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AULA 2 – PROCESSO PENAL APLICADO

Classificação dos Atos Jurisdicionais

Sentença

Sentença é o ato que extingue o processo com ou sem julgamento de mérito.


Sentença que extingue o processo sem julgamento de mérito é denominada
sentença terminativa. Sentença definitiva é aquela que extingue o processo
com julgamento de mérito.

Sentença absolutória é aquela que julga improcedente a acusação por


qualquer das razões mencionadas no art. 386 do CPP.

Sentença condenatória é aquela que reconhece a responsabilidade criminal


do acusado em decorrência de uma violação a norma penal incriminadora, nos
termos do art. 387 do CPP.

ATENÇÃO: de acordo com a jurisprudência do STJ não está o órgão


julgador obrigado a rebater todos os argumentos aventados pelas partes,
somente caracterizando negativa de prestação jurisdicional a ausência de
manifestação sobre matéria essencial (EDcl no AgRg no HC nº 653.425/MG,
SEXTA TURMA). A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, embora
admita que o julgador se utilize da transcrição de outros alicerces jurídicos
apresentados nos autos para embasar as suas decisões – no caso, da
sentença condenatória -, ressalta a necessidade também de fundamentação
própria, devendo o julgador expor, ainda que sucintamente, as razões de
suas conclusões (HC nº 501.200/SP, SEXTA TURMA). Consoante a
jurisprudência do STJ deve-se prestigiar, também no processo penal, os
princípios da instrumentalidade das formas e do pas de nullité sans grief,
razão pela qual nulidade dos atos processuais praticados deve ser declarada
somente quando comprovado prejuízo para a parte (AgRg no RECURSO EM
HABEAS CORPUS nº 134.341/SP, Sexta Turma).
Decisão interlocutória (mista ou simples)

A decisão interlocutória mista, também conhecida como decisão com força


de definitiva é aquela que põe fim a uma etapa do procedimento, como por
exemplo, a decisão de pronúncia prevista no art. 413 do CPP (decisão não
terminativa) ou põe fim ao processo sem julgamento de mérito, como por
exemplo, a decisão que rejeita a denúncia ou a queixa, nos termos do art.
395 do CPP (decisão terminativa).

Decisão interlocutória simples é aquela que resolve incidente processual ou


questão referente a regularidade formal do processo sem extinguir o
procedimento ou uma de suas etapas, como por exemplo, o recebimento da
denúncia ou da queixa.

ATENÇÃO: segundo o art. 315, § 2º, do CPP, não se considera


fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou
acórdão, que:      

I - limitar-se à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo,


sem explicar sua relação com a causa ou a questão decidida;     

II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo


concreto de sua incidência no caso;     

III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra


decisão;     

IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de,


em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador;      

V - limitar-se a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar


seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob
julgamento se ajusta àqueles fundamentos;     

VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente


invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em
julgamento ou a superação do entendimento.     
ATENÇÃO: a fixação das astreintes no processo penal tem o objetivo de
assegurar a necessária força imperativa das decisões judiciais, protegendo
a eficiência da tutela do processo e dos interesses públicos nele envolvidos
(AgRg no REsp nº 1.982.698/DF, STJ, Quinta Turma). Ademais, o Superior
Tribunal de Justiça possui entendimento firmado no sentido da
possibilidade de aplicação de astreintes a terceiros não integrantes
da relação jurídico-processual, como WhatsApp, Facebook, Google, ainda
que em sede de processo penal (AgRg no RMS nº 66.496/PE, Quinta
Turma).

ATENÇÃO: o STF fixou a seguinte tese: São ilegais as motivações


padronizadas ou reproduções de modelos genéricos sem relação com o
caso concreto (RE nº 625.263/PR - Tema nº 661 – Informativo nº 1.047,
Plenário).

ATENÇÃO: na lição do STJ o processo penal brasileiro se pauta pela regra


da irrecorribilidade das decisões interlocutórias. Vale dizer, salvo os casos
em que o Legislador expressamente prevê um recurso específico, são
irrecorríveis as decisões não terminativas proferidas no curso do processo
(AgRg no REsp nº 1.947.677/PR, QUINTA TURMA).

Decisão executável, decisão não executável e decisão


condicional

Essa classificação leva em conta a eficácia produzida pela decisão no


sentido de admitir ou não a sua execução imediata.

Decisão executável é aquela que pode ser executada imediatamente, como


por exemplo, a sentença absolutória (art. 596 do CPP).

Decisão não executável é aquela que não admite execução imediata, como
por exemplo, a sentença condenatória com recurso de apelação interposto.

Decisão condicional é aquela que carece de um acontecimento futuro e


incerto, tal como ocorre na suspensão condicional do processo, nos termos
do art. 89 da Lei nº 9.099/95.
Sentença subjetivamente simples, sentença subjetivamente
plúrima e sentença subjetivamente complexa

Sentença subjetivamente simples é aquela proferida por apenas um órgão


monocrático, como por exemplo a sentença do juiz singular.

Sentença subjetivamente plúrima é aquela proferida por órgão colegiado


homogêneo, como por exemplo decisão de Câmara Criminal, como também,
decisão de primeiro grau nos processos que tenham por objeto crimes
praticados por organização criminosa, nos termos do art. 1º, III, da Lei nº
12.694/12.

Sentença subjetivamente complexa é aquela que resulta do pronunciamento


simultâneo de mais de um órgão monocrático (órgão colegiado heterogêneo),
como por exemplo, as decisões do Tribunal do Júri, em que os jurados
julgam o caso penal e o juiz profere a sentença.

ATENÇÃO: de acordo com a doutrina sentença suicida é aquela em que o


dispositivo não se coaduna com a fundamentação, como por exemplo, o juiz
reconhece que não há prova suficiente para condenação do acusado e, na
parte dispositiva da sentença, o condena.

ATENÇÃO: de acordo com a Súmula nº 18 do STJ “A sentença concessiva


do perdão judicial é declaratória da extinção da punibilidade, não
subsistindo qualquer efeito condenatório ”. Assim, a doutrina entende
tratar-se de sentença autofágica porque essa sentença admite ter havido
crime, mas ao mesmo tempo extingue a punibilidade do Estado. Alguns
doutrinadores chamam a sentença que extingue a punibilidade pelo perdão
judicial de absolvição anômala.

Sentença absolutória

As hipóteses de absolvição do acusado estão elencadas no art. 386 do CPP.


Para parte da doutrina pode existir interesse recursal do réu em recorrer
de uma sentença absolutória, tendo em vista o interesse patrimonial, como
por exemplo, réu absolvido pelo inciso VII, recorrer para que o tribunal
reconheça a hipótese do inciso I do art. 386 do CPP.
ATENÇÃO: de acordo com o art. 386, parágrafo único, III, o juiz, na
sentença absolutória aplicará medida de segurança. Trata-se da hipótese de
sentença absolutória imprópria, em que o juiz absolve o inimputável, mas
determina sua internação.

ATENÇÃO: de acordo com o STJ diante da ocorrência de dúvida a respeito


dos fatos narrados na denúncia, deve ser restabelecida a sentença
absolutória, nos termos do art. 386, VII, do Código de Processo Penal,
considerando-se o princípio in dubio pro reo (HC nº 691.058/SP, SEXTA
TURMA).

ATENÇÃO: segundo o STJ a absolvição criminal só afasta a


responsabilidade administrativa quando restar proclamada a inexistência do
fato ou de autoria (AgRg nos EDcl no HC nº 601.533/SP, SEXTA TURMA).
O mesmo raciocínio pode ser aplicado na responsabilidade civil. as instâncias
cível, penal e administrativa são independentes. Desse modo, a sentença
penal absolutória por ausência de provas não repercute no exame do
residual
administrativo, vale dizer, a condenação a uma sanção penal não impede
punição pela Administração Pública pelo residual administrativo, que vai além
dos elementos que tipificaram a conduta delituosa. Com efeito, as esferas
penal, administrativa e cível são independentes, com exceção da sentença
penal absolutória, cujo fundamento esteja ou na negativa de autoria ou na
inexistência do fato (AgInt no AREsp nº 1.822.739/PR, STJ, SEGUNDA
TURMA).

ATENÇÃO: de acordo com a atual redação do art. 21, § 4º, da Lei nº


8.429/92 a absolvição criminal em ação que discuta os mesmos fatos,
confirmada por decisão colegiada, impede o trâmite da ação por
improbidade administrativa, havendo comunicação com todos os
fundamentos de absolvição previstos no art. 386 do CPP.

Sentença condenatória
Ocorrendo sentença condenatória o juiz observa o que determina o art.
387, IV, do CPP. Esse dispositivo legal visa assegurar a reparação cível dos
danos causados pela infração penal, representando nítida antecipação
efetuada pelo juiz criminal. O STJ entende que para fixação do valor
mínimo na sentença é necessário pedido expresso do ofendido ou do
Ministério Público, garantindo ao acusado o exercício do contraditório (REsp
nº 1.193.083/RS). Para esse mesmo tribunal é possível fixação de valor
mínimo para compensação de danos morais (REsp nº 1.585.684-DF). Aliás, de
acordo com art. 9º da Resolução nº 243/21 do Conselho Nacional do
Ministério Público (CNMP) o Ministério Público deverá pleitear, de forma
expressa, no bojo dos autos, a fixação de valor mínimo para reparação dos
danos materiais, morais e psicológicos, causados pela infração penal ou ato
infracional, em prol das vítimas diretas, indiretas e coletivas.

De acordo com o STJ a prestação pecuniária prevista no art. 45, § 1º, do CP


pode ser compensada com o montante fixado com o art. 387, IV, do CPP,
ante a coincidência de beneficiários. (REsp nº 1.882.059/SC, CORTE
ESPECIAL, Informativo de Jurisprudência nº 714). Segundo o entendimento
da Quinta Turma do STJ, a fixação de valor mínimo para reparação dos
danos (ainda que morais) exige, além de pedido expresso na inicial, tanto a
indicação do montante pretendido como a realização de instrução específica
a respeito do tema, para viabilizar o exercício da ampla defesa e do
contraditório (AgRg no AREsp nº 1.918.506/MS).

INFORMATIVO nº 528, STJ, QUINTA TURMA

DIREITO PROCESSUAL PENAL. REPARAÇÃO CIVIL DOS DANOS


DECORRENTES DE CRIME.

Para que seja fixado na sentença valor mínimo para reparação dos danos
causados pela infração, com base no art. 387, IV, do CPP, é necessário pedido
expresso do ofendido ou do Ministério Público e a concessão de oportunidade
de exercício do contraditório pelo réu. Precedentes citados: REsp 1.248.490-RS,
Quinta Turma, DJe 21/5/2012; e Resp 1.185.542-RS, Quinta Turma, DJe de
16/5/2011. REsp 1.193.083-RS, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 20/08/2013,
DJe 27/8/2013.

INFORMATIVO nº 588, STJ, SEXTA TURMA


DIREITO PROCESSUAL PENAL. POSSIBILIDADE DE FIXAÇÃO DE VALOR
MÍNIMO PARA COMPENSAÇÃO DE DANOS MORAIS SOFRIDOS PELA
VÍTIMA DE INFRAÇÃO PENAL.

O juiz, ao proferir sentença penal condenatória, no momento de fixar o valor


mínimo para a reparação dos danos causados pela infração (art. 387, IV, do CPP),
pode, sentindo-se apto diante de um caso concreto, quantificar, ao menos o
mínimo, o valor do dano moral sofrido pela vítima, desde que fundamente essa
opção. De fato, a legislação penal brasileira sempre buscou incentivar o ressarcimento à
vítima. Essa conclusão pode ser extraída da observação de algumas regras do CP: a) art.
91, I - a obrigação de reparar o dano é um efeito da condenação; b) art. 16 - configura
causa de diminuição da pena o agente reparar o dano ou restituir a coisa ao ofendido; c)
art. 65, III, "b" - a reparação do dano configura atenuante genérica, etc. Mas, apesar de
incentivar o ressarcimento da vítima, a regra em nosso sistema judiciário era a
separação de jurisdição, em que a ação penal destinava-se à condenação do agente pela
prática da infração penal, enquanto a ação civil tinha por objetivo a reparação do dano.
No entanto, apesar de haver uma separação de jurisdição, a sentença penal condenatória
possuía o status  de título executivo judicial, que, no entanto, deveria ser liquidado
perante a jurisdição civil. Com a valorização dos princípios da economia e celeridade
processual e considerando que a legislação penal brasileira sempre buscou incentivar o
ressarcimento à vítima, surgiu a necessidade de repensar esse sistema, justamente para
que se possa proteger com maior eficácia o ofendido, evitando que o alto custo e a
lentidão da justiça levem a vítima a desistir de pleitear a indenização civil. Dentro desse
novo panorama, em que se busca dar maior efetividade ao direito da vítima em ver
ressarcido o dano sofrido, a Lei n. 11.719/2008 trouxe diversas alterações ao CPP,
dentre elas, o poder conferido ao magistrado penal de fixar um valor mínimo para a
reparação civil do dano causado pela infração penal, sem prejuízo da apuração do dano
efetivamente sofrido pelo ofendido na esfera cível. No Brasil, embora não se tenha
aderido ao sistema de unidade de juízo, essa evolução legislativa, indica, sem dúvidas, o
reconhecimento da natureza cível da verba mínima para a condenação criminal. Antes
da alteração legislativa, a sentença penal condenatória irrecorrível era um título
executório incompleto, porque embora tornasse certa a exigibilidade do crédito,
dependia de liquidação para apurar o quantum devido. Assim, ao impor ao juiz penal a
obrigação de fixar valor mínimo para reparação dos danos causados pelo delito,
considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido, está-se ampliando o âmbito de sua
jurisdição para abranger, embora de forma limitada, a jurisdição cível, pois o juiz penal
deverá apurar a existência de dano civil, não obstante pretenda fixar apenas o valor
mínimo. Dessa forma, junto com a sentença penal, haverá uma sentença cível líquida
que, mesmo limitada, estará apta a ser executada. E quando se fala em sentença cível,
em que se apura o valor do prejuízo causado a outrem, vale lembrar que, além do
prejuízo material, também deve ser observado o dano moral que a conduta ilícita
ocasionou. E nesse ponto, embora a legislação tenha introduzido essa alteração, não
regulamentou nenhum procedimento para efetivar a apuração desse valor nem
estabeleceu qual o grau de sua abrangência, pois apenas se referiu à "apuração do dano
efetivamente sofrido". Assim, para que se possa definir esses parâmetros, deve-se
observar o escopo da própria alteração legislativa: promover maior eficácia ao direito da
vítima em ver ressarcido o dano sofrido. Assim, considerando que a norma não limitou
nem regulamentou como será quantificado o valor mínimo para a indenização e
considerando que a legislação penal sempre priorizou o ressarcimento da vítima em
relação aos prejuízos sofridos, o juiz que se sentir apto, diante de um caso concreto, a
quantificar, ao menos o mínimo, o valor do dano moral sofrido pela vítima, não poderá
ser impedido de o fazer. REsp 1.585.684-DF, Rel. Min. Maria Thereza de Assis
Moura, julgado em 9/8/2016, DJe 24/8/2016.

ATENÇÃO: a jurisprudência do STJ se firmou no sentido de que, consoante


o disposto no art. 392, II, do Código de Processo Penal, tratando-se de réu
solto, é suficiente a intimação do defensor constituído acerca da sentença
condenatória, não havendo qualquer exigência de intimação pessoal do réu
que respondeu solto ao processo (AgRg no REsp nº 1.710.551/SP, STJ,
Quinta Turma). Em outra oportunidade entendeu o STJ que a intimação
pessoal do acusado, nos termos do artigo 392, incisos I e II, do Código de
Processo Penal, é necessária apenas em relação à sentença condenatória
proferida em 1ª instância, de tal sorte que a intimação do acórdão prolatado
em 2ª instância se aperfeiçoa com a publicação da decisão na imprensa
oficial (HC nº 335.512/SP, SEXTA TURMA).

ATENÇÃO: conforme decidiu o STJ no RHC nº 138.919/MA (Sexta Turma)


é indispensável, por ocasião da prolação da sentença condenatória (art. 387,
§ 1º, CPP), que o magistrado fundamente, com base em dados concretos
extraídos dos autos, a necessidade de manutenção ou imposição de
segregação cautelar, o que não ocorreu no presente caso. A jurisprudência
do STJ é firme em assinalar que o acréscimo de fundamentos, pelo Tribunal
local, não se presta a suprir a ausente motivação do Juízo natural, sob pena
de, em ação concebida para a tutela da liberdade humana, legitimar-se o
vício do ato constritivo ao direito de locomoção do paciente” (HC nº
413.447/SP, SEXTA TURMA). Segundo a jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça, a manutenção da custódia cautelar no momento da
sentença condenatória, em hipóteses em que o acusado permaneceu preso
durante toda a instrução criminal, não requer fundamentação exaustiva,
sendo suficiente, para a satisfação do art. 387, § 1.º, do Código de Processo
Penal, declinar que permanecem inalterados os motivos que levaram à
decretação da medida extrema em um primeiro momento, desde que
estejam, de fato, preenchidos os requisitos legais do art. 312 do mesmo
diploma. (AgRg no HC nº 692.519/SP, SEXTA TURMA).

ATENÇÃO: de acordo com o art. 387, § 2º, do CPP, o juiz fará a detração
(art. 42 do CP) para fins de fixação do regime inicial de pena privativa de
liberdade. Segundo reiterada jurisprudência do STJ, o cômputo do tempo
de prisão cautelar, anterior, do condenado para fins de definição do regime
inicial de cumprimento da pena, conforme determina o art. 387, § 2º, do
CPP, não se confunde com o instituto da progressão de regime. A nova regra
de detração trazida pela Lei nº 12.736/12, em vigência desde 30/12/2012, é
de aplicação obrigatória pelo Juiz sentenciante, que, na determinação do
modo inicial de cumprimento de pena, considerará apenas o período de
custódia provisória referente ao delito objeto do processo (RECURSO
ESPECIAL nº 1.657.178/SP).

ATENÇÃO: a Terceira Seção do STJ deliberou que a soma das horas de


recolhimento domiciliar a que o Paciente foi submetido devem ser
convertidas em dias para contagem da detração da pena. Se no cômputo
total remanescer período menor que vinte e quatro horas, essa fração de
dia deverá ser desprezada. Assim, se o agente ficou recolhido em seu
domicílio das 22 horas às 06 horas todos os dias, ou seja, 8 horas por dia, a
cada 3 dias terá direito à detração de 1 dia de pena (3 dias x 8 horas por
dia = 24 horas) - HABEAS CORPUS nº 455.097/PR, STJ, TERCEIRA
SEÇÃO.

ATENÇÃO: "É válida a utilização da técnica da fundamentação per


relationem [meio pelo qual o órgão julgador fundamenta sua decisão com a
remissão ou referência às alegações de uma das partes, a precedente ou a
decisão anterior nos autos do mesmo processo], em que o magistrado se
utiliza de trechos de decisão anterior ou de parecer ministerial como razão
de decidir, desde que a matéria haja sido abordada pelo órgão julgador, com
a menção a argumentos próprios ..." (RHC nº 94.488/PA, STJ, SEXTA
TURMA). Porém, a simples remissão à manifestação do órgão ministerial ou
a trechos de outras decisões sem a devida apresentação de fundamentos
próprios pelo magistrado não caracteriza fundamentação per relationem ou
aliunde, resultando na inidoneidade do decreto preventivo. Portanto, é nulo o
decreto preventivo que se limita a fazer referência às razões do Ministério
Público sem citar trechos da referida manifestação ou sem desenvolver
fundamentos aptos a evidenciar os motivos concretos da decretação da
segregação cautelar (AgRg no HC nº 679.837/SP, STJ, QUINTA TURMA),
sendo certo que o entendimento jurisprudencial pacificado no STJ é no
sentido de que a utilização da fundamentação per relationem, seja para fim
de reafirmar a fundamentação de decisões anteriores, seja para incorporar
à nova decisão os termos de manifestação ministerial anterior, não implica
vício de fundamentação (AgRg no AREsp nº 1.7906.66/SP, Quinta Turma).
Em outra oportunidade entendeu o STJ que a fundamentação per
relacionem constitui medida de economia processual e não malfere os
princípios do juiz natural e da fundamentação das decisões (REsp. nº
1.443.593/RS, SEXTA TURMA).

ATENÇÃO: conforme a dicção da Súmula nº 337 do STJ, "é cabível a


suspensão condicional do processo na desclassificação do crime e na
procedência parcial da pretensão punitiva". Diante disso, deve ser aberto
prazo para o Ministério Público, a fim de que verifique a possibilidade de
oferecimento dos benefícios previstos na Lei nº 9.099/95 (como por
exemplo a suspensão condicional do processo – art. 89), não cabendo ao
julgador tal análise, uma vez que trata de prerrogativa do órgão ministerial
(HC 455.560/MG, STJ, QUINTA TURMA).

Princípio da correlação entre acusação e sentença

O princípio da correlação ou congruência significa que deve haver


correspondência entre o fato que se imputa ao acusado na peça inicial e a
sentença, de modo que o agente seja julgado apenas e tão somente pelos
fatos constantes da denúncia ou da queixa, vez que o agente se defende dos
fatos imputados, ou seja, da narrativa acusatória. Nesse sentido, o STJ já
decidiu que "o acusado se defende dos fatos narrados na denúncia e não
da capitulação legal nela contida " (REsp. nº 1.504.724/DF, SEXTA
TURMA). Em outra oportunidade afirmou o STJ que o acusado se defende
dos fatos narrados na denúncia e não da capitulação jurídica nela contida,
podendo o magistrado, por ocasião do julgamento da lide, conferir-lhes
definição jurídica diversa (AgRg no AREsp nº 1.143.469/PB, Sexta Turma).
A jurisprudência do STJ entende que não ofende o princípio da correlação a
condenação por circunstâncias agravantes ou atenuantes não descritas na
denúncia, nos termos dos arts. 385 e 387, I e II, ambos do Código de
Processo Penal (AgRg no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL nº
2.009.660/PR, Sexta Turma).

ATENÇÃO: a sentença penal não pode ser extra petita (ex: acusação por um
fato e condenação por outro), ultra petita (ex: acusação por um fato simples
e condenação pela modalidade qualificada) ou citra petita (ex: deixar de
julgar um fato imputado).

Emendatio Libelli (art. 383 do CPP)

Emendatio Libelli é a hipótese na qual o juiz ao condenar atribui nova


definição jurídica ao fato descrito, porém sem acrescentar a esse mesmo
fato qualquer circunstância ou elemento que já não estivessem descritos na
inicial e da qual o acusado não tenha se defendido, pois o réu se defende dos
fatos e não da capitulação jurídica. Nesse sentido, na emendatio libelli não
ocorre violação ao princípio da correlação entre acusação e sentença,
valendo destacar que o art. 383 é aplicado em qualquer tipo de ação penal.

Agravo regimental no recurso ordinário em habeas corpus nº 185.117/PA,


STF, Segunda Turma, ficou consignado que o acusado se defende dos
fatos descritos na denúncia e não de sua classificação jurídica .

Mutatio Libelli (art. 384 do CPP)

Mutatio Libelli ocorre quando surgem novas provas no curso da instrução


processual sobre elementos ou circunstâncias que não estavam contidos na
denúncia ou na queixa subsidiária e que importam na alteração no fato.
Neste caso, deve o Ministério Público aditar espontaneamente a denúncia ou
a queixa subsidiária ao final da instrução processual, ou seja, quando deveria
se manifestar nas alegações finais.

Caso não ocorra aditamento espontâneo, o juiz observa o art. 384, § 1º, do
CPP, ou seja, remete o procedimento para o Procurador Geral, podendo este
aditar ou não a peça acusatória. Caso o Procurador Geral faça o aditamento,
ocorre para a doutrina majoritária aditamento provocado.

Ocorrendo aditamento espontâneo ou provocado, o juiz observa os


parágrafos 2º, 3º e 4º do art. 384 do CPP.

Não ocorrendo aditamento espontâneo ou provocado, o juiz não pode


condenar o réu por fato em que não teve a possibilidade de se defender,
pois, caso contrário, ocorre violação ao princípio da correlação entre
acusação e sentença.
ATENÇÃO: a mutatio libelli deve ser observada quando o crime for de
maior gravidade, igual gravidade ou menor gravidade, vale dizer, sempre que
houver alteração do fato deve o Ministério Público promover o aditamento.

ATENÇÃO: nos termos do art. 384 do CPP, somente é cabível mutatio libelli,
na ação penal de iniciativa pública e na ação penal de iniciativa privada
subsidiária da pública, isto é, não cabe na ação penal de iniciativa privada
propriamente dita, porém a doutrina majoritária admite mutatio libelli na
ação penal de iniciativa privada, por força da possibilidade de aplicação
analógica prevista no art. 3º do CPP.

O art. 385 do CPP e o posicionamento doutrinário e


jurisprudencial

O art. 385 do CPP é considerado inconstitucional por parte da doutrina, pois


se o titular da ação penal retira a imputação com o pedido de absolvição, não
pode o juiz condenar. Porém, a jurisprudência não acolhe esse entendimento.
O STJ entende que a manifestação do Ministério Público pela absolvição do
réu nas alegações finais da ação penal não vincula o magistrado, que pode
decidir de maneira diversa ou até oposta à posição ministerial. Segundo o
Tribunal eventual condenação decretada pelo juízo, mesmo diante de um
pedido de absolvição formulado pelo Ministério Público, é compatível com o
sistema acusatório consagrado pela CF/88. No HC nº º 623.598/PR a Sexta
Turma entendeu que “A circunstância de o Ministério Público se manifestar
pela absolvição do acusado, como  custos legis, em alegações finais ou em
contrarrazões recursais, não vincula o órgão julgador, cujo mister
jurisdicional funda-se no princípio do livre convencimento motivado,
conforme interpretação sistemática dos  arts. 155,  caput, e  385, ambos
do Código de Processo Penal ”. O STF entende que como regra, vigora no
ordenamento processual penal brasileiro o princípio do livre convencimento
motivado, de modo que o magistrado não se encontra necessariamente
vinculado à opinião do Ministério Público, inclusive nos casos em que o
representante do Parquet emite parecer no sentido da absolvição do réu
(ARE nº 133.5473 AgR, Segunda Turma).

Em outra oportunidade o STJ entendeu que quando o Ministério Público


pede a absolvição de um réu, não há, ineludivelmente, abandono ou
disponibilidade da ação, como faz o promotor norteamericano, que
simplesmente retira a acusação (decision on prosecution motion to withdraw
counts) e vincula o posicionamento do juiz. Em nosso sistema, é vedada
similar iniciativa do órgão de acusação, em face do dever jurídico de
promover a ação penal e de conduzi-la até o seu desfecho, ainda que,
eventualmente, possa o agente ministerial posicionar-se de maneira
diferente - ou mesmo oposta - do colega que, na denúncia, postulara a
condenação do imputado (REsp nº 1.521.239/MG, Sexta Turma).

ATENÇÃO: de acordo com o STJ é possível o reconhecimento de


agravantes genéricas pelo magistrado, ainda que não descritas na denúncia
(AgRg no REsp nº 1.765.521/SP, QUINTA TURMA).

AÇÃO PENAL (AP) nº 976, STF, PRIMEIRA TURMA

AÇÃO PENAL ORIGINÁRIA. CRIME DO DECRETO-LEI Nº 201/67. EMPREGO


IRREGULAR DE VERBAS PÚBLICAS. AUSÊNCIA DE PROVAS DA
OCORRÊNCIA DO FATO. ABSOLVIÇÃO REQUERIDA PELO MINISTÉRIO
PÚBLICO. 1. As provas produzidas sob o contraditório demonstram que servidor
público ocupante de cargo em comissão, nomeado pelo réu, dividiu seu salário com
terceiro, que não integrava a Administração Pública Municipal. 2. Contudo, a própria
Procuradoria-Geral da República sustenta que a prova produzida não foi suficiente para
demonstrar que a ordem de divisão dos valores tenha partido efetivamente do réu e, por
essa razão, requer a sua absolvição. 3. Nesse tipo de delito costuma haver um pacto de
silêncio entre os envolvidos, todos beneficiados pela ilicitude. Por essa razão, no mais
das vezes, o crime será provado por meios indiretos. 4. O art. 385 do Código de
Processo Penal permite ao juiz proferir sentença condenatória, embora
o Ministério Público tenha requerido a absolvição. Tal norma, ainda
que considerada constitucional, impõe ao julgador que decidir pela
condenação um ônus de fundamentação elevado, para justificar a
excepcionalidade de decidir contra o titular da ação penal. No caso
concreto, contudo, as parcas provas colhidas pela Procuradoria-Geral da República são
insuficientes para justificar a aplicação da norma excepcional. 5. Absolvição por não
haver prova da existência do fato (CPP, art. 386, II).

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