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Os executivos deveriam utilizar seus Balanced Scorecards para implementar um processo integrado de
estratégia e orçamentação. Os processos da organização, das equipes e dos funcionários individuais, descritos no
Capítulo 9, alinham os recursos humanos à estratégia da unidade de negócios. Mas isso não é suficiente. A empresa
precisa também alinhar seus recursos financeiros e físicos à estratégia. Os orçamentos de capital de longo prazo, as
iniciativas estratégicas e as despesas anuais discricionárias devem visar à realização de metas ambiciosas para os
objetivos e indicadores contidos no scorecard da empresa.
Constatamos a necessidade de quatro passos para o uso do scorecard num processo integrado de
planejamento estratégico e orçamento operacional a longo prazo (ver Figura 10-1):
1. Estabelecer metas de superação. Os executivos devem fixar metas ambiciosas para indicadores que sejam
entendidos e
aceitos por todos os funcionários. As inter-relações de causa e efeito no scorecard ajudarão a identificar os
vetores críticos de um desempenho excepcional em medidas de resultado importantes, principalmente nas
perspectivas financeira e dos clientes.
2. Identificar e racionalizar as iniciativas estratégicas. As lacunas entre as metas ambiciosas estabelecidas para
os indicadores do scorecard e o desempenho atual permitem que os executivos estabeleçam prioridades para
investimentos de capital e programas de ação que possibilitem fechar essas lacunas. Os executivos eliminam ou
desestimulam as iniciativas que não terão impacto significativo sobre um ou mais objetivos do scorecard.
3. Identificar iniciativas críticas que envolvam mais de uma unidade de negócios. Os executivos identificam as
iniciativas que oferecerão benefícios (sinergias) para as metas estratégicas de outras unidades de negócios ou da
empresa controladora.
4. Vincular a estratégia à alocação de recursos e aos orçamentos anuais. Os executivos vinculam o plano
estratégico de três a cinco anos às despesas discricionárias e ao desempenho orçado (marcos de referência) para
o ano seguinte. Esses marcos de referência permitem que os executivos controlem a trajetória da unidade de
negócios em sua jornada estratégica.
Esse processo de quatro etapas identifica os resultados que a organização deseja alcançar a longo prazo. Os
resultados incluem não apenas os indicadores que a organização pretende melhorar, mas também metas explícitas e
ambiciosas para esses indicadores. Em seguida, identifica-se o mecanismo pelo qual esses resultados serão alcançados.
O planejamento unificado e o processo orçamentário são concluídos com o estabelecimento de marcos de referência de
curto prazo para as medidas financeiras e não-financeiras do scorecard.
Alguns cenários foram avaliados. Um deles pressupunha que a divisão manteria a mesma estratégia de atuação
em sboppings. Nesse caso, a meta de aumento da receita seria alcançada se o volume de vendas por metro quadrado
fosse mais de 50% superior do que o já registrado por qualquer outra empresa do setor. Ninguém estava disposto a se
comprometer com um aumento dessa ordem. Num cenário alternativo, a equipe considerou a criação de um novo tipo
de loja que pudesse ser instalada em locais não-tradicionais. Após refletir
e avaliar melhor, a equipe executiva entendeu que esse cenário era viável, passando a servir de base para uma
estratégia revisada que, ao final do workshop, levou a equipe a assumir compromisso com a meta de aumentar em duas
ou mais vezes o volume de vendas.
O processo de desenvolvimento de cenários permitiu que um objetivo aparentemente impossível fosse
decomposto numa série de objetivos menores que, juntos, permitiriam a realização da meta de aumento de receita.
Definindo os vetores críticos para o objetivo de aumento de receita, e assumindo compromisso com as metas e iniciati-
vas para cada vetor, os executivos concordaram que poderiam alcançar a meta de superação de aumento da receita.
Além disso, o scorecard tornou-se a ferramenta comum para monitorar a eficácia com que a estratégia estava sendo
implementada.
Para cada fator, a empresa criou uma taxa de melhoria específica utilizando a filosofia da meia-vida, bem como
iniciativas para alcançar essas melhorias. O índice de melhoria contínua media o percentual dos oito indicadores
estratégicos que estavam correspondendo ou superando as metas para a velocidade de melhoria.
Por outro lado, as empresas deveriam também analisar todas as suas iniciativas atuais para determinar se estão
contribuindo para a realização de um ou mais objetivos do scorecard. Por exemplo, pouco depois da fusão que o criou,
o Metro Bank lançou mais de 70 planos de ação diferentes. Todos tinham como finalidade produzir uma instituição
mais competitiva e bem-sucedida, mas nenhum foi integrado à estratégia global. Ao construírem o seu Balanced
Scorecard, os executivos do Metro desprezaram ou consolidaram muitos desses planos de ação. Por exemplo, uma
iniciativa de marketing dirigida a indivíduos de património elevado foi descartada, assim como um programa de
melhoria operacional da força de vendas destinado a obter um salto qualitativo nas habilidades do grupo atual. Os
executivos o substituíram por um grande programa de reciclagem mais alinhado com o objetivo estratégico, visando
transformar o pessoal de vendas em consultores financeiros, capazes de efetuar a venda cruzada de uma grande
variedade em constante evolução.
Obviamente, as empresas precisam vincular suas decisões de investimento aos planos estratégicos. Embora essa
meta pareça óbvia e faça parte da retórica da maioria dos exercícios de planejamento estratégico, na prática, muitas
empresas não vinculam seus investimentos a prioridades estratégicas de longo prazo.2 A justificativa para a maioria
dos investimentos de capital continua atrelada a medidas financeiras restritas, como opayback e o fluxo de caixa
descontado, e essas medidas financeiras não têm necessariamente relação com capacidades estratégicas, ou mesmo
com melhorias táticas em variáveis não-financeiras, como qualidade, satisfação dos clientes, e habilidades
organizacionais e funcionais.3
Os altos executivos negam utilizar exclusivamente medidas financeiras para tomar decisões com relação aos
investimentos de capital. Dizem que a análise do fluxo de caixa descontado é apenas parte de um processo mais
complexo de alocação de recursos. Afirmam reconhecer que o impacto de um investimento sobre os concorrentes, a
empresa e os mercados de capital pode superar a importância dos cálculos de fluxo de caixa descontado.4 No entanto, a
maioria das empresas continua a alocar recursos através de mecanismos táticos incrementais de orçamento de capital,
que enfatizam as medidas financeiras dos fluxos de caixa de curto prazo, mais fáceis de obter e quantificar. Não
incorporam formalmente o desenvolvimento de capacidades de longo prazo aos seus processos e às suas decisões de
alocação de recursos. O Balanced Scorecard fecha essa lacuna oferecendo aos executivos um mecanismo capaz de
incorporar considerações de natureza estratégica ao processo de alocação de recursos.
Por exemplo, uma empresa (ver Figura 10-5) hoje utiliza o scorecard para validar o impacto de cada
investimento potencial. Um peso relativo é estabelecido para os indicadores, com ênfase significativa nas medidas
financeiras, como retorno sobre o capital e lucratividade, mas também nos vetores do desempenho financeiro futuro,
como qualidade, serviço e retenção de clientes. Os investimentos específicos são classificados com base no seu
impacto global na fórmula do scorecard. Os investimentos melhor classificados, que se enquadram no orçamento de
capital existente, são enfim selecionados.
Figura 10-5 O Processo de Orçamento de Capital Utilizando Critérios do Balanced Scorecard
A Chem-Pro, fabricante de produtos industrializados à base de polímeros, utilizou uma variante dessa técnica
para racionalizar seus investimentos estratégicos. Os altos executivos da empresa acreditavam que as oportunidades de
investimento não deveriam ser uma série de projetos independentes e isolados avaliados e justificados individualmente
através de critérios financeiros tradicionais. Ao contrário, reconheciam que para alcançar os objetivos estratégicos,
seria preciso lançar vários programas conjugados, cada qual dirigido a um fator diferente, porém integrado. O
Balanced Scorecard da Chem-Pro identificou cinco iniciativas estratégicas necessárias à execução de sua estratégia
(ver Figura 10-6). Para cada iniciativa, os vetores de desempenho foram explicitados. Como mostra a Figura 10-7, uma
das iniciativas estratégicas — o aumento da eficácia das vendas e do marketing — consistia em nove programas de
ação, cada qual dirigido a um vetor específico para aumentar a eficiência nas vendas e no marketing. Uma
abordagem tradicional de orçamento de capital avaliaria cada programa de forma independente. Muitos poderiam ser
considerados programas de despesas discricionários, que seriam financiados pelos orçamentos operacionais do ano em
curso, e não de um orçamento voltado para objetivos estratégicos de longo prazo. Trabalhando de acordo com um
processo de avaliação tradicional, é pouco provável que os executivos percebessem o impacto cumulativo do
investimento em todo o pacote de iniciativas integradas; e, na prática, muitos dos programas específicos fracassariam
no processo de revisão do orçamento de capital e operacional.
A abordagem de iniciativas estratégicas utilizada pela Chem-Pro assegurou a implantação de todos os
programas necessários para que o desempenho futuro melhorasse radicalmente. Como primeira parte do processo de
planejamento, todos os programas de orçamento de capital e despesas discricionárias foram identificados. Somente
aqueles que apoiavam uma iniciativa estratégica foram aprovados. Os executivos da Chem-Pro haviam proposto
inicialmente muitos programas de gastos não relacionados à realização dos objetivos estratégicos.
Figura 10-7 Iniciativa Estratégica de Gerenciamento de Contas e Vendas da Chem-Pro
Uma primeira filtragem eliminou mais de 40% dessas propostas. Num segundo estágio, avaliou-se o impacto
das propostas restantes sobre os objetivos estratégicos, com a eliminação de outros 10% de gastos. O processo também
revelou lacunas, onde não fora proposto nenhum programa de investimentos que visasse a alcançar metas para alguns
dos objetivos do scorecard. A identificação dessas lacunas levou ao financiamento de várias novas iniciativas. A
Chem-Pro utilizou o scorecard como ponto focal para todas as decisões relativas a despesas discricionárias e
investimentos de capital. Depois de ver o funcionamento desse processo pela primeira vez, um membro da comissão
executiva disse: "Antigamente, tínhamos atividades desconexas por toda parte. Era como 'mil pontos de luz'. Essas
atividades nos deixavam numa situação um pouco melhor, mas grande parte do esforço era contraproducente ou não
gerava sinergia. O Balanced Scorecard é como um prisma através do qual todos os nossos investimentos são
focalizados. Em vez de mil pontos de luz, hoje temos um laser. Todas as nossas energias são direcionadas para apenas
algumas metas críticas."
Figura 10-7 Continuação
Depois que o Balanced Scorecard tiver articulado a estratégia e identificado os vetores para a sua concretização,
as empresas podem:
Essa é uma forma de fechar a lacuna entre as ambiciosas metas de três a cinco anos para as medidas críticas do
scorecard e os níveis atuais de desempenho. É esse processo que mobiliza com mais clareza o scorecard para traduzir
estratégia em ação.
IDENTIFICARAS INICIATIVAS
CORPORATIVAS CRÍTICAS QUE ENVOLVEM
MAIS DE UMA UNIDADE DE NEGÓCIOS
Um elemento importante no processo de planejamento é a identificação das relações entre uma unidade de
negócios e outras unidades da empresa e as atividades funcionais exercidas em nível corporativo. A relação com outras
unidades abre oportunidades para que a ação seja reforçada mutuamente e as melhores práticas compartilhadas. Essas
oportunidades incluem o desenvolvimento e a troca de conhecimentos sobre tecnologias críticas e competências
essenciais, coordenação de iniciativas de marketing para clientes comuns e compartilhamento de recursos de produção
e distribuição, onde existem as economias significativas de escala ou escopo. Uma das importantes funções em nível
corporativo é oferecer mecanismos pelos quais essas oportunidades de sinergia em todas as unidades de negócios
descentralizadas possam ser percebidas e exploradas. O Balanced Scorecard é um desses mecanismos.
Por exemplo, a Figura 10-8 mostra como a Kenyon Stores utilizou o scorecard para coordenar o planejamento e
a ação estratégica para as suas unidades operacionais. O scorecard corporativo definiu prioridades estratégicas comuns
a todas as unidades. Cada unidade desenvolveu sua estratégia e seu Balanced Scorecard, nos quais as diretrizes
corporativas foram ajustadas para suas circunstâncias específicas. As funções centralizadas de apoio puderam ser
redefinidas, então, com base nos scorecards das unidades, com seus próprios planos e iniciativas estratégicas para
atender aos objetivos das unidades individuais e também alcançar economias de escala nas operações que justificassem
a existência de recursos centralizados. Por exemplo, todas as unidades alugavam imóveis em shoppings no país inteiro.
Como os imóveis não eram um fator de diferenciação para as unidades operacionais, a corporação criou um
departamento central especializado com a missão de identificar locais de primeira qualidade e firmar contratos com
incorporadores e administradoras de shoppings. Esse departamento utiliza sua considerável experiência em benefício
do atendimento das necessidades individuais de cada unidade.
Figura 10-8 Utilizando o Balanced Scorecard para Gerenciar Sinergias entre Unidades de Negócios
O processo de coordenação, facilitado pela troca de informações através dos Balanced Scorecards da
corporação, das unidades e dos departamentos de apoio, permitiu que o departamento de imóveis identificasse como os
aluguéis poderiam ser transferidos entre as unidades da empresa; por exemplo, quando uma unidade estava alugando
lojas em uma área, outra unidade estava crescendo na mesma área. Embora essa coordenação pudesse, teoricamente,
ter sido realizada no passado, em termos práticos, a troca de informações sobre as estratégias individuais das unidades
não era suficientemente detalhada para que isso acontecesse. A articulação explícita de objetivos e iniciativas
plurianuais através dos Balanced Scorecards permitiu que os departamentos de apoio da corporação prestassem um
serviço muito melhor às unidades de negócios.
Outras empresas estão utilizando Balanced Scorecard para fazer com que suas funções corporativas se tornem
mais eficientes e orientadas para os clientes. Como vimos no Capítulo 8, Larry Brady, da FMC Corporation,
questionou a estratégia de seus departamentos funcionais. Eles só se justificam se oferecerem custos mais baixos do
que fornecedores externos do mesmo serviço ou por grupos menores localizados em cada unidade. Ou são mantidos
em nível corporativo por oferecerem serviços exclusivos ou superiores que não poderiam ser obtidos junto aos
fornecedores externos, ou a grupos descentralizados nas unidades. Se o serviço fornecido de forma centralizada não
oferecer o menor custo, produtos exclusivos ou serviço superior, a teoria para que um grupo corporativo preste esse
serviço perde a razão de ser.
De forma semelhante, a Pioneer Petroleum utilizou uma técnica estruturada para alcançar a integração
funcional. A empresa sabia que deveria romper com uma cultura histórica de domínio da organização pelas áreas de
apoio, e percebeu que economias de escala importantes resultariam do gerenciamento e fornecimento compartilhados
de determinados serviços como desenvolvimento de franquias, publicidade, desempenho ambiental e programas de
segurança. O problema é que os grupos funcionais haviam perdido contato com o mercado, tornando-se caros e
ineficientes. Para se reorientar, a Pioneer exigiu que cada grupo corporativo desenvolvesse um "acordo de serviço"
definindo o relacionamento entre o grupo e seus clientes, as unidades de negócios. O acordo detalhava o serviço a ser
oferecido à unidade, bem como seu custo, o tempo de resposta e o nível de qualidade. Esse acordo foi incorporado a
um Balanced Scorecard para o grupo funcional de nível corporativo.
O scorecard serve de estrutura comum para a organização do processo de planejamento dos departamentos
corporativos de apoio. Ele permite que esses departamentos compreendam as estratégias de toda a corporação e das
unidades individuais, de modo que os departamentos de apoio possam desenvolver e prestar melhores serviços,
ajudando as unidades operacionais e a corporação a alcançarem seus objetivos estratégicos.
RESUMO
Os processos descritos neste capítulo — planejamento, estabelecimento de metas, alinhamento entre alocação de
recursos e iniciativas estratégicas, e orçamentação — são fundamentais para que objetivos estratégicos agressivos e
ambiciosos sejam traduzidos em ações e realidade. Para muitas empresas, o scorecard consolida a fase inicial de um
novo processo gerencial: a tradução da visão e da estratégia em objetivos e indicadores que possam ser comunicados
aos atores internos e externos da organização. Entretanto, a menos que recursos concretos sejam direcionados para a
realização desses objetivos, eles serão apenas metas distantes, e não alvos tangíveis capazes de assegurar o
comprometimento da organização. Estabelecendo metas de longo prazo para os indicadores estratégicos, direcionando
iniciativas estratégicas e recursos significativos para sua realização, e escolhendo marcos de referência de curto prazo
que dêem rumo à estratégia, os executivos assumem o compromisso e a responsabilidade de realizar a visão
organizacional.