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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE EDUCAÇÃO
EDA0223 - Programa Integrado de Estágio em Gestão, Política e Organização da Educação
Brasileira
Profº Rubens Barbosa de Camargo

MARINA MORAES NASCIMENTO


nºUSP: 9827307 - noturno

Relatório de estágio na escola CIEJA Aluna Jessica Nunes Herculano - Butantã, São Paulo.

São Paulo
2018
1. APRESENTAÇÃO DA ESCOLA

A escola em que o estágio foi realizado, CIEJA Aluna Jessica Nunes Herculano, está
localizada na Rua Antonio Mariani, 425, no bairro do Butantã, na cidade de São Paulo, SP. A
escola é municipal e possui 605 alunos, sendo considerada pequena, até por funcionar em
uma casa alugada de um bairro residencial, próximo a Rodovia Raposo Tavares. O local
possui 9 salas de aula, 1 sala de informática e 1 sala de recursos multifuncionais, assim como
os espaços de convivência dos alunos, dos professores e da gestão.
O CIEJA, pelo próprio nome Centro de Integração de Educação de Jovens e Adultos​,
oferece em sua totalidade a modalidade de EJA, abordando o Ensino Fundamental I e II, no
que são chamados Ciclos (I e II). O Ciclo I possui dois módulos (I e II), em que o foco
principal é a alfabetização e o letramento, tendo o Módulo I como objetivo fazer com que os
alunos se tornem capazes de realizar tarefas do dia a dia, como o próprio Projeto Político
Pedagógico levanta:
Espera-se que, ao final desta etapa, o educando disponha de
conhecimentos formais e práticos, em especial no que concerne à
leitura e escrita e ao cálculo matemático, que lhe proporcionem
suficiente domínio de tarefas imediatas pela escrita das esferas
relativas à administração da vida cotidiana, do trabalho e do
estudo, bem como do âmbito da sociabilidade imediata, tais
como, as relações que se estabelecem em posto de saúde, igreja,
delegacia, comércio, escola etc. (PREFEITURA DE SÃO
PAULO, 2008).

Já o Módulo II, teria como foco principal o crescimento da autonomia do aluno, de


forma que ele pudesse questionar o mundo ao seu redor, olhando-o de forma crítica.

Esta etapa deve ser considerada como continuação do processo


iniciado na fase de alfabetização, em que os saberes relativos à
cultura escrita, à matemática, às formas de sociabilidade e de
conhecimento formal podem ampliar a autonomia da pessoa e a
compreensão crítica do mundo moderno. (PREFEITURA DE
SÃO PAULO, 2008).
O Ciclo II, como continuação do aprendizado, faz com que o aluno explore conteúdos
mais específicos e assim possa, com o auxílio do conhecimento trazido das outras etapas,
participar de forma mais ativa da vida em sociedade. Este Ciclo também é dividido em dois
Módulos (III e IV), sendo o III, também chamado de Etapa Complementar.

A etapa complementar representa um momento da ação


educativa em que se torna possível ao educando, em função dos
conhecimentos adquiridos e das vivências realizadas nas etapas
anteriores, ampliar habilidades, conhecimentos e valores que
permitem um processo mais amplo de participação na vida
social. (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2008).

O Módulo IV, chamado de Etapa Final, faz com que assim o aluno termine o Ensino
Fundamental e esteja pronto para seguir para o Ensino Médio e também, principalmente, que
ele seja um cidadão cada vez mais participativo dentro de seu meio.

Nesta etapa, torna-se possível o desenvolvimento de formas de


conhecimento que permitem ao educando jovem e adulto
participar e intervir mais agudamente na vida social,
conhecimentos que transcendem a dimensão do cotidiano
imediato, ainda que se relacionem com ele de múltiplas
maneiras. (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2008).

O CIEJA Butantã funciona em 6 turnos de 2h15min (manhã: 7h30 às 9h45 e 10h às


12h15; tarde: 12h45 às 15h e 15h15 às 17h30; noite: 17h30 às 19h45 e 20h às 22h15), o curso
é anual, sendo assim os dois Ciclos se encerram no período de 4 anos. Os alunos do Ciclo I
têm aula de segunda a quinta-feira com a mesma professora, já os que cursam o Ciclo II tem
seus encontros distribuídos por áreas de conhecimento e por rodadas, de 6 a 7 semanas, sendo
assim não estudam todas as áreas ao mesmo tempo, trabalhando bastante com a
interdisciplinaridade1.

O perfil dos alunos, que será aprofundado posteriormente, é de jovens e adultos


trabalhadores e/ou com necessidades educacionais especiais, adolescentes evadidos e/ou
expulsos das escolas regulares e idosos. Dentre os alunos, 61% são mulheres e 39% são
homens, 28% dos alunos tem idade entre 36 a 45 anos, 34% trabalham com carteira assinada
e 52% se declaram pardos, ou seja a grande maioria dos alunos são mulheres pardas, na idade
adulta e que trabalham com carteira assinada.

O CIEJA Butantã possui 31 docentes com JEIF (Jornada Especial Integrada de


Formação), 3 ATEs,1 secretário de escola, 2 agentes de apoio e 3 agentes escolares em cargos
efetivos. Os integrantes da equipe técnica são vinculados e selecionados pela Coordenadoria
de Educação Butantã, são eles, o coordenador geral, assistente de coordenação e assistentes
pedagógico educacional.

A escola, por fim, se apresenta como um ambiente acolhedor para o estagiário, assim
como é perceptível a relação próxima da gestão com os professores, da gestão com os alunos
e dos professores com os alunos. É possível notar em qualquer dia comum no CIEJA que a
rotatividade de pessoas é muito grande, por conta da quantidade de turnos e assim é fácil de
perceber a heterogeneidade da EJA e como a relação dos alunos acontece, tema que será
discutido, também, posteriormente no relatório.

2. TÍTULO

A presença da gestão escolar como forma de atuar na inclusão e na interação entre os


alunos, assim como as medidas utilizadas para evitar a evasão escolar, considerando o perfil
dos alunos do CIEJA Aluna Jessica Nunes Herculano e da modalidade EJA de uma forma
geral.

1
Durante o período de estágio, por exemplo, os alunos do Módulo IV estavam cursando Matemática e Ciências.
Os professores de tais disciplinas trabalham juntos na elaboração do planejamento de aulas, fazendo com que as
matérias se interliguem e para que os alunos entendam o porquê de elas serem estudadas em uma mesma rodada.
3. INTRODUÇÃO

O presente trabalho pretende analisar a presença da gestão escolar em uma instituição


que oferece a modalidade EJA e sua relação com os alunos, de forma a compreender o seu
perfil, trazendo medidas para mantê-los dentro do ambiente escolar.
O tema surgiu a partir das primeiras observações de estágio, realizadas dentro do local
administrativo da escola, na secretaria, que é próxima a sala da coordenação e da direção. Ao
observar o cotidiano dos funcionários e da gestão, principalmente no período noturno, percebi
que desde a matrícula até a formatura no Módulo IV, a coordenação e a direção se mostravam
muito atentas a todos os processos, sejam com as aulas até com a merenda, e assim notei que
essa atuação da gestão se mostrou essencial nos motivos pelos quais, dentre diversos outros,
os alunos procuram a instituição e permanecem nela. Além disso a gestão sendo fonte,
juntamente com os professores, de projetos e iniciativas que cada vez mais se distanciam de
uma educação estritamente formal e tradicional, ela também promove essa permanência e
aprendizado que acontece no CIEJA. Por essas razões, focalizando no perfil dos alunos e
também na visão deles sobre a escola, a escola do tema foi voltada para como a gestão se
mostra, ou pode se mostrar, presente dentro das escolas que oferecem a EJA.
Os objetivo principal do relatório, além de detalhar a experiência passada dentro do
CIEJA, é analisar as iniciativas da escola, com projetos, oficinas, salas especiais, assembleias
e turnos diferenciados, de forma a entender a importância de uma gestão atuante e também a
forma como as relações entre os alunos de EJA funcionam, considerando os seus perfis.
No início do estágio, os resultados esperados estavam mais concentrados na função do
coordenador e como a escola é gerida, assim como também na relação entre o coordenador e
os professores, como forma de passarem a mesma mensagem. Porém, no decorrer do
processo, ao perceber que a importância da gestão ultrapassa suas funções básicas e também
por não ter um acesso fácil aos documentos e ao coordenador/diretor, os resultados foram
tomando outra forma, focando mais em projetos e iniciativas.
O período que frequentei o CIEJA pode ser dividido em três partes que se ligam para
obter os resultados esperados. A primeira parte foi voltada para a análise do comportamento
da gestão, principalmente do coordenador Paulo2, com quem convivi durante esse primeiro
momento. Na presença dele consegui realizar perguntas básicas sobre seu cotidiano e sobre

2
Nome fictício.
alguns projetos criados e mantidos em sua gestão, assim como analisei alguns documentos
que ele me disponibilizou, como o Projeto Político Pedagógico, as Fichas de Avaliação
Individual dos alunos, os seus passaportes e a relação de alunos da escola. A segunda parte
me concentrei mais na observação do ambiente escolar, na diversidade dos estudantes, na
forma como eles se relacionam e também em como eles se reportam aos professores e aos
funcionários, sejam da gestão ou não. Na terceira parte, o foco principal era analisar os
projetos da escola, como as oficinas, de sextas-feiras, o sarau cultural, o Projeto Ler e
Escrever, questionando tanto alunos, quanto funcionários e docentes sobre a eficácia das
atividades no aprendizado e também na inclusão e socialização dos alunos. Por fim, após
esses três momentos, em que estive em ambientes diferentes dentro da escola, reuni as
informações colhidas no campo para que através do conhecimento teórico conseguisse
analisar as questões apontadas neste relatório.

4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A pesquisa realizada, como já foi apresentado, pretende tratar principalmente da


atuação da gestão com relação a temas como a evasão escolar, o perfil dos alunos e a relação
entre eles. Para que a análise de tais temas fosse feita, um levantamento teórico foi realizado,
baseando-se, primeiramente, no panorama histórico, que de acordo com Haddad e Di Pierro
(2000), a partir dos anos 90, com a Reforma na Educação, o olhar sobre a EJA sofreu
mudanças, mesmo com a nova LDB (BRASIL, 1996) valorizando mais a educação de
crianças entre 7 e 14 anos, passando a ser vista mais relacionada ao mundo do trabalho, fato
que evidenciou o perfil dos alunos, que também estava mudando gradativamente.
(HADDAD, 1997).
Com relação, então, ao perfil dos alunos e sua interação, Haddad e Di Pierro (2000)
mostram que a partir dos anos 80, a presença de adolescentes evadidos ou com uma trajetória
escolar mal-sucedida, em instituições de EJA, foi aumentando consideravelmente, fazendo
com que um público diverso passasse a frequentar essas escolas. Dentro de uma mesma sala
de aula passou a haver, ao mesmo tempo, adolescentes de 16 anos e idosos de 65 anos
convivendo no mesmo espaço, com objetivos bem diferentes. O adolescente procura na EJA
uma forma de acelerar e terminar rapidamente seus estudos, pois mantém uma relação
conflituosa com o ambiente escolar de uma forma geral, enquanto os idosos e adultos
procuram maneiras de se integrar socioculturalmente na sociedade e no mercado de trabalho.
Segundo Vaz (2009), a presença de jovens na EJA faz com que novos desafios apareçam,
principalmente para os professores, que tem que trabalhar com universos muito diferentes,
seja no plano etário ou na questão cultural, fazendo com que cada público consiga trazer para
o ambiente escolar suas experiências, acrescentando essa troca de conhecimentos a seus
aprendizados pessoais e fortalecendo ainda mais a sua permanência naquele local.
Em relação à evasão escolar, Pedralli e Rizzatti (2013), afirmam que o olhar para a
evasão tem que fugir do senso comum, de que ela acontece por falta de interesse e
comprometimento dos alunos, e assumir o fato de que na maior parte das vezes ela acontece
pela cultura fortíssima da Educação de Jovens e Adultos voltada exclusivamente para a
escrita e para a escolarização. É claro que outros fatores fazem com que os alunos saiam do
CIEJA, como o horário de trabalho e a família, mas como fator primordial, a própria escola é
colocada como a principal razão desse abandono.
Por fim, pensando na participação da gestão dentro de um CIEJA, autores como Bello
e Penna (2017) são essenciais para a reflexão sobre o papel da coordenação dentro da escola,
ultrapassando a função gerencial e atuando de forma pedagógica em seu trabalho. Pensando
em uma instituição de EJA, a função pedagógica do coordenador é essencial na orientação
dos professores, considerando todas as questões particulares da EJA, e também na elaboração
de um planejamento eficiente e de projetos cativantes aos alunos e docentes. Além disso, seu
papel é muito importante também na relação estabelecida com a comunidade, já que pode
promover eventos e atividadeS que relacionem todos os bairros próximos que tem seu
público envolvido com a escola de alguma forma.

5. PROCEDIMENTOS

Durante o campo, alguns procedimentos de pesquisa, como entrevistas, observações,


anotações e questionários rápidos, foram realizados, com alunos, professores e funcionários,
como forma de coletar dados importantes que confirmassem as hipóteses levantadas no início
do campo.
No primeiro momento do estágio, na abordagem com o coordenador Paulo, uma
entrevista foi realizada, abordando os aspectos gerais da escola, relacionados à estrutura, à
quantidade de funcionários, alunos e números de matrícula relacionados ao número de
evasão. Perguntas frequentes durante essa entrevista: “Como a escola lida com o
aumento/diminuição da evasão?”; “As turmas são divididas por faixa etária? Como elas são
divididas?”; “Em que época do ano as matrículas são mais frequentes?”; “Qual módulo
recebe mais alunos?”; “Como a escola lida com a chegada de alunos a qualquer momento e
vindo de diferentes ambientes?”; “Como a estrutura da escola é pensada para um CIEJA?”;
“Como a escola está preparada para receber alunos com deficiência?”. A partir de um
apanhado de todas as respostas dessa entrevista, cheguei em algumas conclusões. O CIEJA
Aluna Jessica Nunes Herculano, de acordo com as palavras do coordenador, tem um trabalho
de controle da evasão escolar, realizada através de ligações telefônicas para a residência dos
alunos e durante esse contatos, os funcionários procuram saber os motivos da ausência,
buscando maneiras de tentar trazer o aluno de volta, as vezes mudando seu turno, sua turma,
ciclo, etc. Os números de evasão são maiores na população adolescente e no sexo masculino.
Sobre a matrícula, no CIEJA Butantã, não existem grandes burocracias para ser realizada,
apenas os documentos básicos de identificação pessoal e histórico escolar, se houver, e uma
avaliação diagnóstica para alocar o aluno em um Módulo adequado. A quantidade de
matrículas é maior no início do ano, porém a escola está aberta para receber alunos a qualquer
momento, e a gestão procura sempre orientar os professores para receber tais alunos da
melhor maneira possível, de forma a integrá-los com a turma já montada previamente. O
mesmo foi falado sobre os alunos com deficiências especiais, que além de os professores
serem orientados, a escola possui profissionais especialistas em Educação Especial, que
contribuem com a vivência desses alunos dentro do CIEJA, e há um incentivo para que,
dentro de sala de aula, a pauta da inclusão seja abordada quando possível. Por fim, em relação
a estrutura, a escola é sim pensada para receber jovens e adultos, a maioria das salas possuem
mesas coletivas e os ambientes de convivência também são pensados dessa maneira. As
turmas não são divididas por faixa etária e sim por disponibilidade de horário e oferecimento
de acordo com o módulo, mas é óbvio que existe um bom senso na escolha dos alunos, por
exemplo, não existe um único aluno idoso em uma sala de aula de adolescentes e vice versa,
a não ser que seja extremamente necessário. Nesse momento, também realizei a leitura do
PPP do CIEJA, coletando dados importantíssimos para a pesquisa, principalmente em relação
ao perfil dos alunos da escola, fato que influencia muito nos aspectos escolhidos para análise
no relatório.
Já em um segundo momento, houve duas entrevistas com professores e um
questionário feito com 18 alunos, provenientes de módulos diferentes. As entrevistas foram
voltadas para as estratégias utilizadas para enfrentar as diferenças dentro de sala de aula,
portanto informações sobre as dinâmicas pedagógicas e as atividades que promovem a
integração dos alunos foram coletadas, de forma a entender como o discurso que partiu da
coordenação se mantém em relação aos professores. Já o questionário foi realizado
oralmente, em um modelo de bate papo com 18 alunos, 3 do Módulo I, 2 do Módulo II, 8 do
Módulo III e 5 do Módulo IV. Esse bate-papo teve um foco principal nas condições
socioeconômicas dos estudantes e também nos motivos pelos quais eles tinham parado de
estudar e também porque voltaram, assim como conseguimos conversar sobre como se
sentiam em relação a seus colegas de idades e culturas diferentes dentro da sala de aula. O
resultado no questionário/bate-papo foi bastante de acordo com as informações do PPP,
porém o depoimento dos alunos se distancia um pouco do discurso da coordenação e do
corpo docente, já que várias críticas com relação ao público mais jovem foram pontuadas,
principalmente se tratando da falta de interesse dos mesmos, o que, segundo os alunos,
atrapalham muito as aulas.
No terceiro período que fiquei na escola, foquei, principalmente, em uma observação
e busca de informações em relação aos projetos da escola. Primeiramente, frequentei as
oficinas que acontecem nas sextas-feiras, acompanhando oficinas de leitura, de xadrez e de
atividades artísticas, e questionando tanto os alunos, quanto os professores sobre como elas
funcionavam, se eram guiadas sempre pelo mesmo professor e, mais profundamente, quais
seriam os resultados educativos e sociais provenientes dessas oficinas. Dentre a respostas e
informações coletadas, há um consenso entre os alunos e professores que as oficinas de
sextas-feiras não possuem a mesma conotação que as aulas de segundas às quintas-feiras, já
que ambos afirmam que o interesse dos alunos diminui e por isso não frequentam ou
frequentam somente para não ganhar faltas. Quanto aos assuntos trabalhados nas oficinas,
eles são escolhidos com base no interesse dos alunos, decididos de forma democrática, e
assim conseguem abranger uma grande variedade de temas que além de expandirem seus
repertórios culturais, também conseguem fazer com que os alunos interajam entre si,
independente do módulo que estão cursando, já que nesses momentos eles escolhem a oficina
que desejam participar naquele dia e acabam convivendo com outros alunos.
Dos outros projetos já citados, o segundo que analisei foi o Projeto Ler e Escrever,
que acontece com alunos de todos os módulos, de acordo com as suas necessidades e com as
recomendações dos professores, considerando que tais alunos não estejam acompanhando o
módulo que foi colocado. Esses encontros acontecem nas sextas-feiras também em um
horário entre as oficinas.
Logo depois, questionei os alunos e professores sobre o Sarau Cultural, como é
organizado, a opinião dos mesmos e suas influências dentro da comunidade. Cada turma,
junto com seus professores, organizam apresentações e declamações de poesia para o
momento do Sarau, enquanto a organização da escola, principalmente a gestão, organiza o
evento e providencia a divulgação para o acontecimento dentro da comunidade. O evento já é
conhecido dentro do bairro, sendo que cada convidado e presente leva um prato de comida ou
alguma bebida para contribuir com o Sarau, e no período que frequentei a escola, o CIEJA
organizou o Sarau de 10 anos, que contou com uma estrutura maior, recebendo até
convidados de fora da comunidade para se apresentar.
Já, pelo PPP, pude coletar também informações sobre o projeto Blog Cieja na Rede,
atualizado semanalmente pelos alunos, na aula de informática, e minimamente divulgado
com os alunos para uma comunicação interna.
Além de todos os questionamentos, entrevistas e bate-papos que realizei dentro do
CIEJA, em todo momento que estive lá, observações e anotações foram feitas, assim como
análises e leituras de documentos, que poderiam acrescentar para a experiência de estágio e
reflexão sobre o tema.

6. ANÁLISE DO TEMA E DOS DADOS COLETADOS

Após a realização dos procedimentos de pesquisa e da leitura dos teóricos a respeito


do tema tratado no presente trabalho, algumas análises e reflexões foram possíveis de serem
feitas. Primeiramente, se tratando da modalidade de EJA, que segundo Haddad e Di Pierro
(2000), teve uma trajetória complicada até a atualidade, passando por melhorias e declínios, e
que a sua sempre presente desvalorização, por parte das autoridades governamentais, permeia
o ambiente das escolas até hoje. É claro que muitos avanços aconteceram, porém ao
observarmos os ambientes que oferecem EJA, percebemos que em grande parte dos locais a
educação pouco é pensada exclusivamente para os jovens e adultos, até mesmo nos CIEJAs,
CEEJAs, etc., que mesmo sendo centros que somente ofertam EJA, acabam tornando aquela
modalidade compensatória e repositiva e por isso efeitos como a evasão escolar acontecem. O
que observei de positivo em relação a esse aspecto, no CIEJA Aluna Jessica Nunes
Herculano, é que a prática escolar nem sempre é a prioridade, por exemplo, o coordenador
Paulo e alguns professores, por várias vezes, afirmam que a palavra “prova” dentro da escola
tem que ser evitada, ou mesmo que tarefas de casa tem que ser ao máximo evitadas, um
discurso, então, sempre focados em diminuir essa tensão escolar. Tal fato, pensando no perfil
dos alunos da EJA, em grande maioria, trabalhadores, tem de ser analisado, pois o aluno que
trabalha 8h/dia ou mais não permanece em uma instituição que exige prova, que exige tarefa
de casa e que exige um comprometimento escolar parecido com uma criança ou adolescente.
Também, os estudantes, como eles mesmos pontuaram, construíram ao longo de sua vida
uma relação complicada com o cotidiano escolar e suas exigências, sendo eles adultos, por
terem que parar de estudar, mas principalmente os estudantes adolescentes realocados para a
EJA, que são praticamente expulsos das escolas regulares, por questões de disciplina e
repetência por exemplo, e justamente por isso, as instituições que ofertam EJA precisam ser
pensadas de maneira diferente, em que o aluno seja visto com respeito, que suas experiências
sejam sempre valorizadas e que todo o modelo,a metodologia e a estrutura da escola sejam
pensadas e construídas a partir dessas reflexões.
Já pensando na atuação da gestão escolar na organização de um CIEJA, através dos
pontos levantados durante as entrevistas, como a orientação de professores, a formação
continuada, a presença ativa dentro da escola, o contato direto e acessível com os alunos e a
criação de projetos e iniciativas estimulantes aos alunos e docentes, a coordenação e a direção
precisam trabalhar de forma que toda a instituição, mais uma vez, seja voltada para jovens e
adultos e para que eles se sintam acolhidos e estimulados a permanecerem no ambiente
escolar. Práticas como ligar para a procurar um aluno com muitas faltas ou auxílios
pedagógicos e conversas rápidas de corredor são fundamentais para a valorização individual
do aluno, já assembleias coletivas e o Sarau Cultural por exemplo são importantes para o
fortalecimento de uma escola democrática, que incentiva a participação dos alunos nesses
momentos e também a integração entre eles e suas experiências de vida diversas. O gestor
também exerce uma função essencial dentro da escola que é a de administrar a relação entre
os alunos da melhor forma possível para que o aprendizado seja aproveitado ao máximo,
sendo assim, ele é o responsável por criar situações de integração e inclusão que façam com
que diferentes bagagens culturais e diferentes faixas-etárias possam conviver, com o objetivo
principal de enriquecer a formação social e cultural desse aluno. O exemplo maior dessa
função no CIEJA Butantã é a realização das oficinas, pois são momentos de total integração
entre os alunos e de promoção de algo importantíssimo dentro da modalidade EJA que é a
alfabetização social, cultural e política desse sujeito, que frequenta este local como forma de
provação e muitas vezes de reinserção social.
Além disso, um último ponto a ser refletido é o número grande de alunos com
deficiência dentro dos CIEJAs e como a gestão se comporta perante a essa situação. Também
se tratando do perfil do aluno da EJA, os portadores de deficiência não possuem uma relação
tranquila com o ambiente escolar, muitas vezes pela precariedade das escolas regulares que
não possuem estrutura para receber tais alunos e que muitos acabam deixando de estudar por
conta disso, por isso é necessário que os CIEJAs utilizem meios de integrarem esses alunos
com a comunidade da escola, valorizando a participação dos mesmos nas atividades coletivas
e incentivando os outros alunos a incluírem os colegas com deficiência nesse ambiente.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O relatório de estágio teve como objetivo, então, apresentar a experiência de estágio


que passei neste semestre, assim como refletir sobre a Educação de Jovens e Adultos, que foi
uma modalidade que entrei em contato pela primeira vez e pude conhecer de perto seus
sujeitos, sejam alunos, professores e funcionários da escola, como forma de conhecer seus
cotidianos, angústias, problemáticas, sonhos, reclamações e sugestões para melhorar aquele
ambiente em que vivem. Também teve como objetivo posicionar a gestão escolar como
essencial para o funcionamento do CIEJA e analisar o seu papel como orientador,
administrador e até mediador de conflitos, de maneira que foi possível entender a abrangência
do trabalho do gestor escolar, que pode ser o responsável, junto com a equipe da escola, por
promover uma educação democrática no espaço da instituição e da comunidade.
Os pontos positivos de realizar o estágio no CIEJA Aluna Jessica Nunes Herculano
foram, principalmente, a recepção dos alunos e professores, as conversas que tive com os
mesmos e o conhecimento enorme que adquiri nesse período. Já os pontos negativos, posso
pontuar a dificuldade de acesso aos documentos da escola e às vezes ao coordenador, e
também o olhar próximo para o trabalhador brasileiro e toda a carga que ele carrega todos os
dias, assim como a proximidade com a institucionalização de menores que é exposta na EJA
ao vermos a quantidade grande de alunos que frequentaram recentemente a Fundação Casa ou
instituições desse tipo.

8. BIBLIOGRAFIA

BELLO, I. M; PENNA, M. G. O. ​O papel do coordenador pedagógico nas escolas


públicas paulistas: entre as questões pedagógicas e o gerencialismo. Educar em Revista.
Curitiba, 2017.

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São Paulo : SME / DOT, 2008.

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