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Estudo de

Caso

Problemas e Dificuldades
de Aprendizagem

Professor: Me. Nathalia Barbosa Limeira


Me. Fernanda Regina Cinque de Brito
Unicesumar
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estudo de
caso

Dificuldade na aprendizagem da leitura e da escrita


Bruna é uma criança de 8 anos e está matriculada no segundo ano do Ensino Fundamental
de uma escola pública, no sudoeste do Estado do Paraná. Ingressou na pré-escola aos cinco
anos de idade, até então, ficava com os avós, enquanto os pais trabalhavam. Em 2010, apresen-
tou muita dificuldade, e a família, juntamente com a equipe pedagógica da escola, resolveu
não inserir a menina no terceiro ano, pois, ao final do segundo ano, não estava alfabetizada.
A criança foi encaminhada ao atendimento psicopedagógico pela professora da escola,
com autorização da pedagoga e da família, por apresentar dificuldade de aprendizagem
na linguagem escrita e na leitura. Isso ocorreu em meados de 2011, quando optou-se pela
entrevista com o familiar mais próximo da criança, ou seja, anamnese, por considerar uma
ferramenta importante no processo de avaliação. Na entrevista, a psicopedagoga recebeu in-
formações importantes do histórico de vida da menina, bem como da dinâmica familiar. Foi
investigado como foi a gestação da mãe, o nascimento da criança, o desenvolvimento nos
diferentes aspectos (emocionais, sociais e escolares), dentre outros.
A queixa inicial apresentada pela mãe da criança era a seguinte: “A escrita de Bruna é muito
ruim, muitas palavras escritas incorretamente”, além disso, “a leitura é horrível”. A mãe relatou
que, a partir da conversa com a professora, esta disse que Bruna não estava acompanhando os
conteúdos, conversava durante as aulas e não tinha interesse em fazer as atividades propos-
tas. Como sempre, estava atrasada na realização das atividades, Bruna ficava sem intervalo e
era obrigada a ir à biblioteca ler um texto, ou fazer atividade escrita, o que desmotivava ainda
mais a criança em relação à aprendizagem. Não tinha interesse no processo de ler e escrever.
A mãe relatou, ainda, que no ano anterior, Bruna foi encaminhada para um neuropedia-
tra porque a professora disse à família que a menina, possivelmente tinha Dislexia, e a falta
de interesse e atenção seria Transtorno de Déficit de Atenção.
A partir do diagnóstico emitido pela professora, a família, no início de 2011, buscou uma
confirmação com um especialista na área médica, que se baseou no relato da professora e
confirmou que se tratava de transtorno da leitura e escrita, de base neurológica. Para auxi-
liar, receitou medicação. A família considerou a possibilidade de buscar outra opinião médica
e, para a surpresa, fora informada de que Bruna não apresentava transtorno, que deveriam
realizar uma avaliação psicopedagógica e um acompanhamento desta área para averiguar
outros fatores, e não apenas o biológico, e souberam também que o diagnóstico não é feito
pelo professor.
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Como a família não viu melhora na aprendizagem da filha e pelas contínuas reclamações
da professora pelo mau comportamento e dificuldades de Bruna, resolveu tentar a avaliação
psicopedagógica, principalmente após a última conversa com a professora, pois já estava
no meio do ano letivo e, se Bruna continuasse do mesmo jeito, possivelmente, seria retida
novamente.
A partir da anamnese, foram feitas sessões lúdicas, centradas na aprendizagem, e optou-
-se também pela aplicação de alguns testes e provas pedagógicas e psicopedagógicas, por
compreender que as provas podem ser utilizadas para perceber o desenvolvimento emo-
cional e cognitivo da criança. Iniciou-se pelo teste de discriminação auditiva, que consiste
na leitura de 60 pares de palavras feitas pelo examinador, sendo algumas iguais, outras não.
Esse teste foi feito, e a possibilidade de um possível problema auditivo foi descartado. Assim,
o próximo passo foi observar a suspeita levantada em relação ao Transtorno de Déficit de
Atenção. Foram realizadas algumas atividades para observar o comportamento da criança e
se constatou que a menina não tinha o transtorno mencionado, já que conseguiu manter a
concentração durante as atividades, apesar das dificuldades de escrita e na linguagem oral.
A psicopedagoga observou que Bruna, além de apresentar uma escrita com muitos erros,
também tinha uma linguagem oral ruim, com vocabulário restrito. Durante a realização das
provas, questionava o significado de muitas palavras simples, o que chamou atenção da psi-
copedagoga. Passou-se, então, para a aplicação de outros testes, especificamente, escrita e
leitura, quando foi aplicada a Avaliação de Dificuldade da Escrita (ADAPE), proposta por Sisto
(1998), que consiste no ditado de um texto. Das 114 palavras do texto, sendo 60 palavras com
maior grau de dificuldade, Bruna errou 40 palavras.
Para confirmação das hipóteses levantadas em relação às dificuldades de aprendizagem,
solicitou à criança a produção de um pequeno texto sobre algo que tinha feito no final de
semana. A partir da análise do texto, constatou-se que Bruna não tinha domínio da ortogra-
fia das palavras e apresentava falta de clareza e coerência das ideias.
No momento da prova de leitura, Bruna ficou muito apreensiva, já que não queria fazer
a leitura. A psicopedagoga incentivou a leitura, contudo a menina estava muito retraída e
apreensiva. Resolveu, então, perguntar, o motivo por que não queria ler e explicou que ela
não precisava ter vergonha pelos possíveis erros. Bruna relatou que tinha medo de ler, prin-
cipalmente, depois de a professora chamar sua atenção na frente de todos os colegas sobre
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sua linguagem oral. Em uma leitura coletiva, Bruna não conseguiu ler, e a professora a ridi-
cularizou por isso. Após este relato, a psicopedagoga questionou se tinha acontecido outra
situação em que sentiu vergonha. A menina respondeu que sim, que a professora sempre
dizia que ela era a mais atrasada da turma. Disse também que a professora não gostava dela e
relatou que, em uma ocasião, tentou fazer a leitura, e como não conseguiu finalizar começou
a chorar, e a professora disse que ela não era um bebê para chorar e, se continuasse voltaria
para a Educação Infantil. Depois desse dia, Bruna sentia pavor, quando tinha que ler. Após in-
centivo da psicopedagoga, Bruna fez a leitura de um texto simples e curto. As dificuldades na
leitura foram evidentes, confirmando que não conhecia muitas palavras. A menina leu palavra
por palavra, sílaba por sílaba.
Após a realização das provas, verificou-se que Bruna não tinha um vínculo relativamente
bom com a aprendizagem, possivelmente, pelo fato de não ter o desejo de aprender, este foi
tolhido pela metodologia inadequada utilizada pela professora da sala, bem como a relação
estabelecida entre alunos e professora. Por outro lado, o vínculo afetivo na família era bom,
apesar do pouco tempo que passava com a família, pois os pais trabalhavam muito, e os
momentos em que estavam juntos eram raros, sobretudo, no acompanhamento das tarefas
escolares. Geralmente, Bruna realizava as tarefas sozinha, às vezes, o pai ajudava, mas pouco,
pois não tinha paciência e, por isso, fazia as tarefas para Bruna.
Com estas informações, verificou-se que Bruna apresentava atitude de baixa autoestima
em relação à aprendizagem, pois não foi estabelecida uma relação adequada para isso. No
entanto não se tratava de dislexia e transtorno de déficit de atenção, e sim de um conjunto
de fatores extrínsecos, que com tratamento adequado, seriam extintos e para isso, seria ne-
cessária a parceria entre escola e família.
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Referência
SISTO, F. F; Dificuldades de aprendizagem. In: SISTO et al. Dificuldades de Aprendizagem
no Contexto Psicopedagógico. 3. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1998.

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