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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

I CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM TERAPIA


NUTRICIONAL ENTERAL E PARENTERAL

PALESTRANTE: Samily Evangelista


NUTRICIONISTA
Introdução
 Define-se a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
(SIDA) como uma doença causada pelo Vírus da
Imunodeficiência Humana (HIV), sendo caracterizada por
uma profunda imunossupressão levando a infecções
oportunistas, neoplasias e manifestações neurológicas;

 Com o advento da HAART, outras complicações


metabólicas têm sido apresentadas, embora com o
aumento da expectativa de vida destes pacientes;

(Pinto, 2009; Sampaio,2008)


Epidemiologia
 A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida foi descrita pela
primeira vez em 1981 pelo CDC, sendo o retrovírus etiológico
isolado somente em 1983;

 No Brasil, os primeiros casos de SIDA foram identificados no


início da década de 1980;

 Ao longo de 30 anos: 397.662 casos (65,4%) no sexo masculino


e 210.538 (34,6%) no sexo feminino.

 Razão entre os sexo em 1985: para 26 casos em homens havia


um em mulheres. Em 2010, essa relação passou a 1,7.
 (Fenton e Silverman, 2010; Brasil, 2010)
Evolução e Manifestações clínicas
 Fator causador: vírus HIV, que invade o núcleo das
células CD4 ou linfócitos T;

 A evolução da infecção divide-se em quatro estágios:


- (1) infecção aguda pelo HIV;
- (2) infecção crônica assintomática;
- (3) infecção sintomática e
- (4) SIDA ou HIV avançado.

(Fenton e Silverman, 2010; Paula et al., 2010; Nicholas, 2007)


Estágios da infecção pelo vírus HIV
Estágio inicial da doença (CD4+ ≥ 500 cel/mm3)

Lifadenopatias e dermatites

Estágio intermediário (CD4+ entre 200 e 500 cel/mm3)


Candidíase oral e vaginal, displasia cervical, neuropatia periférica, herpes zoster
e febre

Estágio final (CD4+ ≤ 200 cel/mm3)

Doenças neurológicas, infecções oportunistas (IO), neoplasias


(Brasil, 2010)
 Dentre as principais complicações destacam-se:
- Linfadenopatias e dermatites nos estágios iniciais, até
doenças neurológicas, infecções oportunistas e
neoplasias nos estágios mais avançados;

 O vírus HIV também pode causar doenças por dano


direto a órgãos ou devidas a processos inflamatórios,
tais como miocardiopatias, nefropatias e neuropatias.

(Coppini e Ferrini, 2002; Brasil, 2008)


Avaliação Nutricional
 Tem por finalidade diagnosticar a desnutrição
energético-protéica ou identificar fatores de risco,
assim como para instituição adequada da Terapia
Nutricional;

 Deve contemplar história, exame físico,


antropometria, perfil medicamentoso, exames
bioquímicos e outros métodos, quando disponíveis (p.
ex. bioimpedância) ;

(Coppini e Ferrini, 2002; Barbosa e Fornés, 2003)


 Anamnese alimentar: recordatório 24h ou registro
alimentar;

 Avaliação antropométrica, parâmetros mais utilizados:


estatura; peso usual; peso ideal; cálculo do IMC;
dobras cutâneas; circunferências; podem ser utilizados
como indicadores da lipodistrofia;

 Avaliação bioquímica: sua validade pode estar


comprometida devido a várias interferências.

(Curti etl. al., 2010; Brasil, 2006; Barbosa e Fornés, 2003; Johnson et al., 2004;
Ferreira, 2008 )
 Pacientes em uso de TARV devem realizar
acompanhamento para avaliação de mudanças na
composição corporal,

 Avaliação Subjetiva Global: seu uso em ambulatório


tem sido correlacionado com a classificação CDC da
doença.

(Grinspoon e Carr, 2005;


Barbosa-Silva e Barros, 2002)
Principais complicações
relacionadas à Nutrição
DISLIPIDEMIAS, RISCO CARDIOVASCULAR,
RESISTÊNCIA À INSULINA E SÍNDROME METABÓLICA
 Principais características: presente em 70% dos pacientes;
destacam-se níveis de triglicérides elevados, aumento do
colesterol total e colesterol LDL, além da redução do HDL;

 Presença de resistência à insulina;

 O conjunto destes fatores pode estar relacionado ao


desenvolvimento da Síndrome Metabólica
(Fenton e Silverman, 2010; Brasil, 2008; Savés, 2002)
(Brasil, 2008)
LIPODISTROFIA
 Definição: depleção ou acúmulo anormal de tecido
adiposo, ou uma combinação dessas mudanças,
geralmente tidas como resultado do uso de Inibidores
de proteases (IP) no tratamento de indivíduos com
HIV/SIDA;

 Principais fatores de risco para seu desenvolvimento:


tempo de infecção pelo HIV, alta carga viral, baixos
valores de células CD4 anteriores ao início do
tratamento com HAART, além do uso da própria
HAART por longos períodos.
(Fuller, 2008; Savés, 2009; Sekhar, 2004)
WASTING SINDROME (SÍNDROME CONSUPTIVA)
 Caracterizada por perda involuntária de mais de 10%
do peso corporal associada à diarréia crônica, astenia
ou febre;

 Embora dependente de vários fatores, acredita-se que a


fisiopatologia do déficit de crescimento, do
amaciamento e da caquexia esteja mais diretamente
relacionada a mecanismos desencadeados por
distúrbios endócrinos.

(Fuller, 2008)
Terapia Nutricional
 Objetivos:
- Manutenção e/ou recuperação do peso corporal
saudável;
- Alcance do consumo de níveis adequados de macro
e micronutrientes;
- Minimizar efeitos da TARV;
- Prevenção de deficiências nutricionais que
comprometam a função imunológica e
- Promoção da qualidade de vida.
(Fenton e Silverman, 2010; Coppini e Ferrini, 2002)
Indicação da TN
 Principalmente na presença de desnutrição;

 Suplementos nutricionais são indicados em períodos


de maior necessidade energética (p. ex.: em situações
de infecções oportunistas).

Indicações da TN
Perda significativa de > 5% em três meses
peso
Depleção da MCC > 5% em três meses
IMC ˂ 18 m/kg2

(Projeto Diretrizes, 2010)


Escolha da via de
administração da dieta
 Via Enteral:
- Sempre que a alimentação oral não for suficiente para
suprir as necessidades nutricionais;

 Nutrição Parenteral (NP):


- Indicada na falência da via enteral (diarreia intratável,
obstrução intestinal, e/ou vômitos incoercíveis);
Cálculo das necessidades
energéticas
- Calorimetria indireta;

- Fórmula de Harris-Benedict;

- Caloria por quilo de peso: 25-30 kcal/kg (em pacientes


assintomáticos) 35-40 kcal/kg (em pacientes
sintomáticos);

- Pacientes em período de doença sintomática: aumento


da ingestão calórica em 20 a 30%;
(Paula et al, 2010; Coppini e Ferrini, 2002)
 Em pacientes estáveis pode haver aumento do GEB
em 25%;

 Em pacientes com infecção secundária o aumento


pode ser de até 29% do GEB.

Importante:
Em casos de IO além do aumento do GEB pode estar
presente anorexia, o que requer maior atenção para a
ingestão de alimentos.
MACRONUTRIENTES

 Proteínas: 1,0 a 1,4 g/kg de peso (manutenção) e 1,5 a


2,0 g/kg de peso (depleção);
 Carboidrato: pelo menos 50% da demanda energética;
 Lipídios: 30 a 35% do VCT.

Em casos de dislipidemias:
- Recomenda-se consumo de colesterol ≤ 200 mg/dia;
- Gorduras saturadas ˂7 % do VCT
- Redução da gordura total para até 30% do VCT

(Paula et al, 2010)


MICRONUTRIENTES

- Alcance de 100% das recomendações para indivíduos


saudáveis;

- Pode haver necessidade especial de vitaminas A, B e C,


além de Zn e Se;

- A suplementação tem sido relacionada com o aumento


da contagem de células CD4, aumento do peso
corporal, melhora do estado clínico, diminuição do
risco de IOs.
(Paula et al, 2010)
 Ingestão de líqiuidos deve ser de 30 a 35 ml/kg de peso
por dia;

 A manipulação segura de alimentos também deve ser


observada;

 Há grande correlação entre doenças veiculadas por


água e alimentos e piora do quadro clínico destes
pacientes.

(Fenton e Silverman, 2010; Leite et al, 2007)


Há indicação de fórmula
especializada?
 Ainda há a falta de evidência clínica conclusiva quanto
aos benefícios da utilização de fórmulas especializadas
(Limitações éticas e metodológicas.)
Suplementação de
vitaminas/minerais
 O uso de suplementos vitamínicos e/ou minerais deve
ser recomendado com critério, caso a recuperação
física do paciente ainda se encontre comprometida.
Suplementação de ômega 3

A suplementação com
ômega 3 consiste na
intervenção
nutricional com
maiores evidências
científicas
Principais interações
Droga x Nutriente
Possíveis Recomendações
Interação com
DROGA reações Dietética/
medicamento Administração
adversas Suplemento
Zidovudina Anemia,
Gorduras
Zn, Cu Zinco
absorção

Abacavir
Didanosina Em geral, Evitar o
Com/ sem consumo de
Alimento sintomas alimento,
TGI, álcool (risco
absorção Evitar gorduras
Dislipidemi de
as e pancreatite)
Tenofovir alterações
Estavudina glicêmicas

Lamivudina
(Brasil, 2006)
Possíveis Recomendações
Interação com
DROGA medicamento
reações Dietética/
adversas Administração
Suplemento
Efavirenz Gorduras Não
absorção dos administrar
fármacos Em geral, com erva de
Nevirapina Dislipidemia São João
Glicemia Com alimento (Hypericum),
Ritonavir Lipodistrofia cápsulas de
Indinavir Alimentos D/N/V alho, Ginseng,
absorção dos Ginkgo Biloba,
fármacos Equinácea
Possíveis Recomendações
Interação com
DROGA medicamento
reações Dietética/
adversas Administração
Suplemento
Nelfinavir Não
Alimentos Em geral,
Saquinavir administrar
melhoram a Dislipidemia
com erva de
Lopinavir absorção dos Lipodistrofia
São João
fármacos diarreia
Amprenavir Com alimento (Hypericum),
Atazanavir cápsulas de
alho, Ginseng,
Ginkgo Biloba,
Equinácea
Aconselhamento Nutricional
 A infecção pelo vírus HIV leva a riscos nutricionais
para os pacientes, independentemente do estágio da
doença;

 Há grandes evidências de que o acompanhamento


nutricional pode influenciar a melhora na saúde destes
pacientes;

 Fatores dietéticos nocivos devem ser reduzidos a níveis


aceitáveis.
(Rocha e Schuchi, 2009; Braga e Silva, 2010; Palma, 2010)
 Fatores que podem influenciar na adesão ao
tratamento:

- Percepções e interesse sobre seu tratamento e doença;


- Desconhecimento da importância do tratamento e
dificuldade em compreender a prescrição;
- Falta de informação sobre as consequências da má
adesão;
- Presença de sequelas de manifestações oportunistas
(principalmente neurológicas);
- Condições materiais de vida, presença eventual de
depressão, entre outros fatores.

(Brasil, 2008)
Orientações nutricionais
complementares
ALIMENTOS SEGUROS

 Em relação ao ambiente doméstico;


 Em relação à pessoa que manipula o alimento;
 Em relação aos alimentos;
 Alimentação fora de casa.
Manejo dos sintomas clínicos dos
efeitos colaterais da TARV
 Náuseas;
 Vômitos;
 Plenitude precoce;
 Pirose;
 Diarreia;
 Flatulência;
 Febre
 Suores noturnos;
 Odinofagia;
 Alterações no paladar.
Importante
PARA O CONTROLE DA DIARREIA
 Glutamina: 30 g/dia

- Apresentou efeito positivo no controle da diarreia,


embora não tenha havido melhora significativa na
composição corporal, CD4 ou redução da carga viral.

(Projeto Diretrizes, 2010)


Restrição de nutrientes
 EM CASO DE DIARREIA INFECCIOSA:
- Obteve-se discreta melhora com o uso de dieta livre de
glúten e lactose;

 Pode não ser eficaz para o controle da diarreia


secretora (inerente à própria doença).

(Projeto Diretrizes, 2010)


Uso de probióticos
 Está indicada para o paciente pediátrico com HIV,
principalmente quando ocorre disfunção intestinal e
redução da contagem de CD4.

(Projeto Diretrizes, 2010)


Considerações Finais
 Conclui-se que diversos fatores nutricionais, embora
não sejam a principal causa da deterioração do quadro
dos pacientes infectados pelo HIV/SIDA, têm papel
fundamental no agravamento da patologia;

 O acompanhamento precoce do paciente, com


avaliação nutricional adequada e instituição correta da
terapia nutricional indicada para cada caso, representa
componente indispensável no tratamento;
 Desse modo, o profissional nutricionista deve fazer
parte da equipe multiprofissional de assistência de
saúde, pois a manutenção da qualidade do estado
nutricional representa fator indicativo de melhor
prognóstico neste paciente.
Referências
Barbosa, R. M. R.; Fornés, N. S. Avaliação nutricional em pacientes infectados
pelo Vírus da Imunodeficiência Adquirida. Rev.Nutri., Campinas, 16(4):641-
470, out./dez., 2003.

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Secretaria de


Atenção à Saúde. Programa Nacional de DST e Aids. Manual Clínico de
Alimentação e Nutrição Na Assistência a Adultos Infectados pelo HIV. Brasília,
DF, 2006.

_______. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento


de Vigilância Epidemiológica .Doenças Infecciosas e Parasitárias: Guia de
Bolso. Brasília, DF, 2010.

_______. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento


de DST, Aids e Hepatites Virais. Vulnerabilidade à Aids em Jovens. Brasília:
2011.
_______. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa
Nacional de DST e Aids. Recomendações para terapia anti-retroviral em adultos
e adolescentes infectados pelo HIV 2007/2008 (documento preliminar).
Brasília, DF, 2008.

Coppini ,L. Z. C.; Jesus, R. P. Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral


Associação Brasileira de Nutrologia. Terapia Nutricional na Síndrome da
Imunodeficiência Adquirida (HIV/AIDS). Bela Vista, SP, 2011.

Coppini, L. Z; Ferrini, M. T. Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS). In:


Cuppari, L. Nutrição Clínica no Adulto. São Paulo: Manole, 2002. p.14.

Fenton, M., Silverman, E. C. Terapia nutricional para a doença causada pelo Vírus
da Imunodeficiência Humana (HIV). In: MAHAN, L.K; ESCOTT-STUMP, S.
(org.). Krause: Alimentos, nutrição e dietoterapia. Rio de Janeiro: Elservier,
2010. p.
Leite, L. H. M; Sampaio, A.B.M.M. Índice glicêmico, carga glicêmica e sua
associação com componentes da síndrome metabólica em indivíduos com
HIV/AIDS sob terapia antirretroviral. Rio de Janeiro, 2008.

Nicholas, P.; Gassull, M. A.; Cabré, E. Doenças infecciosas. In: GIBNEY, M. J.


(org.). Nutrição Clínica. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2007. p. 18.

Paula, E. P.; Neres, S.; Santini, E.; Reis Filho, A. D. Considerações nutricionais para
adultos com HIV/AIDS. Revista Matogrossense de Enfermagem, nov.dez./2010,
v. 1, n. 2:148-165.

Pinto, V.E.M. Desnutrição no Doente com Infecção VIH/SIDA. Porto, 2009. 58 p.


Monografia – Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação, Universidade
do Porto.

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