Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Gênero e sexualidade:
fragmentos de identidade masculina
nos tempos da Aids
Ge nd e r and se xuality:
frag me nts o f male id e ntity in the Aid s e ra
M u rilo Peix ot o d a M ot a 1
1 N ú cleo d e Est u d os e Abstract Th is p ap er focu ses on sp ecific asp ects of m ale sex u ality an d h ow th is sex u al id en tity is
Projet os em Com u n ica çã o,
bu ilt in th e Aid s era, based on con versation s w ith low -in com e you th , ages 14-21 years, liv in g in
Escola d e Com u n ica çã o,
Un iversid a d e Fed era l Greater Metrop olitan Rio d e Jan eiro. We ex am in e h ow Aid s is p erceived an d in vestigate sex u ality
d o Rio d e Ja n eiro. in th is ep id em ic con tex t. Th e goal is to p rov id e con crete d ata to su p p ort a p reven tion cam p aign
Av. Pa st eu r, Ca m p u s d a Pra ia
a n d con t rib u t e t o p rev en t iv e p olicies in Bra z ilia n societ y. Th e p rop osa l is b a sed on t h e sex u a l
Verm elh a , sa la 120, Bot a fogo,
Rio d e Ja n eiro, RJ. id en tity of th is gen d er/age grou p , com p arin g th eir rep orts on sex u al p ractice. We u sed a p artially
m p m ot a @a gen t el.com .br op en - en d ed in t erv iew p rot ocol. W e focu s on t h e w a y you n g m a les ch oose t h eir sex u a l id en t it y
u n d er t h e p rem ise t h a t t h is is h ow m en ca n b ecom e t h e ch a n n el for Aid s t ra n sm ission . Ou r re-
search w as th u s based on gen d er an d sex u al id en tity as categories. Ou r resu lts in d icate th at for a
you n g m an , “bein g a m an”m ean s h avin g an active sex u al life, th u s creatin g a stereotyp e p lacin g
th em at risk for HIV tran sm ission .
Key words Aid s; Ad olescen ts; Gen d er; Gen d er Id en tity
Resumo Este trabalh o bu sca en ten d er algu n s asp ectos d a sex u alid ad e m ascu lin a, bem com o as
form as com o se organ iz a a con stru ção d a id en tid ad e sex u al n o con tex to d a ep id em ia d e Aid s, a
p artir d a fala d e joven s d e baix a ren d a en tre 14 e 21 an os, m orad ores d a área m etrop olitan a d o
Rio d e Jan eiro. N ossa p rop osta con siste em articu lar algu n s asp ectos d o gên ero m ascu lin o, su bsi-
d iad os p ela id en tid ad e sex u al revelad a p elos su jeitos, estabelecen d o u m con fron to com os rela-
tos sobre a p rática sex u al, p roced im en to qu e se torn ou p ossível a p artir d e en trevista qu alitativa
com u so d e u m rot eiro sem i- est ru t u ra d o. Ju lga m os d e fu n d a m en t a l im p ort â n cia a a n á lise d a s
m a n eira s com o se d á a escolh a d o ob jet o sex u a l em rela çã o à con st ru çã o d a id en t id a d e, t en d o
com o referên cia a qu ele qu e foi con sid era d o o p iv ô n o qu e d iz resp eit o à t ra n sm issã o d a Aid s: o
h om em . N est e sen t id o, n ossa in v est igação se p au t ou n as cat egorias gên ero e id en t id ad e sex u al.
Com o resu ltad o, observam os qu e, n a con cep ção d estes joven s, ser h om em é d esem p en h ar a p rá-
tica sex u al, cu m p rin d o, assim , os p ap éis d estin ad os ao gên ero m ascu lin o, rep rod u z in d o u m este-
reótip o qu e os coloca em situ ação d e risco.
Palavras-chave Aid s; Ad olescen tes; Sex o; Id en tid ad e Sex u al
Cad . Saúd e Púb l., Rio d e Jane iro , 14(1):145-155, jan-mar, 1998
146 MO TA, M. P.
Cad . Saúd e Púb l., Rio d e Jane iro , 14(1):145-155, jan-mar, 1998
G ÊNERO E SEXUALIDADE 147
Cad . Saúd e Púb l., Rio d e Jane iro , 14(1):145-155, jan-mar, 1998
148 MO TA, M. P.
Cad . Saúd e Púb l., Rio d e Jane iro , 14(1):145-155, jan-mar, 1998
G ÊNERO E SEXUALIDADE 149
Cad . Saúd e Púb l., Rio d e Jane iro , 14(1):145-155, jan-mar, 1998
150 MO TA, M. P.
Cad . Saúd e Púb l., Rio d e Jane iro , 14(1):145-155, jan-mar, 1998
G ÊNERO E SEXUALIDADE 151
Cad . Saúd e Púb l., Rio d e Jane iro , 14(1):145-155, jan-mar, 1998
152 MO TA, M. P.
d ad e com o algo q u e é n egad o m oralm en te, cu - co s so b re a tra n sm issã o é rela tiva . Ap esa r d is-
jo sim b ó lico e st á re p ro d u zid o co m o u m e m - so, o su jeito recon h ece os eq u ívocos d e relacio-
b lem a q u e reflete a sp ecto s d e p a ssivid a d e, fe- n ar a ep id em ia aos h om ossexu ais. Para algu n s,
m in ilid a d e, u m h o m e m q u e n ã o d e u ce r t o. O a s p re o cu p a çõ e s se xu a is gira m e m t o r n o d a
q u e p rop orcion a con flitos e au to-estim a m u ito gravid ez e d a fid elid ad e, p ois q u an d o se con si-
b a ixa , e n t re a q u e le s q u e fa ze m se xo co m h o - d e ra a p a rce ira o u o p a rce iro fie l, n ã o se u sa a
m en s e se au to-d en om in am h om ossexu ais. cam isin h a.
Para n ossos in form an tes q u e se relacion am Ap esar d e o u so d a cam isin h a estar p resen -
sexu a lm en te co m h o m en s, a tra jetó ria p a ra se te n as su as vid as sexu ais, isso p arece estar m ais
ch ega r à p osiçã o d e h om ossexu a l é a q u ela p or relacion ad o ao p od er d e con trole q u e ela p od e
m eio d a q u al se vai ap ren d en d o a ad ap tar-se e o fe re ce r so b re a re p ro d u çã o e a fe rtilid a d e fe-
in co rp o ra r o s sign ifica d o s d a d iferen ça sexu a l m in in a . Alé m d isso, o b se r va m o s ta m b é m q u e
n a vid a co tid ia n a . Ta l co n stru çã o se a p resen ta a d ificu ld ad e d e acesso à cam isin h a n o con tex-
ch eia d e p ercalços e d ú vid as em razão d a h ete- to d a se d u çã o se xu a l le va -o s a ter re la çõ e s se-
rossexu alid ad e im p osta socialm en te p elo este- xu ais sem se p roteger d evid am en te.
reó tip o d o gên ero m a scu lin o. Nesse sen tid o, é A Aid s é u m a q u estão em su as vid as e ap re-
co m p le xo o p ro ce sso d e co n st r u çã o d e u m a sen ta-se com o ten d o sid o im p actan te p ara esta
id en tid ad e livre d a socialização à q u al os su jei- ge ra çã o. Ao re la t a re m o s t ip o s d e m u d a n ça s
tos são su b m etid os. o co rr id a s, o b se r va m o s q u e a d im in u içã o d o
No sso s e n t re vist a d o s e xp licit a m e m su a s n ú m e ro d e p a rce r ia s se xu a is se fa z e vid e n t e,
fa la s o q u a n to a co n str u çã o d a h o m o ssexu a li- asp ecto ressaltad o em cam p an h as n acion ais te-
d ad e tem a con otação n egativa d e u m estilo d e le visiva s re a liza d a s p e lo gove rn o. O fa to é q u e
vid a q u e con traria as exp ectativas d o q u e é ser este asp ecto d a p reven ção, assim com o o m od e-
h om em , p erceb id o p or u m su jeito q u e se rela - lo d e relação Aid s e gru p o d e risco, é u m equ ivo-
cion a sexu alm en te com ou tros h om en s e, p or- co q u e p arece calcificad o, p ois a d im in u ição d e
t a n t o, vê -se d ivid id o, fra gm e n t a d o e n t re su a p a rce iro s se xu a is o u a su a se le çã o n ã o re p re -
id en tid ad e sexu al e su a id en tid ad e d e gên ero. sen ta u m a clara d efin ição d o p rob lem a.
Ob se r va m o s q u e a b isse xu a lid a d e é vivid a Qu a n d o e sse s jove n s d ize m sa b e r a lgu m a
n u m a situ a çã o d e b a ixa estim a e q u e ta m b ém co isa so b re a Aid s, o q u e se o b ser va é q u e esse
está co n stru íd a segu n d o o co n ceito d e d esvio, con h ecim en to é relativo. De m an eira geral, n ão
a n o r m a lid a d e, p o is t e m co m o p a râ m e t ro a são cap azes d e assu m ir n a p rática sexu al as in -
m esm a p ercep çã o d o ser h om em b a sea d a cu l- form ações q u e d izem ter. A sín d rom e ap resen -
tu ralm en te em p rin cíp ios d itos h eterossexu ais. ta -se com o u m p rob lem a a in d a n ã o corriq u ei-
En fim , q u a n d o u t iliza m a p a la vra h o m e m ro, ap esar d e d esp ertar m ed o ou p aran óia, sen -
p a re ce m e st a r se re fe rin d o a o t ip o d e e sco lh a tim en tos q u e p od em rep resen tar u m m om en to
sexu a l em q u e o exercício viril con tin u a d ita n - d e a lie n a çã o e m re la çã o à q u e st ã o ; q u a n d o
d o a s re gra s n a s re la çõ e s m a scu lin a s. A h e t e - m u ito, referem -se à d oen ça ao falarem sob re os
ro sse xu a lid a d e é co n sid e ra d a h e ge m ô n ica e relacion am en tos sexu ais casu ais, n egligen cian -
d ad a p ela n atu reza, con form e p erceb em os n as d o a p reven ção n os relacion am en tos fixos.
fa la s. Nã o se e sco lh e se r h e t e ro sse xu a l: sim - Con sid eram os q u e a eficácia d a in form ação
p lesm en te se é, co m o u m a referên cia a o co m - so b re a Aid s e o s risco s d e co n tá gio p a rece d e-
p o rta m e n to p a ra o h o m e m . A h e te ro sse xu a li- p en d er d e o u tro s fa to res q u e n ã o o teo r ra cio -
d a d e, en tã o, p a ssa a ser a exp ressã o in d isso lú - n alizad or d o con h ecim en to sob re as form as d e
vel d e seu m od o característico d e ser ativo. tra n sm issã o d o H IV. Assim , p erceb em o s q u e a
Pe rce b e m o s, se m m u it a d ificu ld a d e, q u e, m otivação p ara a p reven ção d a sín d rom e n ão é
a p esa r d o s a n o s d e co n vivên cia co m a p a n d e - re m o t a , n e m se t ra t a d e u m a q u e st ã o p a ra o s
m ia , a p roxim id a d e co m a Aid s n ã o re su lt o u o u tro s, m a s a lgo p resen te, q u e p o d e ser ca p a z
em efetiva au top roteção, m as n u m a vu ln erab i- d e fa ze r m u d a r. Prova d isso é a vo n t a d e q u e
lid a d e a in d a co n sid e rá ve l e m re la çã o a e la . O m an ifestam d e fazer o teste an ti-HIV e o m ed o
risco p ara as d oen ças sexu alm en te tran sm issí- d a p ossib ilid ad e d e serem in fectad os, asp ectos
veis n ão sofreu alteração sign ificativa en tre es- e sse s o b se r va d o s n o s vá rio s re la to s d e n o sso s
se s jove n s m a scu lin o s q u e in icia ra m su a vid a en trevistad os.
sexu al n o con texto d a ep id em ia, ap esar d e afir- Pe rce b e m o s t a m b é m q u e a s d o e n ça s se -
m arem terem m u d ad o o com p ortam en to. xu a lm e n t e t ra n sm issíve is, co m o co n d ilo m a e
Ob se r va m o s n a s fa la s q u e a q u e st ã o d a go n o rré ia , sã o fre q ü e n t e s e a ce it a s n a t u ra l-
Aid s e vid e n cia p re o cu p a çã o e m e d o, m a s n ã o m en te, tra ta d a s n a s fa rm á cia s co m o a co m p a-
le va a u m a e fe t iva p ro t e çã o. A in fo rm a çã o n o n h a m e n to ‘clín ico’ d o fa rm a cê u tico o u d e u m
q u e d iz resp eito à p reven ção e a asp ectos b ási- am igo, até q u e se resolva o p rob lem a.
Cad . Saúd e Púb l., Rio d e Jane iro , 14(1):145-155, jan-mar, 1998
G ÊNERO E SEXUALIDADE 153
Cad . Saúd e Púb l., Rio d e Jane iro , 14(1):145-155, jan-mar, 1998
154 MO TA, M. P.
gen era liza çã o so cia l a p a rtir d e u m a id en tid a - a tod as as q u estões d e cid ad an ia. Isto se ju stifi-
d e p articu lar e vice-versa. Id en tifican d o-se com ca p e lo fa t o d e e st a e p id e m ia t ra d u zir-se e m
os riscos, se sen sib ilizam com a n ecessid ad e d e u m a co n t e cim e n t o so cia l t o t a l, p o is e n vo lve
p reven ção. Mesm o assim , o h om em n u n ca d e- q u estões am p las d e n ossa cu ltu ra.
ve d ize r n ã o o u co n t ro la r su a se xu a lid a d e, o Ao lid a r co m q u e st õ e s q u e e n vo lve m a se -
q u e faz com q u e n em sem p re u se cam isin h a. xu a lid a d e d e jove n s, o b se r va m o s q u e p a re ce
Co m b a se n o s rela to s d e n o sso s in fo rm a n - h a ve r u m ce r t o silê n cio q u e se p a ra a s re gra s
t e s, p e rce b e m o s p o r q u e a Aid s se e xp a n d e, ro m p id a s p e la p ró p r ia se xu a lid a d e p ra t ica d a
a t u a lm e n t e, p r in cip a lm e n t e e n t re o s su je it o s n o cotid ian o. Assim , a p rática sexu al é algo p a-
a u t o -id e n t ifica d o s co m o h e t e ro sse xu a is. Ela ra se r fe it o d e n t ro d e u m co n t e xt o ve la d o e
rep resen ta , p a ra estes n ossos in form a n tes q u e cla n d estin o, está sem p re n o lu ga r d o p ro ib id o
in icia ra m su a vid a se xu a l e m co n te xto d e e p i- e, p ortan to, d as qu atro p ared es, u m a coisa con -
d em ia , u m a p reo cu p a çã o evid en te, e a p rin ci- fid en cia l, p o is está ch eia d e m ister io sa s q u es-
p al atitu d e ressaltad a n o q u e d iz resp eito à p re- tões ain d a d escon h ecid as, m as m u itas vezes já
ve n çã o é o u so d a ca m isin h a . Me sm o a ssim , vive n cia d a s (Pa iva , 1994). Se xo a n te s d o ca sa-
esta ap arece n egligen ciad a n o con texto d as re- m e n t o, in ce st o, h o m o sse xu a lism o, e st u p ro,
la çõ es a fetiva s e regu la res, d esta ca n d o -se, en - p rostitu ição, ab orto, gravid ez, orgasm o, virgin -
tre o s h e te ro sse xu a is, m a is co m o p re ve n çã o à d a d e, d o e n ça s se xu a lm e n te tra n sm issíve is fa -
gra vid e z. Alé m d isso, a s re p re se n t a çõ e s q u e zem p a rte d o scrip t d a exp eriên cia sexu a l e d o
têm sob re a m u lh er n este con texto on d e se evi- silên cio d e m u ito s joven s, p rin cip a lm en te d o s
d en cia m a ior n egligên cia d o sexo segu ro e on - q u e m oram em com u n id ad es d e b aixa ren d a.
d e a s rela çõ es sã o regu la res ta m b ém a p resen - É o bvio q u e o tra b a lh o p re ve n tivo co m jo -
tam -se com o u m p rob lem a, exp licitan d o q u e a ven s d e b a ixa ren d a n o s im p õ e d esa fio s. En tre
cu ltu ra d e gên ero d eve ser rela tiviza d a n o d is- eles o fa to d e o s joven s esta rem em m ovim en -
cu rso p reven tivo. t o, ist o é , su a s vid a s e st ã o m a rca d a s p o r in ú -
Em resu m o, a ten tativa d everá se voltar, p a- m eras p riorid ad es e a q u estão d a p reven ção d a
ra in tervir n ã o n a m u d a n ça d o co m p o rta m en - Aid s está lo n ge d e ser a ferid a co m o u m a refle-
to sexu al em si, m as n as form as com o os su jei- xã o e m si, a sp e ct o m u it o co m p re e n síve l. Os
tos con ceb em as su as relações sexu ais, n a m a - p ro b lem a s rela cio n a d o s à so b revivên cia co lo -
n eira co m o a s viven cia m e p erceb em a s situ a - ca -o s fren te a fren te co m a n ecessid a d e d e ga -
çõ e s d e vu ln e ra b ilid a d e a q u e a s d o e n ça s se - n h a r d in h eiro m u ito ced o. Os co n sta n tes p ro -
xu a lm e n t e t ra n sm issíve is – e n t re e la s o H IV/ b le m a s fa m ilia re s a sso cia d o s a o u so in d iscr i-
Aid s – e xp õ e m -n o s. A q u e st ã o a go ra é sa b e r : m in ad o d a b eb id a e d e ou tras d rogas ilícitas, a
on d e a con stru ção d a sexu alid ad e se in sere, ou b a ixa e sco la rid a d e, o d e se m p re go e o su b e m -
se ja , e m q u e re p re se n t a çã o, sím b o lo, a n á lise, p rego oferecem a algu n s joven s p ou ca exp ecta -
o rd e m , n o rm a , visib ilid a d e d o s d iscu rso s e tiva n a su a p róp ria vid a, p ou co estím u lo e b ai-
p ráticas sexu ais relatad as; o q u e é o su jeito se- xa au to-estim a. Tod as estas q u estões con d icio-
xu al e em q u e m ed id a esta h ip otética red efin i- n a d a s a u m a m b ie n t e d e vio lê n cia n o s co lo ca
ção resu ltou em algu m avan ço m oral, p ara q u e, d ian te d e u m a realid ad e q u e tem exigid o m u ita
assim , q u em sab e, os su jeitos p erceb am a Aid s cr ia t ivid a d e e p e rsp icá cia p a ra o d e se n vo lvi-
co m u m a d o e n ça q u e p o d e se r e vita d a d e n tro m en to d e a tivid a d es sistem á tica s q u e ven h a m
d e u m a am p la con scien tização p olítica sob re o fa ze r co m q u e o s jove n s p e r m a n e ça m n u m a
m u n d o, a so cied a d e, a cu ltu ra , o co rp o, o sexo p ro p o sta d e so lid a ried a d e esp ecífica fo ca liza -
e o q u e fazem os com ele. d a n a p reven ção d a Aid s.
É e vid e n t e q u e, e n t re o s a sp e ct o s d o s p a - En fim , o jovem sa b e q u e seu silên cio sob re
d rões cu ltu rais q u e foram ob servad os, o fato d e o sexo en cob re tod a u m a fu n d am en tação críti-
o s su je it o s t ra n sit a re m p e la s p rá t ica s se xu a is ca so b re a m o ra lid a d e sexu a l q u e ele viven cia .
n o s le va a cre r q u e a p re ve n çã o d e ve le va r e m Ne ste se n tid o, o s tra b a lh o s a se re m d e se n vo l-
con ta d iversos gru p os e com u n id ad es, com b a- vid o s n o co n t e xt o d a p re ve n çã o d a sín d ro m e
se em estratos sócio-econ ôm icos, crian d o m e- p a ra jove n s d e b a ixa re n d a d e ve o b se r va r a s
t o d o lo gia s q u e a b o rd e m n ã o a p e n a s a s q u e s- n o çõ e s, o s sim b o lism o s e a s in flu ê n cia s n a
tõ es esp ecífica s d o s co m p o rta m en to s d e risco co n st r u çã o d a re p re se n t a çã o d o se xo e q u a is
relativos ao HIV/ Aid s, m as tam b ém p rob lem as sã o o s se u s m a io re s le git im a d o re s n o lo ca l (a
m ais gerais existen tes em n ossa socied ad e, tais religiã o, a fa m ília , a vizin h a n ça , a etn ia , o p a r-
com o d esigu ald ad e e in ju stiça social, estigm a - tid o p o lítico, a co m u n id a d e?). Isto p o rq u e en -
t iza çã o e d iscr im in a çã o se xu a l, m o b iliza çã o t e n d e m o s q u e a cu lt u ra d e t e r m in a o q u e é a
co m u n itá ria , a fim d e se red u zir a vu ln era b ili- ‘m o ra l se xu a l’ p a ra te n ta r m o stra r o q u e p o d e
d ad e social, n ão só ao HIV/ Aid s, com o tam b ém ser a ‘realid ad e d o sexo’.
Cad . Saúd e Púb l., Rio d e Jane iro , 14(1):145-155, jan-mar, 1998
G ÊNERO E SEXUALIDADE 155
En ten d em o s q u e é fu n d a m en ta l, a o tr a b a - d e se jo d e c a d a u m . Se c o n se gu ir m o s c a n a li-
lh a r co m p re ve n çã o, b u sca r (d e s)co b r ir o q u e za r e st e d e se jo in d ivid u a l, cr ia n d o u m se n t i-
é re a l n o co t id ia n o d a se xu a lid a d e e o q u e é d o d e so lid a ried a d e co letiva e co n sciên cia p o -
id e a l, co lo ca d o p e la s id e o lo gia s d o m in a n t e s lítica e m re la çã o a o fa to d e o s risco s d e in fe c-
e p elos d iscu rsos con serva d ores. Pod e-se con - çã o d o HIV/ Aid s serem u m p rob lem a com u n i-
sid e ra r q u e t ra b a lh a r co m o re a l é le va r e m tário, talvez p ossam os ob ter m aior êxito, ou se-
co n ta q u e a im a gin a çã o se xu a l n ã o é u tó p ica , ja , co lo ca r a d iscu ssã o d a p re ve n çã o n o co n -
p o r t a n t o n a d a m a is re s t a n a p r á t ic a s e xu a l texto d e u m a m p lo d eb a te p o r d ireito s e cid a -
p a ra se r in ve n t a d o, a n ã o se r o e xe rc íc io d o d an ia.
Referências
AYRES, J. R. C. M., 1996. HIV/Aid s e Abu so d e Drogas MINAYO, M. C. S., 1993. O Desafio d o Con h ecim en to:
en tre Ad olescen tes:Vu ln erabilid ad e e Avaliação d e Pesqu isa Qu alit at iva em Saú d e. 2 a e d ., Sã o Pa u -
Ações Preven tivas. São Pau lo: Casa d e Ed ição, De- lo/ Rio d e Jan eiro: Hu citec/ Ab rasco.
p a r t a m e n t o d e Me d icin a Pre ve n t iva d a Fa cu l- PAIVA, V., 1994. Se xu a lid a d e e gê n e ro n u m t ra b a lh o
d ad e d e Med icin a d a Un iversid ad e d e São Pau lo. co m a d o le sce n t e s p a ra p re ve n çã o d o H IV/ Aid s.
COSTA, J. F., 1992. A In ocên cia e o Vício: Estu d os sobre In : A Aid s n o Brasil (R. Parker, C. Bastos, J. Galvão
o Hom oerot ism o. Rio d e Ja n e iro : Re lu m e -Du - & J. S. Ped rosa, orgs.), p p. 231-250, Rio d e Jan eiro:
m ará. Relu m e-Du m ará.
DANIEL, H . & PARKER, R., 1991. Aid s, a Terceira Ep i- PARKER, R., 1991. Corp os, Praz eres e Paix ões: A Cu l-
d em ia: En saios e Ten tativas. São Pau lo: Iglu . tu ra Sexu al n o Brasil Con tem p orân eo. Sã o Pa u lo :
GIAMI, A., 1994. De Kin sey à Aid s: a evolu ção d a con s- Best Seller.
t r u çã o d o co m p o r t a m e n t o se xu a l e m p e sq u isa s PARKER, R., 1994. A Con st ru çã o d a Solid a ried a d e:
q u a n tita tiva s. In : Aid s e Sex u alid ad e: O Pon to d e Aid s, Sex u a lid a d e e Polít ica s n o Bra sil. Rio d e
Vista d as Ciên cias Hu m an as (M. A. Loyo la , o rg.), Jan eiro: Relu m é Du m ará.
p p. 209-240, Rio d e Jan eiro: Relu m e-Du m ará. PARKER, R.; H ERDT, G. & CARVALH O, M., 1995. Cu l-
GIFFIN, K., 1991. Nosso corp o n os p erten ce: a d ialéti- t u ra se xu a l, t ra n sm issã o d o H IV e p e sq u isa s so -
ca d o b io ló gico e d o so cia l. Ca d ern os d e Sa ú d e b re Aid s. In : Aid s, Pesqu isa Social e Ed u cação (D.
Pú blica, 7:190-200. Cze re sn ia , E. M. Sa n t o s, R. H . S. Ba rb o sa & S.
GIFFIN, K., 1994. Esfera d a rep rod u ção em u m a visão Mo n teiro, o rgs.), p p. 46-64, Sã o Pa u lo / Rio d e Ja -
m a scu lin a : co n sid era çõ es so b re a a rticu la çã o d a n eiro: Hu citec/ Ab rasco.
p rod u ção e d a rep rod u ção, d e classe e d e gên ero. SCOTT, J., 1989. Gên ero: Um a Ca t egoria Ú t il p a ra a
Ph ysis, 4:23-40. An álise Histórica. São Pau lo: Colu m b ia Un iversity
H EILBORN, M. L., 1994. De q u e gê n e ro e st a m o s fa - Press, n o 4, Trad u ção SOS Corp o.
lan d o? Sexu alid ad e, Gên ero e Socied ad e, 1:1-8.
Cad . Saúd e Púb l., Rio d e Jane iro , 14(1):145-155, jan-mar, 1998