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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO

ESPECIAL DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE FORMOSA/GO

AILTON DE BRITO MARTINS, brasileiro, solteiro,


funcionário público, inscrito no RG nº 24.974 PMGO e CPF nº 586.954.431-91,
residente e domiciliado à Rua 1, 44 – Setor Ferroviário, CEP: 73.805-045,
Formosa – GO, perante v. Excelência propor

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER PARA PROMOÇÃO POR ATO DE


BRAVURA

em face do ESTADO DE GOIÁS, pessoa jurídica de direito público interno,


inscrito no CNPJ n° 01.409.580/0001-38, representado na pessoa do
Procurador Geral do Estado, estabelecido na Praça Dr. Pedro Ludovico
Teixeira n°03, Centro, nesta capital, CEP 74.003-010, e POLÍCIA MILITAR DO
ESTADO DE GOIÁS, CNPJ n° 014096710001-73, estabelecida na Av.
Anhanguera Nº 7364 - St Aeroviário, Goiânia-GO, CEP. 74435-300, pelo
seguinte:
I – DOS FATOS

1. O Requerente ingressou na Polícia Militar do Estado de Goiás,


prestando regular concurso público, sendo aprovado no ano de 2000, tomando
posse em fevereiro do mesmo ano;

2. Aos dias 03 de setembro de 2015, quando do atendimento de


uma ocorrência de acidente de trânsito com vítima, ocorrido na GO – 116, km
5, Zona Rural da Cidade de Formosa/GO, o autor, juntamente com o 2º SGT
Ailton de Brito Martins, apagaram um início de incêndio, usando o extintor do
próprio veículo, realizando o salvamento do motorista;

3. Conforme se vê da sindicância 2018.02.20530, instaurada em


31/01/2018, para apurar a existência de ação meritória, o incêndio evitado pelo
autor, juntamente com seu companheiro de farda, impediu que houve uma
explosão no local do sinistro, visto que o tanque de combustível encontrava-se
vazando;

4. Em ato de coragem incomum e arriscando suas próprias vidas,


ambos policiais realizaram o salvamento da vítima e impediram que o fogo se
alastrasse, de modo que ultrapassaram os limites normais do cumprimento de
seu dever;

5. Após a abertura da sindicância, houve manifestação através do


relatório nº 233/2020 SEC-CPP-16352, que decidiu pelo indeferimento da
reconsideração de ato para promoção por bravura de ambos policiais;

7. Desta forma, alternativa não resta ao Requerente, a não ser


buscar o provimento judicial para alcance de seu direito.
II – DO DIREITO

9. Sendo o Requerente da Polícia Militar do Estado de Goiás -


PMGO, sua conduta em atividade para apreciação do feito é regida pela lei
estadual n° 8000 de 25 de novembro de 1975, especialmente quando se trata
de ato de bravura, vejamos:

Art. 4º - As promoções são efetuadas pelos critérios de:


a) antiguidade;
b) merecimento, ou ainda
c) por bravura, e
d) "post-mortem".
(...)
Art. 7º - A promoção por bravura é aquela que resulta de ato ou atos não
comuns de coragem e audácia que, ultrapassando os limites normais do
cumprimento do dever, representem feitos indispensáveis ou úteis às
operações Policiais-Militares, pelos resultados alcançados ou pelo
exemplo positivo deles emanado. (Grifo nosso)

10. A despeito da conduta realizada pelo Requerente, esta foi


reconhecida como ato de bravura, tanto pela Sindicância n° 2018.02.20530;

11. Nota-se que, mesmo tendo sido reconhecido o mérito na ação


dos policiais, não entendeu pela promoção, requerendo, apenas, o
encaminhamento dos autos para a Comissão Permanente de Medalhas para
avaliar o mérito da ação.

12. Ora, por clara leitura percebe-se que o Requerente trabalhou


de forma a realizar ato incomum em prol da sociedade goiana, expondo sua
vida a risco, obtendo resultados indispensáveis ou úteis às operações Policiais-
Militares, de acordo com o artigo 7° da Lei 8.000/75, mas que, mesmo tendo
isso sido reconhecido, a CPP lhe negou o direito ao acréscimo salarial
mencionado na Lei Estadual n° 15.809 de 13 de novembro de 2006, sob a
alegação de que não entende pelo mérito na ação dos policiais, porém,
encaminhando os autos apenas para a Comissão Permanente de Medalhas;

13. O mesmo direito deve ser concedido ao Requerente que se vê


discriminado pela CPP, que feriu o princípio da isonomia. Neste sentido, pode
o Poder Judiciário entrar na seara administrativa para fazer valer o direito ferido
e a norma aviltada. Assim, calha transcrever o pensamento jurisprudencial:

DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ORDINÁRIA


C/C DANOS MORAIS. NULIDADE DE ATO ADMINISTRATIVO.
AUSÊNCIA DE MOTIVAÇÃO. PRINCÍPIO DA MOTIVAÇÃO. PREVISÃO
CONSTITUCIONAL. PROMOÇÃO DE POLICIAL MILITAR POR ATO DE
BRAVURA. DISCRICIONARIEDADE ADMINISTRATIVA. SENTENÇA
PARCIALMENTE REFORMADA. 1. A promoção por ato de bravura é
aquela que resulta do reconhecimento de ato ou atos incomuns de coragem
e audácia que, ultrapassando os limites normais do cumprimento do dever,
se mostrem indispensáveis ou úteis às operações policiais e de bombeiros
pelos resultados alcançados ou pelo exemplo positivo deles emanado?,
consoante art. 9º da Lei Estadual nº 15.704/2006. 2. A concessão da
promoção por ato de bravura está adstrita à discricionariedade do
administrador, estando o ato administrativo submetido exclusivamente à
conveniência e oportunidade da autoridade pública, tendo em vista que a
valoração dos atos de bravura não ocorre por meio de elementos
meramente objetivos. Precedentes do STJ. 3. Todavia, deve ser
desconstituído o ato administrativo que não apresenta motivação que
justifique o indeferimento do pleito dos policiais militares,
principalmente considerando o parecer favorável do relator da
sindicância, por afrontar o artigo 93, inciso IX da Constituição Federal.
Apelação e remessa parcialmente providas. (TJGO, 2ª CC,
Apelação/Reexame necessário 5286845-58.2016.8.09.0040, Rel.
MAURICIO PORFIRIO ROSA, DJe de 06/09/2018. Negritei.)

Ainda:

REMESSA OBRIGATÓRIA E APELAÇÃO CÍVEL. POLÍCIAL MILITAR.


PROMOÇÃO. ATO DE BRAVURA. LEI Nº 15.704/06. VIOLAÇÃO AO
PRINCÍPIO DA ISONOMIA. POSSIBILIDADE DE CONTROLE DE
LEGALIDADE DOS ATOS DISCRICIONÁRIOS PELO PODER
JUDICIÁRIO. 1. A promoção por ato de bravura concedida aos Policiais
Militares do Estado de Goiás possui natureza discricionária, porquanto,
condicionada aos critérios da conveniência e oportunidade da
Administração Pública, circunstância que não afasta, todavia, a
possibilidade de imposição de limites e o controle de legalidade dos atos
discricionários pelo Poder Judiciário. 2. Tendo o autor/apelado trazido aos
autos provas aptas a comprovar ter a Administração, no caso, a da
Polícia Militar, promovido outros militares em situações idênticas a por
ele protagonizada, patente o seu direito em ser promovido por ato de
bravura, sob pena de, caso assim não se entenda, incorrer em violação
ao princípio constitucional da isonomia. REMESSA E APELO
CONHECIDOS E DESPROVIDOS. (TJGO, 6ª CC, DGJ 451153-
60.2013.8.09.0087, Rel. DES. JEOVA SARDINHA DE MORAES, DJe 1836
de 29/07/2015. Negritei).

Mais ainda:

DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ORDINÁRIA


DE PROMOÇÃO POR ATO DE BRAVURA COM PEDIDO DE TUTELA
ANTECIPADA. ATO ADMINISTRATIVO. PODER DISCRICIONÁRIO.
CONTROLE DO JUDICIÁRIO. ADMISSIBILIDADE. I – É perfeitamente
admissível que o Poder Judiciário controle os atos administrativos
acobertados pela discricionariedade dentro dos aspectos da legalidade. II –
Diante da Lei nº 15.704/2006 que prevê a promoção por ato de bravura,
percebe-se que se o seu conceito pode ser analisado subjetivamente
e dentro do princípio da razoabilidade. REMESSA E APELO
CONHECIDOS E DESPROVIDOS. (TJGO, 6ª CC, DGJ 472320-
15.2011.8.09.0051, Rel. DES. FAUSTO MOREIRA DINIZ, DJe 1540 de
13/08/2014. Negritei.)

15. Assim, com a decisão tomada pela CPP, a Polícia Militar feriu
de morte o princípio da isonomia ao negar ao Requerente o mesmo direito
anteriormente em casos semelhantes (conforme anexo), pelos mesmos fatos
em que trabalharam e enfrentaram o perigo, devendo ser modificada pelo
Poder Judiciário;

16. Por fim, insta salientar que no próprio laudo de exame de perícia
criminal (Laudo nº 409/2019), o perito concluiu que houve princípio de incêndio
no banco traseiro e que a devida contenção das chamas evitou o alastramento,
proporcionando o resgate às vítimas.
III - DOS PEDIDOS

Pelo exposto, requer:

a. A citação do Requerido, para contestar a presente;


b. O reconhecimento do ato de bravura do Requerente, desde
sua atuação junto ao evento narrado;
c. A produção de todas as provas em direito admitidas;
d. A condenação dos Requeridos em custas e honorários
advocatícios.

Dá-se à causa o valor de R$ 1.000,00 (mil reais para efeitos


fiscais)

Pede deferimento.

Formosa/GO, 20 de agosto de 2020.

Marcelo Pires Batista


OAB/GO 35843

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