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26 maio 2022
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Ao aprender algo novo, como uma música no piano, é mais eficiente fazer pequenas pausas do que
praticar sem parar até a exaustão, indicam estudos
Para aprender algo novo, é preciso praticar, praticar, praticar, diz o senso comum — aquela ideia
de que "a prática leva à perfeição".
Mas uma série de estudos científicos vem apontando que a prática incessante pode não ser o jeito
mais eficiente de aprender uma nova habilidade: o cérebro precisa de descansos para consolidar o
conhecimento recém-adquirido e transformá-lo de uma memória transitória para uma memória
duradoura.
E uma das descobertas mais recentes é de que pequenas pausas intercaladas com a prática da
atividade levam a grandes ganhos de aprendizado: o cérebro aproveita essas pausas para fazer
um "replay" mental superveloz do que acabou de aprender, reforçando a habilidade recém-
adquirida.
Esses pequenos intervalos podem ser particularmente produtivos para o cérebro de quem pratica
novos movimentos minuciosos e repetitivos, como atletas ou músicos - ou mesmo pacientes que
estejam tentando recuperar habilidades perdidas após um derrame (veja mais adiante na
reportagem).
Por que cérebro dos humanos há 3 mil anos era maior que o nosso
"Imagine um cenário em que a pessoa começa a aprender a tocar uma nova música no piano. A
gente descobriu que, durante pausas, o cérebro repete uma versão 50 vezes mais rápida dos
movimentos usados para tocar a música, várias e várias vezes, o que reforça a conexão dos
neurônios das áreas associadas àquela memória nova", explica à BBC News Brasil o pesquisador
brasileiro Leonardo Claudino, um dos coautores de um estudo sobre o tema feito pelos Institutos
Nacionais de Saúde dos EUA (NIH, na sigla em inglês) e publicado em 2021 no periódico Cell
Reports.
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Nos momentos de descanso é que o cérebro consegue, segundo se acredita, transferir memórias para
áreas do cérebro onde ela vai ser consolidada
Nesse estudo, ele e outros pesquisadores dos NIH registraram a atividade cerebral de 33
voluntários destros enquanto eles aprendiam a digitar, no teclado, uma sequência de números
com a mão esquerda. Os voluntários tinham de digitar o máximo possível de sequências durante
dez segundos, e daí fazer um intervalo de dez segundos.
Alguns membros dessa mesma equipe de pesquisa, liderados pela cientista Marlene Bönstrup, já
haviam observado em estudos prévios que, depois dos breves intervalos, os voluntários
melhoravam a velocidade e a precisão com que digitavam sequências numéricas desse tipo.
Agora, o objetivo era entender o que acontece no cérebro nesse processo. E, por meio de exames
de magnetoencefalografia, os cientistas puderam observar os rápidos "replays" que o cérebro
fazia daquilo que havia acabado de aprender.
"E a gente descobriu que (a consolidação) acontece em uma escala de tempo muito mais rápida
do que se acreditava até então", aponta Leonardo Claudino. "Uma habilidade de dois segundos
passa a ser repetida no cérebro na escala de milissegundos."
A mesma ideia vale para atletas que estejam treinando um novo movimento: é nas pausas que o
cérebro consolida o aprendizado dessa habilidade
Como, então, tirar proveito prático do conhecimento científico acumulado até agora?
"Vejo uma utilidade mais direta quando penso em práticas esportivas ou performance musical,
que envolvem sessões em que o atleta ou artista vai realizar o mesmo movimento várias vezes",
explica Claudino.
"Uma lição a se tirar é: quando se iniciar o aprendizado de uma nova técnica, evite a prática até a
exaustão, até a falha. Em vez disso, é melhor fazer pausas. A perfeição vai ser obtida mais
rapidamente se você der tempo pro cérebro consolidar (o aprendizado), em vez de praticar sem
parar visando a perfeição."
"Geralmente a gente aprende uma nova técnica repetindo várias vezes — você repete, repete, e
chega uma hora em que você já sabe as sequências de movimentos que vão produzir a atividade
final. A ideia é que você, em vez de praticar aquilo até a exaustão, faça-a dez vezes, por exemplo,
daí dê uma parada, e volta a fazer de novo."
O que ainda não se sabe ao certo é qual a duração ideal de uma pausa para a consolidação ótima
de um novo aprendizado.
"Esse é um dos desafios da aplicação prática", afirma Claudino, lembrando que isso pode
depender também do tipo de habilidade aprendida e de características individuais de cada
praticante.
Mas, nos estudos dos NIH, aqueles em que os voluntários digitavam sequências no teclado, os
pesquisadores observaram que o ganho de aprendizado era maior quando a prática e os
intervalos tinham duração parecida. Por exemplo, dez minutos de prática e dez minutos de pausa.
Claudino ressalta, porém, que se trata de estudos controlados, feitos em laboratório, então suas
conclusões não necessariamente se transpõem exatamente para a vida real.
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Cientistas observaram que, em pequenas pausas da prática de algo novo, o cérebro faz um "replay" do
que aprendeu
No caso dos estudos em laboratório, durante a pausa, cada voluntário ficava parado, sem digitar
no computador.
Na vida real, o pesquisador sugere dar um pequeno sossego para o cérebro do que quer que ele
esteja aprendendo.
"Se a pessoa está aprendendo a tocar uma música, imagino que (a pausa) seria simplesmente
parar de tocar, pensar em outra coisa ou não realizar outra atividade que possa interferir com
aquela — por exemplo, não tente aprender uma outra música quando estiver descansando da
primeira, porque você usa as mesmas regiões e capacidades", explica.
Segundo Oakley, o cérebro precisa alternar entre o modo difuso e o focado para aprender de
forma efetiva. Relaxar a mente — seja fazendo uma caminhada ou mudando de atividade —,
portanto, ajuda diretamente a melhorar o aprendizado e a resolver problemas.
"Quando você estiver empacado em um exercício de matemática, o melhor a fazer é mudar o foco
e estudar um pouco de geografia. Assim, você conseguirá avançar quando voltar à matemática",
sugeriu Oakley.
Pacientes de derrame
Esse estímulo ótimo ao cérebro pode fazer com que a reabilitação produza resultados mais
rápidos, diz Claudino.
"Nossos resultados sugerem que pode ser importante otimizar o timing e a configuração dos
intervalos de descanso ao se implementar tratamentos de reabilitação em pacientes de derrames
ou quando se aprende a tocar piano entre voluntários normais", explicou em comunicado o
médico Leonardo Cohen, chefe do laboratório responsável por essas pesquisas nos NIH.
São, por enquanto, campos de pesquisa ainda abertos, agrega Leonardo Claudino. O importante é
entender que, mesmo durante descansos, o cérebro nunca para de aprender.
"O que vai contra o senso comum é que, quando você está parado, o seu cérebro não está parado.
A gente ainda está entendendo esse fenômeno, mas (nessas pausas) você ocupa o seu cérebro
com menos processamento de estímulo e produção de movimento. Daí você dá aquela janela de
oportunidade para ele consolidar o que já está aprendendo."
Ciência
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