uma velhice com problemas. Neste sentido, está certo o ditado que diz:
tornam-se pouco consumidores porque não têm dinheiro, não têm
“envelhece-se como se viveu”. Isso significa que o envelhecimento pode
dinheiro porque ninguém lhes dá emprego, e consomem recursos da
ser problemático na medida em que a vida tenha sido complicada ou,
saúde porque adoecem, e adoecem mais porque não têm recursos para a A grande maioria dos idosos se percebe com menos cabelo, cabelos
mais comumente, na medida em que a pessoa teve dificuldade em
saúde. Forma-se assim um deplorável círculo vicioso. brancos (91.2%); manchas e rugas na pele (81.1%); problemas de visão
adaptar-se à vida.
e de audição (74.9%); déficit na força muscular (59.7%), etc. A isso se
associa uma característica psicológica, que é um forte apego ao passado
A mídia foi a primeira a detectar essa situação deplorável dos idosos. Os
(57.2%). As condições materiais de existência e o suporte familiar são fatores
idosos só aparecem em propaganda de planos de saúde, no marketing de
decisivos na sensação de Autonomia Funcional dos idosos. Estando suas
supermercados estão as pessoas de meia idade e todos os demais
necessidades melhores satisfeitas, haverá maior independência e
prazeres da vida são monopolizados pelos jovens, irrequietos, Os fatores sociais e os elementos gerais parecem exercer uma forte
liberdade de ação.
barulhentos e coloridos. Mas quem para a conta dos prazeres são as influencia. As mulheres levam mais em conta as mudanças em sua
pessoas de meia idade e quem ajudou a erigir a estrutura social, essa aparência externa, os homens, por sua vez, ressentem mais a debilidade
mesma estrutura social dos prazeres, forma os idosos. física. Em síntese, muitos problemas da Autonomia Funcional podem ser
explicados a partir de fatores individuais, familiares e sociais. Entre os
fatores individuais, em primeiro lugar se encontra o perfil psicológico e
Infelizmente, um dos sintomas deste descuido social geral para com o Dentro da percepção do envelhecimento, cabe chamar a atenção sobre a
mental prévio da pessoa que envelhece, em seguida vem o nível
idoso é o escasso conhecimento que se tem de sua realidade psicológica, explicação que os idosos realizam de sua velhice, e sobre a rapidez com
educacional, as experiências vitais críticas, os acidentes, as doenças
de sua subjetividade e da percepção que ele tem de si mesmo e do que esta se instaura para eles. O ritmo do envelhecimento é percebido de
pregressas e atuais, a ocupação pregressa e atual, etc.
mundo em que vive. Os estudos referidos à velhice se concentram, em forma diferente por homens e mulheres. A maioria dos homens (59.1%)
geral, nos aspectos demográficos, socioeconômicos, de seguridade pensa envelhecer de forma lenta ou pouco a pouco. As mulheres
social e de saúde física, deixando de lado a saúde emocional e o (52.7%), em troca, vêem este processo como algo normal, nem lento Socialmente, está em primeiro lugar, sem dúvida, a contundente
colorido dos sentimentos da pessoa que envelhece. nem rápido. influência restritiva que a sociedade exerce sobre os idosos, limitando
suas possibilidades de atuação, oprimindo-os sob os modelos e padrões
do "velho", e restringindo suas possibilidades de participação. De modo
É pois, imperioso que a sociedade de um modo geral, e a medicina A correlação entre Saúde Mental e Percepção do Envelhecimento faz
geral, não existe uma velhice típica, padrão, característica e igual.
psiquiátrica em particular, se aproximem e conheçam a dimensão supor uma influência negativa dos problemas psicológicos sobre a
Existem múltiplas velhices; tantas como sociedades, culturas e classes
subjetiva, a problemática da saúde emocional e as potencialidades autopercepção dos idosos. A presença de ansiedade, irritabilidade,
sociais.
subjacentes do idoso. Muito pouco se sabe sobre como o idoso percebe sensação de insuficiência, de inutilidade, entre outras, pode levar aos
a si mesmo e a seu envelhecimento, e isso será apenas o primeiro passo idosos a supervalorizar (e em alguns casos extremos, a acelerar) alguns
para estabelecer uma atenção psicológica e rastrear os fatores materiais traços próprios da velhice. A Depressão e outros transtornos do humor, incluindo também as
e sociais que a determinam a angustia e a depressão que rodeiam o alterações ansiosas, são problemas psicológicos que, em muitíssimos
envelhecimento. casos, se expressam através de uma ampla variedade de transtornos
Da mesma forma, é lícito supor que a presença de certos traços do
físicos e funcionais na senilidade. Os próprios sintomas emocionais
envelhecimento e seus efeitos nas vidas das pessoas possam gerar
depressivos e típicos se constituem numa das principais queixas dos
A Saúde Mental do Idoso problemas psicológicos, já que, ao que parece, as limitações do
idosos.
envelhecimento e a marginalização social concomitante, terminam por
afetar o equilíbrio interno dos indivíduos. O mais provável é que exista
Saúde Mental poderia ser entendida como o equilíbrio psíquico que
uma influencia recíproca entre ambos fatores, os mesmos que à maneira Um dos mais adequados modelos de abordagem da depressão na terceira
resulta da interação da pessoa com a realidade. Essa realidade é o meio
de um círculo vicioso se retro-alimentam mutuamente. idade é o modelo bio-psico-social, o qual, como diz o nome, congrega
circundante que permite à pessoa desenvolver suas potencialidades
os aspectos sociais, psicológicos e orgânicos como ingredientes
humanas e, normalmente, essas potencialidades estão estreitamente
necessários para produzir e manter o quadro depressivo. Sobre esse
associadas à satisfação das necessidades humanas. Autonomia Funcional
modelo bio-psicosocial, atualmente muito aceito, a medicina poderia
atuar com eficácia num ou dois, ficando o aspecto social submetido à
atuação política, notadamente nessa questão da terceira idade.
12

Depressão Relacionada ao Luto A demência implica sempre num comprometimento importante e apenas a leitura em voz alta, mas também a interpretação do que foi
irreversível na qualidade de vida da pessoa, portanto, se a demência foi lido.
diagnosticada, o prognóstico é sempre reservado. Não é raro
Segundo dados recentes do censo norte-americano, 78% das pessoas
encontrarmos quadros similares à demência em idosos hospitalizados,
viúvas têm 65 anos ou mais. O luto da viuvez tem sido descrito como o Existem diferentes comprometimentos nas habilidades verbais que
os quais, se apropriadamente tratados, restabelecem a saúde cognitiva.
evento mais estressante da vida cotidiana. Na idade de 65 anos, mais de aparecem no exame da comunicação. Em geral, as alterações de
Entretanto, embora alguns autores mencionem esses quadros sob a
50% das mulheres e 14% dos homens enviuvaram ao menos uma vez linguagem ocorrem a nível léxico-semântico. Neste caso investiga-se a
denominação de demências reversíveis, na realidade trata-se de
(Katherine Shear, American Psychiatric Association – 158o. Annual lembrança de palavras, a nomeação de objetos, a fluência verbal e o
Delirium, um quadro diferente de Demência.
Meeting – May 2005 - Atlanta – Geórgia – USA). nível discursivopragmático. Porém, o vocabulário deve ser avaliado com
algum cuidado, relevando-se os discretos déficits de nomeação
As demências verdadeiras, sejam elas resultado de um quadro freqüentes em qualquer pessoa. Excluída essa possibilidade fisiológica,
Comparados aos indivíduos casados, há um aumento nas consultas
progressivo como a Doença de Alzheimer ou de Demência Vascular, ou a dificuldade de dar nomes às coisas (disnomia) será considerado um
médicas gerais pelos viúvos no primeiro ano após a perda. O luto é
de natureza estável, como as seqüelas de AVC, serão sempre dado valioso na avaliação cognitiva. Quando a dificuldade para nomear
associado a um aumento da mortalidade dos enlutados e as causas de
irreversíveis. Embora as atuais tendências para o tratamento da é gráfica, chamar-se-á disgrafia.
morte são variadas nos diferentes estudos, geralmente incluem suicídios
demência, como por exemplo o uso de inibidores da acetil-colinesterase
e acidentes.
ou programas de reabilitação cognitiva, tragam inegáveis benefícios
Ainda na avaliação da comunicação, os pródromos demenciais
para os pacientes, não é possível ainda, restituir o nível de cognição
costumam mostrar alguma dificuldade de narração de histórias,
É provável que a depressão não reconhecida e não tratada contribua de anterior.
interpretação da eventual mensagem da história ou do ditado e
maneira substancial para essa mortalidade aumentada. Viúvos com
dificuldades de informar adequadamente sobre a situação global a que
episódios depressivos maiores, comparados aos que não têm depressão,
O Brasil já pode ser considerado um país envelhecido, apresentando se refere à história.
têm uma percepção negativa da própria saúde, são mais propensos a
mais de 7% de idosos na sua população. Portanto, a medicina deve
engajar-se em atividades pouco saudáveis, como fumo ou uso de drogas,
aparelhar-se para distinguir o envelhecimento normal do patológico,
e tendem a apresentar comprometimento do sistema imune. Além disso, O declínio de memória do idoso normal ocorre de modo discreto e se
bem como a demência da depressão senil (pseudodemência depressiva).
estudos têm documentado que o luto é um fator de risco para o dá, predominantemente, na memória operacional ou de trabalho. Será
desencadeamento de transtornos de ansiedade. sempre bom lembrar que a aquisição de conhecimentos e de
Nesta última questão, tem sido às vezes bastante difícil diferenciar o aprendizado também declinam com a idade, juntamente com a
envelhecimento normal dos eventuais pródromos de uma demência capacidade de retenção mnêmica mas, mesmo assim, será possível ao
Embora a morte súbita de um ente querido possa desencadear a
incipiente. As alterações neurofisiológicas associadas ao idoso normal, apreender e manter na memória a maior parte das
depressão, isso também pode resultar em um Transtorno de Estresse
envelhecimento começam a aparecer cedo na vida das pessoas, solicitações do cotidiano. Um exame neuropsicológico minucioso da
Pós-Traumático, Transtorno de Pânico, Transtorno de Ansiedade
geralmente em torno dos 40-50 anos e, dependendo de fatores genéticos, memória é indicado sempre que existir queixas significativas, embora a
Generalizada e Transtorno Obsessivo-Compulsivo, todos eles
ambientais e antecedentes médicos pessoais, evoluem de forma muito presença de queixas de memória em idosos normais seja bastante
observados no período de elaboração das perdas.
variável entre as pessoas. comum. Há alguns medicamentos que interferem na cognição e são
largamente consumidos pela população de idosos.
O luto traumático, uma condição recentemente reconhecida, é uma
Anteriormente acreditava-se que os neurônios jamais se multiplicavam
condição especialmente debilitadora. O foco é a revisão da apresentação
na vida adulta, entretanto, hoje já se demonstrou eles podem replicar-se Pseudodemência Depressiva
clínica, fatores de risco e o tratamento dos transtornos de ansiedade e do
a partir das chamadas células-fonte, porém, essa multiplicação não
humor relacionados ao luto, inclusive o luto traumático.
costuma ser suficiente para neutralizar totalmente a perda progressiva da
Cabe ressaltar também a presença de depressão emocional, a qual pode
população neuronal do cérebro. Mesmo ocorrendo alguma
chegar a 20% dos idosos, afetando a cognição e a motivação para a
A ocorrência de Transtorno Depressivo Maior em esposas enlutadas reorganização benéfica de sinapses e dendrítos ao longo dos anos, bem
memória. A depressão comumente produz um déficit mnêmico,
geralmente é percebida em um intervalo de tempo decorrido desde a como modificações no número e sensibilidade dos neuroreceptores,
especialmente após os 40 anos, e esse prejuízo de memória do
morte de 2 a 6 meses, em 24 a 30% das pessoas. Ao longo de 1 ano esta alguma alteração na performance cognitiva é observada e constatada em
depressivo pode ser confundido com um quadro inicial de demência.
prevalência se reduz para 16% e permanece mais ou menos estável até 2 testes neuropsicológicos com o envelhecimento.
Essa confusão depressão-demência pode ser maior ainda, levando-se em
anos, em 15%.
conta o fato da depressão freqüentemente ter características atípicas nos
As habilidades mais preservadas no idoso são aquelas resultantes da idosos.
Provavelmente este fato se deve à existência de dificuldades de substancial aprendizagem, isto é, habilidades bem consolidadas e,
elaboração das perdas nessa parcela da população. O luto complicado portanto, mais resistentes à deterioração mnêmica. Avaliar essas
O termo pseudodemência depressiva pode sugerir, erroneamente, que os
geralmente está associado à história pessoal anterior de Transtorno habilidades sólidas é um dos primeiros passos para o diagnóstico de
déficits observados serão reversíveis com o tratamento adequado da
Depressivo (24% com história anterior contra 8% sem antecedentes demência.
depressão. Embora isso ocorra em alguns casos, não pode ser
depressivos) e história familiar de Transtorno Depressivo (37% contra
considerado como regra geral. Boa parte dos pacientes inicialmente
24%).
A avaliação do nível de consciência global deve levar em conta também diagnosticados como deprimidos (pseudodementes) apresentaram,
o nível de conhecimentos gerais do paciente. E este último, será sempre depois de algum tempo, verdadeiros sinais de demência, apesar da
Depressão e Demência conseqüente a educação formal do paciente. O exame da leitura costuma melhora inicial com o uso de antidepressores. Os próprios estudos de
ser conjunto à avaliação da compreensibilidade, ou seja, não se avalia imagem cerebral podem revelar sinais mais compatíveis com demência
13

do que da depressão nos pacientes diagnosticados com pseudodemência depois de alguns minutos ou horas é basicamente normal. No caso de A hipótese da Depressão de Início Tardio ser conseqüência das
depressiva. demências, a recuperação imediata está igualmente comprometida, mas alterações vasculares encontradas nos idosos foi enunciada por Hickie et
a recuperação tardia tende a ser bem pior que a imediata, evidenciando aI. em 1995, conforme se segue: “...presumimos que a insuficiência
perda de material ao longo do tempo. cerebrovascular em pessoas idosas leva a alterações significativas em
Assim sendo alguém poderia pensar: "de que adianta conhecer a
estruturas subcorticais e nos núcleos da base, estruturas envolvidas nos
pseudodemência depressiva, se esta corre paralelamente à demenciação
transtornos do humor de início tardio...” (Hickie I, Scott E, Mitchell P,
verdadeira?" De fato, embora, possa haver no idoso um déficit cognitivo Os déficits cognitivos relacionados à depressão também têm como
Wilhelm K, Austin MP, Bennett B - Subcortical hyperintensities on
compatível com a idade e de pequena monta, a presença concomitante característica seu curso flutuante ao longo do dia ou dos dias, podendo
magnetic resonance imaging: clinical correlates and prognostic
de depressão aumenta essa deficiência ao ponto de, aos menos avisados, estar hora normal e hora muito prejudicado.
significance in patients with severe depression. Biol Psychiatry. 1995
parecer um verdadeiro quadro de demenciação pura.
Feb 1; 37(3): 151-60).
Naquelas pessoas deprimidas que apresentam déficits cognitivos
O benefício de se saber da existência da Pseudodemência Depressiva e variados, estes últimos melhorariam com o uso de antidepressivos que
Um dos interesses em conceituar esse tipo, digamos, mais orgânico de
de questionar esse diagnóstico está, primeiramente, no fato de levariam à remissão da depressão.
depressão no idoso, que é a Depressão de Início Tardio de outras formas
minimizar o prejuízo cognitivo com o tratamento da depressão. Em
de depressão, é a atitude preventiva contra doenças circulatórias
segundo, diante da possibilidade de melhora, estimular familiares e
Quando a melhora cognitiva não parece ser completa, apesar de ter cerebrais e um tratamento mais adequado.
médicos para o tratamento daquele que se tinha por exclusivamente
ocorrido remissão completa ou quase completa do quadro depressivo,
demenciado.
deve-se ponderar duas hipóteses:
As pesquisas neurofuncionais apontam também para a chamada
leucoencefalopatia, que se caracteriza por lesões de origem vascular
Mas, é bom que se tenha em mente, que embora o tratamento com
a) existe déficit cognitivo real subjacente ao quadro, isto é, demência observadas na substância branca à ressonância magnética, está
antidepressivos traga melhora aos sintomas cognitivos, esses pacientes
incipiente com déficit apenas exacerbado pela depressão (excess diretamente relacionada à Depressão de Início Tardio. Essas lesões na
normalmente estão mais comprometidos que seus pares não-deprimidos.
disability) ou; substância branca, juntamente com uma redução do volume dos núcleos
Embora possa haver comprometimento da disfunção cognitiva pela
da base, estão presentes em aproximadamente 60% dos pacientes com
depressão, isso não exclui a presença de demência subjacente. No caso
Depressão de Início Tardio, contra apenas 10% dos pacientes com
de idosos deprimidos, uma das principais características do exame b) os antidepressivos estão, de algum modo, interferindo na cognição. depressão de início precoce.
neuropsicológico é a discrepância entre os resultados e as queixas
apresentadas.
Embora existam relatos sobre o comprometimento de memória com o Os estudos sobre a depressão vascular também incluem a ocorrência
uso de Inibidores Seletivos da Recaptação da Serotonina (ISRSs), em concomitante de hipertensão arterial e doença das coronárias, ambas
O exame neuropsicológico pode também ser normal em alguns casos de especial a fluoxetina, classicamente aquele déficit ocorre com o uso de como fatores de risco para lesões frontais e dos núcleos cinzentos da
demência incipiente, principalmente em indivíduos com elevada antidepressivos tricíclicos. Sabe-se que quanto maior a atividade anti- base.
escolaridade. Isso ocorre porque, embora tenha ocorrido declínio de colinérgica, maior a possibilidade de indução da dismnésia. Na verdade,
funções cognitivas, o desempenho ainda permanece dentro da faixa de qualquer fármaco com propriedade anti-colinérgica pode induzir o
normalidade. mesmo efeito. É interessante observar que os déficits causados por Estes fatores orgânicos, vasculares, interagem com os fatores
antidepressivos tricíclicos poderem ser indistinguíveis daqueles psicológicos, com os eventos vitais negativos do envelhecimento, com
causados pela depressão. Essa perda cognitiva determinada pelo próprio fatores genéticos e com fatores sociais aumentando muito a
Depressão versus Demência
antidepressivo será classificada como Delirium. vulnerabilidade à depressão.

Embora haja diferenças diagnósticas entre a cognição prejudicada pela


Neste caso, deve-se trocar o antidepressivo tricíclico para um Inibidor Essa teoria da depressão de origem vascular como um outro tipo de
depressão e a demência, é bom lembrar, como já foi dito, que as duas
Seletivo da Recaptação da Serotonina (ISRS), ou para venlafaxina, depressão tem gerado diversas propostas e reflexões. Um dos critérios
situações não devem ser encaradas como distintas, tendo em vista que,
bupropiona ou a mirtazapina. Deve ser evitado o uso concomitante de para o diagnóstico inclui a presença de alteração vascular cerebral, mais
mais provavelmente, elas possam coexistir (prof. Paulo Mattos da
benzodiazepínicos, que podem causar déficit mnêmico por vezes muito os fatores de risco cardiovasculares (hipertensão arterial e/ou doença
UFRJ).
significativo,. A mirtazapina, pelos seus efeitos ansiolíticos, em geral coronariana) junto com a existência de lesões à ressonância magnética.
permite ao médico não usar benzodiazepínicos.
Geralmente, no exame neuropsicológico do deprimido se observa uma
Dentro desse panorama, uma das conseqüências da depressão em
grande discrepância entre as queixas apresentadas e os resultados do
Depressão por Razões Circulatórias pacientes com lesões vasculares seria a resistência ao tratamento com
exame. Embora as queixas sejam contundentes e freqüentes, os déficits
um determinado antidepressivo (monoterapia), sendo necessário, muitas
realmente constatados pelos exames são quase sempre pequenos ou
vezes, a associação de dois ou mais medicamentos desse tipo. Além
inexistentes. Esta discrepância é importante para consolidar o Existem múltiplas barreiras ao diagnóstico da Depressão de Início disso, há a necessidade de mais tempo para a recuperação, bem como
diagnóstico de déficit secundário à depressão. Tardio, tais como, por exemplo, as próprias circunstâncias existenciais maior declínio cognitivo e risco aumentado para demência e de
do envelhecimento e o estresse relacionado ao panorama social do Acidente Vascular Cerebral (AVC).
idoso, a falta de exames de laboratório em larga escala, as dificuldades
O paciente com déficits cognitivos secundários à depressão tem um
de atendimento médico especializado dos idosos, etc. Estudos recentes
comprometimento maior da recuperação da memória imediata, logo
apontam a possibilidade dos quadros depressivos de início tardio serem Diretrizes para a avaliação de pacientes possivelmente portadores de
após a apresentação pelo examinador, como se houvesse uma "preguiça"
pródromos ou uma manifestação inicial da demência que viria mais Depressão de Início Tardio (Vascular):
para lembrar as coisas que acaba de apreender. A recuperação tardia,
adiante.
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1. Estabelecer a idade de início do primeiro episódio depressivo maior sentimentos de reprovação ou culpa de si mesmo, PESQUISAS
(faça o melhor que puder). lentificação ou agitação psicomotora,
queixas ou evidência de diminuição na capacidade de
Algumas pesquisas podem refletir a realidade do idoso, como por
concentração.
É claro que, se houveram episódios depressivos anteriores o episódio exemplo as de Blazer (Blazer, Hughes, George - 1987) e Kane (Kane A.
atual pode ser mais um deles e não uma depressão de origem vascular. R., Kane R.L. -1993). Esses estudos permitem considerar que:
Para esse diagnóstico é importante que a pessoa não tenha antecedentes 4-Alterações no funcionamento cotidiano da pessoa (interação social,
depressivos em idades anteriores, embora existam exceções a essa regra. nível de atividade e busca de ajuda profissional), como causa ou
1- A maioria dos idosos institucionalizados (75%) não está satisfeita e
conseqüência da depressão.
contente com sua situação atual na instituição, o grau de bem estar
2. Avaliar os fatores de risco cardiovasculares: pessoal é insuficiente, o índice de satisfação global é baixo e a auto-
a. Fumo PREVALÊNCIA estima também é mínima (Lawton M.P. – 1975).
b. Pressão arterial
c. História familiar
A prevalência de depressão e transtornos depressivos nos idosos, de um 2- A auto-estima diminui progressivamente com a idade, atingindo seu
d. Perfil lipídico
modo geral, oscila desde 10 até 20-27% (Blazer, Hughes, George - ápice mais baixo entre os 75 e 84 anos.
e. Exercício
1987). Já em idosos institucionalizados a taxa de prevalência de
3. Avaliação cognitiva:
depressão vai de 25 a 80% (Hyer y Blazer -1982). É bom saber também
a. O paciente tem queixas de memória subjetivas? 3- Parece que essa diminuição da auto-estima não é diferente entre
que a depressão é 3 vezes mais prevalente em idosos com alguma
b. MMSE (Mini Exame do Estado Mental homens e mulheres.
deterioração funcional que naqueles sem essa condição.
c. outros testes
4. Medicação atual:
4- A prevalência de transtornos depressivos na população
a. Avaliar a carga anticolinérgica SINTOMATOLOGIA
institucionalizada é de 54%, portanto, superior às taxas de prevalência
b. Avaliar possíveis interações medicamentosas
de 23-40% estabelecida na população de idosos em geral.
De um modo geral, a clínica da depressão nos idosos é mais variada e
CONCEITOS atípica que no adulto jovem. Os idosos apresentam freqüentemente
5- Em estudos tomando por base os índices de hemoglobia glicosilada
sintomas depressivos que nem sempre se ajustam aos requisitos
entre idosos, o grupo mais alto se encontra na faixa de 75-84 anos, que é
necessários para categorias diagnósticas das classificações tradicionais
Já existem vários autores recomendando uma certa independência dos o mesmo grupo identificado com pior resultado na escala de satisfação
(CID.10 e DSM.IV). Normalmente esses quadros são repletos de
rígidos critérios da CID.10 E do DSM.IV para o diagnóstico da de Filadélfia e com maior prejuízo da auto-estima (Lawton M.P. –
sintomatologia somática.
depressão no idoso. Isso porque, para essas classificações formais, as 1975). Isso pode sugerir que as alterações do sistema neuroendócrino
diferenças de diagnóstico entre os vários transtornos depressivos se dão podem estar associadas a possíveis transtornos depressivos no processo
de acordo com o número de episódios, duração dos mesmos, gravidade Os sintomas mais freqüentes costumam ser inquietação psicomotora de envelhecimento.
dos sintomas e evolução. Entretanto, no ancião é difícil estabelecer (depressão ansiosa), sintomas depressivos (insuficientes para categorias
limites entre o estado normal e depressivo. Para ele o diagnóstico da de diagnóstico formal), somatizações variadas, sinais de alterações
Sintomas de depressão
depressão deveria se basear mais em critérios quantitativos que vegetativas, perda da autoestima, sentimentos de abandono e
qualitativos. dependência, eventuais sintomas psicóticos, déficit cognitivo variável,
idéias de ou suicídio. A. Severidade
Partindo-se de um estado de ânimo retraído, de determinadas condutas e
de pensamentos depreciativos (culpa, inutilidade, abandono...), Em menor escala pode surgir alterações do sono, alterações do apetite, Os sintomas da depressão são severos o suficiente para dominar sua vida
juntamente com determinadas manifestações fisiológicas, tais como a reconhecimento dos sintomas psiquiátricos, perda de energia, sensação e interferir profundamente em sua rotina diária. É como se você
perda de peso, insônia, dores incaracterísticas, somatizações,... vários de culpa, tristeza subjetiva, diminuição da concentração e pensamentos estivesse atolado em um mar de areia movediça e, não importa quanta
autores propõem cinco critérios para consolidar o diagnóstico da sobre a morte. força faça, apenas não consegue sair dali.
depressão no idoso (Spiltzer):
Não se deve esquecer que a depressão é a patologia mais freqüente no B. Duração
Critérios para depressão no idoso idoso e, normalmente, é apresentada de maneira atípica ou indireta, ou
1-Vários sintomas de depressão pelo menos por 2 ou mais semanas. seja, encoberta por múltiplas e variadas queixas somáticas e associada a
2-Sentimento de estado de ânimo diminuído durante este tempo. A tristeza com certeza faz parte da lista de sintomas de depressão. Mas,
quadros de franca ansiedade.
3-Presença de pelo menos quatro dos sintomas seguintes: quando é “só” tristeza, o sentimento acaba passando em alguns dias e a
aumento ou diminuição do apetite, vida volta a ser como era antes – o que não acontece em uma caso de
O diagnóstico da depressão no idoso se baseia na história clínica, nos depressão, quando a pessoa fica triste o tempo todo e por mais de duas
aumento ou diminuição do sono,
antecedentes afetivos pessoais e familiares bem como no julgamento de semanas.
diminuição da energia,
elementos sócio-psicológicos associados e possivelmente facilitadores.
sensação contínua de fatiga ou cansaço,
Para o clínico, nunca é demais enfatizar que as diferenças entre os
perda de interesse, E, ao contrário do que muitos pensam, os sintomas de depressão vão
distintos tipos de depressão apontados pelo DSM-IV ou CID.10 não têm
perda de prazer nas relações sociais, muito além da tristeza. A seguir, vamos apresentar 11 sintomas de
tanta relevância prática para a população de idosos.
perda de prazer nas atividades cotidianas, depressão que são os mais comuns. Mas, antes de falar mais sobre cada
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um deles, vale um alerta: é possível que uma pessoa deprimida não 7. Cansaço exagerado e perda de energia 2. Pensamentos suicidas
tenha os 11 sintomas de uma só vez, e a intensidade de cada um deles
pode variar. O importante, e fundamental, é verificar se vários desses
Normalmente, quando uma pessoa está com depressão e não mostra a A depressão é uma das condições mais comumente associadas ao
sintomas estão presentes por mais de duas semanas em você, ou em
agitação de que falamos no item anterior, ela tende a ficar mais quieta e suicídio. Ele começa com o que parece ser uma solução lógica para toda
alguém que você conheça. Nesse caso, talvez seja hora de procurar
se queixar constantemente de cansaço e falta de energia para tudo. Daí a dor e sofrimento que uma pessoa depressiva sente. De acordo com o
ajuda médica especializada.
vem uma onda implacável de improdutividade que atinge desde o Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos, 90% das
trabalho até as atividades mais rotineiras. Esse sintoma pode ser tão pessoas que cometem suicídio tem um quadro clínico de depressão,
Vamos aos sintomas: forte a ponto de a pessoa não conseguir mais nem sair da cama. estão sob efeito de drogas ou ambos.

11. Baixo astral generalizado 6. Perda de interesse em atividades e hobbies que gostava Quem tem esse tipo de pensamento geralmente fala coisas como “eu
queria morrer”, “eu quero acabar com tudo” e por aí vai. O perigo é que
muitas pessoas podem pensar que essas são palavras ditas “da boca pra
Quando o baixo astral domina todos os seus momentos, talvez seja hora Esse é um dos sintomas de depressão mais reveladores da doença. A
fora”, mas a verdade é que elas realmente sentem essa vontade de
de ficar em estado de alerta. Perda de interesse na vida, incapacidade de pessoa não tem mais vontade alguma de fazer coisas que antes adorava.
colocar um ponto final na vida. E esse, mais do que todos os sintomas, é
sentir ou expressar felicidade ou outras emoções também fazem parte do E essas coisas podem ser as mais variadas possíveis, como passear com
um indicador de que a ajuda profissional não só é necessária, como é
pacote. Como dissemos, é normal se sentir assim quando alguma coisa os cachorros, se exercitar, ou tomar conta dos seus sobrinhos. E, assim,
urgente.
que não gostaríamos acontece com a gente. Como ser demitido, ou a pessoa depressiva vai lentamente se isolando do mundo, recusando
terminar um relacionamento, por exemplo. Mas, o normal é que essa convites e qualquer outro motivo para sair de casa.
melancolia seja passageira. Quando ela insiste em ficar e anula todas as 1. Dores persistentes, dores de cabeça, cólicas ou problemas digestivos
possibilidades de sorrir e sentir qualquer tipo de alegria, ela não se torna que não melhoram com tratamento
5. Dificuldade de concentração
apenas um sintoma, mas também uma das evidências mais fortes de que
se trata de um quadro real de depressão.
A depressão é estressante. Os efeitos físicos do estresse crônico, somado
Esquecer compromissos e recados, cometer erros bobos, não se lembrar
à falta de cuidados com si mesmo, provocam uma série de problemas de
de nomes e evitar fazer planos ou adiar decisões. A pessoa considerada
Se você está em dúvida sobre estar ou não nessa situação, pergunte a saúde, como os que enumeramos acima. Obviamente, alguns destes
“deprimida” é vítima constante de “pensamentos confusos”. Entre os
você mesmo: “quando foi a última vez que eu fiquei feliz?”. sinais físicos podem ser pistas para problemas de saúde não
sintomas de depressão, esse é aquele que começa virando motivo de
relacionados à depressão. O importante é perceber se isso está
piada, mas pode ficar sério a ponto da pessoa começar a escrever
acontecendo junto com outro(s) sintoma(s) que listamos neste artigo.
10. Sentimento constante de desesperança, inutilidade ou desamparo lembretes para ela mesma.

Dica: levar uma pessoa ao médico sob o pretexto de avaliar sintomas


Quando uma pessoa está com depressão, ela não consegue deixar de E atenção: essas falhas mentais associadas à depressão podem se parecer
crônicos permite que você tenha uma chance de fazer um relatório
sentir que está tudo errado e a culpa de todos os problemas do mundo é muito com “demência”. E, de fato, as pessoas com esta condição são
completo de outros sintomas preocupantes que podem levar ao
dela. A pessoa parece incapaz de ver qualquer lado positivo ou luz no propensas à depressão, e vice-versa.
diagnóstico de uma depressão. Isso pode ser muito importante porque
fim do túnel. E então começa a se fixar em erros do passado, ficando
pessoas com depressão costumam negar essa condição e todos os
horas, dias e semanas remoendo um sentimento de culpa infinito. Falas
4. Dormir demais ou problemas de sono possíveis sintomas relacionados a ela. E, de acordo com o Instituto
como “eu não tenho escolha”, “eu não posso fazer nada”, “ninguém se
Nacional de Saúde Mental, até os casos mais severos de depressão
importa” são comuns de se ouvir de alguém que se encontra nessa
costumam responder muito bem ao tratamento adequado. [Health]
situação. Falta de sono, ou sono em excesso, e a depressão estão intimamente
relacionados. Em algumas pessoas, a depressão se manifesta com
insônia, enquanto em outros acontece exatamente o contrário: tudo o Miniaturas de anexos Vídeos detectados neste e-mail Baixar todos os
9. Choro frequente
que a pessoa quer é dormir. De um jeito ou de outro, a rotina de sono é anexos Todos os anexos Só multimídias Só documentos Só executáveis
interrompida e a pessoa nunca se sente descasada o suficiente. Outros Todas as mídias embutidas neste email Exibir todas as fotos
Quando o choro é frequente e aparentemente não tem uma causa que o Importante saber: a depressão é uma das principais causas de problemas (slideshow)
justifique, vem “do nada”, ele pode entrar para a lista de sintomas de de sono, porque ela interfere nos ritmos biológicos naturais.
depressão. Mas é importante ressaltar que nem toda pessoa deprimida
Atenção: anexos podem danificar e expor seu computador a riscos.
chora. Na verdade, algumas nunca choram. E, segundo um estudo feito
3. Falta de apetite ou comer compulsivamente Saiba mais.
na Universidade de São Francisco (Estados Unidos) em 2001, a
quantidade de choro não está diretamente relacionada à gravidade da
depressão. Contudo, pode ser a pontinha do iceberg. Esse é mais um caso em que o sintoma tende a aparecer como um A depressão é uma das doenças mais recorrentes do século XXI,
extremo ou outro: a pessoa depressiva pode perder totalmente o afetando homens e mulheres de todas as idades. Quem sofre de
interesse na comida, ou começar a comer descontroladamente. De um depressão parece ter estagnado, não encontra forças para enfrentar o
8. Inquietação e agitação constante
jeito ou de outro, é relativamente fácil detectar um comportamento quotidiano e chega a pensar que a vida não tem qualquer significado.
anormal, principalmente porque nesse caso, um pouco mais que nos Lidar com uma pessoa deprimida não é fácil, mas também não é
Pessoas com depressão podem se sentir incapazes de relaxar. Podem ter outros, os resultados desse comportamento é geralmente visível. impossível.
também um sentimento constante de irritação e raiva de tudo e de todos.
16

Compreender a doença. A depressão é uma doença como qualquer que a pessoa deprimida coloque a sua vida em standby por causa
outra e a melhor forma de lidar com uma pessoa deprimida é saber da depressão.
exatamente quais os efeitos que a depressão causa no doente, o que este
sente e qual a melhor forma de lidar com tudo isso. Ler muito sobre o
Tarefas diárias. Para uma pessoa deprimida, até os gestos e
assunto, acompanhar a pessoa deprimida ao médico, participar em
rotinas mais mundanas do dia-a-dia se tornam um enorme suplício
comunidades reais ou virtuais são as principais formas de compreender
– tudo custa, tudo é demais, tudo é fonte de stress e não apetece
a depressão e saber dar resposta às angústias e necessidades da pessoa
fazer nada. Uma das formas mais simples de apoiar uma pessoa
deprimida. Não saber o que é uma depressão e de que forma se
deprimida é ajudá-la com as suas pequenas tarefas diárias: pode
manifesta, dificulta a compreensão dos comportamentos da pessoa
ser algo tão simples como ir buscar os miúdos à escola, ajudá-lo a
deprimida.
fazer o jantar, na limpeza da casa ou fazer as compras de
supermercado. Ficará surpreendido com o efeito positivo que este
Apoio emocional. A depressão não é uma doença que passa de um tipo de ação terá numa pessoa deprimida, que se sentirá
momento para o outro, ou seja, demora tempo a passar – meses e, em imediatamente mais aliviada.
alguns casos, até anos. Durante esse tempo, aquilo que a pessoa
deprimida mais necessita – para além do acompanhamento médico – é o
Sair de casa. Uma pessoa deprimida tem uma enorme tendência
apoio emocional de quem a rodeia. Compreensão, paciência e carinho
para se desligar do mundo e fechar-se em casa, o que só dificulta
são os fatores chaves para quem está a cuidar de uma pessoa deprimida.
ainda mais a situação. Quanto mais tempo a pessoa deprimida se
Mostre empatia, seja um bom ouvido, dê muitos abraços e, quando na
isolar, mais difícil será ela voltar ao “mundo real”. Só o facto de
dúvida sobre o que fazer ou dizer, pergunte sempre: “como posso
estar ao ar livre e a apanhar sol já é extremamente benéfico para
ajudar?”.
uma pessoa deprimida, mas pode ainda juntar a isso uma pequena
caminhada, uma tarde de jardinagem, um almoço fora ou uma
Saber distinguir a pessoa da doença. É muito difícil lidar com e sessão de cinema com um grupo de amigos mais íntimos. Pode
ajudar uma pessoa deprimida, principalmente quando ela expressa custar inicialmente, mas este tipo de atividades são uma lufada de
emoções tão intensas como a tristeza, pessimismo, raiva e ar fresco para a pessoa deprimida.
frustração. Faça os possíveis para se lembrar que é a doença que
está a falar e não a pessoa. Evite tentar convencer a pessoa
Cuidar de si. Quem cuida de uma pessoa que está doente, também
deprimida que aquilo que sente não é real e que ela pode
precisa de se cuidar, caso contrário pode facilmente ficar
simplesmente “animar-se” para que isso passe. Em vez de dar
fisicamente exausto, emocionalmente desgastado e com elevados
conselhos e sugestões, mantenha-se neutro, ouça e ofereça-se para
índices de ansiedade e stress. É crucial que quem cuida de uma
ajudar naquilo que for preciso.
pessoa deprimida não concentre cada minuto do seu dia nessa
pessoa, no seu estado e nos seus problemas – é necessário que
Delinear um plano. Ninguém pode ficar sentado em casa à espera continue a fazer a sua vida normal, sem descurar os momentos de
que uma depressão passe por si só ou que os medicamentos façam lazer, sem sentimentos de culpa. Se sentir que já não consegue
o seu efeito de um dia para o outro – se assim for, ela nunca mais ou que precisa de uma pausa, peça apoio a um familiar ou
desaparecerá. É preciso delinear um plano de ação em conjunto amigo e descanse durante uns dias. Se não estiver em plena forma,
com a pessoa deprimida: é preciso saber quais são as coisas que não será grande ajuda para a pessoa deprimida.
parecem piorar a depressão e evitá-las, mas também perceber
quais as atividades que dão um novo alento à pessoa deprimida e
repeti-las. Outros cuidados básicos que podem melhorar a
qualidade de vida de uma pessoa deprimida passam pela toma
adequada e atempada dos medicamentos, fazer uma dieta
alimentar saudável, dormir o suficiente, praticar exercício físico,
participar numa terapia individual ou de grupo e ter algum tipo de
agenda social. A depressão não precisa de ser uma doença
incapacitante e é preciso vencê-la, um passo de cada vez.

Tempo de qualidade juntos. É crucial que a depressão não


domine a vida da pessoa deprimida e nem a daquelas que
diariamente convivem com essa pessoa. Quais são as coisas que
normalmente fazem juntos? Façam-nas! Quantas mais vezes,
melhor. A diversão é um dos melhores remédios para a depressão.
Num estado de depressão é extremamente importante manter uma
vida o mais normal e otimista possível. Normal é bom – não deixe

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