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ABSTRATO
P.S.ALABRASCLAVAR
“Assim como na criança, predomina em nosso meio a forma passiva, subjetiva, instável e imitativa.
Vivemos sujeitos às impressões variáveis de todas as condições do meio”
(Anzola, 1935: 103–105)
DELAINTRODUÇÃO
* O presente artigo é um dos resultados da pesquisa “O conceito de corpo nas Escolas Normais de Antioquia entre
1920-1940: moral católica e moral biológica”, financiada pelo CODI da Universidade de Antioquia, e do projeto
de pesquisa sobre “Apropriação do evolucionismo social nos autores da degeneração racial na Colômbia do
início do século XX” da Faculdade de Educação da Universidade de San Buenaventura, Medellín.
**** Socióloga da Universidade de San Buenaventura (USB), Medellín; Especialista em Contextualização Psicossocial
do Crime; Mestre em Psicologia e aspirante ao Doutorado em Ciências Sociais: Infância e Juventude, pela
Universidade de Manizales e pelo Centro Internacional de Educação e Desenvolvimento Humano (Cinde). Na
área de atuação atua como diretor do Grupo Interdisciplinar de Estudos Pedagógicos da Faculdade de
Educação da Universidade de San Buenaventura, Medellín, e membro do Grupo de Pesquisa Formaph, da
Universidade de Antioquia.
E-mail : diegomudante@hotmail.com
respostas satisfatórias às questões sobre a Spencer (1820-1903), para quem, tanto nos
ordem social que circulavam nos ambientes, organismos como na sociedade, o progresso é
culturas e comunidades dos cientistas a passagem de uma situação em que partes
sociais da época. Neste contexto, iguais desempenham funções iguais, para
considerou-se que a Colômbia, entendida outra em que partes diferentes desempenham
como uma das nações em condição de funções diferentes, ou seja, a passagem do
minoria etária (Spengler, 2002: 45-90), ou uniforme para o uniforme. o multiforme.
seja, como um país periférico, do terceiro Desta forma, o aumento da complexidade nos
mundo ou subdesenvolvido, exigia a níveis orgânico e supra-orgânico implicaria
apropriação que os intelectuais colombianos igualmente progresso.
do a era feita de conhecimento moderno.
Estas, tal como o evolucionismo social, A ideia de progresso, peculiar à era moderna
circularam globalmente e deixaram nas na medida em que sugestão ou representação
consciências colectivas certas sugestões ou coletiva para a explicação do devir histórico, é
crenças que permitiram apostar políticas e mesmo desde Augusto Comte localizada como
educativas por estratégias de intervenção obrigatória de todo pensamento que se
cuja finalidade era, como no caso da considera positivo; daí que, apesar das
regeneração racial, a evolução e o progresso diferenças existentes entre o pai da sociologia
dos sujeitos e das sociedades infantis. e o iniciador do evolucionismo social, este
último consegue compreender aprogresso
O evolucionismo social destaca-se então socialda fusão entre os postulados das
como um dos saberes das ciências sociais ciências sociais e das ciências biológicas, no
circulantes na época e que, para o caso ponto de convergência da lei da evolução.1
concreto colombiano, possibilitou, através Dessa forma, em Spencer, o chamado
de sua apropriação, a fundamentação acadêmico moderno-positivista para tematizar
conceitual e ideológica do chamado e argumentar a ideia de progresso encontra
pensadores da degeneração da raça.Tenta- resposta na lei suprema de todo devir: a
se a seguir uma breve abordagem aos evolução.
postulados sociológicos, políticos e
educacionais do evolucionismo social, para A evolução é uma integração da matéria e
depois delinear, de forma geral, a sua uma concomitante dissipação do
apropriação pelos autores da degeneração movimento, durante a qual a matéria
da raça na Colômbia. passa de uma homogeneidade indefinida
e incoerente para uma heterogeneidade
definida e coerente, e o movimento
subsistente sofre uma transformação
DIZERL EVOLUCIONISMO SOCIAL paralela (Timasheff, 1977: 52).
COMO ESCOLA SOCIOLÓGICA E
Para Spencer, a evolução dos níveis orgânico
ANTROPOLÓGICA (biológico) e supraorgânico (social) apresenta-se no
movimento que permite a passagem de formas
Um dos clássicos no desenvolvimento da homogêneas simples para formas heterogêneas
teoria sociológica é o pensador inglês Herbert complexas, ou seja, na transformação.
1 “Em seus primeiros princípios, Spencer propõe fundar a lei geral da evolução nos axiomas da persistência da
força, da indestrutibilidade da matéria e da continuidade do movimento. A transformação da força e da
matéria pelo seu movimento leva à evolução, na qual a matéria é integrada, o movimento é disperso e
diferenciado, enquanto as forças estabelecem equilíbrios variados. O processo de evolução pode ser
caracterizado assim como a passagem de uma homogeneidade incoerente para uma heterogeneidade
coerente” (Gurvitch, 1970: 188).
Darwin. Darwin (1809 – 1882), que foi seu • Ao mesmo tempo, ocorreu um tipo de
contemporâneo, tinha uma concepção evolução um pouco diferente,
diferente da evolução biológica, e Spencer
nomeadamente a da sociedade militar para
encontrou a sua ideia geral de evolução, como
a sociedade industrial. Estes dois tipos
integração pela diferença, antes de Darwin ter
distinguem-se com base na predominância
falado da evolução como uma passagem da
homogeneidade para a heterogeneidade. . No da cooperação obrigatória na sociedade
entanto, ambos os pensadores provinham do militar e da cooperação voluntária no caso
mesmo domínio de ideias e Spencer recorreu industrial (Timasheff, 1977: 58-59).
frequentemente aos argumentos de Darwin
(Gurvitch, 1970: 186). Spencer considerou que a realização de tal
evolução nem sempre foi acessível a todas
Talvez um dos pontos centrais na as manifestações coletivas e individuais do
diferenciação das visões evolucionistas de ser humano, e por isso expôs a existência de
Spencer e Darwin diga respeito à ideia certos distúrbios que alteram a linha reta da
spenceriana sobre a existência de dinâmicas evolução (59):
de luta pela sobrevivência dos seres vivos
— entre eles os humanos—, cujo resultado é a
• Uma diferença originária de aptidões entre
extinção ou desaparecimento dos menos
as raças.
aptos. Esta ideia sustenta-se no domínio do
social sob a égide da não intervenção estatal • O efeito devido ao influxo do estágio de
em matérias, por exemplo, de educação e evolução imediatamente anterior.
higiene pública. Pelo contrário, Darwin • Peculiaridades dos costumes.
sustentava a possibilidade da luta pela • A situação de uma determinada sociedade no
sobrevivência através de processos quadro de uma comunidade mais ampla de
adaptativos que não deviam envolver, no sociedades.
concerto dos seres vivos, o desaparecimento
• A influência da mistura racial.
de alguns deles, mas sim, o melhoramento
dos organismos através da construção de
Estas ideias sobreviveram na teoria sociológica, na
competências ou competências para lidar com
medida em que o último quartel do século XIX foi
o ambiente: adaptação.
dominado pela teoria evolucionista, o que trouxe
uma certa unidade à sociologia. O tema central da
Para o caso concreto da evolução social, e
discussão entre os sociólogos era qual poderia ser
partindo de teses anteriores sobre a
considerada a interpretação mais apropriada com
semelhança entre esta e o biológico, Spencer
relação à evolução. O debate centrava-se na
apresenta as seguintes linhas de raciocínio:
identificação do factor predominante responsável
pela evolução da sociedade. Assim, autores como
• O principal facto da evolução é a passagem
Durkheim, em seu textoA divisão do serviço social,
das sociedades simples para os vários níveis
seguindo a hipótese spenceriana da passagem de
de sociedades compostas. As sociedades
compostas nascem da agregação de uma sociedade militar para uma sociedade
Spencer viu na evolução uma lei universal de 1. Num organismo, as partes formam um todo
devir e derivada de uma lei cósmica de concreto; numa sociedade, os partidos são
evolução orgânica (biológica) e de evolução livres e encontram-se mais ou menos
dispersos.
superorgânica (social). Os darwinistas sociais
2. Num organismo, a consciência concretiza-
raciocinaram de forma diferente. Eles estavam
se numa pequena parte do agregado;
familiarizados com a teoria darwiniana da
numa sociedade, é difundido por todos
evolução biológica e acreditavam que essa
os membros individuais.
teoria poderia ser aplicada à sociologia, 3. Num organismo, as partes existem em
substituindo organismos por grupos sociais, benefício do todo; numa sociedade, o todo
que já são a base desta teoria. existe apenas para o benefício do indivíduo.
4 Com autores como Walter Bagehot —inglês (1826-1877)— que propõe como característica fundamental da evolução a
luta e a variabilidade grupal como ideia de progresso, em seu texto Fcientífico e político(1872). Ludwig Gumplowicz—
polonês (1838-1909)—, em seus textos Raza e estado(1875) eLuta racial(1883), considera que a evolução social e
cultural é o resultado da luta de grupo ou da sobrevivência dos mais fortes. Para Gustav Ratzenhofer—austríaco
(1842-1904)—, em seu textoNatureza e fim da política(1893), a tarefa da sociologia é descobrir as tendências
fundamentais da evolução social e as condições de bem-estar dos seres humanos; para ele, a sociedade é governada
pelo interesse, sendo este a expressão de uma necessidade através da percepção de sua inevitabilidade: sendo esta
inata ou instintiva. Para Albion W. Small — Americano (1854-1926) — em sua obra Sociologia geral(1913), os
interesses são os móbiles mais simples que podem ser descobertos na conduta dos seres humanos; a própria vida é o
processo de desenvolvimento, adaptação e satisfação de interesses. Para William Garham Summer — americano
(1840-1910) — em seu textoA ciência da sociedade(1872), a lei fundamental é a evolução, um processo espontâneo,
unilinear e irreversível que não pode ser modificado pelo esforço social; para ele, a evolução é impulsionada pela luta
pela existência, um combate que confronta o homem com a natureza e com os outros homens, sem que ninguém
possa ser responsabilizado pelas penas que um indivíduo impõe aos outros.
5 Evolucionismo psicológico: para Spencer, a evolução era a lei suprema de todo o devir, incluindo o da sociedade
humana. A mente humana, com a sua capacidade de deliberar e de escolher, não foi, portanto, um factor de
evolução; na verdade, a sua interferência na evolução foi bastante prejudicial. Em meados da década de oitenta do
século XIX surgiu um novo ramo do evolucionismo que, ao contrário da teoria de Spencer, atribuía à mente humana
um papel importante na evolução. Seus fundadores foram os sociólogos americanos Lester F. Ward (1841-1913) e
Franklin H. Giddings (1855-1931).
6 Evolucionismo econômico de Achille Loria (1857-1953): demonstra a tese de que o declínio gradual das terras livres
(terras das quais ninguém ainda se apropriou) é o fator básico do desenvolvimento social evolutivo. A este respeito,
ver Timasheff (1977).
7 Evolucionismo tecnológico: para Thorstein Veblen (1857-1929), a evolução social é essencialmente um processo de
adaptação mental dos indivíduos sob a pressão de circunstâncias que não toleram mais hábitos previamente
formados. A este respeito, ver Timasheff (1977).
8 Evolucionismo demográfico: para Adolphe Coste (1842-1901), um único fator determina a evolução da sociedade: a
crescente densidade populacional refletida nos tipos de aglomerações humanas. A este respeito, ver Timasheff (1977).
9 José Manuel Marroquin (Bogotá, 1827-1908), foi presidente da Colômbia no período 1900-1 Foi sucedido, pela ordem:
Rafael Reyes (1904-1909), Carlos E. Restrepo (1910-1914), José Vincent Concha (1914-1918), Marco Fidel Suarez
(1918-1921) e Pedro Nel Ospina (1922) .-1926) e Miguel Abadia Mendez (1926-1930), todos de perfil conservador.
Posteriormente, ele assumiria o poder no que é conhecido como oHegemonia liberal,iniciando este período com
Enrique Olaya Herrera (1930-1934); seria sucedido por Alfonso López Pumarejo (1934-1938) e Eduardo Santos
(1938-1942). Esta hegemonia termina em 1946, quando os conservadores regressam ao poder.
10 A Concordata foi um contrato ou acordo firmado entre o Vaticano e o Estado colombiano, em 1887, pelo qual a Igreja
Católica, como religião nacional, foi autorizada a operar de forma livre e independente na Colômbia. Foram-lhe
concedidas prerrogativas importantes na vida civil e na educação, em áreas como casamento, religião, moralidade,
textos e ensino. Recordemos, ainda, que tudo o que se referia ao nosso contexto durante todo o século XIX no que diz
respeito à educação, foi denominado comoinstruçãoaté 1928. Não é objetivo deste artigo fazer uma análise por meio
da história conceitual (Conceitos discutidos), 1999.mas vale mesmo a pena fazer o respectivo unguento, e quando se
fala de instrução anterior a 1928 deve ser entendida como educação.
11 As continuidades e descontinuidades entre esta reforma e a Lei 39 de 1903 podem ser consultadas em Sáenz,
Saldarriaga e Ospina (1997: vol. 1, 189-237).
12 Antonio José Uribe (1869-1942). Nasceu em Antioquia. Advogado, deputado e professor de direito internacional. Foi
ministro da educação em 1903. Escreveu vários livros: Codioso da instrução pública(1911);A reforma administrativa da
Colômbia(1903);A reforma escolar e universitária(1903-1904). Em suas memórias como ministro pode-se consultar a
exposição dos motivos da Lei 39 de 1903. Entre as análises mais importantes da Lei 39 de 1903 e seu decreto
regulamentador, consulte os seguintes textos: Sáenz, Saldarriaga e Ospina (1997: vol. 1, 43); Helg (2001: 48) e Quiceno
(1988: 19-37).
13 Sobre uma análise da relação entre moralidade, ética e Igreja ver Sáenz, Saldarriaga e Ospina (1997: vol. 1: 249-264).
Estes dois modelos de controlo e poder sobre Martin Restrepo Mejía.15Este bloco de pedagogia
a instrução tornaram-se cada vez mais visíveis, denominacional no poder cobriu e controlou a
mas cada vez mais contraditórios, a tal ponto maioria das decisões relativas às políticas
que entraram em oposição: a Igreja alargando educacionais nos primeiros anos do século XX.
o seu domínio sobre o público, impondo a sua Nesse período, liberais e intelectuais passaram
imagem e o seu poder religioso e moral, e o para segundo plano no que diz respeito à sua
Estado consolidando um território, instituições interferência nas políticas públicas em geral.
e discursos com um suposto sentido de Ainda assim, colaboraram com o governo e
modernização. Nesta força apareceram alguns com a Igreja, mas é sobretudo na
profissionais, políticos do partido Liberal e até abertura de novos campos do conhecimento,
intelectuais independentes, cujo papel onde a sua participação é mais importante. Na
consistia em ver estas contradições e tirar segunda década do século XX o papel de Agustín
partido dos seus problemas. Nesse espaço que Nieto Caballero16
se abriu, pressionado por razões técnicas, fundador, em 1914, do Ginásio Moderno de
produtivas e educacionais, surgiram diversas Bogotá. Os profissionais universitários,
experiências inéditas e independentes das especialmente economistas, pedagogos,
políticas governamentais e da Igreja, como o sociólogos e engenheiros e médicos,
foram as faculdades liberais, as cátedras de participaram ativamente da terceira década de
psiquiatria, psicologia e sociologia nas reformas intraestatais, reformas que, embora
universidades ( ) Bermúdez, 1931), o não tenham sido aprovadas diretamente pelo
associações de profissionais e a produção de governo central devido ao seu caráter periférico,
determinada literatura urbana e pedagógica. abriram o campo da educação e propiciaram
meios para novos desenvolvimentos do sujeito e
de seus discursos. Este sector de profissionais e
Por parte da Igreja, Monsenhor Herrera, intelectuais, ao contrário do governo central e
arcebispo de Bogotá, era quem controlava e dos conservadores, baseou-se não na lei, mas
fiscalizava a educação: currículos, títulos, em experiências de conhecimento e formas de
textos, comportamentos e decisões políticas experimentação que seriam então definitivas
e morais. Os Irmãos Cristãos da para novas reformas educativas.
comunidade de Salle foram os mais activos
na aplicação de reformas educativas e No período podem ser mencionados, além das
morais.14Da parte dos conservadores está, escolas normais, colégios de comunidades
no período, além de seu protagonista no religiosas como os Maristas, os Jesuítas e os
governo, Antonio José Uribe, o trabalho do Eudistas. Essas comunidades construíram
pedagogo escolas secundárias com recursos avançados
14 Esses Irmãos chegaram à Colômbia no final do século XIX vindos da França. Seu patrono, João Batista de la
Salle, nasceu em Reims. Os Irmãos destacaram-se pela experiência em seminários-colégios, que mais tarde se
normalizaram, onde se especializaram em línguas, ensino técnico e ensino mecânico. Eles dominaram a
educação primária e normalista na Colômbia de 1903 a
15 Martín Restrepo Mejía (1861-1936). Nasceu em Cali. Foi reitor da Universidad del Cauca e de alguns colégios de
capitais menores. Escreveu vários livros que se tornaram textos norteadores do ensino católico, entre eles: Elementos
de pedagogia(1911);O rótulo anti-álcool(1913);Pedagogia doméstica(1914), entre outros.
16 Agostinho Neto Cavaleiro (Bogotá, 1889-1975). Estudou direito, educação e psicologia na Europa e nos Estados
Unidos. Foi escritor, diplomata e jornalista, além de reitor do Ginásio Moderno, reitor da Universidade Nacional
e diretor do ensino primário e secundário da Colômbia. Ele escreveuEscola ativa(sf);Nossa bandeira(1932);Uma
escola(1966);Escola e vida(1979), entidade outros.
17 Alguns escritos do médico conservador Miguel Jiménez López a respeito da degeneração da raça são:Escola e
vida(1928) eO atual desvio da cultura humana. Discursos e ensaios(1948).
18 Os seguintes escritos de Luis López de Mesa permitem-nos compreender a sua visão sobre a degeneração da raça (deve-se notar que
embora este autor nunca tenha falado de degeneração, referiu-se a uma certa minoria da nossa raça, tanto em “fraqueza” ou
“depressão”); : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : :De como a nação colombiana foi formada(1970a),Escrutínio sociológico da história colombiana(
1970b)e orações panegíricas(1963).
19 Sobre a chegada das abordagens de Spencer à Colômbia, Luis López de Mesa expressa: “[...] o que aconteceu até hoje
neste país, como antes permaneceu expresso para o século XIX. No início do presente ainda disputavam nele três
escolas estrangeiras: a tomista, que governava imperialmente o ensino oficial e tinha em Rafael María Carrasquilla
caudilho de galana dicção e muitas luzes, para a Metafísica, e em Julián Restrepo Hernández hábil comentarista de
lógica; o positivismo spenceriano que continuou na Universidade Republicana com o exímio Tomás Eastman, o
tratador Ignacio V. Espinosa e o educador Antonio José Iregui; e o grupo, em suma, de rapazes centenários que lêem
avidamente Bergoson, Taine e Boutroux [...]” (1970: 234).
Por outro lado, desde 1860 as teorias do rística que dificultava o controle das
evolucionismo social do filósofo e pedagogo emoções e dos impulsos instintivos. Da
inglês Herbert Spencer, com as suas noções mesma forma, para o pedagogo ativo
de luta pela vida, sobrevivência dos mais Gabriel Anzola Gómez, os colombianos
aptos e selecção natural e social, dominaram poderiam ser caracterizados como
as interpretações dos fenómenos sociais do “tropicais” e, portanto, como “instintos
país (Sáenz, Saldarriaga e Ospina, 1997: 80). naturais”, ou seja, possuidores de “uma
forte sensibilidade” que nos dá aquele tom
afetivo e que nos parece com crianças
Esta ideia spenceriana é aparentemente (Sáenz, Saldarriaga e Ospina, 1997: 14).
apropriada na Colômbia por causa da
sociobiologia, na medida em que explica a A idade minoritária não só abrigaria as etapas
nossa situação atual (Jiménez, 1948); mas não evolutivas do sujeito em termos de infância e
consegue ser totalmente consistente com as adolescência, mas também a consideração
geopolítica de que a nossa nação é mais jovem
ideias de Spencer, pelo menos no que tem a
e, portanto, passível de ser intervencionada ou
ver com o individualismo e a primazia no
“ajudada” pelas sociedades mais antigas,
contexto social da sobrevivência do mais apto.
ideias que legitimam o intervencionismo.
Da mesma forma, vai contra a abordagem de Assim, tanto a condição etária minoritária
Spencer em termos do princípio da não (infância e adolescência) dos sujeitos
intervenção do Estado em questões de individuais como das sociedades infantis são
educação e saúde pública, porque como transformadas em espaços e tempos
expõem os autores da sociobiologia do país, o panópticos, isto é, em objetos de intervenção
estado tem que intervir na regeneração da e vigilância, formas de biopoder, que ainda
raça; daí, por exemplo, as propostas para a persistem em nós, consciências coletivas.
escola de exame e defesa.20
Deve-se ter em mente que o principal espaço –
Por outro lado, a analogia do organismo social tanto quanto uma instituição moderna do
também opera a partir da sociobiologia como Ocidente – para a intervenção nesta dolorosa
elemento explicativo da nossa situação. A realidade foi a escola, entendida como cenário
partir desta analogia spenceriana entende-se de apropriação do conhecimento moderno,
que a nossa sociedade, sendo um organismo que a situa, desde a instalação de processos
em evolução, ainda não atingiu estágios de modernização, como instituição capaz de
reconfigurar o nosso país. Diante do exposto,
superiores de seu desenvolvimento; portanto
a cultura escolar na Colômbia implicaria a
ele está em minoria. A figura retórica do
entrada, cada vez mais forte, na consciência
organismo social permite-nos dizer, então,
dos sujeitos, dos referentes especialistas da
que a nossa sociedade é uma sociedade modernidade, com olhares acríticos destes, e
nascente, da qual se deve desconfiar. por enquanto, com plena confiança em suas
fórmulas mágicas e tábuas de salvação para o
Tratava-se de um discurso de normalização nosso povo. Para este contexto, os limites
da subjetividade aliado ao de normalização escolares tentariam funcionar como fortalezas
da raça colombiana, em que a desconfiança imperturbáveis que funcionariam como
no indivíduo se confunde com a filtros através dos quais os legados
desconfiança na raça. É neste sentido, para o “degenerados” da aldeia não conseguiriam
médico Miguel Jiménez López, que a raça infiltrar-se na escola e, portanto, diminuir os
nacional apresentava uma acentuada seus efeitos na socialização das gerações
fraqueza de vontade, carácter- recém-chegadas.
20 Sobre o surgimento da escola defensiva na Colômbia ver Sáenz (1993-1994) e Sáenz, Saldarriaga e Ospina
(1997).
SÁENZ OBREGÓN, Javier, 1992-1993, “Conhecimento WEBER, Max, 1994.A Ética Protestante e o
Pedagógico na Colômbia 1926-1938”,Revista de Espírito do Capitalismo,Barcelona, Edições
Educação e Pedagogia,Medellín, Universidade de Península.
Antioquia, Faculdade de Educação, no. 8 e
ZERDA, Liborio, 1893, “Regulamento das
_______________, 1993-1994, “Inspeção, médico escolas primárias,”Revista de Instrução
escolar e escola defensiva na Colômbia, Pública da Colômbia,Bogotá, não. 7.
REFERÊNCIA
M UÑOZ GAVIRIA, Diego Alejandro, “Evolucionismo social e sociobiologia
especulativa nos autores da degeneração da raça: raça e evolução na
Colômbia entre 1900 e 1940”,Revista de Educação e Pedagogia, Medellín,
Universidade de Antioquia, Faculdade de Educação, vol. XVII, não. 42,
(maioagosto), 2005, pp. 131-144.