Você está na página 1de 3

Instituto Superior Mutasa

Curso de Direito
Cadeira de Psicologia

UMA RETROSPECTIVA DA CONCEPÇÃO DE JUSTIÇA


TENDO COMO REFERÊNCIA A REPÚBLICA DE PLATÃO

Discente: Roberto José

Docente: Milton Inguane

Maputo, Abril de 2023

1
O presente trabalho visa apresentar um resumo sobre a obra: retrospectiva da concepção de
justiça tendo como referência a república de Platão.

A primeira consideração refere-se à estrutura hierárquica entre as diferentes classes por meio da
divisão do trabalho. A cidade justa foi organizada em três classes.
As duas primeiras ficaram responsáveis pela administração, conservação e defesa da cidade. A
terceira na produção da subsistência e manutenção desta administração. A primeira e segunda
classes, devido à sua função, estavam submetidas ao sistema educativo elaborado em três etapas.
Os outros aprendiam seus ofícios entre si, pois o mais experiente ensinava aos mais jovens.

É a divisão do trabalho que determinava o acesso ao sistema educativo presente na cidade justa.
O poder do governante se expressava na posse do conhecimento racional. Este poder é ensinado
por meio da virtude da sabedoria, que confere a alma o acesso ao conhecimento das coisas
imutáveis que estão no Mundo das Ideias. Esta formação deve fazê-lo se distanciar do sensível,
até que por meio da dialética atinja, a partir das ideias, o Bem em si. O método dialético torna
possível tal caminho, por meio de longos exercícios e treinamentos para desenvolver a
inteligência do governante.

É o método que permite a distinção entre o pensar a partir de hipóteses, nomeado de


entendimento, daquele que é mais verdadeiro por estar fundado nas ideias. Só neste caminho se
adquire a capacidade de distinguir a opinião da ideia.

A segunda consideração é o destaque do papel político do filósofo na cidade.


Ele não só tem um lugar na cidade justa, mas é por meio dele que a cidade se torna amiga da
sabedoria. Uma sabedoria que é expressão da Ideia do Bem. Por ele, a cidade toda é sábia e está
preparada para os embates políticos408. É seu dever de governar a cidade para que o coletivo
cumpra sua finalidade, mesmo que os demais cidadãos não compreendam suas ações.

O filósofo-governador não fica na contemplação egoísta do Bem, mas ao vislumbrá-lo tem a


função de conduzir a cidade justa para longe das fragilidades presentes no mundo sensível,

2
permeado de ignorância e falsas opiniões, promovendo felicidade e bem-estar ao conjunto de
seus concidadãos.
Na terceira consideração há uma resposta para a dificuldade de harmonização dos interesses
individuais e cuidados com o bem do coletivo, através da ideia da justiça virtuosa. Pois, o bem de
cada cidadão é o bem da cidade. E o bem da cidade se constrói quando cada pessoa executa sua
função da melhor forma possível.

O bem próprio é o bem do Outro, quando cada cidadão cumpre sua função específica, sem querer
novidades ou mudanças nesta estrutura. O bem alheio é preservado e respeitado por todos e
principalmente pelos governantes. Esta é a única lei que deve conduzir a cidade, do contrário, ela
está condenada à ruína e a injustiça.

A importância de o governante ser um filósofo, contrário aos vícios humanos, é


de que ele, de modo moderado, é conduzido aos estudos e ao amor do saber imutável e
incorruptível, do mesmo modo conduz a cidade. Por isso, ele reúne em si mesmo uma
combinação do mais alto conhecimento e do mais refinado exercício da inteligência.
Esta combinação, não deve ser guardada de maneira fechada em si mesmo, mas
apregoadas nas ações de governo e comando, que mantêm a cidade na convergência
harmoniosa entre as classes e as partes da alma.

O conhecimento do Bem e do Mal se fixa numa dimensão da opinião particular, repercutido em


ações políticas direcionadas para satisfazer os interesses daqueles que determinam o que é o
amigo e inimigo, utilizando-se dos ensinamentos dos poetas e legisladores para determinar o
critério da restituição.
Neste sentido, há uma pseudo-cidadania, na qual os cidadãos estão submetidos aos interesses do
governante, e consequentemente, não há uma lei objetiva que assegure os direitos da grande
maioria da população na cidade. E esta é a grande preocupação de Platão.

Você também pode gostar