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PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 10A REGIAO
18ª VARA DO TRABALHO DE BRASÍLIA - DF
ATOrd 0000965-51.2022.5.10.0018
RECLAMANTE: WAGNER DE JESUS SANTOS NEVES
RECLAMADO: ASSOCIACAO SAUDE EM MOVIMENTO - ASM E OUTROS (2)

1. Relatório

Wagner de Jesus Santos Neves ajuizou reclamação trabalhista


em face de Associação Saúde em Movimento (ASM) e Distrito Federal. Informa ter
laborado como empregado da primeira reclamada em benefício da segunda
reclamada. Postula o recebimento de parcelas rescisórias. Requer seja a segunda
reclamada responsável subsidiariamente pelo adimplemento das parcelas postuladas.
Na peça de ingresso foi apresentado o rol com a relação das pretensões deduzidas,
discriminadamente. 

As reclamadas apresentaram peça de contestação, impugnando


as pretensões deduzidas.

Vãos os esforços conciliatórios.

Tudo visto e examinado. Em síntese, é o Relatório.

2. Fundamentos

Inépcia

As reclamadas alegaram haver inépcia na petição inicial.

A petição inicial contém os fatos e fundamentos do pedido. Não


se encontram presentes, no caso em exame, nenhuma das hipóteses caracterizadoras
de inépcia relacionadas na lei. 

Na petição inicial, o autor expôs os fatos, sem prejudicar a


apresentação da defesa ou o julgamento do feito. E apresentou a respectiva causa de
pedir, inclusive quanto à pretensão deduzida com esteio no art. 9º da lei 7238/84 e a
pretensão de responsabilidade subsidiária da segunda reclamada.

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Rejeita-se.

Parcelas rescisórias. Diferenças. Indenização prevista no  art. 9º


da lei 7238/84

I.Na peça de ingresso, o autor alegou ter sido dispensado sem


justa causa, e postulou o recebimento das parcelas rescisórias relacionadas. 

A 1ª reclamada impugnou o pedido.

Não há de se falar em contato de trabalho por prazo


determinado válido. Realmente, o pacto laboral durou além daquilo inicialmente
ajustado, sendo que não houve a prorrogação do contrato (cf. ID  7e761d8). Assim,
contato de trabalho determinou-se.

Defere-se ao autor, então, o recebimento das seguintes parcelas


rescisórias: saldo de salário; aviso prévio indenizado; 13º salário quanto ao período ao
ano de 2020 e proporcional relativo ao ano de 2021, computada a projeção do aviso
prévio indenizado; férias proporcionais, acrescida de 1/3, computada a projeção do
aviso prévio indenizado. 

Não há, nos autos, prova do recolhimento de todos os depósitos


do FGTS quanto ao período laborado, e nem da multa de 40% sobre os depósitos do
FGTS, quanto ao período laborado, prova essa a qual competia à empregadora
produzir, nos termos da Súmula nº 461, do C. Tribunal Superior do Trabalho (TST):

    “É do empregador o ônus da prova em relação à regularidade


dos depósitos do FGTS, pois o pagamento é fato extintivo do direito do autor (art. 373,
II, do CPC de 2015)”.

Defere-se ao autor a integralidade dos depósitos, quanto ao


período laborado, assim como a multa de 40% sobre os depósitos do FGTS.

Autoriza-se a compensação entre os valores ora deferidos e os


valores já comprovadamente pagos, observada a identidade de rubrica, para que não
seja concedido além do que foi postulado (cf. TRCT).

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Ante a falta de pagamento de todos os valores rescisórios


devidos, dentro do prazo legal, é devida a multa prevista no art. 477, da CLT. No caso,
não se trata de diferenças reflexas, daí porque não é aplicável o inciso II, do Verbete nº
61, do Eg. Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região:

    "A cominação não incide, todavia, no reconhecimento, por


sentença, de diferenças reflexas de verbas rescisórias".

Diferenças reflexas seriam, por exemplo, diferenças a título de


parcelas rescisórias em razão da repercussão das horas extras.

Como não foram pagos todos os valores rescisórios devidos,


dentro do prazo legal, entende este Juízo ser devida a multa prevista no art. 477, da
CLT. Realmente, o adimplemento se dá, somente, quando pagos todos os valores
rescisórios devidos, dentro do prazo legal. O reconhecimento judicial de valores
rescisórios não pagos possui natureza meramente declaratória. Ou seja, em Juízo
reconheceu-se que, à época em que terminado o contrato de trabalho, o empregador
tinha a obrigação de efetuar pagamento de valores rescisórios, o que não foi
observado, pendentes diferenças. Conforme esclarecido pelo Ministro Maurício
Godinho Delgado, somente se 'o devedor tiver razão, judicialmente reconhecida, é que
não pagará nem o principal, nem a multa':

    "O art. 477, § 8º, da CLT, estipula multa em razão da


desobediência do empregador aos prazos de pagamento das verbas rescisórias
preconizados pelo § 6º do mesmo comando de lei, salvo quando, comprovadamente, o
trabalhador der causa à mora (§ 8º, in fine , do art. 477). A jurisprudência, em certo
momento, chegou a admitir uma segunda situação excludente, de notório caráter
excepcional: a circunstância de o Julgador ter tido fundada, consistente e séria dúvida
quanto à própria existência da obrigação cujo inadimplemento gerou a multa. No
entanto, na sessão do Tribunal Pleno desta Corte, no dia 16/11/2009, determinou-se o
cancelamento da OJ 351/SBDI-1, que estabelecia ser incabível a multa prevista no art.
477, parágrafo 8º, da CLT, quando houver fundada controvérsia quanto à existência da
obrigação cujo inadimplemento gerou a multa. Nessa linha, o critério autorizador da
não incidência da multa pelo atraso no pagamento das verbas rescisórias em juízo,
ante a alegação de inexistência de relação de emprego, encontra-se superado, mesmo
porque, ainda nessa mesma esteira, reconhecida a existência de relação de emprego,
como no caso dos autos, tendo por pano de fundo controvérsia judicialmente acertada,
a declaração retroage no tempo e consolida situação de fato que determina a
incidência da multa, pois perfeitamente encampada pelo art. 477 da CLT. Registre-se
que, em todos os campos jurídicos, havendo inadimplemento da obrigação, incide a
multa estipulada, a qual não é elidida pela simples circunstância de o devedor
apresentar defesa em ação judicial (Direito Civil; Direito Empresarial; Direito do

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Consumidor; Direito Tributário; Direito Previdenciário; etc). Apenas se o devedor tiver


razão, judicialmente reconhecida, é que não pagará nem o principal, nem a multa. O
mesmo critério prevalece, logicamente, no Direito do Trabalho (art. 477, §§ 6º e 8º, da
CLT)". Agravo de instrumento desprovido. (AIRR-1166/2001-026-04-40, Relator Ministro
Maurício Godinho Delgado Acórdão, Ac. 6.ª T., DEJT de 18/12/2009).

Conforme se vê, 'em todos os campos jurídicos, havendo


inadimplemento da obrigação, incide a multa estipulada, a qual não é elidida pela
simples circunstância de o devedor apresentar defesa em ação judicial (Direito Civil;
Direito Empresarial; Direito do Consumidor; Direito Tributário; Direito Previdenciário;
etc). Apenas se o devedor tiver razão, judicialmente reconhecida, é que não pagará
nem o principal, nem a multa. O mesmo critério prevalece, logicamente, no Direito do
Trabalho (art. 477, §§ 6º e 8º, da CLT)' (Ministro Maurício Godinho Delgado).

A esse respeito, a seguinte decisão proferida pela 3ª Turma do


Eg. Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região, cujos fundamentos são utilizados
como razões de decidir, sendo aplicável ao caso presente por analogia: 

    “A reclamada, no recurso, afirma não ser devida a multa em


destaque, ao argumento de que a controvérsia existente em torno da diferença de
férias acrescidas de 1/3, conforme alegado pelo reclamante, somente foi dirimida
judicialmente, circunstância que afasta a incidência da penalidade, já que as verbas
rescisórias foram pagas no prazo legal. Entretanto, não se insurge em relação a ser ou
não devida a parcela. Conforme se verifica dos autos, não há controvérsia acerca do
pagamento tempestivo das verbas rescisórias. A divergência repousa apenas no fato de
terem sido ou não pagas integralmente. Considerando o que consta da sentença
recorrida, de fato, restou pendente o pagamento da parcela referente às férias
proporcionais do mês de janeiro de 2017, acrescidas de 1/3. Assim, na forma da
jurisprudência desta egr. Turma acerca da matéria, verificado o inadimplemento de
verba rescisória (e não de mera repercussão), devida é a multa estipulada no § 6º, do
art. 477, da CLT, conforme o disposto no Verbete nº 61” (Ac. 3ª Turma do Eg. Tribunal
Regional do Trabalho da 10ª Região, Processo 0000332-25.2018.5.10.0812 RO, Relator
Desembargador Pedro Luís Vicentin Foltran).

Defere-se ao autor a multa prevista no art. 477, da CLT.

Na peça de ingresso, o reclamante postula a penalidade inscrita


no art. 467, da CLT.

Estabelece o art. 467, da CLT, que:

    "Em caso de rescisão de contrato de trabalho, havendo


controvérsia sobre o montante das verbas rescisórias, o empregador é obrigado a

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pagar ao trabalhador, à data do comparecimento à Justiça do Trabalho, a parte


incontroversa dessas verbas, sob pena de pagá-las acrescidas de cinquenta por cento".

Ante a razoável controvérsia instalada em Juízo, é indevida a


penalidade inscrita no art. 467, da CLT, a qual é indeferida. 

II. Indefere-se o pedido de indenização prevista no art. 9º da lei


7238/84, não havendo, nos autos, prova de que o autor tenha sido dispensado dentro
dos 30 dias que antecedem a data-base do reajuste da categoria.

         

Responsabilidade subsidiária da segunda reclamada

       

Informa o reclamante, na inicial, que prestava serviços em


benefícios da segunda reclamada, como empregado da primeira reclamada.

A segunda reclamada impugnou o pedido:

    “[...] a 1ª reclamada foi contratada pelo ente público, conforme


contrato administrativo anexo, para enfrentamento ao COVID-19, sob a forma de
empreitada. Em casos tais, a Administração Pública não é beneficiária do serviço
prestado, como o é nas hipóteses de terceirização de serviços ligados à atividade meio
da administração, como, por exemplo, o serviço de limpeza e o fornecimento de
alimentos em restaurantes comunitários. Assim, ela não usufrui benefícios diretos da
prestação dos serviços e, menos ainda, aufere qualquer tipo de lucro com o convênio
em questão. Em verdade, trata-se do exercício de um dever constitucional previsto na
Constituição Federal e voltado diretamente à sociedade local. A Súmula nº 331 do TST
trata apenas da terceirização de serviços ligados à atividade-meio, de modo que não se
pode imputar ao ente público, nos mesmos termos, responsabilidade subsidiária por
terceirizar a atividade econômica de Serviço de Gestão Integrada de leitos para
enfrentamento ao COVID-19. Isso porque não há lastro jurídico para tanto, de modo
que qualquer condenação neste sentido violaria o princípio da legalidade (art. 5º, II, e
37, caput, da CF)”.

Em primeiro lugar, cumpre observar como tem se dado a


evolução do Direito quanto à responsabilidade da Administração Pública. Hely Lopes
Meirelles apresenta o seguinte panorama: 

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    “A doutrina da responsabilidade civil da Administração Pública


evolveu do conceito de irresponsabilidade para o da responsabilidade com culpa, e
desta para o da responsabilidade civilística e desta para a fase da responsabilidade
pública em que nos encontramos. Sob o domínio dos Governos absolutos negou-se a
responsabilidade do Estado, secularizada na regra inglesa da infalibilidade – ‘The King
can do no wrong’ – ‘O rei não pratica ato errado’ – extensiva aos seus representantes;
sob a influência do liberalismo, assemelhou-se o Estado ao indivíduo, para que
pudesse ser responsabilizado pelos atos culposos de seus agentes; finalmente, em
nossos dias, atribui-se à Administração Pública uma responsabilidade especial de
Direito Público. A doutrina da irresponsabilidade está inteiramente superada, visto que
as duas últimas Nações que a sustentavam, a Inglaterra e os Estados Unidos da
América do Norte, abandonaram-na, respectivamente, pelo Crown Proceeding Act, de
1947, e pelo Federal Tort Claims Act, de 1946. Caíram, assim, os últimos redutos da
irresponsabilidade civil do Estado pelos atos de seus agentes. A doutrina civilística ou
da culpa civil comum, por sua vez, vem perdendo terreno a cada momento, com o
predomínio das normas de Direito Público sobre as regras de Direito Privado na
regência entre a Administração e os administrados. Resta, portanto, a teoria da
responsabilidade sem culpa como a única compatível com a posição do Poder Público
perante os cidadãos. Realmente, não se pode equiparar o Estado, com seu poder e
seus privilégios administrativos, ao particular, despido de autoridade e de prerrogativas
públicas. Tornaram-se, por isso, aplicáveis em sua pureza os princípios subjetivos da
culpa civil para a responsabilização da Administração Pública pelos danos causados aos
administrados. Princípios de Direito Público é quem devem nortear a fixação dessa
responsabilidade” (Direito Administrativo Brasileiro, 19ª ed., Editora Malheiros Editores,
p. 555).

A evolução do Direito Administrativo, conforme se vê, é marcada


pelo progressivo reconhecimento da possibilidade de se responsabilizar a
Administração Pública pelos atos praticados. 

No caso, o objeto do contrato celebrado entre as reclamadas


revela que houve terceirização (cf. fls. 389): 

    “[...]  o objeto é o Serviço de Gestão Integrada de 86 (Oitenta e


Seis) leitos de suporte avançado e 20 Leitos de enfermaria, por menor preço lote/item,
compreendendo a locação de equipamentos, gerenciamento técnico, assistência
multiprofissional (de forma ininterrupta), com manutenção e insumos necessários para
o funcionamento dos equipamentos (incluindo computadores e impressoras) e
atendimento dos pacientes (medicamentos, materiais médico-hospitalares e
esterilização de equipamentos e materiais, alimentação, nutrição enteral e parenteral)
a ser estruturado no Hospital da Polícia Militar, para enfrentamento ao COVID-19, com
vigência de 06/07/2020 a 01/01/2021, com o valor total de R$ 60.578.726,40 (sessenta

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milhões, quinhentos e setenta e oito mil setecentos e vinte e seis reais e quarenta
centavos), conforme contrato (42815097)”.

O objeto do contrato é, claramente, a prestação de serviços. Não


se pode negar ter havido terceirização. A 2ª reclamada é a tomadora dos serviços dos
empregados da 1ª reclamada. 

Em caso similar, assim decidiu a 2ª Turma do Eg. Tribunal


Regional do Trabalho da 10ª Região:

        “O ajuste firmado entre as partes tinha por objeto o serviço


de gestão integrada de leitos de suporte avançado e de enfermaria, assim considerada
a locação de equipamentos, gerenciamento técnico, assistência multiprofissional e
equipe administrativa para o atendimento de pacientes, conforme transcrição feita em
defesa do ente público do contrato administrativo celebrado (fls. 57), o que evidencia a
efetiva terceirização de mão de obra por intermédio da associação intermediadora.
Logo, não prevalece a alegação do Distrito Federal de que não beneficiou de forma
direta pelos serviços prestados, em especial dada a sua inequívoca responsabilidade
no enfrentamento da pandemia do COVID-19” (Ac. 2ª Turma do Eg. Tribunal Regional
do Trabalho da 10ª Região, Relator Juiz Convocado Luiz Henrique Marques da Rocha, 22
/03/23).  

É incontroverso que o autor prestou serviços em benefício da 2ª


reclamada, como empregado da 1ª reclamada.

Estabelecem os incisos IV e V, da Súmula nº 331, do C. TST, que:

     "IV. O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte


do empregador implica a responsabilidade subsidiária do tomador dos serviços quanto
àquelas obrigações, desde que haja participado da relação processual e conste
também do título executivo judicial. V. Os entes integrantes da Administração Pública
direta e indireta respondem subsidiariamente, nas mesmas condições do item IV, caso
evidenciada a sua conduta culposa no cumprimento das obrigações da Lei nº 8666, de
21.06.1993, especialmente na fiscalização do cumprimento das obrigações contratuais
e legais da prestadora de serviço como empregadora. A aludida responsabilidade não
decorre de mero inadimplemento das obrigações trabalhistas assumidas pela empresa
regularmente contratada".

O entendimento em questão encontra-se de acordo com o que


restou decidido pelo Supremo Tribunal Federal, quando do julgamento da Ação
Declaratória de Constitucionalidade nº 16.

No caso em exame, a 2ª reclamada contratou empresa não


idônea, pois, como visto não houve pagamento de créditos trabalhistas devidos a

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empregados. Não há, nos autos, prova de que tenha a 2ª reclamada feito a retenção de
pagamento à 1ª reclamada ante o descumprimento da prestadora, de modo a obrigá-la
a adimplir as obrigações trabalhistas devidas. 

A documentação juntada pela 2ª reclamada não tem o condão


de afastar a incidência da responsabilidade subsidiária. Não há prova de retenção de
pagamento devido à 1ª reclamada de modo a obrigar a empregador a adimplir as
obrigações trabalhistas devidas.

Em razão do princípio da disponibilidade da prova (princípio da


aptidão para a prova), não se verifica razoável exigir que o encargo probatório em
questão deva ser do empregado.

Não se pode deixar então de reconhecer que a 2ª reclamada


deva ser responsável, subsidiariamente, pelo adimplemento dos créditos deferidos. 

Realmente, a 2ª reclamada beneficiou-se do labor do


empregado, beneficiou-se da prestação de serviços do reclamante, e não pode deixar
de ser responsabilizada:

    “Afastar a responsabilidade subsidiária dos tomadores de


serviços, públicos ou privados, é entregar o trabalhador à própria sorte, beneficiando
com a isenção de obrigações quem diretamente auferiu ganhos às custas do suor
operário, contrariando, o que é mais grave, todo o conjunto de direitos fundamentais
tratados na Carta Constitucional, que protege a integridade da pessoa humana em seu
contexto de dignidade” (3ª Vara do Trabalho de Brasília – DF, ATOrd 0000294-
47.2020.5.10.0002, Juiz Francisco Luciano de Azevedo Frota).

Repise-se que os valores sociais do trabalho são um dos


fundamentos do Estado Democrático de Direito brasileiro, conforme estabelece o art.
1º da Constituição Federal de 1988: 

    “Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união


indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito e tem como fundamentos: […] IV - os valores sociais do trabalho
”.

Não há de se falar em violação ao parág. 6º, do art. 37, da CF/88,


ou ao art. 71, da Lei 8666 de 1993, encontrando o entendimento ora adotado amparo
no ordenamento jurídico vigente (Relator Desembargador Mário Caron):

   "Administração pública. Responsabilidade subsidiária. Súmula


nº 331, V, TST. Conforme pacificado por meio dos incisos IV, V e VI da Súmula 331 do
Colendo TST, há responsabilidade subsidiária da administração pública nos contratos

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de terceirização quando o inadimplemento das obrigações trabalhistas por parte do


empregador decorrer de sua conduta culposa. O entendimento encontra fundamento
nas próprias regras da responsabilidade civil (CCB, art. 927). Neste sentido o
julgamento da ADC Nº 16/DF pelo E. STF, quando, ao declarar a constitucionalidade do
art. 71, § 1º, da Lei nº 8.666/93, deixou a investigação a respeito da falta de fiscalização
do órgão público a cargo do juiz, conforme o caso concreto [...] Sustenta a segunda
reclamada não poder ser responsabilizada, ainda que subsidiariamente, pelas parcelas
deferidas à reclamante, haja vista o teor do § 1º do art. 71 da Lei nº 8.666/93. Cita a
Súmula Vinculante nº 10 do STF, invoca ofensa, entre outros dispositivos, aos arts. 37,II
e §6º; 102, § 2º; 5º, XXXV, XLVI e LIV, da CF da Constituição Federal. Postula, caso seja
mantido o entendimento expendido em primeiro grau, a análise pelo Tribunal Pleno
acerca da constitucionalidade do art. 71 da Lei nº 8.666/93, sob pena de vulneração ao
art. 97 da Carta Política. Conforme pacificado por meio dos incisos IV, V e VI da Súmula
331 do Colendo TST, há responsabilidade subsidiária da administração pública nos
contratos de terceirização quando o inadimplemento das obrigações trabalhistas por
parte do empregador decorrer de sua conduta culposa [...] O entendimento encontra
fundamento nas próprias regras da responsabilidade civil, especialmente no art. 927
do Código Civil, segundo a qual "Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar
dano a outrem, fica obrigado a repará-lo". Explica Otávio Amaral Calvet (Juiz do
Trabalho da Eg. 2ª Região) que, sendo a terceirização um desvio à regra geral de
contratação direta do trabalho pelo empregador, deverá o tomador de serviços, ao se
utilizar desta forma excepcional de contrato, observar os estritos limites da lei, de
modo a não prejudicar o trabalhador, que, em seu benefício, despende a sua força de
trabalho. É dizer, sob pena de incorrer em ato ilícito configurado pelo abuso do direito
de terceirizar, caberá ao tomador o dever de escolher uma empresa idônea prestadora
de serviços e de fiscalizar para que o contrato de trabalho mantido com os seus
empregados seja regularmente cumprido. Nesse passo, parece-me claro ser subjetiva a
responsabilidade da Administração, devendo haver indicação de culpa in eligendo e/ou
in vigilando. O próprio ordenamento jurídico cria parâmetros e condições para a
efetiva fiscalização das empresas prestadoras de serviços. A IN nº 2/2008 do Ministério
do Planejamento, Orçamento e Gestão, ao dispor sobre regras e diretrizes para a
contratação de serviços, prevê expressamente, em seu art. 34, o dever da
Administração de acompanhar e fiscalizar a execução dos contratos, inclusive quanto
às obrigações e encargos trabalhistas devidos aos empregados da empresa contratada
que lhe prestam serviços e estabelece, em seu § 5º, a forma como se dará tal
fiscalização. Logo, se a Administração não fiscalizou a fiel execução do pacto, zelando
pela solvência das obrigações trabalhistas pela empresa contratada, embora detendo,
ao contrário do que afirma, plenas condições para tanto, inclusive diante da
possibilidade de rescisão unilateral que caracteriza os contratos pactuados por entes
públicos, agiu culposamente e, como corolário, deve arcar com as consequências
jurídicas pelo cometimento deste ato ilícito. Por outro lado, provando a Administração
que cumpriu fielmente o seu dever de fiscalizar, na forma como determina a lei, aí a

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culpa, que lhe é presumida, será elidida e não lhe será imputada a responsabilidade
subsidiária. Ressalte-se que a responsabilidade objetiva, como exceção à regra geral,
tem aplicação apenas quando expressamente prevista e não há no nosso
ordenamento jurídico previsão alguma no sentido de ser objetiva a responsabilidade
do tomador pelo inadimplemento das obrigações trabalhistas por parte do prestador
de serviços. Também não se trata de prática ilícita por si só, pois não é proibida a
terceirização de serviços pela Administração Pública, infelizmente. Nesse contexto,
inaplicável ao caso o art. 37, § 6º, da Carta Política, cuja incidência pressupõe a atuação
da  Administração nas funções típicas do Estado, isto é, na sua atividade-fim, não na
prestação de atividade-meio, cujo objetivo é simplesmente dar suporte e viabilizar a
prestação final do serviço público. Diante disso, nada mais razoável que o
reconhecimento da responsabilidade subjetiva do Poder Público nos casos de
terceirização "lícita", que, nesta qualidade, por não ser o agente direto do dano,
responderá subsidiariamente pelas verbas trabalhistas não adimplidas pelo real
empregador. E, também neste aspecto, nada mais legítimo, porque à Administração
incumbe, ainda mais contundentemente do que ao particular, velar pela observância
dos direitos trabalhistas, não podendo, também, valer-se do empenho da força de
trabalho de outrem sem a devida contraprestação. Na hipótese dos autos, é
incontroverso o contrato de prestação de serviços celebrado entre as reclamadas, bem
como a prestação de serviços da reclamante à segunda reclamada. Todavia, não há
elementos produzidos que demonstrem a efetiva fiscalização do ente público à
prestadora dos serviços, inércia esta que faz corroborar a tese da culpa in vigilando.
Conclui-se, pois, que a situação em exame amolda-se ao contexto jurídico acima
descrito, atraindo, desta forma, a aplicação da Súmula 331, V, do Colendo TST, de sorte
a responsabilizar, subsidiariamente, a segunda reclamada pelo inadimplemento das
obrigações trabalhistas pela empregadora, primeira reclamada. No julgamento da ADC
nº 16/DF, o Excelso STF declarou a constitucionalidade do art. 71, parágrafo 1º, da Lei nº
8.666/93 e houve consenso no sentido de que o Colendo TST deve investigar com mais
rigor se a inadimplência tem como causa a falha ou falta de fiscalização pelo órgão
público contratante. A declaração de constitucionalidade do dispositivo não conduz à
impossibilidade de condenação subsidiária da Administração. Ao contrário, na
configuração de culpa in vigilando da Administração é possível a responsabilização"
(Relator Desembargador Mário Macedo Fernandes Caron, Ac. 2ª Turma, Proc. 00642-
2011-002-10-00-8 RO).

Deverá a 2ª reclamada responder, então, em caráter subsidiário,


pelo adimplemento das obrigações  de dar  deferidas, inclusive a penalidade inscrita no
artigo 477, da CLT. Nesse sentido, encontra-se assim redigido o Verbete nº 11 do Eg.
Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região: 

    “O tomador dos serviços responde, em caráter subsidiário,


pelas obrigações trabalhistas do empregador, ainda que aquele integre a

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Administração Pública. Tal responsabilidade abrange também as multas do artigo 467


e do § 8º do artigo 477, ambos da CLT e § 1º do artigo 18 da Lei nº 8.036/1990, bem
como os honorários assistenciais”.

Esclarece-se, quanto aos juros de mora, que é aplicável a


Orientação Jurisprudencial nº 382, da SBDI-1, do C. TST, a qual estabelece que:

     "382. Juros de mora. Art. 1º-F da Lei nº 9494, de 10.09.1997.


Inaplicabilidade à Fazenda Pública quando condenada subsidiariamente. A Fazenda
Pública, quando condenada subsidiariamente pelas obrigações trabalhistas devidas
pela empregadora principal, não se beneficia da limitação dos juros, prevista no art. 1º-
F da Lei nº 9494, de 10.09.1997".

E mais, deverá ser observado, quando da execução, o que


determina o Verbete nº 37, de 2008, do Eg. Tribunal Regional do Trabalho da 10ª
Região: 

      “Execução. Responsável subsidiário. Benefício de ordem.


Desnecessidade de exaurimento da via executiva em relação aos sócios da empresa
executada. Frustradas as medidas constritivas contra a devedora principal, é lícito o
redirecionamento da execução contra a devedora subsidiária, independentemente de
tentativa expropriatória em relação aos sócios da empregadora”.

Assim, independentemente de tentativa expropriatória em


relação aos sócios da empregadora, é cabível o redirecionamento da execução em face
da devedora subsidiária. 

Justiça gratuita

I.Na peça de ingresso, o autor pede o deferimento do benefício


da justiça gratuita. E apresentou declaração de pobreza.

Defere-se o benefício da justiça gratuita ao autor, ante a


declaração de pobreza (cf. petição inicial), de um lado, e não havendo prova de falta de
hipossuficiência nos autos, de outro. 

Nesse sentido, a seguinte decisão proferida pela 3ª Turma do Eg.


Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região, cujos fundamentos são adotados como
razões de decidir: 

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    “Justiça gratuita. Declaração de pobreza. Validade. Lei nº 1347


/2017.  Basta a declaração firmada pelo trabalhador no sentido de não possuir
condições econômicas de demandar em juízo sem o prejuízo do próprio sustento e de
sua família ou a declaração firmada por seu advogado, desde que munido de
procuração com poderes específicos para esse fim, para que o Poder Judiciário lhe
conceda os benefícios da Justiça gratuita, somente recusável se houver prova cabal nos
autos em sentido antagônico ao da presunção legal de veracidade decorrente de tal
declaração, própria ou por advogado, de miserabilidade. Tal presunção não foi
suprimida pela Lei nº 13.467/2017, permanecendo a declaração de hipossuficiência
como prova idônea de insuficiência de recursos do litigante aspirante aos benefícios da
Justiça gratuita (Lei nº 7.115/83, art. 1º; CPC, art. 99, § 3º), mesmo para as reclamações
ajuizadas e as sentenças publicadas após a vigência da referida lei, mormente quando
não há impugnação da parte contrária nesse sentido nem tampouco elementos que
evidenciem a ausência dos pressupostos para a gratuidade. A nova legislação apenas
alterou o critério objetivo de obtenção da gratuidade judiciária, mantendo a dualidade
do regime anterior: presunção absoluta de pobreza para os litigantes com renda no
patamar legal fixado e necessidade de prova, mediante documentos, aí incluída a
declaração de pobreza (prova de miserabilidade), para quem ganhe mais. [...]  O novo
Código de Processo Civil (Lei nº 13.105/2015) revogou o artigo 4º, caput e § 1º, da Lei nº
1.060/50, contudo dispõe o seu art. 99, § 3º, que ‘presume-se verdadeira a alegação de
insuficiência deduzida exclusivamente por pessoa natural’. Ademais, continua em vigor
a Lei nº 7.115/83, que dispõe sobre a dispensa de prova documental de situações
pessoais, determinando, no caput de seu artigo 1º, que a declaração de pobreza,
quando firmada pelo interessado ou por seu procurador, presume-se verdadeira, sob
as penas da lei: ‘Art. 1º A declaração destinada a fazer prova de vida, residência,
pobreza, dependência econômica, homonímia ou bons antecedentes, quando firmada
pelo próprio interesse ou por procurador bastante, e sob as penas da Lei, presume-se
verdadeira’. A Súmula 463/TST só veio sedimentar tais diretrizes: ‘Assistência judiciária
gratuita. Comprovação. I - A partir de 26.06.2017, para a concessão da assistência
judiciária gratuita à pessoa natural, basta a declaração de hipossuficiência econômica
firmada pela parte ou por seu advogado, desde que munido de procuração com
poderes específicos para esse fim (art. 105 do CPC de 2015); II - No caso de pessoa
jurídica, não basta a mera declaração: é necessária a demonstração cabal de
impossibilidade de a parte arcar com as despesas do processo’.  Ou seja, basta a
declaração firmada pelo trabalhador no sentido de não possuir condições econômicas
de demandar em juízo sem o prejuízo do próprio sustento e de sua família, ou
declaração firmada por seu advogado, desde que munido de procuração com poderes
específicos para esse fim, para que o Poder Judiciário lhe conceda os benefícios da
Justiça gratuita, somente recusável se houver prova cabal nos autos em sentido
antagônico ao da presunção legal de veracidade decorrente de tal declaração, própria
ou por advogado, de miserabilidade. Ressalta-se que a presunção de veracidade da

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Documento assinado pelo Shodo

declaração de hipossuficiência feita pelo empregado não foi suprimida pela Lei nº
13.467/2017, permanecendo esta declaração como prova idônea de insuficiência de
recursos do litigante aspirante aos benefícios da Justiça gratuita, mesmo para as
reclamações ajuizadas e as sentenças publicadas após a vigência da referida lei,
mormente quando não há elementos que evidenciem a ausência dos pressupostos
para a gratuidade” (Processo nº 0002273-76.2018.5.10.0111, Ac. 3ª Turma do Eg.
Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região, Relator Juiz Antonio Umberto de Souza
Júnior).

II.Indefere-se o pedido de justiça gratuita formulado pela 2ª


reclamada, já que não houve prova de hipossuficiência dela, prova essa a qual deveria
ter sido produzida.

Nesse sentido, a seguinte decisão proferida pelo C. Tribunal


Superior do Trabalho (TST):

    “[...] Nos termos da jurisprudência dominante nesta Corte


superior, é indevida a concessão do benefício da gratuidade de justiça a pessoa
jurídica, salvo casos especiais e desde que demonstrada, de forma inequívoca, a sua
impossibilidade para responder pelas despesas processuais” (Processo, RR-235-
59.2014.5.12.0052 j.: 25/05/2016, Relator Desembargador Convocado Marcelo Lamego
Pertence, 1ª Turma).

Honorários advocatícios

A lei nº 13467/17 entrou em vigor em 11 de novembro de 2017.

A presente reclamação foi ajuizada em 4 de novembro de 2021.

Estabelece o art. 6º, da Instrução Normativa nº 41, de junho de


2018, do C. TST, que: 

    "Na Justiça do Trabalho, a condenação em honorários


advocatícios sucumbenciais, prevista no art. 791-A, e parágrafos da CLT, será aplicável
apenas às ações propostas após 11 de novembro de 2017 (Lei nº 13467/2017). Nas
ações propostas anteriormente, subsistem as diretrizes do art. 14 da Lei nº 5584/70, e
das Súmulas 219 e 329 do TST".

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Tendo em vista o grau de zelo profissional o lugar de prestação


do serviço, a natureza e importância da causa, o trabalho realizado e tempo exigido,
defere-se ao advogado da autora, ante a procedência parcial do pedido, o percentual
de 5%, a serem calculados com base no valor da condenação, a título de honorários
advocatícios. 

Este Juízo adotou o seguinte entendimento a respeito do art.


791-A, da CLT, em reclamações pretéritas: 

            “Tendo em vista o grau de zelo profissional, o lugar de


prestação do serviço, a natureza e importância da causa, o trabalho realizado e tempo
exigido, seriam devidos ao advogado da reclamada, ante a improcedência parcial do
pedido [...] os quais seriam calculados com base no valor do montante julgado
improcedente, a título de honorários advocatícios. Porém, foi deferido o benefício da
justiça gratuita ao reclamante. O benefício da justiça gratuita deferido abrange os
honorários advocatícios, nos termos dos incisos XXXV e LXXIV, do art. 5º, da CF/88, os
quais asseguram, como direitos fundamentais, o acesso à justiça e a assistência
judiciária integral àqueles que dela precisam, inclusive quanto a despesas processuais.
Esclarece-se que o art. 791-A, da CLT, possui natureza infraconstitucional e não tem o
condão de afastar a aplicação dos incisos XXXV e LXXIV, do art. 5º, da CF/88, os quais
asseguram, como direitos fundamentais, o acesso à justiça e a assistência judiciária
integral àqueles que dela precisam, inclusive quanto a despesas processuais. Assim, no
entender deste Juízo, o art. 791-A, da CLT, não afasta a incidência de regra a qual tem
amparo constitucional.  Ante o exposto, deferido o benefício da justiça gratuita, o autor
é isento de honorários advocatícios. A esse respeito, as razões deduzidas pela
Procuradoria Geral da República, quando do ajuizamento de Ação Direta de
Inconstitucionalidade: ‘O novo art. 791-A da CLT ampliou a incidência de honorários
advocatícios de sucumbência para todas as causas trabalhistas (caput), até em
sucumbência recíproca, em caso de procedência parcial (parág. 3º). O parág. 4º do
dispositivo impugnado, nos moldes do parág. 4º do art.790-B (quanto aos honorários
periciais), considera devidos honorários advocatícios de sucumbência por beneficiário
de justiça gratuita, sempre que 'tenha obtido em juízo, ainda que em outro processo,
créditos capazes de suportar a despesa'. Também aqui a norma ignora a condição de
insuficiência de recursos que deu causa ao benefício. Nessas disposições reside a
colisão com o art. 5º, LXXIV, da Constituição, ao impor a beneficiários de justiça gratuita
pagamento de despesas processuais de sucumbência, até com empenho de créditos
auferidos no mesmo ou em outro processo trabalhista, sem que esteja afastada a
condição de pobreza que justificou o benefício. [...] As normas impugnadas confrontam
e anulam essas condições conformadoras da insuficiência de recursos, pois permitem
empenho de créditos trabalhistas para custear despesas processuais, sem condicioná-
los a perda da condição de insuficiência econômica. Contrapondo as normas ordinárias

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delineadoras do direito fundamental (CR, art. 5º, LXXIV), os dispositivos impugnados


esvaziam seu conteúdo e inviabilizam ao demandante pobre a assunção dos riscos da
demanda. Padecem, por isso, de inconstitucionalidade material. [...] A norma
desconsidera a condição econômica que determinou concessão da justiça gratuita e
subtrai do beneficiário, para pagar despesas processuais, recursos econômicos
indispensáveis à sua subsistência e à de sua família, em violação à garantia
fundamental de gratuidade judiciária (CR, art. 5º, LXXIV)’   (cf.  petição inicial,
ação  ajuizada pela Procuradoria Geral da República, Ação Direta de
Inconstitucionalidade ADI, nº 5766)”.

Contudo, o Supremo Tribunal Federal (STF) adotou o seguinte


entendimento, conforme esclarecido pela 3ª Turma do C. Tribunal Superior do
Trabalho (TST):

        “[...]  o Pleno do Supremo Tribunal Federal, em 20/10/2021,


nos autos da já mencionada ADI  nº 5766, julgou, por 6 votos a 4, parcialmente
procedente o pedido formulado na ação direta para declarar inconstitucional o artigo
791-A, § 4º, da CLT, que dispõe sobre o pagamento de honorários advocatícios de
sucumbência pelo beneficiário da Justiça gratuita e a utilização de créditos obtidos,
ainda que em outro processo, para esse fim. Interpostos embargos de declaração pelo
Advogado-Geral da União, no qual se apontava contradição no acórdão embargado em
virtude de o seu dispositivo declarar inconstitucional a integralidade do § 4º do artigo
791-A da CLT em contraposição ao pedido formulado na petição inicial da ação de
reconhecimento da inconstitucionalidade apenas de trecho do mencionado preceito, o
Supremo Tribunal Federal, em 21/6/2022, embora tenha rejeitado os referidos
embargos de declaração, explicitou que os termos da declaração de
inconstitucionalidade do citado dispositivo deveria ser interpretada em congruência
com a postulação feita na exordial pelo Procurador-Geral da República,  in verbis  :
‘Requer que, ao final, seja julgado procedente o pedido, para declarar a
inconstitucionalidade das seguintes normas, todas introduzidas pela Lei 13.467, de 13
de julho de 2017: a) da expressão ‘ainda que beneficiária da justiça gratuita’, do caput, e
do § 4º do art. 790-B da CLT; b) da expressão ‘desde que não tenha obtido em juízo,
ainda que em outro processo, créditos capazes de suportar a despesa’, do § 4º do art.
791-A da CLT’; Desse modo, julgados inconstitucionais apenas os excertos indicados, os
dispositivos em comento permanecem em vigor com a seguinte redação: ‘Art. 790-B. A
responsabilidade pelo pagamento dos honorários periciais é da parte sucumbente na
pretensão objeto da perícia (...). (...) Art. 791-A. Ao advogado, ainda que atue em causa
própria, serão devidos honorários de sucumbência, fixados entre o mínimo de 5% e o
máximo de 15% sobre o valor que resultar da liquidação da sentença, do proveito
econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da
causa. (...) § 4º Vencido o beneficiário da justiça gratuita, (...), as obrigações decorrentes
de sua sucumbência ficarão sob condição suspensiva de exigibilidade e somente

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poderão ser executadas se, nos dois anos subsequentes ao trânsito em julgado da
decisão que as certificou, o credor demonstrar que deixou de existir a situação de
insuficiência de recursos que justificou a concessão de gratuidade, extinguindo-se,
passado esse prazo, tais obrigações do beneficiário’. Significa afirmar que o Supremo
Tribunal Federal vedou apenas a compensação automática de créditos prevista na
redação original dos referidos preceitos, prevalecendo, no entanto, a possibilidade de
que, no prazo da suspensão de exigibilidade de dois anos a que se refere § 4º artigo
791-A da CLT, o credor demonstre a alteração do estado de insuficiência de recursos do
devedor, por qualquer meio lícito, circunstância que autorizará a execução das
obrigações decorrentes da sucumbência, ao passo que, com relação aos honorários
periciais previstos no artigo 790-B da CLT, a supressão indica que a União deve arcar
com a obrigação, quando o beneficiário da justiça gratuita seja sucumbente, não mais
se cogitando do aproveitamento de créditos” (RRAg-20406-67.2018.5.04.0004, 3ª
Turma, Relator Ministro José Roberto Freire Pimenta, DEJT 25/11/2022).

A esse respeito, assim também o Eg. Tribunal Regional do


Trabalho da 10ª Região havia pronunciado-se a respeito da questão, declarando a
constitucionalidade do parág. 4º do art. 791-A salvo quanto à expressão "desde que
não tenha obtido em juízo, ainda que em outro processo, créditos capazes de suportar
a despesa":

     “Honorários advocatícios. Gratuidade judiciária. Art. 791-A, § 


4º, da CLT. Inconstitucionalidade parcial. É inconstitucional a expressão '... desde que
não tenha obtido em juízo, ainda que em outro processo, créditos capazes e suportar a
despesa...', do art. 791-A da CLT, devendo ser suspensa a exigibilidade dos honorários
advocatícios, assim como afastada a sua compensação com outros créditos
trabalhistas, quando se tratar de parte hipossuficiente (art. 5º, incisos II e LXXIV da CF)"
(Verbete nº 75, de 2019).

Assim, ressalvado o entendimento deste Juízo, impõe-se, tendo


em vista o grau de zelo profissional, o lugar de prestação do serviço, a natureza e
importância da causa, o trabalho realizado e tempo exigido, deferir ao advogado da
reclamada, ante a improcedência parcial do pedido, o percentual de 5%, a título de
honorários advocatícios, se (e somente se) restar comprovado, nos autos, em até 2
anos, a contar do trânsito em julgado da presente decisão, que cessou a condição de
hipossuficiência do autor, esclarecido que o encargo probatório, a esse respeito, é da
reclamada. A expressão “desde que não tenha obtido em juízo, ainda que em outro
processo, créditos capazes de suportar a despesa”, contida no parág. 4º, do art. 791-A,
da CLT, é inconstitucional e não deverá ser, portando, aplicada.

Atualização monetária

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A atualização monetária (correção monetária e juros) é devida


da seguinte forma: na fase pré-judicial incidirão o IPCA-E e os juros legais (art. 39,  caput
, da Lei 8.177, de 1991); e, a partir do ajuizamento da ação, a taxa SELIC (embargos de
declaração, ADC 58, STF).   

Ofícios

Não há necessidade de expedição de Ofícios.

3. Conclusão

Pelo exposto, julga-se procedente em parte o pedido, para


condenar as reclamadas (a 2ª subsidiariamente, e quanto às obrigações de dar) a
cumprirem as obrigações fixadas nos Fundamentos acima, os quais integram este
dispositivo. 

Liquidação, por meros cálculos.

Correção monetária, juros e dedução do imposto de renda, na


forma prevista na lei.

Defere-se o benefício da justiça gratuita ao reclamante.

Incide contribuição previdenciária sobre o saldo de salário e o


13º salário, cuja natureza é salarial. 

Tendo em vista o grau de zelo profissional o lugar de prestação


do serviço, a natureza e importância da causa, o trabalho realizado e tempo exigido,
defere-se ao advogado da reclamante, ante a procedência parcial do pedido, o
percentual de 5%, a serem calculados com base no valor da condenação, a título de
honorários advocatícios.

Tendo em vista o grau de zelo profissional, o lugar de prestação


do serviço, a natureza e importância da causa, o trabalho realizado e tempo exigido,
deferir ao advogado da reclamada, ante a improcedência parcial do pedido, o
percentual de 5%, a título de honorários advocatícios, se (e somente se) restar
comprovado, nos autos, em até 2 anos, a contar do trânsito em julgado da presente

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Documento assinado pelo Shodo

decisão, que cessou a condição de hipossuficiência do autor, esclarecido que o encargo


probatório, a esse respeito, é da reclamada. A expressão “desde que não tenha obtido
em juízo, ainda que em outro processo, créditos capazes de suportar a despesa”,
contida no parág. 4º, do art. 791-A, da CLT, é inconstitucional e não deverá ser,
portando, aplicada.

Custas, pela 1ª reclamada, no importe de R$ 160,00, calculadas


sobre R$ 6000,00, valor arbitrado à condenação. A 2ª reclamada é isenta de custas. 

Intimem-se as partes.

Encerrou-se a audiência. 

Nada mais.

BRASILIA/DF, 30 de maio de 2023.

JONATHAN QUINTAO JACOB


Juiz do Trabalho Titular

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https://pje.trt10.jus.br/pjekz/validacao/23053021241961900000035541660?instancia=1
Número do processo: 0000965-51.2022.5.10.0018
Número do documento: 23053021241961900000035541660

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