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Processo Civil - Recursos, Sucedâneos Recursais e Ação Rescisória

O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

1 AÇÃO RESCISÓRIA........................................................................................................... 2
1.1 Considerações iniciais ........................................................................................... 2
1.2 Competência ......................................................................................................... 3
1.3 Decisões judiciais que podem ser objeto de ação rescisória ................................ 5
1.4 Prazo para ajuizamento da rescisória ................................................................... 7
1.5 Hipóteses de cabimento da ação rescisória........................................................ 10
1.6 Processamento da ação rescisória ...................................................................... 16

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doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

1 AÇÃO RESCISÓRIA
1.1 Considerações iniciais
A ação rescisória está prevista nos artigos 966 a 975 do NCPC e é o instrumento por
meio do qual se possibilita a rescisão de uma sentença transitada em julgado. Trata-se de
um processo de competência originária dos tribunais. Não há ação rescisória em Juízos de
primeiro grau nem em turmas recursais.
Conforme visto na aula anterior, diversos vícios de nulidade ou anulabilidade que
porventura tenham ocorrido no processo são convalidados pelo efeito sanatório do trânsito
em julgado da sentença. Há, entretanto, alguns vícios mais graves que, após o trânsito em
julgado, deixam de ser nulidades ou anulabilidades e se transformam em rescindibilidade.
Esses vícios estão previstos no art. 966 do NCPC e são aqueles que podem constituir objeto
de uma ação rescisória:
Art. 966. A decisão de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando:
I - se verificar que foi proferida por força de prevaricação, concussão ou corrupção do
juiz;
II - for proferida por juiz impedido ou por juízo absolutamente incompetente;
III - resultar de dolo ou coação da parte vencedora em detrimento da parte vencida ou,
ainda, de simulação ou colusão entre as partes, a fim de fraudar a lei;
IV - ofender a coisa julgada;
V - violar manifestamente norma jurídica;
VI - for fundada em prova cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou
venha a ser demonstrada na própria ação rescisória;
VII - obtiver o autor, posteriormente ao trânsito em julgado, prova nova cuja existência
ignorava ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar
pronunciamento favorável;
VIII - for fundada em erro de fato verificável do exame dos autos.
Uma ausência de citação, por exemplo, não será objeto de ação rescisória, por se
tratar de um vício que pode ser suscitado perante o próprio juízo de primeiro grau, durante
a fase de execução. A falta de citação poderá ser arguida até mesmo por meio de querela
nullitatis, por se tratar de um vício de inexistência, denominado por alguns autores de vício
transrescisório, que ultrapassa o prazo bienal da rescisória.
Se, porém, ocorrer algum vício descrito no art. 966 acima, a parte poderá, mesmo
após o trânsito em julgado, propor uma ação rescisória perante o tribunal de segundo grau
competente. Essa ação rescisória normalmente terá dois pedidos: o primeiro é o
denominado juízo rescindente, que está presente em qualquer ação rescisória. Esse pedido
tem a finalidade de apurar o vício de rescindibilidade para fazer cessar a coisa julgada.
Retirado o escudo, a proteção (coisa julgada) que protegia o julgado anterior, passa-
se a analisar, na mesma sessão e pelos mesmos julgadores, o segundo pedido. O segundo

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pedido é denominado juízo rescisório. Com base nesse pedido e por razões de economia
processual, o tribunal vai julgar a pretensão do processo primitivo.
O processo primitivo já havia sido julgado e já se encontrava protegido pela coisa
julgada. Então, o tribunal, constando o vício de rescindibilidade, cassa a coisa julgada e a
própria sentença por meio do juízo rescindente, passando-se, em seguida, por meio do juízo
rescisório, à prolação de um novo julgado de mérito do processo antigo.
Normalmente há cumulação de pedidos em ações rescisórias: pedido de juízo
rescindente e de juízo rescisório. Em situações eventuais, poderemos ter apenas o pedido de
juízo rescindente. Um exemplo dessa hipótese é o art. 966, IV, do NCPC:
Art. 966(...)
IV - ofender a coisa julgada;
1.2 Competência
A ação rescisória é de competência originária dos tribunais, não existindo ação
rescisória em primeiro grau. Também não se admite ação rescisória no âmbito dos juizados
especiais (estadual, federal ou fazendário estadual), conforme art. 59 da Lei n.º 9.099/95:
Art. 59. Não se admitirá ação rescisória nas causas sujeitas ao procedimento instituído
por esta Lei.
Para endereçamento da peça, é necessário saber qual o tribunal competente para
julgamento da ação rescisória.
No caso de uma sentença proferida por um juiz federal e transitada em julgado sem a
interposição de recurso, uma possível ação rescisória contra essa sentença será de
competência do TRF a que aquele juiz está vinculado.
Agora, caso aquela sentença tenha sido submetida a julgamento pelo TRF em sede de
apelação interposta pela parte, com análise do mérito da causa, a decisão do tribunal
substitui a sentença, tendo em vista o efeito substitutivo do recurso, previsto no art. 1.008
do NCPC:
Art. 1.008. O julgamento proferido pelo tribunal substituirá a decisão impugnada no que
tiver sido objeto de recurso.
No exemplo acima, após o julgamento pelo TRF, negando ou dando provimento à
apelação (com análise de mérito), não foram interpostos mais recursos, transitando-se em
julgado a decisão. Nessa hipótese, a ação rescisória deverá ser ajuizada perante o mesmo
TRF. Internamente, cada tribunal disciplinará o órgão ao qual deverá ser encaminhada a
ação rescisória (turma, órgão especial, pleno, etc.).
Mas o importante é que o TRF (ou qualquer tribunal inferior) julga a ação rescisória
quando proposta contra julgado de juiz a ele vinculado ou contra seus próprios acórdãos de
mérito. Já o STJ e o STF tem competência para julgamento de ações rescisórias quando
propostas contra seus próprios acórdãos.

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Vamos imaginar agora que no exemplo acima citado houve interposição de recurso
especial ao STJ contra o acórdão proferido pelo TRF. Após juízo de admissibilidade positivo
pelo tribunal de origem, o recurso foi encaminhado ao STJ, que inadmitiu o REsp pelo não
preenchimento de seus requisitos1. A decisão transita, então, em julgado. Como a decisão do
STJ não enfrentou o mérito da causa, a ação rescisória continua sendo de competência do
TRF, pois foi ele o último tribunal a proferir julgamento de mérito no caso em questão.
Sob a égide do CPC anterior, os tribunais, com muita frequência, indeferiam as
iniciais de ações rescisórias endereçadas incorretamente, fundamentando-se na
incompetência ou na inépcia da inicial. Todavia, no NCPC trouxe uma solução distinta para
situações como essa, determinando-se que seja dada à parte a oportunidade para emendar
a petição inicial e, regularizado o vício, que os autos sejam remetidos ao juízo competente,
conforme se vê de seu art. 968, §§ 5º e 6º:
Art. 968. A petição inicial será elaborada com observância dos requisitos essenciais do
art. 319, devendo o autor:
(...)
§ 5o Reconhecida a incompetência do tribunal para julgar a ação rescisória, o autor será
intimado para emendar a petição inicial, a fim de adequar o objeto da ação rescisória,
quando a decisão apontada como rescindenda:
I - não tiver apreciado o mérito e não se enquadrar na situação prevista no § 2o do art.
966;
II - tiver sido substituída por decisão posterior.
§ 6o Na hipótese do § 5o, após a emenda da petição inicial, será permitido ao réu
complementar os fundamentos de defesa, e, em seguida, os autos serão remetidos ao
tribunal competente.
Conforme dito acima, não cabe ação rescisória em processos de competência dos
juizados especiais. Das decisões proferidas por turmas recursais, também não cabe recurso
especial, nos termos do art. 102, III, c/c art. 105, III, ambos da CF e conforme inclusive
previsto na súmula n.º 203 do STJ:
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da
Constituição, cabendo-lhe:
(...)
III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última
instância, quando a decisão recorrida:

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:

1De acordo com o art. 932, parágrafo único do NCPC, sempre que o vício no recurso for sanável, o relator
oportunizará ao recorrente a sua regularização antes de inadmiti-lo:
Art. 932. Incumbe ao relator:
(...)
Parágrafo único. Antes de considerar inadmissível o recurso, o relator concederá o prazo de 5 (cinco) dias
ao recorrente para que seja sanado vício ou complementada a documentação exigível.

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(...)
III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância, pelos
Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e
Territórios, quando a decisão recorrida:

Súmula 203
Não cabe recurso especial contra decisão proferida por órgão de segundo grau dos
Juizados Especiais.
Todavia, contra decisões de turmas recursais, cabe recurso extraordinário, nos
termos do art. 102, III, acima transcrito. Sendo interposto um recurso extraordinário contra
um julgado de turma recursal e tendo o STF negado ou dado provimento ao recurso, com
análise do mérito, incidirá na espécie o efeito substitutivo previsto no art. 1.008 do NCPC.
Note-se que, no caso acima, a última decisão de mérito será o acórdão do STF, que
substituiu a decisão da turma recursal. Pela legislação infraconstitucional (art. 59 da Lei n.º
9.099/95), não seria cabível ação rescisória contra esse julgado, por se tratar de processo
dos juizados especiais. Todavia, o art. 102, I, j, da CF confere ao STF a competência para
julgar a ação rescisória de seus próprios julgados:
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da
Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
(...)
j) a revisão criminal e a ação rescisória de seus julgados;
1.3 Decisões judiciais que podem ser objeto de ação rescisória
De acordo com o caput art. 966 o NCPC, cabe ação rescisória contra decisão de
mérito. Essa decisão de mérito deve ser interpretada em seu sentido amplo, ou seja, engloba
em seu conceito o acórdão de mérito, a decisão monocrática de mérito, a sentença de
mérito e, ainda, até mesmo a decisão interlocutória de mérito, esta última prevista no art.
356 do NCPC2.
Art. 966. A decisão de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando:
I - se verificar que foi proferida por força de prevaricação, concussão ou corrupção do
juiz;

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Art. 356. O juiz decidirá parcialmente o mérito quando um ou mais dos pedidos formulados ou parcela deles:
I - mostrar-se incontroverso;
II - estiver em condições de imediato julgamento, nos termos do art. 355.
§ 1o A decisão que julgar parcialmente o mérito poderá reconhecer a existência de obrigação líquida ou
ilíquida.
§ 2o A parte poderá liquidar ou executar, desde logo, a obrigação reconhecida na decisão que julgar
parcialmente o mérito, independentemente de caução, ainda que haja recurso contra essa interposto.
§ 3o Na hipótese do § 2o, se houver trânsito em julgado da decisão, a execução será definitiva.
§ 4o A liquidação e o cumprimento da decisão que julgar parcialmente o mérito poderão ser processados em
autos suplementares, a requerimento da parte ou a critério do juiz.
§ 5o A decisão proferida com base neste artigo é impugnável por agravo de instrumento.

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II - for proferida por juiz impedido ou por juízo absolutamente incompetente;


III - resultar de dolo ou coação da parte vencedora em detrimento da parte vencida ou,
ainda, de simulação ou colusão entre as partes, a fim de fraudar a lei;
IV - ofender a coisa julgada;
V - violar manifestamente norma jurídica;
VI - for fundada em prova cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou
venha a ser demonstrada na própria ação rescisória;
VII - obtiver o autor, posteriormente ao trânsito em julgado, prova nova cuja existência
ignorava ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar
pronunciamento favorável;
VIII - for fundada em erro de fato verificável do exame dos autos.
Todavia, diferentemente do CPC anterior, o NCPC prevê também a possibilidade de
ação rescisória em relação a decisões que não são de mérito em algumas hipóteses previstas
no art. 966, § 2º:
Art. 966 (...)
§ 2o Nas hipóteses previstas nos incisos do caput, será rescindível a decisão transitada
em julgado que, embora não seja de mérito, impeça:
I - nova propositura da demanda; ou
II - admissibilidade do recurso correspondente.
A primeira hipótese é quando se tratar de decisão que, embora não seja de mérito,
impeça nova propositura da demanda. Exemplo disso seria uma sentença que extinguiu um
processo, sem resolução do mérito, por ofensa à coisa julgada, diante da existência de um
processo idêntico julgado anteriormente por sentença já transitada em julgado.
A segunda sentença será terminativa e não fará coisa julgada material, mas, em se
tratando de sentença fundamentada no art. 485, V, do NCPC3, há uma diretriz normativa de
que o autor não pode mais repetir a ação. Então, essa seria uma situação que se enquadra
na hipótese prevista no art. 966, § 2º, I.
É importante ressaltar que as três hipóteses previstas no art. 485, V, do NCPC (coisa
julgada, perempção ou litispendência) e que permitem a extinção do processo sem
resolução do mérito traduzem o exercício abusivo de um direito. Exatamente por isso é que,
apesar de ser possível recorrer, não é permitida a propositura de uma nova demanda. Mas
passa a ser permitida agora a ação rescisória4.
A outra hipótese de decisão que não é de mérito e que comporta ação rescisória,
prevista no inciso II, consiste na decisão que impeça admissibilidade de recurso. A esse
respeito, vamos imaginar um processo sem qualquer vício. Nesse processo foi proferida

3
Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando:
(...)
V - reconhecer a existência de perempção, de litispendência ou de coisa julgada;
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Fim da aula 1/1

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sentença contra a qual foi interposta apelação. Após a apresentação das razões e
contrarrazões, o processo foi remetido ao tribunal, onde o relator inadmitiu o recurso de
apelação, não tendo a parte apresentado mais qualquer outro recurso, dando ensejo ao
trânsito em julgado.
Depois de determinado tempo, o recorrente percebe que o relator era impedido de
atuar naquele processo (impedimento é hipótese que autoriza da ação rescisória, conforme
art. 966, II, acima transcrito). Poderá a parte ajuizar, então, ação rescisória contra a decisão
que inadmitiu o recurso de apelação.
Fora do disposto no art. 966, §2º, não se admite ação rescisória em casos de
sentenças terminativas.
1.4 Prazo para ajuizamento da rescisória
O prazo para ajuizamento da ação rescisória está disciplinado no art. 975 do NCPC:
Art. 975. O direito à rescisão se extingue em 2 (dois) anos contados do trânsito em
julgado da última decisão proferida no processo.
§ 1o Prorroga-se até o primeiro dia útil imediatamente subsequente o prazo a que se
refere o caput, quando expirar durante férias forenses, recesso, feriados ou em dia em
que não houver expediente forense.
§ 2o Se fundada a ação no inciso VII do art. 966, o termo inicial do prazo será a data de
descoberta da prova nova, observado o prazo máximo de 5 (cinco) anos, contado do
trânsito em julgado da última decisão proferida no processo.
§ 3o Nas hipóteses de simulação ou de colusão das partes, o prazo começa a contar, para
o terceiro prejudicado e para o Ministério Público, que não interveio no processo, a partir
do momento em que têm ciência da simulação ou da colusão.
Trata-se de um prazo que é considerado decadencial (há quem diga que se trata de
decadência processual, não material).
O prazo para propositura da ação rescisória é de dois anos e é contado a partir do
trânsito em julgado da decisão. Esse prazo não é contado em dias úteis, porque o art. 219 do
NCPC aplica-se tão somente aos prazos contados em dias:
Art. 219. Na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo juiz, computar-se-
ão somente os dias úteis.
Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se somente aos prazos processuais.
O NCPC permite que, em determinadas ocasiões, o prazo seja maior ou o termo
inicial seja alterado. Isso ocorre, por exemplo, com a juntada da prova nova. A ação
rescisória fundamentada na prova nova é diferente das demais hipóteses. Na prova nova,
não se discute a existência de um vício no processo, como ocorre nos demais casos previstos
no art. 966.
O objetivo da rescisória com fundamento na prova nova é rediscutir uma decisão
injusta. No CPC anterior, o prazo para seu ajuizamento, mesmo em casos de documento

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novo, era de dois anos a partir do trânsito em julgado. No NCPC essa regra foi alterada,
passando o prazo de dois anos a ser contado a partir da descoberta da prova nova,
observado, porém, o prazo máximo de 5 (cinco) anos, contado do trânsito em julgado da
decisão.
Essa novidade está prevista no art. 975, § 2º:
Art. 975. O direito à rescisão se extingue em 2 (dois) anos contados do trânsito em
julgado da última decisão proferida no processo.
§ 1o Prorroga-se até o primeiro dia útil imediatamente subsequente o prazo a que se
refere o caput, quando expirar durante férias forenses, recesso, feriados ou em dia em
que não houver expediente forense.
§ 2o Se fundada a ação no inciso VII do art. 966, o termo inicial do prazo será a data de
descoberta da prova nova, observado o prazo máximo de 5 (cinco) anos, contado do
trânsito em julgado da última decisão proferida no processo.
§ 3o Nas hipóteses de simulação ou de colusão das partes, o prazo começa a contar, para
o terceiro prejudicado e para o Ministério Público, que não interveio no processo, a partir
do momento em que têm ciência da simulação ou da colusão.
O § 3º acima também trouxe outra novidade quanto ao prazo para propositura da
ação rescisória em situações de simulação ou colusão das partes (art. 966, III).
Nessa hipótese, o prazo para ajuizamento da rescisória começa a contar, para o
terceiro prejudicado e para o MP, a partir do momento em que têm ciência da simulação ou
da colusão. A simulação ou colusão normalmente são atos clandestinos, difíceis de serem
descobertos. Por esse motivo o NCPC trouxe essa regra inovadora: o prazo para o
ajuizamento da rescisória com esse fundamento também é de dois anos, tendo sido
alterado, entretanto, o termo inicial de sua contagem.
No TST, existia um enunciado exatamente nesse sentido, dispondo que o prazo de
dois anos para ajuizamento da rescisória na justiça do trabalho era contado do
conhecimento da colusão. Esse enunciado, porém, foi cancelado na década de 90.
Há alguns autores defendendo que essa inovação no NCPC pode gerar insegurança,
afirmando que a situação do § 3º deveria ter o mesmo tratamento dado pelo § 2º, que limita
o ajuizamento da rescisória ao prazo máximo de cinco anos. Outros já sustentam que o
prazo máximo seria de dez anos, porque esse é o prazo decadencial máximo previsto pelo
Código Civil. Mas, como já dito acima, devemos ter em mente que alguns autores defendem
que o prazo para ajuizamento da rescisória possui natureza de decadencial processual.
Além das hipóteses acima, há mais uma situação em que o termo inicial do prazo
para ajuizamento da rescisória é deslocado para o futuro. Essa hipótese diz respeito à
situação em que a sentença transita em julgado, é executada e, depois de passado algum
tempo, o STF, em controle concentrado de constitucionalidade com efeitos retroativos,
declara a inconstitucionalidade da lei aplicada ao processo.

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Nesse caso, o prazo para propositura da ação rescisória conta-se a partir da data do
trânsito em julgado da decisão proferida pelo STF, conforme artigos 525, § 15, e 535, § 8º:
Art. 525. Transcorrido o prazo previsto no art. 523 sem o pagamento voluntário, inicia-
se o prazo de 15 (quinze) dias para que o executado, independentemente de penhora ou
nova intimação, apresente, nos próprios autos, sua impugnação.
(...)
§ 12. Para efeito do disposto no inciso III do § 1o deste artigo, considera-se também
inexigível a obrigação reconhecida em título executivo judicial fundado em lei ou ato
normativo considerado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em
aplicação ou interpretação da lei ou do ato normativo tido pelo Supremo Tribunal
Federal como incompatível com a Constituição Federal, em controle de
constitucionalidade concentrado ou difuso.
§ 13. No caso do § 12, os efeitos da decisão do Supremo Tribunal Federal poderão ser
modulados no tempo, em atenção à segurança jurídica.
§ 14. A decisão do Supremo Tribunal Federal referida no § 12 deve ser anterior ao
trânsito em julgado da decisão exequenda.
§ 15. Se a decisão referida no § 12 for proferida após o trânsito em julgado da decisão
exequenda, caberá ação rescisória, cujo prazo será contado do trânsito em julgado da
decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal.

Art. 535. A Fazenda Pública será intimada na pessoa de seu representante judicial, por
carga, remessa ou meio eletrônico, para, querendo, no prazo de 30 (trinta) dias e nos
próprios autos, impugnar a execução, podendo arguir:
(...)
§ 5o Para efeito do disposto no inciso III do caput deste artigo, considera-se também
inexigível a obrigação reconhecida em título executivo judicial fundado em lei ou ato
normativo considerado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em
aplicação ou interpretação da lei ou do ato normativo tido pelo Supremo Tribunal
Federal como incompatível com a Constituição Federal, em controle de
constitucionalidade concentrado ou difuso.
§ 6o No caso do § 5o, os efeitos da decisão do Supremo Tribunal Federal poderão ser
modulados no tempo, de modo a favorecer a segurança jurídica.
§ 7o A decisão do Supremo Tribunal Federal referida no § 5o deve ter sido proferida antes
do trânsito em julgado da decisão exequenda.
§ 8o Se a decisão referida no § 5o for proferida após o trânsito em julgado da decisão
exequenda, caberá ação rescisória, cujo prazo será contado do trânsito em julgado da
decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal.
Podemos ter ainda uma situação em que o juiz federal de primeiro grau profere uma
decisão interlocutória julgando parcialmente o mérito, que transita em julgado sem a
interposição de qualquer recurso. O outro capítulo do processo é julgado por sentença final,
contra a qual são interpostos sucessivos recursos até ser decidido em definitivo pelo STF.
O entendimento tradicional do Supremo é de que cada decisão de mérito transita em
julgado individualmente. No exemplo acima, nós teremos uma coisa julgada da decisão
interlocutória de mérito. Supondo-se que contra ele não tenha sido interposto agravo de
instrumento, a ação objetivando a sua rescisão já poderia ser proposta logo após o

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transcurso do prazo para o mencionado recurso. Essa ação rescisória deverá ser proposta
perante o TRF.
A outra parte do processo que restava para julgamento foi decidida, após a
interposição de sucessivos recursos, pelo STF. Logo, a ação rescisória contra essa parte do
julgado deverá ser proposta perante o Supremo.
Por outro lado, de acordo com o entendimento do STJ, não existe coisa julgada
pulverizada, pois a coisa julgada se formaria no mesmo momento. No exemplo acima, a
decisão interlocutória proferida pelo juiz federal não faria coisa julgada (ficaria no limbo),
pois teria que aguardar o outro capítulo. Quando o julgado referente ao capítulo final
transitasse em julgado, aquele decidido pela decisão interlocutória também transitaria. Ou
seja, quando o último capítulo transitar em julgado, todas as decisões de mérito anteriores
também irão transitar. O objetivo desse entendimento é evitar a pulverização de rescisórias.
Se você só tem uma coisa julgada, apesar de vários atos decisórios, só seria cabível uma ação
rescisória.
Note-se, todavia, que, com base no entendimento do STJ, a ação rescisória em
relação ao processo citado no exemplo acima deveria ser proposta perante o STF, o que
geraria um problema constitucional. Isso porque a CF não incluiu entre as competências do
Supremo o julgamento de rescisórias de decisões de juiz de primeiro grau.
O entendimento do STJ está previsto inclusive na súmula n.º 401 do STJ:
SÚMULA N. 401
O prazo decadencial da ação rescisória só se inicia quando não for cabível qualquer
recurso do último pronunciamento judicial.
O novo CPC adotou, de forma literal, o entendimento do STJ, conforme art. 975,
caput:
Art. 975. O direito à rescisão se extingue em 2 (dois) anos contados do trânsito em
julgado da última decisão proferida no processo.
Hoje, para realização de prova, sobretudo objetiva, o ideal é seguir a literalidade do
NCPC. Mas devemos aguardar os desdobramentos jurisprudenciais sobre o tema, pois, de
acordo como art. 8º do NCPC, o juiz não deve, necessariamente, aplicar uma interpretação
literal da lei:
Art. 8o Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências
do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e
observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a
eficiência.
1.5 Hipóteses de cabimento da ação rescisória
Conforme já mencionado acima, as hipóteses de cabimento da ação rescisória estão
arroladas no art. 966 do CPC. Passaremos agora a tratar de cada uma delas.
 I - se verificar que foi proferida por força de prevaricação, concussão ou
corrupção do juiz;
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O inciso I prevê a possibilidade de ajuizamento da ação rescisória referindo-se ao


comportamento criminoso do juiz de forma específica no processo primitivo. Não é qualquer
crime, deve ser prevaricação, concussão ou corrupção relativamente ao processo.
Não se exige, para justificar a ação rescisória, a existência de processo penal ou
mesmo de inquérito policial contra o magistrado. Todavia, o autor da ação rescisória deve
apresentar todas as provas necessárias para comprovação do comportamento delituoso.
A ação pode ser proposta em relação à atuação de juiz de primeiro grau,
desembargadores ou até mesmo ministros dos tribunais superiores.
 II - for proferida por juiz impedido ou por juízo absolutamente
incompetente;
O inciso II cuida de duas situações: incompetência do juízo ou impedimento do juiz.
A incompetência absoluta do Juízo é um vício tão grave, que se não for alegada em
contestação, poderá ser alegada posteriormente no próprio processo em primeiro grau, em
sede recursal e, transitando em julgado a sentença sem que haja alegação, poderá ainda ser
alegada por meio de ação rescisória, já que o vício, com o trânsito em julgado, converte-se
em rescindibilidade.
Não cabe ao juiz, na fase de execução, pronunciar uma incompetência absoluta
originária, já que, em se tratando de rescindibilidade, a via própria é a ação rescisória.
Nada impede, porém, que o juiz da execução reconheça uma incompetência
superveniente, ou seja, uma incompetência do juízo da execução. Aliás, essa é inclusive uma
das matérias passiveis de serem alegadas em impugnação à execução, conforme art. 525, §
1º, VI:
Art. 525. Transcorrido o prazo previsto no art. 523 sem o pagamento voluntário, inicia-
se o prazo de 15 (quinze) dias para que o executado, independentemente de penhora ou
nova intimação, apresente, nos próprios autos, sua impugnação.
§ 1o Na impugnação, o executado poderá alegar:
VI - incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução;
O juízo do processo originário não será necessariamente o juízo competente para a
execução. Em caso de ação coletiva, por exemplo, proposta contra a União na Justiça Federal
do Distrito Federal, a execução individual poderá ser proposta no domicílio do exequente,
nos termos do art. 109, § 2º, da CF e art. 51, parágrafo único, do NCPC:
Art. 109. (...)
§ 2º As causas intentadas contra a União poderão ser aforadas na seção judiciária em
que for domiciliado o autor, naquela onde houver ocorrido o ato ou fato que deu origem
à demanda ou onde esteja situada a coisa, ou, ainda, no Distrito Federal.

Art. 51. É competente o foro de domicílio do réu para as causas em que seja autora a
União.
Parágrafo único. Se a União for a demandada, a ação poderá ser proposta no foro de
domicílio do autor, no de ocorrência do ato ou fato que originou a demanda, no de
situação da coisa ou no Distrito Federal.

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doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

O art. 516, parágrafo único, também permite que, por ocasião da execução da
sentença, o exequente escolha a base territorial mais adequada, não sendo obrigatório
optar-se pela mesma localidade do processo originário:
Art. 516. O cumprimento da sentença efetuar-se-á perante:
I - os tribunais, nas causas de sua competência originária;
II - o juízo que decidiu a causa no primeiro grau de jurisdição;
III - o juízo cível competente, quando se tratar de sentença penal condenatória, de
sentença arbitral, de sentença estrangeira ou de acórdão proferido pelo Tribunal
Marítimo.
Parágrafo único. Nas hipóteses dos incisos II e III, o exequente poderá optar pelo juízo
do atual domicílio do executado, pelo juízo do local onde se encontrem os bens sujeitos à
execução ou pelo juízo do local onde deva ser executada a obrigação de fazer ou de não
fazer, casos em que a remessa dos autos do processo será solicitada ao juízo de origem.
Sendo proposta a execução em juízo não abrangido pelas opções acima descritas,
restará configurada a incompetência do juízo da execução.
Observação: é importante registrar que a menção feita pelo inciso III acima ao
"Tribunal Marítimo" é inócua, porque o inciso X do art. 515, que definia como título
executivo judicial a decisão proferida pelo tribunal marítimo, foi vetado.
Além da incompetência absoluta, nós temos também no inciso II o impedimento do
magistrado. As hipóteses de impedimento vêm mencionadas no art. 144 do NCPC:
Art. 144. Há impedimento do juiz, sendo-lhe vedado exercer suas funções no processo:
I - em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito, funcionou como
membro do Ministério Público ou prestou depoimento como testemunha;
II - de que conheceu em outro grau de jurisdição, tendo proferido decisão;
III - quando nele estiver postulando, como defensor público, advogado ou membro do
Ministério Público, seu cônjuge ou companheiro, ou qualquer parente, consanguíneo ou
afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive;
IV - quando for parte no processo ele próprio, seu cônjuge ou companheiro, ou parente,
consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive;
V - quando for sócio ou membro de direção ou de administração de pessoa jurídica parte
no processo;
VI - quando for herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de qualquer das partes;
VII - em que figure como parte instituição de ensino com a qual tenha relação de
emprego ou decorrente de contrato de prestação de serviços;
VIII - em que figure como parte cliente do escritório de advocacia de seu cônjuge,
companheiro ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o
terceiro grau, inclusive, mesmo que patrocinado por advogado de outro escritório;
IX - quando promover ação contra a parte ou seu advogado.
O impedimento é mais grave do que a suspeição e tem caráter objetivo. O
impedimento não preclui e pode ser alegado até mesmo em ação rescisória.
Com exceção da incompetência absoluta, em todos os demais casos de ação
rescisória até agora falados (prevaricação, concussão ou corrupção e impedimento), o autor
busca o juízo rescindente. Como já dito, toda rescisória tem juízo rescindente e depois, se for
o caso, juízo rescisório.

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Nos casos de prevaricação, concussão ou corrupção e impedimento, se o juiz tiver


conduzido o processo inteiro, ele estará contaminado em sua integralidade. Logo, o tribunal
não proferirá outro julgado, mas apenas rescindirá o processo inteiro para que em primeiro
grau ele seja reiniciado.
Pode, entretanto, acontecer de um juiz, após ter praticado todos os atos do processo,
inclusive a instrução, ser promovido. Vem então outro magistrado impedido e sentencia esse
processo. Nessa hipótese, o tribunal poderá fazer o juízo rescindente e o juízo rescisório5.
 III - resultar de dolo ou coação da parte vencedora em detrimento da parte
vencida ou, ainda, de simulação ou colusão entre as partes, a fim de fraudar a lei;
O inciso III trata da hipótese de comportamentos bilaterais, como simulação ou
colusão entre as partes, ou comportamento unilateral da parte vencedora, como dolo ou
coação da parte vencedora.
O NCPC incluiu duas hipóteses que não eram previstas no CPC anterior, que são a
simulação e a coação.
Já tratamos acima do que seria colusão e estudamos ainda que essa hipótese de ação
rescisória possui uma peculiaridade, que se refere ao termo inicial do prazo de 2 anos.
 IV - ofender a coisa julgada;
Também cabe ação rescisória quando a decisão de mérito ofende a coisa julgada
anterior. A coisa julgada pode ser arguida a qualquer tempo no processo, até mesmo na fase
recursal. Não sendo arguida e ocorrendo o trânsito em julgado no processo posterior, a
situação comporta o ajuizamento de ação rescisória.
Exemplo: o contribuinte ajuíza uma ação anulatória de tributo cujo pedido é julgado
por meio de sentença transitada em julgado. Posteriormente, a Fazenda Pública propõe uma
execução fiscal, contra a qual o mesmo contribuinte apresenta Embargos à Execução, que é
ação de conhecimento, com os mesmos pedidos da ação anterior. Não sendo identificada a
coisa julgada, a sentença proferida nos Embargos à Execução, contrariamente àquela
proferia na ação anulatória anterior, transita em julgado. A parte prejudicada com a nova
sentença poderá ajuizar ação rescisória para rescindi-la.
Na hipótese de ação rescisória prevista no inciso IV não haverá juízo rescisório,
apenas rescindente. Caso seja acolhida a rescisória, a sentença será rescindida, mas não há
necessidade de se fazer um novo julgamento, pois o mérito já foi julgado no processo
anterior.
A ação rescisória será sempre proposta contra a sentença que transitou em julgado
por último, pois foi segunda sentença que ofendeu a coisa julgada anterior.
Se a ação rescisória não for ajuizada em dois anos? Veja-se que teremos dois
processos idênticos com sentenças em sentido contrário: uma julgando procedente o pedido
e a outra julgando improcedente. Nesse caso, deve prevalecer a segunda sentença. Alguns

5
Fim da aula 2/1.

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autores até dizem que o juiz na sentença aplica a lei. Havendo conflito de leis, a lei mais
nova prevalece em detrimento da anterior. Logo, não sendo ajuizada ação rescisória, a
segunda sentença de mérito deve prevalecer em detrimento da primeira.
Cândido Rangel Dinamarco, entretanto, em posição minoritária, defendia que a
primeira sentença é que devia prevalecer. Para esse autor, não havia como sustentar uma
sentença transitada em julgado ofendendo outra coisa julgada, vez que a segunda seria
inapta a gerar coisa julgada.
 V - violar manifestamente norma jurídica;
É também possível o manejo da ação rescisória quando a decisão violar
manifestamente norma jurídica.
Como exemplo, podemos citar um acórdão de mérito do tribunal que não aplicou o
art. 942 do NCPC6.
O acórdão de mérito desse tribunal não foi objeto de recurso, mas acabou violando
norma jurídica. Seria possível, então, o ajuizamento de uma ação rescisória pela parte
prejudicada, fundamentada na violação do dispositivo legal previsto no NCPC.
Na reforma levada a efeito pela Lei n.º 13.256/2016, foram introduzidos ao art. 966
os §§ 5º e 6º, que tratam justamente da hipótese prevista no inciso V:
§ 5º Cabe ação rescisória, com fundamento no inciso V do caput deste artigo, contra
decisão baseada em enunciado de súmula ou acórdão proferido em julgamento de casos
repetitivos que não tenha considerado a existência de distinção entre a questão
discutida no processo e o padrão decisório que lhe deu fundamento. (Incluído pela
Lei nº 13.256, de 2016) (Vigência)
§ 6º Quando a ação rescisória fundar-se na hipótese do § 5º deste artigo, caberá ao
autor, sob pena de inépcia, demonstrar, fundamentadamente, tratar-se de situação
particularizada por hipótese fática distinta ou de questão jurídica não examinada, a
impor outra solução jurídica. (Incluído pela Lei nº 13.256, de 2016) (Vigência)
Segundo o professor, o § 5º diz que cabe ação rescisória quando a decisão estiver
violando enunciado de súmula, colocando súmula como se fosse norma jurídica. Também
cabe ação rescisória com base nesse dispositivo se o juiz segue o que foi decidido em casos
repetitivos, mas a parte alega a existência de distinção entre o seu caso e aquele que serviu
como fundamento da decisão proferida no precedente utilizado. Todavia, incumbe ao autor
da ação rescisória a demonstração da diferença, sob pena de inépcia.
 VI - for fundada em prova cuja falsidade tenha sido apurada em processo
criminal ou venha a ser demonstrada na própria ação rescisória;

6
Art. 942. Quando o resultado da apelação for não unânime, o julgamento terá prosseguimento em sessão a
ser designada com a presença de outros julgadores, que serão convocados nos termos previamente definidos no
regimento interno, em número suficiente para garantir a possibilidade de inversão do resultado inicial,
assegurado às partes e a eventuais terceiros o direito de sustentar oralmente suas razões perante os novos
julgadores.

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O inciso VI não pode ser considerado como hipótese de discussão da justiça da


decisão, como ocorre no caso de prova nova. Aqui, a situação que permite o ajuizamento da
rescisória é uma prova ilícita que tenha sido determinante para o conteúdo da sentença. Se
a prova é ilícita, a ilicitude é transmitida para a sentença. No processo civil, um ato
contaminado contamina o que dele derivar, conforme art. 281 do NCPC:
Art. 281. Anulado o ato, consideram-se de nenhum efeito todos os subsequentes que
dele dependam, todavia, a nulidade de uma parte do ato não prejudicará as outras que
dela sejam independentes.
Note-se que estamos falando de vício e não de decisão justa ou injusta. O que se tem
que analisar no caso concreto é se a prova ilícita foi relevante para o processo. Não adianta,
por exemplo, alegar que uma testemunha foi coagida, se foram ouvidas outras cinco que
justificaram o conteúdo da sentença.
 VII - obtiver o autor, posteriormente ao trânsito em julgado, prova nova cuja
existência ignorava ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar
pronunciamento favorável;
O inciso VII trata da juntada de prova nova. O NCPC usa um termo mais genérico,
"prova nova". O CPC anterior utilizava o termo "documento novo".
Embora o código se valha do termo prova nova, a rigor, trata-se na verdade de prova
velha, preexistente à data da sentença, mas não podia ser utilizada porque a parte
desconhecia ou não podia fazer uso.
 VIII - for fundada em erro de fato verificável do exame dos autos.
A hipótese prevista no inciso VIII é muito difícil de ocorrer. A rigor, muitos autores
não conseguem sequer explicar o que poderia ser considerado erro de fato.
O Professor Ronaldo Cramer, abordando o tema ação rescisória, traz em seu trabalho
sobre o NCPC exemplo do que seria erro de fato. Mas para assimilarmos melhor esse
conceito teremos que conhecer primeiro a redação dos § 1º do art. 966:
§ 1o Há erro de fato quando a decisão rescindenda admitir fato inexistente ou quando
considerar inexistente fato efetivamente ocorrido, sendo indispensável, em ambos os
casos, que o fato não represente ponto controvertido sobre o qual o juiz deveria ter se
pronunciado.
Segundo o dispositivo acima, existe erro de fato quando o juiz afirma existir o que
nunca existiu ou afirma que não existiu algo que aconteceu. O grande problema, porém, é
que o juiz não pode fazer essa afirmação de forma expressa. Essa afirmação deve ser
implícita.
Exemplo do que não é erro de fato: "A" cobra uma dívida de R$10.000,00 de "B". "B"
é citado e apresenta um recibo, só que de outra dívida, no valor de R$4.000,00. O juiz, ao
decidir, avaliou mal a prova e afirmou que a dívida foi paga, julgando improcedente o
pedido. Isso não é erro de fato, mas errônea valoração de prova. A decisão é injusta e não
cabe rescisória para correção de injustiça. A rescisória é para reconhecimento de vício e a

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única hipótese em que é admitida a rescisória para correção de injustiça é com fundamento
na prova nova.
Exemplo de erro de fato: "A" cobra uma dívida de R$10.000,00 de "B". "B" é citado e
se defende afirmando que não localizou a dívida, razão pela qual ela não existiria. O réu
argumentou também que, por outro lado, localizou um depósito por ele realizado em favor
do autor e cuja finalidade não fora identificada. Assim, o réu sustentou que, caso o
magistrado considerasse a dívida existente, deveria considerar também que o seu
pagamento já fora realizado por meio do citado depósito.
O juiz, ao decidir, assim afirma: "o autor quer receber dez mil. O réu diz que a dívida
já está paga. Julgo improcedente". Nesse exemplo, o juiz não examinou se a dívida existe ou
não existe. Ela já passou direto à análise do pagamento. Se ele já passou a analisar
diretamente o pagamento, é porque implicitamente considerou que a dívida existe. Isso é
um erro de fato: implicitamente considera existente algo que não existiu.
Mas onde estaria o vício, já que ação rescisória só pode ter como objeto vício
processual? A decisão foi omissa, error in procedendo.
1.6 Processamento da ação rescisória
A ação rescisória se inicia por meio de uma petição inicial que deve observar o art.
968 do NCPC:
Art. 968. A petição inicial será elaborada com observância dos requisitos essenciais do
art. 319, devendo o autor:
I - cumular ao pedido de rescisão, se for o caso, o de novo julgamento do processo;
II - depositar a importância de cinco por cento sobre o valor da causa, que se converterá
em multa caso a ação seja, por unanimidade de votos, declarada inadmissível ou
improcedente.
A ação rescisória tem, normalmente, dois pedidos: rescindendo e, se for o caso,
rescisório. Caso a pretensão do autor seja a obtenção dos dois pedidos, ambos já devem vir
expressamente formulados na inicial, conforme art. 968, I. O art. 968 também faz remissão
ao art. 319, que trata dos requisitos da petição inicial.
Juntamente com a petição inicial, o autor deve depositar a quantia correspondente a
5% do valor da causa. Se o pedido do autor for julgado improcedente por unanimidade, essa
caução se reverte à parte contrária. Isso é uma forma de desestimular a ação rescisória,
porque é cabível ação rescisória de ação rescisória de ação rescisória.... e sucessivamente.
Então, para se evitar má-fé ou uso abusivo, o legislador previu essa caução. Se o autor
ganhar ou perder por maioria, fará jus ao levantamento da caução.
A perda da caução é tratada no art. 974, parágrafo único:
Art. 974. Julgando procedente o pedido, o tribunal rescindirá a decisão, proferirá, se for
o caso, novo julgamento e determinará a restituição do depósito a que se refere o inciso
II do art. 968.

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Parágrafo único. Considerando, por unanimidade, inadmissível ou improcedente o


pedido, o tribunal determinará a reversão, em favor do réu, da importância do depósito,
sem prejuízo do disposto no § 2o do art. 82.
Essa caução é dispensada quando se tratar de Fazenda Pública, Defensoria Pública,
Ministério Público ou beneficiário de gratuidade da justiça (art. 968, § 1º). A grande
novidade vem, entretanto, no § 2º do art. 968. Foi colocado um teto máximo para caução,
que não será superior a 1.000 salários mínimos:
Art. 968. (...)
§ 1o Não se aplica o disposto no inciso II à União, aos Estados, ao Distrito Federal, aos
Municípios, às suas respectivas autarquias e fundações de direito público, ao Ministério
Público, à Defensoria Pública e aos que tenham obtido o benefício de gratuidade da
justiça.
§ 2o O depósito previsto no inciso II do caput deste artigo não será superior a 1.000 (mil)
salários-mínimos.
Apresentada a inicial e sendo identificada alguma irregularidade, o desembargador
ou ministro vai intimar o autor para que seja realizada a emenda da inicial, nos termos do
art. 321. Não sendo emendada, a inicial será indeferida:
Art. 321. O juiz, ao verificar que a petição inicial não preenche os requisitos dos arts. 319
e 320 ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de
mérito, determinará que o autor, no prazo de 15 (quinze) dias, a emende ou a complete,
indicando com precisão o que deve ser corrigido ou completado.
Parágrafo único. Se o autor não cumprir a diligência, o juiz indeferirá a petição inicial.
Não sendo caso de indeferimento, será determinada a citação do réu para se
defender. O art. 970 prevê que o relator fixará um prazo de 15 a 30 dias para que o réu se
defenda. O curioso é que esse prazo será fixado pelo magistrado:
Art. 970. O relator ordenará a citação do réu, designando-lhe prazo nunca inferior a 15
(quinze) dias nem superior a 30 (trinta) dias para, querendo, apresentar resposta, ao fim
do qual, com ou sem contestação, observar-se-á, no que couber, o procedimento
comum.
A propositura da ação rescisória, em regra, não suspende a execução da decisão
rescindenda. Todavia, é possível que o relator da rescisória defira uma liminar determinando
o sobrestamento do cumprimento de sentença:
Art. 969. A propositura da ação rescisória não impede o cumprimento da decisão
rescindenda, ressalvada a concessão de tutela provisória.
Para a concessão da medida pelo relator, o autor deve demonstrar a presença dos
requisitos da tutela provisória, demonstrando, inclusive, a probabilidade de seu direito. O
que acaba não sendo muito fácil, já que, em seu desfavor, existe justamente uma decisão
transitada em julgado.

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Na contestação, o réu pode arguir preliminares, alegar erro no valor da causa,


sustentar ser indevida a gratuidade de justiça, etc., nos termos do art. 337 do NCPC:
Art. 337. Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, alegar:
I - inexistência ou nulidade da citação;
II - incompetência absoluta e relativa;
III - incorreção do valor da causa;
IV - inépcia da petição inicial;
V - perempção;
VI - litispendência;
VII - coisa julgada;
VIII - conexão;
IX - incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de autorização;
X - convenção de arbitragem;
XI - ausência de legitimidade ou de interesse processual;
XII - falta de caução ou de outra prestação que a lei exige como preliminar;
XIII - indevida concessão do benefício de gratuidade de justiça.
Após a contestação, será verificada a necessidade de dilação probatória. Se for
necessária a produção de prova oral, será expedida carta de ordem para que o magistrado
de primeiro grau realize o ato. Encerrada a instrução, passa-se à oportunidade de
apresentação de razões finais, sucessivamente, no prazo de dez dias. Por fim, tem-se a
sessão de julgamento:
Art. 972. Se os fatos alegados pelas partes dependerem de prova, o relator poderá
delegar a competência ao órgão que proferiu a decisão rescindenda, fixando prazo de 1
(um) a 3 (três) meses para a devolução dos autos.
Art. 973. Concluída a instrução, será aberta vista ao autor e ao réu para razões finais,
sucessivamente, pelo prazo de 10 (dez) dias.
Parágrafo único. Em seguida, os autos serão conclusos ao relator, procedendo-se ao
julgamento pelo órgão competente.
Na sessão de julgamento, os julgadores irão fazer primeiro o juízo rescindente,
mediante de reconhecimento ou não do vício. Reconhecendo o vício, passa-se ao juízo
rescisório, mediante prolação de novo julgamento do processo primitivo.
Caso a rescisória seja julgada procedente por maioria, como não existem mais
embargos infringentes, o art. 942 exige que sejam chamados desembargadores/ministros
tabelares para concluir a votação, em número suficiente para garantir a possibilidade de
inversão do resultado inicial:
Art. 942. Quando o resultado da apelação for não unânime, o julgamento terá
prosseguimento em sessão a ser designada com a presença de outros julgadores, que
serão convocados nos termos previamente definidos no regimento interno, em número
suficiente para garantir a possibilidade de inversão do resultado inicial, assegurado às
partes e a eventuais terceiros o direito de sustentar oralmente suas razões perante os
novos julgadores.

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Os embargos infringentes, que eram um recurso voluntário, foram substituídos pela


providência prevista no dispositivo acima, que, agora, é medida automática para
julgamentos não unânimes.
Proferido o acórdão, inicia-se a fase recursal, com cabimento das sucessivas espécies
de recursos. Esgotados os recursos e transitada em julgado a decisão, cabe ação rescisória
da ação rescisória, caso verificada alguma hipótese prevista no art. 966 do NCPC.

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