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POLÍTICAS EDUCACIONAIS: IMPACTO DO PROJETO ESCOLA LEITORA NA

PROMOÇÃO DA VALORIZAÇÃO DA CULTURA.

Alexsandro Rodrigues de Magalhães,


José Carlos Domingos Santana,
Maria Eduarda Cordeiro Martins,
Maria Isabel Pereira da Silva

RESUMO

O presente trabalho foi realizado no semestre de 2022.2, tem como objetivo geral
investigar como as políticas educacionais através do projeto Escola Leitora e Mediação
promovem a valorização da cultura. Utilizamos como referências teóricas (HÖFLING, 2001),
(AZEVEDO, 2004), (LARAIA, 2001) e (FREIRE, 1999), que discutem Política, Estado e
Cultura, questões centrais a serem compreendidas para a realização da análise dos dados
obtidos. Nesse sentido, foi utilizado a entrevista semiestruturada e o questionário como
instrumentos metodológicos e obtivemos como resultados a comprovação de que o Projeto
Escola Leitora por meio das Mediações realizadas cumprem com o objetivo tanto da
alfabetização e incentivo a leitura como, e principalmente, para a democratização da
interculturalidade.

INTRODUÇÃO

Os debates e estudos atuais sobre a valorização da cultura trazem a globalização e o


capitalismo como aspectos centrais que interferem e propulsionam a cultura popular. A
globalização, no que se refere a trocas e experiências, sem dúvidas atua como um propulsor
que estimula a sobrevivência das culturas populares, no entanto, desconsiderar os processos
da cultura de massa que a enxerga como um produto se torna algo muito perigoso.
Nesse sentido, cultura e economia andam lado a lado, sendo a cultura popular
utilizada como uma ferramenta de desenvolvimento pelas áreas de turismo, agronegócio,
comercialização e etc. Nessa perspectiva, há um lado positivo, pois essa economia da cultura
movimenta uma determinada região promovendo novos empregos, contudo, o capitalismo ao
se apropriar das diversas manifestações culturais, visa somente lançar um padrão para
facilitar o consumo, transformando a cultura de um povo em mercadoria, relegando-a a uma
posição de subcultura.
Nesse contexto, urge a necessidade de olhar a cultura popular sob uma perspectiva de
“sustentabilidade cultural” dentro de um processo de desenvolvimento local. A valorização
das práticas culturais se dá por várias vias, por exemplo 1) pela dimensão dos símbolos, por
meio da comunicação, dos gestos, das representações; 2) pelo afeto; 3) pela música; e 4) por
toda produção artística. É por meio da conhecimento da cultura local que o sujeito a valoriza
e constrói a sua identidade, no entanto, fatores como a mídia, a valorização de produtos
estrangeiros, a falta de uma disciplina nas escolas sobre a cultura popular, bem como a falta
de projetos de políticas culturais, interferem no processo de valorização da cultura popular
para o desenvolvimento local, assim como, na construção de identidade dos sujeitos.
Sendo assim, apresentamos como objeto de estudo do presente artigo as “políticas
educacionais e a valorização cultural”, tendo como campo o Projeto Escola Leitora e o
projeto de Mediação da escola municipal Álvaro Lins de tempo integral que está situada no
centro da cidade de Caruaru - PE, a mesma abrange o ensino dos anos iniciais do 1º ano ao 5º
ano, possui 570 estudantes matriculados/as e 90 funcionários/as, possui também diversos
espaços, tais como: quadra poliesportiva coberta e fechada, quadra de areia, laboratório de
ciências, brinquedoteca, cantina, piscinas e etc.
A escola apresenta uma pedagogia voltada para alfabetização e letramento dos/as
estudantes e para que isso aconteça de forma lúdica e integral na vida dos/as estudantes,
alguns projetos são implementados na rotina da escola, tendo como um dos exemplos as
disciplinas: protagonismo, estudo orientado e eletiva, bem como os projetos realizados pelas
professoras da biblioteca, que são os projetos de Mediação e Escola Leitora. O Projeto Escola
Leitora, conforme a Secretaria de Educação do município de Caruaru - PE, é caracterizado
como uma política pública que promove a leitura literária desenvolvida a partir das
bibliotecas da Rede Municipal de Ensino de Caruaru.
Desse modo, temos como questão problema: Como as políticas educacionais através
do projeto Escola Leitora e Mediação promovem a valorização da cultura?. Nesse sentido, o
objetivo geral do presente artigo é investigar como as políticas educacionais através do
projeto Escola Leitora e Mediação promovem a valorização da cultura, elencamos, dessa
forma, dois objetivos específicos que nos ajudaram a responder o objetivo geral, bem como a
questão problema, sendo eles: 1)Analisar a concepção da gestão pedagógica acerca da
necessidade da promoção da valorização da cultura no ambiente escolar e 2) Verificar a
execução da metodologia utilizada no projeto.
O presente artigo foi realizado no semestre de 2022.2 e se constitui enquanto uma
pesquisa de abordagem qualitativa, do tipo exploratória, sendo caracterizada por Gil (2002,
p.41) como aquela que "tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o
problema, com vistas a torná-lo mais explícito [...] tem como objetivo principal o
aprimoramento de ideias.”.
Acerca do instrumento de pesquisa, para atingirmos nossos objetivos específicos,
utilizamos a entrevista semiestruturada, assim como Ludke e André (1986, p.33-34)
assinalam:

[...] Especialmente nas entrevistas não totalmente estruturadas, onde não há a


imposição de uma ordem rígida de questões, o entrevistado discorre sobre o tema
proposto com base nas informações que ele detém e que no fundo são a verdadeira
razão da entrevista. Na medida em que houver um clima de estímulo e de aceitação
mútua, as informações fluirão de maneira notável e autêntica

Utilizamos também de um questionário feito com perguntas abertas pois nele há “a


possibilidade de o entrevistado responder com mais liberdade, não estando preso a marcar
uma ou outra alternativa.” (RICHARDSON, 1985, p. 195), método que nos possibilitou
compreender a perspectiva da professora D2 acerca da temática discutida.
Os entrevistados do presente artigo foram a gestora, que será chamada de D1, e uma
das bibliotecárias responsáveis pelo projeto de mediação na escola selecionada, que será
intitulada de D2. A entrevista semiestruturada foi realizada com a D1 e, por motivos
externos, o questionário com a D2.

Entrevista:

1- Qual sua formação?


2- Quantos anos na área de educação?
3- Quanto tempo na gestão?
4- Qual sua concepção sobre a diversidade/ interculturalidade?
5- Qual sua concepção sobre a diversidade/ interculturalidade sendo trabalhada nas escolas?
6- Você acredita que o projeto de mediação é uma forma de promover a diversidade/
interculturalidade?
7- Como se deu a implantação do projeto na escola?
8- Qual o objetivo do projeto de mediação?

O presente artigo está organizado em quatro seções: Introdução, Aporte Teórico,


Análise dos dados e Conclusão. Na introdução foi realizada uma breve discussão acerca da
valorização cultural e desenvolvimento local, assim como foi exposto a questão problema, o
objetivo geral bem como os objetivos específicos do presente trabalho, e por fim explicitados
os procedimentos e instrumentos metodológicos utilizados. No tópico seguinte, para
compreendermos melhor o impacto e a função do Projeto Escola Leitora, é feito um breve
detalhamento acerca dos conceitos de Políticas Públicas, Estado e Cultura. Para isso,
recorremos a autores das respectivas áreas, tais como: (HÖFLING, 2001), (AZEVEDO,
2004), (LARAIA, 2001) e (FREIRE, 1999).
Por conseguinte, é realizada a análise dos dados, iniciando com as concepções de
ambas as entrevistadas acerca da diversidade cultural e interculturalidade sendo trabalhadas
nas escolas, seguindo para a análise do projeto de Mediação e do Projeto Escola Leitora e
seus objetivos e execução. Concluímos retomando a questão problema tal como os objetivos
específicos e apresentando os resultados obtidos.

APORTE TEÓRICO

POLÍTICAS EDUCACIONAIS

Antes de iniciarmos a apresentação dos dados obtidos sobre o projeto Escola Leitora a
qual será discutido no presente artigo, faz-se necessário abordar brevemente os conceitos de
políticas educacionais para educação e o Estado. Para isso, iniciaremos a abordagem a partir
da perspectiva de Hofling sobre as políticas públicas, o autor afirma que as "Políticas
públicas são aqui entendidas como o “Estado em ação” (Gobert, Muller, 1987); é o Estado
implantando um projeto de governo, através de programas, de ações voltadas para setores
específicos da sociedade." (HÖFLING, 2001, p.32). O estado, portanto segundo Höfling
(2001) não deve ser reduzido às ações burocráticas e suas instituições públicas e organismos
estatais, logo as políticas públicas não podem ser resumidas às ações estatais. Dessa forma,
iremos valer dessa perspectiva para desenvolver o pensamento acerca das políticas
educacionais pois compreendemos que as políticas públicas serão ações voltadas para
específicos setores da sociedade, portanto ao tomarmos como essencial e de suma
importância a educação como base para desenvolvimento de um país, portanto as políticas
públicas devem também atender essa esfera pública por meio de políticas educacionais.
Compreendemos políticas educacionais a partir de Azevedo (2004), que explicita
como um programa de ações que se produzem em meio às relações de poder permeadas e
intrínsecas na política, sendo esta sob o sentido de dominação, bem como nas relações sociais
que expressam a desigualdades e exclusão que se apresentam na educação, também devem
ser pensadas como parte de uma totalidade maior que se articulam com as ações globais que a
sociedade constrói e que se realiza por intermédio do Estado.
Ademais, a história das políticas educacionais no cenário brasileiro apresenta,
segundo Santos (2011), uma relação entre a forma conversadora e também patrimonialista a
qual a sociedade e o Estado brasileiro foram construídos, a partir de um ideal econômico
voltado para a agroexportação que se apoia na mão de obra escrava, a educação se torna uma
preocupação tardiamente, com base no educador Teixeira (1967), a autora explicita que o
“ensino brasileiro, com tendência ornamental e livresca, era destinado predominantemente
para a camada mais abastada da sociedade. (SANTOS, 2011, p.2)”, trabalharemos então sob
as perspectivas dos acontecimentos após os governos pós década de 1990, onde a autora
explicita as ações específicas do governo do Presidente Lula e que reverberam socialmente
nas ações de políticas educacionais até os dias de hoje.

CULTURA

Freire (1999) explica que o conceito de cultura pode ser compreendido a partir do
resultado das ações humanas em sua e com a sua realidade, dentro do processo de criar e se
recriar a partir das suas próprias experiências. O autor explica que cultura é toda criação
humana, destarte, não limitou “cultura” a um conjunto de princípios básicos e reducionista,
acrescenta então que
A cultura como o acrescentamento que o homem faz ao mundo que não fez. A
cultura como o resultado de seu trabalho. Do seu esforço criador e recriador. O
sentido transcendental de suas relações. A dimensão humanista da cultura. A cultura
como aquisição sistemática da experiência humana. Como uma incorporação, por
isso crítica e criadora, e não como uma justaposição de informes ou prescrições
“doadas”. A democratização da cultura — dimensão da democratização
fundamental. (FREIRE, 1999, pág. 104)

Dessa forma, compreendemos que a cultura é desenvolvida e transmitida por gerações


e gerações, transformando e modificando-se pois é o resultado da ação dos seres humanos a
partir da sua realidade. A democratização cultural implica na necessidade de reconhecer
esse/a outro/a criador/a de cultura, para além do “respeito disfarçado de aceitação” visto que
este se mostra limitado e culmina em uma exclusão social e apagamento dos aspectos
culturais diversos, o reconhecimento do/a outro/a se faz num processo contínuo
contra-hegemônico de alteridade.
Compreendendo que os processos culturais acontecem de forma ampla e plural,
diverso também são as formas de se ler, explicar e se inserir no mundo (FREIRE, 1996).
Laraia complementa ainda que "A cultura é como uma lente através da qual o homem vê o
mundo. Homens de culturas diferentes usam lentes diversas e, portanto, têm visões
desencontradas das coisas.” (LARAIA, 2001, p. 35) O que de fato não pode suceder-se é a
exclusão das diferentes perspectivas acerca da totalidade cultural que perpassa as mais
diversas esferas sociais, Freire adverte que na medida em que há transgressão nesse processo
de alteridade, além de impossibilitar a configuração de um espaço democrático, implica
também na limitação da possibilidade de mudança e da transformação do ser humano
enquanto ser de potencialidade.
A falta de humildade, expressa na arrogância e na falsa superioridade de uma
pessoa sobre a outra, de uma raça sobre a outra, de um gênero sobre o outro, de uma
classe ou de uma cultura sobre a outra, é uma transgressão da vocação humana do
ser mais. (FREIRE, 1996, pág. 46)

ANÁLISE DOS DADOS

Inicialmente, iremos analisar as concepções de ambas as entrevistadas acerca da


diversidade cultural e da interculturalidade sendo trabalhada nas escolas, em seguida, a
execução e os objetivos do projeto de mediação, bem como do projeto Escola Leitora.
Conforme explicitado anteriormente, as participantes entrevistadas serão chamadas de D1 e
D2 e foi realizado para a coleta de dados uma entrevista semiestruturada e um questionário,
respectivamente.
Referindo-se a concepção de diversidade e interculturalidade, somente a D1 expôs sua
percepção
“eu compreendo a diversidade como a forma de ser, de estar, das pessoas, dos
sujeitos, aí a gente engloba as questões religiosas, étnicas, as questões relacionadas
à sexualidade, enfim”

Podemos perceber que sua fala reflete a forma como a cultura é descrita por Laraia
(2001), sendo compreendida como uma “lente” pela qual o homem enxerga o mundo,
diferentes culturas englobam e envolvem diferentes “lentes” e diferentes questões, tais como
as questões religiosas, sexuais, étnicos, como bem explicitado na fala da D1.
Já sobre as concepções sobre a diversidade/ interculturalidade sendo trabalhada nas
escolas as docentes discorrem que
A Escola deve usar a diversidade/interculturalidade como forma de melhorar,
estimular o conhecimento dos estudantes, sua autoestima, respeito à leitura do
mundo do outro e não a segregação. (EXTRATO DO QUESTIONÁRIO, D2, 2023)

A questão de trabalhar a cultura, a forma de ser, de pensar, de estar, respeitar essa


diversidade e incluir isso no dia a dia da escola, faz parte do processo educativo
formal, né, do espaço educacional. (EXTRATO DA ENTREVISTA, D1, 2023)

Freire discute que o caminho correto da educação, aqui fazemos o recorte do aspecto
da educação escolar, deve ancorar-se no respeito aos/as educandos/as, num processo de incluir
as condições sociais, culturais, econômicas destes/as, assim como a de suas famílias e da
comunidade como um todo, proporcionando então uma educação que faz sentido, assim

Não é possível respeito aos educandos, à sua dignidade, a seu ser formando se, à sua
identidade fazendo-se, se não se levam em consideração as condições em que eles
vêm existindo, se não se reconhece a importância dos “conhecimentos de
experiência feitos” com que chegam à escola. O respeito devido à dignidade do
educando não me permite subestimar, pior ainda, zombar do saber que ele traz
consigo para a escola. (FREIRE, 1996)

A perspectiva das docentes revelam uma compreensão objetiva da necessidade de se


incluir os aspectos culturais diversos que perpassam a escola, pois a consequência da ação
contrária, segundo a entrevistada “D2” é a segregação ou nas palavras de Freire “elitista” que
massifica e formaliza a educação impondo uma só forma de se constituir cultura a erudita de
fato segregada pois hegemonicamente esta não abarca as demais realidades sociais, sufocando a
democratização da educação.
Quando interrogada sobre a forma que se deu a implementação dos projetos na escola,
a D1 nos informa que “Nós temos no município uma política de alfabetização e incentivo à
leitura, então a secretaria de educação orienta as equipes escolares que promovam,
internamente, ações.” (EXTRATO DA ENTREVISTA, D1, 2023). Dessa forma, foi possível
perceber que a secretaria de educação de caruaru, PE mostra-se preocupada em seguir com o
que está previsto no artigo 8 do PNE “O art. 8° define o prazo de um ano para que os estados,
o DF e os municípios elaborem planos decenais ou adequem seus planos em consonância com
as diretrizes,as metas e as estratégias previstas no PNE” (DOURADO, 2016, p. 23-24).
Sendo assim o projeto Escola Leitora está em consonância com a meta 5 do Plano
Nacional de Educação, que pretende portanto abordar as desigualdades referentes à
alfabetização no Brasil, em que delineia como objetivo “alfabetizar todas as crianças, no
máximo, até o final do terceiro ano do ensino fundamental, aos oito anos de idade”
(DOURADO, 2016, p. 29). Tendo em vista essa perspectiva de alfabetização, percebemos a
relação entre a escola de tempo integral ter suas atividades concentradas em alfabetizar e
incentivar a leitura, com o objetivo secundário do projeto voltado para a promoção e
democratização da cultura.
Ao analisarmos então o objetivo do projeto Escola Leitora, as entrevistadas, nos
afirmam que o objetivo é
A proposta da mediação é intervir no processo de aprendizagem das crianças, então
a mediação é uma ação interventiva educativa da professora bibliotecária, de
contribuição desse espaço significativo para a construção dos conhecimentos dos
estudantes e dos reconhecimentos dos vários gêneros e temáticas trabalhados.
(EXTRATO DA ENTREVISTA, D1, 2023)

Voltados para o desenvolvimento de atividades sistemáticas de alfabetização e


incentivo a leitura, o projeto de Mediação busca trazer por meio do espaço da biblioteca,
um atrativo para os/as estudantes para além do ambiente da sala de aula, D1 até mesmo
afirma que os/as estudantes muita vezes não tem acesso a livros fora do ambiente escolar,
como podemos compreender a partir do extrato a seguir
Nós temos um público que, parte dos nossos estudantes, o acesso que eles têm aos
livros é a escola, né? Então não há, em algumas situações, um mundo de
possibilidades, de acesso à leitura, dentro da casa, dentro da família, não há
incentivo. Então é a escola essa porta de entrada para que esse estudante tenha
acesso a outras culturas, à compreensão da diversidade enquanto característica
humana, sobretudo brasileira, então com certeza a mediação é uma das ações que a
escola promove e procura desenvolver. (EXTRATO DA ENTREVISTA, D1, 2023).

Nesse sentido, entendemos que o projeto Escola Leitora, por meio de ações do Projeto
de Mediação na biblioteca da escola, buscam além de alfabetizar e incentivar a leitura,
apresentar para as crianças a diversidade cultural presente, especialmente, no âmbito
nacional, ao se preocuparem em tratar as diversas formas de vivência, as experiências além
dos muros da escola, por meio de livros que trazem autores indígenas e quilombolas, como
também apresentam uma preocupação e interesse com a valorização da cultura local,
podemos explicitar através da fala de D2, onde diz que tem por objetivo

Apresentar aos estudantes nosso acervo, a partir dos anos iniciais, estimulando a
leitura, conhecimento pelos autores, temáticas indígenas, africanas, contos, cordéis.
Após as mediações, emprestamos dos livros. (EXTRATO DO QUESTIONÁRIO,
D2, 2023).

Tal perspectiva entra em acordo com o objetivo do PNE, como afirma Dourado (2016)
as ações das políticas educacionais devem fazer valer do princípio nacional que os municípios
estabeleçam em seus planos práticas que permitam instituir políticas educacionais que se
desenvolvem concomitantemente com as demais políticas sociais, em destaque para as
particularidades culturais, considerando as necessidades das populações do campo, dos povos
indígenas e das comunidades quilombolas, para além de assegurar a diversidade cultural na
educação, permitam também a democratização do acesso a uma educação plural em todos os
níveis e modalidades de ensino.
Tendo em vista esse olhar de promoção e democratização da cultura na alfabetização
por meio do projeto Escola Leitora, questionamos ambas as entrevistadas se o projeto de fato
colabora para a atuação na promoção da diversidade e interculturalidade, e tanto a D1 quanto a
D2, afirmaram que sim, acrescentando
com certeza, a biblioteca partir de uma atividade focada, de incentivo à leitura, de
intervenção, porque o momento da mediação é um momento de intervenção junto
aos estudantes, pode colaborar significativamente para a compreensão dos
estudantes desse processo, né, cultural e de grande diversidade. (EXTRATO DA
ENTREVISTA, D1, 2023)

Portanto, notamos que de fato durante o período de execução do projeto, em especial


as ações referentes a Mediação na biblioteca da escola, as crianças são apresentadas a
diversas culturas, destacamos ademais a questão da cultura local, com a apresentação de
cordéis e as oficinas que demonstram o processo de construção desse gênero literário tão
característico do interior do nordeste, que retrata essencialmente as vivências do sertão
nordestino, que está tão próximo e ao mesmo tempo tão distante dessas crianças, esses
aspectos são extremamente importantes para o desenvolvimento da identidade e subjetividade
das crianças no ambiente escolar.

4 - CONCLUSÃO

O presente artigo teve como objetivo investigar como as políticas educacionais


através do projeto Escola Leitora e das ações de Mediação na biblioteca puderam promover a
valorização da cultura, concluímos portanto que através da iniciativa da Secretaria de
Educação do município de Caruaru - PE, de implementar o projeto em questão, mesmo que
com objetivo central de desenvolver o processo de alfabetização e incentivar a leitura dos/as
estudantes, as professoras responsáveis pela a biblioteca e a gestão da escola, demonstraram
preocupação e interesse em abordar as temáticas atinentes à interculturalidade e
democratização da cultura, fazendo surgir as Mediações mensais que retratam através de
oficinas, leitura coletiva, narração de histórias, pintura e atividades lúdicas de alfabetização,
um contato maior e essencial, das crianças com a diversidade cultural brasileira.
Por fim, o Projeto Escola Leitora por meio das ações de Mediação, de fato cumpre
com seu objetivo central voltado para a alfabetização e também, principalmente, corresponde
com o intuito da democratização e equidade na promoção da diversidade cultural no ambiente
escolar, visto que a alteridade que perpassa a escola não pode ser tratada de maneira
homogênea, a subjetividade e identidade de cada cultura deve ser respeitada a fim da escola
compreender as diferenças que transcorre a sociedade plural em que esta encontra-se
incluída.

REFERÊNCIA:

AZEVEDO, Janete M. Lins de. A educação como política pública — 3. ed. —- Campinas, SP
: Autores Associados, 2004. — (Coleção polêmicas do nosso tempo; vol. 56)

DOURADO, Luiz Fernandes. Plano Nacional de Educação: política de Estado para a


educação brasileira. Brasília: Inep, 2016.

GIL, Antonio Carlos et al. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002.

FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 23ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1999.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

HÖFLING, Eloisa de. Estado e políticas (públicas) sociais. Cadernos Cedes, v. 21, p. 30-41,
2001.

LARAIA, Roque de Barros. Cultura: uni conceito antropológico — 14.ed. — Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Ed., 2001

LÓSSIO, Rúbia Aurenívea Ribeiro; PEREIRA, Cesar de Mendonça. A importância da


valorização da cultura popular para o desenvolvimento local. III ENECULT–Encontro de
Estudos Multidisciplinares em Cultura, v. 23, 2007.
LÜDKE, Menga e ANDRÉ, Marli E. D. A. Pesquisa em Educação: abordagens
qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.

RICHARDSON, Roberto Jarry et al. Pesquisa social: métodos e técnicas. São Paulo: atlas,
1985.

SANTOS, Kátia Silva. Políticas públicas educacionais no Brasil: tecendo fios. In: 25º
Simpósio Brasileiro de Política e Administração da Educação. 2º Congresso
Ibero-Americano de Política e Administração da Educação–ANPAE. Políticas Públicas
e Gestão da Educação-construção histórica, debates contemporâneos e novas
perspectivas. Anais... São Paulo–SP. 2011. p. 01-13.

ANEXOS

CARTA DE APRESENTAÇÃO
FICHAS DE ACOMPANHAMENTO
GRELHA DE DADOS

SISTEMATIZAÇÃO DOS DADOS COLETADOS A PARTIR DA ENTREVISTA E


QUESTIONÁRIO COM AS/OS PROFESSORAS/ES – CARUARU/ PE

CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS – DADOS PESSOAIS

RESPOSTAS DE CADA PROFESSORA

PERGUNTAS PROFESSORA 1 PROFESSORA 2

1. Qual o seu nome? D1 D2

2. Qual a sua idade? 62 anos de idade

3. Qual sua formação? Pedagogia com Pedagogia e


Mestrado em Graduação em
Educação. Psicopedagogia
4- Quantos anos na área de 23 anos na área de 20 anos na área de
educação? educação. educação.
5- Quantos anos na gestão? 10 anos na gestão.

ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA

RESPOSTAS DE CADA PROFESSORA

PROFESSOR/A 1 PROFESSOR/A 2
PERGUNTAS

6- Qual sua concepção eu compreendo a diversidade como


sobre a diversidade/ a forma de ser, de estar, das
interculturalidade?
pessoas, dos sujeitos, aí a gente
engloba as questões religiosas,
étnicas, as questões relacionadas à
sexualidade, enfim;
essa diversidade está cada vez mais
presente dentro das escolas e cada
vez mais a gente, enquanto escola,
precisa estudar para poder
contribuir de forma positiva no
processo da formação dessa grande
diversidade que a escola tem por
função incluir;
Apenas realizar a matrícula não é
inclusão, realizar a matrícula é a porta de
entrada do estudante para o mundo do
conhecimento sistemático mas um dos
desafios da escola, é desenvolver
práticas que consigam incluir essa gama
de diversidades que nós temos no espaço
escolar.
7- Qual sua concepção Eu compreendo que a escola A Escola deve usar a
sobre a diversidade/
(desenvolver as competências e diversidade/interculturalidade
interculturalidade sendo
trabalhada nas escolas? habilidades ligadas ao cognitivo) como forma de melhorar, estimular
também tem por função contribuir no o conhecimento dos estudantes,
processo de formação ampla do sujeito, sua autoestima, respeito à leitura
integral; de mundo do outro e não a
Nós nos compomos de várias dimensões segregação. Reconhecer as
e a escola, quando tem essa compreensão diferenças e semelhanças é
e essa concepção, ela se preocupa, ela fundamental para convivermos
reflete, ela procura atender essa bem, promovendo valores como
diversidade dentro desse processo, solidariedade, sororidade, empatia
contribuindo pra que esses sujeitos e respeito aos Direitos Humanos.
avancem nos vários aspectos que lhe
compõem. Então a questão de trabalhar a
cultura, a forma de ser, de pensar, de
estar, respeitar essa diversidade e incluir
isso no dia a dia da escola, faz parte do
processo educativo formal, né, do espaço
educacional.
8- Você acredita que o Sim, com certeza; Acredito que sim, podemos
projeto de mediação é Nós temos um público que, parte dos trabalhar da literatura temas
uma forma de
nossos estudantes, o acesso que eles têm pertinentes usando recursos
promover a
diversidade/ aos livros é a escola, né? Então não há, audiovisuais, estimulando a leitura
interculturalidade? em algumas situações, um mundo de com empréstimos de livros,
possibilidades, de acesso à leitura, dentro clubinhos de leituras etc.
da casa, dentro da família, não há
incentivo. Então é a escola essa porta de
entrada para que esse estudante tenha
acesso a outras culturas, à compreensão
da diversidade enquanto característica
humana, sobretudo brasileira, então com
certeza a mediação é uma das ações que
a escola promove e procura desenvolver;
com certeza, a biblioteca partir de uma
atividade focada, de incentivo à leitura,
de intervenção, porque o momento da
mediação é um momento de intervenção
junto aos estudantes, pode colaborar
significativamente para a compreensão
dos estudantes desse processo, né,
cultural e de grande diversidade
9- Como se deu a Nós temos no município uma política de Em 2007, a professora argentina da
implantação do projeto alfabetização e incentivo à leitura, então ONG Bagulhadores do Mió
na escola?
a secretaria de educação orienta as apresentou o projeto Escola
equipes escolares que promovam, Leitora.
internamente, ações, aí deixam livres,
né?;
Se a gente entende que a biblioteca é um
espaço de disseminação do
conhecimento a gente tem que ver
alguma ação, que essa biblioteca faça um
processo de intervenção no processo
educativo dos estudantes, que não seja
apenas emprestar livros, a gente não
pode compreender a biblioteca apenas
como um espaço de empréstimos, né?
Então a mediação surge dessa
perspectiva, de uma ação mais
direcionada, de uma ação mais
sistemática, que ultrapasse a questão
apenas do empréstimo, mas de um
trabalho educativo que ajude essa
criança a começar a desenvolver sua
concepção e seu aprendizado em cima
das questões que nós encontramos como
importantes para serem trabalhadas, né?
Que ora é sobre a questão da
diversidade, ora é sobre questões
ambientais, ora é sobre a questão do
respeito nas suas várias perspectivas,
enfim, a gente vai elegendo situações e
temáticas que estejam bem em cima das
necessidades da gente também, né.

10- Qual o objetivo do A proposta da mediação é intervir no Apresentar aos estudantes nosso
projeto de mediação? processo de aprendizagem das crianças, acervo, a partir dos anos iniciais,
então a mediação é uma ação estimulando a leitura,
interventiva educativa da professora conhecimento pelos autores,
bibliotecária, de contribuição desse temáticas indígenas, africanas,
espaço significativo para a construção contos, cordéis. Após as
dos conhecimentos dos estudantes e dos mediações, emprestamos dos
reconhecimentos dos vários gêneros e livros.
temáticas trabalhados.

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