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Hiv Sida
Hiv Sida
Disciplina Curricular
Habilidades de Vida, Saúde Sexual e
Reproductiva, Género e HIV&SIDA
Manual do Estudante
Versão CED
Acronimos e abreviaturas__________________________________________________ 3
Lista de Exercícios_________________________________________________________ 4
Introdução ________________________________________________________________ 5
Objectivo do Módulo Básico __________________________________________________ 6
Estrutura do Manual ________________________________________________________ 6
Orientações para o estudante do Ensino a Distancia ________ Erro! Marcador não definido.
Unidade 1. Personalidade ____________________________________________________ 8
Unidade 2. Saúde Sexual e Reproductiva _______________________________________ 27
Unidade 3. Informação Básica Sobre o HIV/SIDA _________________________________ 59
Unidade 4. Vícios e Dependências _____________________________________________ 88
Unidade 5. Habilidades da Vida _____________________________________________ 109
Bibliografia ______________________________________________________________ 119
2
Acrónimos e Abreviaturas
3
Lista de Exercícios
4
Introdução
A Universidade Católica é uma Instituição do Ensino Superior, cujo objectivo é dar formação humana,
isto é, ter uma identidade própria e ser portadora de uma visão cristã do mundo e do homem. A sua
qualidade de ensino é centrada no aluno, e visa assegurar-lhe uma formação de nível universitário,
não apenas académica, mas procurando que ele adquira não só uma competência científica e
disciplinar a este nível, mas tenha também uma formação humana.
A formação humana implica a noção de que o homem é capaz de se tornar íntimo de si mesmo, da
sua personalidade, da sua corporeidade, do seu comportamento, dos seus impulsos, emoções,
valores, crenças e pensamentos, compreendendo a estrutura, a dinâmica e a interdependência de tais
aspectos, tanto na forma particularíssima com que se manifestam no âmbito pessoal, como também
nas variadas formas de expressão, nos outros seres humanos. Dentro desta perspectiva, todos os
aspectos das necessidades psicológicas, físicas e sociais das pessoas devem ser tidos em conta e vistos
como um todo baseado na visão holística, que aborda o cuidado da pessoa inteira - corpo, mente e
espírito.
Foi nesta perspectiva que foi introduzido o Módulo Básico, sobre Habilidades de Vida, Saúde Sexual e
Reproductiva, Género e HIV, agora chamado a Disciplina de “Habilidades de Vida, Género, Saúde
Sexual e Reproductiva e HIV”. Usando métodos participativos, a reflexão e o divertimento, esta
Disciplina pretende promover a capacidade dos estudantes de fazerem escolhas conscientes e
responsáveis, para uma vida saudável, e de fortalecerem os direitos e responsabilidades individuais e
sociais, como uma parte da dignidade humana. A Disciplina foi introduzida, no ano lectivo de 2012.
Em 2014, foi realizada uma avaliação de pares, envolvendo docentes e estudantes da Disciplina. Na
base dos resultados, foi feita a revisão dos manuais didácticos.
Como surge esta Disciplina? A política da UCM sobre HIV & SIDA prevê a integração do HIV no
currículo, e perspectiva a introdução de um Módulo sobre esta matéria. A UCM também tem uma
política sobre Assédio Sexual e, desde 2014, uma política sobre o género, que contempla a integração
do género no currículo. Durante os últimos anos, o trabalho de sensibilização sobre HIV&SIDA mostrou
que deve ser mais abrangente. Por isso, a Disciplina inclui a saúde sexual e reproductiva, as relações
de género, e as habilidades de vida.
O presente manual foi concebido pelos Coordenadores de HIV&SIDA, pelos Capelães da UCM e
representantes dos Núcleos de HIV&SIDA. Agradecemos a todos, pelo seu valioso contributo para este
manual, particularmente ao P.e Fidel Salazar (ex-Capelão Mor), ao P.e Elton Laissone (Capelão da
FAGRENM), ao P.e Manuel Ferreira, SJ, e aos Oficiais do Departmeanto de HIV, Sónia Banguira Posse
e Leovigildo Pechem.
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1.1 Objectivos da disciplina
Os objectivos desta Disciplina são:
Conhecer-se a si próprio, como homem ou mulher, com as suas próprias características e
necessidades
Reconhecer os direitos e deveres de cada um, homem e mulher.
Aumentar as habilidades de fazer escolhas conscientes, responsáveis e saudáveis, para a
sua vida, particularmente nas áreas da saúde sexual e reproductiva.
Reduzir a transmissão do HIV, de ITSs e a gravidez não planificada.
Aumentar a consciência dos perigos de vícios e dependências, e desenvolver estratégias
de prevenir vícios e dependências.
Criar habilidades de gestão de vida, gestão de tempo, recursos e conflitos.
Em algumas Unidades, constam caixas verdes de texto, com a posição da Igreja Católica, sobre questões
morais importantes.
Uma parte importante são os exercícios compostos por uma variedade de actividades: reflexão,
questionários, estudos de algum caso, teatro, testes de conhecimentos.
Cada Unidade termina com um breve resumo chamado mensagens chave.
6
Orientações para o estudante do Centro de Ensino a
Distancia
1. Este manual é diferente de outros manuais de estudo: tem muitas partes práticas chamadas
“exercícios” e tem partes teóricas e informativas sempre assinaladas com
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Unidade 1. Personalidade
Introdução
Nesta primeira unidade, faremos uma reflexão sobre a personalidade, o que é ser pessoa, baseando-
nos no ambiente, a que ela está exposta. Debruçar-nos-emos sobre os diferentes estágios de
desenvolvimento psicossocial. Identificaremos valores, crenças e atitudes, que influenciam o
comportamento, e que encontramos na sociedade. Particularmente, vamos identificar as normas
sociais, que influenciam as relações de género. Os exercícios servem para a melhor reflexão e como
impulso para a mudança de comportamento, aumento de auto estima e desenvolvimento da
personalidade.
Conteúdo da Unidade
A personalidade
Tipos de temperamento
Estágios de desenvolvimento psicossocial
As capacidades humanas por desenvolver
Pilares da auto-estima
Valores – Crenças – Atitudes – Comportamentos (VABEs)
Ser homem/ser mulher e a personalidade: A equidade de género
Cultura e género
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1.1 A Personalidade
A personalidade é o que nós somos, o que gostamos de ser, fazer e ter, é aquilo
que queremos parecer aos outros. A personalidade desenvolve-se, durante a
vida, e é influenciada por factores físicos, psicológicos, psíquicos, culturais e morais.
Estes factores interligam-se, dependendo de como o indivíduo se adapta ao ambiente, em que a
pessoa vive, ao longo do tempo da vida.
1.2 Os temperamentos
A. Sanguíneo: Características
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B. Colérico: Características
C. Fleumático: Características
É uma pessoa calma, tranquila, e raramente fica zangada;
As pessoas deste temperamento são bem equilibradas;
O fleumático é frio e é preciso, na tomada de decisão;
Ele prefere viver numa vida feliz, sem perturbações;
Pode se dizer que é o melhor temperamento.
D. Melancólico: Características
É uma pessoa com alto nível de sensibilidade;
É o mais rico e o mais complexo de todos os temperamentos;
O temperamento melancólico geralmente faz com que a
pessoa seja dedicada, talentosa e perfeicionista;
Esta pessoa é de natureza muito sensível, emocional, e é
propensa à depressão;
É a pessoa que mais aprecia as artes;
É propensa à introspecção.
Conclusão:
Na realidade, é muito raro que uma pessoa tenha as características de um só tipo de temperamento.
As personalidades são complexas. O indivíduo nasce com determinado temperamento, mas os
factores ambientais podem modificar-lho: a educação; a alimentação; as doenças; o clima; os
acontecimentos e outros factores causam algumas transformações, nos traços temperamentais. A
vida ensina o homem a controlar ou a estimular o seu temperamento. Conhecendo-nos bem,
podemos dominar os aspectos negativos e estimular e desenvolver os aspectos positivos.
Vamos cozinhar uma sopa com os ingredientes: reflecte, individualmente, sobre estes ingredientes, e
responde, o mais espontâneo e honesto possivel:
a. A base da sopa é o caldo: Qual o género, a orientação sexual, as características biológicas, o
temperamento?
b. Os primeiros ingredientes: Qual o meu estatuto socioeconómico, o meu local de residência,
a minha educação, a minha estrutura familiar?
c. Ingredientes adicionais: Quais os hobbies, a religião, a inclinação política, a carreira?
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d. Ingredientes secretos: Quais as minhas experiências pessoais, as minhas identidades
escondidas, as minhas mudanças?
O Desenvolvimento da Personalidade
A personalidade desenvolve-se, ao longo da vida. Não nascemos com ela pronta.
O seu processo de amadurecimento pode dividir-se em três etapas:
* 1ª Fase: dos 0 aos 14 anos - Etapa do EU – é caracterizada pela necessidade de receber, sendo
necessária uma correcta vivência da autoridade, dos limites, da orientação e coisas semelhantes.
* 2ª Fase: dos 15 aos 40 anos - Etapa do NÓS - ocorre aqui uma demanda do compartilhar, até atingir
o NÓS.
* 3ª Fase: dos 40 aos 70 anos - Etapa do DAR - ocorre aqui a demanda do dar, até atingir a consumação
da identidade.
O psicanalista americano Erik Erikson (1976) deu continuidade aos grandes psicólogos como Freud e
Piaget, na distribuição do desenvolvimento humano, por fases. Mas o seu modelo detém algumas
características particulares:
Em vez do foco fundamental na sexualidade, como Freud, deu mais foco às relações sociais;
Ampliando a proposta de Freud, verificou que os estágios psicossociais envolvem outras
partes do ciclo vital, além da infância. Erikson reconhece a importância do estágio infantil,
mas observa que o que construímos, na infância, em termos de personalidade, não é fixo, e
pode ser parcialmente modificado, por experiências posteriores;
A cada estágio, o indivíduo cresce, a partir não só das exigências internas do seu ego, mas
também das exigências do meio, em que vive. Sendo, portanto, essencial a análise da cultura
e da sociedade, em que vive o sujeito em questão;
Em cada estágio, o ego enfrenta e ultrapassa um conflito. Se este conflito for ultrapassado de
forma positiva, resulta em saúde mental; se for ultrapassado negativamente, leva a um
desajustamento;
Da solução positiva da crise, surge um ego mais rico e mais forte; da solução negativa, resulta-
nos um ego mais fragilizado;
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A cada crise, a personalidade vai se reestruturando e reformulando, de acordo com as
experiências.
É bastante importante perceber que um conflito e uma crise podem ser uma coisa positiva, uma
oportunidade de se desenvolver, de ficar mais maduro, mais coeso, mais sábio!
A teoria de Erikson abrange oito estágios: Vamos estudá-los na figura 1.
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Fonte: http://psico2013-08.blogspot.com/
Exercício 1.2 – Crises da minha vida (para Jovens, Adultos / Cursos a Distancia) OPCIONAL
Vê a 5.ª, a 6.ª ou a 7.ª fase de Erikson, conforme a tua idade própria. Identifica uma crise, por que
passaste, numa destas fases: O que aconteceu, e qual foi o resultado desta crise?
Tenha a coragem e partilha da crise com o seu esposo/ a sua esposa, com o filho/a filha, com um
amigo.
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b) Prevalência do amor
Um amor, que se dá aos outros, num processo dinâmico e habitual de integração interpessoal.
O caminho do amor:
Na infância: amor receptivo
Na adolescência: treino para o amor
Na juventude: experiência do amor
Na idade adulta: maturidade, a vida do amor
Isso sempre acontece, quando interpretamos as intenções dos outros ou os outros interpretam as
nossas.
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d) Sentido de responsabilidade
O homem que foge das responsabilidades, que não se arrisca conscientemente, quando é preciso, que
não assume, não se compromete, tem os traços da maturidade de uma criança.
e) Capacidade de Adaptação
Conclusão:
A maturidade humana, enfim, é: conquista pessoal favorecida pelo próprio esforço, pelo ambiente,
pela educação e pelo dinamismo da acção da graça de Deus no nosso ser. Santo Agotinho define, com
muita sabedoria e simplicidade, o caminho do crescimento humano: "Orar, como se tudo dependesse
de Deus, e agir como se tudo dependesse de nós.”
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Exercício 1.3. Avalie a sua auto-estima
O teste a seguir foi elaborado pela psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da International Stress
Management Association, no Brasil (Isma-BR), com base numa pesquisa internacional, sobre auto-
estima.
Faça o seu teste, e assinale a alternativa, que mais se aplica ao seu caso:
Pergunta Raramente Às vezes Sempre
1 Fico ofendido, ao receber críticas
2 Quando passo por períodos de stress, a minha
saúde fica debilitada e acabo doente
3 Faço coisas contra a minha vontade, para
agradar aos outros e ser aceite no grupo
4 Costumo exagerar os meus defeitos e
minimizar as minhas qualidades
5 Ao conhecer alguém bem-sucedido, fico a
pensar: "Porque não sou eu assim?"
6 Sinto que não posso contar com os meus
amigos, porque a nossa amizade é superficial
7 Sou perfeicionista e exijo muito mais de mim
mesmo que dos outros
8 Relacionar-me com outras pessoas é uma
tarefa árdua, que me exige um enorme esforço
9 Antes de apresentar algum trabalho ou
projecto, sinto que vou fracassar
10 Evito criar intimidade com outras pessoas
11 Sinto-me inseguro, ao encarar um novo
desafio
12 Culpo-me, quando as coisas não me saem
conforme o planeado
13 Quando o meu sucesso é reconhecido,
desconfio dos elogios
14 Acho que pedir ajuda, diante de um
problema, é sinal de fraqueza
15 Antes de um compromisso social, tomo
bebida alcoólica ou algum calmante, para me
sentir mais seguro
Fonte: Rossi, A.M. (2007). Avalie sua auto-estima. Veja, 2015, 4 de Julho. Disponível em
http://veja.abril.com.br/040707/teste_capa.shtml
Cada resposta “raras vezes” recebe 1 ponto, cada resposta “as vezes” 2 pontos, e cada
resposta “sempre” 3 pontos.
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1.5 Os Pilares da Auto-estima
A auto-estima envolve umas tantas crenças autossignificantes (por exemplo, "Eu sou
competente/incompetente") e emoções autossignificantes associadas (por exemplo,
triunfo/desespero, orgulho/vergonha). Também encontra expressão no comportamento (por
exemplo, assertividade/temeridade, confiança/cautela).
F. Potreck-Rose e G. Jacob (2006) propõem uma abordagem psicoterapêutica, para a baixa auto-
estima, baseada no que elas chamam "os quatro pilares da auto-estima":
Conclusão
A auto-estima, como parte valorativa do conhecimento de si mesmo, ou seja, o juízo que eu faço
sobre mim mesmo, pode ser concebida como a atitude de uma pessoa sobre si mesma. E também
uma característica da personalidade, se bem que menos estável do que a auto imagem, por ser
sensível a variações do humor. A auto-estima é uma situação-específica característica; ou seja, ela
varia, de acordo com a situação: eu posso estar satisfeito comigo mesmo, quando passei num exame
na universidade, mas insatisfeito, quando estou no campo de futebol, porque não marquei um golo.
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Resultados da auto-estima elevada:
O comportamento humano “total” é composto por todas estas componentes. Não são os eventos que
afectam o homem, mas sim a percepção que deles temos. Na verdade, nós escolhemos a nossa
resposta ao mundo. Um modelo de comportamento deve tomar em conta as heranças genéticas, bem
como as influências do mundo que nos rodeia, e as percepções que temos destas influências, e os
valores e pressupostos, que temos, de como o mundo devia ser, e as nossas emoções (Ellis & Harper,
1997).
Há uma fórmula desenvolvida por Clawson (2001), que explica a base do comportamento: Os VABEs
(valores – crenças – atitudes – expectativas).
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Figura 2 Ilustração dos VABEs
Fonte: Adaptado de Clawson, J. G., (2001). Why People Behave the Way They Do , Social Cience Resarch NetworkVol. , pp. 1-27,
Available at SSRN: http://ssrn.com/abstract=910358
As pessoas têm VABEs, sobre como as outras pessoas se devem comportar (vista externa), e têm
VABEs, sobre como elas próprias se devem comportar (vista interna).
A chave, para compreender por que as pessoas se comportam de uma determinada maneira, é a
comparação entre o que as pessoas vêem (= percepção) e o que as pessoas crêem que devia ser (= os
seus VABEs).
Um exemplo: Tu e a tua amiga combinaram encontrar-se à noite, para estudarem juntos. Ambos vocês
se esqueceram, e não compareceram no encontro. Tu achas que ela não quis partilhar os seus
conhecimentos contigo, e sentes-te decepcionado. Ficas com raiva, e, no próximo encontro, insulta-
la. Mas ela pensou que todos cometemos erros, pediu-te desculpa, e ficou calma. Os eventos foram
os mesmos, mas as crenças, os pressupostos, as atitudes e o comportamento não.
As fontes dos valores podem ser: a religião, a cultura, a família, os amigos/colegas, o local de trabalho
(ética de trabalho, responsabilidades no trabalho), a escola/universidade, os eventos significantes da
vida (casamento, morte, doença, acidente, desemprego), os eventos históricos (guerra, desastres
naturais).
Exercício 1.4 Quais os meus valores principais? Um exemplo dos meus VABEs
a. Na lista de valores, a seguir, assinala dez (10) valores, com que te identificas.
b. Depois, faz uma pontuação: 10 pontos para o valor mais importante, 1 ponto para o menos
importante.
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c. Agora, dá um exemplo do teu VABE: Para o seu valor mais importante, completa a seguinte
frase: O meu valor principal é …………., porque creio na ………………., acho certo fazer/agir
…………….. e espero de outras pessoas que façam o mesmo. Por isso, faço /não faço …………….
Exemplo: O meu valor principal é a honestidade, porque creio ser ela a base para uma boa
relação com o parceiro, a família e os amigos. Acho certo ser honesto, e espero de outras
pessoas que sejam honestas também. Por isso, digo a verdade, mesmo quando fiz alguma
coisa errada.
Ser homem ou ser mulher significa muito mais do que possuir os atributos biológicos
e fisiológicos do “macho” e da “fêmea”.
É a sociedade que define as crenças e costumes aceitáveis e as normas sociais. As normas do género
aprendem-se socialmente. O Género refere-se aos papéis do homem e da mulher, predefinidos, numa
determinada sociedade, num certo período de tempo. As relações de género reflectem concepções
de género interiorizadas por homens (=masculinidade = o que significa ser homem numa sociedade)
e mulheres (feminilidade= o que significa ser mulher numa sociedade). A masculinidade é o conjunto
unitário da identidade, atitudes e comportamentos considerados masculinos. A “feminilidade” é o
conjunto da identidade, atitudes e comportamentos considerados femininos.
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Se falarmos de sexo, pensaremos imediatamente num atributo biológico. Quando nasce uma menina,
sabemos que, quando ela crescer, será capaz de ter filhos/as e amamentá-los/as. Entretanto, segundo
a socióloga Teresa Citellli, o facto de a mulher ser, desde cedo, estimulada a brincar com bonecas e
ajudar nos serviços domésticos, por exemplo, não tem nada a ver com o sexo, mas sim com os
costumes, as ideias, as atitudes, as crenças e as regras criadas pela sociedade, em que ela vive. A partir
da diferença biológica é que cada grupo social constrói, em seu tempo, os papéis, comportamentos,
direitos e responsabilidades de mulheres e homens.
O que é considerado natural não se pode mudar, mas o que é social e cultural pode se alterar, para
corrigir desigualdades.
Igualdade: A igualdade é um direito humano, é a base de uma sociedade humana, e pré-condição para
o desenvolvimento sustentável. A igualdade de género refere-se à igualdade em direitos,
oportunidades e responsabilidades de homens e mulheres, rapazes e raparigas (Nações Unidas, 2008).
A igualdade de género não significa que homens e mulheres se tornam iguais, mas que os seus direitos,
responsabilidades e oportunidades não dependem do facto de se ser homem ou mulher, como se uma
dessas categorias valesse mais, ou menos. Não. Mas depende apenas e simplesmente do facto de
serem seres humanos e filhos do mesmo Deus. Por isso, as suas necessidades específicas terão que
ser consideradas, reconhecendo a diversidade. A igualdade de género é um assunto de homens e
mulheres.
Equidade: é uma categoria ética, é resultado da justiça (Aristóteles). O contrário é a iniquidade, que é
a consequência da injustiça. A equidade de género significa a distribuição justa de oportunidades, de
benefícios, de recursos e de responsabilidades, entre homens e mulheres. E pode ser garantida através
da boa governação e inclusão.
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Origens das iniquidades, entre homens e mulheres:
A África tem uma tradição longa de debate sobre o género e as relações de poder, e a sua ligação com
a cultura Africana. No passado, o foco do debate ficou mais em aspectos biológicos e não nos aspectos
de comportamentos relacionados com a socialização. Com a modernização, a definição dos papéis do
homem e da mulher tornou-se uma questão socioeconómica.
Conclusão
O conceito de género não deve ser utilizado como sinónimo de “mulher”. O conceito é usado para
distinguir e descrever as relações estabelecidas entre homens e mulheres. As relações de género
estabelecem-se dentro de um sistema hierárquico, que dá lugar a relações de poder. Em muitas
sociedades, a diferença de poder torna possível a hegemonia do homem.
Se partirmos da premissa de que o feminino e o masculino são determinados pela cultura e pela
sociedade, podemos mudar as diferenças, que se transformaram em iniquidades.
No plano de Deus, o homem e a mulher são dois seres complementares. Ninguém é maior e ninguém
é menor. É preciso distinguir as conceções culturais do momento, por um lado, e o desígnio de Deus,
por outro. O homem e a mulher, criados à Sua imagem e semelhança, são chamados, juntos a construir
um mundo melhor e mais humano em que todos, homens e mulheres, são iguais diante de Deus. A
questão de género deve ajudar a purificar as relações entre homem e a mulher para que cada um de
nós possa olhar para o outro de acordo com o plano que Deus tem para nós.
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O que fazer para alcançar a igualdade? O empoderamento da mulher
Mas ainda não é tudo: É preciso mudar as relações de género para a igualdade, e, ao mesmo tempo,
empoderar a mulher.
Apesar das muitas definições, existe um consenso sobre o facto de que a cultura se
refere àquela parte do ambiente produzida pelos homens e por eles aprendida e
utilizada. Segundo Taylor (1874), cultura é o conjunto de conhecimentos, crenças, artes, normas
morais e costumes e muitos outros hábitos e capacidades adquiridos pelos homens, em suas relações,
como membros da sociedade.
Para Hall (1994) a cultura surge, na base das condições históricas e das relações, como sistema de
valores e meios de distintos grupos sociais e classes. Segundo ele, a cultura é a habilidade
exclusivamente humana de se adaptar às circunstâncias e de passar esta habilidade e estes
conhecimentos para as gerações subsequentes. Implica que a cultura é dinâmica. A cultura muda
constantemente ou melhor pode ser constantemente mudada por nós.
Olha para a ilustração da cultura, a seguir; da cultura como árvore: nós só vemos uma parte pequena
da cultura (subterrânea), mas a cultura cresce e muda.
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Fig. 3 As partes visíveis e invisíveis da cultura
Em resumo
1. Nós partilhamos a cultura com outras pessoas do grupo, mas cada um de nós tem uma sua
cultura.
2. A cultura guia- nos, às vezes, sem nós sermos conscientes disso (Dahl,1998).
3. As culturas são diversas e inconsistentes, constantemente em movimento, ambíguas e
contraditórias.
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Mensagens-chave da unidade 1
A personalidade é o que nós somos, o que gostamos de ser, fazer e ter, é aquilo que queremos
parecer aos outros.
O indivíduo tem uma identidade (personalidade) única, age (comporta-se), no seu meio ambiente
sócio-cultural, e, apesar de o grupo, em que vive, estabelecer regras de conduta e normas, o
indivíduo é único e diferente de todos os outros.
A cultura tem partes visíveis (comportamento = costumes, hábitos, ritos, artefactos) e partes
invisíveis (valores, conceitos, atitudes, padrões).
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Unidade 2. Saúde Sexual e Reproductiva
Introdução
Nesta segunda unidade, gostaríamos de continuar a reflexão, sobre as relações entre homens e
mulheres (género), com especial atenção à sexualidade. A sexualidade é um aspecto fundamental do
ser humano. Temos compreende-la como um desígnio e um projecto de Deus. Ao longo da vida, a
sexualidade vai se desenvolvendo. Há várias decisões a tomar, que contribuem para relações felizes,
e que garantem a saúde sexual e reproductiva. Para além dos exercícios de reflexão, esta unidade
também vai transmitir conhecimentos, sobre a saúde sexual e reproductiva.
Conteúdo
Sexo e Sexualidade – um aspecto fundamental do ser humano
Orientações e identidades sexuais
As ITSs
A reprodução humana
Métodos do planeamento familiar
Relações saudáveis
Direitos sexuais e reproductivos
Violência sexual e violência baseada no género
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Exercício 2.1 O cérebro do homem e o da mulher: Verdade ou exagero? O que acha?
SEXUALIDADE refere-se ao lado afectivo, psicológico e sexual de uma pessoa do sexo feminino ou
masculino, ou transgénero ou transsexual. Possui uma abrangência muito maior, levando à
construcção dos papéis sexuais esperados para cada membro da sociedade (homem / mulher), dentro
de um dado grupo social.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, “A SEXUALIDADE forma a parte integral da
personalidade de cada um. É uma necessidade básica e um aspecto do ser humano, que não pode ser
separado de outros aspectos da vida. A SEXUALIDADE é a energia que motiva a encontrar o amor, o
contacto e a intimidade, e se expressa, na forma de sentir, na forma de as pessoas se tocarem e serem
tocadas, na busca de prazer”(OMS, 2004). Inclui sensualidade, erotismo, desejo de contacto, ternura
e amor.
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Ensinamentos da Igreja Católica sobre a sexualidade e o amor humano
Na vertente biológica, importa sublinhar que a sexualidade humana é tão flexível que não
permite ser reduzida a mera pulsão anárquica ou reflexo rigidamente encarcerado nos
ritmos biológicos. Desta vertente, emergem duas dimensões: a procriativa e a unitiva. A
primeira não pode ser regulada automaticamente, mas sim responsavelmente; e a segunda
não pode ser encarada como algo secundário ou acidental, mas integrante. Aqui é
imprescindível descobrir o “significado nupcial” do corpo: este é sempre corpo-eu que
“exprime a vocação do homem à reciprocidade, isto é, ao amor e ao mútuo dom de si”
(Orient. Educ., 24). A vertente biológica está referenciada à vertente psicológica; isto é, o
“sexo” abre-se ao “eros”, a “pulsão” torna-se “vivência”, e a sexualidade adquire nova
profundidade clarificadora que aponta para um projeto de comunhão. Ela manifesta e
expressa o mistério da pessoa como realidade relacional, isto é, ser-com e ser-para e torna-
se o “lugar humano” da realização conjunta de si mesmo e do outro. Esta abertura ao outro
não se esgota na relação eu-tu: no mútuo dar-receber está implicada a abertura ao “nós”
que projeta a sexualidade para um horizonte social: aqui entram os filhos no matrimónio, e
a abertura a outros compromissos sociais.
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2.3 Orientações e identidades sexuais
O facto de não se cumprir com o padrão da sexualidade estabelecido pela sociedade causou e está a
causar discriminação, exclusão, assédio, violência perante as LGTBIs.
Em 2014, as relações homem com homem eram penalizadas com prisão e outras sanções, em 83 de
242 países, e as relações mulher com mulher, em 43 países. O número de países que criminalizam a
homosexualidade está a aumentar (Novas leis anti-HSH: Nigéria, Camarões, Uganda, India). Em 7
países, há pena de morte para relações homossexuais1.
Combina o termo com a definição correta: Lésbica, Gay, Transgénero, Transsexual, Bissexual,
Intersex.
Pessoa que nasce com os genitália não distintamente masculinos ou femininos:_________
Mulher atraída sexualmente e emocionalmente por uma outra mulher:________________
Pessoa que muda o seu papel de género/a sua aparência, várias vezes, durante a sua vida: _
Pessoa atraída por pessoas do sexo oposto e por pessoas do mesmo sexo._____________
Pessoa que muda o seu sexo físico, através da cirurgia, da terapia hormonal, etc. _______
Homem atraído sexualmente e emocionalmente por um outro homem: ______________
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Exercício 2.3: Testa a sua percepção, sobre a igualdade de género, na vida sexual e reproductiva
Teste a tua percepção, sobre a igualdade de género, no quadro abaixo. Responde a cada pergunta,
numa escala 1 (=De maneira nenhuma concordo) a 5 (=Concordo plenamente). Escreve o nível de
concordância, por cada variável, na coluna direita. Calcula os subtotais A e B dos pontos.
Nº Opções Pontos
Variáveis Não concordo=1, Concordo=5
1 2 3 4 5
1 O homem é que decide sobre a forma como o 1 2 3 4 5
casal há de fazer relações.
2 O homem precisa mais de sexo do que a mulher. 1 2 3 4 5
3 Sexo não se conversa, faz-se! 1 2 3 4 5
4 A mulher, que anda com camisinha na bolsa, é 1 2 3 4 5
uma libertina.
5 Só a mulher é que deve tomar providências, para 1 2 3 4 5
não engravidar.
6 Quando se tem que tomar decisões, em casa, é o 1 2 3 4 5
homem quem deve ter a última palavra.
7 O homem sempre está disposto para fazer 1 2 3 4 5
relações.
8 A esposa sempre deve estar disposta para fazer 1 2 3 4 5
sexo com o marido.
9 Mesmo estando bem com a sua mulher, o homem 1 2 3 4 5
precisa de ter outra.
10 Não se mete colher numa briga de um casal. 1 2 3 4 5
11 A mulher deve aguentar a violência, para manter 1 2 3 4 5
a família.
12 Seria uma ousadia a minha mulher me pedir para 1 2 3 4 5
usar camisinha.
13 O homem pode bater na sua mulher, se ela não 1 2 3 4 5
quiser fazer relações com ele.
14 Sinto vergonha, quando vejo um homem a 1 2 3 4 5
expressar-se, de forma feminina.
15 Homem que é homem faz relações só com muitas 1 2 3 4 5
mulheres.
16 Se o homem trair a mulher, ela pode lhe bater . 1 2 3 4 5
17 Se a mulher trair o homem, ele pode lhe bater. 1 2 3 4 5
18 O marido em situações económicas dificeis não 1 2 3 4 5
merece o respeito da mulher e dos filhos.
Subtotal A
33
Não concordo=1, Concordo=5 Pontos
Variáveis 1 2 3 4 5
19 O casal deve decidir junto se quer ter filho. 1 2 3 4 5
20 Para mim, tanto o homem como a mulher podem 1 2 3 4 5
propor o uso de preservativos.
21 Se o homem engravida uma mulher, o filho é da 1 2 3 4 5
responsabilidade dos dois.
22 Numa relação sexual, é importante ele saber do 1 2 3 4 5
que a sua parceira gosta.
23 É muito importante que o pai esteja presente na 1 2 3 4 5
vida dos filhos, mesmo após o divórcio.
24 O homem e a mulher devem decidir juntos o tipo 1 2 3 4 5
de anticonceptivo que vão usar.
25 Se a mulher quiser, ela pode ter mais de um 1 2 3 4 5
parceiro sexual.
26 Ambos os parceiros têm o direito de dizer “não” 1 2 3 4 5
ao fazer sexo.
27 O homem pode cuidar tão bem de crianças como 1 2 3 4 5
a mulher.
28 A mulher tem o mesmo direito que o homem de 1 2 3 4 5
trabalhar fora de casa e estudar.
Subtotal B
34
Os adolescentes fazem as suas primeiras experiências com a sexualidade: descobrem a sua identidade
sexual, os seus desejos e a atracção pelo outro. Nesta fase, precisam de uma boa informação, de
serviços, de aconselhamento e acompanhamento. Muitas vezes, a sociedade não tem respondido, de
maneira satisfatória, às necessidades dos adolescentes, sobre a sexualidade, a reprodução, a
prevenção das ITS e do HIV.
A consciencialização deve contemplar os direitos bem como as responsabilidades, a participação
activa do jovem nos processos relacionados com a vida particular e social.
Esta fase de desenvolvimento humano é uma fase de descoberta: da diferença entre amizade e
namoro, entre namoro sem compromisso e namoro que se desenvolve numa relação duradoura, com
finalidade de matrimónio.
As características físicas do adulto não sofrem mudanças tão bruscas como as mudanças durante a
adolescência. Nesta fase, homens e mulheres têm a plena capacidade reproductiva. A maioria realiza
o seu desejo de se casar e ter uma família e filhos. O matrimónio é um compromisso, para que as
pessoas têm que se preparar bem. Viver como marido e mulher deve ser duradoro e diferente de ter
amante, namorada. Infelizmente, as mudanças sociais do nosso tempo, a mobilidade, as expectativas
divergentes entre os parceiros, a infidelidade e os conflitos de vária ordem são causas de altos níveis
de divórcio, nas nossas sociedades.
Mensagens orientadoras:
Desfrutar de várias formas de viver a sua sensualidade e desejo de ternura, que não envolvam
o acto sexual
Esperar pela vida e actos sexuais, até estar preparado, psicologicamente e fisiologicamente.
Respeitar a decisão do/da parceiro/a: Não significa Não!
Esperar pela relação sexual, até poder assumir um compromisso de longo prazo é um sinal do
amor.
Ser preparado para assumir a responsabilidade de ser pai/mãe.
Ser fiel ao seu parceiro: Não a parceiros múltiplos e não a relações fora do matrimónio.
35
A posição da Igreja Católica sobre o Matrimónio e a paternidade/maternidade responsável
2.4.1- O matrimónio
Se é verdade que “a família é a célula da sociedade” (cf. art. 1 da Lei da Família), então é preciso apostar
na construção de famílias fortes e sólidas para termos uma sociedade melhor e mais humana. Falar de
famílias fortes e sólidas é falar, primeiramente, da união matrimonial do homem e da mulher. O Direito
Canónico diz que o Matrimónio está destinado para o bem dos cônjuges e para a procriação e educação
dos filhos (Cân.1055, §1). Esta declaração, bem compreendida, é uma excelente fórmula em defesa da
vida e da dignidade humanas, e o Matrimónio é o espaço próprio e privilegiado da vivência e experiência
efetiva da sexualidade em todas as suas dimensões: biológica, psicológica e social.
O Matrimónio é constituído por um ato livre, em que um homem e uma mulher se entregam e se
recebem para uma comunhão de vida a dois, para sempre. E, porque se trata de um projeto para toda
a vida, requer a unidade (um só homem para uma só mulher) e a indissolubilidade (o que Deus uniu o
homem não pode separar) (Câns.1056 e 1057, §2). Isto significa que não é lícito ‘fazer uma experiência’
de casar: “Se uma ou ambas as partes, por um ato positivo da vontade, excluírem o próprio Matrimónio
ou um elemento essencial do Matrimónio ou alguma propriedade essencial, contraem-no
invalidamente” (Cân.1101 §2). São duas vidas que se comprometem para um projeto com carácter
definitivo. Esta comunhão íntima de vida, ordenada para o bem do casal e para a educação dos filhos,
para os batizados foi elevada por Cristo à dignidade de Sacramento (Cân.1055).
O matrimónio, sendo uma “comunidade de vida e de amor”, integra dois valores igualmente relevantes
que os esposos são chamados a realizar sempre, e cuja chave última de leitura é o amor conjugal: a
paternidade/maternidade responsável e a fidelidade conjugal. O Concílio Vaticano II sublinha a
importância de que “o amor recíproco dos esposos se manifeste ordenadamente, progrida e se
desenvolva” (GS, 50), pois “quando a intimidade conjugal se interrompe, a fidelidade pode correr riscos
e o bem dos filhos ser comprometido” (GS, 51). (p.60)
Antes de entramos na avaliação moral do uso destes métodos, analisemos, primeiro, o processo da
reprodução humana.
36
2.5 A reprodução humana
Conheces os nomes das partes dos aparelhos reproductores feminino e masculino? Completa os
gráficos, com os respectivos termos.
Aparelho reproductor masculino: Escroto, Próstata, Canal deferente, Uretra, Testiculo, Vesicula
seminal, Pénis
1 _________________________
2_________________________
3_________________________
4_________________________
5_________________________
6_________________________
7 _____________________
Agora, explica qual a função de cada um destes órgãos.
37
A anatomia da vagina permite receber o pénis; recebe o sémen do homem, e serve de canal,
para a saída do bebé.
38
2.5.2. O que é a menstruação? É doença?
Quando o óvulo não é fecundado, morre; e o forro do útero desfaz-se. O óvulo e estes forros saem,
em forma de sangue, da menstruação. A menstruação é a limpeza das paredes internas do útero,
quando não há fecundação.
A menstruação tem andado envolvida em muitos mitos. Tem-se dito que, quando está menstruada, a
mulher não pode ter relações sexuais, não pode tomar banho, não pode tomar medicamentos. Tudo
isso é falso. A menstruação é um fenómeno completamente normal, não tem que alterar o ritmo de
vida habitual.
2.5.3. Uma mulher pode ficar grávida, antes de ter o primeiro período menstrual?
Sim, uma mulher pode engravidar, antes do seu primeiro período, porque um óvulo pode ter
começado a amadurecer, nos ovários, e pode ser fecundado.
2.5.4. Uma mulher pode ficar grávida, depois de fazer sexo apenas uma vez?
Sim, pode ficar grávida, porque tudo depende do ciclo menstrual. Se existe um óvulo maduro, que
saiu do ovário, no mesmo dia, em que a mulher faz sexo com um homem, ela pode engravidar. Isto
pode acontecer, mesmo quando ela faz sexo, pela primeira vez na vida.
2.5.5. Qual a probabilidade de engravidar?
A probabilidade de ficar grávida, por mês, de sexo não protegido, é de 1 em 6.
Exercício 2.5 Actividade – Risco de gravidez OPCIONAL
Os participantes escolham um número, de 1 a 6
O Facilitador tira, dum saco, um número (teste de gravidez, no primeiro mês), e os
participantes com este número são grávidas, e ficam de pé.
Reflexão: Como ia mudar a minha vida, se eu ficasse pai/mãe, sem ser preparado?
39
Para os adolescentes, o planeamento familiar faz com que se evitem as seguintes consequências de
ter o seu bebé precoce e de forma não planificada:
Complicações para a saúde da rapariga,
Complicações para a saúde do bebé, como, por exemplo, o nascimento com baixo peso,
Consequências negativas para a vida do rapaz ou rapariga, como por exemplo: deixar de estudar,
não ter condições financeiras, para uma família, conflitos nas famílias, etc.
Em geral os métodos modernos do planeamento familiar são mais eficazes, mas têm algumas
desvantagens, e implicam questões éticas.
A pílula
40
A injecção (Depo-Provera)
41
O preservativo masculino e feminino
Vantagens
Protecção tripla: prevenção do HIV e das ITSs e evite a gravidez
Eficacia: Se usados em 100% das vezes, os preservativos proporcionam uma
protecção de cerca de 80-85% contra o HIV e gonorreia e 50 a 66% contra a sífilis
(Segundo OMS, 2002 e NAM, 2011).
Não tem efeitos colaterais
Não há perigo de resistência (diferente dos medicamentos)
E barato
Apesar da eficácia, existem limitações importantes para garantir o uso efectivo do preservativo, tais
como:
Desaprovação social, crenças e normas sociais e culturais e religiosas;
Necessidade da negociação do uso do preservativo (masculino) com o parceiro:
Relutância pessoal em usar preservativos;
Dificuldades para obter preservativos.
O diafragma e os espermaticidas
A Laqueação
É um método de PF, que consiste numa pequena operação, para amarrar as trompas, a fim de evitar
a gravidez. Por ser permanente, a mulher fica com a certeza de que nunca mais vai engravidar. É um
método benéfico para quem tiver tido muitos partos. A laqueação em nada afecta a saúde da mulher.
Pode ser feita, logo após o parto.
Atenção: A laqueação é um método permanente, e só deve ser usado, depois de haver um consenso
do casal/parceiro.
A Vasectomia
É um método de PF, que consiste numa pequena operação realizada no homem, para evitar que ele
venha a engravidar a sua parceira. A operação é muito simples e é feita pelos profissionais de saúde,
com uma anestesia local. Este método não afecta a potência do homem.
Atenção: É um método de PF definitivo, porque, mesmo que tenha relações sexuais, o homem que fez
esta operação, já não vai engravidar nenhuma mulher.
42
Avaliação moral dos métodos de planeamento familiar
Os métodos de planeamento familiar devem ser analisados tendo em conta três parâmetros
fundamentais:
Eficácia (inclue não somente a,
Inocuidade (amabilidade, inofensividade, sem efeitos colaterais) e
Aceitabilidade (psicológica, social, cultural, etc.).
Referenciando os diversos métodos anticoncetivos a estes parâmetros, constata-se que
nenhum os realiza simultaneamente de modo ótima. Os métodos de ritmo (métodos
naturais) têm o inconveniente de baixa eficácia de evitar a gravidez e da certa dificuldade de
utilização, porque dependem duma boa compreensão e da colaboração do casal. Tem,
contudo, grande vantagem de prevenir o amor conjugal contra o “império do sexo” e ajudar
a integrar a sexualidade na vivência complexiva do casal. Os métodos hormonais (pílulas)
têm elevado índice de eficácia, mas não são sempre inócuos e podem ter alguns efeitos
colaterais. Os métodos mecânicos (diafragma, preservativo, etc.) apresentam um alto índice
de inocuidade e de eficácia mas, em muitos casos, carecem de aceitabilidade por parte de
quem os usa ou/e do parceiro sexual. O coito interrompido apresenta um elevado índice de
falhas. Os espermicidas, para além da sua baixa eficácia, implicam realizar a relação dentro
de certo tempo após terem sido colocados. Do que acabamos de referir emerge uma
conclusão clara: não se pode absolutizar nenhum método.
É somente ao casal a quem cabe a decisão sobre a escolha do método. Tal decisão deverá
ser fruto de um discernimento amadurecido. E, se se tratar de um casal católico, a sua opção
deve ser iluminada pelos ensinamentos do Magistério da Igreja. Tendo em conta esses
elementos, o casal agirá de acordo com a sua consciência, pois a consciência é inviolável e o
homem não deve ser forçado a agir de forma contrária à sua consciência. A avaliação moral
deve basear-se numa visão integral do matrimónio e do amor humano.
43
2.6.1 A gravidez não planificada
O contexto social e cultural, incluindo a religião, é um dos importantes factores que influenciam o
planeamento familiar.
A gravidez é mais frequente nas adolescentes: de acordo com o último censo populacional, 17% das
adolescentes, entre os 15 e os 19 anos, tiveram já um filho.
Apesar de existirem muitas opções de planificação familiar, e apesar da educação e informação sobre
a sexualidade, mulheres grávidas têm procurado resolver o seu problema, através do aborto.
O aborto inseguro, em Moçambique, é uma das principais causas da morte materna. Em 2010, a
mortalidade materna, no país, foi de 490 mortes por 100.000 nascimentos vivos2. Não é conhecida
exactamente a magnitude do aborto inseguro. No período de 1990 a 2000, 8 a 11% das mortes
maternas ocorridas foram devidas a complicações do aborto inseguro.
O aborto inseguro é um problema grave de saúde pública, não só devido à morte materna, mas
também devido às suas complicações imediatas e de longo prazo. As complicações imediatas mais
comuns são: lacerações do colo do útero, hemorragia, infecção grave (sepsis), perfuração uterina e
peritonite (acumulação de pus, na cavidade abdominal). As complicações a médio e longo prazo
incluem a dor pélvica crónica, a gravidez fora do útero, e a infertilidade. São também de destacar as
consequências sociais, tais como a destruição da família e a estigmatização da mulher.
2
WHO. (2013). Global Health Statistics 2013, Geneva, p.72.
44
Estudos recentes mostraram que as mulheres que recorrem ao aborto inseguro são significativamente
mais jovens, sem uma relação estável, e estão em desvantagem em relação à educação, ao
conhecimento e uso de contraceptivos, à habitação e agregado familiar. Estão também em maior risco
de graves complicações3.
É importante salientar que muita dor e desespero podem ser evitados, com um bom aconselhamento
e uma planificação em conjunto. O aborto destrói uma vida que está a nascer. O aborto não é um
método de planeamento familiar.
Este discurso parte do princípio de que desde o momento da fecundação, estamos perante
uma vida humana. O óvulo fecundado é um ser humano pela sua origem, pela sua finalidade e
pelas suas potencialidades humanas, e todo o processo embrionário é, desde o primeiro
momento, um processo autónomo e contínuo, sem saltos qualitativos que permitam falar de
um “antes” e de um “depois”.
Por sua vez, a Igreja Católica tem sido constante na condenação firme de todos os atentados à
vida humana (homicídio, genocídio, aborto, suicídio voluntário, etc. – GS, 51). E o Papa João
Paulo II diz que “o ser humano deve ser respeitado e tratado como uma pessoa desde a sua
conceção e, por isso, desde esse momento, devem-lhe ser reconhecidos os direitos da pessoa,
entre os quais e primeiro de todos, o direito inviolável de cada ser humano inocente à vida”
(EV, 60).
a) O primeiro é perspetivar o aborto como um direito da mulher sobre o seu próprio corpo:
isto é falso, porque o embrião não é mero apêndice da mãe, mas antes uma realidade
humana autónoma e, como tal, indisponível. Portanto, nunca se pode evocar o “direito a
abortar”;
b) O segundo é argumentar com a prática do aborto clandestino e as más condições em que
é realizado para exigir a descriminalização ou a legitimação do aborto;
c) O terceiro é pensar-se que o poder constituído, nomeadamente na sua vertente legislativa,
tem competência para descriminalizar o que, por sua natureza, é crime: nenhuma lei
positiva pode transformar em não mau ou bom o que é mau em si mesmo. (p.71-72).
Casos de salvar a vida salvável: aborto por indicações médicas. Casos em que a criança no
3
Machungo, F. (2004). O aborto inseguro em Maputo. Outras Vozes, Vol. 7. WLSA Mozambique. Maputo.
ventre da mãe mostra deficiências serias. Que fazer?
45
Exercício 2.6: Estudo do caso Ivandro
Olá, amigos! Chamo-me Ivandro, tenho 26 anos, sou filho único. Sou licenciado em Contabilidade e
Auditoria, pela Universidade Católica. Consegui, há pouco tempo, um bom emprego, na Cornelder, e
posso vos dizer que financeiramente estou estável.
Já tive muitas relações e várias parceiras. A mulher, que marcou a minha vida foi a Deuclésia, que ficou
minha amiga, durante cinco anos, e acabámos por nos separar, por minha culpa, porque ela descobriu
que eu estava a me envolver com uma outra.
Depois dela, tive várias namoradas, até encontrar a minha actual namorada. Chama-se Zinaida, é 5
anos mais velha do que eu, e divorciada. Amo-a, mas ela faz muita pressão sobre mim: quer se casar
comigo e ter filhos. Só que, sempre que vejo a Deuclésia, fico com vontade de a ver, morro de ciúmes
dela.
Os meus pais não aceitam a Zinaida, mas eu gosto dela, e por isso é que até hoje não nos separámos.
Agora descobri que ela está grávida. Sinto que não estou preparado para aceitar ser pai. Quero tirar
dinheiro para ela poder fazer um aborto, na clandestinidade. Encontro-me muito confuso. Eu quero
formar uma família e quero ter filhos, mas não desta maneira.
Para estudantes jovens:
Poe-te no lugar do Ivandro: Porque está ele nesta situação? O que deve ele fazer?
Para adultos e pais: Ponha-se lugar do pai/da mãe do Ivandro: Porque é que o Ivandro está nesta
situação? O que é que você podia ter feito, como pai, para isso não acontecer? O que é que vai fazer
agora?
“Saúde Reprodutiva é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, em todas as matérias
concernentes ao sistema reprodutivo, suas funções e processos, e não simples ausência de doenças
ou enfermidades” (OMS).
A finalidade da saúde sexual é a melhoria da qualidade de vida e das relações pessoais, e não o mero
aconselhamento e assistência relativos à reprodução e às doenças sexualmente transmissíveis.
46
Figura 6 Necessidades de Saúde Sexual e de Saúde Reproductiva
A Saúde Sexual e Reproductiva diz respeito ao bem-estar emocional, através de uma vivência sexual
prazeirosa, à relação respeitosa conjugal, e à autodeterminação, na vivência da sexualidade.
47
As complicações de uma ITS não tratada são as seguintes:
Aborto;
Gravidez fora do útero;
Câncro da cervix;
Esterilidade no homem;
Os bebés nascidos de uma mãe infectada podem nascer com conjuntivite ou cegueira;
Doença mental do bebé.
48
Figura 7 - Tabela das ITSs
ITS Gonorreia Sífilis Tricho- Clamídia Granolom Candidíase Herpes Hepatite B Cancróide
maníasis a venérea
Como se Contacto Contacto Contacto Sexual Contacto Sexual Contacto Contacto Sexual Contacto Contacto Contacto Sexual
adquire? Sexual Sexual Sexual em mulheres/ Sexual, Sexual ou
homens, pode contacto contacto com
surgir sem com a ferida fluidos do
contacto físico corpo: sangue,
saliva, urina
Período de 1-10 dias Fase 1: 1-3 1 semana 1-3 semanas 3-12 dias, 2-20 dias 1-6 meses 4-10 dias,
incubação meses Período ao máximo: 1
Fase 2: 3-6 latente: 2-6 mês
meses semanas
Fase 3: anos
Sintomas Mulheres: dor Fase 1: ferida Mulheres: Mulheres: dor Inchaço dos Mulheres: Borbulhas Fase 1; úlceras
pélvica, que não dói corrimento pélvica, gânglios corrimento que doem e cansaço, perda dolorosas,
corrimento Fase 2: febre, amarelo ou corrimento, inguinais e branco, inchaço arrebentam de peso, dor inchaço dos
ardor ao borbulhas e verde, comichão ardor e dor ao ruptura da vulva, dor para feridas. nas gânglios
urinar, febre manchas no nos órgãos urinar, para urinar, Feridas nos articulações inguinais
Homens; corpo genitais sangramento Comichão nos órgãos gripe
ardor ao Fase 3: muito Homens: órgãos genitais sexuais e na Fase 2:
urinar doente, afecta Corrimento, dor Homens: boca Hepatite – pele
o sistema ao urinar, ou inchaço, amarela
nervoso sem sintomas inflamação, Fase 3:
comichão no recuperação
pénis gradual
Tratamento Antibióticos Antibióticos Antibiótico Antibióticos Antibiótico, às Cremes vaginais Não tem Repouso e Antibióticos
vezes cirurgia (antifúngicos) cura dieta. Existe
vacina
Efeitos na Disseminação Infecção Febre e infecção Infecção severa Febre, Desconforto Feridas Associado com Desconforto,
ausência de para o outro, severa, dos órgãos, dos órgãos estreitezas extremo desaparece cancro do Ruptura de
tratamento infertilidade Infertilidade transmissão para reproductivos anais, fístulas m e rea- fígado. Morte. gânglios inguin-
Doenças de o bebé parecem se Transmissão ais, formação e
pele, cegueira a pessoa vertical fistulação de
no bebé está doente abcessos
49
Exercício 2.8: ITSs - Testa o teu conhecimento. Em cada pergunta, são possíveis
múltiplas escolhas.
1. Quais dos seguintes são sinais e sintomas de ITSs, somente na mulher ou em ambos?
Dor ao urinar ou defecar, dor pélvica, inchaço, inflamação, úlceras, corrimento, dor durante
as relações sexuais, feridas, febre, comichão/irritação nos órgãos genitais, garganta inflamada
_____________________________________________________________________
5. O que tem você que fazer, quando descobrir que tem uma ITS:
a. Ir à unidade sanitária e tratar a ITS
b. Não fazer nada
c. Informar a sua parceira/as suas parceiras (ou: o seu parceiro/os seus
parceiros) para você e ela/e (s) irem tratar a ITS.
d. Procurar conselho com um amigo.
50
2.9 Violência baseada no género
Introdução ao tema:
51
2.9.1. Factos sobre a violência contra mulheres
4
Kilonzo, N. et al. (2009). Sexual violence legislation in sub-Saharan Afria: the need for strengthened
medico-legal linkages. Reproductive Health Matters2009;17(34):10–19, p.11-13.
5
República de Moçambique. (2008). Plano Nacional de Acção para Prevenção e Combate à Violência
contra a Mulher 2008-2012. Maputo, p.9.
52
Fig. 10: Os compromissos internacionais dos direitos da mulher e da igualdade de género
Na sua opinião,
- Quais, dos seguintes, são indicadores de uma relação saudável:
- Quais deles são indicadores de uma relação não saudável:
- Quais deles não pertencem a nenhum destes dois grupos:
Ambos são responsáveis pelo sucesso ou insucesso da relação. O diálogo, numa relação, é
essencial, bem como o respeito pelas opiniões, sentimentos e desejo da outra pessoa. Os
ataques pessoais contaminam o relacionamento e levam à destruição do respeito.
Comentários constructivos, carinho mútuo e alegria de estar juntos são sintomas de um casal
apaixonado. Quando isso ocorre, faz muito bem à saúde do corpo e da mente. Se não está
vivendo assim, saiba que vale a pena tentar!
55
Exercício 2.10: Estudo do Caso Volvétia
A Volvétia é uma linda moça dos seus 18 anos, e acaba de terminar a 12.ª classe. Fez o exame
para admissão ao curso de direito na UEM, e não foi admitida. Não pode entrar numa
Universidade privada, porque os pais não podem pagar, sendo o pai reformado.
Ela de facto é linda, e por isso é que o Sr. Suglofe gosta muito dela, ao ponto de se oferecer
para lhe pagar os estudos e acomodação em Nampula, na Faculdade de Direito da UCM. Pois
ele tem posses, é Director Executivo da empresa Cimentos de Moçambique. E em troca quer
ter uma relação com ela.
A proposta do Sr. Suglofe é tentadora. Mas existe um facto muito importante, na história: ela
é namorada do filho do Sr. Suglofe, que se chama Leopoldo e está a fazer o 3.º ano do Curso
de Medicina, e o Sr. Suglofe sabe desta relação, e diz que não irá atrapalhar em nada, e que
tudo ficará como está.
Ela anda confusa, porque quer ambas as coisas: estudar e o Leopoldo. Mas poderá ela ter
ambas as coisas, se aceitar a proposta do Sr Suglofe?
Responde às perguntas:
Para estudantes jovens:
Se estivesses no lugar da Volvétia, que farias tu, se te encontrasses numa situação destas?
Para adultos:
Que direitos de cada pessoa está o Sr. Suglofe a violar?
56
CARTA DOS DIREITOS e DEVERES SEXUAIS
58
Unidade 3. Informação Básica Sobre o HIV/SIDA
Introdução
Conteúdo
Situação da epidemia de HIV/SIDA, no mundo e em Moçambique
Factos clínicos básicos, sobre HIV e SIDA
Vias e condições de transmissão do HIV
A progressão da infecção por HIV, no corpo
O diagnóstico de HIV
Aconselhamento e testagem em Saúde
Prevenção do HIV
Tratamento do HIV e SIDA
Normas sociais e práticas prejudiciais para a saúde (Género)
Estigma e discriminação de PVHSs
59
3.1. A epidemia global do HIV&SIDA
As infecções do HIV estão agora concentradas nos países em desenvolvimento. Dois terços de
todas as pessoas a viver com o HIV residem na África Sub-Sahariana (cerca de 25 milhões de
pessoas, em 2013). As mulheres e, entre elas, as mulheres jovens dessa região carregam o
fardo desproporcional de infecções, devido principalmente ao seu estatuto, na sociedade, e
ao seu fraco poder de negociação de sexo seguro. Estima-se que em 2013, em África, 1.1
milhões de pessoas morreram, por causas relacionadas com o SIDA. Até ao fim de 2005, na
África Sub-Sahariana, estima-se que cerca de 12 milhões de crianças ficaram órfãs, devido ao
SIDA.
Desde 1986, o número de casos tem vindo a crescer rapidamente. Até finais de 1992, tinha
sido registado um total cumulativo de 662 casos de SIDA, para cerca de 1.35 milhões em 2002,
respectivamente. Em 2014, aproximadamente 1.5 milhões de pessoas viveram com VIH;
200.000 dos quais crianças (CNCS, 2014). Anualmente, ocorrem 120.000 novas infecções no
país, principalmente em casais discordantes, trabalhadores de sexo e seus clientes, e pessoas
com múltiplos parceiros.
As estimativas de prevalência do HIV mostram que a epidemia está estável. Mesmo assim,
Moçambique pertence aos dez paises com a prevalência de HIV mais alta do mundo.
Em 2009, foi feito o primeiro estudo populacional (INSIDA). Os resultados mostraram uma
prevalência nacional de 11.5%, nos adultos dos 15 aos 49 anos. Em cada 7 moçambicanos, 1
é portador do HIV/SIDA. A prevalência é mais alta nas mulheres, principalmente nas mulheres
jovens, nas pessoas com melhor educação e melhor rendimento.
60
Figura 12: Prevalência do HIV em Moçambique, em 2009, por Província
Inicialmente, essa doença foi observada principalmente em homens homossexuais. Isto levou
ao equívoco de que o SIDA era uma doença apenas de homens gays. E seguiu-se uma nova
onda de preconceito e discriminação contra gays e lésbicas.
Mas o HIV não é transmitido apenas por sexo gay. O HIV pode ser transmitido por qualquer
tipo de comportamento sexual (homosexual ou heterossexual), se não forem tomadas as
precauções, tais como o uso de preservativos. Na África Sub Sahariana, a maioria das infecções
por HIV são devidas a relações heterossexuais. No entanto, os gays ainda são muito afectados,
por causa da discriminação enraizada contra gays, e a falta de recursos disponíveis para os
gays prevenirem a infecção pelo HIV.
Hoje, os cientistas ainda não sabem porque é que o HIV, de repente apareceu, na década de
1980. A teoria mais provável é que o HIV é um descendente do vírus de imunodeficiência
simiana (SIV), que é encontrado em macacos. O SIV partilha muitas características comuns
com o HIV. O HIV é um vírus de rápida mutação; poderia muito bem ter-se transformado, a
partir do SIV. Algumas estirpes do HIV têm sido detectadas em amostras de sangue, na década
61
de 1920, na África Central (Congo) e Ocidental, e podem ter-se espalhado com trabalhadores
migrantes no continente.
Entre os dois tipos de HIV, o HIV-1 (frequente na África Leste e África Austral) é mais virulento
do que o HIV-2 (frequente na África Ocidental). Há muitos subtipos e estirpes do HIV-1, alguns
deles muito virulentos.
Ainda não há cura para o SIDA, mas há tratamento antiretroviral e das infecções oportunistas.
Graças aos antiretrovirais, as pessoas infectadas podem viver muito tempo e ter uma vida
normal. Os ARVs podem reduzir drasticamente a carga viral do HIV, no sangue duma pessoa,
protegendo-a contra as infecções oportunistas e evitando a progressão da infeçcão por HIV
para o SIDA.
O que é HIV?
H = humana
I = imunodeficiência
V = vírus
HIV é o vírus que causa o SIDA.
O sistema imunológico é o sistema de defesa do corpo, que o protege de doenças.
O vírus ataca o sistema imunológico e enfraquece-o.
A infecção pelo HIV torna o sistema imunológico deficiente contra as doenças.
O que é o SIDA?
S= sindroma (colecção de várias doenças e sintomas)
I= imuno (sistema de defesa do corpo)
D= deficiência (fraqueza, falha ou sistema imunológico inadequado)
A= adquirida (apanhada de alguém)
62
Se alguém está infectado com o HIV, diz-se que ele/a é HIV positivo/a.
O SIDA é a fase final da infecção do HIV.
Nesta fase, várias doenças atacam e enfraquecem o corpo.
Essas doenças chamam-se infecções oportunistas.
Uma infecção de HIV não é uma sentença de morte. Uma pessoa pode viver uma vida
productiva, com o HIV, durante muito tempo.
O HIV é encontrado nos fluidos do corpo de uma pessoa infectada. Os fluidos corporais, que
contêm quantidade suficiente do vírus, para facilitar a infecção, são:
Sangue
Sémen
Fluidos/secreções vaginais
Leite do peito.
☺☺☺☺☺☺☺
☺☺☺☺☺☺☺ ☺☺☺
☺☺☺☺☺☺ ☺☺☺
☺☺
Os fluidos corporais, que não contêm quantidades suficientes do vírus, para serem
infecciosos, são:
Saliva
Suor
Lágrimas
Urina
Vias de transmissão
A transmissão do HIV dá-se mais frequentemente por via de
Contacto, durante a penetração sexual desprotegida com um parceiro infectado/a.
O vírus pode entrar no corpo, através da superfície da vagina, vulva, pénis ou recto,
durante as relações sexuais. A transmissão durante as relações heterossexuais é mais
frequente, em África.
Contacto com sangue infectado. Nestes casos, pessoas que usam drogas injectáveis
e partilham agulhas ou seringas contaminadas pelo sangue de alguém infectado pelo
vírus. Transmissões de pacientes para agentes de saúde, ou vice-versa, por via de
picadelas acidentais, com agulhas ou outros instrumentos médicos, são raras.
Transmissão vertical, da mãe para o filho: As mulheres podem transmitir o HIV para
os seus bebés, durante a gravidez, durante o parto, e através da amamentação.
63
Figura 14: As condições necessárias, para que ocorra a infecção pelo HIV
Um fluído corporal com HIV de uma pessoa
Uma boa maneira de pensar, acerca disto, é pensar na fórmula QQR (Labouchère, 2007):
Q = Quantidade suficiente de vírus (ex. sangue, sémen, fluidos vaginais, ou leite materno). A
concentração do HIV é mais alta no sangue. Segue-se o sémen, e depois os fluidos vaginais.
Dos quatro fluidos corporais, o leito materno é o que tem a mais baixa concentração de HIV.
Q = Qualidade. O HIV é muito frágil e precisa de um meio adequado para sobreviver. Não
sobrevive fora do corpo humano, isto é, no ar ou ao sol. Também não resiste a ácidos e
detergentes.
R = Rota ou porta de entrada, através da qual o vírus entra no corpo duma pessoa não
infectada.
A duração à exposição também é um factor relevante: deve ser longa e suficiente (o risco da
infecção aumenta, quanto mais tempo a pessoa fica exposta ao vírus).
Nota: Se uma destas condições não existir, não é possível a contaminação pelo HIV!
Quando tu e o teu parceiro/a tua parceira decidirem ter relações sexuais, certifica-te de que
tomas decisões informadas, acerca de como obter satisfação sexual, sem correr nenhum risco.
Vamos fazer o exercício 3.2. Para encontrares a resposta certa, pensa nas condições
necessárias para a transmissão de HIV – o QQR!
64
Exercício 3.2: Classificação do Risco de transmissão de HIV
Determina o nível de risco de transmissão do HIV, e explica a tua resposta, na base do QQR.
Põe-se no lugar das pessoas nas cinco situações descritas no exercício 3.3 na página
seguinte.
Seja espontâneo e honesto!
O exercício é individual e o resultado é confidencial.
Faça a sua escolha (A, B ou C) em relação a cada situação descrita:
As minhas respostas
1. Letra _____
2. Letra _____
3. Letra _____
4. Letra _____
5. Letra _____
65
Exercício 3.3: Avalia o teu risco
66
3.4.3 Práticas sexuais e o risco de infecção por HIV
Risco elevado
Penetração anal, sem preservativo (é três vezes mais arriscada do que
a penetração vaginal não protegida!).
Penetração vaginal, sem preservativo.
Partilhar agulhas, lâminas ou qualquer outro objecto afiado, que possa perfurar a pele.
Algum risco
Fazer sexo oral com um homem, sem preservativo.
Fazer sexo oral com uma mulher, que não esteja usando nenhuma barreira.
Fidelidade – o risco depende do comportamento de cada um dos parceiros. Para
minimizar o risco, a fidelidade entre os parceiros tem que ser mútua e da situação
serológica de cada um.
Baixo risco
Fazer sexo oral com um homem com preservativo.
Fazer sexo oral com uma mulher com barreira.
Penetração vaginal ou anal, com preservativo. O risco depende de como o preservativo é
usado, o seu tempo de vida e o tipo de lubrificante usado.
Sem risco
Abstinência
Massagem erótica
Abraçar e acariciar o corpo
Beijo
Masturbação e masturbação mútua
Fantasia.
3.4.4 A progressão da infecção por HIV, no corpo
O HIV torna cada vez mais deficiente o sistema imunológico duma pessoa
infectada. E assim a pessoa tem mais risco de contrair doença. Para
perceber a progressão do vírus e o tratamento, temos que estar
familiarizados com alguns termos:
Contagem das células CD4 (T4)
O HIV exerce largamente o seu efeito no sistema imunológico, destruindo as células CD4 (ex.
Células T, ou ajudantes das células T), que são as células, que ajudam o corpo a lutar contra
infecções. A contagem normal das CD4 varia de 600 a 2.000 células/mm3. Geralmente diz-se
que uma pessoa tem SIDA, quando a quantidade do CD4 cai para 200 ou abaixo disso. A
contagem do CD4 é um dos marcadores mais valiosos e importantes do estado da imunidade
de uma pessoa com HIV/SIDA.
Carga viral do HIV
A carga viral é a medição de quanto HIV existe no corpo. Quanto mais alta for a carga viral,
tanto mais rapidamente o sistema imunológico da pessoa será danificado, pela destruição das
células CD4. Uma subida da carga viral indica uma doença do HIV muito activa. Também uma
carga viral elevada pode conduzir a uma maior chance de mutação do HIV, que é resistente à
medicação.
67
O gráfico abaixo mostra o que acontece com as células CD4 e a carga viral, ao longo da
infecção com HIV.
Figura 15: As células CD4 e a carga viral, ao longo da infecção com HIV
semanas anos
Fonte: Adaptado e traduzido de Centre for the Studies of AIDS.(2008). HIV and AIDS in South
África. 2007/2008. Training and Information Resource. University of Pretoria. p.8.
1.a Fase: infecção primária – nas primeiras 12 semanas, depois da infecção, ocorre uma
propagação rápida do HIV, mas o sistema de defesa consegue controlar e diminuir a carga
viral (quantidade de vírus). O teste de HIV ainda pode ser negativo, mas o portador já pode
transmitir o vírus a outra pessoa.
2.a Fase: fase latente, sem sintomas clínicos, e cuja duração varia entre 2 e 10 anos. A carga
viral continua baixa e, depois, aumenta, lentamente. As células CD4 diminuem lentamente,
o teste do HIV é positivo.
3.a Fase: Na fase sintomática, aparecem as doenças oportunistas, as células CD4 diminuem e
a carga viral aumenta.
4.ª Fase: É já o SIDA. As células CD4 diminuem ainda mais, e a carga viral aumenta. Nesta fase
terminal, o teste de HIV pode, por vezes, ser negativo, devido à falta de resposta imunológica
(anticorpos).
68
3.4.5 Estágios clínicos da infecção por HIV
Figura 16: Sintomas frequentes, nas fases clínicas da infecção por HIV
69
Emagrecimento e perda dos tecidos
Dores e formigueiro nas mãos e pés
Dores de cabeça, convulsões
Cansaço, fadiga e fraqueza
Perda de memória e de concentração; confusão mental
Qualquer número de infecções oportunistas, tais como:
o Mycobacterium TB
o Citomegalovirus (CMV)
o Pneumocystis carinii pneumonia (PCP)
o Toxoplasmosis
o Cryptococcal meningitis
o Sarcoma de Kaposi (SK)
o Lymphoma.
- Descreva alguns mitos e medos de fazer o teste de HIV ao lado esquerdo duma folha.
- No lado direito da folha, escreve os argumentos que pode usar para desfazer os mitos e
medos de fazer o teste de HIV.
- Procura um amigo ou familiar e recolha os mitos e medos desta pessoa de fazer o teste de
HIV.
- Analize as ideias/reacções dos clientes: Reveja cada razão, cada medo ou motivo, e peça ao
amigo para comentar sobre o que eles mencionaram: se é realmente um motivo, para não
fazer o teste.
- Use os seus argumentos para diminuir os medos desta pessoa de fazer o teste.
Tu podes ser testado, para verificar se estás ou não infectado com o HIV. Os
seguintes testes de sangue podem ser usados, para diagnosticar o HIV:
Testes rápidos: um teste de anticorpo, que pode ser executado fora do laboratório, é
barato e muito confiável (97%). Os resultados estão disponíveis, dentro de minutos. Em
Moçambique, estão em uso dois tipos de teste rápido: o UNIGOLD e o DETERMINE.
Teste ELISA (enzyme-linked immunosorbent assay): procura anticorpos contra HIV. O
sangue é retirado de uma pessoa e enviado para um laboratório, para testagem. Os
resultados estão disponíveis dentro de 1 a 3 dias.
Outros testes laboratoriais: WesternBlot (para confirmar um teste ELISA positivo), P24
antigen test, PCR: detecta material genético viral.
Teste de saliva: é novo, e ainda não está em uso em Moçambique. É um teste rápido e
fácil para HIV, usando saliva – ele testa para os anticorpos do HIV.
70
A pessoa pode fazer o teste voluntariamente, ou pode ser testada por iniciativa do profissional
de saúde: a pessoa deve dar o seu consentimento. O resultado do Teste é confidencial.
O período de janela é o período que decorre, entre o momento, em que se adquiriu a infecção,
e o momento em que são positivos os testes para o VIH, que pesquisam as proteínas formadas
pelo organismo humano, em resposta à infecção (os anticorpos). Este período dura, em
média, de 4 a 6 semanas. No entanto, algumas pessoas podem ter uma resposta mais lenta à
infecção, com formação mais lenta de anticorpos, o que significa que o diagnóstico da
infecção, através destes testes, será mais tardio e, portanto, o período de janela será mais
longo (3 meses).
Factos preocupantes
54% das pessoas a viverem com HIV, no mundo, não conhecem o seu estado de saúde
(UNAIDS, 2014).
Em Moçambique, 45% das mulheres e 23% dos homens, de 15 a 49 anos, fizeram o teste
de HIV e conhecem o seu estado serológico. As taxas são mais altas, nas zonas urbanas do
que nas zonas rurais (IDS, 2011).
Muito menos homens do que mulheres fazem o teste de HIV (UNAIDS, 2012). Isto, porque
as mulheres têm mais fácil acesso à testagem, nas consultas pré-natais.
Quanto mais depressa uma pessoa descobrir que está infectada com HIV, mais poderá
fazer para controlar a doença.
Ter acompanhamento médico e apoio social
Viver mais longamente
Controlar as infecções oportunistas
Monitoramento do sistema imunológico e tratamento precoce, para melhorar a saúde.
Sabendo que você está positivo, pode ajudar a mudar comportamentos, que iriam
colocar em risco a si mesmo e aos outros
Tu vais saber se corres o risco de infectar, ou não, outras pessoas.
Considerando a gravidez, as mulheres e os seus parceiros podem tirar proveito dos
tratamentos e potencialmente prevenir a transmissão do HIV para o bebé.
Se fores negativo, poderás sentir-te menos ansioso, após o teste.
Quanto às Desvantagens, são: stress, ansiedade, culpa, medo de que os resultados dos testes
estejam em mãos erradas, e que daí possa resultar a discriminação.
72
3.6. Prevenção
Exercício 3.5: Identifica 5 métodos de prevenção.
Completa a tabela a seguir:
Método de Vantagens Desvantagens Crenças
prevenção prevalecentes
Fonte: Adaptado e Canadian Public Health Association. (2012). Introduction to HIV New
Prevention Technologies (NPTs), Ottawa, slide 19.
73
Explicações:
Tratamento como prevenção: Tratamento como prevenção (TcP) é um termo usado para
descrever métodos de prevenção da transmissão do HIV, que utilizam ARVs, em pessoas HIV-
positivas. Pessoas seropositivas, que começam o tratamento antirretroviral (consoante as
directrizes da OMS, de 2015, logo apos o teste positivo, em Moçambique com menos de 500
CD4) e que aderem ao tratamento, terão melhor saúde, redução da carga viral e redução da
transmissão de HIV para outras pessoas.
PrEP: Prevenção Pre-exposição = tratamento, com ARVs, de parceiros não infectados. É
relevante para homossexuais, casais discordantes, trabalhadores de sexo, adolescentes, não
é ainda praticado em Moçambique, mas vai ser introduzido.
PEP: Profilaxia Pós-Exposição - PPE = PPE é um tratamento de curta duração, com
medicamentos antirretrovirais, a fim de evitar a contaminação pelo HIV, depois de uma
exposição acidental ao HIV.
Em Moçambique, os dois grupos seguintes têm direito à aplicação gratuita do PEP:
Trabalhadores de saúde, que tenham sido picados por agulhas ou outros objectos
cortantes, dando-lhes a eles ARV, dentro de 72 horas depois da picadela, e depois,
durante 28 dias depois disso.
Sobreviventes de abuso e violação sexual – (qualquer contacto sexual desprotegido e não
desejado, independentemente da idade ou do sexo da vítima). Para ter efeito, deve ser
iniciada a profilaxia com ARV, o mais rapidamente possível, nunca depois de 72 horas após
o contacto, e deve continuar durante 28 dias.
PTV: Prevenção da Transmissão Vertical, de mãe para filho. Ver Capitulo 3.8.
Circuncisão masculina: A circuncisão consiste na remoção do prepúcio; este contém células,
que facilitam o transporte do HIV para a corrente sanguínea. A circuncisão reduz o risco de
infecção pelo HIV, a partir das suas parceiras seropositivas, e reduz o risco de contrair ITSs.
Microbicidas: são produtos, que podem ser usados por via vaginal ou anal, para proteger
sexualmente os parceiros livres do HIV e, possivelmente, de outras ITSs. Eles são formulados
possivelmente como géis, cremes, supositórios ou como compostos libertados por esponjas
ou anéis vaginais. As maiores promessas de microbicidas desenvolvidas até agora contêm um
ou mais ARVs, que impedem uma infecção pelo HIV, de se estabelecer. Nenhum microbicida
foi até agora aprovado para o uso geral da população. Os microbicidas seriam um grande
benefício: as mulheres poderiam usá-los, independentemente da aceitação do parceiro,
protegendo-se da infecção do HIV, mas mantendo a aptidão para conceber.
Vacinas: É difícil desenvolver uma vacina eficaz do HIV. Os ensaios de vacinas ainda não
resultaram numa vacina eficaz. O desenvolvimento duma vacina aprovada vai levar pelo
menos mais 10 anos.
Detecção Precoce e Tratamento das Infecções de Transmissão Sexual: As ITSs ulcerativas,
como a sífilis, herpes e cancróide, provocam nos órgãos genitais e ânus lesões, que podem
servir como portas de entrada para o HIV. As ITSs inflamatórias, como a gonorreia ou a
clamídia, não causam feridas, mas provocam inflamação da mucosa. O que torna as mucosas
mais frágeis e susceptíveis de se romper e sangrar, o que aumenta o número de células
receptivas do HIV, na área inflamada. Os casos de ITSs estão a aumentar em África. Em caso
de sintomas de uma ITSs, dirige-te ao posto de saúde.
74
O tratamento das Infecções de Transmissão Sexual (ITSs) é importante, porque reduz tanto o
risco de transmissão como o de aquisição do HIV:
- Redução da aquisição do HIV, por parte de pessoas seronegativas, devido ao menor
número de portas de entrada.
- Redução da transmissão do HIV, a partir de pessoas seropositivas, devido à redução
da infecciosidade das secreções genitais.
Tratar as ITSs, como medida de prevenção do HIV, não implica muito custo e é eficiente.
Medicamentos, como o Aciclovir, para tratar herpes, ou como antibióticos para tratar a
clamídia, são baratos, seguros e facilmente disponíveis.
75
A figura 18 compara a eficácia de diferentes métodos de prevenção: Qual a sua conclusão?
77
segunda linha de TARV, mas, devido aos custos, isso nem sempre é uma realidade. Além disso,
a segunda linha tem mais efeitos colaterais e, assim, é mais desagradável para o doente.
78
Tempo depois, fica grávida e, aos 9 meses, nasce a filha, o que a deixa muito feliz. Com o andar
do tempo, começa a emagrecer e a enfraquecer; o nível de CD4 está muito baixo e nessa
altura, ela começa o TARV... Tempo depois, melhora, aumenta de peso e sente-se bem. Só
que, mais tarde, decide já não tomar mais os medicamentos...
Durante o ano, tem vários episódios de febre, diarreia e tosse, e procura tomar algum
medicamento em casa...
Ao fim, acaba por ficar internada, por duas vezes... Começa a beber, e isola-se dos seus
amigos. Antes de a filha completar dois anos, a Estrela perde a vida.
Discuta:
1. O que é que aconteceu, ao longo do tempo? Porque é que aconteceu? Quem é que
estava envolvido?
2. O que é que poderiam ter feito a Estrela e os outros (Quem?), para evitar o sofrimento
e a morte?
3. Se fosse eu, o que é que teria feito?
4. Se eu fosse o pai/mãe/um familiar próximo da Estrela, o que é que teria feito?
5. Como e com quem podia procurar ajuda?
Há três fases, em que o HIV pode ser transmitido, de uma mulher HIV+ para
o seu bebé: durante a gravidez, durante o parto, e através da
amamentação. Sem tratamento, 3 ou 4 em 10 casos irão, provavelmente, ficar infectados com
o HIV, e os outros 6 ou 7 serão HIV negativos. Com conhecimento, tratamento e cuidados
adequados, envolvendo tanto a mãe como o pai, o risco pode ser reduzido para 1 ou menos,
em cada 10 casos.
Tem havido grandes progressos, na prevenção da transmissão vertical.
O que deve fazer uma mulher, durante a gravidez, pela sua saúde e pela saúde do seu bebé?
1. Frequentar as quatro consultas pré-natais, na sua Unidade Sanitária;
2. Escolher um estilo de vida saudável: Evitar álcool, tabaco e outras drogas;
3. Consumir alimentos ricos em vitaminas: frutas, vegetais;
4. Fazer exercício físico;
5. Fazer um teste de HIV;
6. Tomar os medicamentos receitados na consulta;
7. Usar a rede mosquiteira.
Como pode uma mulher grávida HIV positiva reduzir o risco de infecção para o seu bebé?
Iniciar o TARV, assim que lhe for diagnosticado HIV+, independentemente do CD4 e
do seu estado clínico (Opção B+).
Tem que continuar a tomar ARVs, para toda a vida.
Linha de tratamento: normalmente 1 comprimido/dia
Cuidar de si.
Continuar a usar preservativos para se proteger de re-infecção, por HIV, e de outras
infecções.
79
Escolher um estilo de vida saudável.
Alimentação do bebé: Sem dúvida, a amamentação é a melhor opção de
alimentação do bebé.
Mas no leite materno duma mulher vivendo com o HIV há uma certa quantidade
de virus. O que fazer?
o A mulher seropositiva em TARV e com uma carga viral baixa pode amamentar
o seu bebé.
o Mas a mulher seropositiva não em TARV e com carga viral alta, tem que
escolher uma destas opções, e segui-la sem falta:
Amamentação exclusiva, nos primeiros 6 meses, e continuar com xarope
de Nevirapina, até parar de amamentar. Após 6 meses, desmamar.
Usar leite artificial (se tiver condições higiénicas e financeiras para tal).
Aleitamento materno exclusivo significa alimentar o bebé SOMENTE com leite materno, e
nunca lhe dar mais nada a beber ou a comer. Nem mesmo água, chá, papas, etc. Excepto gotas
ou xaropes de vitaminas, suplementos de vitaminas ou medicamentos.
O AME é, geralmente, recomendado, até que o bebé complete 6 meses
O aleitamento materno requer que se alimente o bebé, pelo menos, 8 a 10 vezes por
dia.
O leite materno é o alimento perfeito e protege os bebés, de doenças, como diarreia
e pneumonia.
O leite materno fornece toda a água e todo o alimento de que o bebé necessita, para
ter uma boa saúde, crescimento e desenvolvimento. Não é preciso nenhum outro
líquido ou comida, durante os primeiros 6 meses.
80
Exercício 3.7: Dilemas – Qual a sua opinião?
Leia, agora, algumas afirmações, e decide se concorda ou não concorda, ou se não sabe qual
é certo ou errado. Escolhe o cartão que exprima melhor a sua opinião.
1. Supõe que a esposa e o marido fazem o teste de HIV. Ambos devem revelar o resultado
um ao outro.
2. Supõe que um homem fez teste de HIV e é negativo, mas a sua parceira é HIV positiva (Ou
vice-versa). Neste caso, o divórcio é a alternativa.
3. Se marido e mulher ou se somente um dos parceiros souberem que estão a viver com o
HIV, não deviam tentar ter mais filhos.
4. Os maridos deviam acompanhar as suas esposas grávidas às sessões de aconselhamento
sobre o teste de HIV, prevenção da transmissão de pais para filhos, e opções para
alimentação infantil.
81
pelo HIV, cada vez que tenha sexo vaginal sem protecção, é cerca de 60% menos do que
para um homem que ainda tenha o prepúcio (pele retráctil, que cobre a extremidade do
pénis).
Se o homem for HIV negativo e a mulher for HIV positiva, eles podem eliminar o risco de
transmissão, da seguinte forma: ele masturba-se e ejacula para um recipiente; o seu
sémen é então injectado na vagina da mulher, com uma seringa. Este método não corre
nenhum risco de transmissão. Mas deve procurar a assistência médica, para saber como
proceder, de forma segura e higiénica.
Para algumas pessoas, as PVHs (Pessoas vivendo com HIV) são tratadas, de forma diferente,
das outras pessoas, por causa dos atributos negativos, que se lhes dão. Isto chama-se
discriminação. Um tratamento desigual e injustificado. É importante realçar que nem todas as
atitudes de estigmatização resultam em discriminação. Mas os efeitos da atitude negativa
ainda podem ser prejudiciais e podem magoar as PVHs.
82
estigma por associação: as pessoas que se associam com as PVHs são estigmatizadas, por
causa da sua relação.
falta de vontade de investir nas PVHs: as PVHS podem ser marginalizadas, nos programas
e serviços de saúde.
discriminação: oportunidades são negadas às PVHs. Por exemplo, a recusa de acesso ao
emprego, a recusa de cuidados de saúde apropriados ou de acesso aos programas de
ajuda médica, a recusa ao seguro ou empréstimos.
abuso: abuso verbal ou físico contra as PVHs.
vitimação: Por exemplo, das crianças e órfãos infectados ou afectados pelo HIV.
abuso dos direitos humanos: Por exemplo, a quebra de sigilo, revelando a outra pessoa
o estado de alguém, sem o seu consentimento; ou ser testado, sem manifestar tal
consentimento.
83
3.10.3 Quem é mais vulnerável ao estigma e discriminação relacionada com HIV & SIDA?
Existe uma relação entre a idade e o sexo, de tal sorte que as mulheres mais jovens são mais
estigmatizadas e culpadas pelo HIV do que as adultas, por se crer que as mulheres jovens
levam uma vida promíscua, irresponsável, materialista, de que resulta o HIV.
Outro exemplo de estigma múltiplo é o do HIV associado com o de não ter filhos. Mulheres
jovens casadas, com HIV, muitas vezes enfrentam este duplo estigma. Por um lado, não é
aceitável que uma mulher jovem casada não tenha crianças (em cada caso são tidas como
estéreis e por isso estigmatizadas) ou pare de ter filhos, antes de atingir o número de crianças
esperado pela sociedade. Por outro lado, a comunidade não apoia a ideia de mulheres com
HIV terem filhos. Assim, estas mulheres jovens enfrentam estigma múltiplo e simultâneo.
Culpa
As razões para culpar os homens e mulheres de serem os que trazem a infecção do HIV no
relacionamento, em casa ou na comunidade, estão intrinsecamente ligadas às normas sociais
inerentes ao papel específico do género, responsabilidades e sexualidade. Mulheres e
homens, que transgridam estas normas, enfrentam a culpa. Quando os homens são culpados
– pelas mulheres – assume-se que o comportamento é natural, consubstanciando-se as
percepções sociais de que os homens têm mais tendência para possuir múltiplas parceiras
sexuais.
84
Aqueles que culpam os homens acreditam que as mulheres são "vítimas inocentes".
Enquanto, muitas vezes, os homens são culpados de infectarem mulheres casadas, também é
verdade que alguns culpam as mulheres solteiras de trazerem o HIV para a comunidade. O
tipo de culpa e o grau de estigma ligado à mulher, como sendo ela a primeira a infectar-se,
depende da percepção, sobre a fonte da infecção. As mulheres vistas como fazendo sexo
socialmente ‘impróprio’, por causa de necessidades económicas, ou para alimentar os filhos,
geralmente, não são culpadas pelo HIV.
A pior culpa e estigma são reservados às mulheres consideradas responsáveis pelo HIV,
através do seu comportamento sexual ‘impróprio’ ou ‘imoral’. Por exemplo, as mulheres que
se vestem de forma considerada indecente, e, em particular, as mulheres jovens urbanas são
altamente criticadas.
As PVHs (ambos, homens e mulheres), as suas famílias, e os que são associados à epidemia
(por exemplo, os homossexuais, as trabalhadoras de sexo) ainda enfrentam estigmatização e
discriminação.
O estigma e a discriminação, que resultam do HIV, causam muitos problemas às PVHS.
O estigma interno pode levar as PVHS à depressão e isolamento.
Barreiras, para apoio: Pessoas a viverem com HIV e SIDA podem necessitar de assistência e
cuidados – físicos, emocionais e espirituais. Muitas vezes, têm medo de revelar o seu estado,
e não podem receber assistência de outras pessoas.
Barreiras, para cuidados de saúde: as PVHS podem não procurar os cuidados de saúde e
tratamento, devido ao medo de estigma e discriminação. Isto manifesta-se de muitas formas.
Por exemplo:
A demora, na procura de tratamento médico, que pode resultar na deterioração da
saúde.
A não procura de tratamento para a TB.
85
Barreiras para a testagem – as pessoas temem o estigma e discriminação, em caso de o
resultado ser positivo.
As mulheres, que vivem com o HIV, podem não seguir a PTV. O mesmo acontece para a
prevenção de transmissão através do leite materno.
As atitudes do pessoal da saúde constituem outra barreira, para os cuidados de saúde.
A linguagem, que usamos, no dia-a-dia, e que se refere ao HIV, ao SIDA e às pessoas afectadas
por eles, pode ser estigmatizante. Um passo, para minimizar o estigma, é termos cuidado com
o uso de termos correctos.
86
Mensagens-chave
O HIV é o vírus que causa o SIDA. O virus ataca o sistema imunológico e enfraquece-o.
A infecção pelo HIV torna o sistema imunológico deficiente, e a pessoa infectada fica doente.
SIDA é a fase final duma infecção por HIV.
O HIV transmite-se das seguintes formas: pelo Sangue, pelo Sémen, por Fluidos/secreções
vaginais, por transmissão vertical da mãe infectada para o bebé, durante a gravidez, o parto
e a amamentação.
Métodos de Prevenção
Abstinência
Fidelidade
Uso correcto e consistente do preservativo
Circuncisão Masculina
Tratamento de ITSs
PTV
Tratamento como Prevenção
Diagnóstico do HIV
O diagnóstico do HIV é, atualmente, feito, testando para os anticorpos de HIV, em testes
rápidos, ou através de testes laboratoriais do sangue. Os testes rápidos são mais fáceis e mais
baratos de testar anticorpos, para HIV, do que testar, para o próprio vírus.
Estigma do HIV/SIDA
O estigma pode ser descrito como um rótulo negativo atribuído por terceiros a uma pessoa a
viver com HIV. A discriminação é consequência do estigma e manifesta-se num tratamento
injusto, sem bases na evidência. Há PVHs que se auto-estigamatizam. Ambas as formas do
estigma têm consequências psíquicas e sociais graves, nas pessoas com HIV, e dificultam a
prevenção, os cuidados e o tratamento de HIV = a resposta ao HIV.
87
Unidade 4. Vícios e Dependências
Introdução
Nesta Unidade, gostaríamos de fazer uma reflexão, sobre os vícios e dependências, que são
comuns na nossa sociedade, e que afectam a juventude. Queremos ajudar a entender melhor
os perigos dos vícios, um dos quais é a infecção por HIV. A Unidade pretende ajudar-vos a
descobrir alternativas seguras e saudáveis.
No início desta unidade, sobre vícios e dependência, gostaríamos de pedir a cada estudante
para preencher, durante duas semanas, o diário do consumo de álcool. No Exercício 4.3.
Conhecimento sobre Normas sociais, e acesso a drogas Vida sem uso de Redução de
classes e efeitos de e álcool, na sociedade drogas ilícitas consumo de
drogas ilícitas drogas e álcool
Analise: causas e efeitos Percepção do risco de se tornar Consumo de álcool
das drogas dependente do álcool controlado
Avalie o seu risco de se
tornar alcoólatra Percepção do efeito desinibidor Evitar sexo Redução de
Actividade: Evite do álcool desprotegido sob infecções por
situações que levem ao influência do álcool HIV
sexo desprotegido – Intenção de evitar situações de
álcool e VIH comportamento de risco
Os perigos da internet e Aceitação da pornografia Abster-se do consumo Redução de
da pornografia Fraca protecção da intimidade, na da pornografia dependências e
Os meus direitos à internet Consumo controlado de consumo em
intimidade: Estudo do da internet excesso
Caso Marcolino
Teatro do Oprimido: O Modas e consumismo aceites na Consumo de bom
melhor Smartphone sociedade senso
Conteúdo
Conceito e tipos de vícios e dependências
Causas e consequências de vícios e dependências
Classificação de Drogas ilícitas e tipos de dependência
Tabaco e Álcool
Ligação entre consumo de álcool e HIV
A pornografia e a internet
Modas e consumismo versus consumo de bom senso
Estratégias para ultrapassar vícios e dependências
88
Exercício 4.1 Usando a tabela abaixo. identifique vícios e dependência, suas causas, e
efeitos.
N⁰ Vícios/dependências Causas Efeitos
No ponto de visto de Aristoteles, os nossos actos devem ser practicados com moderação. Um
sentimento ou uma conduta deficiente ou excessiva, torna-se um vício.
Então, os vícios por deficiência (por exemplo: temer de tudo e não fazer nada = a covardia) e
os vícios por excesso (por exemplo: consumo excessivo de chocolate, compras excessivas,
etc.) causam danos.
O vício em excesso é prejudicial, porque destrói o corpo e a própria pessoa. De vez em quando,
beber, fazer compras, comer muito, etc., não é ruim; só se torna prejudicial, quando já se está
a praticar todos os dias. O problema é que, quando as pessoas são impedidas do seu vício,
aumenta-se-lhes o nível de ansiedade e tornam-se violentas. O vício também é mau, quando
leva ao desperdício de dinheiro, e se prejudica a família e o próprio viciado. Ou quando é
prejudicial para a saúde (abuso do álcool, do tabaco, comida em excesso, etc.)
Cada indivíduo tem o seu próprio vício, se se trata de um vício por comida e bebidas, por
compras, por jogos de azar, por tabaco ou mesmo pelas drogas proibidas.
O nosso sistema nervoso possui células especiais chamadas transportadoras, que levam
substâncias, como os hormónios e os neurotransmissores, para locais específicos, no cérebro.
Esses elementos têm o poder de nos excitar ou relaxar, e constituem as respostas naturais
que damos aos estímulos do meio ambiente. Numa situação de perigo, por exemplo, as células
transportadoras carregam noradrenalina (a popular adrenalina) para o cérebro. Isso causa
irritação e estado de alerta. Nesse momento, todas as células do corpo "despertam", e o
organismo fica preparado para lutar ou fugir, conforme a necessidade da situação.
O vício, portanto, será sempre causado por uma mistura de amor, necessidade e prazer.
Conclusão: Todos nós precisamos de nos controlar, para não nos tornarmos viciados em
alguma coisa. Tudo o de que precisamos é disciplina e ter em mente que há, no mundo,
hábitos para o bem, que não irão prejudicar o nosso corpo e nos darão um futuro melhor.
Uma pessoa é considerada dependente, se o seu nível de consumo incorrer em pelo menos
três dos sinais mencionados em cima, ao longo dos últimos doze meses, que antecedem o
diagnóstico.
Dependência Física
Quando a droga é utilizada em quantidades e freqüências elevadas, o organismo defende-se,
estabelecendo um novo equilíbrio, em seu funcionamento, e adaptando-se à droga. De tal
forma que, na falta dela, funciona mal. A dependência física é o resultado da adaptação do
organismo a uma droga. O que torna impossível a suspensão brusca da droga. Pois a
suspensão da droga provoca múltiplas alterações somáticas, por exemplo, o "delirium
tremens" (= o corpo não suporta a abstinência, entrando em estado de pânico).
Dependência Psicológica
O indivíduo em estado de dependência psicológica sente um impulso constante de fazer uso
das drogas, a fim de evitar o mal-estar. É uma condição, em que a droga produz um
sentimento de satisfação e um impulso psicológico, exigindo o uso periódico ou contínuo da
droga, para produzir prazer ou evitar desconforto.
91
4.2.2 Causas da Dependência
4.2.3 Consequências/Efeitos
Síndrome de abstinência
Desejos persistentes ou esforços mal sucedidos, para controlar o uso
Uso frequente de quantidades maiores, ou por períodos mais prolongados do que o
pretendido
Muito tempo é consumido a conseguir usar ou recuperar-se do uso
Abandono ou redução das actividades sociais, ocupacionais ou recreativas, devido ao
uso.
92
4.3 Classificação de Drogas ilícitas e suas consequências
A Organização Mundial de Saúde define droga como toda a substância química, natural ou
sintética, que, introduzida no organismo, lhe modifica as funções. No sentido comum,
considera-se droga uma substância nociva ao indivíduo. Em termos jurídicos, consideram-se
drogas as substâncias ou produtos capazes de causar dependência.
Há drogas não proibidas (drogas licitas), e drogas proibidas por lei (drogas ilícitas).
DROGAS LÍCITAS: a sua compra e venda estão autorizadas por legislação específica
• Drogas medicamentosas (tranquilizantes, analgésicos, etc.);
• Drogas sem finalidade terapêutica (álcool e tabaco);
• Drogas industriais (cola, esmalte, fluidos, solventes, etc.)
93
Classificação das drogas psicotrópicas
94
- O crack é a conversão da cocaína, através da sua mistura com
bicarbonato de sódio e água. É a forma de cocaína mais viciante, e
também a mais viciante de todas as drogas. As pedras de crack
oferecem aos fumantes uma curta, mas intensa euforia;
- A cafeína;
- A nicotina;
- A teobromina (presente em chocolates).
Uso de drogas
É comum distinguir o abuso, do uso de drogas, no seu consumo normal. Esta classificação
refere-se à quantidade e periodicidade, em que ela é usada. Outra classificação refere-se ao
uso das drogas em desvio do seu uso habitual, como, por exemplo, o uso da cola, etc.
Os usuários podem ser classificados como: experimentador, usuário ocasional, habitual e
dependente.
Resumo
É muito difícil generalizar os motivos, que levam uma pessoa a usar drogas. Cada um de nós
tem as suas razões práticas, e algumas delas não são claras nem sequer para nós mesmos. Na
maioria dos casos, não há apenas um, mas diversos factores, que nos levam a usar drogas. Por
exemplo, a curiosidade, o desejo de esquecer problemas, a tentativa de superar a timidez ou
a insegurança, a insatisfação com a própria aparência física.
É importante que a família, amigos e pares ofereçam apoio, sem culpar ou julgar, para ajudar
o indivíduo a reflectir sobre os danos do uso da droga, e a identificar alternativas saudáveis e
a procurar ajuda profissional e competente.
97
Exercício 4.2 : Classificação das Drogas ilícitas e tipos de dependência
Olhe para os termos, neste quadro. Há confusão, ou existe uma relação entre os termos?
Organize os termos, em pares correctos:
4.4. Tabaco e Álcool – Drogas aceites e não ilícitas, nas nossas sociedades
4.4.1. Tabagismo
A nicotina, quando consumida com o tabaco, tem um efeito estimulante. E, após algumas
tragadas profundas, tem efeito tranquilizante, bloqueando o estresse. O seu uso causa
dependência psíquica e física, provocando, na abstinência, sensações desconfortáveis.
98
4.4.2. Álcool
Exercício 4.3: O diário de consumo do álcool: Avalie o seu risco de se tornar alcoólatra
Preencha o diário de consumo de álcool, durante 1 a 2 semanas.
Semana de ……….de ……………. a ………de………….
Dia Hora Tipo de álcool Quantidade Local/ Estímulo: Situação,
Em mml Pessoa presente Emoções, Pensamentos
Seg
Ter
Quar
Quin
Sex
Sab
Dom
TOTAL
Por tipo de alcool
O alcoolismo é uma doença muito complexa, que envolve diversos factores. Pessoas que
vivem na POBREZA podem ter a tendência para beber em demasia, para esquecer os
problemas. A pobreza pode levar ao trabalho, mas também pode levar uma pessoa a “beber
para esquecer”. Certas pessoas podem recorrer ao crime, para arranjar dinheiro, para bebida
ou drogas. O abuso do álcool e de outras drogas causa problemas, como a pobreza, a
prostituição, o crime, a violência, a violação sexual, etc.
o Quem bebe muito tem mais perigo de ficar doente mais depressa, se ficar infectado com
o HIV, porque o álcool é um veneno, que enfraquece o sistema imunológico. (O comboio
anda mais depressa, no fim da linha). Às vezes, as pessoas, quando descobrem que estão
infectadas com o HIV, bebem para esquecer, reduzindo a capacidade do corpo de lutar
contra a infecção.
A figura 23 ilustra bem como o álcool contribui para a infecção por HIV.
100
Figura 23 - Acordando, depois de uma noite de álcool
Fonte: Adaptado de: “Ten Minutes Talks”. Quintessential Materials Development & Pearl
Dynamics, Port Elisabeth, South Africa. Responsabilidade e Copy Right: GTZ ACCA
Exercício 4.4: Situações, que podem levar à actividade sexual não desejada Para jovens
Responde:
Quais são as situações comuns, que podem levar a relações não desejadas ou
desprotegidas?
Quais são as situações mais comuns, que conheces / já aconteceram contigo?
O que é que se pode fazer, para evitar estas situações?
O que é que pode fazer uma pessoa, para sair de uma situação, que se pode tornar
sexualmente íntima?
101
1. Analisa. Qual o acto que o Marcolino cometeu? Porque fez isto?
2. Quais as consequências psicológicas, sociais, para a Medina?
3. Quais os direitos, que foram violados, e o que é que a Medina pode fazer, nesta
situação?
O facto da pornografia insere uma estimulação sexual, sem satisfação pessoal. A busca da
satisfação erótica toma, progressivamente, uma maneira mais exigente e abusiva. O material
velho já não estimula tanto como o novo. Resultam, então, viagens cada vez mais explícitas,
e o aumento da necessidade não tem fim. A indústria do cinema produz filmes com uma
violência e excitação sexual excessiva.
A pornografia causa profundos efeitos negativos, no conceito das pessoas, sobre sexo
e comportamento sexual.
Coloca os usuários sob risco crescente de desenvolver tendências de desvios de
comportamento sexual.
O uso constante da pornografia pode prejudicar a capacidade de usufruir e participar
da intimidade conjugal normal.
Pode levar os usuários aos actos sexuais desnaturais.
Desenvolve-se uma dependência. Raramente retrocede, é difícil de tratar e de curar.
Alguns pesquisadores dizem que a exposição à pornografia pode afectar o
desenvolvimento normal do cérebro de uma criança.
102
Figura 24: Reflexão: Em que áreas da sua vida, interfere o uso do computador?
Talvez o seu principal uso seja para o trabalho. Técnicos de informática, programadores ou
web-designers e praticamente todas as profissões, de alguma forma o utilizam. O computador
e a internet são amplamente usados, para o estudo, para digitar trabalhos, e como fonte de
pesquisa.
Além do uso para facilitar os estudos e o trabalho, usam-se o computador e a internet também
para jogos. A internet é também bastante usada, para manter comunicação com outras
pessoas. Pode ser através de emails, de mensageiros instantâneos, de chats ou redes sociais,
como o Facebook ou YouTube. Quem já fez amizades virtuais, ou festas virtuais?
O Vício Virtual
O vício virtual, vulgo nerdismo, é o vício mais vicioso da actualidade. O vício virtual divide-se
em 4 ramos: Game-vício, Nerd-vício, Inter-vício e Chat-vício. Se te meteres nalgum desses,
certamente, com 100% de certeza, também desenvolves os outros.
Game-vício: Vício caracterizado pelo uso constante de computadores, para jogar mini-games,
vídeo-games, fliperamas, entre outros. O que, ao começo, é apenas um lazer, depois de algum
tempo, torna-se um vício mortal. Os lugares, onde mais se traficam essas drogas virtuais, são
103
bancas de esquina (com fliperamas), Centros Comerciais, e qualquer outro lugar, que tiver
drogas gamísticas.
Chat-vício: Também conhecido como vício do quer tc comigo, é um vicio muito actual. Muitas
vezes, o chat-vício anda lado a lado com o nerd-vício. Quando a pessoa se torna viciada em
chat, adquire um vocabulário diferente. Este vício é curado aos poucos, quando o usuário
percebe a droga, em que está metido. Não há cura imediata, para isto.
Linguístico: Vícios de linguagem não são relativos a drogas, mas é uma droga ler um texto
cheio de vícios de linguagem. Os vícios de linguagem referem-se à condução das frases, e, às
vezes, dificultam o entendimento. Este vício é mais brando, e não causa crises de abstinência
nas pessoas que tentam largar este vício.
Pode ser só coincidência, mas tanto quem consome drogas como quem usa computador é
conhecido como “usuário”. Qualquer uso excessivo de qualquer coisa pode ser prejudicial, se
não soubermos equilibrar com outras áreas da vida. Podemos usar o computador, como
ferramenta de trabalho ou de estudo, ou ainda como meio de diversão, ou como forma de
comunicarmos com os nossos amigos, e para contactos pessoais ou profissionais. O problema
não está nesses usos, que podemos ter, do computador, mas sim quando eles se tornam a
única coisa que fazemos na nossa vida. O outro problema é a protecção da privacidade. No
facebook, twitter etc., trocam-se informações pessoais, com gente, que eu nunca vi na vida,
e em sites, a que toda a gente pode ter acesso. As relações, que se criam, são relações
reduzidas a algumas áreas ou aspectos da vida, e não abrangem o ser humano, na sua
totalidade.
104
4.7. O consumo, com bom senso
Existe uma tendência para o consumismo (um tipo de consumo impulsivo, descontrolado,
irresponsável e muitas vezes irracional).
Cena 1 (2 estudantes jovens): Pensa em dois estudantes jovens, que são namorados. A moça
é de uma família rica, e mostra ao namorado o seu novo smartphone, último grito. A moça
ridiculariza o namorado, porque tem um telefone pequeno. O namorado é um bolseiro,
gostaria de ter um bom smartphone para impressionar as raparigas, está sempre em contacto
com a namorada e os demais, etc. O que vai fazer? Imagina a conversa entre os dois.
Cena 2 (Uma mulher jovem e um homem velho): O velho oferece à estudante um smartphone,
como prenda, em troca de sexo. Como reage a moça? Imagina a conversa.
107
Mensagens Chave
Vícios são hábitos repetidos, que são difíceis de deixar. O termo tem uma conotação
negativa moral. Os vícios são classificados como vícios de deficiência ou de excesso.
Os vícios de excesso são caracterizados por um descontrolo completo, e são prejudiciais,
porque destróem o corpo, os relacionamentos, e levam ao desperdício financeiro.
Nem tudo o que vicia é uma droga, mas todo o vício é uma droga.
A dependência é o resultado do consumo repetitivo de substâncias psicoactivas (drogas).
Manifesta-se em fenómenos comportamentais, cognitivos e fisiológicos.
Drogas são substâncias químicas, naturais, ou sintéticas, que, introduzidas no organismo,
lhe modificam as funções.
Não se devem usar drogas ilícitas, porque são ilegais.
A droga fere os princípios éticos e morais. Esses valores entram em crise, exactamente na
juventude.
A dependência física é o resultado da adaptação do organismo a uma droga. O que torna
impossível a suspensão brusca do uso da droga.
A dependência psicológica é uma condição, na qual o consumo duma droga se torna uma
necessidade, porque produz um sentimento de satisfação indispensável.
Os motivos mais frequentes, para o uso de drogas, são: a impressão de que elas podem
resolver os problemas pessoais, sociais, financeiros, ou aliviar as ansiedades; a fuga de
problemas; a Influência dos amigos, dos traficantes, da sociedade e da publicidade dos
fabricantes; a sensação imediata de prazer; a depressão; estimular; inebriar, fortalecer.
As três classes de drogas psicotrópicas são: depressores (álcool, morfina, heroína),
estimuladores (cafeína, nicotina, cocaína) e perturbadores (LSD, ecstacy, crack).
Os efeitos físicos das drogas são: lapso de memória, fraca coordenação física, perda de
peso, falta de apetite, voracidade, infecção por HIV, morte.
As consequências socioeconómicas do abuso de drogas são: sobrecarga para hospitais e
familiares, queda de rendimento escolar, aumento de delitos, desintegração dos valores
sociais.
As consequências mentais do abuso de drogas são: desonestidade, perda de autoestima
e de autodisciplina, instabilidade, depressão, paranóia, tendência para o suicido.
O consumo do álcool causa inibição e reduz o uso dos meios de protecção contra o HIV.
A pornografia apresenta objectos obscenos, em público, para despertar o desejo sexual.
Causa profundos efeitos negativos, no conceito das pessoas, sobre sexo e comportamento
sexual.
O uso excessivo do computador é um vício, que causa desequilíbrio, na vida pessoal, nos
relacionamentos, e problemas, quanto à protecção da privacidade.
O consumo devia se orientar para as necessidades, para os nossos valores éticos, para o
poder económico. O consumo excessivo e descontrolado torna-se numa droga.
Há estratégias, para ultrapassar as tentações dos vícios e do consumo de drogas: bom
relacionamento familiar, amigos certos, uma relação saudável e segura, um trabalho
profissional interessante, ocupação dos tempos livres, que dão prazer e saúde. Por
exemplo, fazer desporto, dar-se à música, à arte, etc.
108
Unidade 5 : Habilidades da Vida
Introdução
Conteúdo
O projecto de vida
Comportamentos, que põem em causa a realização do projecto de vida
A abordagem e significado do ABCD
Gestão do tempo
Gestão dos recursos
Comunicação, em situações de conflito
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Exercício 5.1.- O caso do Luís – Elaboração do projecto de vida
Quando o Luís tinha cerca de 15 anos, sonhou ser, um dia, Actor de TV. Cada vez que via a TV,
via-se ele mesmo nela. Uma outra coisa, que o Luís queria, era ter três filhos com a sua esposa,
e viverem numa casa grande.
O tempo foi passando devagar, sem muitos sobressaltos. O Luís era um rapaz como tantos
outros, nem era o primeiro da classe, nem era o último. Teve de enfrentar, aos poucos,
algumas dificuldades, para lograr os seus sonhos. Os seus pais adoeceram-lhe, e, num espaço
de pouco tempo, morreram-lhe os dois. Os irmãos mais pequenos foram viver com os tios, e
ele ficou a tomar conta da casa e do que os pais tinham deixado, que era pouco, por causa da
doença.
Não lhe foi fácil superar a morte dos pais e a separação dos seus dois irmãos. Começou a
entrar numa depressão, e a vida começou a não ter sentido para ele.
Os seus sonhos pareciam desaparecer. Na escola, as notas e o comportamento começaram a
piorar.
Um dia, o seu professor contou a história de uma Águia, que se tinha tornado Galinha. Era
assim: Um homem encontrou, no mato, um ovo de águia, e levou-o para a capoeira, e juntou-
o aos de uma galinha, que estava a chocar. Quando o tempo chegou, nasceu um pintainho
muito diferente dos da galinha. Era grande, com bico grande, asas grandes, forte, com garras,
etc... E aquela águia recém-nascida começou a comer como os pintainhos, a piar como os
pintainhos, e a viver como se fosse uma galinha, sem saber que afinal era uma águia. Foi
crescendo na capoeira, até que, um dia, o dono lhe disse: - «Não, tu não és uma galinha! Tu
és uma águia. Estás feita para as alturas, para voar lá no alto do céu, nas montanhas». E
levantou a águia no ar. E o sol, pouco a pouco, foi lhe entrando pelos olhos, e encheu-lhe todo
o seu ser de águia. E a águia descobriu que era Águia, e foi voando, até se perder no
firmamento, a caminho do Sol.
O Luís descobriu que estava a viver como a galinha, e tomou consciência de que não era uma
galinha, mas uma Águia. E decidiu deixar de ser galinha, para ser Águia. Começou a organizar
a sua vida, aos poucos: o seu tempo, o seu dinheiro, que era pouco. E hoje, o Luís trabalha
numa estação de rádio, tem uma namorada que gosta dele, e ainda quer ser actor da TV.
Participou em pequenos anúncios.
a) O que é que aconteceu na vida do Luís?
b) O Luís conseguiu realizar os seus sonhos, o seu projecto de vida?
c) Quais são os teus sonhos?
d) Que estás tu a fazer e a dar, para que os teus sonhos se tornem realidade?
e) Elabora o projecto da tua vida, a longo prazo.
- Como gostarias tu de ver-te a ti mesmo e a tua vida, daqui a dez anos?
- Como, onde, e com quem, estarás a viver?
- Quais actividades (profissão) estarás a fazer, e que tipo de pessoa serás?
- Deves estar consciente de que existem dificuldades e obstáculos, que podem pôr o
teu projecto em risco. Menciona pelo menos cinco.
- Quais são os recursos que te podem ajudar para que o teu projecto de vida possa
ser realizado? Menciona pelo menos cinco.
Para poderes visualizar este teu projecto de vida, podes escrever uma página.
110
5.1. A abordagem e o significado do ABCD – As habilidades de vida
No próximo exercício, vamos discutir sobre os perigos para o teu projecto de vida.
111
5.3. Gestão de tempo
Para poder chegar ao fim do caminho, é preciso ter um projecto muito concreto, para períodos
mais curtos de tempo: um projecto para um ano, para um semestre, para um mês e para uma
semana.
Os projectos de curto e médio prazo ajudam-nos a orientar-nos, no nosso dia-a-dia.
112
Exercício 5.4. O Estudo do Caso da Mónica
Às 5 horas da tarde, Mónica olha para cima da sua mesa, e verifica que ainda não acabou de
ler nem metade do material de estudo, para o exame de amanhã. Começou, ante-ontem, com
a revisão da matéria. Mas, ontem de manhã, o pai mandou-a ao Conselho Municipal, a deixar
um documento. Depois, foi às compras. O tempo do almoço utilizou-o, para responder a mais
de 20 mensagens de e-mail, dos seus amigos. À tarde, recebeu, de surpresa, a visita do
namorado. E, à noite, foi com ele a uma festa, e acabou por ir dormir tarde. Acordou, e
começou a ler. Mas, sempre o telefone a tocar, os colegas a pedir-lhe uma explicação. À tarde,
decidiu ir para a biblioteca, a ver se tinha calma para estudar. Dado o ritmo com que ia, havia
de ficar a estudar até à meia-noite. Quando olhou para a matéria que ainda lhe faltava ler,
suspirou, com desânimo. Como iria passar este exame?
O que é que a Mónica tinha feito, nestes dois dias? E porque é que estava atrasada, na
preparação do exame?
a) Recolhe as tuas ideias, e aponta-as, numa folha.
b) O que é que a Mónica poderia fazer?
Exercício 5.5. Gestão de dinheiro. Faz aqui o teu plano de despesas do mês:
a) Quais são os bens e dinheiro, que tens à tua disposição, por mês?
113
Chapa? ___________
Bebidas? ___________
Tchilling? ___________
Poupança ___________
Outras ___________
TOTAL _____________
Faz a soma destas despesas planificadas. Compara-as com o dinheiro que tens disponível.
c) Se o dinheiro disponível é menos do que planificaste, o que vais fazer?
d) Achas que és um bom gestor/uma boa gestora dos bens que tens? Como descobres
isso?
114
Analisa regularmente a tua situação financeira, fazendo relatórios, que te mostrem
quanto recebes e quanto gastas, por mês e no final de cada ano. Desta forma, ficarás
com um resumo de quanto necessitas, para cobrires as tuas despesas e poupares.
Não te endivides desnecessariamente. Tenta pagar tudo, através da poupança, da
prestação de serviços, e não através da dívida. Se não podes comprar um artigo hoje,
poupa, durante alguns meses, para o poderes comprar depois.
Não é fácil manter-se organizado. Mas vais ter resultados, a longo prazo, se
mantiveres a persistência, em controlar as tuas finanças regularmente.
Gere, gere bem o teu dinheiro, POUPA, POUPA, POUPA SEMPRE!
Tipos de conflitos
a. Conflitos intra-pessoais: são conflitos dentro da própria pessoa.
b. Conflitos inter-pessoais: são conflitos entre uma e outra ou mais pessoas
c. Conflitos intra-grupais: são conflitos dentro de um determinado grupo –
podem ser religiosos, étnicos, sociais, políticos.
d. Conflitos inter-grupais: são conflitos entre grupos grandes e organizados.
Pode dar um exemplo para cada um destes tipos de conflito?
115
Figura 26 : Círculo do Conflito
Exercício 5.6: Cinco passos, para comunicar sobre um conflito. Trabalho de pares.
O Docente vai escrever cinco frases, no quadro. Em plenário, por favor, procure completar as
frases.
1. Fale sobre o comportamento, que perturba a Joana. Escreva "Quando você, Pedro,
_____." e peça aos estudantes para completarem esta frase, com o comportamento do
Pedro, que chateou a Joana.
2. Pense na reacção da Joana, e complete a frase: “Quando você ……, Eu imagino que …….”
3. Leiam as duas primeiras frases. Em seguida, completem a terceira frase: “E isso faz-me
sentir ………………”. A frase deve exprimir uma emoção da Joana.
4. Completem a quarta frase: “E isso faz-se querer ………………”
5. Leiam as quatro frases completas, no quadro. Depois completem esta quinta frase “Mas
eu ainda ……….” Podem surgir ideias do que a Joana não gostaria mais de fazer: ajudar,
falar com o Pedro; ou propõem uma solução positiva.
6. Leiam a comunicação plena.
7. Em pares, apliquem estas cinco frases a uma nova situação: a Elisângela recusa dar os
seus apontamentos ao colega Chiquito. O Chiquito fica muito chateado e enfrenta a
Elisângela.
117
Mensagens Chave
Todas as pessoas buscam, de uma maneira ou de outra, ser felizes, e estar bem consigo
mesmas. São necessárias certas habilidades, para poder conseguir este fim da felicidade.
Algumas ferramentas, que podem ajudar e facilitar, na prevenção do HIV. O método muito
conhecido é o ABC. A= Abstinência de sexo, B = Be faithful, seja fiel, C = Condom,
preservativo.
Mas, para a vida feliz, e para escolhas certas e responsáveis, é necessária uma visão mais
holística da vida. O ABCD poder ser um modelo, para nos orientar. Neste modelo, o
significado das letras é muito mais amplo do que no ABC, da prevenção do HIV.
A= Abstinência de tudo o que destrua o projecto de vida. Isto é, temos de abster-nos da
mentira, da corrupção, do estigma, do sexo desprotegido, do álcool, das drogas, da
violência, da poluição do meio ambiente...
B = Be faithful significa fidelidade, em primeiro lugar a ti mesmo e ao teu projecto de vida, ao
teu corpo, à tua família, à tua igreja, ao teu parceiro, a Deus,
C= Change = mudança, tempo de escolher, de fazer escolhas responsáveis.
D= Danger = perigo. Para se ter uma vida em plenitude, devem evitar-se perigos, como, por
exemplo, drogas, HIV...
Para uma vida feliz, seria bom ter um projecto de vida, que reflicta os nossos anseios e
valores. Um projecto de vida ajuda a abster-se de comportamentos prejudiciais, nos
âmbitos social, psicológico, ambiental e da saúde.
Aprendemos algumas habilidades de técnicas de gestão de recursos materiais, de tempo e
de comunicação, em situações de conflitos, que nos ajudam a pôr em prática o plano de
vida.
O tempo é um recurso fundamental, que não existe em abundância. A gestão do tempo
requer uma planificação realística, a priorização, o uso eficaz do tempo, e evitar
desperdícios, soluções para imprevistos, colaboração com outros, delegação de tarefas, e
negociação com o superior, para melhor distribuição do trabalho e prazos realísticos.
Os recursos materiais são necessários, para a implementação de qualquer projecto. Um
deles é o dinheiro. Gerir bem o dinheiro requer esforço, tempo, transparência,
honestidade e humildade, seja para as finanças pessoais, seja para a gestão empresarial.
Existem algumas práticas, para conseguir gerir melhor o seu dia-a-dia, e todos os aspectos
financeiros relacionados. O ABCD também tem a ver com a gestão do dinheiro e dos bens.
Uma boa gestão dos recursos económicos, materiais e pessoais vai fazer a diferença, na
implementação do projecto de vida.
Os conflitos podem ser intra-pessoais, interpessoais, intra-grupais e inter-grupais. Podem
resultar de conflitos de relacionamento, de interesse; podem ser conflitos de valores, de
estruturas, de dados. Os conflitos podem ser uma oportunidade de crescimento, de
mudança pessoal e social, de inovação.
Entre os vários estilos para enfrentar o conflito (competitivo, evitar o conflicto,
acomodador, cooperativo, colaborador) o melhor é o estilo colaborador: a pessoa trata as
necessidades dos outros com a mesma importância, com que trata as suas. O resultado
deste estilo é: Eu ganho, você ganha.
118
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York.
120
UNESCO, UNAIDS. (2009). International Technical Guidance on Sexuality Education. An
Evidence informed approach for schools, teachers and health educators. Vol 1. The rationale
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Wundt, W. (1993). Grundzüge der physiologischen Psychologie (5a Ed.,Bd. 3). Leipzig: Barth.
121
Interpretação dos resultados dos Exercicios 1.3, 2.3, 2.4 e 3.3
Exercício 2.3 Testa a sua percepção, sobre a igualdade de género, na vida sexual e
reproductiva
122
Exercício 3.3: Avalie o seu risco
Se escolheu: 1 A, 2 C, 3 B, 4 A, 5 B,
Se escolheu: 1 B, 2 A, 3 C, 4 B, 5 A –
Se escolheu: 1 C, 2 B, 3 A, 4 C, 5 C –
Por outro:
Se escolheu não exactamente uma das series de letras acima referidas, mas escolheu
muitas As e Bs, está no meio entre o grupo dos jogadores de alto e de médio risco,
dependendo das situações onde escolheu A e B.
Se escolheu não exactamente uma das series de letras acima referidas, mas escolheu
mais Cs e Bs, está no meio entre o grupo dos jogadores seguros e de médio risco,
dependendo das situações onde escolheu C e B. Para a situação 3, devia ter escolhido
a letra A (resposta do comportamento seguro).
123
Trabalho de Campo 1
Pense na cultura, que lhe rodeia, e pense no que se espera de homens e mulheres, que vivem
nesta cultura.
Primeiro, preenche as partes invisíveis, na árvore da cultura, dando um exemplo dos
valores, dos conceitos, das normas e de uma atitude que diga respeito a homens e
mulheres. Pensa no que a cultura diz/ensina sobre o homem/a mulher. (4 pontos)
Segundo, dá exemplos da parte visível da cultura: exemplos, para comportamentos
de homem/mulher e de ritos/ceremonias. (2 pontos)
NB: Deve fazer a sua própria ilustração no papel.
4. O que as duas afirmações a seguir mostram acerca da igualdade de género na vida sexual
e reproductiva
- Ambos os parceiros têm o direito de dizer “não” ao fazer sexo.
- Mesmo estando bem com a sua mulher, o homem precisa de ter outra.
(2 pontos)
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5. Leia o Estudo de Caso Ivandro do Exercício 2.6.
Suponho que você é pai/mãe do Ivandro. Responde as perguntas:
- Porque é que o Ivandro está nesta situação? (1 ponto)
- O que é que você podia ter feito, como pai/mãe, para isso não acontecer? (1 p.)
- O que é que aconselha para fazer agora? 1 ponto)
- Qual será a posição da Igreja Católica acerca do comportamento sexual do
Ivandro? (3 pontos)
6. Quais são os quatro componentes dos direitos sexuais e reproductivos? (2 pontos)
7. Para as quarto fases da infecção com o HIV, caracterize o comportamento de CD4 e
da carga viral e os sintomas. (4 pontos)
Total: 24 pontos
Trabalho de Campo 2
1. As condições necessárias para a transmissão de HIV de uma pessoa infectada para uma
pessoa não infectada resumem-se no QQR. Explique o significado do QQR. (3 pontos)
2. Use o QQR para explicar se há transmissão de HIV ou não e qual o risco de transmissão
de HIV no caso de
a. Sexo vaginal
b. Sexo oral
c. Sexo anal
d. Beijo profundo (4 pontos)
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5. O que se entende por Opção B+ e qual as suas vantagens para a família? (2 pontos)
Total: 24 pontos
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