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DPC II | Delosmar Mendonça

DIREITO PROCESSUAL CIVIL II

Unidade 2

AULA 3: Agravo interno

1. PAPEL DO RELATOR

Art. 932. Incumbe ao relator:

I - dirigir e ordenar o processo no tribunal, inclusive em relação à produção de prova,


bem como, quando for o caso, homologar autocomposição das partes;

II - apreciar o pedido de tutela provisória nos recursos e nos processos de


competência originária do tribunal;

III - não conhecer de recurso inadmissível, prejudicado ou que não tenha impugnado
especificamente os fundamentos da decisão recorrida;

IV - negar provimento a recurso que for contrário a:

a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do


próprio tribunal;

b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de


Justiça em julgamento de recursos repetitivos;

c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de


assunção de competência;

V - depois de facultada a apresentação de contrarrazões, dar provimento ao recurso


se a decisão recorrida for contrária a:

a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do


próprio tribunal;

b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de


Justiça em julgamento de recursos repetitivos;

c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de


assunção de competência;

VI - decidir o incidente de desconsideração da personalidade jurídica, quando este


for instaurado originariamente perante o tribunal;

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VII - determinar a intimação do Ministério Público, quando for o caso;

VIII - exercer outras atribuições estabelecidas no regimento interno do tribunal.

Parágrafo único. Antes de considerar inadmissível o recurso, o relator concederá o


prazo de 5 (cinco) dias ao recorrente para que seja sanado vício ou complementada
a documentação exigível.

Para entendermos o Agravo Interno, precisamos falar sobre o papel do relator. O relator
é aquele membro do órgão colegiado que exerce um papel perante este. Para isso, recebe
funções, competências, que podemos também chamar de poderes.

O órgão colegiado é um grupo que delibera para chegar a uma decisão. Para fazê-lo, o
órgão deve organizar-se, deve haver a coordenação da deliberação, para que todos possam
participar.

O relator elabora um relatório que é encaminhado para os demais membros do colegiado,


indicando, entre outros: o resumo dos acontecimentos do processo, do que se trata a
matéria, o que se está julgando, quais são os pontos controvertidos... O relator faz uma
exposição de fato e de direito. Em seguida, profere o primeiro voto das deliberações
colegiadas.

O relator é aquele membro do órgão julgador colegiado que elaborará o relatório,


proferirá o primeiro voto e coordenará as deliberações.

Em regra, o relator não profere decisão definitiva isoladamente. Não emite decisão
definitiva, emite voto que será, posteriormente, deliberado pelos pares para que se chegue
a uma decisão conjunta.

O processo pode chegar ao órgão colegiado seja pela via recursal, seja pela competência
originária do Tribunal.

Veja que o processo tramitará no tribunal e, durante o procedimento, o relator poderá ser
chamado a decidir incidentes na tramitação do processo. O relator assume poderes para

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produzir despachos e decisões interlocutória. São decisões unipessoais (ou


monocráticas) do relator, que poderão ter caráter interlocutório ou terminativo.

EXEMPLOS:
É decisão unipessoal do relator de caráter interlocutório o julgamento de
pedido liminar de tutela provisória recursal – por exemplo, a concessão de
efeito suspensivo ao recurso.

É decisão unipessoal do relator de caráter terminativo quando não conhece


o recurso no juízo prévio de admissibilidade. Veja que, se não houver
recurso dessa decisão, encerra a fase recursal, daí o seu caráter terminativo.

É possível que a decisão unipessoal do relator tenha caráter terminativo e substitua, assim,
uma decisão do colegiado.

Os poderes do relator vêm aumentando desde o final da década de 90, mudanças que se
consolidaram com o CPC/2015.

O relator pode também proferir decisão de mérito do recurso. Há decisões


unipessoais de mérito. Nos termos do art. 932, isso poderá ocorrer diante de
jurisprudência firmada e precedentes obrigatórios. Essa decisão tem caráter
terminativo definitivo. Nesses casos, há uma orientação jurisprudencial clara e firme, de
modo que submeter a causa ao Tribunal resultaria na mesma decisão. Por essa razão, o
relator profere a decisão de mérito e dispensa a deliberação pelo órgão colegiado.

O professor alerta que não podemos confundir a decisão unipessoal de caráter


interlocutório com a decisão interlocutória que só é proferida pelo Juízo de primeiro
grau. O relator não profere decisão interlocutória, mas decisão unipessoal, que poderá ter
caráter interlocutório ou terminativo.

As decisões unipessoais terminativas podem dizer respeito (i) ao juízo prévio de


admissibilidade ou (ii) ao mérito do recurso, nas hipóteses previstas no art. 932 do
CPC.

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2. CABIMENTO DO AGRAVO INTERNO

Art. 1.021. Contra decisão proferida pelo relator caberá agravo interno para o
respectivo órgão colegiado, observadas, quanto ao processamento, as regras do
regimento interno do tribunal.

O recurso cabível contra decisões unipessoais do relator é o Agravo Interno. Diante


dos princípios da singularidade e da taxatividade, para que as partes possam atacar
decisões unipessoais do relator, deve manejar o Agravo Interno.

O Agravo Interno não se confunde com o Agravo de Instrumento, muito embora a


denominação seja semelhante. São recursos distintos, cujas hipóteses de cabimento se
diferem. O Agravo Interno é a terceira espécie recursal objeto de nosso estudo.

O Agravo Interno é o recurso cabível para impugnar decisões unipessoais do relator


a fim de submetê-las à deliberação pelo órgão colegiado.

Por que o Agravo Interno recebe esta nomenclatura?

O professor relata que dedicou seus estudos ao desenvolvimento dessa espécie


recursal, quando ainda estava em fase de debate. Isso porque se trata de uma
espécie recursal recentemente consolidada ao nosso ordenamento.

Anteriormente, a lei não previa o Agravo Interno. O regimento de certos tribunais


é que estabelecia uma figura semelhante, o Agravo Regimental, que se fundavam
na norma regimental, não em lei. O professor sustenta que, com a consolidação
do Agravo Interno, o Agravo Regimental perde sua razão de ser.

O professor foi um defensor da denominação Agravo Interno.

O Agravo Interno é um recurso que funciona internamente em outro recurso.


É um recurso que tramita dentro de outro recurso. Sempre nos depararemos com
“Agravo Interno em Apelação”, “Agravo Interno em Agravo de Instrumento”,
“Agravo Interno em RE”, “Agravo Interno em REsp”...

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O Agravo Interno é julgado na mesma instância em que se proferiu a decisão


unipessoal atacada. O relator profere a decisão unipessoal que é recorrida por
Agravo Interno para submetê-la ao reexame pelo órgão colegiado do qual o relator
faz parte.

O Agravo Interno não tem a ver com a garantia duplo grau de Jurisdição. Busca dar
concretude ao princípio da colegialidade dos Tribunais. Os Tribunais foram criados
para julgar colegiadamente. Não faz sentido criar os Tribunais e permitir que todas as
decisões sejam tomadas isoladamente. Daí permitir a deliberação colegiada a partir do
recurso contra as decisões unipessoais.

3. REGULARIDADE FORMAL DO AGRAVO INTERNO

§ 1º Na petição de agravo interno, o recorrente impugnará especificadamente os


fundamentos da decisão agravada.

§ 2º O agravo será dirigido ao relator, que intimará o agravado para manifestar-se


sobre o recurso no prazo de 15 (quinze) dias, ao final do qual, não havendo
retratação, o relator levá-lo-á a julgamento pelo órgão colegiado, com inclusão em
pauta.

O Agravo Interno será submetido ao órgão colegiado do qual o relator que proferiu a
decisão monocrática atacada pelo recurso faz parte.

No julgamento do Agravo Interno, a relatoria será exercida pelo mesmo relator que
proferiu a decisão unipessoal recorrida. O recurso será dirigido, portanto, ao este
relator.

O prazo para interposição do recurso é de 15 dias (art. 1.003, §5º, e 1.070 do CPC).

Diante da interposição do Agravo Interno, a parte agravada deve ser intimada para
apresentar contrarrazões no prazo de 15 dias.

O preparo é dispensado!

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A petição do Agravo Interno deve conter os requisitos de regularidade formal gerais


aos recursos e deve impugnar especificadamente os fundamentos da decisão
agravada (art. 1.021, §1º), comando que reforça o princípio da dialeticidade.

Feito isso, o relator poderá exercer o juízo de retratação. O Agravo Interno tem efeito
devolutivo regressivo: autoriza o relator a rever a decisão recorrida.

Esta é uma das razões que justifica a opção legislativa de manter a mesma relatoria da
decisão agravada para o julgamento do recurso. O relator pode verificar que o agravante
interno tem razão em sua impugnação e retratar-se, o que concretiza os princípios da
economia e da celeridade processuais.

O professor sustenta que a decisão unipessoal do relator não sobe para os Tribunais
superiores pela via do RE ou REsp. Apenas o acórdão é que pode ser impugnado pelos
recursos excepcionais. Dessarte, o pré-questionamento deve estar contido no acórdão, na
decisão colegiada.

É possível que o relator, em Agravo Interno, profira decisão monocrática para não
conhecer este recurso? NÃO!

Imaginemos, por exemplo, que Vitória interpôs, intempestivamente, a Apelação,


razão pela qual o relator, em decisão monocrática, decidiu pelo não conhecimento,
ante a ausência dos requisitos de admissibilidade. Diante disso, Vitória interpõe
Agravo Interno contra a decisão que não conheceu o recurso de Apelação, isto é,
um Agravo Interno em Apelação. Contudo, fê-lo também intempestivamente. O
relator pode não conhecer o Agravo Interno ou deve necessariamente levar o
recurso ao órgão colegiado?

Veja que nosso Direito processual se pauta no princípio da economia processual.


O as normas processuais devem ser razoáveis. Permitir que o relator possa decidir
pelo não conhecimento do Agravo Interno, em decisão unipessoal, imporia admitir
a interposição de Agravo Interno em Agravo Interno. De todo modo, em algum
momento, a questão teria de alcançar a deliberação pelo órgão colegiado.

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Em nome da economia processual, o recurso deve ser levado ao órgão colegiado. Embora
não exista comando legal expresso neste sentido, prevalece o entendimento de que não
há competência da relatoria para fazer juízo prévio de admissibilidade em Agravo
Interno.

Caberá ao relator elaborar o relatório, emitir seu voto e colocar em pauta o Agravo Interno
para que o colegiado decida sobre a admissibilidade e o mérito do recurso.

Retornando à discussão do exemplo retromencionado, incumbirá ao órgão


colegiado decidir pelo não conhecimento do recurso de Agravo Interno ante a
interposição intempestiva do recurso, que será, por isso, inadmissível.

4. EFEITOS DO AGRAVO INTERNO

O Agravo Interno possui efeito devolutivo, inclusive o efeito devolutivo regressivo (que
permite ao relator o juízo de retratação).

A decisão em Agravo Interno deve ser motivada, em observância ao art. 93, IX, da CF.

O Agravo Interno pode ter ou não efeito suspensivo. Isso dependerá do recurso
principal. Por exemplo, se estamos diante de um Agravo Interno em Apelação, recurso
este com efeito suspensivo automático, aquele recurso também terá efeito suspensivo. Por
outro lado, caso nos deparemos com um Agravo Interno em Agravo de Instrumento,
recurso este sem efeito suspensivo, aquele recurso também não terá efeito suspensivo. O
Agravo Interno não cria, por si só, o efeito suspensivo. O Agravo Interno segue a
suspensividade do recurso principal.

5. AGRAVO INTERNO MANIFESTAMENTE INADIMISSÍVEL OU


IMPROCEDENTE

§ 4º Quando o agravo interno for declarado manifestamente inadmissível


ou improcedente em votação unânime, o órgão colegiado, em decisão
fundamentada, condenará o agravante a pagar ao agravado multa fixada
entre um e cinco por cento do valor atualizado da causa.

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§ 5º A interposição de qualquer outro recurso está condicionada ao


depósito prévio do valor da multa prevista no § 4º, à exceção da Fazenda
Pública e do beneficiário de gratuidade da justiça, que farão o pagamento ao
final.

O Agravo Interno deve ser manejado com moderação, com responsabilidade. É preciso
que os fundamentos sejam razoáveis.

Há um direito potestativo de manejar o Agravo Interno e submeter a decisão à deliberação


do colegiado. Não é o caminho natural do recurso. É preciso que exista um vício na
decisão que justifique a interposição desse recurso. Não pode se fundar unicamente na
vontade da parte.

Se o Agravo Interno for declarado manifestamente inadmissível ou improcedente em


votação unânime, será imposta multa ao agravante que deverá ser paga ao agravado. A
multa será fixada entre 1% e 5% do valor da causa. A interposição de qualquer outro
recurso está condicionada ao depósito prévio do valor da multa.

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