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Universidade de Taubaté - UNITAU

MPE - Linha 3: Práticas Pedagógicas para Equidade


Cursista: Josimary de Oliveira Pinto
Professoras: Profa. Dra. Maria Cristina P. V. Cunha e Profa. Dra. Cleusa Vieira da Costa
Entrega 1 – TELEFONEMA PARA UM RESPONSÁVEL DE ALUNO - 21/10/23

- Identificação
Escola: EE Prof. Rubens Zamith, Pindamonhangaba-SP – Programa de Ensino
Integral
Aluno: Caio José de Freitas Lúcio – 14 anos. Turma: 8º ano C – Ensino Fundamental
Contactante: Josimary de Oliveira Pinto – Coordenadora Pedagógica Geral

- Introdução
Este relato tem por objetivo descrever a reação de um familiar de aluno a um
telefonema positivo sobre ele.

- Justificativa da escolha
O estudante Caio José está matriculado nesta escola desde o 6º ano do ensino
fundamental. Ele possui Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e
um histórico de ter notas medianas ou baixas. Apesar de ser um aluno muito perspicaz,
com um raciocínio lógico bom e falas bem colocadas, Caio presenta dificuldades na
maioria das disciplinas, devido a ter o tipo combinado de TDAH, o que lhe faz se
distrair com facilidade e precisar estar sempre conversando para autorregulação, ao
mesmo tempo que tem dificuldades para fazer os registros escritos no caderno e de se
distrair constantemente com jogos no celular precisando ser constantemente advertido
pelos professores. Ele era mais participativo na oralidade anteriormente, porém
ultimamente demonstra pouca participação nas aulas. Se distrai muitas vezes com o
celular e nem sempre conclui as atividades. Como atuo na coordenação pedagógica
desde sua entrada na escola, já precisei conversar com o aluno sobre seus
comportamentos em sala e sobre a realização das atividades e contactar a mãe, Sra.
Andressa, algumas vezes. Ela se comporta sempre na defensiva durante as
conversas, expõe que lidar com a situação do distúrbio de desenvolvimento
neurológico de seu filho não é tarefa fácil. Que ele é muito direto em suas falas
(comportamento típico causado pelo TDAH) e isso aparenta para as pessoas como
grosseiro e dificulta a comunicação assertiva, ela o descreve também como teimoso.
Ela busca apoio na rede pública de saúde, mas não consegue todos os tratamentos
necessários, como o atendimento psicológico e por vezes, nem os medicamentos. Ela
possui mais um filho, menor que Caio e um segundo relacionamento. O pai biológico
de Caio não é presente em sua vida e o relacionamento com o padrasto não é
amigável. Embora com todos os desafios que enfrenta, em casa e na escola, o
estudante evoluiu em suas notas na avaliação externa Prova Paulista obtendo a
porcentagem de acertos nos três bimestres respectivamente em Matemática de 30%,
65% e 75%, Geografia 40%, 60% e 80% e sendo o melhor aluno em Matemática e
Geografia da sua turma nessa avaliação. Em Português obteve 84%, 40% e 50%,
História 50%, 20% e 50% e em Ciências 43%, 53% e 53%. Embora nas disciplinas de
Linguagens, Ciências e História tenha caído seu rendimento bimestral, em Matemática
e em Geografia ele evoluiu bem, assim como seu engajamento nas disciplinas de
Tecnologia e de Projeto de Vida foi bem avaliado pelos professores. Estes também
comentaram no conselho de classe que ele melhorou seu humor e sua comunicação,
sendo mais polido em suas falas.

- Descrição da ligação
No dia dezessete de outubro de 2023 liguei para a senhora Andressa, mãe de Caio,
por volta das 8h50 da manhã. Ela atendeu prontamente e ouviu as colocações
positivas em relação ao desempenho dele em Matemática e Geografia na Prova
Paulista. Após a minha explanação ela rapidamente comentou que ele havia dito que
“não tinha passado na prova”, confundindo com a Olimpíada Brasileira de Matemática
(OBMEP), mas esclareci do que se tratava. Ela ficou feliz com o relato, disse que ele
comentou que não havia ido bem em História neste bimestre, apesar de ser uma das
disciplinas que ele mais gosta e entende bem e que comenta com ela em casa sobre
as aulas, mas que devido a uma viagem da família ele perdeu algumas aulas e acabou
não entregando um trabalho e por isso a média não foi muito boa. Comentei que os
professores apontaram uma melhora no comportamento dele na escola e ela disse que
há quatro meses, além da Ritalina, medicação para melhorar o foco, a psiquiatra com
quem faz acompanhamento periódico bimestral também iniciou tratamento com um
medicamento que age como estabilizador de humor e que em casa ele também está
mais calmo. A mãe comentou que ele está prestes a terminar um curso de manutenção
de hardware e que tem se dado bem, tem gostado e até ajudado os colegas de curso
nas atividades, a mãe até indicou que ele treinasse consertando aparelhos de
conhecidos. A pedido da psiquiatra, ela limitou o uso do celular para ele e isto tem dado
efeito positivo na atenção em casa e na escola. A medicação para humor também teve
efeito positivo na comunicação com os colegas, professores e familiares. Ele ainda não
conseguiu melhorar a sua caligrafia, sua letra é quase ilegível, mas tanto a mãe quanto
os professores perceberam uma melhora no envolvimento nas atividades escolares,
ainda que pequena e mais concentrada na oralidade. Ela comentou que ele a ajuda no
comércio da família, por vezes ficando no caixa e que suas anotações não são
compreensíveis, por isso ela solicita que ele tenha atenção e que se esforce para
melhorar a letra, embora fique feliz pelo fato dele ter um bom raciocínio matemático nos
cálculos necessários do caixa. Ela comentou que Caio estava faltando neste dia devido
à consulta com a psiquiatra, mas que ele iria no dia seguinte. Disse também que ficou
feliz com a ligação para informar sobre os avanços dele e pediu apoio na questão da
escrita dele, sugeriu que continuássemos passando tarefas de caligrafia e que
continuássemos a manter contato sobre os avanços.

Considerações finais
Realizar esta tarefa foi uma experiência nova, pois, infelizmente, no cotidiano da nossa
rotina escolar apenas entramos em contato com as famílias dos estudantes quando
algo não vai bem ou nos momentos pré-determinados das reuniões bimestrais. Fiquei
um pouco receosa da reação da mãe com a ligação devido a já ter uma experiência
anterior na qual ela demonstrou uma grande angústia em relação à situação do filho e
descontentamento com seus comportamentos e resultados escolares, até mesmo de
desapontamento com a escola. Porém, durante a conversa de aproximadamente 10
minutos, tive um sentimento de alegria em perceber tanto os avanços do Caio, que
além de conviver com os entraves e limitações do transtorno de desenvolvimento
também enfrenta desafios no seio familiar e de convivência na escola, como também
percebi uma fala de esperança da mãe que hoje vislumbra um futuro melhor para seu
filho. Durante a semana, o estudante participou um pouco mais das aulas, de acordo
com o relato dos professores, e me procurou com seu caderno de caligrafia para que
lhe passasse mais tarefas. Considero que foi um primeiro passo de muitos que nossa
equipe irá dar em direção a uma educação que possa olhar mais para os avanços e
potencialidades de cada estudante.

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