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Atualização da Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose – 2017

Diretrizes

Quadro 5 – Recomendações para o manejo dos lípides sanguíneos

Recomendação Grau de Recomendação Nível de Evidência


Indivíduos de muito alto risco cardiovascular, o LDL-c deve ser reduzido para
< 50 mg/dL e o não HDL-c < 80 mg/dL
I B

Indivíduos de alto risco cardiovascular, o LDL-c deve ser reduzido para < 70 mg/dL
I A
e o não HDL-c < 100 mg/dL
Para indivíduos de alto e muito alto risco cardiovascular, sempre que possível e
tolerado, deve-se dar preferência para o uso de estatina de alta intensidade ou
I A
ezetimiba associada à estatina (sinvastatina 40 mg ou outra estatina com potência
pelo menos equivalente)
Indivíduos de risco cardiovascular intermediário, o LDL-c deve ser reduzido para
I A
< 100 mg/dL e o não HDL-c < 130 mg/dL
Indivíduos de risco cardiovascular intermediário, sempre que possível e tolerado,
deve-se dar preferência para o uso de estatina de intensidade pelo menos I A
moderada
Indivíduos de baixo risco cardiovascular, a meta de LDL-c deve ser < 130 mg/dL e
I A
o não HDL-c < 160 mg/dL
Não se recomenda tratamento medicamentoso visando à elevação dos níveis
III A
de HDL-c
Indivíduos com níveis de triglicérides > 500 mg/dL devem receber terapia
I A
apropriada para redução do risco de pancreatite
Indivíduos com níveis de triglicérides entre 150 e 499 mg/dL devem receber terapia,
IIa B
com base no risco cardiovascular e nas condições associadas
LDL-c: colesterol da lipoproteína de baixa densidade; HDL-c: colesterol da lipoproteína de alta densidade.

7. Tratamento Não Medicamentoso ponto de vista metab lico 124 quanto o cardiovascular,125,126
em raz o de elevar o colesterol plasm tico127 e por sua aç o
das Dislipidemias pr -inflamat ria.128 Recente metan lise, com aproximadamente
59 mil indiv duos, realizada pela Biblioteca Cochrane,
7.1. Medidas no controle da hipercolesterolemia reafirmou que a substituiç o parcial de cidos graxos saturados
por poli-insaturados, por mais de 2 anos, reduziu em 17% o
7.1.1. Terapia nutricional risco de eventos cardiovasculares. Nesta metan lise foram
Nos últimos anos, o padr o alimentar e o estilo de vida inclu dos apenas estudos randomizados e controlados e com
saud vel ganharam evid ncia em estudos epidemiol gicos alto Grau de Evid ncia.129
observacionais e de intervenç o, como o DASH (Dietary A substituiç o na dieta de cidos graxos saturados por
Approachs to Stop Hypertension), 121 o INTERHEART 109 e carboidratos pode elevar o risco de eventos cardiovasculares.130
o PREDIMED (PREvención con DIeta MEDiterránea), 122 e Neste sentido, a substituiç o de cidos graxos saturados e
reforçaram as diretrizes nutricionais que preconizam dieta carboidratos na alimentaç o por cidos graxos poli-insaturados
isenta de cidos graxos trans, o consumo de < 10% do valor est associada ao baixo risco cardiovascular.131
cal rico total de cidos graxos saturados para indiv duos Importante estudo epidemiol gico, que avaliou a dieta
saud veis e < 7% do valor cal rico total para aqueles que da populaç o de 20 pa ses, mostrou que naqueles com
apresentarem risco cardiovascular aumentado.25,106,123 alto consumo de leos tropicais, a mortalidade por doença
O padr o alimentar deve ser resgatado por meio do coronariana foi associada ao alto consumo de cidos graxos
incentivo à alimentaç o saud vel, juntamente da orientaç o saturados presentes nestas gorduras e tamb m ao baixo
sobre a seleç o dos alimentos, o modo de preparo, a consumo de cidos graxos poli-insaturados da s rie mega
quantidade e as poss veis substituições alimentares, sempre 6.132 No Brasil, mostrou-se associaç o com alto consumo de
em sintonia com a mudança do estilo de vida. Na tabela 6, trans e com o baixo consumo de poli-insaturados, quando
est o expostas as recomendações diet ticas para tratamento substitu dos por saturados. Estabeleceram-se os pontos de
da hipercolesterolemia. corte de > 10% para cidos graxos saturados, de < 12% para
poli-insaturados e de > 0,5% para trans.132,133
7.1.2. Substituição parcial de ácidos graxos saturados Importante salientar que para o trata mento da
por mono e poli-insaturados hipercolesterolemia recomendam-se no m ximo 7% das
Apesar de os cidos graxos saturados apresentarem calorias na forma de cidos graxos saturados e, segundo os
importantes funções biol gicas, seu elevado consumo est dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat stica (IBGE),
associado a comprovados efeitos delet rios, tanto sob o o consumo m dio atual deste cido de 9%.

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Tabela 6 – Recomendações dietéticas para o tratamento das dislipidemias

LDL-c acima da Triglicerídeos


LDL-c dentro da meta e
meta ou presença de Limítrofe Elevado Muito elevado†
Recomendações sem comorbidades*
comorbidades* 150-199 mg/dL 200-499 mg/dL > 500 mg/dL
(%)
(%) (%) (%) (%)
Perda de peso Manter peso saudável 5-10 Até 5 5-10 5-10
Carboidrato (%VCT) 50-60 45-60 50-60 50-55 45-50
Açúcares de adição (%VCT) < 10 < 10 < 10 5-10 <5
Proteína (%VCT) 15 15 15 15-20 20
Gordura (%VCT) 25-35 25-35 25-35 30-35 30-35
Ácidos graxos trans (%VCT) Excluir da dieta
Ácidos graxos saturados (%VCT) < 10 <7 <7 <5 <5
Ácidos graxos monoinsaturados (%VCT) 15 15 10-20 10-20 10-20
Ácidos graxos poli-insaturados (%VCT) 5-10 5-10 10-20 10-20 10-20
Ácido linolenico, g/dia 1,1-1,6
EPA e DHA, g - - 0,5-1 1-2 >2
25 g, sendo 6 g de bra
Fibras
solúvel
* Comorbidades: hipertensão arterial sistêmica, diabetes, sobrepeso ou obesidade, circunferência da cintura aumentada, hipercolesterolemia, hipertrigliceridemia,
síndrome metabólica, intolerância a glicose ou aterosclerose signi cativa; † recomendação dietética na hipertrigliceridemia primária homozigótica: ver texto.145 LDL-c:
colesterol da lipoproteína de baixa densidade; VCT: valor calórico total; EPA: ácido eicosapentanoico; DHA: ácido docosahexaenoico. Fonte: Adaptado de American
Heart Association.143 e I Diretriz sobre o consumo de Gorduras e Saúde Cardiovascular.144

Estudo conduzido apenas no Brasil mostrou que a 7.1.4. Colesterol alimentar


inadequaç o alimentar a principal causa de mortalidade Recente metan lise mostrou que o colesterol alimentar
cardiovascular e reiterou que o baixo consumo de exerce pouca influ ncia na mortalidade cardiovascular, 135
poli-insaturados, em substituiç o à gordura saturada, aumenta embora neste estudo tenha sido demonstrada linearidade
a mortalidade por cardiopatia isqu mica.134 O consumo de entre o consumo de colesterol alimentar e a concentraç o
gorduras saturadas deve ser limitado, por m o mais importante plasm tica de LDL-c. J o aumento do consumo de ovos, em
é sua substituição parcial por insaturadas − principalmente
um contexto de dieta com baixo teor de gordura, manteve a
por poli-insaturadas, que est o associadas a diminuiç o de CT
relaç o LDL-c/HDL-c, tanto entre indiv duos que absorvem
e LDL-c, como tamb m est o relacionadas à diminuiç o de
mais colesterol da dieta quanto nos hiporresponsivos.142
eventos e morte cardiovasculares.135-137 (Grau de Recomendaç o:
I; N vel de Evid ncia: A). Faltam dados conclusivos para a Em raz o destes estudos mais recentes da literatura, as
indicaç o de suplementaç o de cidos graxos insaturados.138,139 atuais diretrizes internacionais sobre prevenç o cardiovascular
(Grau de Recomendaç o: IIa; N vel de Evid ncia: B). mostram que n o h evid ncias suficientes para estabelecimento
de um valor de corte para o consumo de colesterol.
É importante realçar que o modo de preparo de alguns
alimentos tem papel fundamental no teor de gorduras nos
alimentos. No caso dos peixes, o teor de poli-insaturados 7.2. Medidas no controle da hipertrigliceridemia
pode variar at 220 vezes para uma mesma esp cie.139,140
A substituiç o por gorduras monoinsaturadas, como azeite 7.2.1. Terapia nutricional
de oliva e frutas oleaginosas, pode estar associada à reduç o
A concentraç o plasm tica de TG muito sens vel a
do risco cardiovascular, por m as evid ncias s o menos
variações do peso corporal e a alterações na composiç o da
robustas do que em relaç o às poli-insaturadas136 (Grau de
dieta, particularmente quanto à qualidade e à quantidade de
Recomendaç o: IIa; ; N vel de Evid ncia: B).
carboidratos e gorduras. A quantidade recomendada destes
nutrientes na dieta depende do tipo de hipertrigliceridemia,
7.1.3. Ácidos graxos trans que pode se apresentar na forma prim ria ou secund ria, cujas
Os cidos graxos trans devem ser exclu dos da dieta por bases fisiopatol gicas s o distintas. A terapia nutricional indicada
aumentarem a concentraç o plasm tica de LDL-c e induzirem para a hipertrigliceridemia prim ria grave, caracterizada
intensa les o ateroscler tica,141 condições que culminam em pelo aumento da concentraç o plasm tica de quilom crons,
maior risco cardiovascular, conforme demonstrado em estudos por diminuiç o da enzima lipoprote na lipase, baseia-se na
experimentais, cl nicos e epidemiol gicos.131,133 (Grau de reduç o importante da gordura na dieta, que deve atingir, no
Recomendaç o: III; N vel de Evid ncia: A). m ximo, 10% do valor cal rico total.145 Na hipertrigliceridemia

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prim ria moderada, recomendam-se aproximadamente 25 a 7.2.4. Redução de açúcares e de carboidratos


35% das calorias na forma de gorduras e controle da ingest o A Organizaç o Mundial da Saúde passou a recomendar, a
de açúcares. J na hipertrigliceridemia de causa secund ria, partir de 2015, o consumo m ximo de 5% em Kcal do valor
observada na obesidade e no diabetes, mant m-se o controle energ tico da dieta na forma de açucares de adiç o,143 nos
de gorduras (30 a 35% das calorias) e a adequaç o no consumo quais se incluem a sacarose e o xarope de milho (American
de carboidratos, com nfase na restriç o de açúcares.144 Heart Association − AHA). O guia alimentar americano
Atualmente, as recentes diretrizes e guias internacionais publicado naquele ano incluiu ainda como açúcares de adiç o
apontam para os benef cios de padrões alimentares os sucos de frutas concentrados, mesmo que n o adoçados.136
saud veis, como demonstrado nos estudos INTERHEART109 Tanto a sacarose quanto os xaropes s o constitu dos por
e em diversos estudos que testaram a efici ncia da Dieta aproximadamente partes iguais de frutose e glicose, os quais
do Mediterrâneo,122,146 nos quais a matriz alimentar assume s o metabolizados de forma diferente. Enquanto existe um
papel de destaque. Em comum, todos estes estudos reafirmam mecanismo celular de feedback de regulaç o da glicose
a relevância de se manterem quantidades moderadas de mediado pela fosfofrutoquinase, para a produç o de piruvato
gordura na dieta, eliminar cidos graxos trans, controlar e consequentemente de acetil-CoA e cidos graxos, o mesmo
o consumo de saturados, priorizar poli-insaturados e mecanismo n o ocorre para metabolizaç o da frutose, que
monoinsaturados, reduzir açúcares e incluir carnes magras, metabolizada pela frutoquinase. Desta forma, a frutose gera
frutas, gr os e hortaliças na dieta146 (Quadro 6). cidos graxos mais rapidamente do que a glicose, aumentando
tanto o dep sito de gordura hep tica, como o aumento da
produç o de VLDL.150
7.2.2. Controle de peso corporal
Estudos mostram que o consumo superior a 50 g de frutose
O alcance das metas nutricionais no tratamento vari vel ao dia eleva o TG p s-prandial.151 A elevada ingest o de
e depende da ades o à dieta e às correções no estilo de carboidratos aumenta a glicemia, o que promove o aumento
vida, como perda de peso, e pode resultar na reduç o da insulinemia; esta, por sua vez, ativa os fatores de transcriç o
de 20% da concentraç o plasm tica de TG. 147 Al m do que promovem a s ntese de cidos graxos e TG, favorecendo
controle de calorias na dieta (d fice de 500 a 1.000 Kcal),148 outros fatores de risco.152
enfatiza-se a relevância da qualidade dos nutrientes em
aspectos relacionados ao desenvolvimento da obesidade,
7.2.5. Substituição parcial de ácidos graxos saturados
como saciedade, resposta insul nica, lipog nese hep tica,
por mono e poli-insaturados
adipog nese, gasto energ tico e microbiota.148
Os cidos graxos saturados da dieta relacionam-se com
a elevaç o da trigliceridemia, por aumentarem a lipog nese
7.2.3. Redução de bebida alcoólica hep tica e a secreç o de VLDL. Desta forma, recomenda-se a
O consumo de bebida alco lica n o recomendado inclus o de poli e monoinsturados.153 Para indiv duos com n veis
para indiv duos com hipertrigliceridemia. 149 Por m, h de TG muito altos, a AHA recomenda uma reduç o significativa
alguma diverg ncia no impacto da ingest o de etanol nos em gordura saturada, o que diminui o risco de pancreatite.143
triacilglicer is (TAG) em situações de consumo moderado Dentre os cidos graxos poli-insaturados, os da s rie mega
(at 30 g/dia). A combinaç o de um consumo excessivo de 3 s o reconhecidos pela atividade cardioprotetora. 154 O
etanol e cidos graxos saturados potencializa a elevaç o da consumo de mega 3 proveniente de fontes animais fornece
trigliceridemia. A inibiç o da lipase das lipoprote nas pelo os cidos graxos EPA e DHA, mais associados à proteç o
excesso de etanol e a consequente reduç o na hidr lise cardiovascular. O cido Alfalinolenico (ALA) produz pequenas
de quilom crons parecem justificar a lipemia induzida pelo quantidades end genas de EPA e DHA, e tamb m exerce aç o
etanol. Al m disso, o produto da metabolizaç o do lcool cardioprotetora.155 As diferentes fontes de mega 3, por meio
a Acetilcoenzima A (acetil-CoA), principal precursora da da diminuiç o da lipog nese hep tica e da LPL, contribuem
s ntese de cidos graxos. de forma significativa com a reduç o de triglicer deos.156

Quadro 6 – Impacto da modi cação de hábitos alimentares e estilo de vida na trigliceridemia


Intervenção não medicamentosa Magnitude Nível de Evidência
Redução de peso +++ A
Redução da ingestão de bebidas alcoólicas +++ A
Redução de ingestão de açúcares simples +++ A
Redução da ingestão de carboidratos ++ A
Substituição (parcial) ácidos graxos saturados por mono
++ B
e poli-insaturados
Aumento da atividade física ++ A
Fonte: Adaptado de V Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose. 25

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7.3. Ácidos graxos ômega 3 Como adjuvante no tratamento da hipertrigliceridemia, a


Os principais cidos graxos da s rie mega 3 s o o cido suplementaç o de mega 3 (EPA e DHA) entre 2 a 4 g ao dia,
ALA (C18:3), de origem vegetal (soja, canola e linhaça), e os pode reduzir a concentraç o plasm tica de TG em at 25 a
cidos EPA (C20:5) e DHA (C22:6), provenientes de peixes e 30%.163,172 Em estudo recente, indiv duos normolipid micos
crust ceos de guas muito frias dos oceanos Pac fico e Ártico. e levemente hiperlipid micos (TG > 150 e < 200 mg/dL)
EPA e DHA tamb m podem ser obtidos por aç o enzim tica tamb m se beneficiam com o consumo > 4 g ao dia de EPA
de dessaturases e elongases sobre o ALA, que um cido graxo e DHA provenientes de alimentos enriquecidos ou de animais
essencial e apresenta recomendaç o de consumo pelas Dietary marinhos, com reduç o entre 9 a 26% da trigliceridemia,
Reference Intakes (DRIs), que pode ser alcançada pela ingest o enquanto que a suplementaç o entre 1 a 5 g de EPA e/ou
moderada de leo de soja ou canola, n o sendo necess ria DHA pode reduzir entre 4 a 51% em indiv duos com n veis
sua suplementaç o na dieta.157 A convers o de ALA em EPA lim trofes.173 Alguns estudos mostram que a suplementaç o
e DHA limitada e sofre interfer ncia de fatores fisiol gicos com mega 3 pode aumentar discretamente a concentraç o
e externos. Especialmente, EPA e DHA t m sido investigados plasm tica de HDL-c (1 a 3%) e aumentar o LDL-c (at 5 a
quanto ao seu potencial na reduç o do risco cardiovascular. 10%),172 em raz o de reduzir os receptores de LDL, tamb m
Os mecanismos propostos para os benef cios cardiovasculares chamados de receptores B/E.
incluem reduç o de marcadores inflamat rios e da agregaç o
plaquet ria, melhora da funç o endotelial, reduç o da press o
arterial e reduç o da trigliceridemia.158-160 7.4. Fitosteróis
Em regiões onde est o dispon veis peixes que s o fonte de Fitoster is, fitostan is e seus steres s o um grupo de
mega 3, recomendada a utilizaç o de padrões alimentares esteroides alco licos e steres, que ocorrem exclusivamente
saud veis, que incluam, no m nimo, duas porções deles por em plantas e vegetais. Possuem estrutura semelhante à do
semana, pelos efeitos ben ficos em fatores de risco e pela colesterol, diferindo apenas pela presença de um ou dois
reduç o de risco de desfechos em prevenç o prim ria e grupamentos metil ou etil em sua cadeia lateral, ligada ao
secund ria.161-163 Em prevenç o prim ria de indiv duos com C-24, sendo os ester is as formas insaturadas (sitosterol e
alto risco, o consumo de peixes que resultem na ingest o di ria campesterol) e os estan is, seus derivados saturados (sitostanol
de 500 mg de EPA + DHA est relacionado à reduç o de e campestanol). 174 Óleos vegetais, cereais, gr os e demais
39% do risco de DCV fatal e de 46% do risco de DAC fatal.164 vegetais s o fontes de fitoster is, sendo o consumo habitual
Efeitos controversos s o observados entre o consumo de vari vel em populações ocidentais (de 100 a 300 mg ao
peixes ricos em mega 3 e a prevenç o secund ria de eventos dia),175-177 alcançando 600 mg ao dia em vegetarianos.178 S o
cerebrovasculares.165 Em prevenç o prim ria, independente pouco absorvidos (0,5 a 2% para os ester is, e 0,04% a 0,2%
do grau de risco cardiovascular, o consumo di rio de 250 mg para os estan is) 179 e possuem eficiente excreç o biliar ap s
de EPA e DHA pela alimentaç o est relacionado à reduç o captaç o hep tica, com concentrações s ricas 500 a 10 mil
de 35% da morte súbita.166 vezes menores do que as concentrações de colesterol.180
Apesar de haver correlaç o positiva entre os n veis s ricos A aç o dos fitoster is no intestino delgado ocorre em
de EPA e DHA e reduç o do risco cardiovascular, 167 estudos tr s etapas: (1) incorporaç o às micelas que permitem o
cl nicos randomizados recentes n o comprovam benef cio transporte destes at a borda em escova do enter cito;
da suplementaç o de EPA e DHA na reduç o de eventos (2) transporte dos ester is das micelas para o interior do
cardiovasculares maiores, como infarto agudo do mioc rdio, enter cito via transportador NPC1-L1; (3) transporte de volta
AVC e morte por DCV (Quadro 7).168-173 à luz intestinal pelos cotransportadores ABC G5/G8. 181-184

Quadro 7 – Recomendações e evidências para o consumo de ácidos graxos ômega 3


Ômega 3 Grau de Recomendação Nível de Evidência
O consumo ≥ 2 porções de peixes ricos em EPA e
DHA por semana está associado à redução do risco
I A
cardiovascular entre indivíduos em prevenção primária e
secundária
O uso de suplementos de EPA e DHA pode ser
IIb B
considerado na prevenção cardiovascular
Suplementação com EPA e DHA (2 a 4 g) deve
ser recomendada para hipertrigliceridemia grave
(≥ 500 mg/dL) na vigência do risco de pancreatite, I A
refratária a medidas não farmacológicas e tratamento
medicamentoso
Suplementação com EPA e DHA (1 a 5 g) pode ser
IIb B
recomendada para hipertrigliceridemia leve e moderada
Suplementação com EPA e DHA (1 g/dia) pode ser
IIa B
recomendada na insu ciência cardíaca
EPA: eicosapentaenoico; DHA: docosahexaenoico. Fonte: Adaptado de Santos et al.144

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O consumo de fitoster is reduz a absorç o de colesterol, n o familiares. Seu uso seguro e bem tolerado.203 Na HF,
principalmente por comprometimento da solubilizaç o metan lise de estudos que inclu ram crianças demonstrou
intraluminal (micelas),185 embora novos mecanismos tamb m reduç o do CT (7 a 11%) e do LDL-c (10 a 15%).204 O Expert
tenham sido propostos. 186-188 Panel on Integrated Guidelines for Cardiovascular Health and
Existe relaç o inversa entre o consumo habitual de Risk Reduction in Children and Adolescents205 recomenda o
fitoester is na dieta e os n veis s ricos de colesterol ou de uso de ester is/estan is at 2 g ao dia como uma medida de
LDL-c. J a suplementaç o de 2 g ao dia de fitoester is reduziu
suporte em crianças com HF.
o CT e o LDL-c em 8,2% e 9,3%, respectivamente,189-190 com
reduções maiores em crianças e adolescentes (19%), bem Os fitoster is s o aprovados para uso pedi trico a
como em pacientes com HF. Pode haver reduç o de TG de partir dos 5 anos no Brasil. A I Diretriz de Brasileira de
6 a 20%.191,192 Considera-se que, em m dia, o consumo de Hipercolesterolemia Familiar199 recomenda a ingest o de 1,2
2 g ao dia reduza em cerca de 10% o LDL-c, com diminuições a 1,5 g por dia em crianças portadoras de HF Heterozig tica
maiores quando associado a uma dieta pobre em gorduras (HeHF) (Grau de Recomendaç o: I; N vel de Evid ncia: A).
saturadas e colesterol.189
A European Society of Cardiology (ESC) e EAS orientam o
Em adiç o às estatinas, os fitoster is reduzem em 10 a 15% consumo de suplementos contendo fitoster is em adultos
o LDL-c, um efeito superior ao dobro da dose da estatina,
e crianças com dislipidemias.206 Poucos estudos testaram o
geralmente pr ximo de 6%;193-195 em adiç o à ezetimiba, foi
uso de fitoster is na gestaç o e lactaç o,207 sendo seu uso
observada reduç o adicional de 8% no LDL-c com 2 g ao dia
de fitoster is.196 Efeitos aditivos a outros hipolipemiantes, como recomendado com cautela por este documento.
fibratos ou sequestrantes de cidos biliares, s o menos descritos. A ingest o de fitoster is se acompanha do aumento dos
O uso de fitoster is deve ser parte das mudanças de estilo ester is plasm ticos, no entanto, metan lise demonstra
de vida e est o indicados para: Indiv duos com colesterol que os n veis circulantes destes ester is s o inferiores a
elevado e que estejam sob risco cardiovascular baixo ou 1% de todos os ester is.206 Na fitosterolemia, seu uso
intermedi rio, que n o se qualifiquem para tratamento contraindicado. Os fitoster is s o bem tolerados e n o se
farmacol gico (Grau de Recomendaç o: IIa; N vel de acompanham de efeitos adversos significativos; no entanto,
Evid ncia: A); 25,197 como medida adjunta ao tratamento
n o existem estudos de desfechos cardiovasculares em longo
farmacol gico em pacientes que n o atingem as metas de
LDL-c em tratamento com estatinas (Grau de Recomendaç o: prazo para demonstrar a exist ncia de benef cios na reduç o
IIa; N vel de Evid ncia: A),194 ou sejam intolerantes a estas de desfechos cardiovasculares.
(Grau de Recomendaç o: IIa; N vel de Evid ncia: C);198 e
adultos ou crianças (a partir dos 5 anos) com HF (Grau de 7.5. Proteína de soja
Recomendaç o: IIa; N vel de Evid ncia: A).198,199 O consumo di rio de uma a duas porções de alimentos
fonte de prote na de soja, totalizando 15 a 30 g de prote na,
Os fitoster is podem ser administrados incorporados a
est associado à reduç o de 5% de LDL-c, ao aumento de 3%
alimentos ou sob a forma de c psulas, sendo sua efic cia de HDL-c e à reduç o de 11% na concentraç o de TG (Grau
semelhante. Devem ser ingeridos preferencialmente nas de Recomendaç o: IIa; N vel de Evid ncia: A).208
refeições, podendo ou n o ser fracionados em v rias
tomadas, sendo seus efeitos observados a partir de 3 a 4 7.6. Fibras solúveis
semanas. Em nosso pa s, est o dispon veis cremes vegetais A aç o das fibras na reduç o do colesterol est relacionada
acrescidos de fitoster is e c psulas contendo entre 650 a ao consumo de fibras solúveis, que formam um gel que se
900 mg por c psula, devendo ser consumidas duas colheres liga aos cidos biliares no lúmen intestinal, aumentando sua
de sopa de creme vegetal com fitoster is, ou duas a tr s excreç o nas fezes e diminuindo sua reabsorç o durante
o ciclo entero-hep tico. Essa reduç o induz a s ntese de
c psulas de fitoster is por dia, para obtenç o dos efeitos
novos cidos biliares, diminuindo o colesterol dispon vel
hipolipemiantes, e estar associado a uma alimentaç o para incorporaç o em lipoprote nas. Quanto maior o grau
equilibrada e h bitos de vida saud veis. Pode haver modesta de viscosidade da fibra, maior o efeito de reduç o do
reduç o nos n veis de vitaminas lipossolúveis (carotenoides), colesterol. Al m disto, as fibras solúveis e o amido resistente
uma condiç o que pode ser revertida aumentando-se o s o fermentados por bact rias presentes no intestino grosso,
consumo de vegetais. 200 produzindo cidos graxos de cadeia curta, que auxiliam na
reduç o dos n veis de colesterol. Em contraste, o consumo de
fibras insolúveis n o mostra efeitos na reduç o do colesterol
7.4.1. Uso terapêutico dos fitosteróis na infância, e do risco cardiovascular.209,210
gestação e lactação Psyllium a fibra solúvel mais estudada na reduç o do
colesterol. Uma revis o de estudos indica que doses de 7 a
Os fitoster is t m sido usados de maneira crescente na
15 g ao dia est o associadas com uma reduç o de 5,7% a
prevenç o e no tratamento da hipercolesterolemia tamb m 20,2% de LDL-c e reduç o de 2 a 14,8% de CT. O Psyllium
em crianças, com reduç o das concentrações de LDL-c na parece n o afetar significativamente os n veis de HDL-c
HF,201,202 hiperlipidemia familiar combinada e em dislipidemias e TG. Deve-se orientar o consumo fracionado, antes das

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Diretrizes

grandes refeições. Estudos com aveia demonstram resultados estrutura e a funç o vascular. No endot lio, o exerc cio f sico
semelhantes ao Psyllium, com reduç o de 5,3 a 5,6% do aumenta a biodisponibilidade de xido n trico e diminui a
LDL-c, sem efeitos significativos sobre o HDL-c e os TG. Vale concentraç o de endotelina (Grau de Recomendaç o: I; N vel
ressaltar que no farelo de aveia que encontramos os maiores de Evid ncia: A). 222 O efeito do exerc cio f sico na funç o
teores de fibras solúveis (betaglucanas). Sugere-se o consumo endot lio-independente n o comprovado. A resposta
de aproximadamente 3 g ao dia de betaglucanas.210 vasodilatadora à administraç o de nitroprussiato de s dio
A ingest o recomendada m nima de fibras por dia semelhante em indiv duos treinados e em sedent rios.223 Estes
de 25 g, a fim de proteger contra DCV e câncer (Grau de resultados corroboram a ideia de que os efeitos do treinamento
Recomendaç o: I; N vel de Evid ncia: A).210-212 f sico na funç o vascular est o relacionados ao endot lio.
Na presença de DCV, h evid ncias de que o exerc cio f sico
7.7. Probióticos praticado regularmente diminui a formaç o de neo ntima,
Apesar do crescente interesse em investigar o uso de aumenta a circunfer ncia luminal e provoca angiog nese
probi ticos na colesterolemia, os estudos mostram aus ncia (Grau de Recomendaç o: I; N vel de Evid ncia: A).224 O
de seu efeito ou reduç o muito modesta de concentraç o exerc cio aumenta a mobilizaç o de c lulas progenitoras do
plasm tica de LDL-c. endot lio e a express o da Óxido N trico-Sintase Endotelial
(eNOS) (Grau de Recomendaç o: I; N vel de Evid ncia:
Uma metan lise com 485 indiv duos mostrou que a
A).224 Esta melhora na vasculatura est associada ao fator
administraç o de probi ticos reduziu em 4,9 mg/dL o LDL-c,
de crescimento derivado do endot lio e de fibroblastos.
em 6,4 mg/dL o CT e em 3,95 mg/dL os TG, sem efeitos sobre
Finalmente, esta conduta n o farmacol gica reverte a resposta
o HDL-c.213 Outra metan lise mostrou que a reduç o de CT
em indiv duos tratados com probi ticos foi de 7,8 mg/dL e 7,3 vasoconstritora da art ria coron ria à administraç o de
mg/dL para LDL-c, quando comparados com o grupo controle. acetilcolina e aumenta o fluxo de reserva coron ria à infus o
Entre as cepas utilizadas que mostraram reduções significativas intracoron ria de adenosina (Grau de Recomendaç o: I; N vel
est o os Lactobacillus acidophilus, uma mistura de L. acidophilus de Evid ncia: A).224,225
e Bifidobacterium lactis, e Lactobacillus plantarum. N o houve Em relaç o aos l pides plasm tico, o exerc cio f sico
diferenças significativas para HDL-c e TG.214 aumenta os n veis de HDL-c (Grau de Recomendaç o: I;
É importante ressaltar que cada cepa possui um efeito N vel de Evid ncia: B). 226 Seus efeitos nos n veis absolutos
cl nico diferente, sendo a dose usual de 109 UFC.215 A duraç o de LDL-c s o menos evidenciados. Entretanto, o exerc cio
do tratamento tamb m pode afetar os resultados. Uma forte f sico aumenta a cin tica de LDL-c na circulaç o (Grau de
associaç o foi observada quando o estudo teve duraç o maior Recomendaç o: I; N vel de Evid ncia: B)227 e prolonga o
que 8 semanas.214 per odo que o LDL-c permanece na forma reduzida (Grau
de Recomendaç o: I; N vel de Evid ncia: B). 228
7.8. Mudanças no estilo de vida Os efeitos do exerc cio f sico nos n veis plasm ticos de TG
s o muito significativos. A reduç o da concentraç o plasm tica
de TG tem sido consistentemente demonstrada (Grau de
7.8.1. Estratégias de adesão Recomendaç o: I; N vel de Evid ncia: A).229
Praticar saúde vai al m de expressões superficiais como: O programa de exerc cio deve começar com uma avaliaç o
“coma bem”, “use lcool com moderaç o” ou “use escadas cl nica e um teste ergoespirom trico progressivo m ximo230
e n o elevador”. S o falas politicamente corretas, mas sem a para avaliar as respostas cardiovasculares e metab licas em
especificidade necess ria.216 esforço, e a capacidade f sica. Na impossibilidade de um teste
Os programas de mudanças no estilo de vida t m se ergoespirom trico, deve ser realizado um teste ergom trico. A
mostrado efetivos no tratamento das DCV.217 Um programa sess o deve ter duraç o de 60 minutos e intensidade entre o
que tem demonstrado uma relaç o de custo e efetividade limiar aer bio e o ponto de compensaç o respirat ria, ou 60
adequada com reduções significativas em risco cardiovascular a 80% da frequ ncia card aca de pico. A frequ ncia deve ser
o Coronary Health Improvement Project (CHIP), 218 aplicado de tr s a cinco sessões por semana. A sess o de exerc cio deve
por profissionais de saúde em hospitais219 e ambientes de incluir aquecimento e alongamento (5 minutos), exerc cio
trabalho.220 Apesar do sucesso deste trabalho desde 1987, uma aer bio (30 a 40 minutos), exerc cio de resist ncia muscular
vers o deste programa, gravada em v deo, tem sido aplicada localizada com intensidade menor ou igual a 50% da força de
por volunt rios treinados e certificados para uma boa relaç o contraç o volunt ria m xima (15 a 20 minutos) e exerc cios
com os participantes, em suas comunidades. de alongamento e relaxamento (5 minutos).
Em estudo feito para avaliar a efetividade desta pr tica que
aumenta a ades o da populaç o,221 mudanças significativas 7.10. Cessação do tabagismo
em peso, press o arterial, CT, LDL, TG e glicemia de jejum
A doença ateroscler tica encontra-se relacionada com a
foram registradas.
disfunç o endotelial. A exposiç o à fumaça do cigarro causa
preju zos à vasodilataç o dependente do endot lio em art rias
7.9. Atividade Física coron rias, assim como em leitos microvasculares. 231,232
Evid ncias acumuladas ao longo das últimas d cadas A cessaç o do tabagismo ben fica em qualquer fase da
mostram que o exerc cio f sico tem papel muito importante vida do fumante. A pr tica cl nica233 recomenda o uso de
na prevenç o e no tratamento de DCV. Ele melhora a farmacoterapia para a cessaç o do tabagismo em fumantes

Arq Bras Cardiol 2017; 109(2Supl.1):1-76 23


Atualização da Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose – 2017

Diretrizes

motivados a parar de fumar. Os medicamentos de primeira A atividade f sica de moderada intensidade promove
linha para a cessaç o tab gica s o a Terapia de Reposiç o de reduç o sustentada de VLDL-c e TG e atividade de
Nicotina (TRN) com goma ou patch, bupropiona e vareniclina. grande volume em significativo aumento do HDL-c, que
Estes medicamentos demonstraram efic cia na cessaç o do adquire caracter sticas que favorecem suas múltiplas ações
tabagismo,233 embora algumas vezes surjam questionamentos antiateroscler ticas, com maiores quantidades de exerc cio
quanto a segurança do uso em pacientes com DCV. As dúvidas proporcionando benef cios mais amplos, sendo, portanto,
em relaç o ao uso de TRN, bupropiona e vareniclina foram mais relevante o aumento do volume do que a intensidade
revistas em metan lise recente e a conclus o que estes (Grau de Recomendaç o: I; N vel de Evid ncia: A).245,246
medicamentos n o determinam eventos cardiovasculares Confirmando a importância do tratamento cl nico pleno,
maiores, como infarto e AVC,234 e que o benef cio da cessaç o em estudo de seguimento de 10.043 indiv duos em m dia
indiscutivelmente impactante na morbimortalidade dos durante 10 anos, constatou-se que, embora a aptid o
pacientes. Recente estudo avaliou influ ncia destas drogas cardiorrespirat ria tenha sido preditora independente de risco
na frequ ncia card aca e na press o arterial de fumantes de morte, com menores taxas de mortalidade conforme se
portadores de DCV e demostrou que, em monoterapia ou elevava o desempenho em teste ergom trico, o tratamento
uso combinado, elas n o influenciam na frequ ncia card aca com estatina proporcionou um acr scimo de benef cio em
e na press o arterial desta populaç o com DCV235 (Grau de todos os n veis de aptid o, inclusive para os mais aptos,
Recomendaç o: I; N vel de Evid ncia: A). evidenciando a importância do tratamento cl nico pleno (Grau
de Recomendaç o: I; N vel de Evid ncia: B).247
7.11. Exercício físico e aterosclerose Um programa de exerc cios f sicos, que devem ser
O sedentarismo destaca-se entre os maiores fatores realizados na maioria dos dias da semana, al m dos exerc cios
de risco na mortalidade global. 236 A pr tica regular de aer bios, deve contemplar exerc cios resistidos e de
exerc cios f sicos aer bios associada a decr scimo da flexibilidade (Grau de Recomendaç o: I; N vel de Evid ncia:
morbidade e mortalidade cardiovascular, comprovadamente B).248 Os exerc cios de resist ncia devem ser executados por
reduzindo o risco de evento coronariano fatal e n o fatal em grandes grupos musculares, em s ries de oito a 15 repetições,
indiv duos aparentemente saud veis, com escore de risco com cargas progressivas, suficientes para causar fadiga nas
coronariano elevado e tamb m em cardiopatas (Grau de últimas tr s repetições, por m, sem falha do movimento.
Recomendaç o: I; N vel de Evid ncia: A).237 No contexto Idealmente, devem ser realizados tr s vezes por semana,
da reabilitaç o card aca, o exerc cio cont nuo de moderada enquanto os exerc cios para melhorar a flexibilidade devem
intensidade, consensualmente uma forma segura e eficaz de ser realizados no começo e no final de cada sess o (Grau de
treinamento f sico, tem sido considerado priorit rio (Grau de Recomendaç o: I; N vel de Evid ncia: B).248,249 Os exerc cios
Recomendaç o: I; N vel de Evid ncia: A).238 aer bios devem ser realizados pelo menos tr s vezes por
Em pacientes com doença coron ria ateroscler tica, o semana, em sessões de 30 a 60 minutos de duraç o.
exerc cio f sico promove estabilizaç o ou mesmo regress o da Na aus ncia de teste ergom trico, a intensidade do
aterosclerose (Grau de Recomendaç o: I; N vel de Evid ncia: exerc cio pode ser controlada subjetivamente pela percepç o
A),239 al m de acentuada queda da mortalidade, tanto por causa de esforço e, objetivamente, pela ventilaç o pulmonar,
card aca quanto por outras causas (Grau de Recomendaç o: I; sendo a atividade considerada predominantemente aer bia
N vel de Evid ncia: A),240 existindo uma inversa e independente quando o indiv duo que caminha ou corre, por exemplo,
associaç o entre HDL-c e DAC, com destaque para a aç o permanece apenas discretamente ofegante, conseguindo
protetora de um de seus componentes, a ApoA-I (Grau de falar frases completas sem interrupções, inspirando no
Recomendaç o: I; N vel de Evid ncia: A). 241 Entretanto, decorrer de duas ou tr s passadas e expirando no decorrer
apesar do exerc cio proporcionar desfechos cl nicos altamente de uma ou duas passadas. O mesmo vale para as outras
favor veis, a elevaç o de HDL-c e as quedas de CT, LDL-c e TG modalidades: ciclismo, nataç o, dança etc. Assim, se houver
decorrentes de sua aç o s o modestas, conforme demonstrado uma atividade prolongada, realizada com a participaç o de
em metan lises,242 pouco contribuindo para a obtenç o das grandes grupos musculares, em que o individuo permanece
rigorosas metas terap uticas atualmente propostas. confort vel, podendo sincronizar o movimento do corpo
A explicaç o para os desfechos cl nicos favor veis com a ventilaç o pulmonar, pode-se dizer que existe uma
proporcionados pelo exerc cio se d principalmente pelas participaç o predominante do metabolismo aer bio (Grau
modificações funcionais, ocorrendo aprimoramento do de Recomendaç o: I; N vel de Evid ncia: A).250
funcionamento da HDL e da LDL, com aumento da resist ncia Caso esteja dispon vel um teste ergom trico realizado
à oxidaç o da LDL, induç o da produç o de paraoxonase, na vig ncia da medicaç o cardiovascular de uso cont nuo,
modificações da HDL2 e HDL3, e aumento do efluxo de pode ser determinada a intensidade a partir da frequ ncia
colesterol. 243 Em estudo realizado com triatletas, foram card aca pico do teste ergom trico, conforme propõe o
constatados decr scimos do CT, VLDL-c, ApoB100 e Lp(a), American College of Sports Medicine:248 para atividades
e elevaç o do HDL-c imediatamente ap s uma competiç o, leves e/ou leves a moderadas, 50 a 70% da frequ ncia
ocorrendo reduç o das part culas de LDL-c pequenas e densas card aca pico do teste ergom trico considerado m ximo;
(-62%) e aumento de subclasse de HDL-c (+11% HDL2), para atividades moderadas, 70 a 85% da frequ ncia card aca
relacionados inversamente com o risco de DAC. Tamb m foi pico, sendo recomendada para treinamento dos que j
observado reduç o das subclasses de HDL-c (-16% HDL3), as est o bem adaptados à pr tica de exerc cios f sicos; para
quais s o positivamente relacionadas com a DAC.244 atividades moderadas a intensas e/ou intensas, acima de

24 Arq Bras Cardiol 2017; 109(2Supl.1):1-76


OBesiDADe e
sOBrepesO:
trAtAmentO
DietétiCO
OBJETIVO
Fornecer recomendações para
orientações sobre o tratamento
dietético da obesidade.

73
OBesiDADe e
sOBrepesO:
trAtAmentO
DietétiCO
inTRODUÇÃO
Apesar de não haver controvérsia sobre o fato de que balanço energético negativo causado
por redução na ingestão calórica resulte em diminuição da massa corporal, há muita diver-
gência sobre a melhor maneira de promover essa redução de consumo de calorias. Antes de
discutir essas maneiras, devem-se enfatizar alguns pontos importantes.
Em primeiro lugar, o tratamento dietético é mais bem sucedido quando aliado a um pro-
grama de modi cação comportamental que envolva aumento no gasto energético, promo-
vendo um balanço energético negativo. Para o sucesso do tratamento dietético, devem-se
manter mudanças na alimentação por toda a vida. Dietas muito restritivas, arti ciais e rí-
gidas não são sustentáveis, embora possam ser usadas por um período limitado de tempo.
Um planejamento alimentar mais exível, que objetive reeducação, geralmente obtém mais
sucesso, devendo considerar, além da quantidade de calorias, as preferências alimentares do
paciente, o aspecto nanceiro, o estilo de vida e o requerimento energético para a manuten-
ção da saúde. O contato frequente entre o médico, ou o nutricionista e o paciente e o tempo
dispendido com o paciente auxiliam muito na perda e na manutenção do peso perdido.
Em longo prazo, o método, a velocidade de perda de peso, o ajuste siológico e a habilida-
de de manter as mudanças comportamentais de dieta e atividade física é que determinarão o
sucesso de qualquer programa de emagrecimento.
Uma avaliação adequada inclui, mas não está limitada à ingestão alimentar; história
social, incluindo situação socioeconômica e motivação para controle de peso. A taxa meta-
bólica de repouso deve ser calculada (por equações de predição, como Harris-Benedict ou
Mi in-St. Jeor) ou determinada (por calorimetria indireta), e combinada com o nível de
atividade física (sedentário, pouco ativo, ativo, muito ativo) e a ingestão habitual em ter-
mos de conteúdo de energia e nutrientes, pode ajudar no desenvolvimento de parâmetros
nutricionais durante a intervenção. O nível de atividade física é necessário para estimar as
necessidades energéticas (fatores de correção da taxa metabólica de repouso para sedentá-
rio: 1,0-1,4; pouco ativo: 1,4-1,6; ativo: 1,6-1,9; muito ativo: 1,9-2,5). Considerar sedentário
o indivíduo que não pratica atividade física regular programada ou não programada na
maioria das semanas; pouco ativo quem pratica atividades como passeios a pé (que per-
mitem conversar com facilidade); pouco ativo quem faz caminhadas rápidas que elevam a
FC e os movimentos respiratórios (que permitem conversar, mas não cantar); ativo aquele

75
Obesidade e sObrepesO: tratamentO dietéticO

que faz corridas ou trotes (que permitem conversar/cantar com di culdade); muito ativo,
quem faz corridas mais rápidas (e de longa duração).
Deve-se manter uma adequada ingestão de micronutrientes e a dieta deve harmonizar-se
com a ingestão dietética diária recomendada (IDR). Micronutrientes devem ser suplementa-
dos se necessário.

efeTiViDaDe Da DieTOTeRaPia
Uma dieta planejada individualmente para criar um dé cit de 500 a 1.000 kcal deve ser
parte integrante de programas de perda de peso objetivando uma diminuição de 0,5 a 1 kg
por semana, com metas realistas. Dietas com baixas calorias, com 1.000 a 1.200 kcal por dia,
reduzem em média 8% do peso corporal, em três a seis meses, com diminuição de gordura
abdominal, com perda média de 4% em três a cinco anos. Dietas de muito baixas calorias
(very-low calorie diets, VLCD), com 400 a 800 kcal por dia, produzem perda de peso maior
em curto prazo, em comparação às dietas de baixas calorias, mas em longo prazo, no período
de um ano, a perda de peso é similar. Estas, devem ser feitas apenas em ambiente médico
adequado e sob rígida supervisão.
Reduzir a quantidade de gordura da dieta, em uma dieta hipocalórica, é uma maneira prá-
tica de diminuir a ingestão calórica e induzir a perda de peso. Dietas que contenham 1.200
a 1.500 kcal por dia para mulheres e 1.500 a 1.800 kcal por dia para homens, independente-
mente da composição de macronutrientes frequentemente levam à perda de peso.
Uma revisão sistemática de estudos randomizados e não randomizados, sobre a efetivi-
dade em longo prazo de vários tratamentos dietéticos para a obesidade, publicados entre
1931 e 1999, mostrou que 17 de 881 publicações revisadas preencheram os critérios para
inclusão. A perda de peso inicial média foi de 11 kg (variando de 4 a 28 kg), mas apenas 15%
de 2.132 pacientes que foram seguidos por 3 a 14 anos (média de cinco anos), preenche-
ram pelo menos um dos critérios de sucesso (de nidos como a manutenção de todo o peso
perdido ou, pelo menos de 9 a 11 kg a menos que o peso inicial, perda de peso associada a
melhora signi cativa das comorbidades da obesidade). A manutenção da perda de peso foi
maior nos pacientes nos quais se combinou dieta com terapia de grupo e/ou com acompa-
nhamento em longo prazo. Os resultados foram semelhantes ao de outra revisão sistemáti-
ca com mais de 700 estudos randomizados e não randomizados, realizados de 1972 a 1997,
sobre os efeitos de diferentes dietas na perda de peso, que mostrou que um programa de
dieta de 15 semanas ocasionou perda de 11 kg e manutenção de aproximadamente -6,5 kg
do peso perdido após um ano. Estes e vários outros estudos subsequentes indicam que os
pacientes obesos perdem peso quando mantidos com dieta restrita, mas que sua perda de
peso tende a não se manter em longo prazo.
Uma metanálise recente comparou estudos randomizados controlados avaliando a e cá-
cia na redução do peso corporal de dietas, exercícios físicos e programas combinados com
pelo menos 12 meses de seguimento realizados em adultos com sobrepeso e obesidade. No
total, 8 estudos foram incluídos, com 1.022 participantes, a maioria mulheres. Com 3 a 6
meses, não houve diferença entre programa combinado e só dieta (-0.62 kg; 95% CI -1,67 a
0,44), mas com 12 meses, o programa combinado foi melhor (-1.72 kg; 95% CI -2,80 a -0,64).

76
Obesidade e sObrepesO: tratamentO dietéticO

Programa combinado comparado a exercício foi superior com 3 a 6 meses (-5.33 kg; IC 95%
-7,61 a -3,04) e 12 a 18 meses (-6.29 kg; 95% CI -7,33 a -5,25).
Durante intervenções dietéticas, as comorbidades da obesidade como hipertensão, disli-
pidemia e outras condições devem ser acompanhadas cuidadosamente, monitorando as ne-
cessidades de medicamentos e fazendo ajustes se necessário, especialmente nos remédios
anti-hipertensivos e para diabetes, para evitar hipotensão e hipoglicemia. Alguns estudos
iniciais em animais e relatos de casos em humanos mostraram ainda que dietas hipocalóricas
poderiam potencialmente levar a benefícios em doenças neurológicas como demência, em
redução da velocidade evolução tumoral, melhora da imunidade e cardioproteção.
Grande porcentagem de pacientes recupera o peso perdido: 50% dos pacientes recuperam
o peso pré-tratamento em 12 meses e a maioria, em cinco anos. Apenas 11% mantêm perda
de 5 kg ou mais.
Algumas dietas de emagrecimento são nutricionalmente corretas e consistentes com bons
hábitos alimentares. Outras se apresentam como dietas milagrosas, que encorajam práticas
irracionais, algumas vezes perigosas, e passam a ser feitas pela população, devido à promoção
da mídia, ou porque são praticadas por celebridades. Não há nenhuma evidência cientí ca de
longo prazo sobre a efetividade dessas dietas, sem que se estabeleça um balanço energético
negativo. Na percepção popular, a velocidade e a quantidade de perda de peso geralmente se
confundem com o sucesso da dieta. Deve-se medir esse sucesso pela condição de se atingir e
manter perda de peso clinicamente signi cativa.

DieTas Da MODa

D t r m gordur pobr m rbo dr to


Caracterizadas por serem compostas de 55% a 65% de gordura, menos de 20% de carboi-
dratos (até 100 g por dia), e 25% a 30% de proteínas. Apesar de toda a controvérsia, ainda
são populares. A mais famosa delas é a Dieta Revolucionária do Dr. Atkins, publicada
em 1972 e reeditada em 1992. Outros exemplos dela são Protein power, The carbohydrate
additct’s diet, Dr. Bernstein’s diabetes so-lution, Life without bread, South Beach, e mais
recentemente, Duncan e a dieta paleolítica ou Paleo. Os proponentes dessas dietas ignoram
o conceito de que a ingestão calórica é importante tanto para a perda quanto para o ganho
de peso. Defendem que uma dieta rica em carboidratos deixa o indivíduo menos satisfeito,
resultando em mais fome, maior ingestão de carboidratos e maior produção de insulina, o
que inibiria a liberação de serotonina cerebral, que, por sua vez, aumenta o apetite. Apesar
desses autores alegarem que dieta rica em gordura leva à cetose, o que diminuiria o apetite,
evidências mostram que não há diferença nem quanto ao apetite, nem quanto à sensação
de bem estar. A diminuição da pressão arterial e a redução dos níveis séricos de glicose,
insulina e LDL colesterol, provavelmente, são consequências da perda de peso, e não da
composição dietética, especialmente caso se considere que a quantidade de gordura con-
sumida em uma dieta rica em gordura pode ser semelhante à consumida antes do início
da dieta. Todas as dietas hipocalóricas, se sustentadas em longo prazo, levam à perda de
peso. Entretanto, em curto prazo, as dietas cetogênicas, ricas em gorduras e escassas em

77
Obesidade e sObrepesO: tratamentO dietéticO

carboidratos, causam maior perda de água do que de gordura corporal. As dietas escassas
em carboidratos e ricas em gorduras, especialmente saturadas em colesterol, são também
ricas em proteínas animais e de cientes em vitaminas A, B6 e E, folato, cálcio, magnésio,
ferro, potássio e bras. Portanto, requerem suplementação. Podem levar a halitose, dor
de cabeça e litíase renal por oxalato, questionando-se a segurança cardiovascular do seu
emprego a longo prazo.

D t pobr m gordur mu to pobr m gordur (m o d 19%)


Estas dietas ricas em carboidratos e com quantidades moderadas de proteínas foram histo-
ricamente desenvolvidas para prevenir ou reverter doença cardiovascular e não para per-
der peso. Entretanto, à medida que os norte-americanos tornavam-se mais obesos e seu
anseio por livros sobre dietas aumentava, os autores dessas dietas mudaram o foco e o
título de seus livros de doença cardíaca para perda de peso. Pode-se com-provar essa teoria
ao se observar os títulos dos livros, nos últimos 20 anos, como os de Dean Ornish: Stress
diet and your heart (1982), Dr. Dean Ornish’s program for reversing heart disease (1990) e
Eat more, weight less (1993), e os de Nathan Pritikin: The Pritikin program for diet and ex-
ercise (1979), The Pritikin promise (1983), The new Pritikin program (1990), The Pritikin
weight loss breakthrough (1998) e The Pritikin principle (2000). São dietas ovolactovege-
tarianas, compostas por vegetais, frutas, grãos integrais, feijão, moderada quantidade de
ovos, laticínios escassos em gorduras, produtos de soja e pequenas quantidades de açúcar
e farinha. Os indivíduos obesos que consomem dieta escassa em gorduras e ricas em car-
boidratos ingerem menos calorias e perdem peso. Novamente, a quantidade de calorias
ingeridas é mais importante que a composição dietética. Uma revisão narrativa do Ornish
Multicenter Lifestyle Demonstration Project reportou signi cativa diminuição na gordura
corporal de 25,7% para 21,3%, em um ano, e para 22,4%, em dois anos. As dietas muito
escassas em gorduras são de cientes em vitaminas E, B12 e zinco.
Dietas escassas em gorduras, que objetivam a manutenção do peso, diminuem o coles-
terol total, LDL e HDL colesterol (de 11% a 23%), mas aumentam também os triglicerídeos
em quase 50%. Em contraste, dietas escassas em gorduras hipocalóricas, que objetivam a
redução de peso, resultam em diminuição de quase 25% do LDL colesterol, e os níveis de
triglicerídeos permanecem inalterados. Dietas escassas em gorduras, ricas em carboidratos
complexos, em bras e hipocalóricas resultam em diminuição da pressão arterial, da glicemia
e dos níveis de insulina em pacientes obesos e diabéticos. Pode-se atribuir tais benefícios
muito mais à restrição de energia e à perda de peso do que à composição da dieta.

Dietas com gorduras modi cadas tipo do mediterrâneo


Existem evidências de que a substituição de gordura saturada por gorduras monoinsatura-
das, como azeite de oliva, abacate e nozes, pode melhorar o per l lipídico e o controle glicê-
mico, além de auxiliar na perda de peso. Isto acontece porque, segundo as pesquisas para os
vários tipos de gorduras, há diferente captação, oxidação e efeito sobre o apetite. Podem-se
prescrever essas dietas, com base na dieta do mediterrâneo, de uma maneira menos estrutu-
rada, tipicamente com 40% de energia de gorduras, principalmente monoinsaturadas, e 40%
de carboidratos. Um estudo de dois anos de acompanhamento concluiu que tais dietas são

78
Obesidade e sObrepesO: tratamentO dietéticO

e cientes na perda de peso, podendo-se utilizá-las como alternativa às dietas hipocalóricas.


Devem-se efetuar estudos de longo prazo sobre a e cácia das dietas ricas em gorduras mo-
noinsaturadas, antes que se possa recomendá-las como baseadas em evidência.

D t do í d gl m o
O índice glicêmico é usado para medir o relativo aumento da glicemia após uma quantida-
de-padrão de dieta de carboidratos. Comidas como vegetais não feculentos, legumes, frutas
e derivados do leite têm baixo índice glicêmico, enquanto produtos com grãos re nados e
batatas, um alto índice glicêmico. Alimentos com alto índice glicêmico, calorias por calorias,
elevam mais os níveis de insulina do que os com baixo índice glicêmico, sugerindo que os
que possuem alto índice glicêmico podem promover ganho de peso por dirigirem preferen-
cialmente os nutrientes da oxidação no músculo para estocagem na gordura. Propôs-se que
dietas com baixo índice glicêmico pudessem auxiliar na perda de peso. Um pequeno número
de estudos de curto prazo com dietas com baixo índice glicêmico em um número limitado de
casos de obesidade infantil, diabetes tipos 2 e 1, mas nenhum por períodos superiores a um
ano, o que não valida essa dieta para recomendação. Um recente ECR não mostrou benefí-
cio de dieta hipocalórica com alimentos com baixo índice glicêmico em relação a dieta com
carboidratos com alto índice glicêmico em mudança do IMC, saciedade, fome e marcadores
metabólicos por 6 meses, apesar da redução da insulina.

J jum t rm t t
Uma revisão sistemática e metanálise avaliou o efeito da restrição de energia intermitente so-
bre peso e marcadores biológicos em estudos de intervenção com duração superior a 6 meses.
Nove estudos randomizados (num total de 981 indivíduos) identi cados incluíram um grupo
com restrição de energia intermitente comparados com um grupo de restrição de energia
contínua. Perda de peso observada em todos os braços de restrição de energia intermitente,
independentemente da duração do estudo ou duração do acompanhamento. Oito interven-
ções em seis ensaios utilizados para as metanálises indicam que nem restrição energética
contínua nem intermitente foi superior na perda de peso ou nas concentrações sanguíneas
de lípidos, glicose e insulina. Os efeitos da restrição de energia intermitente a longo prazo
permanecem obscuros pelo limitado número de estudos a longo prazo e de participantes.

D t m glút
Embora a dieta isenta de glúten seja reconhecida como terapêutica para os indivíduos que so-
frem de doença celíaca, tem sido promovida recentemente para outras indicações, tais como o
autismo, síndroma da fadiga crônica, síndrome do intestino irritável, ou simplesmente como
uma escolha alimentar saudável para qualquer um. Alguns trabalhos experimentais exploram
efeitos do glúten no metabolismo, com resultados con itantes. Não há ERC em humanos.

D t m l to
Nos últimos anos,muito tem sido dito sobre consumo de lácteos durante a vida adulta, es-
pecialmente porque se refere ao leite de outras espécies de animais. Muitos nutricionistas
apregoam cortar a lactose da alimentação.

79
Obesidade e sObrepesO: tratamentO dietéticO

O consumo de laticínios, leite e iogurte é um elemento importante para uma dieta sau-
dável e equilibrada. É o primeiro alimento para os mamíferos e fornece toda a energia e os
nutrientes necessários para garantir o bom crescimento e desenvolvimento, sendo crucial
no que diz respeito à formação da massa óssea. Os estudos epidemiológicos con rmam a
importância nutricional do leite na dieta humana e reforçam o possível papel do consumo de
laticínios na prevenção de várias doenças crônicas, doenças cardiovasculares, alguns tipos de
câncer, obesidade e diabetes.
Os sintomas de má absorção de lactose e de alergia à proteína do leite de vaca (que podem
ocorrer em 2 a 7% da população) são geralmente considerados como as reações adversas ao
consumo de leite. Não há nenhuma evidência para apoiar o uso de dieta isenta de leite de
vaca como um tratamento para sobrepeso e obesidade.

PLanOs De DieTas RecOMenDaDas

D t b l d
Caracterizam-se por serem compostas de 20% a 30% de gorduras, 55% a 60% de carboidra-
tos e 15% a 20% de proteínas. As dietas populares dessa categoria incluem as utilizadas por
centros comerciais de perda de peso, como os Vigilantes do Peso, Jenny Craig e Nutri-sys-
tems, e as dietas da pirâmide alimentar, MyPlate e do National Cholesterol Education Pro-
gram. As dietas balanceadas têm uma longa história, baseiam-se tipicamente em princípios
cientí cos e são as que foram mais estudadas. Essas dietas são calculadas para promover um
dé cit de 500 a 1.000 kcal/dia, com um mínimo de 1.000 a 1.200 kcal/d para as mulheres e
1.200 a 1.400 kcal/d para os homens (exemplo, 1.000 a 1.500 kcal por dia para mulheres e
1.200 a 1.800 kcal por dia para homens).
O objetivo das dietas balanceadas é permitir ao consumidor a escolha de maior varie-
dade de alimentos, adequação nutricional, maior aderência, resultando em perda de peso
pequena, mas sustentada. Diferentes percentuais variando entre 10%, 20%, 30% e 40%
das calorias da dieta provenientes de gorduras não in uenciaram a perda de peso nem a
redução no percentual de massa gorda corpórea de mulheres adultas e obesas submetidas
à restrição calórica e exercícios durante 12 semanas. Dietas escassas em gordura, sem ter
como alvo a restrição calórica, auxiliam na perda de peso por reduzir a ingestão de calorias,
que é mais acentuada nas pessoas mais pesadas. No entanto, dietas escassas em gorduras
associadas à redução calórica produzem maior perda de peso. Dietas com 1.000 a 1.200
kcal/dia resultam em perda de 7 a 13 kg (média de 8%) e redução na gordura abdominal
medida pela circunferência abdominal em média de 10 cm, no período de seis semanas a
seis meses. Poucos estudos avaliaram o papel da frequência das refeições na redução caló-
rica, não havendo uma conclusão.
Quando a escolha de alimentos é apropriada, as dietas hipocalóricas balanceadas são
nutricionalmente adequadas. Dietas hipocalóricas balanceadas, com quantidades mode-
radas de gorduras, reduzem o LDL colesterol, normalizam os triglicerídeos e diminuem
a pressão arterial.

80
Obesidade e sObrepesO: tratamentO dietéticO

D t d mu to b x lor
As dietas de muito baixas calorias, usualmente, proveem 400 a 800 kcal por dia e devem
conter 0,8 a 1 g por quilo do peso ideal por dia de proteínas de boa qualidade e quantidades
diárias recomendadas de minerais, vitaminas e ácidos graxos essenciais. São utilizadas como
única fonte de nutrição durante quatro a 16 semanas e, em geral, são efetivas para pacientes
que não obtiveram sucesso com outros tratamentos ou que tenham comorbidades, sendo
necessária intensa supervisão. Podem ser pré-preparadas na forma de refeições líquidas ven-
didas em farmácias ou também elaboradas de comidas normais, que contenham quantidade
adequada de proteínas, vitaminas e sais minerais.
Essas dietas produzem maior perda de peso na fase inicial, quando comparadas a outras
formas de restrição energética, com redução de 9 a 26 kg em quatro a 20 semanas. Mas, ape-
sar dessa grande perda de peso na fase inicial, estudos randomizados mostram, em um a dois
anos, as mesmas perdas das dietas convencionais, com nenhuma perda ou redução de até 4
kg. O resultado pode ser melhorado em um a dois anos, se à dieta de muito baixas calorias se
adicionar terapêutica com drogas ou modi cação comportamental (perda de peso de 11,8 kg,
variando de 9,2 a 14,2 kg, ou 11%). As dietas de muito baixas calorias são úteis para induzir
rápida perda de peso e motivar o paciente muito obeso, mas devem ser seguidas por outro
tratamento para manter a perda de peso.
As dietas de muito baixas calorias são contraindicadas em pacientes com doença cardía-
ca instável, insu ciência cardíaca grave, doença cerebrovascular, insu ciência renal aguda e
crônica, doença hepática grave ou em fase terminal, transtorno psiquiátrico que possa inter-
ferir com sua compreensão e execução; os efeitos colaterais podem incluir fadiga ou fraqueza,
tonturas, constipação, pele seca, perda de cabelo, alterações menstruais e intolerância ao
frio, e os efeitos secundários mais graves são desenvolvimento de gota e cálculos biliares.

sub t tu ção d r çõ
Alguns estudos recentes avaliaram o efeito da substituição de refeições com acompanhamen-
to médico regular na perda de peso com refeições preparadas ou suplementos alimentares,
como shakes, sopas e barras de cereais. Durante o período de tratamento de um a cinco anos,
a média de perda de peso foi de seis quilos, com redução variando de 3 a 9,5 kg, equivalente
a 6,2%. Essa perda de peso associou-se à melhora na circunferência abdominal, glicemia,
hemoglobina glicosilada, insulinemia, trigliceridemia, colesterolemia, nível da pressão arte-
rial e qualidade de vida. Em outro estudo com acompanhamento médico regular, com qua-
tro anos de duração, seu uso demonstrou resultados positivos no tratamento da obesidade,
sugerindo que, associada à dieta hipocalórica, pode auxiliar no controle e manutenção da
perda de peso. O Estudo Look Ahead avaliou o de substituição parcial de refeições em 5 mil
pessoas com diabetes tipo 2, durante 12 anos uso em 16 centros nos Estados Unidos como
intervenção estilo de vida intensivo comparando com recomendações dietéticas usuais. Com
12 meses de intervenção, a intervenção intensiva teve um consumo signi cativamente me-
nor de gordura e colesterol e maior ingestão de bras do que os participantes de cuidado
usual em educação em diabetes, além de consumir mais porções por dia de frutas, vegetais,
leite, iogurte e queijo; e menos porções por dia de gorduras, óleos e doces. Essas mudanças
relacionas com uma melhor qualidade de dieta foram mais frequentes nos participantes que

81
Obesidade e sObrepesO: tratamentO dietéticO

consumiam dois ou mais substitutos de refeição por dia do que nos que substituiam menos
de uma refeição por dia. O estudo incluiu atividade física regular e contato frequente com os
pro ssionais de saúde e mostrou efeitos bené cos signi cativos na HbA1c, lipídios e pressão
arterial. O estudo mostrou que 39,3% dos 825 participantes que receberam uma intervenção
de estilo de vida (que consiste numa redução de energia da dieta e prescrição de atividade
física, e uma intervenção cognitivo-comportamental) que perderam pelo menos 10% do seu
peso corporal no ano 1 mantiveram pelo menos 10% de perda no m do ano 8, e 25,8% man-
tiveram 5% a 10% de perda de peso.
A Herbalife vende suplementos nutricionais e toterápicos em comprimidos, cápsulas,
bebidas e barras energéticas para controle de peso, melhora da nutrição, bem estar e esté-
tica, através de estratégias de mercado on-line ou agentes de venda independente. Existem
relatos publicados sobre lesões hepáticas após ingestão desses produtos em pelo menos
30 casos de cinco países (Suíça, Israel, Espanha, Argentina e Islândia). O padrão de lesão
predominante foi hepatocelular, mas também foram observados padrões mistos e de coles-
tase, com intensidade desde leve até lesão hepática grave, incluindo cirrose e insu ciência
hepática aguda com necessidade de transplante de fígado em dois casos, bem sucedido em
um paciente, com óbito no segundo. A causalidade entre a ingestão de produtos Herbalife e
evolução da lesão hepática foi avaliada em cinco de seis relatórios e considerada como cor-
reta em pelo menos cinco pacientes por uma reação de reexposição positiva e provável na
maioria dos casos restantes. Os representantes da Herbalife negam a relação causal entre
consumo de seus produtos e lesão hepática. Apesar de tudo, ainda permanece totalmente
especulativo o que poderia ter sido a causa de dano hepático nos casos publicados uma vez
que os pacientes ingeriram até 17 diferentes componentes presentes nos produtos Her-
balife ao mesmo tempo. Obviamente, isso torna extremamente difícil (se não impossível)
identi car qual teria sido o composto ou os compostos responsáveis. Entre as hipóteses foi
aventada uma lesão hepática imunomediada (pela in ltração celular em alguns pacientes)
ou a adulteração de produtos (após um relato de dois pacientes, dos quais um desenvol-
veu cirrose após contaminação bacteriana de vários produtos da Herbalife com Bacillus
subtilis). Como a Herbalife é produzida em inúmeras regiões do mundo, especula-se que
os produtos contaminados com certos germes, ou produtos químicos, como amaciantes,
conservantes, realçadores de sabor, pesticidas ou metais pesados adicionados durante o
processo de fabricação ou contidos na matéria não re nada, como extratos de ervas pode-
riam ter sido responsáveis pela hepatotoxicidade (Refs. 13,20,22,33,67,74).

D t d h
A dieta DASH (de dietary approach to stop hypertension) é um padrão alimentar que
foi desenvolvido para reduzir a hipertensão em indivíduos com pressão moderada a alta,
que incentiva o consumo de frutas, legumes, cereais integrais, nozes, legumes, sementes,
lácteos com baixo teor de gordura e carnes magras e limita o sal, bebidas com cafeína e
alcoólicas. Um limite diário de energia não é um componente da dieta DASH original,
mas é comum ocorrer perda de peso. A dieta DASH combinado com a perda de peso sig-
nificativamente aumenta reduções na pressão arterial superior à alcançada pela perda de
peso por si só.

82
Obesidade e sObrepesO: tratamentO dietéticO

Horár o r qu d r çõ
Potencialmente consumir mais calorias no início do dia, em vez de no nal do dia, pode aju-
dar a controlar o peso. O mecanismo de ação pelo qual o momento da alimentação pode aju-
dar a controlar o peso é por in uência no ritmo circadiano. Ver capítulo anterior (Etiologia
do sobrepeso e obesidade).
Há apenas um ECR conduzido que examinou o tempo de ingestão de energia e a perda
de peso em mulheres com sobrepeso e obesidade com síndrome metabólica por 12 sema-
nas. O grupo que consumiu a maior parte das calorias no início do dia perdeu mais peso
(quase 9 kg vs. cerca de 3,5 kg). Apesar disso, os ECR (três, todos de curta duração, de até
16 semanas) que avaliaram a in uência consumo de café da manhã na perda de peso, não
demonstram maior perda de peso com o consumo de café da manhã. O benefício parece ser
o de consumir a maior parte das calorias pela manhã, e não simplesmente tomar ou não
tomar café da manhã. Omitir alimentos no período da manhã e comer excessivamente à
noite foi chamado de autofagia circadiana.

Gu l m t r
Recentemente, o Ministério da Saúde apresentou o Guia para a elaboração de refeições
saudáveis em eventos, orientações e recomendações objetivando tornar coffee breaks,
almoços, brunchs, lanches, dentre outros, espaços mais saudáveis e com este material
facilitar a transformação de ambientes institucionais em espaços promotores de alimen-
tação mais adequada e saudável, em especial nos espaços urbanos, ambientes de tra-
balho, ambiente escolar e serviço de saúde, tomadas em conjunto com as demais ações
de incentivo à atividade física e práticas corporais e mudanças estruturais nos espaços
urbanos e institucionais que promovem mobilidade urbana e acesso a espaços públicos
de lazer, ações estratégicas para prevenção e controle das DCNT e seus fatores de risco,
e consequentemente, colaborar com a redução do sobrepeso e obesidade. O guia afirma
que ter acesso a uma alimentação adequada e saudável não é algo fácil de ser alcançado,
pois não se limita à responsabilidade de cada indivíduo fazer escolhas alimentares mais
adequadas, e que diversos fatores de natureza física, econômica, política, cultural ou so-
cial podem influenciar o padrão de alimentação das pessoas. Prossegue afirmando que os
órgãos públicos e demais instituições responsáveis pelo fornecimento da alimentação em
eventos podem contribuir para a promoção de ambientes saudáveis, ofertando alimentos
que colaborem positivamente para a saúde da população, valorizem a cultura alimentar
local e derivem de práticas produtivas ambientalmente sustentáveis. O guia segue suges-
tões do Guia Alimentar para a População Brasileira de 2014, sugerindo que alimentos in
natura sejam preferidos dando prioridade aos de origem vegetal, os processados sejam
usados em quantidade pequena como ingredientes usados na preparação ou acompanha-
mento dos alimentos in natura e os ultraprocessados sejam evitados ou minimamente
consumidos. Óleo, açúcar e sal devem ser usados moderadamente, para temperar e pre-
parar os alimentos. Açúcar em demasia, particularmente na forma de bebidas adoçadas
consumidas em exagero deve ser evitado, e a substituição por edulcorantes não calóricos
pode ser válida para reduzir o consumo de calorias da dieta.

83
Obesidade e sObrepesO: tratamentO dietéticO

cOncLUsÃO
O objetivo da intervenção é melhorar a saúde do paciente através da prevenção ou da me-
lhora das complicações relacionadas com a perda de peso. Embora a perda de peso seja im-
portante, não se deve ter o foco do tratamento na perda de peso corporal, por si só. Dieta,
atividade física e modi cação comportamental devem ser incluídas em todo tratamento da
obesidade. Na presença de falência da intervenção mudança de estilo de vida ou em pacientes
com uma história prévia de falência com tentativas de dieta com restrição calórica e aumento
de atividade física, o tratamento medicamentoso deve ser indicado na presença de sobrepeso
associado a fatores de risco ou de obesidade.

84
Princípios gerais da orientação
nutricional no diabetes mellitus

Aspectos básicos da Ao contrário do DM1, que não pode ser evitado, o DM2
pode ser retardado ou evitado por meio de modi cações do
terapia nutricional estilo de vida, que incluem alimentação saudável e atividade
ísica. A dieta mediterrânea é citada na literatura como re-
cuidado nutricional em diabetes mellitus (DM) é uma erência de padrão saudável para a população ocidental por
das partes mais desa adoras do tratamento e das estra- promover a longevidade e ser capaz de reduzir 9% da morta-
O tégias de mudança do estilo de vida.1-4 A relevância da lidade geral por doenças cardiovasculares.16 No Brasil, o Guia
terapia nutricional no tratamento do DM tem sido en atizada Alimentar para a População Brasileira17 sugere a mistura “Ar-
desde a sua descoberta, bem como o seu papel desa ador na pre- roz com eijão” como a base da alimentação por apresentar
venção, no gerenciamento da doença e na prevenção do desen- excelente combinação de aminoácidos, além do incentivo ao
volvimento das complicações decorrentes.1,5 consumo de alimentos in natura ou minimamente processa-
O controle metabólico é apontado como a pedra angular dos e preparações culinárias em vez de alimentos ultrapro-
do manejo do diabetes, pois alcançar um bom controle reduz cessados, com vistas ao consumo saudável e ao combate à
o risco de complicações microvasculares e pode, também, mi- obesidade.
nimizar as chances de doenças cardiovasculares.6,7 De modo O alerta mundial para a prevenção do DM2 é re orçado
semelhante, melhorar os níveis pressóricos e de lipídios pode pelo substancial aumento da sua prevalência nas últimas dé-
ser e caz na redução de eventos cardiovasculares.8,9 As esco- cadas. Apesar de a suscetibilidade genética parecer desempe-
lhas alimentares promovem e eito direto sobre o equilíbrio nhar um papel importante na ocorrência de DM2, a atual epi-
energético e, por conseguinte, sobre o peso corporal e os ní- demia provavelmente re ete mudanças prejudiciais do estilo
veis pressóricos e de lipídios plasmáticos. de vida, como aumento da ingestão energética e redução da
Por muito tempo, acreditou-se na prescrição alimentar res- prática de atividades ísicas, o que, em associação a sobrepeso
tritiva e com exclusão total dos alimentos com sacarose para e obesidade, parece exercer papel preponderante no surgi-
o tratamento dietético do DM, mas, com o estudo Diabetes mento da doença.1-4
Control and Complications rial (DCC , 1993), houve uma “re- As recomendações para o gerenciamento nutricional do
viravolta”, sobretudo para o DM1, que passou a considerar a in- DM têm como base a melhor evidência cientí ca disponível,
clusão da sacarose no rol dos carboidratos do plano alimentar. a qual se encontra aliada com a experiência clínica, com pu-
Embora se saiba que a ingestão de carboidrato in uencia dire- blicações periódicas por sociedades cientí cas internacionais
tamente os níveis de glicose pós-prandial, sendo ele o macro- e nacionais. Nesse sentido, os guias da American Diabetes Asso-
nutriente de maior preocupação no manejo glicêmico,6,10 a tera- ciation (ADA), da Diabetes UK, da Canadian Diabetes Associa-
pia nutricional se concentra no equilíbrio dos macronutrientes tion (CDA) e do Royal Australian College o General Practitioners
para a manutenção do bom controle metabólico. (RACGP), sobre o tratamento do diabetes, en atizam que o
Evidências cientí cas demonstram que a intervenção nu- alcance das metas de tratamento propostas requer es orço da
tricional tem impacto signi cativo na redução da hemoglo- equipe de saúde, que é composta por educadores em diabetes
bina glicada (HbA1c) no DM1 e DM2, após 3 a 6 meses de e nutricionista especializado, e do indivíduo com diabetes ati-
seguimento com pro ssional especialista, independentemen- vamente envolvido no processo.1-4
te do tempo de diagnóstico da doença.11,12 Além disso, quan- Segundo de nição do Institute o Medicine (IOM), terapia
do associado a outros componentes do cuidado em DM, o nutricional é o tratamento de uma doença ou condição por
acompanhamento nutricional pode avorecer ainda mais os meio da mudança da ingestão de nutrientes ou de todo um
parâmetros clínicos e metabólicos decorrentes de melhor ade- alimento.18 A conduta nutricional direcionada a indivíduos
são ao plano alimentar prescrito.5,12-15 A abordagem do mane- com DM1 e DM2, pré-diabetes e DM gestacional (DMG)
jo nutricional não deve ser somente prescritiva, mas também deve ser de nida com base em avaliação e diagnóstico nu-
apresentar caráter mais subjetivo, de olhar comportamental, tricional, para posterior programação das intervenções nu-
colocando o indivíduo no centro do cuidado. Esse en oque tricionais. Acompanhamento e avaliações contínuas apoiam
considera a disposição e a prontidão do paciente para mudar, mudanças de estilo de vida em longo prazo, bem como possi-
possibilitando, por conseguinte, adaptar as recomendações às bilitam analisar resultados e modi car intervenções, quando
pre erências pessoais, em uma tomada de decisão conjunta.2 necessário.19

89
Princípios gerais da orientação nutricional no diabetes mellitus

A abordagem nutricional individualizada requer mudan- sidades nutricionais em todas as ases da vida. Essa terapia tem
ças no estilo de vida e objetivos que possam resultar em in- como objetivos, ainda, manutenção/obtenção de peso saudá-
tervenções dietéticas complexas. Para essa individualização, é vel, alcance das metas de controle da glicemia (tanto em jejum
necessário conhecer alguns aspectos relacionados ao contexto como pré e pós-prandial) e adequação dos níveis pressóricos e
da produção e do consumo dos alimentos, como cultura, re- dos níveis séricos de lipídios, considerando-se o uso de árma-
gionalidade, composição de nutrientes e preparo de re eições. cos para prevenir complicações de curto e médio prazos.1,3,4,7
Esse cenário justi ca a recomendação do nutricionista como Embora diversos estudos tenham tentado identi car a
pro ssional habilitado para implementar intervenções e edu- melhor combinação de nutrientes para indivíduos com DM,
cação nutricional para indivíduos com diabetes. Paralelamen- uma revisão sistemática mostrou que não há proporção ideal
te esse pro ssional deve esclarecer os membros da equipe aplicável e que, portanto, macro e micronutrientes devem ser
sobre os princípios da terapia nutricional, a m de obter seu prescritos de orma individualizada.20 Sendo assim, a ingestão
apoio nas implementações e desmisti car concepções.1 dietética em pacientes com DM (Quadro 1) segue recomen-
A orientação nutricional tem como alicerce uma alimenta- dações semelhantes àquelas de nidas para a população geral,
ção variada e equilibrada. Além disso, o oco é atender às neces- considerando-se todas as aixas etárias.18

Quadro 1. Composição nutricional do plano alimentar indicado para pessoas com diabetes mellitus.
Macronutrientes Ingestão recomendada diária
45 a 60%; é possível usar padrões alimentares com menor teor de carboidratos para DM2 de orma individualizada e
Carboidratos (CHO)
acompanhada por pro ssional especializado
Sacarose Máximo 5 a 10% do VET
Frutose Não se recomenda adição aos alimentos
Fibra alimentar Mínimo 14 g/1.000 kcal, 20 g/1.000 kcal para DM2
20 a 35% do VET; dar pre erência para ácidos graxos monoinsaturados e poli-insaturados; limitar saturados em até 10% e
Gordura total (GT)
isenta de trans
Proteína 15 a 20% do VET
Micronutrientes Ingestão recomendada diária
Vitaminas e minerais Seguem as recomendações da população sem diabetes
VET: valor energético total (considerar as necessidades individuais, utilizando parâmetros semelhantes aos da população sem diabetes, em todas as aixas etárias).

Educação nutricional A American Association o Diabetes Educators (AADE) relata que


a construção de comportamentos saudáveis é apropriada para um
em diabetes programa de autogerenciamento da saúde, servindo como base para
indivíduos com a doença incluírem uma alimentação saudável em
O ponto-chave da boa condução do diabetes é o envolvi- seu estilo de vida, como parte do autocuidado. Essa construção apoia
mento do paciente e dos amiliares como parte ativa de todo o mudanças dietéticas e a prática de atividade ísica, com o objetivo de
processo, de modo a desenvolver o autoconhecimento e auxi- promover a perda ou a manutenção do peso. Conscientizar o paciente
liando na tomada de decisão.1 da importância de um planejamento alimentar balanceado deve ser
A educação voltada para a autogestão do DM é o processo de prioridade em todos os programas voltados a indivíduos com DM.22
acilitação de conhecimentos, habilidades e capacidades necessá- Indivíduos com DM, tipos 1 e 2, e seus amiliares devem
rias ao autocuidado da doença. Os objetivos globais da educação ser inseridos em programas de educação nutricional desde o
em DM, com relação ao indivíduo, são apoiar a tomada de de- diagnóstico, com abordagem sobre a importância do autocui-
cisão, orientar o autogerenciamento e a resolução de problemas, dado e da independência quanto a decisões e atitudes ligadas
bem como promover a colaboração ativa entre paciente e equipe à alimentação e ao controle metabólico (B).2 Por meio desse
de saúde, a m de melhorar os resultados clínicos, o estado de saú- conhecimento, o indivíduo com DM poderá compreender a
de e a qualidade de vida de maneira e caz em termos de custos.1,21 importância e a in uência dos alimentos na homeostase glicê-
Serviços multidisciplinares que promovam educação em mica, bem como estar ciente da prevenção de complicações.22,23
diabetes devem incentivar o conhecimento e desenvolver ha- Estratégias educacionais incluem atividades em grupos ope-
bilidades necessárias ao autocuidado, sempre com a colabora- rativos, o cinas e palestras. A alimentação está diretamente rela-
ção ativa da equipe de saúde. Esta deve ser especializada em cionada a questões psicossociais e culturais; é necessário, portanto,
diabetes e preparada para incentivar mudanças de estilo de inserir considerações pertinentes no processo educativo (C).22,23 As
vida e que contribua para melhorar os des echos clínicos, o principais características do processo de educação em diabetes são:
estado de saúde e a qualidade de vida. Devem considerar a in- • Participação e etiva do paciente e amiliares no autoge-
dividualização do tratamento com relação ao nível de respos- renciamento contínuo da doença;
ta de cada paciente, bem como de apoio social, amiliar e de • Reavaliação em quatro momentos críticos: diagnóstico,
atores psicossociais que a etem o autogerenciamento do indi- anualmente, no surgimento de complicações ou algum
víduo, tudo isso como parte dos cuidados clínicos de rotina.1 tipo de mudança no tratamento;

90
Princípios gerais da orientação nutricional no diabetes mellitus

• Principais objetivos: avaliação dos resultados clínicos, ticularmente aqueles à base de plantas e ingestão menor de
condição geral de saúde e qualidade de vida; carne vermelha ou um padrão alimentar mediterrânico rico
• Centralização no paciente, mas podendo utilizar-se de em azeite, rutas e legumes, incluindo cereais integrais, legu-
erramentas de grupos e/ou tecnologias; minosas e rutas in natura, produtos lácteos com baixo teor de
• Promoção de melhores resultados e redução de custos do gordura e consumo moderado de álcool) é a melhor estratégia
tratamento.1 para diminuir o risco de diabetes, especialmente se as reco-
mendações dietéticas levam em conta as pre erências indivi-
Prevenção do diabetes duais, permitindo, assim, a adesão ao tratamento nutricional
em longo prazo.30
mellitus tipo 2
Balanço energético e
O DM2 é uma das principais doenças crônicas que po-
dem ser evitadas por meio de mudanças no estilo de vida e controle do peso
intervenção não armacológica. Estudos epidemiológicos e
intervencionistas sugerem que a perda de peso seja a principal A globalização e a transição nutricional que ocorreram
orma de reduzir o risco de diabetes. O alerta mundial para nas últimas décadas nos países em desenvolvimento promo-
a prevenção do DM2 é re orçado, como mencionado, pelo veram uma rápida elevação nos casos de sobrepeso e obesida-
substancial aumento da sua prevalência nas últimas décadas. de no mundo. No Brasil, o excesso de peso já atinge mais de
A evidência mais relevante para a prevenção do DM2 per- 50% da população com aumento expressivo no percentual de
tence ao Diabetes Prevention Program (DPP).24 Os principais sobrepeso e obesidade na in ância.31 O aumento do excesso de
objetivos da intervenção intensiva, comportamental e de esti- peso em adolescentes pode estar associado à instalação preco-
lo de vida do DPP resumem-se em alcançar e manter no míni- ce da síndrome metabólica32 e ao risco do desenvolvimento do
mo 7% de perda de peso e 150 minutos de atividade ísica por DM2. O controle do peso corporal é importante para todas as
semana, semelhantemente à intensidade de uma caminhada pessoas, independentemente do tipo de DM. Conway e cola-
rápida. No programa, cada quilograma perdido esteve asso- boradores33 observaram tendência de aumento da prevalência
ciado a uma redução de 16% do risco de DM2. Estabeleceu-se de sobrepeso e obesidade maior entre as pessoas com DM1,
a meta de redução de peso de 7% por ser um valor actível quando comparados à população em geral. Estudos realiza-
e possível de manter. Os participantes oram encorajados a dos no Brasil com DM1 atendidos em hospitais universitários
atingir essa meta durante os primeiros 6 meses da interven- observaram que a cada quatro pacientes um já apresentava
ção, com perda de peso estimada em 0,5 a 1 kg por semana.25 sobrepeso.34,35
Há evidências crescentes de que os alimentos e seus com- Os pro ssionais de saúde devem estimular os indivíduos
ponentes podem ser implementados na prevenção e no con- com DM a integrar estratégias de estilo de vida que evitem ga-
trole do DM2.26 Incentivar a perda de peso estruturada em um nho de peso ou promovam, quando necessário, perda de peso
plano alimentar reduzido em calorias associado à prática de modesta e realista. Os programas de intervenção relacionados
atividade ísica é de suma importância para aqueles com alto com a mudança do estilo de vida devem ser intensivos e ter
risco de desenvolver DM2 com sobrepeso ou obesidade. Com acompanhamento requente para diminuir signi cativamente
base em estudos de intervenção, os padrões alimentares que o peso corporal e melhorar os indicadores clínicos.1
podem ser úteis àqueles com pré-diabetes incluem um plano A avaliação do estado nutricional nos indivíduos com DM
alimentar mediterrânico e um plano alimentar de baixo teor é uma erramenta undamental para identi car e tratar pos-
calórico.1 Muitas evidências epidemiológicas e ensaios clíni- síveis desvios no peso. O estado nutricional é o resultado do
cos demonstram que a dieta mediterrânea desempenha papel equilíbrio entre o consumo de nutrientes e o gasto energéti-
importante na prevenção do DM2. A adoção dessa dieta está co do organismo para suprir as necessidades nutricionais.36
diretamente relacionada com a diminuição da obesidade ab- Os dados usados para avaliação nutricional na prática clínica
dominal e pode ser determinante na redução da resistência à compreendem índices especí cos para crianças como peso/
insulina e das in amações.27 O consumo de iogurte (80 g/dia) idade, estatura/idade e o índice de massa corporal a todas as
apresentou relação não linear inversa com o DM2, indicando idades. Nos adultos, uma medida adicional, como a da cir-
risco 14% menor para o seu desenvolvimento.28 cun erência da cintura, pode estimar risco o cardiovascular;
Mais estudos são necessários para determinar se um pla- embora seja de ácil obtenção, veri cam-se di culdades na lo-
no alimentar de baixo carboidrato é bené co a pessoas com calização da medida, que segundo a Organização Mundial da
pré-diabetes. As evidências sugerem que a qualidade geral dos Saúde (OMS) deva ser o ponto médio entre a última costela e
alimentos consumidos é mais importante do que a restrição a crista ilíaca.37
de algum grupo de nutrientes.29 Reduzir a ingestão de calorias e modi car o estilo de vida
Não há uma estratégia alimentar universal para prevenir podem bene ciar adultos com sobrepeso ou obesos com DM e
o diabetes ou retardar o seu início, uma vez que a individua- também aqueles em risco de desenvolver diabetes (A). Foi de-
lidade bioquímica deve ser considerada. Em associação à monstrado que a redução moderada de peso, de nida como a
manutenção do peso corporal e a uma alimentação saudável redução sustentada de 5 a 7% do peso corporal inicial, melhora
(caracterizada por ingestão maior de grupos de alimentos o controle glicêmico e ameniza a necessidade de medicamentos
geralmente recomendados para a promoção da saúde, par- que diminuem a glicose. A perda de peso pode ser obtida com

91
Princípios gerais da orientação nutricional no diabetes mellitus

programas de estilo de vida que atingem um dé cit energético va de carboidratos e um maior risco de mortalidade. Contu-
de 500 a 750 kcal/dia ou proporcionam de 1.200 a 1.500 kcal/dia do, destaca-se que a média de consumo de carboidratos desse
para mulheres e 1.500 a 1.800 kcal/dia para homens, ajustados grupo era elevada (67,7% a 77,2% do valor energético total
ao peso corporal inicial do indivíduo. Para muitos obesos com – VE ), e não oi avaliado o tipo de carboidrato consumido.45
DM2, a perda de peso de 5% promove resultados bené cos Recentemente, oi publicado na revista Lancet um estudo
quanto a controle glicêmico, lipídios e pressão arterial, sendo a com 15.428 pessoas, que comparou di erentes proporções de
perda de peso sustentada de ≥ 7% a ideal.38 ingestão de carboidratos e risco de mortalidade. Foi eito um
seguimento de 25 anos, e os achados oram que tanto altas
Macronutrientes quanto baixas porcentagens de carboidratos na dieta oram
associadas a aumento da mortalidade, com risco mínimo ob-
servado em 50 a 55% da ingestão de carboidratos.
Carboidratos Ademais, em uma revisão sistemática seguida de meta-
nálise, Reynolds e colaboradores (2019) trazem in ormações
A distribuição ideal de macronutrientes, incluindo os car- importantes sobre indicadores e marcadores de qualidade de
boidratos, pode variar de acordo com os objetivos e metas in- carboidratos. A pesquisa oi solicitada pela OMS para in or-
dividualizados.1-3 mar o desenvolvimento de recomendações atualizadas em
Embora existam inúmeros estudos com di erentes propor- relação à ingestão de carboidratos. Quanto ao consumo de
ções de carboidratos, ainda não é possível a rmar uma pro- cereais integrais em estudos de dose-resposta, o consumo de
porção especí ca desse nutriente para pessoas com diabetes e 15 g/dia oi associado positivamente ao controle do DM2.46
se essa proporção é di erente da população em geral.1 Diretrizes internacionais sobre diabetes lançadas nos úl-
Vale destacar que a OMS não recomenda concentrações timos anos re orçam com alto grau de evidência (A) a impor-
in eriores a 130 g/dia para adultos, por ser uma importante tância da inclusão de cereais integrais como parte da alimen-
onte de substrato energético cerebral e para outros processos tação diária.1-3
metabólicos.5,39
Como o carboidrato é o nutriente que exerce maior in- Índice glicêmico
uência na variabilidade glicêmica pós-prandial, as evidên-
cias atuais sugerem que o tipo de carboidrato independente da Embora a literatura sobre índice glicêmico (IG) e carga
proporção tem grande relevância.39 Isso porque carboidratos, glicêmica (CG) em indivíduos com diabetes seja controver-
quando consumidos na orma de açúcares ou amido, apre- sa em determinados aspectos, reduções de HbA1c de 0,2 a
sentam respostas di erentes daqueles consumidos prioritaria- 0,5% oram demonstradas em alguns estudos, após a inclusão
mente com bras, compostos bioativos, vitaminas, minerais e de dietas com baixo IG.47,48 Nesse sentido, algumas socieda-
baixo teor de gorduras. Além disso, a resposta pode ser mais des recomendam especi camente o uso de dietas de baixo IG
lenta e menos exacerbada con orme a orma de consumo.39 como estratégia primária para o melhor controle do diabetes.4
A individualização da avaliação alimentar e do plano ali- No entanto, ainda em razão da complexidade dos dados
mentar tem como objetivo identi car as características des- disponíveis, muitas vezes é di ícil discernir o e eito indepen-
se consumo e adequá-las às metas glicêmicas propostas.1,39 dente da bra em comparação com o IG sobre o controle gli-
Embora não exista uma proporção xada, a redução de car- cêmico ou outros resultados.10,46,47,49 Apesar disso, é consenso
boidratos não deve ser tão acentuada a ponto de promover que a qualidade e a quantidade dos carboidratos consumidos
aumento no consumo de ácidos graxos saturados, já sabida- a etam a resposta glicêmica e, também, que a observação do
mente relacionados ao aumento da prevalência de doença IG e da CG possa trazer bene ícios adicionais quando o total
cardiovascular (DCV) nessa população.3 de carboidratos da re eição é contabilizado (B).1,3 Para dimi-
Muitos estudos têm sido conduzidos a m de xar uma nuir a resposta glicêmica da ingestão dietética, alimentos com
quantidade ótima de carboidratos para pessoas com diabetes. alto IG podem ser substituídos por alimentos de baixo IG, so-
Revisões sistemáticas e metanálises com estudos que avalia- bretudo quando consumidos de maneira isolada.
ram dietas entre 4 e 45 g por dia não demostraram e eitos Embora o IG não tenha trazido resultados expressivos na
consistentes na redução da HbA1c. Entretanto, o consumo redução da HbA1c, o conceito atual de tempo no alvo para
reduzido de carboidratos, quando associado a gorduras mo- a glicemia pode avorecer mais estudos nesse campo. Isso
noinsaturadas, bras e atividade ísica, trouxe resultados em porque o IG auxilia na predição da glicemia pós-prandial, es-
relação ao per l lipídico, à pressão arterial e perda de peso em pecialmente de alimentos isolados e as utuações inerentes a
pessoas com DM2.40 esse consumo.39
No entanto, o seguimento após 1 ano daqueles que cum-
priram a dieta low carb (LC) ou baixa em carboidratos, versus Açúcares
a dieta normal nesse nutriente, não oi di erente, analisando
especi camente o quanto as pessoas conseguem seguir por Os açúcares livres re erem-se aos monossacarídeos (glico-
longo tempo a restrição de carboidratos.41-44 se, galactose e rutose) e aos dissacarídeos (sacarose ou açúcar
O estudo PURE (Te Prospective Urban Rural Epidemiology) de mesa) adicionados a alimentos e bebidas, estando natural-
avaliou a associação dos macronutrientes com as doenças car- mente presentes no mel, nos xaropes e nas rutas. Pesquisas
diovasculares e encontrou associação entre a ingestão excessi- demonstram que a substituição de sacarose por amido (até

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Princípios gerais da orientação nutricional no diabetes mellitus

35% do valor energético) pode não a etar o controle glicêmico gulem a comercialização de produtos alimentares e bebidas não
e os níveis lipídicos.10 Como, entretanto, as preparações com alcoólicas ricos em açúcares.50
sacarose são geralmente hipercalóricas, a substituição, quan- A diminuição da sacarose pela indústria alimentícia não
do realizada, deve ser cuidadosa. deve ser sinônimo de um aumento expressivo de edulcorantes
Sacarose e alimentos contendo sacarose não são proibidos para e outros aditivos em produtos industrializados. A pre erência
indivíduos com diabetes, uma vez que não aumentam a glicemia por alimentos in natura, e minimamente processados, e a mo-
mais do que outros carboidratos, quando ingeridos em quanti- deração no consumo de alimentos processados e ultraproces-
dades equivalentes. Dessa orma, a sacarose pode ser inserida no sados devem ser prioridades para toda a população, com ou
contexto de uma alimentação saudável. No entanto, se adicionada sem diabetes.17
à re eição, deve ser substituição de outras ontes de carboidratos e Quanto aos princípios da alimentação saudável delibe-
compensada com doses adicionais de insulina (A).1,3,50,51 rados pelas sociedades cientí cas, é consenso a importância
Como mencionado, quando do consumo de preparações de incentivar o consumo de carboidratos a partir de vegetais,
que contenham sacarose por indivíduos com sobrepeso e obe- rutas, grãos integrais, legumes e produtos lácteos, evitando-
sidade, vale ressaltar que elas podem ter altas concentrações ca- -se ontes de carboidratos que contenham altas concentrações
lóricas. Nesse sentido, a OMS recomenda para a população em de gorduras, açúcares e sódio.1,2,17
geral, desde 2015,50 que a ingestão de sacarose não ultrapasse
5% do VE diário. Em nota técnica nº 01/2017, a Sociedade Low carb
Brasileira de Diabetes incluiu como recomendação porcenta-
gem de 5% também para quem tem diabetes. Destaca-se que O uso da estratégia LC tem atraído muita atenção nos últi-
a recomendação de até 10% de sacarose por dia é o mínimo mos anos, com artigos sugerindo que essa deve ser a aborda-
para bene ciar a saúde. No entanto, reduzir essa porcentagem gem de gerenciamento para diabetes. No entanto, a de nição
para 5% parece proporcionar e eitos positivos adicionais.50 A de um LCD (low carb diet) é inconsistente. Feinman e colabo-
recomendação deve ser clara para o consumo de açúcares ocul- radores (2015)52 de niram a LCD como menos que 45% de
tos em alimentos industrializados, especialmente em bebidas energia de carboidratos. O estudo baseia-se no ato de que,
açucaradas e alimentos ultraprocessados (A), responsáveis por antes da epidemia da obesidade, o percentual de carboidratos
inúmeros problemas de saúde, como obesidade, excesso de da dieta continha cerca de 43%.
peso e cáries, tendo sido determinada com base na análise de As proporções para de nição de quantidade de carboidra-
dados cientí cos mais recentes que mostram a relação entre tos em estratégias LC podem variar com o país ou a região,39
açúcar e peso corporal. Para a OMS, é preciso adotar políti- entretanto, no Brasil, a classi cação de 26 a 45% é bastante
cas públicas que estimulem hábitos alimentares mais saudáveis, aceita. O Quadro 2 indica essa classi cação com relação à
que promovam mudanças na rotulagem de alimentos e que re- dose de carboidratos na alimentação.

Quadro 2. Classi cação dos percentuais de carboidratos na dieta.


Carboidrato (%) Gramas
Habitual – DRI 45 a 65 Individualizado
Low carb diet (LCD) 26 a 45 < 130/dia
Very low carb (VLC) < 26 Individualizado
Dieta cetogênica com muito baixo carboidrato (VLCKD) < 10 20 a 50
Adaptado de Feinman RD et al., 2015.52

Alguns estudos indicaram melhora do controle glicêmico tratamento oi observada redução da necessidade de uso de
e da sensibilidade à insulina ao comparar dietas com baixa medicamentos para diabetes.61,62
concentração de carboidratos, re orçando que dietas com bai- O estudo Direct, conduzido com indivíduos com DM2 sub-
xo teor desse nutriente podem ser bené cas.53-56 Outros estu- metidos a dietas de muito baixas calorias, tiveram achados de re-
dos, porém, não veri caram di erença signi cativa no contro- missão do diabetes. Entretanto, é importante salientar que o proto-
le glicêmico de indivíduos em dieta reduzida de carboidratos colo aplicado inclui dieta VLCD (very low calories diet) com cerca
em comparação com níveis de ingestão de carboidrato mais de 825 a 853 kcal/dia. Não houve restrição de carboidratos nesse
elevados.57-60 Apesar dos resultados inconclusivos de diversos protocolo, sendo que a dieta de ase inicial oi de 59% de carboi-
estudos, tem-se por consenso que a monitoração da quanti- dratos, 13% de gordura, 26% de proteína e 2% de bra por 3 meses,
dade de carboidratos das re eições é uma estratégia útil para seguida por dieta de reintrodução de alimentos de 2 a 8 semanas
melhorar os níveis glicêmicos pós-prandiais. com 50% de carboidratos, 35% de gordura e 15% de proteína.63,64
As diretrizes britânicas de diabetes de 20182 trazem que a Não oram encontrados estudos que reportam a segurança
adesão em longo prazo a uma dieta LC é baixa. Em estudos de dietas muito baixas em carboidratos em pessoas com diabe-
randomizados publicados recentemente, oi observado o con- tes, e que essas dietas, quando extremamente restritivas, têm
trole adequado entre 3 e 6 meses de dieta e perda de adesão e eitos cetogênicos e podem ser preocupação àqueles com risco
após 12 e 24 meses. Entretanto, também citam que durante o de cetoacidose ou em uso de inibidores da SGL 2 ou insulina.2,3

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Princípios gerais da orientação nutricional no diabetes mellitus

Em publicação recente, Nutrition Terapy or Adults With Já uma metanálise realizada por intermédio da OMS para
Diabetes or Prediabetes: A Consensus Report, a ADA indica propor novas recomendações de bras sugere que o consumo
o termo MN (medical nutrition therapy) como estratégia un- de bra dietética total não seja in erior a 25 a 29 g por dia com
damental para o manejo do diabetes, a qual deve ser conduzi- bene ícios adicionais para consumo acima de 30 g. 46
da por pro ssional nutricionista legalmente habilitado e com O alcance dessa meta pelos pacientes deve ser, entretan-
experiência no manejo do diabetes, visto que é uma patologia to, planejado individualmente, uma vez que muitos não estão
de múltiplas aces e requer cuidado intensivo.2 Dessa orma, habituados ao consumo de bras, o que pode ocasionar des-
a adoção ou não de dietas restritas em carboidratos deve ser con ortos gástricos e intestinais.
sempre acompanhada por um pro ssional que re orce, junto A proporção de bra solúvel, ainda que não xada, deve
ao paciente, quais são as estratégias disponíveis e qual é a mais ser o su ciente para promover os bene ícios na resposta glicê-
adequada para cada caso (A), re orçando que LC não é a reti- mica. A Canadian Diabetes Association recomenda entre 10 e 20
rada total dos carboidratos da dieta. g ao dia de bra solúvel,3 enquanto a Sociedade Brasileira de
Cardiologia indica 6 g com bene ícios no controle lipídico.68
Fibras Entretanto, a tolerância é individual e deve ser considerada
para a prescrição.
Algumas bras dietéticas podem atenuar a resposta à in- Recentemente, o consumo de bras, especialmente bras
sulina e, assim, auxiliar na prevenção do DM2. Diversas evi- prebióticas, estão relacionadas com a melhora da saúde intes-
dências epidemiológicas apontam para esse e eito protetor da tinal. A dieta rica em bras, quando associada ao consumo
bra e revelam que os e eitos bené cos são decorrentes, prin- de um padrão alimentar mediterrâneo, promove aumento
cipalmente, da ingestão de bras solúveis.65-67 da produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) por
As bras consumidas atuam de maneira diversa no con- meio da ermentação bacteriana. Os mecanismos associados
trole do diabetes. As solúveis apresentam e eitos bené cos na à maior circulação de butirato, acetato e propionato no lúmen
glicemia e no metabolismo dos lipídios, enquanto as insolú- intestinal reduz a endotoxina LPS (lipopolissacarídeo), que
veis agem contribuindo para a saciedade e para o controle em estudos recentes é ortemente associada à resistência à in-
de peso. Além disso, ambas atuam na preservação da saúde sulina.2,70,71
intestinal.65,66 As bras são encontradas nos vegetais, princi- Com relação à bra prebiótica, não se tem xado uma
palmente em olhas, talos, sementes e bagaços. As principais recomendação especí ca em diabetes, mas se acredita que o
ontes alimentares são rutas, verduras, legumes, arelo de consumo mínimo de 4 g ao dia de ruto-oligossacarídeos ou
aveia e de cevada, semente de linhaça, além de leguminosas inulina já contribuiria com a melhora da microbiota intesti-
como eijão, ervilha, grão de bico e lentilha.12,46,67,68 O consumo nal. Os prebióticos podem ser obtidos na orma natural em
de três ou mais porções de cereais integrais é indicado para o sementes e raízes de vegetais como chicória, cebola, alho, al-
alcance da recomendação (B).4,46 cacho ra, aspargo, cevada, centeio, grãos de soja, grão-de-bico
Estudos evidenciam que a adição de bra solúvel à rotina e tremoço. Há indicativos de que a bra industrializada é mais
alimentar, em produtos como aveia, eijões, cevada, psyllium, bem tolerada que a advinda dos alimentos.72,73
entre outros, auxilia no retardo do esvaziamento gástrico, Dessa orma, de acordo com novas evidências, recomen-
contribuindo positivamente para o controle glicêmico pós- da-se a quantidade de 20 g de bra dietética para cada 1.000
-prandial e dos lípides séricos (B).68 kcal ingeridas para homens e mulheres com DM2 e, no mí-
Alguns estudos de coorte demonstram que dietas ricas em nimo, 14 g/1.000 kcal para pessoas com DM1 sem síndrome
bra dietética estão associadas a menor risco de DCV. A Atua- metabólica.2,3,39
lização da Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da
Aterosclerose re orça a evidência de que o consumo de bras Proteínas
solúveis está associado à redução do colesterol da lipoproteína
de baixa densidade (LDL-c) e do colesterol total (A).68 Ade- Não há evidências de que a ingestão proteica usual para
mais, estudo realizado para avaliar a suplementação de bras a maioria dos indivíduos (1 a 1,5 g/kg de peso corporal/
solúveis em pacientes dislipidêmicos e com diabetes observou dia), representando de 15 a 20% da ingestão total de ener-
que, após 12 semanas de consumo de 6 g de bra solúvel extraí- gia, precise ser modi icada para aqueles com diabetes e
da da arinha da casca do maracujá, pacientes suplementados unção renal preservada. 3
tiveram redução dos níveis de glicose (p = 0,035).69 A prescrição de proteína deve ser individualizada, con-
A escolha de alimentos ou suplementos de bras permite siderando-se o diagnóstico nutricional, as necessidades de
ao pro ssional decidir o melhor tipo de bra e a orma de ad- crescimento e desenvolvimento e o controle glicêmico. Além
ministração na dieta, tendo em vista a variedade do consumo disso, essa ingestão em gramas por kg/dia deve ser mantida
alimentar da população brasileira. Devido aos e eitos bené- ou aumentada com dietas de baixo consumo energético.74
cos e cienti camente comprovados do consumo de bras, Em indivíduos com DM2, a proteína ingerida parece au-
as associações canadense e britânica nas diretrizes de 20182,3 mentar a insulina sem aumentar as concentrações plasmáticas
sugerem o consumo mínimo de 20 g/1.000 kcal. A Socieda- de glicose. Assim, ontes de carboidratos ricos em proteínas não
de Brasileira de Cardiologia recomenda, para o controle dos devem ser consideradas para tratar ou prevenir hipoglicemia.75
lípides séricos, o consumo de no mínimo 25 g ao dia para a Algumas pesquisas sugerem o aumento da ingestão usual
prevenção de DCV (A).68 de proteínas para 1,5 a 2 g/kg de peso corporal/dia, ou 20 a

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Princípios gerais da orientação nutricional no diabetes mellitus

30% da ingesta total de energia, durante o processo de redu- râneo oi associada a menor recorrência de eventos cardiovas-
ção de peso em pacientes com sobrepeso e obesos com DM2 culares e mortalidade por todas as causas (A).91
e unção renal preservada.74 O estudo PREDMED-Plus, publicado recentemente, reve-
Para aqueles com doença renal (albuminúria e/ou taxa de lou melhora tanto nos parâmetros cardiovasculares como no
ltração glomerular reduzida estimada), a proteína dietética controle glicêmico em indivíduos com diabetes como naque-
deve ser mantida na dose diária recomendada de 0,8 g/kg de les com risco de desenvolver a doença (A).92
peso corporal/dia.3 Não é indicado diminuir a quantidade de O estudo PURE mostrou que a substituição parcial de
proteína dietética abaixo da dose diária recomendada, pois ácidos graxos saturados por insaturados melhorou atores
isso não altera as medidas glicêmicas, as medidas de risco car- de risco cardiovasculares, como o colesterol LDL e a pressão
diovascular nem o curso da taxa de ltração glomerular.2,39,75-77 arterial.93 Por outro lado, esse estudo revelou que a substitui-
Ao usar uma dieta baixa em proteínas, a monitoração do ção de ácidos graxos saturados por carboidratos se associou a
estado nutricional deve ser contínua para a prevenção de e eitos adversos sobre os lípides plasmáticos. Além disso, ape-
desnutrição. A quantidade e a qualidade da proteína devem sar de o estudo PURE ter mostrado aumento de mortalidade
ser adequadas para atender às necessidades de aminoácidos total (mas não cardiovascular) com a elevação do consumo
essenciais.3 de carboidratos, é importante salientar que os indivíduos que
É importante destacar que, após o início de terapia renal consumiam a menor quantidade de carboidratos e apresen-
substitutiva, as recomendações nutricionais devem ser reajus- taram menor mortalidade não consumiam excesso de ácidos
tadas, pela perda de nutrientes durante o procedimento, prin- graxos saturados (B).94
cipalmente a proteica.1 A ADA rea rma que os dados sobre o percentual ideal de
gordura na dieta permanecem inconclusivos e reitera que a
Lipídios qualidade pode ser mais importante do que a quantidade de
gordura da dieta (B).1 A recomendação quanto à quantidade
As principais diretrizes internacionais não se undamen- de gorduras na dieta (de 20 a 35% das calorias) deve consi-
tam exclusivamente na recomendação alimentar baseada no derar as condições clínicas, o per l lipídico e a presença de
percentual de gorduras da dieta, mas sugerem o seguimento atores de risco cardiometabólico. Re orça a recomendação de
de padrões alimentares saudáveis. Estes contemplam a retira- que o consumo de ácidos graxos saturados deve ser controla-
da de ácidos graxos trans, a inclusão de alimentos ontes de do, uma vez que se associa a maior mortalidade entre indiví-
ácidos graxos monoinsaturados (MONO) e poli-insaturados duos com diabetes95 e os ácidos graxos trans devem ser evita-
(POLI) e o controle no consumo de ácidos graxos saturados, dos em razão da sua orte associação a DCV96-99 e seu impacto
priorizando o consumo de carnes magras, leite desnatado e sobre a mortalidade cardiovascular (A).100
consumo mínimo de carnes processadas. A dieta do Medi- A suplementação com ácidos graxos ômega-3 não se
terrâneo e a dieta DASH (Dietary Approaches to Stop Hyperten- mostrou e ciente na redução da HbA1c, glicemia e insulina
sion), as quais têm, respectivamente, aumento da razão entre de jejum, de acordo com os dados de meta-análise,101 e não
ácidos graxos monoinsaturados e saturados e menor percen- melhorou a resistência à insulina em pessoas com DM2.102
tual de lipídios totais, são aquelas que melhor representam as O estudo ORIGIN, conduzido em indivíduos com intolerân-
características do tipo de alimentação recomendada atual- cia à glicose, glicemia de jejum alterada e pessoas com DM,
mente (A).1,78 mostrou que a suplementação com ômega-3 não reduziu a
O seguimento desses padrões alimentares é preconiza- taxa de eventos cardiovasculares nesses indivíduos.103
do pelo American College o Cardiology e pela American Heart Com relação ao colesterol alimentar, a AHA deixou de es-
Association (AHA),79 que elaboraram a atual Diretriz para o tabelecer um limite máximo para o seu consumo, em razão
Controle do Colesterol Plasmático, a qual indica o consumo da baixa evidência de seu e eito sobre complicações atribuí-
de carnes magras, peixe, leite desnatado e rutas oleaginosas das a aterosclerose,104 AVC,105-107 e DAC (B).108 Nesse sentido,
como nozes e castanhas e a inclusão de óleos ricos em MONO o Guia Alimentar Americano (2015-2020)109 seguiu a mesma
e POLI.80 Além disso, a AHA79 e o Guia Alimentar America- orientação, porém reiterou a recomendação do IOM quanto
no recomendam evitar o consumo de óleos tropicais. Essas ao bene ício de baixo consumo de colesterol na dieta110 e a r-
recomendações são indicadas à prevenção primária81 e secun- mou que essa mudança não signi ca que o colesterol alimen-
dária82 da DCV aterosclerótica na população em geral e indi- tar tenha deixado de ser importante.
víduos com DM. Alguns estudos randomizados controlados De ato, uma nova análise sobre o e eito do colesterol ali-
mostraram ausência de bene ício da dieta do Mediterrâneo mentar oi eita recentemente no estudo Li etime Risk Poolin
sobre a concentração plasmática de colesterol em indivíduos Project, o qual avaliou os dados de importantes estudos de
saudáveis,83-85 mas mostrou e etividade na sua redução em hi- coorte, entre eles o Atherosclerosis Risk in Communities (ARIC),
percolesterolêmicos86 e indivíduos com síndrome metabólica o Coronary Artery Risk Development in Young Adults (CARDIA),
(B).87 Embora não tenha induzido redução da colesterolemia o Framingham Heart Study (FHS), o Framingham O spring Stu-
em pessoas com diabetes, a dieta do Mediterrâneo melhorou dy (FOS), o Jackson Heart Study (JHS) e o Multi-Ethnic Study
a lipemia pós-prandial, como mostrado no ensaio randomi- o Atherosclerosis (MESA), e sugere que a elevação do consu-
zado “Cordioprev” (A),88 e em pessoas com e sem diabetes di- mo de colesterol pode contribuir, de orma dose-dependente,
minuiu a aterogenicidade das partículas de LDL89 e aumentou para o aumento da incidência de doenças cardiovasculares e
a uncionalidade das HDL (B).90 A adesão à dieta do Mediter- da mortalidade total.111,112

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Princípios gerais da orientação nutricional no diabetes mellitus

Micronutrientes Estudos mostram bene ícios de alimentos uncionais com


potenciais e eitos antioxidantes, como ca é, chá, cacau e cane-
Vitaminas e minerais la.124-126 A modulação do estresse oxidativo por antioxidantes
parece ter resultado positivo, mas estudos de intervenção não
A suplementação de vitaminas e minerais não é indicada recomendam suplementação de antioxidante com o único
para o controle do diabetes por alta de evidências cientí cas.1 propósito de prevenir o DM2.127 Uma alimentação rica em
O consumo de uma dieta equilibrada e variada, na maioria das rutas, hortaliças e oleaginosas pode proporcionar melhor
vezes, é su ciente para o erecer quantidades adequadas de mi- combinação de antioxidantes.128 Ademais, a suplementação
cronutrientes. odavia, os pacientes devem ser submetidos a rotineira de antioxidantes não é aconselhável, pela alta de
uma minuciosa anamnese clínica com o objetivo de diagnosti- evidências sobre a e cácia e pela preocupação relacionada
car possíveis perturbações, visto que estas tendem a ser comuns com a segurança em longo prazo (A).1
em indivíduos com diabetes. As principais causas são perdas Finalmente, suplementos à base de ervas não são reco-
excessivas na urina, diminuição da capacidade intestinal de ab- mendados a indivíduos com diabetes129 e podem apresentar
sorção e baixa ingestão dietética.113 O uso prolongado de alguns interações medicamentosas.130 Aqueles disponíveis no merca-
medicamentos, como a met ormina, pode causar de ciência do não são padronizados e variam em quantidade de ingre-
de ácido ólico e vitamina B1.114 Uma das prováveis causas da dientes ativos.
neuropatia diabética é a de ciência de vitamina B12, também
evidente em indivíduos com diabetes e relacionada com o mau Bebidas alcoólicas
controle glicêmico e complicações microvasculares. Os e eitos
positivos da vitamina D seriam a sensibilidade à insulina e a sua As mesmas precauções direcionadas à população em geral
secreção, bem como a diminuição do estado in amatório.115 sobre o consumo de álcool aplicam-se aos indivíduos com dia-
odavia, não há evidências su cientes quanto ao bene ício da betes.1 Bebidas alcoólicas consumidas durante uma re eição,
suplementação de vitaminas em indivíduos com diabetes que incluindo carboidratos, podem levar, inicialmente, a maiores
não apresentem de ciência desses nutrientes (A).1 níveis glicêmicos e insulinêmicos em pacientes com DM2. De-
Dentre os minerais, as de ciências são mais evidentes no pendendo da natureza dos carboidratos na re eição, ou em pe-
metabolismo do zinco e do magnésio. Uma recente metaná- ríodo de jejum, poderá ocorrer hipoglicemia reativa.131
lise mostrou que a suplementação de zinco está associada ao O álcool a eta a alimentação e a glicemia, prejudicando
melhor controle glicêmico.116 odavia, a elevada concentra- o controle do DM2. Como inter ere na ação da insulina, dos
ção plasmática ou sérica do mineral pode aumentar o risco secretagogos de insulina e do glucagon, aumenta o risco de hi-
de DM2 na população em geral.117 O zinco parece regular poglicemia em indivíduos que azem uso dessas substâncias.
a unção das ilhotas pancreáticas e promover a homeosta- Pode, também, reduzir os níveis glicêmicos e a consciência de
se glicêmica.118 Indivíduos com diabetes sem de ciência de hipoglicemia (o álcool e a hipoglicemia têm e eitos adversos
zinco não apresentam e eitos adicionais da suplementação.119 independentes, mas aditivos, sobre a unção cognitiva). A re-
A concentração circulante de magnésio está inversamente dução da ingestão energética, que pode incluir consumo di-
associada à incidência de doenças crônicas, hipertensão e minuído de álcool (1 g de álcool = 7 kcal), é importante para o
DM2. Ainda não se sabe ao certo a aixa ótima de concen- controle do peso em indivíduos com sobrepeso ou obesidade,
tração do nutriente com relação à prevenção das doenças.120 como parte da gestão do diabetes.4
A suplementação de magnésio pode produzir um e eito Para adultos com diabetes, a ingestão diária de álcool deve
avorável na glicemia de jejum, per l lipídico e pressão ar- ser limitada a uma dose ou menos para mulheres e a duas
terial.121 A suplementação de micronutrientes não deve ser doses ou menos para homens.132 Entendem-se por uma dose
prática rotineira, pois precisa ser individualizada con orme 150 mL de vinho (uma taça), 360 mL de cerveja (uma lata
a sua de ciência. De qualquer modo, mais estudos são ne- pequena) ou 45 mL de destilados (uma dose com dosador-pa-
cessários para comprovar os reais e eitos da suplementação drão), medida equivalente a 15 g, em média, de etanol. Nesses
e avaliar possíveis e eitos colaterais (A).1 casos, deve ser ingerido com carboidrato durante o consumo
Para atingir as necessidades diárias de vitaminas e mine- da bebida ou antes, sendo necessário, por vezes, ajuste da dose
rais, indivíduos com diabetes devem consumir o mínimo de de insulina ou dos secretagogos de insulina. Se o exercício í-
duas a quatro porções de rutas, pelo menos uma rica em vita- sico acompanhar o consumo de bebida alcoólica, em período
mina C ( rutas cítricas), e de três a cinco porções de hortaliças noturno, a glicemia deverá ser monitorada durante a noite e
cruas e cozidas. Nozes, castanhas e sementes comestíveis tam- no dia seguinte.1
bém são excelentes ontes de micronutrientes, e inúmeros es- A Canadian Diabetes Association, por sua vez, recomenda o
tudos apontam para bene ícios à saúde.122 É importante variar limite de duas doses diárias e menos de 10 drinques por sema-
os tipos e as cores desses vegetais, pois cada cor corresponde a na para mulheres e três doses diárias ou menos de 15 drinques
um per l nutricional especí co (A).1 Em alguns grupos, como por semana para homens. A ingestão de álcool, dependendo
idosos, gestantes ou lactentes, vegetarianos restritos, aqueles da sensibilidade individual e da quantidade, pode mascarar
em restrição calórica ou de carboidratos, a suplementação de sintomas de hipoglicemia, reduzir a produção hepática de
multivitamínicos pode ser necessária.1,123 Outras exceções são glicose e aumentar a produção de corpos cetônicos.3 A inges-
eitas ao olato, para a prevenção de doenças congênitas, e ao tão excessiva de etanol (> 30 g/dia) é associada a alteração
cálcio, para a prevenção de doença óssea. da homeostase glicêmica, elevação da resistência à insulina,

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Princípios gerais da orientação nutricional no diabetes mellitus

hipertrigliceridemia e pressão arterial, podendo, também, ser Dentre os métodos de contagem de carboidratos, estão a lis-
ator de risco para acidente vascular cerebral.3 Restrição total ta de equivalentes ou substitutos e a contagem em gramas.136 O
de bebidas alcoólicas é indicada aos seguintes grupos de in- método da contagem em gramas possibilita o ajuste das doses de
divíduos com diabetes: adolescentes, gestantes, lactantes, que insulina rápida ou ultrarrápida a serem aplicadas antes das re ei-
tenham pancreatite ou hipertrigliceridemia grave, dependen- ções com base na quantidade consumida de carboidratos.135,137,138
tes de álcool e com neuropatia diabética avançada, em virtude A maioria dos pacientes necessita de treinamento especí -
dos graves e eitos deletérios.133 co, realizado por nutricionista experiente, a m de estabelecer a
O pro ssional de saúde deve discutir o consumo de álcool quantidade de carboidratos das re eições, aprendendo a medir
com seus pacientes, para in ormá-los do possível ganho de e/ou a estimar o tamanho das porções.135,139 Para indivíduos em
peso e dos riscos de hipoglicemia. esquema diário de insulina xo, com tratamento alimentar ex-
clusivo e/ou em uso de antidiabéticos orais, o planejamento de
Contagem de carboidratos re eição deve en atizar um padrão de consumo de carboidratos
relativamente xo, tanto em tempo como em quantidade.1
como erramenta nutricional As pessoas com diabetes, mesmo em contagem de car-
boidratos, são aconselhadas a evitar bebidas açucaradas (in-
O monitoramento da ingestão de carboidratos, seja por cluindo sucos de ruta concentrados), o que parece contribuir
contagem de carboidratos, seja por estimativa baseada na expe- para controlar a glicemia e o peso, reduzir o risco de DCV e
riência, continua a ser undamental para o alcance do contro- esteatose hepática. Além disso, o consumo de alimentos com
le glicêmico (B).134 Indivíduos com DM1, DM2 ou DMG, que adição de açúcar tende a deslocar escolhas alimentares mais
aplicam insulina no horário das re eições, podem ser orienta- saudáveis e mais nutritivas.1
dos sobre a necessidade de integrar a administração de insuli- Indivíduos que consomem re eições contendo mais pro-
na ao momento da ingestão de carboidratos. Para aqueles com teína e gordura do que o habitual também podem precisar de
horários variáveis de re eições e/ou consumo de carboidratos, é ajustes na dose de insulina na hora das re eições para com-
importante o aconselhamento sobre a relação entre a ingestão pensar as excursões glicêmicas pós-prandiais tardias.140,141
de carboidratos e as necessidades de insulina. Além disso, ins-
truí-los sobre a contagem de carboidratos para o planejamento Contagem de proteínas
de re eições pode ajudá-los a modi car e etivamente a dosa-
gem de insulina de uma re eição a outra e melhorar o controle e gorduras
glicêmico.1 Para muitos indivíduos com diabetes, a parte mais
desa adora do tratamento é seguir um plano alimentar de ni- Para pessoas com DM1 que recebem um programa de
do e xo. Não existem padrões para todos os indivíduos, e uma terapia insulínica flexível, recomenda-se a educação sobre
avaliação individual deve ser eita em cada caso.1 como usar a contagem de carboidratos e, em alguns casos,
A contagem de carboidratos é uma importante erramen- como considerar o teor de gordura e proteína para determi-
ta no tratamento do diabetes e deve ser inserida no contexto nar a dosagem de insulina nas re eições para melhorar o con-
de uma alimentação saudável.135 al estratégia prioriza o total trole glicêmico.1 Embora o carboidrato seja o macronutriente
de carboidratos consumidos por re eição, considerando que predominante que impacta a glicemia pós-prandial, diversos
a quantidade é o maior determinante da resposta glicêmica estudos têm demonstrado que a gordura e a proteína da dieta
pós-prandial, porque os carboidratos são totalmente conver- também podem a etar signi cativamente o per l glicêmico
tidos em glicose, em um período que varia de 15 minutos a 2 pós-prandial. Dessa orma, ajustar a dose de insulina pran-
horas, enquanto de 35 a 60% das proteínas e somente 10% das dial para esses macronutrientes também pode ser bené co. O
gorduras passam por essa conversão, em um período de 3 a 4 excesso desses nutrientes pode in uenciar a glicemia, aumen-
horas, para as primeiras, e de 3 a 5 horas, para as últimas.133 tando o risco de hiperglicemia tardia, ou seja, depois de 2 a 8
Reconhecida como um método que permite maior exi- horas após a re eição.142,143 Nesse sentido, buscar erramentas
bilidade nas escolhas alimentares desde a publicação do es- para otimizar o controle metabólico pós-prandial, por meio
tudo DCC , a contagem de carboidratos pode ser utilizada de algoritmos e tecnologia para de nir a dose e os padrões de
por qualquer pessoa com DM, tendo a sua aplicação atual- administração do bolus de insulina prandial, parece ser um
mente mais consolidada no tratamento do DM1.103 A par- recurso avorável.
ticipação de indivíduos com esse tipo de diabetes em pro- Para pessoas em uso de sistema de in usão contínua de in-
gramas intensivos de educação, envolvendo insulinoterapia sulina, as doses extras para a contagem de proteínas e gordu-
e contagem de carboidratos, tende a resultar em melhora do ras tornam-se mais seguras. Isso porque existe a possibilidade
controle glicêmico (A). 1 do uso de bolus di erenciados, como o estendido ou duplo.
A secreção siológica de insulina varia de acordo com a Esses bolus podem ser programados para que a insulina seja
glicemia, o tamanho da re eição e sensibilidade à insulina. Por liberada em um tempo determinado e não somente imedia-
isso, a educação nutricional do paciente deve contemplar o to, coincidindo com o padrão tardio de conversão de glicose
ajuste da dose prandial com base na glicemia prévia, na quan- proveniente desses nutrientes. Em caso de múltiplas injeções
tidade de carboidrato ingerido, na sensibilidade a insulina e diárias, para não haver hipoglicemia precoce, a dose de insu-
na presença de atividade ísica. Além disso, a antecipação do lina extra para proteínas e gorduras deve ser eita em torno de
bolus pode ser e caz e deve ser considerada.1 1 hora após a re eição.144

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Princípios gerais da orientação nutricional no diabetes mellitus

Destaca-se que, apesar de todos os avanços sobre o conheci- rá controlar sua resposta glicêmica com base na quantidade de
mento do e eito da proteína e gordura em re eições mistas na gli- carboidratos que ingeriu. No entanto, uma abordagem mais sim-
cemia pós-prandial, até o momento não está estabelecido o algo- ples para o planejamento de re eições, en atizando o controle de
ritmo mais seguro e de ácil utilização para de nir a dose do bolus porções e as escolhas alimentares saudáveis, pode ser uma alter-
prandial. Logo, de nir metas realistas, estimular a monitorização da nativa e caz à contagem de carboidratos para alguns pacientes,
glicemia e avaliar cada situação de orma individual, além de conta- especialmente idosos e aqueles com baixo grau de al abetização.1
bilizar o carboidrato consumido, parece ser o caminho mais seguro. Deve-se preconizar grande variedade de alimentos nutri-
tivos dos grupos alimentares principais, com ingestão abun-
Recomendações dante de hortaliças (de di erentes tipos e cores), leguminosas,
rutas, cereais (principalmente os integrais), carnes magras,
complementares aves, peixes, ovos, leite, iogurte, queijo e/ou seus derivados,
principalmente os desnatados. Deve-se limitar a ingestão de
O plano alimentar deve assegurar todas as necessidades alimentos ricos em gordura saturada, álcool e sal/açúcar de
nutricionais do indivíduo com diabetes, para que ele alcance adição. Recomenda-se ainda evitar bebidas com adição de
e mantenha um peso corporal saudável.145 Recomenda-se que açúcares, tais como os re rigerantes, as bebidas alcoólicas
o plano seja racionado em cinco a seis re eições, três princi- adoçadas com açúcar, as de rutas, as vitaminas, as energéticas
pais e de duas a três compostas por lanches. Essa recomenda- e as esportivas.131
ção considera os e eitos bené cos desse plano (E), com o erta
constante de micronutrientes e contribuição para a saciedade. Comportamento alimentar
No preparo dos alimentos, deve-se dar pre erência aos gre-
lhados, assados, cozidos no vapor ou até mesmo crus. Alimentos Especialmente no início do acompanhamento nutricional,
com designação diet, light ou zero podem ser indicados no con- é comum que os pacientes apresentem di culdade em aceitar
texto do plano alimentar, mas não de maneira exclusiva, mesmo e implementar as mudanças necessárias no comportamento
porque é importante que a base da alimentação seja composta de alimentar. Muitos indivíduos apresentam resistência à mu-
alimentos in natura e minimamente processados. É importante dança, e outros podem ser rigorosos demais, pela ansiedade
ressaltar a necessidade de respeitar as pre erências individuais e o em mudar em virtude do medo das complicações da doença.
poder aquisitivo do paciente e de sua amília (C).1,17 Nesse sentido, é importante identi car o estágio de pronti-
A contagem de carboidratos é uma erramenta importante dão para mudança de comportamento, a m de ajustar a abor-
por exibilizar as escolhas alimentares, já que o indivíduo pode- dagem nutricional e potencializar a adesão ao tratamento.1

Quadro 3. Estágios de mudança de comportamento e abordagem indicada.


Estágio de mudança Per l do indivíduo Abordagem
Acolher e motivar.
Pré-contemplação Resistente à mudança.
Alertar sobre os riscos de não mudar.
Consciente da necessidade de mudar, Identi car as di culdades e de nir juntos
Contemplação
mas acredita que não é capaz. metas realistas.
Estruturar um plano de mudança de
Decisão Deseja mudar no uturo próximo. comportamento baseado nas habilidades já
existentes. Trabalhar expectativas.
Praticar o plano de mudança.
Ação Já iniciou o processo de mudança. Auxiliar na resolução de problemas e re orçar
comportamentos adequados.
Prevenir recaídas e consolidar as
Manutenção Mantém as mudanças por cerca de 6 meses.
mudanças realizadas.
Adaptado de Toral N; Slater B, 2007;146 Molaison EF, 2002.147

No aconselhamento nutricional, deve-se investigar se o pa- Ciclos de vida e


ciente buscou mudar e como oi essa experiência. É importante
esclarecer que o autocuidado deve ser implementado antes de
situações especiais
surgirem complicações clínicas, re orçando a responsabilidade
do paciente no processo de mudança. Além disso, desconstruir Crianças e adolescentes
mitos e crenças sobre a alimentação auxilia na exibilização da
dieta e avorece a adesão ao tratamento nutricional.148 Portanto, O cuidado nutricional de crianças e adolescentes di ere
o planejamento alimentar deve considerar não apenas as ne- daquele do adulto com DM, em razão das mudanças na sen-
cessidades nutricionais, mas também pre erências alimentares, sibilidade à insulina relacionadas com o crescimento ísico e a
cultura, acesso aos alimentos, motivação e habilidades do pa- maturação sexual. É essencial que a educação, o apoio ao au-
ciente para a mudança de comportamento alimentar. tocontrole do diabetes e as terapias nutricional e psicossocial

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