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A FORMAÇÃO HISTÓRICA E FILOSÓFICA DO DIREITO NA

GRÉCIA: SOFISTAS E SÓCRATES

Durante o século V a.C., Atenas se torna o centro cultural da Grécia. A


educação dos cidadãos atenienses segue o ideal deixa de ser o do guerreiro belo e bom,
cuja maior virtude é a coragem para se transformar na formação do bom orador, que
participará das decisões da polis, sendo capaz de argumentar e persuadir os demais.
A educação dos jovens ficava a cabo dos Sofistas, que entendiam que o
pensamento pré-socrático continha diversas falhas, além de apresentar inconsistências
não sendo útil para a vida da pólis. Entendiam não haver justificativa para
primeiramente se procurar as causas das primeiras coisas, da metafísica sem que
houvesse um estudo completo sobre o homem na tentativa de determinar com exatidão
o valor e a dimensão da sua capacidade de conhecer (REALE, 2013).
Os sofistas entendiam que que a realidade, a lei e a moral estavam além da
capacidade cognitiva humana e por isso eles poderiam conhecê-las. O conhecimento do
indivíduo é por ele arquitetado. Acreditam na impossibilidade de existência de
conhecimento absoluto, pois este é sempre provável. O objetivo supremo da existência é
o prazer. Cita-se a seguir alguns pontos trabalhados pelos sofistas (FERRAZ JÚNIOR,
2014):

- Inauguram o pensamento sistemático sobre a problemática humana, abandonando a


reflexão de questões naturais e cosmológicas dos filósofos pré-socráticos;
- Melhoram a dialética e a discussão critica acerca das limitações e dos valores do
conhecimento;
- Apontam que as leis são diversas e relativas que se aplicam a cada cidade, ressaltam a
contraposição entre natureza (physis), lei (nómos) e pacto (thésis), em fundamentam o
direito natural e o direito positivo;
- Ressaltam o entendimento de existência de natureza comum a todos os homens, que
irá justificar a aplicação da lei de forma mais igualitária e universal;
- Ampliaram a educação para aprimorar o ensino da gramática e da retórica.

O ideal sofístico de uma natureza humana pode ser ensinada e constantemente


aperfeiçoada originou o estudo da pedagogia e a formação humanística. A base do
movimento era a opinião e a retórica, que era utilizada para definir o homem público
por meio da retórica.
Quanto mais o homem almejava por meio da palavra compreender as
contradições existentes, mais ele almejava compreender o que seria justo ou injusto, na
tentativa de definir o que é justiça ou injusto (ALVES, 2011).
Os sofistas tiveram papel de importância nos campos do direito e da justiça,
pois deixam de aceitar que as leis humanas eram criadas por deuses, pois somente os
homens podem fazer regras para o convívio social; as leis são atos humanos e racionais
que forjam no seio da necessidade sociais, o que só é possível por meio de discussão
comum, da deliberação consensual, da comunicação participativa e do discurso.
Nesse cenário, destaca-se Sócrates, que tinha como grande preocupação
estimular que os homens cuidassem de suas próprias almas, por meio da sabedoria e da
virtude. Primeiramente é necessário se conhecer, entender a sua essência para depois se
preocupar com questões metafísicas. Isso porque o homem é sua alma, e ela é a razão, o
lugar, onde se localiza a atividade pensante e eticamente operante. A alma é o eu
consciente. Consciência é a personalidade intelectual, moral (FERRAZ JÚNIOR, 2009).
A educação deve privilegiar o cuidado com a alma ao invés do corpo. E para
isso, Sócrates usava a ironia, ou seja, uma simulação com perguntas desconcertantes.
Isso para que que aquele que está seguro de si fique constrangido e perplexo para que o
homem perceba seus problemas sendo levado à reflexão, pois a verdade não pode ser
ensinada, cabendo ao homem descobri-la por si mesmo. O aprendizado é lento e deve
ser feito progressivamente para que se chega à verdade.
Sócrates entende que há conhecimentos universais e que a alma é superior ao
corpo e este a ele presa. A opinião é variável, porém o conceito universal é comum a
todos. Para se chegar ao conceito universal deve-se utilizar o método indutivo. Ele
também destaca os conceitos de bem, justiça, felicidade e virtude. A moral se assemelha
ao conhecimento, se o homem age de forma errada é por ignorância, porque não se
admite que se ele sabe sobre o bem o mal opte por este. Já a felicidade é a consciência
reta, racional e virtuosa. A virtude, por sua vez, é o que torna uma coisa boa e perfeito
naquilo que ela é (REALE, 2013).
O filósofo afirma que a felicidade só pode vir da alma, e aquele que é virtuoso
é feliz. Nesta vida, independente das circunstâncias, o homem pode ser feliz. O homem
é responsável por sua própria felicidade ou infelicidade. O pensamento socrático é ético
e direcionado à ética social, por meio do método de indagações sobre a justiça, sobre a
bondade.
Sócrates indica que a busca pela verdade se inicia no homem, por meio do
conhecimento sobre ele próprio. A ética socrática se volta ao conhecimento e para a
felicidade. Por meio desse conhecimento, o homem pode compreender o bem e o mal e
assim escolher e discernir entre eles e assim nunca escolherá o mal.
A busca pela felicidade não se relaciona a bens materiais e sim com o
desenvolvimento das virtudes, e assim, o homem seria capaz de controlar suas paixões,
na tentativa de alcançar uma condição humana do saber. Aí se encontra a felicidade do
homem. Ser ético também é respeitar às leis, que podem ser entendidas como um
conjunto de preceitos de obediência incontornável, independente de essas serem justas
ou injustas (REALE, 2013).
O filósofo via o direito como mecanismo de coesão em prol do bem comum. A
submissão às leis é o que organiza a cidade, vez que a ética do coletivo é superior à
ética individual.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, Alaôr Caffé: Lógica, pensamento formal e argumentação. Elementos do


discurso jurídico. 4 ed. São Paulo: Quartier Latin, 2011.

FERRAZ JUNIOR, Tércio Sampaio. A ciência do Direito. 3ª ed. São Paulo: Atlas,
2014.

FERRAZ JUNIOR, Tércio Sampaio. Estudo de filosofia do Direito. 3ª ed. São Paulo:
Atlas, 2009.

REALE, Miguel. Filosofia do Direito. 20ª ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

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