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VASCULARIZAÇÃO

DO SNC E AVE
Material introdutório para aula em parceria
Neurocurso e LANAC, em 28/07/2020, às 19h
Neurocurso e LANAC Vascularização do SNC e AVE

Novamente, reiteramos nossa felicidade por seu interesse na


aula. Como recompensa, você está recebendo esse material para te
introduzir ao estudo da Vascularização do Sistema Nervoso Central.
Consideramos que este assunto representa a parte mais
relacionada à clínica da neuroanatomia, pois cada trecho que
estudamos é relacionado a alguma situação clínica.
Durante a aula, aprenderemos na prática a examinar as
principais alterações presentes nos Acidentes Vasculares Encefálicos.
Após ler este material, sugerimos que você busque responder
à lista de questões, que disponibilizamos por e-mail para os inscritos.
No LANACshop, você encontrará também uma apostila
aprofundada e uma lista de questões mais extensa, incluindo a
anatomia microcirúrgica arterial, o estudo do AVE, dos aneurismas e
da Hipertensão Intracraniana.
Esperamos você na aula, no dia 28 de julho, às 19h!
Fábio Serra e equipe LANAC-Neurocurso
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Neurocurso e LANAC Vascularização do SNC e AVE

VASCULARIZAÇÃO
DO SNC
Artérias, artérias, artérias

O encéfalo , apesar de representar apenas 2% da massa


corporal, recebe 15% do fluxo sanguíneo, consumindo
20% do oxigênio disponível. Além disso, é bastante restrito
o tempo que as estruturas nervosas podem ficar sem
oxigênio, sendo as mais recentes filogeneticamente as mais
exigentes por esse nutriente. O fluxo sanguíneo cerebral é
diretamente proporcional à diferença entre pressão arterial
e a pressão venosa, e inversamente proporcional à
resistência cerebrovascular (RCV). Esta depende da(o):
a) Pressão intracraniana (PIC): pode aumentar por
processos expansivos, pela compressão da V.
jugular interna (estase). Sintomas principais são
cefaleia, náusea/vômitos e papiledema (o N. óptico
é envolvido por prolongamento do espaço
subaracnoideo, a HIC, então, pressiona o N. óptico,
obliterando a V. central da retina, resultando em
ingurgitamento das veias da retina). Podem ocorrer
herniações, e.g. uncais, tonsilares
b) Condição da parede vascular: arteriosclerose
aumenta a RCV

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c) Viscosidade do sangue: pode estar alterada na


policitemia, na anemia
d) Calibre dos vasos cerebrais: controlado por fatores
humorais (principalmente CO2, vasodilatador) e
nervosos (autônomo do vaso nervosum)

A irrigação do encéfalo é feita pelas Aa. carótida


interna e vertebral, que formam um circuito anastomótico
na base do crânio, o polígono de Willis, não havendo, pois,
um hilo. As artérias cerebrais têm, de modo geral,
1. Paredes mais finas —> maior risco de hemorragia
2. Menos músculo liso na túnica média
3. Mais fibras elásticas na túnica elástica interna —>
proteção do tecido nervoso contra choque da onda
sistólica
4. Percurso mais tortuoso
5. Líquor circundando milímetros iniciais nos espaços
perivasculares

A Artéria carótida interna é ramo da A. carótida


comum e penetra o crânio através do canal carotídeo do
osso temporal, atravessa o seio cavernoso, no interior do
qual descreve curva dupla (sifão carotídeo). Ao seu final,
bifurca-se em Aa. cerebrais anterior (ACA) e média (ACM),
mas, antes disso, emite (o que ela emite é algo já
aprofundado):
A. oftálmica: emerge, assim que a carótida atravessa
a dura-máter, abaixo do processo clinoide anterior. Irriga
bulbo ocular e anexos;

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A. comunicante posterior (ACoP): forma anastomose


com a A. cerebral posterior, contribuindo para o polígono
de Willis;
A. corioidea anterior: dirige-se para trás, seguindo o
trato óptico, mas logo penetra o corno inferior do ventrículo
lateral (através ponto corioide inferior, junto com a V.
interventricular inferior). Irriga plexo corioide e parte da
cápsula interna, núcleos da base e diencéfalo.

Figura 1. Arteriografia carotídea em incidência lateral. ACA = cerebral anterior;


RACM = ramos da cerebral média; ACI = carótida interna; SC = sifão carotídeo;
AO = occipital, ramo da carótida externa. Fonte: Cabral Filho In: Machado

A Artéria vertebral é um ramo da A. subclávia, sobe


no pescoço através dos forames transversários de C6 até
C1, onde faz curva para posterior. Aloja-se no sulco da
artéria vertebral do arco posterior do Atlas (nesse caminho,
um ligamento pode se ossificar formando o canal
retroarticular) até fazer nova curva para superior, quando

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perfura a membrana atlantoccipital, dura-máter e


aracnoide, a nível do forame magno.

Já na face ventral do bulbo, as Aa. vertebrais emitem


2 Aa. espinais posteriores e 1 A. espinal anterior, as quais
têm trajeto descendente, para suprir a medula espinal. Mais
acima, as Aa. emite as Aa. cerebelares posteriores inferiores
(PICA), antes de se unirem para formar a A. basilar, que se
bifurca nas duas Aa. cerebrais posteriores (ACP), após
emitir:
A. cerebelar inferior anterior (AICA): supre parte
anterior da face inferior do cerebelo
Ramos pontinos: pequenos ramos que suprem a face
anterior da ponte
A. do labirinto: penetra o meato acústico interno,
junto aos Nn. facial e vestibulococlear; supre orelha interna
A. cerebelar superior: nasce da basilar, exatamente
atrás das A. cerebral posterior. Supre mesencéfalo e parte
superior do cerebelo

O polígono de Willis se localiza na base do crânio,


onde circunda quiasma óptico e túber cinéreo e se
relaciona à fossa interpeduncular. É formado pelas Aa.
comunicantes anterior e posteriores e pelas porções
proximais das Aa. cerebrais anteriores, médias e
posteriores. As ACoPs comunicam cada A. carótida interna
à ACP ipsilateral, embora não tenha grande fluxo em
condições normais, mas podem permitir o fluxo de sangue
no caso de obstrução. As ACA, ACM e ACP emitem ramos
corticais (córtex) e ramos centrais (fibras subjacentes),
s e n d o e s t e s e m e rg e n t e s d o c i rc u i t o a r t e r i a l e
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colaboradores no suprimento de núcleos da base,


diencéfalo e cápsula interna.

Figura 2. Arteriografia evidenciando o polígono de Willis

Quando se retira a pia-máter, mantêm-se orifícios,


nas áreas chamadas substância perfurada, anterior e
posterior. Esses orifícios da substância perfurada anterior
são os locais de penetração das Aa. estriadas, os ramos
centrais da ACM que vão suprir corpo estriado e cápsula
interna (lembrar do trato piramidal).

Diferentemente dos ramos centrais, os ramos


corticais das ACA, ACM e ACP possuem anastomoses,
embora sejam insuficientes para circulação colateral
adequada, em caso de obstrução. As artérias cerebrais
suprem:

ACA: face medial do cérebro, do polo frontal até o


sulco parieto-occipital, além da parte mais superior da face
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superolateral. Lesão causa hemiparesia (ou hemiparalisia) e


hemiparestesia contralaterais de predomínio talocrural
(lóbulo paracentral);

ACM: percorre fissura Sylviana em toda a extensão


para suprir quase toda a face dorsolateral do cérebro. Lesão
causa sintomatologia assaz rica, e.g/ paralisia e parestesia
contralaterais e afasia, geralmente sendo grave por afetar
Aa. estriadas (núcleos da base e cápsula interna);

Figura 3. Vascularização da face dorsolateral do telencéfalo

ACP: ramos da bifurcação da A. basilar, seguem para


trás, contornam o pedúnculo cerebral, percorrem a face
medial do lobo temporal (lembrar do hipocampo) e ganham
o lobo occipital. Lesão causa cegueira em parte do campo
visual, visto que é o principal suprimento do occipital e do
sulco calcarino.

As veias do encéfalo geralmente não acompanham


as artérias, são mais calibrosas e drenam para os seios da
dura-máter, de onde convergem para o bulbo da jugular
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Figura 4. Vascularização da face medial do telencéfalo

interna. Os seios também drenam o couro cabeludo, por


receber as Vv. emissárias que atravessam os forames
emissários. As paredes das veias encefálicas são finas e
com pouca musculatura, tendo regulação ativa por meio
da:
1. Aspiração da cavidade torácica: pressão subatmos-
férica (“negativa”) da cavidade
2. Gravidade: torna desnecessária a presença de
válvulas
3. Pulsação de artérias em cavidade fechada: mais
eficiente no seio cavernoso, pela força expansiva da
A. carótida interna

A circulação venosa é muito lenta, e sua pressão é


muito baixa, devido à grande distensibilidade. O sistema
venoso superficial drena o córtex e a substância branca
subjacente, através das Vv. cerebrais superficiais, que
desembocam nos seios da dura-máter, havendo distinção
entre Vv. cerebrais superficiais superiores e inferiores. O
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sistema venoso profundo drena o central core (corpo


estriado, cápsula interna, diencéfalo e grande parte do
centro branco medular do cérebro).
Vv. cerebrais superficiais superiores: vêm da face
medial e da metade superior da face dorsolateral para
desembocar no seio sagital superior
Vv. cerebrais superficiais inferiores: provêm da face
inferior e da metade inferior da face dorsolateral, para
terminar nos seios da base (petroso superior e cavernoso) e
no seio transverso. A principal superficial inferior é a V.
cerebral média superficial, que percorre a fissura sylviana e
geralmente termina no seio cavernoso
V. cerebral magna (de Galeno): principal veia do
sistema profundo, é um curto tronco venoso ímpar e
mediano, formado pela confluência das veias cerebrais
internas e que desemboca no seio reto

Injetando-se contraste na A. vertebral ou na A.


carótida interna e se tirando uma sequência de radiografias,
pode-se ver em tempos sucessivos as artérias, veias e seios
do encéfalo. Atualmente, as angiografias são
preferencialmente feitas por RM, podendo diagnosticas
aneurismas, malformações arteriovenosas, tromboses,
embolias, hemorragias, lesões traumáticas e outras lesões.

A medula espinal é suprida principalmente pelas Aa.


espinais anterior e posteriores e pelas Aa. radiculares
A. espinal anterior: recebe dois curtos ramos das Aa.
vertebrais e percorre a fissura mediana anterior até o cone
medular. Vasculariza colunas e funículos anterior e lateral
da medula
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ramos (Figura 4)30,31
ortância anatômica da drenagem
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ema arterial (Figura 3) e não será
Aa. espinais posteriores: ramos das Aa. vertebrais
correspondentes, contornam o bulbo dorsalmente para
descer medialmente aos filamentos radiculares das raízes
28posteriores dos nervos espinais. Vascularizam coluna e
.
funículo posterior da medula
la espinhal na Aa.
alturaradiculares:
torácica, ela derivadas das Aa. segmentares do
pescoço e do tronco (tireoidea inferior, intercostais,
lombares e sacrais), entrando no canal medular, junto com
os nervos espinais, através dos forames interventriculares.
Dão origem à Aa. radiculares anterior e posterior, que
Figura 3. Drenagem venosa medular.
seguem as raízes correspondentes.
Anastomoses: Aa.
radiculares anteriores se
unem à espinal anterior,
enquanto as radiculares
posteriores se unem à
espinais posteriores
correspondente

quemático do suprimento sanguíneo da

Figura 5. Vascularização
da medula espinal. Fonte:
CAMPOS, 2015

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a irrigação medular arterial, evidenciando Figura 4. Rede de colaterais: artérias subclávias, hipogástrica
wicz. intercostais e lombares.
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PARA COMPLEMENTAR
Livros de Referência
1) Neuroanatomia Funcional, Ângelo, 3ª ed. Cap. 9, pág. 83-90
2) Neuroanatomia Aplicada, Meneses, 3ª ed., Cap. 23, pág. 295-315

Artigos
1) AMATO, Alexandre Campos Moraes; STOLF, Noedir Antônio Groppo.
Anatomia da circulação medular. Jornal Vascular Brasileiro, [s.l.],
v. 14, n. 3, p. 248-252, set. 2015. FapUNIFESP (SciELO). http://
dx.doi.org/10.1590/1677-5449.0004.
2) KOH, Seong-ho; PARK, Hyun-hee. Neurogenesis in Stroke Recovery.
Translational Stroke Research, [s.l.], v. 8, n. 1, p. 3-13, 18 mar. 2016.
Springer Science and Business Media LLC. http://dx.doi.org/
10.1007/s12975-016-0460-z.

Como bônus, deixaremos também para os inscritos um material


sobre meninges, abaixo encontrado. Embora não seja o foco da aula,
imaginamos que possa ser do interesse dos inscritos aprender sobre
elas.
O Neurocurso e a LANAC têm prazer por falar em
Neuroanatomia e fica sempre contente em poder compartilhar
conhecimento com nossos seguidores!
Boa leitura!

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MENINGES
Seios, granulações e pia

O nosso sistema nervoso central é envolvido por


membranas conjuntivas, denominadas meninges, e
que são três: dura-máter, aracnoide e pia-máter.
O conhecimento da estrutura e disposição das
meninges é muito importante, não só para a compreensão
de seu importante papel de proteção dos centros nervosos,
mas também porque elas podem ser acometidas por
processos patológicos, como infecções ou tumores.

Figura 1. Estratificação da pele ao córtex cerebral (Fonte: Pearson)

Passaremos a estudar agora as principais estruturas


de cada uma das meninges.

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DURA-MÁTER
A meninge mais superficial é a dura-máter , espessa e
resistente, formada por tecido conjuntivo muito rico em
fibras colágenas, contendo vasos e nervos.

A dura-máter do encéfalo difere da dura-máter


espinal por ser formada por dois folhetos, externo e interno,
dos quais apenas o interno continua com a dura-máter
espinal. O folheto externo adere intimamente aos ossos do
crânio e comporta-se como periósteo destes ossos. Ao
contrário do periósteo de outras áreas, o folheto externo da
dura-máter não tem capacidade osteogênica, o que
dificulta a consolidação de fraturas no crânio e torna
impossível a regeneração de perdas ósseas na abóbada
craniana.

A dura-máter, em particular seu folheto externo, é


muito vascularizada. No encéfalo, a principal artéria que
irriga a dura-máter é a artéria meníngea média, ramo da
artéria maxilar interna.

A dura-máter, ao contrário das outras meninges, é


ricamente inervada. Como o encéfalo não possui
terminações nervosas sensitivas, toda a sensibilidade
intracraniana se localiza na dura-máter e nos vasos
sanguíneos, responsáveis, assim, pela maioria das dores de
cabeça.

Os seios da dura-máter são canais venosos


revestidos de endotélio e situados entre os dois folhetos
que compõem a dura-máter encefálica. O sangue
proveniente das veias do encéfalo e do globo ocular é

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drenado para os seios da dura-máter e destes para as veias


jugulares internas.

Os seios podem ser divididos em:


Seios da Abóbada Seios da Base

Seio sagital superior Seio cavernoso

Seio sagital inferior Seios intracavernosos

Seio reto Seio esfenoparietal

Seio transverso Seio petroso superior

Seio sigmoide Seio petroso inferior

Seio occipital Plexo basilar

Figura 2. Seios venosos da dura máter

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ARACNOIDE
Membrana muito delicada, justaposta à dura-máter,
da qual se separa por um espaço virtual, o espaço subdural.
A aracnoide separa-se da pia-máter pelo espaço
subaracnóideo, que contém o líquido cerebrospinal, ou
líquor; havendo ampla comunicação entre o espaço
subaracnóideo do encéfalo e da medula
Consideram-se também como pertencendo à
aracnoide as delicadas trabéculas que atravessam o espaço
para se ligar à pia-máter, e que são denominadas trabéculas
aracnóideas.
Em alguns pontos a aracnoide forma pequenos tufos
que penetram no interior dos seios da dura-máter,
constituindo as granulações aracnóideas, mais abundantes
n o s e i o s a g i t a l s u p e r i o r. E s t a s e s t r u t u r a s s ã o
admiravelmente adaptadas à absorção do líquor que, neste
ponto, cai no sangue. Sabe-se hoje que a passagem do
líquor através da parede das granulações se faz por meio de
grandes vacúolos, que o transportam de dentro para fora.

PIA-MÁTER
A pia-máter é a mais interna das meninges, aderindo
intimamente à superfície do encéfalo e da medula, cujos
relevos e depressões acompanha, descendo até o fundo
dos sulcos cerebrais.
A pia-máter acompanha os vasos que penetram no
tecido nervoso a partir do espaço subaracnóideo, formando
a parede externa dos espaços perivasculares. Nestes
espaços existem prolongamentos do espaço

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subaracnóideo, contendo líquor, que forma um manguito


protetor em torno dos vasos, muito importante para
amortecer o efeito da pulsação das artérias ou picos de
pressão sobre o tecido circunvizinho.

Figura 3. Granulações Aracnoideas (Fonte: Netter)

PARA COMPLEMENTAR
Livros de Referência
1) Neuroanatomia Funcional, Ângelo, 3ª ed. Cap. 8, pág. 71-81
2) Neuroanatomia Aplicada, Meneses, 3ª ed., Cap. 7, pág. 72-79

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