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DIREITO DO TRABALHO

Boletim Trabalhista n° 14 - 2ª Quinzena. Publicado em: 28/07/2022

 Matéria elaborada conforme a legislação vigente à época de sua publicação, sujeita a mudanças em decorrência das alterações legais.

DÉCIMO QUARTO SALÁRIO


Obrigatoriedade, Previsão Legal, Incidências, GFIP, eSocial, Cálculo, Habitualidade

Roteiro 

1. Introdução
2. Obrigatoriedade
3. Data para Pagamento
4. Incidências
5. GFIP
6. eSocial
7. Cláusulas Condicionantes do Pagamento
8. Cálculo
8.1. Salário Fixo
8.2. Salário Variável
8.3. Salário Fixo ou Variável com Adicionais
9. Habitualidade
10. Distinção com o PIS e o PLR
11. Inaplicabilidade aos Profissionais Autônomos
12. Funcionalismo Público e Multinacionais
13. Décimo Quarto Pago pelo INSS

1. Introdução
O décimo quarto salário é algo questionado recorrentemente pelos empregadores. A referida verba não possui previsão na legislação trabalhista, logo o que
muito se pergunta é a possibilidade de pagamento e se irá integrar ao salário do empregado ou não.

Dessa maneira, esta matéria tem o objetivo de esclarecer alguns pontos, como incidências, obrigatoriedade do pagamento e até mesmo o conceito dessa
verba.

2. Obrigatoriedade
Para o ordenamento jurídico não há uma previsão de conceito sobre o décimo quarto; mas, na prática, trata-se de um mero adicional, ou uma remuneração a
mais, paga aos empregados por mera liberalidade do empregador ou até mesmo por previsão em norma coletiva.

Cabe esclarecer que na legislação trabalhista e previdenciária não há qualquer previsão sobre o décimo quarto salário, tão pouco sobre sua obrigatoriedade.
Logo, fica a critério do empregador conceder ou não tal pagamento.

Sendo assim, caso o empregador decida fazer o pagamento do 14° salário, este poderá ser entendido como uma gratificação ajustada entre as partes, nos
termos do artigo 2° da
CLT.

Importante esclarecer que pode haver previsão em convenção ou acordo coletivo de trabalho, desse modo o empregador deve observar o instrumento
coletivo a fim de beneficiar os empregados, visto que esse documento terá força de lei, conforme o artigo 611, § 1°, e artigo 611-A da
CLT.

3. Data para Pagamento


Com relação ao pagamento do 14° salário, como a lei é omissa, não há previsão de como é feito o procedimento ou até mesmo a data em que será pago.

De modo preventivo, caso seja adotado esse pagamento, orienta-se que sempre ocorra na mesma data/prazo, a ser definida pelo empregador. Se houver
previsão em CCT/ACT, a presente norma definirá quando será pago.

Considerando a razoabilidade e a natureza de pagamento ser comparada a gratificações ajustadas, aconselha-se que o empregador utilize o mês de
dezembro para o pagamento do 14° salário.

4. Incidências
O 14° salário não é diferente das demais gratificações pagas por mera liberalidade do empregador ou por força de norma coletiva.
DIREITO DO TRABALHO
Boletim Trabalhista n° 14 - 2ª Quinzena. Publicado em: 28/07/2022

 Matéria elaborada conforme a legislação vigente à época de sua publicação, sujeita a mudanças em decorrência das alterações legais.

Como não se trata de uma gratificação legalmente prevista, existem dois entendimentos doutrinários a respeito do tema.

O primeiro entendimento aponta que qualquer gratificação paga ao empregado, a título de reconhecimento ou recompensa pelo serviço prestado ao
empregador, é considerada verba salarial, isso é, as gratificações ajustadas – não consideradas legais – concedidas de modo espontâneo pelo empregador,
irão integrar o salário do empregado e, por isso, haverá incidência de INSS e FGTS.

Já o segundo entendimento, trazido pela legislação trabalhista, define que as gratificações ajustadas não irão incorporar no salário do empregado pelo fato
de não estarem previstas no artigo 457, § 1°, da
CLT, dessa forma não haverá incidência de INSS e FGTS.

Assim, se houver pagamento de 14° salário pago a título de gratificação ajustada, cabe ao empregador analisar o caráter do pagamento e adotar uma das
correntes determinadas pelo entendimento doutrinário. Ainda, aconselha-se o empregador a consultar o posicionamento do sindicato representativo da
categoria, pois esse pode definir entendimento próprio e determinar o posicionamento ao caso.

Para essa interpretação, pode-se utilizar do artigo 214, inciso I, do


Decreto n° 3.048/99 e do artigo 15, caput, da
Lei n° 8.036/90.

Incidências
Rubricas
INSS FGTS

Sim
Sim

Gratificação Legal
Artigo 28 da
Lei n° 8.212/91 e
artigo 457, § 1°, da
CLT Artigo 15 da
Lei n° 8.036/90

Não/Sim (*)
Não/Sim (*)

Gratificação Ajustada
Artigo 28, § 9°, da
Lei n° 8.212/91 e
artigo 457, § 1°, da CLT Artigo 15 da
Lei n° 8.036/90

(*) Como visto acima, o tema é divergente e a tributação ou não da parcela dependerá do posicionamento que o empregador resolver adotar, conforme será
visto no item 6 desta matéria.

5. GFIP
No que tange à GFIP, cabe esclarecer que, com a substituição da DCTFWeb para as contribuições previdenciárias, conforme o artigo 19 da
IN n° 2.005/2021,
a GFIP só será informada quando houver fatos geradores para FGTS.

Sendo assim, considerando que o 14° salário não possui respaldo jurídico, tão pouco regulamentação no Manual da GFIP/SEFIP, o entendimento é que o
empregador pode somar o valor dessa gratificação para fins de tributação de FGTS e fazer o lançamento em SEFIP.

Lembrando que o recolhimento ao FGTS é até o dia 07 do mês seguinte, no entanto, se o empregador decidir realizar o pagamento no final do ano
(competência dezembro), será até dia 07 de janeiro do ano seguinte, nos termos do artigo 15 da
Lei n° 8.036/1990.

Ademais, recomenda-se que a CAIXA seja consultada para mais esclarecimentos, tendo em vista que o Manual e a legislação não possuem previsão.

6. eSocial
Para o eSocial, considerando a omissão legislativa, pode-se entender que o 14° salário pode ser motivo de ajuste entre as partes, portanto ser uma
gratificação que o empregador concede aos empregados, ou até mesmo por força de convenção ou acordo coletivo.

Dito isso, pode-se observar as seguintes rubricas:

Gratificação por acordo ou convenção coletiva 1210

Gratificações 1211

Cabe informar que ambas as rubricas podem ser classificadas com incidências, tanto de INSS quanto de FGTS, como sem incidências, a depender da
corrente de entendimento que a empresa adotar.

Se considerar como uma verba de natureza salarial, será incorporada no salário dos empregados para todos os fins, visto que o 14° salário é pago
anualmente, então pode ser considerado habitual e, assim, deve se cadastrar a rubrica com as incidências de INSS e FGTS.

Incidência de INSS Classificação eSocial

Sim 11 - Mensal

 
DIREITO DO TRABALHO
Boletim Trabalhista n° 14 - 2ª Quinzena. Publicado em: 28/07/2022

 Matéria elaborada conforme a legislação vigente à época de sua publicação, sujeita a mudanças em decorrência das alterações legais.

Incidência de FGTS Classificação eSocial

Sim 11 - Base de Cálculo do FGTS

Já no entendimento contrário, considerando que gratificações são ajustadas e não possuem natureza salarial, cabe classificar como sem incidência para
INSS e FGTS.

Incidência de FGTS Classificação eSocial

Não 00 - Base de Cálculo

Incidência de FGTS Classificação eSocial

Não 00 - Não é Base de Cálculo do FGTS

Portanto, caso haja o pagamento habitual do 14° salário, terá incidências, as quais serão recolhidas por meio de DARF através da rubrica informada ao
eSocial e vinculada à DCTFWeb mensal.

7. Cláusulas Condicionantes do Pagamento


Considerando que 14° salário não possui qualquer previsão na legislação, o empregador, dentro do seu poder diretivo, pode estipular esse pagamento por
mera liberalidade.

Assim, cabe ao empregador regulamentar os requisitos necessários ao pagamento, por exemplo, produtividade, assiduidade etc. Dessa forma, o empregador
deve estipular quais são as cláusulas condicionantes ao pagamento (artigo 2° da
CLT).

8. Cálculo
A seguir serão analisadas quais as possíveis formas de calcular o 14° salário.

8.1. Salário Fixo


Por mais que não se tenha um padrão na lei a ser seguido, a maneira mais viável para calcular essa gratificação é da mesma forma que é apurado o décimo
terceiro, ou seja, utilizar do salário fixo do mês de dezembro.

8.2. Salário Variável


Considerando o exposto, pode se aplicar por analogia o entendimento trazido para o 13° salário, com base no artigo 77 do
Decreto n° 10.854/2021:

Art. 77. A gratificação de Natal para os empregados que recebem salário variável, a qualquer título, será calculada na base de um onze avos da
soma dos valores variáveis devidos nos meses trabalhados até novembro de cada ano e será adicionada àquela que corresponder à parte do
salário contratual fixo, quando houver.

Além disso, ressaltamos que a convenção ou o acordo coletivo de trabalho podem trazer um cálculo específico, caso esteja previsto o pagamento de 14°
salário para a categoria.

No mais, sugere-se a leitura complementar das matérias abaixo:

DÉCIMO TERCEIRO SALÁRIO - PRIMEIRA PARCELA

Boletim N° 21/2020
Beneficiários, Proporcionalidade, Prazo, Cálculos, Afastamentos, eSocial, Coronavírus

DÉCIMO TERCEIRO SALÁRIO - SEGUNDA PARCELA

Boletim N° 21/2020
Prazo, Cálculos, eSocial, Auxílio Doença, Salário Maternidade, DCTFWeb, COVID-19

8.3. Salário Fixo ou Variável com Adicionais


Se houver parte da remuneração que seja fixa e outra variável, a maneira mais viável será utilizar o cálculo do 13° salário, ou seja, utilizar a soma das verbas
variáveis devidas até o mês anterior ao pagamento do 14° e o resultado será somado à parte fixa da remuneração.
DIREITO DO TRABALHO
Boletim Trabalhista n° 14 - 2ª Quinzena. Publicado em: 28/07/2022

 Matéria elaborada conforme a legislação vigente à época de sua publicação, sujeita a mudanças em decorrência das alterações legais.

Cabe lembrar que a convenção coletiva pode dispor de cálculo diferente.

9. Habitualidade
A habitualidade não é definida pela legislação trabalhista ou previdenciária, logo não se têm um conceito exato do que seria.

No entanto, pode-se entender, com base na razoabilidade, que é o valor pago todos os anos aos empregados e que fará parte integrante da remuneração, ou
seja, é incorporado ao contrato de trabalho, inclusive não podendo ser retirado depois, conforme o artigo 468 da
CLT.

No mais, segue a Súmula do STF n° 207 que diz:

SÚMULA N° 207: As gratificações habituais, inclusive a de natal, consideram-se tacitamente convencionadas, integrando o salário.

10. Distinção com o PIS e o PLR


O abono do PIS foi criado pela Lei Complementar n° 007/70 com o objetivo de integração entre empregados e empresas através do Programa de Integração
Social – PIS. Sendo assim, os empregadores que contribuem para o PIS/PASEP, de acordo com a Lei n° 7.998/90, garantem aos empregados o recebimento
desse abono.

Já a Participação nos Lucros e Resultados (PLR) trata-se da participação dos trabalhadores nos lucros ou resultados da empresa como instrumento de
integração entre o capital e o trabalho e como incentivo à produtividade, nos termos do artigo 7°, inciso XI, da
Constituição Federal. Dessa maneira, promove
a participação dos empregados nos lucros da empresa por meio de legislação própria.

Portanto, não se deve confundir o 14° salário com esses dois institutos, haja visto que, além de não possuírem previsão em lei, têm conceitos e formas de
pagamentos diferentes.

Para saber mais sobre tais institutos, indica-se a leitura das matérias abaixo:

PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E RESULTADOS

Boletim N° 04/2022
Conceitos, Negociação, Acordo, Periodicidade, Incidências, Penalidades, eSocial

ABONO SALARIAL DO PIS/PASEP - CRONOGRAMA DE PAGAMENTO 2022

Boletim N° 01/2022
Requisitos, Beneficiários, Cálculo, RAIS, eSocial, Saque, Perda, Falecimento

11. Inaplicabilidade aos Profissionais Autônomos


Os profissionais autônomos são considerados como contribuintes individuais. Assim, nos moldes da Lei n° 8.212/91, os contribuintes individuais são
aqueles que exercem atividade remunerada em âmbito urbano ou rural, para pessoa física ou jurídica, sem a existência de vínculo empregatício.

Importante frisar que os contribuintes individuais não possuem qualquer vínculo empregatício, logo inexistindo a prerrogativa de pagamento de 14° Salário.

Na prática é bem comum que dentro do contrato de prestação de serviços com os autônomos haja cláusula sobre o pagamento dessa remuneração
adicional. Cabe lembrar que não se deve denominar como 13° ou 14° salário, visto que tais valores são pagos somente para empregados.

Portanto, caso haja essa remuneração adicional, deverá haver previsão em contrato de prestação de serviços, conforme os artigos 593 e
594 da
Lei n°
10.406/2002 (Código Civil).

12. Funcionalismo Público e Multinacionais


Muito se observa que, no âmbito da Administração Pública, há o pagamento do 14° salário a servidores públicos. Apesar de não haver regulamento na esfera
trabalhista, muitos órgãos públicos proporcionam esse pagamento através de previsão em seus estatutos, visto que o tratamento é totalmente diferente do
setor privado.

No entanto, diferente do âmbito público, as empresas multinacionais, que são do setor privado, normalmente proporcionam o pagamento do 14° salário
mesmo que não haja regulamentação na lei para os empregados. Essas empresas possuem a matriz em um determinado país, mas atuam em outros por
meio das filiais.

Sendo assim, têm-se a discussão da legalidade do pagamento dessa gratificação, uma vez que proporciona um ambiente de privilégios desiguais entre os
empregados do setor privado.

13. Décimo Quarto Pago pelo INSS


O que muito se questiona é sobre o pagamento do 14° salário por parte da Previdência Social a aposentados.
DIREITO DO TRABALHO
Boletim Trabalhista n° 14 - 2ª Quinzena. Publicado em: 28/07/2022

 Matéria elaborada conforme a legislação vigente à época de sua publicação, sujeita a mudanças em decorrência das alterações legais.

Vale destacar que, até o momento, há projetos de lei em trâmite, mas que ainda não foram publicados, não havendo, assim, regulamento em lei que institua
esse pagamento de responsabilidade do INSS.

Ao longo dos anos foram apresentados vários projetos de lei com essa temática, mas sem sucesso. Portanto, ainda não há previsão de pagamento de 14°
salário perante o INSS.

Autor: Equipe Técnica Econet Editora

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