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1 - Aquele que paga indevidamente o agente policial em troca de sua omissão

pratica o delito de corrupção ativa, previsto no art. 333 do CP, tipificado pela
conduta de oferecimento ou promessa de vantagem indevida a funcionário
público a fim de influencia-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício. Para
que o crime seja consumado basta apenas que a conduta de oferecer ou
prometer vantagem indevida seja dirigida a um funcionário público com o intuito
de corrompê-lo, não sendo necessário que o mesmo aceite.
Caso o agente público aceite receber a vantagem, este comete o delito de
corrupção passiva, disposto no art. 317 do Código Penal. Tal delito só pode ser
praticado por funcionário público e configura-se em troca de algum tipo de favor
ou benefício ao particular, podendo ter aumento de pena de acordo com o § 1º
do mesmo artigo.
Epaminondas cometeu o delito de facilitação de contrabando ou descaminho
(art. 318 do CP) configurado pela intenção de facilitar que o particular viole a lei
penal.
Ambas as três condutas são apuradas mediante ação penal pública
incondicionada, no entanto, as condutas tipificadas nos art. 317 e 318 do CP
são praticadas exclusivamente por funcionário público contra a administração
em geral, enquanto que a tipificada no art. 333 é praticada por particular.
2 – Ambos tratam-se de crime próprio com finalidade de patrocinar o
interesse privado no âmbito administrativo. No entanto, a distinção entre o
crime de patrocínio de contratação indevida e o crime de advocacia
administrativa, consiste no fato de que no patrocínio não é necessário que o
agente se utilize da sua condição de funcionário público para praticar o ato,
havendo somente, a necessidade de que haja a posterior invalidação judicial
da contratação ou licitação ilegítima.
3 - Epaminondas praticou o delito de corrupção passiva com aumento de pena,
segundo o art. 317, § 2° do CP, que para sua configuração exige que o
funcionário público efetivamente pratique ou deixe de praticar o ato em razão
da vantagem ou promessa de vantagem recebida, aumentando-se a pena em
1/3.
Trata-se de habeas corpus impetrado contra acórdão proferido pela Corte
Especial do Superior Tribunal de Justiça – STJ, que julgou parcialmente
procedente a Ação Penal 841/DF, de relatoria do Ministro Herman Benjamin.
Consta dos autos que o paciente foi condenado à pena de 5 anos, 5 meses e
10 dias de reclusão, em regime inicial semiaberto, pela prática do crime de
corrupção ativa, previsto no art. 333, parágrafo único, do Código Penal (pág.
33 do doc. eletrônico 5). Eis a ementa desse julgado, na parte alusiva ao
paciente: “PENAL E PROCESSUAL PENAL. […]. CORRUPÇÃO ATIVA E
PASSIVA. VENDA DE LIMINARES EM PLANTÕES JUDICIAIS.
OFERECIMENTO E SOLICITAÇÃO DE VANTAGENS CONFIRMADAS POR
MENSAGENS DE TEXTO TROCADAS ENTRE OS ACUSADOS E
CONFIRMADAS PELA EFETIVA CONCRETIZAÇÃO DAS LIMINARES
PROMETIDAS. TESE DA DEFESA DE QUE NÃO CONFIGURA
CORRUPÇÃO QUANDO A EXISTÊNCIA DO EFETIVO PAGAMENTO,
TAMPOUCO OS INTERVENIENTES, NÃO É DEMONSTRADA.
PARTICIPANTES BEM DELIMITADOS. PARA QUE SE CONFIGURE O TIPO
PENAL DO ARTIGO 317 DO CÓDIGO PENAL, NÃO É NECESSÁRIO QUE
SE COMPROVE A FORMA COMO O PAGAMENTO ACONTECEU OU OS
REAIS VALORES CREDITADOS AOS CORRUPTORES PASSIVOS, SENDO
SUFICIENTE PROVA DE QUE A VANTAGEM FOI SOLICITADA.
CARACTERIZAÇÃO DE CORRUPÇÃO PASSIVA QUE DISPENSA A
EXIGÊNCIA DA EFETIVA PRÁTICA DE ATO DE OFÍCIO, O QUE
CONSTITUI CAUSA DE AUMENTO DE PENA, PREVISTA NO § 1.º DO
ARTIGO 317 DO CÓDIGO PENAL. CONFORME PRECEDENTE DO E. STF,
NOS CRIMES DE CORRUPÇÃO PASSIVA NÃO HÁ NEM MESMO
NECESSIDADE DE QUE O CORRUPTOR ATIVO SEJA IDENTIFICADO,
EMBORA NESTE CASO ESTEJAM APONTADOS E FIGUREM COMO
CORRÉUS. CONDENAÇÃO INAFASTÁVEL. FIXAÇÃO DA PENA.
DOSIMETRIA. PERDA DO CARGO PÚBLICO, COMO EFEITO DA
CONDENAÇÃO. APOSENTADORIA COMPULSÓRIA COMO PENA
ADMINISTRATIVA QUE NÃO AFASTA A NECESSIDADE DE QUE A
CONDENAÇÃO PENAL DECRETE A PERDA DO CARGO PÚBLICO.
EXPEDIÇÃO DE MANDADOS DE PRISÃO. PERDA DO PRODUTO DO
CRIME. MANUTENÇÃO DO AFASTAMENTO CAUTELAR DO
MAGISTRADO, ATÉ O TRÂNSITO EM JULGADO. […] AUTORIA EM
RELAÇÃO A SÉRGIO ARAGÃO QUIXADÁ FELÍCIO 75. SÉRGIO ARAGÃO
impetrou o HC 0003001-97.2013.8.06.0000 no plantão de CARLOS FEITOSA
de 7 de julho de 2013, em favor de Francisco Augusto Pereira de Araújo (fls.
857/858 do apenso 29), obtendo liminar de soltura. De acordo com a
Informação 121/2015 da Polícia Federal, confeccionada a partir do Laudo
0784/2015, houve prévia negociação entre SÉRGIO ARAGÃO e FERNANDO
FEITOSA, conforme captação de conversa realizada pelo aplicativo Skype.
76. Em 20 de junho de 2013, SÉRGIO ARAGÃO indagou a FERNANDO
FEITOSA se possuía contato na 3ª Vara do Júri. Em resposta, disse
FERNANDO: não não, juri eu não atuo nem nunca fiz nada meu amigo. Após
a negativa, FERNANDO FEITOSA e SÉRGIO ARAGÃO passam a traçar
estratégia para que a situação fosse resolvida no plantão de CARLOS
FEITOSA. Sugeriu FERNANDO FEITOSA: se o cara tá preso, entra com a
liberdade provisória e vai ser negada aí você aguarda um plantão do TJ, que
aí dá mais certo pra soltar, o que foi prontamente aceito por SÉRGIO
ARAGÃO (vou fazer isso – fl. 470 do Apenso 28). Na sequência, a fala de
FERNANDO: agora em julho, não sei o dia ainda, vai ter um plantão no tj
show de bola pra gente trabalhar, já tenho 4 HC no aguardo, se você agilizar
isso, liberdade ser negada logo, aí já caberia um HC do seu também...
quando eu viver a data exata lhe aviso ok? No dia 1.º de julho de 2013,
novamente no Skype, SÉRGIO ARAGÃO perguntou a FERNANDO FEITOSA
quando vai ser – tenho que falar com você com antecedencia, mencionado
tratar-se do Habeas Corpus, oportunidade em que FERNANDO a ele
informou que é domingo agora viu, o que gerou a seguinte reação de
SÉRGIO ARAGÃO: então vou correr para ser julgado e depois marco de
encontrar contigo (fl. 471 do apenso 28). Traçada a estratégia, ela foi
executada com o ajuizamento do HC 0003001-97.2013.8.06.0000, no qual foi
deferida a liminar, constando da documentação anexa como impetrado o JUIZ
DE DIREITO DA 3ª VARA DO JÚRI DA COMARCA DE FORTALEZA (fl. 868
do apenso 29), conforme a combinação anterior entre SÉRGIO e FERNANDO
FEITOSA. 77. Tratava-se de homicídio qualificado, e a prisão tinha sido
decretada havia apenas 20 dias. Tal como as anteriores, a liminar foi cassada
pelo Tribunal de Justiça do Ceará. 78. Assim como ocorreu com FÁBIO
COUTINHO, SÉRGIO ARAGÃO é advogado da área trabalhista, sem
qualquer experiência na seara criminal. Todavia, atuou com desenvoltura na
impetração e, obtida a liminar, não desempenhou atos processuais em defesa
do paciente. Daí decorre a conclusão de que aforou o Habeas Corpus
valendo-se das facilidades oferecidas por FERNANDO FEITOSA, já com a
certeza do sucesso, justamente por integrar o seu grupo de comparsas. Não
fosse assim, nada justificaria que advogado trabalhista ajuizasse ação de
natureza criminal e que, obtido o sucesso, a causa retornasse para o
advogado originário ou fosse substabelecido o mandato. Evidente o conluio e
o propósito criminoso. 79. Também aqui houve, como se vê, tratativa prévia
sobre a decisão, escolha do dia e do magistrado e explicitação de que o
deferimento da liminar estava condicionado a prévio pagamento. Embora
SÉRGIO ARAGÃO tenha alegado que a conversação com FERNANDO
FEITOSA não passou de pedido para contato no Gabinete, a fim de agilizar a
análise da liminar, não foi isso o que se verificou. 80. Bem demonstrada a
autoria do crime de corrupção ativa também por SÉRGIO ARAGÃO, de forma
que a condenação é o único desfecho que se compadece com a prova dos
autos. […] FIXAÇÃO DAS PENAS […] SÉRGIO ARAGÃO QUIXADÁ FELÍCIO
Pagamento pela liminar concedida em 7/7/2013 – HC 003001-
97.2013.8.06.0000 126. Pena-base fixada em 3 (três) anos e 6 (seis) meses
de reclusão. Não incidem atenuantes. Incide a agravante contida no artigo 61,
inciso II, alínea ‘g’, e isso por ter cometido o crime com violação de dever
inerente à profissão, tanto assim que foi suspenso do exercício funcional pela
Ordem dos Advogados do Brasil, razão pela qual elevo a pena a 4 (quatro)
anos e 1 (um) mês de reclusão. Na terceira fase, atua a causa especial de
aumento contida no parágrafo único do artigo 333 do Código Penal, a
estipular que ‘a pena é aumentada de um terço, se, em razão da vantagem ou
promessa, o funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo
dever funcional’, situação essa efetivamente verificada nos autos. Por isso,
eleva-se a pena de 1/3 (um terço), do que resultam 5 (cinco) anos, 5 (cinco)
meses e 10 (dez) dias de reclusão. […]” (págs. 20-21 e 33 do doc. eletrônico
5; grifos no original). Neste habeas corpus, a defesa alega que “os
fundamentos equivocados, deficitários e incontestavelmente genéricos do
consignado no acórdão vergastado, que, a despeito da necessária
individualização da pena, parece ter-se utilizado dos mesmos e parcos
critérios para todos os réus” (pág. 7 da petição inicial). Argumenta, em
seguida, que não há “razão mínima que justifique a exacerbação da pena-
base para 3 (três) anos e 6 (seis) meses, até porque deveriam ter sido
considerados, a fim de aproximá-la do mínimo legal, inclusive como positivos,
os antecedentes, a conduta social e a personalidade […], os quais, sequer,
foram mencionados […]” (pág. 8 da petição inicial). Defende, ainda, que,
“INVERSAMENTE AO AFIRMADO PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE
JUSTIÇA, NÃO RECEBEU NENHUMA SUSPENSÃO DA ORDEM DOS
ADVOGADOS DO BRASIL E FOI ABSOLVIDO NO JULGAMENTO
ADMINISTRATIVO PERANTE O ÓRGÃO DE CLASSE”, razão pela qual foi
equivocada a aplicação da agravante prevista no art. 61, II, g, do Código
Penal” (pág. 10 da petição inicial). Sustenta, mais, não existir “nenhuma
comprovação sobre a oferta ou a promessa de vantagem indevida, por parte
do Dr. SÉRGIO ARAGÃO QUIXADÁ FELÍCIO, para qualquer funcionário
público, até mesmo pelo fato de que, no respeitante àquele, a única relação
‘efetivamente verificada nos autos’ é a concernente ao Sr. FERNANDO
FEITOSA, particular, sendo equivocado, portanto, o aumento de pena
verificado [no parágrafo único do art. 333 do CP], o qual diz respeito a
servidor público” (pág. 11 da petição inicial). Observa, outrossim, que a
denúncia “versou, tão somente, sobre o Art. 333, caput, do Código Penal
(forma simples do delito de corrupção ativa), enquanto a condenação sub
judice foi enquadrada no Art. 333, parágrafo único, do Código Penal […], fato
que, por si, causa estranheza, já que o Dr. SÉRGIO ARAGÃO QUIXADÁ
FELÍCIO […] jamais pode defender-se de tal conjuntura, denotando-se
gravosa afronta a caros verbetes constitucionais, tais como os insculpidos no
Art. 5º, incisos LIV (devido processo legal) e LV (ampla defesa e
contraditório), e manifesto constrangimento ilegal” (págs. 14-15 da petição
inicial). Ao final, formula os seguintes requerimentos: “4.1. CONCEDER, em
juízo antecipatório, o requerido em sede liminar, ou seja, o sobrestamento do
decidido pelo Superior Tribunal de Justiça até o julgamento meritório do
habeas corpus ora desenvolvido, a fim de evitar qualquer risco de submissão
do paciente a pena e a regime de cumprimento mais gravosos. 4.2.
DISPENSAR a requisição das informações, haja vista encontrar-se o
mandamus suficientemente abalizado e o acesso às informações processuais
serem facilitadas pela natureza virtual dos autos originários. 4.3. CONCEDER,
após a análise do mérito, a ordem de habeas corpus, no sentido de readequar
a reprimenda aplicada ao paciente e o seu regime de cumprimento e, em
sendo o caso, DETERMINAR a conversão da pena privativa de liberdade em
restritiva de direitos, dada a adequação do Dr. SÉRGIO ARAGÃO QUIXADÁ
FELÍCIO às premissas do Art. 44 do Código Penal” (págs. 26-27 da petição
inicial). É o relatório. Decido. Registro, inicialmente, que a orientação
jurisprudencial desta Suprema Corte firmou-se no sentido de que somente em
situações excepcionais é admissível o reexame dos fundamentos da
dosimetria da pena fixada pelo juiz natural da causa a partir do sistema
trifásico. Nesse sentido, indico os seguintes precedentes de ambas as
Turmas, em casos análogos: “HABEAS CORPUS. PENAL. PACIENTE
CONDENADO PELO CRIME DE PECULATO. DESCLASSIFICAÇÃO PARA O
DELITO PREVISTO NO ART. 1º, I, DO DECRETO-LEI 201/1967. FIXAÇÃO
DA MESMA PENA PARA O PACIENTE E CORRÉU. OFENSA AO
PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA. INOCORRÊNCIA.
CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS COMUNS AOS CORRÉUS E RELATIVAS AO
FATO CRIMINOSO EM SI. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO
CONFIGURADO. ORDEM DENEGADA. I – Esta Corte já assentou
entendimento no sentido de que não viola o princípio da individualização da
pena a fixação da mesma pena-base para corréus se as circunstâncias
judiciais são comuns. Precedentes. II – De acordo com a jurisprudência desta
Corte, somente em situações excepcionais é que se admite o reexame dos
fundamentos da dosimetria levada a efeito pelo juiz a partir do sistema
trifásico, o que não se verifica no caso sob exame. […] Ordem denegada”
( HC 108.858/SP, de minha relatoria, Segunda Turma). “HABEAS CORPUS.
PROCESSUAL PENAL. SUBSTITUTIVO DE RECURSO CONSTITUCIONAL.
INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. CRIME DE PECULATO. DOSIMETRIA.
EXASPERAÇÃO DA PENA-BASE. CONFISSÃO ESPONTÂNEA. CRIME
CONTINUADO. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. REEXAME DO CONJUNTO
FÁTICO-PROBATÓRIO. INVIABILIDADE. […] 2. A dosimetria da pena é
matéria sujeita a certa discricionariedade judicial. O Código Penal não
estabelece rígidos esquemas matemáticos ou regras absolutamente objetivas
para a fixação da pena. Cabe às instâncias ordinárias, mais próximas dos
fatos e das provas, fixar as penas e às Cortes Superiores, em grau recursal, o
controle da legalidade e da constitucionalidade dos critérios empregados,
bem como a correção de eventuais discrepâncias, se gritantes ou arbitrárias.
3. Existência de vetoriais negativas do art. 59 do Código Penal autorizadoras
da elevação da pena-base acima do mínimo legal. […] 6. Inviável, na via
estreita do habeas corpus, o exame minucioso dos fatos e provas da causa
que levou à fixação das penas. Precedentes. 7. Habeas corpus extinto sem
resolução de mérito” ( HC 125.772/PE, rel. Min. Rosa Weber, Primeira
Turma). No caso, em que pese o impetrante não ter instruído a petição inicial
com o inteiro teor do acórdão atacado, apenas com cópia da ementa e do
voto vencido proferido pela Ministra Maria Thereza de Assis Moura, é possível
acessá-lo por meio do sítio eletrônico do STJ. Nele, constam os seguintes
fundamentos apresentados pelo Ministro relator para fixar a pena imposta ao
paciente: “Pagamento pela liminar concedida em 7/7/2013 – HC 003001-
97.2013.8.06.0000 Quanto a SÉRGIO ARAGÃO QUIXADÁ FELÍCIO, do
exame das circunstâncias judiciais – art. 59 do Código Penal –, tenho que o
acusado obrou com culpabilidade discretamente menos acentuada do que a
que se encontra na conduta de MICHEL SAMPAIO COUTINHO, mas
igualmente grave, porque periclitou a aplicação da lei penal e prejudicou a
instrução da ação no juízo de primeiro grau, proporcionando soltura de preso
preventivo acusado de homicídio qualificado, cuja periculosidade foi
reconhecida pelo juízo de origem.. Quanto aos antecedentes, até então não
denegridos, não desabonam. A conduta social, desconhecida do Juízo, em
nada prejudica. Em relação à personalidade, não aparenta transtornos
antissociais. Motivos, ínsitos ao próprio tipo penal, de forma que não podem
ser tomados como elementos prejudiciais ao exame – a vontade de obter
vantagem econômica para si. Circunstâncias não desfavorecem.
Consequências seríssimas, designadamente porque ocasionou descrédito
generalizado não só do Tribunal de Justiça do Ceará, mas do Poder Judiciário
como um todo. O comportamento da vítima não contribuiu. Sendo assim, e
sopesando essas várias operacionais, tenho por bem fixar a pena-base em 3
(três) anos e 6 (seis) meses de reclusão. O julgador deve, ao individualizar a
pena, examinar os elementos que dizem respeito ao fato, obedecidos e
sopesados todos os critérios estabelecidos no art. 59 do Código Penal, para
aplicar, de forma justa e fundamentada, a reprimenda proporcional,
necessária e suficiente. Considerando desfavoráveis as circunstâncias
judiciais, cabe ao magistrado explicitar as suas razões, pois a inobservância
dessa regra implica ofensa ao preceito contido no art. 93, inciso IX, da
Constituição Federal. No caso, a fixação da pena-base acima do mínimo legal
encontra fundamento no reconhecimento de circunstâncias judiciais
desfavoráveis (circunstâncias e consequências do delito), que, de fato,
emprestaram à conduta do acusado especial reprovabilidade e que não se
afiguram inerentes ao tipo penal. O legislador não delimitou parâmetros para
a fixação da pena-base, de forma que a majoração fica adstrita ao prudente
arbítrio do magistrado, que deve observar o princípio do livre convencimento
motivado. Não há regra aritmética que estipule relação direta entre o número
de circunstâncias judicias desfavoráveis e o quantum de afastamento da pena
mínima cominada no texto legal – em obediência à obrigação constitucional
de individualização da pena –, embora esse possa ser um dos critérios
balizadores. Outro, entretanto, e que deve ter maior relevância, é o
sopesamento do grau de intensidade de cada uma dessas circunstâncias, que
independe da quantidade, dentre as oito previstas no artigo 59 do CP, de
negativadas, exame esse que há de ser procedido de forma individualizada, à
luz das peculiaridades do caso concreto, e que ditará o patamar de aumento,
tendo-se como teto, nesta etapa, o termo médio entre o mínimo e o máximo
abstratamente cominados na lei, que, aqui, é 7 (sete) anos. No caso, verifica-
se que o quantum de aumento (um ano e seis meses) revela-se proporcional
e amplamente fundamentado, em se considerando que a pena abstratamente
prevista para o crime é de 2 (dois) a 12 (doze) anos de reclusão. […] Assim,
diante da fortíssima culpabilidade que se encontra na conduta do acusado,
bem como em decorrência das consequências deletérias de seus atos, acima
demonstradas, mostra-se proporcional o aumento, tomando-se em conta que
o termo médio entre a pena mínima e a pena máxima cominada é 7 (sete)
anos. Na segunda fase, não incidem atenuantes. Incide a agravante contida
no artigo 61, inciso II, alínea ‘g’, e isso por ter cometido o crime com violação
de dever inerente à profissão, tanto assim que foi suspenso do exercício
funcional pela Ordem dos Advogados do Brasil, razão pela qual elevo a pena
a 4 (quatro) anos e 1 (um) mês de reclusão (fração de 1/6 da pena-base). Na
terceira fase, atua a causa especial de aumento contida no parágrafo único
do artigo 333 do Código Penal, a estipular que ‘a pena é aumentada de um
terço, se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou omite
ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional’, situação essa
efetivamente verificada nos autos. Por isso, elevo a pena de 1/3 (um terço),
do que resultam 5 (cinco) anos, 5 (cinco) meses e 10 (dez) dias de reclusão”
(grifos no original). Ao comentar o art. 59 do Código Penal, Guilherme de
Souza Nucci anota que “a culpabilidade prevista nes[s]e artigo é o conjunto
de todos os demais fatores unidos: antecedentes + conduta social +
personalidade do agente + motivos do crime + circunstâncias do delito +
consequências do crime + comportamento da vítima = culpabilidade maior ou
menor, conforme o caso” (In Código Penal comentado. 13. ed. São Paulo: RT,
2013. p. 427). Ruy Rosado de Aguiar Júnior, a seu turno, ensina: “Ao juiz
cumpre avaliar o grau de censurabilidade do réu por adotar um
comportamento ilícito, tendo condições de se conduzir de acordo com o
direito. […] O crime representa uma quebra na expectativa de que o agente
atenderia ao princípio ético vigorante na comunidade assim expresso na lei;
seu ato será tanto mais censurável quanto maior a frustração. A avaliação do
juiz ponderará o conjunto dos elementos subjetivos que atuaram para a
deflagração do delito, os motivos, os fins, as condições pessoais, analisados
de acordo com o sentimento ético da comunidade em relação a tais
comportamentos” (Aplicação da Pena. 5. ed. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2013. Pp. 68-69; grifei). Depreendo, portanto, que houve
motivação adequada para a valoração negativa das circunstâncias judiciais
(art. 59 do CP) apontadas no acórdão condenatório, bem como para a
escolha da fração de exasperação operada na primeira fase da dosimetria,
que levou em conta justamente o maior grau de censurabilidade da conduta
do paciente. A propósito, vejam-se os seguintes precedentes desta Suprema
Corte: “RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. DOSIMETRIA DA
PENA. PENA-BASE. CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS DESFAVORÁVEIS.
FUNDAMENTAÇÃO ADEQUADA. EXASPERAÇÃO. EXCESSO NÃO
VERIFICADO. DISCRICIONARIEDADE REGRADA. INDIVIDUALIZAÇÃO DA
PENA. RECURSO DESPROVIDO. 1. É razoável a fundamentação que
justifica a exasperação da pena-base tendo em vista a constatação de
circunstâncias judiciais desfavoráveis ao condenado e que extrapolam os
elementos típicos inerentes à figura penal cominada. 2. Inexiste excesso no
quantum da exasperação quando, presentes diversos vetores negativos, a
pena foi fixada abaixo do termo médio. Dosimetria efetuada segundo os
critérios de discricionariedade regrada que naturam a individualização da
pena. 3. Recurso ordinário em habeas corpus desprovido” ( RHC 117.806/PE,
rel. Min. Marco Aurélio, relator para o acordão Min. Edson Fachin). “AGRAVO
REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. CRIME DE ASSOCIAÇÃO
CRIMINOSA. DOSIMETRIA. PENA-BASE. AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE.
FUNDAMENTAÇÃO CONCRETA. BIS IN IDEM. INOCORRÊNCIA. REGIME
INICIAL MAIS GRAVOSO. POSSIBILIDADE. CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS
DESFAVORÁVEIS. INEXISTÊNCIA DE ILEGALIDADE. 1. A dosimetria da
pena é matéria sujeita a certa discricionariedade judicial. O Código Penal não
estabelece rígidos esquemas matemáticos ou regras absolutamente objetivas
para a fixação da pena. Precedentes. 2. Exasperação da pena-base
estabelecida dentro da margem de discricionariedade permitida ao julgador e
cuja resultante não teve desfecho flagrantemente desproporcional. 3. Para
concluir em sentido diverso quanto à exasperação da pena-base,
imprescindíveis o reexame e a valoração de fatos e provas, para o que não se
presta a via eleita. Precedentes. […] 7. Agravo regimental conhecido e não
provido” ( HC 197.390 AgR/SP, rel. Min. Rosa Weber). “HABEAS CORPUS.
PENAL E CONSTITUCIONAL. PACIENTE CONDENADO PELO CRIME DE
LATROCÍNIO. FIXAÇÃO DA PENA-BASE ACIMA DO MÍNIMO LEGAL.
EXASPERAÇÃO DEVIDAMENTE MOTIVADA EM ELEMENTOS IDÔNEOS.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO CONFIGURADO. ORDEM DENEGADA.
I – Embora as instâncias a quo tenham aumentado o quantum de redução
decorrente da incidência das atenuantes genéricas de confissão espontânea
e menoridade relativa, mantiveram inalterada a pena-base fixada em 25 anos.
II – De acordo com a jurisprudência desta Corte, somente em situações
excepcionais é que se admite o reexame dos fundamentos da dosimetria
levada a efeito pelo juiz a partir do sistema trifásico. Precedentes. III – No
caso concreto, não há excepcionalidade a justificar a interferência desta
Suprema Corte na fixação da reprimenda básica, tendo em vista que o
magistrado sentenciante, ao proceder à análise da primeira fase da
dosimetria da pena, considerou desfavoráveis ao paciente quatro das oito
circunstâncias judiciais previstas no art. 59 do Código Penal (a culpabilidade,
a conduta social, a personalidade do agente e os motivos do crime),
indicando, adequadamente, os fundamentos justificativos e autorizadores da
exasperação realizada, conforme determina os princípios constitucionais da
individualização da pena (art. 5º, XLVI, da CF) e da motivação das decisões
judiciais (art. 93, IX, da CF). IV – Resta, assim, devidamente motivado o
quantum de pena fixado pelo juízo sentenciante de pelos Tribunais
posteriores, além de proporcional ao caso em apreço, sendo certo que não se
pode utilizar ‘o habeas corpus para realizar novo juízo de reprovabilidade,
ponderando, em concreto, qual seria a pena adequada ao fato pelo qual
condenado o Paciente’ ( HC 94.655/MT, Rel. Min. Cármen Lúcia). V – Ordem
denegada” ( HC 108.023/MS, de minha relatoria). “RECURSO ORDINÁRIO
EM HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO PRIVILEGIADO. DOSIMETRIA DA
PENA. EXASPERAÇÃO DA PENA-BASE. CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS.
CULPABILIDADE. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. ATENUANTE DA
CONFISSÃO ESPONTÂNEA. QUANTUM DE DIMINUIÇÃO. FRAÇÃO
PROPORCIONAL E ADEQUADA. CAUSA DE DIMINUIÇÃO DA PENA.
APLICAÇÃO DO PATAMAR MÍNIMO DE DIMINUIÇÃO. CARÊNCIA DE
FUNDAMENTAÇÃO. 1. A dosimetria da pena, além de não admitir soluções
arbitrárias e voluntaristas, supõe, como pressuposto de legitimidade,
adequada fundamentação racional, revestida dos predicados de logicidade,
harmonia e proporcionalidade com os dados empíricos em que se deve
basear. 2. No caso, o magistrado exasperou a pena-base em decorrência da
valoração negativa da circunstância judicial da culpabilidade, com esteio no
modus operandi da conduta, dotada de excessiva violência, com destaque
para os vários golpes desferidos contra a vítima, que, adormecida, não
conseguiu mobilizar qualquer reação a tempo. Fundamentação adequada. 3.
A diminuição da pena pela atenuante da confissão em escala adequada à
prudente convicção do magistrado não revela arbitrariedade, ilegalidade ou
desproporção a justificar qualquer modificação na via estreita do habeas
corpus. 4. Indevida a redução da pena no patamar mínimo previsto no
homicídio privilegiado sem valoração adequada. 5. Recurso ordinário
parcialmente provido” ( RHC 130.524/ES, rel. Min. Teori Zavascki). “[...] 5.
Como já decidido pelo Supremo Tribunal Federal, ‘em sede de habeas
corpus, a discussão a respeito da dosimetria da pena cinge-se ao controle da
legalidade dos critérios utilizados, restringindo-se, portanto, ’ao exame da
motivação [formalmente idônea] de mérito e à congruência lógico-jurídica
entre os motivos declarados e a conclusão’ ( HC 69.419, Rel. Min. Sepúlveda
Pertence)’ - RHC nº 119.894/BA-AgR, Relator o Ministro Roberto Barroso,
DJe de 10/6/14. 6. Ao juiz compete demonstrar, fundamentadamente, com
base empírica idônea, os critérios e as circunstâncias de que se valeu na
concretização da pena imposta, notadamente nas hipóteses de grande
exasperação, em que a pena é fixada no máximo legal ou próximo a esse
limite, a fim de se evitarem soluções arbitrárias (HC nº 101.118/MS, Segunda
Turma, Relator para o acórdão o Ministro Celso de Mello, DJe de 27/8/10). 7.
As instâncias ordinárias, após indicarem os vetores que justificavam a
exacerbação da pena-base, fixaram-na de forma conglobada, vale dizer, sem
especificar o quantum de pena especificamente atribuído a cada um vetores
considerados negativos. 8. Esse proceder não viola os princípios da
individualização da pena e da motivação (arts. 5º, XLVI, e 93, IX, CF). 9. Para
satisfazer ao imperativo de motivar a fixação da pena, ‘a sentença não se há
de subordinar necessariamente a fórmulas rígidas, particularmente à
compartimentação estanque de sua fundamentação’ (HC nº 67.589/MS,
Primeira Turma, Relator o Ministro Sepúlveda Pertence, DJ de 15/12/89). 10.
Ainda que recomendável a atribuição de um quantum de pena, isoladamente,
a cada vetor considerado na primeira fase da dosimetria, sua inobservância
não gera nulidade. 11. Com efeito, a fixação de pena-base conglobada não
impede que as instâncias superiores exerçam o controle de sua legalidade e
determinem seu reajustamento, se não houver base empírica idônea que
confira suporte aos vetores invocados ou se desarrazoada a majoração
havida. 12. Na espécie, houve motivação adequada para a valoração negativa
da culpabilidade, das circunstâncias do crime e da conduta social do paciente,
demonstrando-se, com base em elementos concretos, o maior grau de
censurabilidade da conduta, a justificar a acentuada exasperação de sua
pena-base. […] 20. Ademais, ‘é pacífica a jurisprudência da Corte de que a
via estreita do habeas corpus não permite que se proceda à ponderação e o
reexame das circunstâncias judiciais referidas no art. 59 do Código Penal,
consideradas na sentença condenatória’ (HC nº 120.146/SP, Primeira Turma,
de minha relatoria, DJe de 22/4/14). 21. Outrossim, o habeas corpus não é
meio idôneo ‘para realizar novo juízo de reprovabilidade, ponderando, em
concreto, qual seria a pena adequada ao fato pelo qual condenado o
paciente’ ( HC 94.655/MT, Primeira Turma, Relatora a Ministra Cármen Lúcia,
DJe de 10/10/08; RHC 121.602/SP, Segunda Turma, Relator o Ministro
Ricardo Lewandowski, DJe de 6/6/14). […] 33. Habeas corpus do qual não se
conhece. 34. Concessão, de ofício, do writ para decotar o vetor
‘consequências do crime’ da primeira fase da dosimetria da pena do crime
descrito no art. 12 da Lei nº 6.368/76, determinando-se ao juízo de primeiro
grau que, motivadamente, fixe o quantum correspondente de redução da
pena-base e, por via de consequência, redimensione a pena final” ( HC
134.193/GO, rel. Min. Dias Toffoli). Na sequência, entendo que foi correta a
aplicação da agravante genérica prevista no art. 61, II, g, do Código Penal,
que prevê o agravamento da pena para aquele que comete o crime “com
abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo, ofício, ministério ou
profissão”, como ocorreu no caso sob exame, em que o paciente corrompeu
agente público em favorecimento à sua profissão de advogado. Com efeito,
ainda que o acusado não tenha sido punido em procedimento administrativo
disciplinar pela Ordem dos Advogados do Brasil – OAB, a exemplo do que
ocorreu com outros corréus, esse aspecto não impede a aplicação da referida
agravante, que, como visto, não exige que deva haver tal punição para sua
incidência. A condenação não merece reparo, ainda, quanto à causa de
aumento de pena disposta no parágrafo único do art. 333 do Código Penal.
Isso porque o delito previsto no caput do dispositivo em questão (corrupção
ativa), por tratar-se de crime formal, consuma-se independentemente do
recebimento ou da aceitação da promessa feita ao funcionário público, bem
como da efetiva prática do ato de ofício. Daí ser possível a aplicação dessa
majorante nos casos em que o funcionário, em razão da vantagem,
efetivamente pratica, omite ou retarda ato de ofício, como ocorreu no caso
concreto. Nesse sentido, vejam-se os seguintes precedentes: “Ação penal
originária. Penal. Processo penal. 2. Conexão. Julgamento conjunto das
ações penais AP 644 e AP 958. 3. Prescrição da pretensão punitiva – crime
de associação criminosa, art. 288 do CP. Art. 109, IV, do CP. […] 6.
Corrupção passiva majorada. Prova de que o acusado recebeu, em razão da
função de Deputado Federal, vantagem ilícita, para apresentar emendas ao
orçamento da União para os anos de 2000 e 2001, que financiaram a
contratação irregular de empresas da quadrilha para fornecer ambulâncias.
Condenação. […] 8. Concurso de crimes de corrupção passiva majorada –
art. 327, § 1º, do CP. Vários pagamentos e vários atos de ofício praticados.
Continuidade delitiva. Aplicação do aumento máximo previsto no art. 71 do
CP. […] Ação penal julgada procedente em parte para: (i) ABSOLVER o réu
da acusação da prática do crime do art. 1º da Lei 9613/98, na forma do art.
386, III, do CPP; (ii) CONDENAR o réu pela prática do crime do art. 317, § 1º,
do CP, por 21 vezes, na forma do art. 71 do CP, às penas de seis anos e dez
meses e seis dias de reclusão, a ser cumprida em regime inicial semiaberto, e
340 dias-multa, correspondentes a um salário mínimo vigente na época dos
fatos cada” ( AP 644, rel. Min. Gilmar Mendes; grifei). “[…] CAPÍTULO III DA
DENÚNCIA. SUBITEM III.1. CORRUPÇÃO PASSIVA. CORRUPÇÃO ATIVA.
PECULATO. LAVAGEM DE DINHEIRO. AÇÃO PENAL JULGADA
PARCIALMENTE PROCEDENTE. 1. Restou comprovado o pagamento de
vantagem indevida ao então Presidente da Câmara dos Deputados, por parte
dos sócios da agência de publicidade que, poucos dias depois, viria a ser
contratada pelo órgão público presidido pelo agente público corrompido.
Vinculação entre o pagamento da vantagem e os atos de ofício de
competência do ex-Presidente da Câmara, cuja prática os réus sócios da
agência de publicidade pretenderam influenciar. Condenação do réu JOÃO
PAULO CUNHA, pela prática do delito descrito no artigo 317 do Código Penal
(corrupção passiva), e dos réus MARCOS VALÉRIO, CRISTIANO PAZ e
RAMON HOLLERBACH, pela prática do crime tipificado no artigo 333 do
Código Penal (corrupção ativa). […] CAPÍTULO III DA DENÚNCIA. SUBITEM
III.3. CORRUPÇÃO PASSIVA, CORRUPÇÃO ATIVA, PECULATO E
LAVAGEM DE DINHEIRO. DESVIO DE RECURSOS ORIUNDOS DE
PARTICIPAÇÃO DO BANCO DO BRASIL NO FUNDO VISANET.
ACUSAÇÃO JULGADA PROCEDENTE. 1. Comprovou-se que o Diretor de
Marketing do Banco do Brasil recebeu vultosa soma de dinheiro em espécie,
paga pelos réus acusados de corrupção ativa, através de cheque emitido pela
agência de publicidade então contratada pelo Banco do Brasil. Pagamento da
vantagem indevida com fim de determinar a prática de atos de ofício da
competência do agente público envolvido, em razão do cargo por ele
ocupado. Condenação do réu HENRIQUE PIZZOLATO, pela prática do delito
descrito no artigo 317 do Código Penal (corrupção passiva), bem como dos
réus MARCOS VALÉRIO, CRISTIANO PAZ e RAMON HOLLERBACH, pela
prática do crime tipificado no artigo 333 do Código Penal (corrupção ativa).
[…] CAPÍTULO VI DA DENÚNCIA. SUBITENS VI.1, VI.2, VI.3 E VI.4.
CORRUPÇÃO ATIVA E CORRUPÇÃO PASSIVA. ESQUEMA DE
PAGAMENTO DE VANTAGEM INDEVIDA A PARLAMENTARES PARA
FORMAÇÃO DE ‘BASE ALIADA’ AO GOVERNO FEDERAL NA CÂMARA
DOS DEPUTADOS. COMPROVAÇÃO. RECIBOS INFORMAIS.
DESTINAÇÃO DOS RECURSOS RECEBIDOS. IRRELEVÂNCIA. AÇÃO
PENAL JULGADA PROCEDENTE, SALVO EM RELAÇÃO A DOIS
ACUSADOS. CONDENAÇÃO DOS DEMAIS. 1. Conjunto probatório
harmonioso que, evidenciando a sincronia das ações de corruptos e
corruptores no mesmo sentido da prática criminosa comum, conduz à
comprovação do amplo esquema de distribuição de dinheiro a parlamentares,
os quais, em troca, ofereceram seu apoio e o de seus correligionários aos
projetos de interesse do Governo Federal na Câmara dos Deputados. 2. A
alegação de que os milionários recursos distribuídos a parlamentares teriam
relação com dívidas de campanha é inócua, pois a eventual destinação dada
ao dinheiro não tem relevância para a caracterização da conduta típica nos
crimes de corrupção passiva e ativa. Os parlamentares receberam o dinheiro
em razão da função, em esquema que viabilizou o pagamento e o
recebimento de vantagem indevida, tendo em vista a prática de atos de ofício.
[…]” ( AP 470, rel. Min. Joaquim Barbosa; grifei). Reforço, ademais, que, para
a configuração do crime de corrupção passiva (art. 317 do CP), crime
atribuído ao servidor público, e, por conseguinte, do delito de corrupção ativa
(art. 333 do CP), o ato de ofício praticado ou aceito deve estar na esfera de
competência do agente público corrompido (vide Inq 3.705, rel. Min. Gilmar
Mendes), como é o caso. Com efeito, mesmo tratando-se de crime próprio,
nada impede que um sujeito que não tenha a qualidade de funcionário público
(assim considerado pelo art. 327 do CP) seja por ele responsabilizado, como
coautor ou partícipe. São duas as hipóteses: (i) a condição de funcionário
público, sendo elementar do crime, comunica-se aos demais participantes que
dela tenham conhecimento, nos termos do art. 30 do Código Penal; (ii) o tipo
penal expressamente permite a prática da corrupção passiva por meio de
interposta pessoa, diante da expressão: “direta ou indiretamente”. Assim, se o
filho do Desembargador Carlos Feitosa, Fernando Feitosa, com quem o
paciente executava as tratativas, foi condenado pelo crime corrupção passiva
majorada (art. 317, § 1º, do CP), é correta a aplicação da mesma majorante
ao corruptor ativo, tal como disposto no parágrafo único do art. 333 do CP.
Além disso, para fins de tipicidade, é irrelevante que o ato de ofício seja lícito.
Doutrinariamente, receber vantagem indevida para praticar ato de ofício
regular constitui a chamada corrupção imprópria. A propósito do tema, Nelson
Hungria leciona ser “irrelevante que o ato funcional (comissivo ou omissivo)
sobre que versa a venalidade seja lícito ou ilícito, isto é, contrário ou não aos
deveres do cargo ou função. No primeiro caso fala-se em corrupção própria, e
no segundo, em corrupção imprópria”. (In Comentários ao Código Penal. 2.
ed. Rio de Janeiro: Forense, 1959. p. 388). É por essa razão que, na hipótese
de o agente público efetivamente realizar o ato combinado, como ocorreu,
responderá ele pelo crime de corrupção passiva majorada (art. 317, § 1º, do
CP) e o corruptor pelo delito de corrupção ativa majorada (art. 333, parágrafo
único, do CP). Ademais, ao contrário do que sustenta a defesa, a denúncia
narra suficientemente os fatos que levaram à aplicação da causa de aumento.
Nela, imputa-se de forma clara e objetiva a concessão de liminar pelo
Desembargador Carlos Feitosa, mediante prévia combinação do paciente
com o filho daquele, o corréu Fernando Feitosa, com promessa de vantagem
indevida (págs. 11-13 do doc. eletrônico 4), de modo que não há falar em
ofensa ao princípio da correlação entre aquela peça acusatória e a sentença.
No mais, reafirmo que seria inviável, na via do habeas corpus, refutar os
fundamentos utilizados pela instância antecedente para exasperar a
reprimenda do acusado. Este remédio constitucional não se presta para fazer
juízo de valor sobre os aspectos fáticos utilizados no acórdão questionado
para dosar a reprimenda do paciente. Não vislumbro, nesse contexto,
nenhuma ilegalidade ou teratologia no ato impugnado que justifique a atuação
desta Suprema Corte, especialmente porque a pena de 5 anos, 5 meses e 10
dias de reclusão, num patamar que varia de 2 a 12 anos, encontra-se
proporcional ao caso em apreço. Certo é que não se pode utilizar “o habeas
corpus para realizar novo juízo de reprovabilidade, ponderando, em concreto,
qual seria a pena adequada ao fato pelo qual condenado o Paciente” ( HC
94.655/MT, rel. Min. Cármen Lúcia). Na mesma compreensão, menciono os
seguintes julgados: HC 138.168/MG, de minha relatoria; RHC 133.974/RJ, de
relatoria do Ministro Dias Toffoli; HC 130.886 AgR/SP, de relatoria do Ministro
Luiz Fux; RHC 131.894 AgR/AM, de relatoria do Ministro Edson Fachin; HC
95.864/SE, de relatoria da Ministra Cármen Lúcia; e HC 95.679/RJ, de
relatoria da Ministra Ellen Gracie. Isso posto, denego a ordem de habeas
corpus (RISTF, art. 192). Publique-se. Brasília, 20 de maio de 2021. Ministro
Ricardo Lewandowski Relator
(STF - HC: 202118 DF 0054125-91.2021.1.00.0000, Relator: RICARDO
LEWANDOWSKI, Data de Julgamento: 20/05/2021, Data de Publicação:
24/05/2021)
4 - Trata-se de crime de violação de sigilo funcional, tipificado no art. 325 do
CP, e só pode ser praticado por funcionário público. Tal ato pode colocar em
risco a preservação da ordem constitucional e a soberania nacional, uma vez
que houve vazamento dos dados, violando o sigilo de informações
confidenciais.
Ele cometeu dois tipos crimes: Consecução de notícia, informação ou
documento para fim de espionagem, previsto no art. 143 - conseguir, para o fim
de espionagem militar, notícia, informação ou documento, cujo sigilo seja de
interesse da segurança externa do Brasil e art. 144 - Revelar notícia,
informação ou documento, cujo sigilo seja de interesse da segurança externa
do Brasil.
Sujeito Passivo: Estado
Ação Penal: Pública Incondicionada

5 – O crime ocorrido foi o de frustração do caráter competitivo de licitação,


previsto no art. 337-F do CP.
Sujeito Ativo: Ministério Público
Sujeito Passivo: Estado
Ação Penal: Pública Incondicionada
Juízo Competente: Justiça comum

6 – A administração pública pode contratar a elaboração de um projeto básico,


executivo ou anteprojeto. Tal contratação é obrigatória de acordo com acordo
com o artigo 7° da seção III das obras e serviços, pois em regra, eles são
desenvolvidos pelo corpo técnico do órgão público promotor da licitação, sendo
admitida apenas quando se tratar de obras mais complexas e serviços de
maior valor, devendo neste caso, ser realizado um processo licitatório prévio
para contratação da empresa para o projeto base. Cumpre salientar que, a não
realização de contratação prévia para elaboração do projeto básico ou
executivo não configura crime, uma vez que a mesma é facultativa, assim
como a conduta do prefeito, que embora não seja criminosa.
7 – Os crimes que podem ter ocorrido são os dispostos na Lei n.º 14.133/2021,
sendo eles: contratação direta ilegal; frustração do caráter competitivo de
licitação; patrocínio de contratação indevida; modificação ou pagamento
irregular em contrato administrativo; perturbação de processo licitatório;
violação de sigilo em licitação; afastamento de licitante; fraude em licitação ou
contrato; contratação inidônea; impedimento indevido e omissão grave de dado
ou de informação por projetista.

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