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Ao longo do tempo, as pessoas com deficiência intelectual foram vistas de diferentes formas:
como aberrações, pessoas místicas ou com superpoderes. Ainda, como uma forma de castigo
para a família; por isso, muitas eram abandonadas.
À medida que o direito à igualdade e à cidadania tornou-se importante para nossa sociedade,
essa visão foi mudando, porém, a imagem das pessoas com deficiência intelectual como
“coitadas” - infelizmente ainda comum - propiciou atitudes e comportamento mais focados na
proteção do que no desenvolvimento da autonomia. Além disso, a confusão com doença
mental levou muitas pessoas com deficiência a serem tratadas pela medicina em instituições
especializadas que as retiravam do convívio familiar.
O grande ponto de toda essa mudança em relação à terminologia deficiente intelectual é que,
independentemente da forma como nos referimos ou nomeamos a pessoa com deficiência,
não podemos limitar as relações com o ser humano em questão, nem deixar de reconhecer
suas potencialidades, deveres e direitos, principalmente à educação de qualidade e com
equidade.
Muitos movimentos têm acontecido em torno da inserção das pessoas com deficiência
intelectual na sociedade. Eles passaram desde a institucionalização, como as internações em
hospitais psiquiátricos, como o Cândido Ferreira, em Campinas, São Paulo, até o surgimento de
instituições para atendimento de pessoas com deficiência intelectual e deficiência múltipla
sensorial, como a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e a Associação
Pestalozzi; desde a segregação nas classes especiais em escolas, até a integração nas salas de
aula regulares.
Sabemos que o paradigma de uma sociedade inclusiva vai além da reabilitação, um modelo
médico. Ele enfatiza o acesso, permanência e utilização de espaços, bens e serviços e a
eliminação das barreiras arquitetônicas, de comunicação, pedagógicas, atitudinais e
instrumentais.
Também sabemos que, em uma sociedade que ainda estigmatiza a deficiência mental e que
resiste ao processo inclusivo, os desafios são muitos. Porém, nenhuma proposta de
acessibilidade deve ser encarada como bondade ou caridade, e sim como um direito de todos
os cidadãos.
A prática pedagógica junto aos estudantes com deficiência intelectual
Mas como fazer o planejamento considerando perfis de estudante com deficiência intelectual?
Quando falamos de perfis de estudantes com deficiência intelectual, docentes da sala regular e
do Atendimento Educacional Especializado têm subsídios para planejar e diversificar, por isso
devem trabalhar juntos.
O trabalho integrado desses profissionais permite o mapeamento mais preciso das habilidades
do(a) estudante e dos recursos aos quais ele(a) está mais adaptado. Além disso, considerando
os contextos em que cada docente atua, pode-se ter uma visão mais ampla sobre os aspectos
que precisam ser mais desenvolvidos. Com esse diagnóstico em mãos, o planejamento das
estratégias se torna mais acurado.
Para refletir
• Atribuir imagens aos componentes curriculares e etiquetar cadernos e livros com as mesmas
imagens
Personalização da aprendizagem
A personalização da aprendizagem é uma metodologia que coloca o estudante como ser ativo,
no centro desse processo, e que avalia as suas necessidades e particularidades. A partir daí, os
docentes elaboram as formas de engajar os estudantes, explorar os temas, verificar a
aprendizagem e tornar os resultados visíveis, considerando o contexto.
A avaliação inicial do repertório dos estudantes - o que já sabem, de que gostam e quais
habilidades e competências precisam desenvolver - é o ponto de partida da personalização da
aprendizagem.
É importante destacar que essa metodologia não consiste em abandonar o currículo ou deixar
que o estudante faça somente aquilo que já é capaz de fazer. Ao contrário disso, a
personalização da aprendizagem se baseia em um percurso educacional com objetivos
definidos, que poderá ser realizado de diversas maneiras, de modo que os planos e métodos
de ensino tornam-se mais flexíveis e adaptáveis.
Para refletir
Para ilustrar melhor o que queremos dizer com planejamento baseado em potencialidades e
necessidades, apresentamos a você Antônio. Vamos conhecer o caso dele?
Antônio tem 12 anos e cursa o sexto ano do Ensino Fundamental II em uma escola estadual em
Ribeirão Preto. Seu relacionamento com todos na sala de aula é muito bom, e ele é bastante
ligado a três colegas da turma, que chama de irmãos. Os quatro garotos são vizinhos. Ele
apresenta deficiência intelectual e uma leve deformidade no crânio, provavelmente originada
durante o parto.
Antônio tem dificuldade de concentração e mantém o interesse nas atividades escolares por
um curto período. Em contrapartida, adora jogos e tem um interesse particular para
compreender regras e se beneficiar delas para ser o vencedor.
Do ponto de vista motor, ele apresenta dificuldade em sua marcha e, ao andar, arrasta os pés
sem flexionar os joelhos. Na motricidade fina, apresenta dificuldades no traçado das letras e
no desenho. Na escrita do nome próprio, faz tentativas de copiá-lo.
Nas atividades de leitura e escrita, apresenta comportamento que oscila entre um interesse
maior e um interesse menor. O desenvolvimento da linguagem escrita está em estágio inicial
(nível pré-silábico), porém a fala é bem articulada e ele tem certa facilidade de se expressar e
compreender o que lhe é solicitado oralmente.
Imagine que Antônio é seu aluno. Considerando as especificidades de sua área de atuação e as
características de Antônio, quais recursos e estratégias seriam mais adequados para utilizar em
sala de aula?
A aprendizagem personalizada e baseada nos princípios do DUA não exige apenas que se
identifiquem as potencialidades e habilidades que os estudantes precisam desenvolver. Ela
também requer uma avaliação minuciosa de estratégias e recursos apropriados para cada
perfil.
A literatura e a prática nos ensinam que pessoas com deficiência intelectual têm perfis tão
heterogêneos que estabelecer quais são as características mais comuns é inviável. Porém, elas
também nos ensinam que, se devidamente estimulados, estudantes com deficiência
intelectual conseguem avançar não só em seus conhecimentos acadêmicos, mas também na
interação com o mundo ao seu redor.
Gamificação e storytelling
GAMIFICAÇÃO
A gamificação se refere à elaboração de atividades no formato de jogos que têm como missão
resolver uma situação-problema desafiadora. Uma atividade gamificada pode utilizar avatares,
ter níveis, atribuir prêmios e brindes para os jogadores. Para além das tecnologias utilizadas, a
ludicidade também faz parte da estratégia de ensino, o que pode potencializar o
engajamento, o interesse e a eficiência na elaboração de soluções. (Vianna, 2013)
Como fazer?
Uma estratégia gamificada para estudante com deficiência intelectual pode ser criar um jogo
em que o estudante tenha como objetivo salvar a Chapeuzinho Vermelho do Lobo Mau. Cada
fase do jogo pode ser um desafio, por exemplo, ler ou identificar uma palavra relacionada à
história. A cada acerto, o estudante avança para uma nova fase. Para elaborar o jogo, o
professor pode usar formulários online e recursos de apresentação de slides, como o Google
Forms e o Google Apresentações.
STORYTELLING
As dúvidas sobre como fazer e qual método utilizar, entre outras, são frequentes, mas, antes
de respondê-las, temos de voltar a algumas questões anteriores e olhar para as especificidades
do estudante.
O processo de alfabetização, além de não ser igual para todos, não é linear: muitos estudantes
podem chegar aos anos finais do Ensino Fundamental ainda pouco amadurecidos, o que torna
necessário o cuidado de não infantilizar as práticas pedagógicas, como entregar uma atividade
fora de contexto e com muitos desenhos infantis. Por isso, reiteramos a importância da
parceria entre docentes da classe regular e do AEE: juntos, saberão decidir os estímulos e
atividades mais propícios.
Uma outra dica é utilizar recursos de comunicação, como pranchas de pedidos e troca de
figuras, e incluir tecnologias assistivas na rotina das atividades escolares.
Todos os estudantes, com ou sem deficiência, têm o mesmo direito de acesso ao currículo
escolar, porém é preciso levar em consideração a flexibilidade desse currículo para que haja
coerência com a realidade escolar dos estudantes, suas individualidades e a forma como cada
um aprende. Quando falamos em acessibilidade curricular, estamos pensando em estratégias
didáticas para favorecer a participação e a aprendizagem dos estudantes, ou seja, dar
condições de igualdade para todos.
Veja a seguir outras recomendações que podem ser úteis para pensar na acessibilidade
curricular.
Utilize estímulos para engajar. Por exemplo, se um estudante gosta muito de dinossauros, por
que não realizar uma atividade baseada nos dinossauros? Ou, se uma estudante se expressa
melhor desenhando, por que não solicitar um desenho de acordo com a proposta?
Sempre pergunte aos estudantes sobre os assuntos abordados em sala, o que eles têm
aprendido, de que têm gostado, o que chamou a atenção.
Para refletir
Imagine, novamente, que Antônio é seu aluno e que, para a próxima aula, você planejou
exercícios baseados em leitura.
Você conhece algumas características de Antônio e sabe que ele tem especial dificuldade de
concentração nesse tipo de atividade, mas um dos objetivos de aprendizagem que você
estabeleceu é desenvolver a competência leitora.
De que forma você pode apresentar os exercícios para ele?
Quantas vezes não escutamos que estudantes com deficiência intelectual não precisam ser
avaliados ou que é só atribuir a nota 5,0 que está tudo bem? Ou que estudantes elegíveis aos
serviços da Educação Especial não podem ser reprovados?
Esses são alguns mitos que rondam os corredores escolares e que muitas se tornam senso
comum, pois não há uma evidência por trás dessas falas. O que precisamos desconstruir,
primeiramente, é que o estudante com deficiência é estudante como os demais e que, assim
como seus colegas, deve ser incluído no processo de avaliação.
Essa reflexão é extremamente necessária quando nos deparamos com estudantes com
deficiência intelectual. Em muitas situações, eles precisam do apoio de um mediador. Nesses
casos, é mais adequado olhar para o processo, para os esquemas utilizados para resolver as
questões e avaliar o progresso do aluno nesse campo.
Veja abaixo algumas sugestões para tornar o processo de avaliação mais inclusivo.
Como você já conhece o seu estudante, pense na melhor estratégia avaliativa para ele. Por
exemplo, ao invés de ler um texto, que tal utilizar um vídeo?
Se o estudante ainda não estiver totalmente alfabetizado, realize a prova oralmente ou com
digitação por voz.
Utilize letras maiúsculas e sem serifas para facilitar a leitura. Uma sugestão é a fonte Arial.
Utilize imagens estáticas e imagens animadas, como gifs, para facilitar a associação de
informações.
Diante de tantas reflexões, gostaríamos de salientar o quanto é importante olhar para cada
estudante na sua especificidade e saber que ali há muitas qualidades, habilidades e
competências para além da deficiência intelectual.
Outro ponto é a parceria entre docentes da sala comum e do Atendimento Educacional
Especializado (AEE). Ela é fundamental para que aconteça um trabalho de qualidade e efetivo
com o estudante com deficiência intelectual. Afinal, esse aprendiz está na escola e precisa ser
olhado por todos.
Para finalizar, lembre-se de que nem sempre a mesma estratégia utilizada para determinado
estudante com deficiência intelectual será efetiva para os demais.
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