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CENTRO UNIVERSITÁRIO PADRE ALBINO

TRABALHO DE BIOÉTICA
Eutanásia

GUILHERME MACHADO RUGGIERO N° 24


HEITOR HIROSHI YAMANARI LIMA E SILVA Nº 28

CATANDUVA
2021
Eutanásia é o ato de promover ou acelerar a morte de uma pessoa acometida de
uma moléstia dolorosa e incurável, com o objetivo de poupá-la de mais sofrimento. A
partir dessa definição, cria-se o debate acerca da moralidade dessa prática. Por um lado,
defende-se a conduta, baseado no argumento de que a Eutanásia é uma libertação do
sofrimento do indivíduo, além de respeitar a autonomia deste para com o que deseja
fazer; por outro lado, argumentos contra o procedimento baseiam-se na inviolabilidade da
vida humana, garantido na Constituição brasileira de 1988.
Dentro dessa discussão existem alguns termos relacionados à eutanásia, portanto,
cabe explicitarmos alguns conceitos importantes para o entendimento acerca deste
assunto:

• Eutanásia ativa: ato deliberado de provocar a morte sem sofrimento do paciente, por
fins humanitários;
• Eutanásia passiva: quando a morte ocorre por omissão proposital em se iniciar uma
ação medica que garantiria a perpetuação da sobrevida;
• Eutanásia de duplo efeito: nos casos em que a morte é acelerada como consequência
de ações medicas não visando ao êxito letal, mas sim, ao alivio do sofrimento de um
paciente;
• Eutanásia voluntária: em resposta à vontade expressa do doente; o que seria próximo
de suicídio assistido;
• Eutanásia involuntária: quando o ato é realizado contra a vontade do enfermo, o que,
em linhas gerais, pode ser igualado ao homicídio; mas que por outra linha, pode ser
entendido como algo que se pratica a uma pessoa que havia sido capaz de outorgar ou
não o consentimento à sua própria morte, mas não o fez, seja por não ter sido solicitado,
seja por ter rechaçado a solicitação, devido ao desejo de seguir vivendo;
• Eutanásia não voluntaria: quando a vida é abreviada sem que se conheça a vontade
do paciente;
• Mistanásia: é a morte miserável, por questões socioeconômicas ou má gestão do
sistema de saúde;
• Ortotanásia: permissão ao paciente para que ele tenha uma morte natural.

Desse modo, no que consiste ‘‘o ato em si’’, a eutanásia ativa é normalmente menos
aceita, por ferir o direito à vida de modo consciente, e a passiva é a mais aceita por incluir
a decisão do paciente de não querer passar por um tratamento mais radical e desgastante
ou então por abranger a morte desde individuo decorrente da modalidade terapêutica.
Já no que se refere ao consentimento do enfermo, a eutanásia voluntaria e a não
voluntaria possuem uma justificativa moral, sendo a primeira, por respeito a decisão do
paciente, e a segunda, por ser desconhecida a vontade do indivíduo. Entretanto, a
eutanásia involuntária não possui justificativas morais, estando mais próxima do
homicídio, uma vez que desrespeita a vontade do paciente, o que é considerado um
crime.
Uma vez citada durante o texto, é necessário ressaltar, para que não haja
confundimento, a diferença entre suicídio assistido e a eutanásia em si. O suicídio
assistido ocorre quando uma pessoa solicita a ajuda de outra para alcançar o óbito, uma
vez incapaz de realizar por conta própria. Neste caso, o enfermo está sempre consciente,
manifestando sua opção pela morte. Já na eutanásia, nem sempre o paciente encontra-se
consciente, como por exemplo em casos de pacientes em estado terminal e coma,
mantidos vivos por maquinas e ventiladores mecânicos, os quais seriam desligados,
ocasionando a morte.
Debates referentes ao tema “Eutanásia” está cada vez mais presente na sociedade,
e gera enormes diferenças em relação aos pontos de vista que envolvem a saúde, religião
e jurisdição. Segundo o Código de Ética Médica, estabelecido na Resolução CFM
2.217/2018, em seu artigo 41 que é proibido ao médico encurtar a vida do paciente, ainda
que a pedido deste ou de seu representante legal. Porém, há uma ressalva no parágrafo
único do artigo 41, que nessas situações o médico deve oferecer todos os cuidados
paliativos disponíveis, proporcionando mais conforto e alívio da dor, até que a vida do
paciente se encerre naturalmente; que é a ortotanásia.
No ano de 1989, o bioeticista Pe. Márcio Fabri dos Anjos analisou essa situação,
enquadrando-a como uma das situações bioéticas de terminalidade de vida. Se a
etimologia da palavra eutanásia indicaria uma “boa morte”, existiria também uma “morte
ruim”, ou miserável, que ocorreria ou por uma deficiência estrutural no sistema de saúde
ou muito além do ambiente hospitalar; que posteriormente foi alcunhada como mistanásia.
Essas pessoas que sofrem a mistanásia nem sequer são atendidas pelo sistema de
saúde, sendo vítimas da má gestão ou por diferenças socioeconômicas.
Percebe-se claramente que, no Brasil, a letalidade de Covid-19 tem duas
características marcantes: ou é ampliada pela falta de recursos que, em diversas
ocasiões, se deu de forma deliberada; ou atinge mais os mais pobres e com menor
escolaridade. Em tese é possível saber quando faltarão e tomar alguma providência, e
que também desde o início da pandemia já se sabe que os riscos às comunidades mais
pobres são maiores, quando os dados comprovam que há mortes por falta de recursos e
que isso atinge aos mais pobres significa que nada foi feito, embora fosse devido.
Assim, conscientemente ou não, as decisões tomadas na gestão da pandemia
definiram o perfil de quem viveria ou quem morreria, característica típica de uma
necropolítica, conceito estabelecido por Achille Mbembe para definir as novas formas de
políticas centradas no poder sobre a morte, especialmente na forma como Estados
conduzem respostas a crises. Em sua análise, Mbembe inicia demonstrando que tal forma
de política é uma fuga da democracia, quando governos deixam de respeitar as formas
democráticas alegando-se crise e exceção das mais diversas formas.
No Brasil, tal política ocorreu (e ocorre), e se manifesta ainda de forma intencional,
que descrevi como biopopulismo, ou seja, a apropriação política de discursos científicos
que visam instrumentalizar a ciência como mecanismo populista de, valendo-se da
democracia, ir contra ela própria. Assim, se a necropolítica ocorre em um cenário que
contraria a democracia, é por meio do biopopulismo que esse cenário é estabelecido.
Por ocasião daquele texto já alertava para consequências alarmantes, como o
aumento da vulnerabilidade sanitária de parcela da população, inclusive com aumento de
mortes que poderiam ser evitadas, além de deslegitimar a respeitabilidade e a função
social do desenvolvimento científico, da ciência e cientistas.
A morte por mistanásia é um dano à sociedade e às inúmeras famílias que choram o
luto de seus familiares que morreram pela negligência, insuficiência ou ignorância da
política de contenção da pandemia de Covid-19 no Brasil e, por isso, merecem a devida
atenção e reparação nos termos do art. 37, § 6.º, da Constituição Federal. E tais condutas
danosas também precisam ser analisadas quanto às suas responsabilidades no âmbito
administrativo e criminal.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
• CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Código de Ética Médica. Confiança para o
médico, segurança para o paciente. Disponível em: <
http://www.portalmedico.org.br/novocodigo/index.asp >. Acesso: 14.Ago.2022.
• Lepargneur Hubert. Bioética da eutanásia. Argumentos Éticos em Torno da
Eutanásia. O Centro Universitário São Camilo, São Paulo-SP.
• file:///D:/Documentos%20(n%C3%A3o%20apagar)/Desktop/292-1466-1-PB.pdf
• https://www.scielo.br/j/csp/a/rpx7NmV6Yt4XTtmjytnfH6g/?lang=pt
• https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/parlamento-portugues-aprova-lei-para-
legalizar-a-eutanasia/
• http://genjuridico.com.br/2021/03/16/mistanasia-e-pandemia/
• https://medicinasa.com.br/artigo-clovis-constantino/

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