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USUCAPIÃO ESPAÇO IMÓVEL URBANO

Aya Yokoyama, Breno Sérgio Oliveira, Dara Farias, Eduardo Costa, Vera Lúcia
Andrade.

RESUMO
O presente artigo apresenta o conceito e aplicação do usucapião — modo de adquirir
propriedade pela posse pacífica e sem interrupção durante certo tempo. Portanto, no decorrer
da assertiva será exposto o conceito e importância do objeto de estudo no Espaço Urbano
Imóvel. Metodologia: Foram aplicados uma pesquisa bibliográfica e um estudo de caso para a
coleta de informações. Resultados: Com resultado da pesquisa foi possível esclarecer que a
legislação brasileira permite que uma pessoa possa adquirir a propriedade de um bem através
de seu uso por um determinado tempo, sem interrupção, e desde que cumpra os requisitos
exigidos pela lei. Todavia, em nenhuma hipótese é possível usucapião de bem público. Para que
o direito seja reconhecido, é necessário que haja uma decisão judicial ou procedimento
extrajudicial em cartório de registro de imóveis, desde que o interessado seja representado por
um advogado. Nesse sentido, ao analisar a lei do usucapião, pode-se perceber que tratar-se de
um artigo subsequente, dividindo-se em tipos de usucapião: ordinário, extraordinário e especial.
É inegável a importância de tal princípio, visto que possibilita a garantia da função social de
terra e o uso do espaço urbano imóvel. Em suma, é concedido às famílias, por meio da lei de
usucapião, o direito à moradia.

Palavras-chave: usucapião; espaço urbano imóvel; direito à moradia; estatuto da cidade;


estudo de caso;

ABSTRACT
This article presents the concept and application of adverse possession – a way of acquiring
property by peaceful possession and without interruption for a certain time. Therefore, in the
course of the assertion, the concept and importance of the object of study in the Urban Space
immovable will be exposed. Methodology: A bibliographical research and a case study were
applied to the collection of information. Results: As a result of the research it was possible to
clarify that the Brazilian legislation allows a person to acquire the property of a good through
its use for a certain time, without interruption, and as long as it meets the requirements required
by the law. However, under no circumstances is adverse possession of the public good possible.
For the right to be recognized, there must be a judicial decision or extrajudicial procedure in a
real estate registry office, provided that the interested party is represented by a lawyer. In this
sense, when analyzing the law of adverse possession, it can be perceived that it is a subsequent
article, dividing into types of adverse possession: ordinary, extraordinary and special. The
importance of such a principle is undeniable, since it allows the guarantee of the social function
of land and the use of immovable urban space. In short, families are granted, through the law.

Keywords: adverse possession; urban still space; right to housing; city statute; case study
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 3
2. METODOLOGIA ............................................................................................................. 3
3. DISCUSSÃO E RESULTADOS ....................................................................................... 3
3.1. Conceito ...................................................................................................................... 3
3.2. Usucapião Especial Urbana ...................................................................................... 5
3.2.1. Requisitos específicos de usucapião urbano ..................................................... 5
3.2.2. Documentos a serem apresentados ................................................................... 5
3.3. Usucapião Especial Urbana Individual .................................................................... 6
3.3.1. Requisitos do Usucapião Especial Individual ................................................... 7
3.4. Usucapião Especial Urbana Coletiva ....................................................................... 8
3.4.1. Requisitos do Usucapião Especial Coletivo .................................................... 10
3.5. Aspectos comuns à usucapião especial urbana e coletiva .................................... 12
3.6. Estudo de caso .......................................................................................................... 13
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 14
5. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA .............................................................................. 15
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1. INTRODUÇÃO
O presente artigo científico foi realizado com o objetivo de proporcionar a
compreensão do conceito e aplicação do Usucapião no Espaço Urbano Imóvel, de maneira
objetiva e inteligível. Dessa forma, ao longo da dissertação será abordado o conceito geral da
usucapião, tal qual de total relevância, para que, por fim, seja possível o entendimento desse
instrumento no viés Urbano Imóvel.

2. METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, que consiste na coleta de informações,
podendo ser por meio de leituras de livros, artigos acadêmicos, teses, leis, ou seja, materiais de
cunho teórico que contribuam para o propósito do tema a ser abordado.
Outro método escolhido para o desenvolvimento do artigo foi o estudo de caso, que
pode ser definido como uma estratégia, que no contexto e intenção do atual trabalho terá a
função de exemplificar a usucapião especial urbana na realidade, por intermédio de uma
abordagem que um caso existente, onde será discutido o seu processo e polêmicas ao longo e
após o julgamento.

3. DISCUSSÃO E RESULTADOS
3.1. Conceito
A palavra usucapião tem origem do verbo em latim “usocapio”, sendo “capio” o
ato de adquirir ou tomar, e “usus” que significa posse. Assim, o termo usucapião pode ser
interpretado como ocupação ou posse, mediante o uso. Um fator interessante sobre a etimologia
sobre tal palavra, é a sua polêmica quanto ao seu gênero, muitos a empregam no gênero
feminino, enquanto outras no masculino, atualmente os dois modos são aceitos como corretos.
A usucapião é um instrumento que compreende na forma do indivíduo se tornar
dono de uma propriedade, após se ocupar e cuidar dele por um determinado de tempo, tal qual
definido por uma lei, essa concessão se aplica para bens móveis (eletrodomésticos, veículos),
assim como para bens imóveis (casa, prédio, apartamento).
É importante ressaltar que existem diferentes tipos de usucapião, contudo, todos
possuem o mesmo objetivo: conferir uma função social à propriedade. Entretanto, para que
ocorra essa abonação é necessário que essa ocupação respeite os limites impostos pelo
arcabouço jurídico da República Federativa do Brasil, sendo que cada tipo de usucapião deve
seguir à risca os termos para que haja a aquisição da propriedade devidamente. Tratando-se
apenas no âmbito dos bens imóveis, existem 3 tipos de usucapião:
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• Ordinária
Nela são exigidos:
o Comportamento como proprietário do bem;
o Inexistência de oposição a posse;
o Existência de um contrato ou compromisso de compra e venda;
o Boa-fé;
o Posse ininterrupta durante 10 anos, podendo ser reduzida para 5
anos, se for adquirido de forma onerosa, ou seja, com base em
registros no cartório competente. Essa redução será aplicada,
somente, se o ocupante ter estabelecido moradia e realizado
investimentos de caráter social e econômico do imóvel.
• Extraordinária
Nela são exigidos:
o Comportamento de proprietário;
o Inexistência de oposição;
o Ininterrupto por 15 anos;
o Não é obrigatório a apresentação de contrato, nem a comprovação
de boa-fé;
o Assim como na ordinária, esse tempo pode ser reduzido para 10
anos, caso o ocupante tenha realizado sua moradia no imóvel ou ter
feito obras e/ou serviços de caráter produtivo.
• Especial
Nela há cinco vertentes:
1. Urbana
o Comportamento de proprietário
o Inexistência de oposição
o Ininterrupto por 5 anos
o Não pode exceder 250m²
o O ocupante não pode ser proprietário de outro imóvel (urbano ou rural);
o Não pode ter tido reconhecida essa forma de usucapião anteriormente.
o Ocupação mansa e pacífica
2. Rural
o Comportamento de proprietário;
o Inexistência a posição;
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o Ininterrupto por 5 anos;


o Deve ser utilizado como moradia, além de torná-lo produtivo pelo
trabalho próprio ou da família;
o Não pode exceder 50 hectares
o Não pode ser proprietário de outro imóvel, seja ele urbano ou rural.
3. Coletiva
o Comportamento de proprietário
o Inexistência de oposição à posse
o Período ininterrupto de 5 anos
o Não pode ter mais que 250m²
o O ocupante não pode ser proprietário de outro imóvel+
4. Familiar
5. Indígena

3.2. Usucapião Especial Urbana


A usucapião especial urbana, também pode ser chamada de usucapião pro moradia
ou usucapião pro misero, tem por objetivo beneficiar o possuidor que não é proprietário de
nenhum outro imóvel urbano. Porém, esse imóvel deve ser utilizado para sua moradia ou de
sua família.
3.2.1. Requisitos específicos de usucapião urbano
O primeiro requisito de suma importância, é em relação ao limite de metragem do
terreno que tal qual não pode exceder 250m²
Ademais, o ocupante não pode possuir outro imóvel, nem mesmo a possibilidade
de possuir, ou seja, já está recorrendo à justiça pela posse de um outro imóvel um em seu nome
(mesmo integral ou parcial) em nível nacional, em nenhuma circunstância. Isso decorre do fato
que seria controverso se situações dessa natureza fossem aceitas, pois iria contra a premissa da
usucapião que
O indivíduo deve cumprir a função social da propriedade, ou seja, deve morar no
local e se comportamento como proprietário do local, tal atitude tem como nome teórico,
Animus Domini, “elemento substancial do direito de posse, e a indica como posse perfeita,
visto que se comporta sobre uma coisa que se possui como sendo de propriedade própria
(PLÁCIDO E SILVA)
Como anteriormente mencionado, o tempo necessário de utilização da área equivale
a 5 anos ininterruptos. É necessário frisar que, durante esses cinco anos não deve haver oposição
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do real proprietário, dessa forma sendo uma ocupação mansa e pacífica (boa-fé). Esse requisito
pode ser comprovado, mediante uma certidão comprovando que o indivíduo nunca foi
processado em uma reiteração do imóvel em vista, tal documento pode ser retirado no fórum
físico ou on-line).
3.2.2. Documentos a serem apresentados
• RG e CPF;
• Justo título, que nada mais é que um documento que demonstra boa-fé
• Comprovante de residência;
• Relação dos confinantes (nome, endereço, profissão, estado civil);
• Planta e memorial descritivo: prefeitura, pagar um topógrafo para realizar
tal serviço;
• Certidão de propriedade do imóvel (se imóvel não tiver matrícula própria,
pode-se pedir a certidão de propriedade da área maior onde ele está inserido)
• Certidão de distribuição cíveis no autor nome e outro no nome do ocupante
tanto na esfera estadual como na federal
• Conta de água
• Conta de luz
• IPTU
• Fotos do imóvel
• Telefone
• Matrícula
• Averbações do imóvel
3.3. Usucapião Especial Individual
O usucapião individual é objeto do art. 9.º do Estatuto da Cidade, que reproduz o
art. 183 da Constituição Federal e é, por sua feita, reproduzido no art. 1.240 do Código Civil de
2002.
A relação que o artigo do Estatuto da Cidade, tem com o artigo da CF, causa a falsa
impressão de que o Estatuto em nada inovou no que concerne à figura da usucapião especial
individual. Contudo, constata-se que não consiste em uma mera reprodução do art. 183 da
Constituição Federal, refere-se não só dá área, não só do solo urbano, mas também da
edificação, o que não consta do texto constitucional. A primeira delas está no uso dos termos
“área ou edificação” no artigo 9º do Estatuto. O artigo 183 da Constituição Federal fala somente
em “área urbana”.
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O art. 183 da CF, ainda gera questionamentos ao citar a área ou edificação de até
250m². Tal dúvida refere-se ao limite do solo, à construção ou a ambos. A resposta para ela é
que, o limite de 250m² abrange tanto a área de terreno como a construção. Em razão da omissão
do preceito constitucional e das interpretações diferentes geradas pelo texto da Lei.
Além disso, a segunda diferença no que diz respeito ao § 3º do art. 9º, que dispõe
sobre a sucessio possessionis, assegurando que o herdeiro legítimo continua, de pleno direito,
a posse de seu antecessor, “desde que já resida no imóvel por ocasião da abertura da sucessão”.
Estabelece, portanto, a lei limitação não prevista no art. 183 da Carta Magna, uma
vez que houve o acréscimo de um novo requisito, qual seja, o de que o herdeiro somente
permanece com pleno direito a posse de seu antecessor, desde que já resida no imóvel por
ocasião da abertura da sucessão. A norma denuncia a preocupação quanto ao objetivo da
proteção: a moradia.
Outro aspecto a ser mencionado é que, caso exista composse entre marido e mulher
ou entre companheiros e um deles venha a falecer, a posse deverá prosseguir em favor do
supérstite e não do herdeiro, salvo se o próprio supérstite ostentar a qualidade de herdeiro
legítimo.
O que deve ser evitado são situações de visível distorção, como absorção de áreas
contíguas à construção, até o preenchimento do limite, com extravasamento abusivo do lote
original ou daquele que faz pressupor a efetiva utilização para moradia.
Situação diversa se verifica quando há pluralidade de herdeiros legítimos. Segundo
Francisco Loureiro, em vista do instituto da saisine e do litisconsórcio necessário que se instaura
entre os herdeiros, três soluções são possíveis:
o Todos os herdeiros aguardam o prazo para outras modalidades de
usucapião, como o ordinário e o extraordinário do Código Civil, que não
exigem o requisito da moradia no momento da morte do antecessor;
o Ou o herdeiro que reside no imóvel nega a composse dos co-herdeiros,
arroga-se possuidor exclusivo, mantém soberania sobre o imóvel,
deixando tal situação inequívoca aos compossuidores e inaugura novo
prazo quinquenal, para efeito de Usucapião;
o Ou a situação jurídica de um herdeiro (aquele que reside no imóvel)
beneficia os demais co-herdeiros.
Dentre tais soluções a que parece melhor amoldar-se ao desiderato do legislador e
resguardar a posse com finalidade de moradia é a terceira.
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3.3.1 Requisitos do Usucapião Especial Individual:


O primeiro requisito que deve ser observado, com o objetivo da Usucapião Especial
Individual seja reconhecido, relaciona-se à área máxima de 250m² para o imóvel a ser
usucapido, estabelecida pela legislação. Logo, a usucapião urbana é possível para imóveis com
área de até 250m². Caso o imóvel tenha área superior a esse limite, deverá ser utilizada outra
espécie de usucapião (ordinária ou extraordinária).
O segundo requisito é que o imóvel seja urbano. Todavia, infelizmente, o Estatuto
da Cidade não definiu qual o critério a ser adotado para que se considere um imóvel urbano,
tendo em vista a relação existente em nosso direito de dois conceitos a respeito, a saber: o da
destinação e o da localização. Em contrapartida a isso, Fernanda Lousada Cardoso considera
que o Estatuto foi claro ao adotar o critério da localização, “de modo a ser urbana a área situada
na zona urbana, assim descrita em lei municipal.
O terceiro para atender ao usucapião especial individual, diz respeito a posse
ininterrupta e sem oposição pelo prazo de cinco anos. Dessa maneira, caso o indivíduo tenha
perdido a posse ou o proprietário do bem tenha se oposto a ela, não há como solicitar essa
usucapião. Vale ressaltar, que pode o herdeiro legítimo continuar a posse de seu antecessor,
desde que já resida no imóvel por ocasião da abertura da sucessão, ou seja, por ocasião da morte,
conforme prevê o art. 9º, § 3º do Estatuto da Cidade.
Exige-se também a utilização do imóvel como moradia pelo usucapiente ou por sua
família, o imóvel não necessita exclusivamente que seja destinado a atribuição residencial.
Pode-se, também, que algum indivíduo tenha posse da propriedade e peça sua usucapião
especial sem a necessidade de residir no local, porém é preciso que alguém da família o faça.
Salienta-se, que para estar dentro dos requisitos exigidos o usucapiente não tenha
sido beneficiado anteriormente com o usucapião especial de imóvel urbano. Limita-se,
portanto, a autorização do benefício apenas uma vez. Desse modo, tem como foco evitar a
violação do objetivo essencial do instrumento jurídico.
Com o mesmo propósito, não se permite que o usucapiente seja proprietário de
outro imóvel. Essa exigência permanece durante a prescrição aquisitiva, não sendo
impedimento o fato de a pessoa vir a adquirir outro imóvel posteriormente ou de já ter sido
proprietário ou possuidor antes de ocupar aquela área.
Em conclusão a isso, vale enfatizar que contrapõe a doutrina quanto à necessidade
de se preencher os requisitos constantes do plano diretor a da ordenação da cidade para que se
veja reconhecido o instituto ora destacado. Trata-se de questão que demanda um olhar
cuidadoso. Assim sendo, se, por um lado, há quem sustente não ser possível o reconhecimento
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judicial de usucapião que desrespeite a legislação urbanística, devendo tal requisito ser
observado, sob pena de se reconhecer direito de propriedade que não atenda à função social;
por outro, a ocupação para fins de moradia, que é privilegiada pelo instituto, certamente atende
ao previsto no art. 5º, inc. XXIV da Constituição Federal.

3.4. Usucapião Especial Coletiva


A modalidade de usucapião coletivo prevista no Art. 10 do Estatuto da Cidade, que
assim prescreve:

“Art. 10. As áreas urbanas com mais de duzentos e cinquenta metros quadrados,
ocupados por população de baixa renda para sua moradia, por cinco anos, ininterruptamente e
sem oposição, onde não for possível identificar os terrenos ocupados por cada possuidor, são
susceptíveis de serem usucapidas coletivamente, desde que os possuidores não sejam
proprietários de outro imóvel urbano ou rural.

§ 1º O possuidor pode, para o fim de contar o prazo exigido por este


artigo, acrescentar sua posse à de seu antecessor, contanto que ambas sejam
contínuas.
§ 2º A usucapião especial coletiva de imóvel urbano será declarada pelo
juiz, mediante sentença, a qual servirá de título para registro no cartório de registro
de imóveis.
§ 3º Na sentença, o juiz atribuirá igual fração ideal de terreno a cada
possuidor, independentemente da dimensão do terreno que cada um ocupe, salvo
hipótese de acordo escrito entre os condôminos, estabelecendo frações ideais
diferenciadas.
§ 4º O condomínio especial constituído é indivisível, não sendo passível
de extinção, salvo deliberação favorável tomada por no mínimo, dois terços dos
condôminos, no caso de execução de urbanização posterior à constituição do
condomínio.
§ 5º As deliberações relativas à administração do condomínio especial
serão tomadas por maioria dos votos dos condôminos presentes, obrigando também
os demais, discordantes e ausentes.”
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A este fica encarregado uma dupla tarefa, isto é, não só regularizar a situação
fundiária, mas permitir a urbanização de áreas ocupadas por população de baixa renda,
alterando o perfil socialmente indesejável de determinados núcleos habitacionais urbanos.
Nota-se, pois, que deve o referido instituto ser examinado como mecanismo de regularização
fundiária e, sobretudo, de reorganização urbanística.
Outrossim, pode-se claramente compreender que que o referido instituto possui
como objetivos a melhoria das condições de vida da população por meio da ordenação do
espaço urbano e de uma legislação específica, de modo a conservar as singularidades das
ocupações espontâneas e integrá-las à estrutura urbana da cidade formal; garantindo a
permanência da população nas áreas ocupadas, priorizando o direito à moradia sobre o direito
à propriedade; a instalação de um processo de apoio à organização comunitária por meio da
participação da população beneficiária em todas as etapas da regularização, desde o seu
planejamento inicial até o resultado; e a minimização da segregação urbana e exclusão social
existentes nas cidades brasileiras.
Posto isso, faz-se presente o objeto de áreas urbanas com mais de duzentos e
cinquenta metros quadrados, a partir do momento em que essas são ocupadas por população de
baixa renda para sua moradia, com posse qualificada com os requisitos do art. 183 da CRFB/88,
onde não seja possível identificar os terrenos ocupados por cada possuidor.
A usucapião especial coletiva constitui-se em uma categoria da usucapião
constitucional urbana, que evidencia algumas características peculiares para resolver situações
fáticas que encontravam barreiras de natureza formal para o cumprimento da prescrição
aquisitiva. Sendo assim, admitir-se-ia o ajuizamento imediato de ações de usucapião coletivo,
aproveitando o período de posse anterior à vigência do Estatuto da Cidade. Em outros termos,
desde a Constituição Federal de 1988, a posse por cinco anos acompanhada dos requisitos
expostos no art.183 já se convertia em propriedade, não consistindo no usucapião coletivo
maior encargo para o titular do domínio.

3.4.1 Requisitos do Usucapião Especial Coletivo:


No que se refere as condições pertences ao reconhecimento da usucapião especial
coletiva, instaura o art.10 do Estatuto da Cidade demarcando o objeto do instituto. Estabelece
serem as “áreas urbanas com mais de duzentos e cinquenta metros quadrados”
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Retirando-se, neste especificamente, o teto indicado no art. 183 da Carta Magna,


dado que a soma de eventuais poses individuais pode ultrapassar a antiga demarcação de
duzentos e cinquenta metros quadrados.
Não se reconhece, todavia, que ocasionais posses individuais possam, cada uma, ter
uma área quadrada elevada ao teto ou que a fração ideal de controle de cada um dos
usucapientes, declara por sentença, equivalha a mais de duzentos e cinquenta metros quadrados,
sob pena de alterar-se o próprio instituto, configurado como instrumento de urbanização e
normalização fundiária à população de baixa renda.
Desta maneira, a discussão que aqui se verifica remete-se à possibilidade de se ter
áreas com mensuração inferior a duzentos e cinquenta metros quadrados, como objeto de
usucapião especial coletiva.
Ao invés de os usucapientes exercerem o direito subjetivo individualmente, eles o
farão de modo coletivo, com o foco não somente na aquisição do domínio, mas na futura
urbanização. No entanto, para José dos Santos Carvalho Filho “se uma área de duzentos metros
quadrados, por exemplo, for objeto de várias posses, em espaços não identificados para cada
possuidor, não poderá ser objeto de usucapião coletivo nem do usucapião individual, já que
para este é necessário identificar o terreno sob a posse do morador”
O artigo da Lei 10.257/01 prossegue estabelecendo requisito subjetivo ao usucapião
coletivo, resistente na legitimidade ativa restringida à população de baixa renda. Contudo, não
esclarece o legislador o conteúdo da expressão “população de baixa renda”, cabendo ao Juiz,
em cada caso concreto, definir se os requerentes se enquadram no referido conceito.
Fernanda Lousada Cardoso identifica de forma sistemática as diferentes soluções
apontadas pela doutrina para tentar definir o que seja “população de baixa renda”. Segundo a
autora, parte da doutrina adota critério objetivo, indicando como população de baixa renda
aquela que mensalmente alcança uma média abaixo de três salários-mínimos, o que não se
confunde com o conceito trabalhado para fins de concessão de gratuidade de justiça, definido
pela Lei nº. 1.060/50. Os economistas e estudiosos de ciências sociais, em regra, adotam este
critério e levam em conta o montante auferido em média por toda a família de cada um dos
usucapientes para fins de contabilização dos três salários-mínimos.
Outro requisito que se faz muito necessário, constitui-se na ocupação com o
objetivo de moradia. Portanto, faz-se necessário que o usucapiente more efetivamente na área
deseja para aquisição, só ou com a sua família, não é relevante, mas que ali tenha a sua moradia
é uma condição indispensável para que venha a ser beneficiado com o usucapião.
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Normalmente, existe áreas que não são destinadas à moradia nesses núcleos. Porém,
deve-se levar em consideração que os núcleos habitacionais formam um todo orgânico, de modo
que se excluir tais áreas resultaria na desfiguração do todo.
Há o requisito a ser aqui apontado reside na posse ininterrupta e sem oposição pelo
prazo de 5 (cinco) anos, entendido este o prazo de ocupação por parte da comunidade ali
presente, ainda que haja alteração de seus componentes no curso do prazo. Faz-se necessário
comprovar ainda em juízo que durante esse tempo não houve oposição ou qualquer interrupção
no prazo prescricional aquisitivo entre terceiros em relação à comunidade ou mesmo à
ocupação.
Por fim, é necessário que os possuidores não sejam proprietários de outro imóvel
urbano ou rural. Portanto, não há possibilidade de se reconhecer o direito aquele possuidor que
anteriormente já tenha sido beneficiado pelo instituto. O entendimento infirmado decorre da
interpretação do art. 183, §2º da CRFB/88 c/c art. 9º, §2º do Estatuto da Cidade.

3.5. Aspectos comuns à usucapião especial urbana individual e coletiva


Em ambas as categorias, individual e coletiva, são comuns:
a) Impossibilidade de aplicabilidade da usucapião em edifícios públicos: a
Carta Magna brasileira determina algumas restrições, sem ressalvas; o
Código Civil de 2002 desenvolveu a proibição no art. 102. Isto posto, a
usucapião especial urbana, coletiva ou individual, é um instrumento que não
causa prejuízos e nem danos, no que diz respeito a áreas públicas, preferidas
de muitas favelas ou aglomerados irregulares, ficando a responsabilidade ao
Poder Público de atuar de modo preventivo e ativo, ciente da resistência
irregularidade.
b) A interferência do Ministério Público é indispensável: a preferência pública
que fundamenta a intervenção é flagrante na usucapião coletiva.
c) Ações possessórias e petitórias relativas ao imóvel usucapiendo ficam
sobrestadas, até o deslinde da ação de usucapião: o art. 11 do Estatuto da
Cidade manipula o comando do art. 923 do Código de Processo Civil, que
impossibilita “ação de reconhecimento de domínio na pendência de
processo possessório”. A índole social que impulsiona a usucapião especial
urbana prevalece sobre a questão possessória, dispersa-se a natureza da
competição de posse. Evidentemente, as possessórias previamente ajuizadas
podem se prestar como prova de oposição à posse ad usucapionem.
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Conjuntamente nos parece que a usucapião invocada em defesa tem o


semelhante efeito, em relação a outras demandas petitórias ou possessórias
eventualmente ajuizadas, que tenham em mira o imóvel usucapiendo.
d) O rito processual é sumário (art. 14 do Estatuto da Cidade c. c. art. 275 do
Código de Processo Civil): parece-nos provável, porém, que as citações e
intimações, pessoais e editalícias, possam prejudicar a realização da
audiência inicial no prazo do art. 277 do Código de Processo Civil, mesmo
computado em dobro, em função da intimação da Fazenda. É recomendável
a conversão de rito, nos termos do § 4.º do art. 277, sendo notório que, em
determinadas circunstâncias, o procedimento ordinário se mostra mais
célere e menos oneroso.

3.6. Estudo de caso


Para melhor compreensão da aplicação da usucapião na prática, foi analisado um
caso de 2020 sobre o reconhecimento de usucapião coletivo da comunidade Vila Esperança em
Sabará, cidade industrial de Curitiba, Paraná, esse processo de concessão da usucapião durou
cerca de 12 anos, sendo um processo demorado e caracterizado pela negligência do governo de
Curitiba.
De acordo com o relato dos moradores, o início das ocupações se deu durante os
anos 70 e 80, a partir da migração de várias pessoas da área rural para a área urbana de Curitiba,
a fim de garantir uma melhor qualidade de vida. Todavia, o custo de vida na cidade época era
alto para os recém-chegados, além da falta de políticas públicas. Logo a solução que estas
pessoas encontraram foi se instalar em espaços vazios da área urbana, especificamente nas áreas
periféricas, mesmo sendo um local, inicialmente, precário e insalubre, era a única maneira dos
trabalhadores conseguirem trabalhar e garantirem o mantimento básicos para sua família, tais,
como alimentação, saúde e educação.
Sebastião Sampaio (74 anos), é o represente e líder da Vila, mora na área desde 89,
com sua família, e acompanhou o desenvolvimento da Vila desde então, como a aplicação de
asfaltamento, posto de saúde, saneamento público etc. Inicialmente as habitações eram feitas
de lona, e conforme o trabalho da população conseguiram erguer construções de alvenaria.
“Tudo o que está em cima desta terra foi pago pela população”. “Nasceu criança aqui que hoje
é pai, nasceu, se criou, casou, teve filhos e nós na luta pra regularizar o terreno” (SEBASTIÃO
SAMPAIO, 2020).
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É evidente o descaso do Estado com caso, isso é evidenciado desde o início das
ocupações, com a falta de adoção de políticas públicas para regularizar as áreas ocupadas, além
da lentidão dado ao processo de concessão de usucapião, tal demora que afetou negativamente
os moradores, que além de estarem sempre com insegurança quanto a ocupação do solo, as
questões básicas de saúde que deveriam ser proporcionadas pelo governo foram custeadas pelos
próprios moradores, tais como iluminação, pavimentação e etc.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
No primeiro momento, começamos a análise a lei da usucapião, nota-se que a lei é
subdividida em tipos de usucapião, sendo elas, ordinária, extraordinário e especial (ordinário,
extraordinária e especial). Com esse embasamento, foi possível definir qual o tipo de usucapião
mais adequa em cada caso específico. Portanto, é notável que esse instrumento é necessário
para a garantia da função social da terra.
A princípio, esse estudo, observa-se que estatuto da cidade, na Seção V, da
Usucapião Especial de Imóvel Urbano, apresenta algumas condições para que tem o direito ao
uso da usucapião e o processo de jurídico para obter a posse da terra. Nesse sentido, por
intermédio desse direito é garantido o uso e função do espaço urbano imóvel e permitido que a
família conquiste o eu lar, por meio da usucapião, e assim usando o direito à moradia.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ACS. Usucapião. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios – TJDFT, 2019.
Disponível em: https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/campanhas-e-produtos/direito-
facil/edicao-semanal/usucapiao. Acesso em: 1 abr. 2023.

BERNARDONI, Nathan. Usucapião especial de imóvel urbano – o usucapião especial de


imóvel urbano é conduzido pelos objetivos da norma constitucional: deve servir ao
desenvolvimento das funções sociais da cidade, ao bem-estar de seus habitantes e ao meio
ambiente. Jusbrasil, 2016. Disponível em:
https://nathanbernardoni.jusbrasil.com.br/artigos/312539151/usucapiao-especial-de-imovel-
urbano/amp. Acesso em: 2 abr. 2023

BRASIL. Lei n° 12.424, de Junho de 2011. Dispõe sobre a usucapião especial urbana por
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