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Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distância

Ética da Convicção e a ética da Responsabilidade, segundo Max Weber

Jesus Vilinho Abeque – Cód. nº: 708201849

Curso: Administração Pública

Disciplina: Ética Profissional

Ano de Frequência: 4º Ano

Nome do docente: Ir. Ofélia Ramos Mucaia

Gurué, Maio de 2023


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máxima tutor
Capa 0.5
Índice 0.5
Aspectos Introdução 0.5
Estrutura
organizacionais Discussão 0.5
Conclusão 0.5
Bibliografia 0.5
Contextualização
(Indicão clara do 1
problema)
Introdução
Descrição dos objectivos 1
Metodologia adequada
2
ao objecto do trabalho
Articulação e domínio do
discurso académico
(expresso escrita 2
Conteúdo
cuidada, coerência /
coesão textual)
Análise e discussão Revisão bibliográfica
nacional e internacionais
2
relevantes na área de
estudo
• Exploração dos
2
dados
Contributos teóricos
Conclusão 2
práticos
Paginação, tipo e
Aspectos tamanho de letra,
Formatação 1
gerais parágrafo, espaçamento
entre linhas
Referência
Normas APA 6ª Rigor e coerência das
s
edição em citações e citações/referências 4
Bibliográfic
bibliografia bibliográficas
as
FOLHA PARA RECOMENDAÇÕES DE MELHORIA
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Índice

1. Introdução............................................................................................................................ 1

1.1. Objectivos ........................................................................................................................ 1

1.1.1. Geral ............................................................................................................................. 1

1.1.2. Específicos ................................................................................................................... 1

1.2. Metodologia ..................................................................................................................... 1

2. Ética da Convicção e a ética da Responsabilidade, segundo Max Weber .......................... 2

2.1. Contextualização ............................................................................................................. 2

2.2. Ética da convicção e ética da responsabilidade ............................................................... 3

2.2.1. Meios/fins da ética da convicção e responsabilidade .................................................. 6

2.2.2. O político entre a convicção e a responsabilidade ....................................................... 9

Conclusão ................................................................................................................................. 11

Referências bibliográficas ........................................................................................................ 12


1. Introdução

O presente trabalho com o tema “Ética da Convicção e a ética da Responsabilidade, segundo


Max Weber” pretende-se de forma objectiva compreender de forma académica sobre as
teorias da ética da convicção e a ética da responsabilidade, segundo Max Weber, tendo em
conta que a distinção proposta por Weber entre convicção e responsabilidade traduz um
dilema que certamente aparecerá em algum estágio da careira de qualquer profissional. Tal
distinção permite também aos analistas, uma compreensão mais elevada dos meandros do
mundo profissional. Porém, é muito importante ter em mente que a distinção entre uma ética
da convicção e uma ética da responsabilidade não significa uma carta branca para que
profissionais traiam seus objectivos, ela apenas reconhece a necessidade de adaptação às
circunstâncias.

1.1. Objectivos

1.1.1. Geral

Compreender de forma académica sobre as teorias da ética da convicção e a ética da


responsabilidade, segundo Max Weber.

1.1.2. Específicos

• Compreender a importância da ética da convicção e a ética da responsabilidade nas


vertentes profissionais;

• Descrever a diferença entre a ética da convicção e a ética da responsabilidade.

1.2. Metodologia

Para a operacionalização do presente trabalho utilizou-se a revisão bibliográfica utilizando o


método hipotético dedutivo de Marconi e Lakattos (1992), onde o método é o conjunto das
actividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permitem alcançar
os objectivos e os conhecimentos fidedignos. O método hipotético dedutivo permite processar
uma discussão por meio de hipóteses na leitura dos artigos. Na medida em que estas vão se
confirmando pelas leituras se passa a abstrair o conteúdo que pode ser redigido.

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2. Ética da Convicção e a ética da Responsabilidade, segundo Max Weber
2.1. Contextualização

Weber (1982), refere que:

“O critério da ética da convicção é geralmente usado para julgar as acções individuais,


enquanto o critério da ética da responsabilidade se usa ordinariamente para julgar
acções de grupo, ou praticadas por um individuo, mas em nome e por conta do próprio
grupo, seja ele o povo, a nação, a Igreja, a classe, o partido etc. Poder-se-á também
dizer, por outras palavras, que, à diferença entre moral e política, ou entre ética da
convicção e ética da responsabilidade, corresponde também à diferente entre ética
individual e ética de grupo.” (p. 52)

“O critério da ética da convicção é geralmente usado para julgar as acções individuais,


enquanto o critério da ética da responsabilidade se usa ordinariamente para julgar
acções de grupo, ou praticadas por um individuo, mas em nome e por conta do próprio
grupo, seja ele o povo, a nação, a Igreja, a classe, o partido etc. Poder-se-á também
dizer, por outras palavras, que, à diferença entre moral e política, ou entre ética da
convicção e ética da responsabilidade, corresponde também à diferente entre ética
individual e ética de grupo.” (Weber, 1982, p.53)

Não é possível conciliar a ética da convicção e a ética da responsabilidade, assim como não é
possível, se jamais se fizer qualquer concessão ao princípio segundo o qual os fins justificam
os meios, decretar, em nome da moral, qual o fim que justifica um meio determinado. Com
efeito, todos esses objectivos que não se conseguem atingir a não ser através da actividade
política – onde necessariamente se faz apelo a meios violentos e se acolhem os caminhos da
ética da responsabilidade – colocam em perigo a “salvação da alma”.

É comum dizer que Max Weber é um dos teóricos ocidentais que mais tem influenciado os
debates académicos no campo das ciências humanas. Realizou extensos estudos de história
comparada e constituiu-se como um dos autores mais influentes no estudo do surgimento do
capitalismo ocidental. Sua obra abrange diversas dimensões do pensamento humano, dentre as
quais destaca-se como fundamental o papel dado a racionalidade na cultura ocidental. É
sempre oportuno dizer que Weber não teve a pretensão de fazer uma análise do capitalismo
moderno, como tal, mas sim, descobrir um modo racional de vida pré-capitalista que tornou
possível a racionalização económica do capitalismo como sistema (Teixeira & Frederico,
2010).

Esta é a principal chave de leitura de uma de suas maiores obras, A ética protestante e o
espírito do capitalismo (Weber, 1987). Nela, Weber faz uma investigação das relações causal-
históricas que deram origem ao nascimento e ao desenvolvimento da moderna sociedade
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capitalista ocidental, enquanto individualidade histórica. Compreender interpretativamente a
conduta de vida (Lebensführung) do agente religioso para então poder explicá-la causalmente
em seu curso e efeito estava no horizonte de suas preocupações.

O pensamento de Max Weber é complexo e por vezes apresenta-se contraditório diante da


radiação polissémica de seu vasto conhecimento, somado às fecundas apropriações, ortodoxas
ou nem tanto, de sua obra pelos teóricos que nele se referenciam como foi o caso por exemplo
da tradução inglesa de Talcott Parsons. Poucos autores suscitaram tantas controvérsias,
interpretações e reinterpretações (Löwy, 2012). Celeumas estas que agora podem ser melhor
investigadas com a edição crítica da Obra Completa de Max Weber (MWG – Max Weber
Gesamtausgabe), trabalho desenvolvido por anos na Alemanha, mas que pelo alto valor do
custo final ainda se encontra distante do público de língua portuguesa dificultando em muito o
acesso ao melhor da pesquisa sobre este grande teórico.

2.2. Ética da convicção e ética da responsabilidade

O conceito de acção social, de autoria de Max Weber, contribui de forma significativa para o
entendimento dos termos: ética da convicção e ética da responsabilidade. De acordo esse
autor, uma acção social é um acto praticado com a intenção de provocar uma reacção em uma
ou mais pessoas. Consequentemente, a acção de um indivíduo é pautada pelo comportamento
do outro, ou dos outros. Portanto, a acção social é carregada de sentidos, tanto para o agente,
quanto para quem sofreu seus efeitos (Weber, 1982).

A acção é racional ao se orientar a um desígnio claramente formulado, ou ainda, ao se


direccionar a um conjunto de valores consistentes, lógicos, assim como estabelecidos, de
modo aberto. Uma acção é racional quando os meios escolhidos, para atingir a finalidade
esperada, são os mais acertados. Decorre disso, que o sentido atribuído à acção deriva do
comportamento de outra pessoa, e não, da conduta do agente, ainda que esse seja o
responsável pela selecção dos meios tidos como os mais eficientes.

Também é possível se reportar a essas ideias na interpretação que Weber realiza acerca da
ética protestante e da consequente preponderância de seus adeptos no mundo dos negócios.
Segundo esse autor, ao reconhecerem o trabalho como o principal valor para se alcançar a
salvação, os protestantes passaram a conceber o ócio, o luxo e as conversas vãs como inúteis,
isto é, como uma grande perda de tempo. De tal modo que, ao contraporem essas práticas ao
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trabalho, os protestantes definiram o acto de perder tempo como o maior pecado que um
indivíduo poderia cometer contra a sua própria salvação.

Partindo dessa análise, os protestantes adoptaram comportamentos, como a vida simples e a


intensiva actividade profissional, que os conduziram à acumulação de riquezas. Dessa
maneira, esses indivíduos assumiram uma conduta disciplinada, racional que, ao ser
combinada com o afastamento total das distracções da vida mundana, propiciou que a ética
protestante se tornasse, tanto um dever, quanto uma negação do prazer.

Segundo Weber, os motivos que geram as acções sociais consistem nos critérios para a sua
classificação. Deriva desse apontamento a seguinte tipologia da acção social: acção
tradicional consiste em uma conduta motivada pelos costumes, tradições, hábitos e crenças, o
indivíduo age movido pela obediência a hábitos fortemente enraizados em sua vida. Acção
afectiva ou emocional compreende uma reacção sentimental do sujeito, quando este é
submetido a determinadas circunstâncias. Acção racional com relação a um valor expressa
uma actuação concernente aos valores do indivíduo, que se orienta por seus princípios e
estima a fidelidade à convicção. Acção racional com relação a fins diz respeito às atitudes
planejadas, norteadas pelos efeitos que deverão ser alcançados; esse tipo de acção se pauta
pelo resultado (Weber, 1982).

Observando essa tipologia é possível concluir que, diferentemente dos dois últimos tipos de
acção, os dois primeiros foram incitados por factores que não dependiam da escolha dos
indivíduos. Já nos dois últimos, as acções seguiram um padrão de racionalidade, o que
possibilitou prever suas consequências, uma vez que os indivíduos fizeram uma opção. Nesse
caso, é pouco significativo o fato dessa escolha ter sido movida por uma convicção, isto é, por
uma crença consciente em relação a um valor, ou estimulada pela obtenção do resultado
desejado.

É importante lembrar que as acções sociais não estão relacionadas somente com um dos
quatro tipos propostos. Uma acção pode muito bem ser afectiva ou emocional e, ao mesmo
tempo, ser racional com relação a fins. Essa combinação sugere que outras associações podem
ocorrer entre tais tipos. Ademais, os tipos de acção são modelos teóricos, isto é, são tipos
ideais, cujos exemplos puros, raramente, ou jamais, poderão ser encontrados em uma
sociedade real, em virtude da ampla diversidade de seres que essa comporta.

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Ainda que seja plausível aceitar a afirmação de que alguns homens agem de forma racional,
enquanto outros actuam de modo irracional, ela requer aprofundamento. Nesse sentido, é
preciso reconhecer a existência de uma multiplicidade de valores, os quais, tanto convergem,
quanto se confrontam, na vida cotidiana. Também é necessário aceitar que essa variedade tem
dificultado que sejam estabelecidas regras capazes de determinar os valores a serem seguidos
por todos, pois esses dependem dos sentimentos, crenças e vontades de cada indivíduo.

De acordo com Weber, o antagonismo dos valores parece ser algo insuperável, porque quando
um ser humano escolhe uma posição, ele, necessariamente, se opõe a outra. Nessa
perspectiva, o indivíduo, ao optar pela racionalização da vida e de seus significados, decide
abandonar as explicações baseadas na crença dos poderes mágicos. Esse processo foi definido
por Weber como desencantamento do mundo. Uma expressão que possibilita qualificar o
sentimento de vazio que a humanidade passou a vivenciar, no contexto de formação da
modernidade ocidental. No decorrer dessas transformações, o ser humano teria passado a se
dedicar aos artifícios mais diversos, para preencher a lacuna relativa a perda do sentido do
profético e do sagrado.

Na Idade Moderna, a crença nos espíritos, deuses e demónios foi considerada como uma
oposição ao racional, e também, ao científico. Esses dois últimos elementos ampliaram
sobremaneira os seus domínios nos mais diferentes campos da actividade humana, mas não
conseguiram eliminar a irracionalidade que, para Weber, “se reforça com intensidade”
(Freund, 1987, p. 24). Logo, o mundo moderno não seria totalmente desencantado, devido a
permanência dos valores irracionais.

O predomínio da razão e de vários aspectos, que buscam negar e combater esses valores,
permite perceber a tensão existente entre as concepções de racionalidade e irracionalidade.
Semelhante conflito, que também pode ser caracterizado como o antagonismo entre fé e
ciência, continua sendo um grande desafio teórico e prático.

É possível problematizar a dicotomia entre racionalidade e irracionalidade a partir da seguinte


questão: será que uma actividade de natureza mágica, que possua uma finalidade clara e
utilize meios adequados para alcançá-la, pode ser considerada uma acção racional? Quiçá,
Weber respondesse a essa pergunta, argumentando que é a crença no resultado dessa acção, o
qual é atribuído aos poderes ocultos, que a torna irracional. No entanto, ao se considerar como
elementos constitutivos de uma acção racional, tanto a relação entre meios e fins, quanto o
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aspecto da previsibilidade de suas consequências, é admissível apontar que essa actividade
mágica é racional.

A ideia de que o mundo desencantado é absolutamente racional parece ter colaborado para
erigir uma interpretação que o transformou em uma obra artificial do ser humano. Este passou
a conduzir o mundo como uma máquina e, para isso, se utilizou de técnicas cada vez mais
aperfeiçoadas e especializadas, decorrentes da contínua e crescente divisão do trabalho.
Contraditoriamente, a perda do sentido da vida e a sua busca permanente se tornaram
condição e consequência da confiança depositada pelo ser humano no saber e na ciência para
efectivar o progresso. Esse último, ainda que tenha sido incapaz de dar significado à vida e de
promover a liberdade que anunciava, foi resultado do processo de dessacralização, isto é, de
desencantamento do mundo.

A afirmação de que o homem racional é aquele que ajusta os meios aos fins, optimizando os
recursos de que dispõe para maximizar os lucros, coloca em questão qualquer comportamento
que não esteja direccionado a esse objectivo e o qualifica como irracional. Logo, o debate
entre fins e valores, além de relevante, se torna imperativo. A segunda seção desse artigo
contempla essa abordagem.

2.2.1. Meios/fins da ética da convicção e responsabilidade

Muitas interpretações têm sido postuladas sobre o dilema crucial da visão weberiana da ética
de convicção e ética de responsabilidade, que norteou seu pensamento até o fim de sua vida.
Embora estes princípios éticos tenham sido formulados de maneira um tanto mais precisa nas
duas conferências a respeito das vocações política e científica, permanecem como fonte de
muitas possibilidades interpretativas por aqueles que a revisam. Encaminharemos nossas
conclusões seguindo a lógica do pensamento weberiano que propõe um diálogo entre as duas
éticas como fundamento para a construção de uma personalidade, que ele chama de ‘genuína’.
Embora outras visões adoptadas encontrem na resistência e na preferência de Weber pela ética
de responsabilidade (daí a rendição à ideia de uma união regulada racionalmente), há
argumentos para estabelecer a natureza complementar dessas duas éticas.

Catherine Colliot-Thélene propõe que “Weber modifica seu aparato conceitual para integrar
um material sobre o qual, seja suas leituras recentes, seja a evolução da conjuntura política,
atraiam sua atenção” (Colliot-Thélene, 2012, p. 118). Podemos acrescentar a experiência e
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conflitos pessoais. Evidencia-se que os tipos-ideais e correlações causais desenvolvidos por
Weber não são revelações de estruturas imutáveis da vida social, mas um esforço que exige
constante reformulação e avaliação crítica das hipóteses de trabalho para entender a
diversidade de processos de racionalização registrados nas diferentes culturas e as
especificidades da cultura ocidental moderna. Assim,

A burocratização inevitável da política e as coerções sistémicas da economia


capitalista combinavam seus efeitos para constituir essa jaula de ferro do futuro no
qual desapareceria toda possibilidade de uma liberdade autêntica, isto é, de um
domínio reflexivo, ainda que parcial, dos homens sobre seu destino (Colliot-Thélene,
2012, p. 130).

A dominação burocrática baseada no direito racional e na subordinação a regras fixas e


previsíveis, cada vez mais expressa de forma impessoal e, por isto mesmo deve proscrever o
amor, o ódio e todos os sentimentos pessoais, em geral, elementos irracionais que escapam ao
cálculo. Mas Weber também reconheceu que nenhum vínculo de dominação pode perdurar
sem um mínimo de vontade de obedecer. A conquista do poder requer certo grau de
consentimento por parte dos dominados. Isto aumenta a complexidade das relações entre o
público e o privado, e desperta atenção para a necessidade de articulação entre o carisma e a
legalidade. Neste ponto, as configurações propostas para o homem com vocação política
entram em alguma medida em tensão, expressas nas modificações e “[...] ambiguidades de seu
conceito da racionalidade política” (Colliot-Thélene, 2012, p. 131).

Weber esteve próximo aos eventos diários da revolução Russa de 1905, acompanhando
atentamente as notícias pela imprensa e pelo interesse que nutria, principalmente, pela
literatura de Dostoiévski e Tolstói. O romance de Liev Tolstói (1828-1910), Ressurreição,
publicado pela primeira vez em 1899, chamou sua atenção e de imediato passou a se
interessar pela alternativa à cultura ocidental, proposta pelo autor. Embora Weber se
mostrasse um tanto céptico quanto a maneira antipolítica que se apresentava em seus escritos-
pelo fato de não demonstrar preocupação com as finalidades a serem alcançadas, mas
simplesmente com a obediência inflexível a um meio metódico único -, a ética de Tolstói,
com a rejeição a todos os valores culturais, parecia-lhe uma alternativa que pudesse elevar os
indivíduos a escapar das garras da racionalidade, através do cultivo de uma moralidade
individual capaz de guiar suas acções. Não obstante, este imperativo ético à moda kantiana,
que Weber chamaria de ‘a consciência de Tolstoi’, foi apagado com o advento da primeira
grande guerra mundial e com as medidas que a Rússia posteriormente adoptaria.

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Era o fim de uma ilusão que fornecia a Weber elementos para suas afirmações posteriores.
Entretanto, é dos escritos de Tolstói que Weber retira os principais argumentos para o que
definiu de ética de fins últimos ou ética de convicção (Gesinnungsethik). Segundo Weber, os
que postulam esta ética não se sentem responsáveis pelos prováveis resultados negativos de
sua acção primeira. Ao dar o exemplo de um sindicalista revolucionário indiferente às
consequências de sua acção, diz que “[...] se uma acção de boa intenção leva a maus
resultados, então, aos olhos do agente, não ele, mas o mundo, ou a estupidez dos outros
homens, ou a vontade de Deus que assim os fez, é responsável pelo mal” (Weber, 1982, p.
144). Com esta postura o portador da ética de convicção “[...] escapa às críticas científicas ou
políticas dos que se colocam no plano dos fatos [...]” segundo a observação de Aron (1993, p.
490). O que unicamente importa é o compromisso moral aos meios ideais escolhidos, sejam,
portanto, meios violentos ou pacíficos, nobres ou moralmente questionáveis, desde que sua
intencionalidade seja legítima. Os resultados negativos estão sempre condicionados às
resultantes imprevisíveis da história humana.

Na palestra ‘Política como vocação’, Weber (1982) adquire um tom menos pragmático ao
direccionar suas palavras no sentido de advertir aqueles jovens que a actividade política não
se presta somente a fins de empreendimento prático de interesses, mas, também, a uma
vocação (Beruf) de ideais que deve ser encarada como a base de um efectivo ethos e
possibilidade de fuga da ‘rija crosta de aço’. A vocação representa para Weber a possibilidade
de se estabelecer uma nova relação entre a vontade individual e o trabalho mundano. Weber
toma a vocação para a política como a possibilidade mais imediata de dotar o mundo de
sentido e significado, pois a considera muito mais próxima às paixões religiosas do que à
racionalidade científica. Isto não significa reduzir a política, mas compreende-la dentro dos
paradoxos da modernidade. Weber afirma que não há ciência para valores últimos e sublimes,
onde o limite do conhecimento está em compreender o ue é o “[...] divino” da cada sociedade.
Entretanto, este seria um ‘imenso problema vital’, pois trata das “convicções mais profundas
de cada pessoa”. A crença constitui -se da aposta de que o mundo deve ter um sentido,
embasada na fé que supõe um “[...] sacrifício intelectual [...]”, uma vez que não é
compreendida pela razão instrumental. Weber encerra esta reflexão louvando a atitude de ter
“[...] coragem de esclarecer a posição última” (Weber, 1982, p. 183).

Michael Löwy afirma que seria a única ‘janela de esperança’ na resignação weberiana ante as
forças impessoais que dominam a vida humana. Escapar à ‘rija crosta de aço’ dependeria do
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pneuma de novos profetas. Qual seria o papel ético dos novos profetas? Atuariam
referenciados em convicções ou na responsabilização meio fim? “Contra que magia deverão
se levantar? Poderão, como Moisés, guiar a humanidade rumo à saída do Egipto, isto é, do
stahlhartes Gehäuse (habitáculo duro como aço)?” (Löwy, 2013, p. 63). Weber conclui de
forma enigmática: “Isto, porém, é claro e simples, se cada um de nós encontrar e obedecer ao
demónio que controla os cordões de nossa própria vida” (Weber, 1982, p. 183). Em sua
metáfora, está explícita a tensão presente na escolha pessoal que concede significado último à
vida entre a esperança profética e as estratégias de acção frente ao destino. Haveria
possibilidades diferentes frente ao que se chama ‘destino’?

Assim, é sob o foco ainda turvo da história recente gerado pelos principais acontecimentos do
contexto alemão do pós-guerra, como a intensa crise de sentido da vida, a ausência de uma
perspectiva coerente para a história, as sucessivas crises geradas pela instabilidade económica,
política e social do país, que engendraram preocupações que de modo muito profundo
influenciaram os escritos e revisões posteriores de Weber. Ademais ele não considerava que
esta situação existencial pudesse ser superada simplesmente por uma convicção que não
levasse em conta uma conduta responsável pelas acções dos agentes nelas envolvidas, seja por
uma acção revolucionária ou por uma acção pacifista, ambas deveriam prestar conta de seus
actos e assumir suas consequências futuras. Era necessário pautar-se também por uma ética de
responsabilidade em que a acção estivesse ordenada segundo a lógica meios/fins.

2.2.2. O político entre a convicção e a responsabilidade

Max Weber estabeleceu, em princípios do século XX, a distinção entre Ética da Convicção e
Ética da Responsabilidade

Seguindo a linha de raciocínio de Maquiavel, que atribui a esfera política uma ética particular,
o sociólogo alemão Max Weber, estabeleceu em princípios do século XX, a distinção entre
Ética da Convicção e Ética da Responsabilidade.

Para Weber, quanto maior o grau de inserção de determinado político na arena política, maior
é o afastamento de suas convicções pessoais e a adopção de comportamentos orientados pelas
circunstâncias. Este afastamento das crenças e suposições pessoais e a adopção de medidas,
muitas vezes contraditórias, é determinado pela ética da convicção e pela ética da
responsabilidade.
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A ética da convicção é, para Weber, o conjunto de normas e valores que orientam o
comportamento do político na sua esfera privada. Já a ética da responsabilidade representa o
conjunto de normas e valores que orientam a decisão do político a partir de sua posição como
governante ou legislador.

Tomemos como exemplo o caso de um governante que tenha a convicção pessoal de que é
necessária a redução de impostos. Essa governante pode ter realizado uma campanha eleitoral
focada na redução da carga tributária, conforme suas crenças particulares. Porém, uma vez no
governo, se depara com a escassez de recursos financeiros para atender serviços básicos como
segurança, saúde e educação.

Diante desse dilema, o governante precisa tomar a seguinte medida: ou segue sua norma
particular (ética da convicção), e reduz os impostos sabendo que vai faltar dinheiro para o
Estado cumpra suas obrigações elementares, ou adota uma medida orientada a partir de sua
posição de governante (ética da responsabilidade) e mantém ou eleva as alíquotas de impostos
viabilizando os recursos necessários para a acção estatal.

A distinção proposta por Weber entre convicção e responsabilidade traduz um dilema que
certamente aparecerá em algum estágio da careira de qualquer político. Tal distinção permite
também aos eleitores e analistas, uma compreensão mais elevada dos meandros do mundo
político. Porém, é muito importante ter em mente que a distinção entre uma ética da
convicção e uma ética da responsabilidade não significa uma carta branca para que políticos
traiam suas promessas, ela apenas reconhece a necessidade de adaptação às circunstâncias.

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Conclusão

Em torno das investigações com base nas leituras dos estudos feitos em algumas obras
patentes nas referências do presente trabalho concluir que, embora a ética de convicção
impulsione o agir e o falar sem que o agente considere as possibilidades finais, mantendo-se
distantes de uma conduta racionalizada, ela é parte integrante da condição humana que muitas
vezes é guiada pelas convicções mais do que pela razão. A ética da responsabilidade, por sua
vez, encontra-se permanentemente guiada pela acção instrumental, portanto racionalizada, e
“[...] obriga-nos assim a ver o mundo como é e a analisar as consequências prováveis do que
fazemos ou dizemos” (Aron, 1993, p. 490). É esta síntese entre a emoção por um lado e a
razão por outro que orienta as nossas acções. Assim como não se faz política somente com a
razão. “A política é feita, sem dúvida, com a cabeça, mas certamente não é feita apenas com a
cabeça” (Weber, 1982, p. 151).

Em síntese, conquanto presenciamos um homem dividido entre esta antinomia da ação,


intelectualmente Weber propõe uma personalidade ideal-típica que consiga conciliar as duas
expressões como a síntese necessária entre arriscar-se a agir em consonância a um meio,
antecipando as consequências, e mesmo assim agir de acordo com as exigências de sua
consciência. É através desta síntese que conseguimos visualizar a teoria da personalidade que
será capaz de pelo uso da emoção e da razão, superar o cruel processo de racionalização da
sociedade moderna ocidental. Conclui ele: “[...] uma ética de fins últimos e uma ética de
responsabilidade não são contrastes absolutos, mas antes suplementos, que só em uníssono
constituem um homem genuíno-um homem que ‘pode’ ter a ‘vocação para a política’”
(Weber, 1982, p. 151, grifo do autor).

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Referências bibliográficas

Bruyne, P. (1991), Dinâmica da Pesquisa em Ciências Sociais: Os polos da prática


metodológica. Rio de Janeiro: Francisco Alves.

Colliot-Thélène, C. (2012). De una modenidad política a otra. In M. Löwy, Max Weber y las
paradojas de la modernidad (p. 113-136). Buenos Aires, AR: Nueva Visión.

Lakatos, E. M.; Marconi, M. de A. (1992). Metodologia do Trabalho Científico. 4. Ed. São


Paulo: Atlas.

Weber, M. (1982), Conceitos básicos de Sociologia. São Paulo: Editora Moraes.

Weber, M. (1982). Ensaios de sociologia (W. Dutra, Trad.). Rio de Janeiro, RJ: Guanabara,
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Weber, M. (1987). A ética protestante e o espírito do capitalismo (5a ed.). São Paulo, SP:
Pioneira.

Weber, M. (1988) Biografia de Max Weber (M. A. N. Bigorra, Trad.). México, MX: Fondo de
Cultura Econômica.

Weber, M. (2004) A ética protestante e o ‘espírito’ do capitalismo. São Paulo, SP:


Companhia das Letras.

Weber, M. (2005) Lettre à Else Jaffé du 13 septembre 1907 – Présentation: science et vision
du monde. Plural, 1(12), 123-131.

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