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Instituto Técnico Profissional e Aduaneiro de Moçambique

Curso de Técnico de Farmácia, Turma V


Cadeira de Patologia Geral
III Semestre

Tema: Tipos de Desnutrição

Docente: dra Dália Velasco

Nampula, Dezembro de 2023


Estudantes

Ancha Mutocha

Judite Jaime Matola

Mónica António M. Cavarro

Morais Morais Alface

Zeferino Pascoal Armando

Trabalho de pesquisa em grupo de carácter


avaliativo da cadeira de Nutrição e Dietética
lecionada pela dra Dália Velasco

Nampula, Dezembro de 2023


Sumário

A desnutrição é considerada um problema de saúde pública em países subdesenvolvidos e


desenvolvidos em todo mundo, (OMS, 2017).

A situação nutricional em Moçambique é extremamente frágil devido a vulnerabilidades


agravadas no país. Estas vulnerabilidades incluem conflitos no norte, choques climáticos
(ciclones e tempestades tropicais no centro e norte e seca no sul), impactos residuais da COVID-
19, e o impacto dos preços globais dos alimentos e produtos nutricionais essenciais devido em
parte à guerra na Ucrânia. Como resultado, os bens e suplementos nutricionais são agora 18-20
por cento mais caros, aumentando a pobreza generalizada sentida no país, (MISAU, 2017).

O diagnóstico precoce de desnutrição, através de ferramentas validadas, permite estabelecer


conduta nutricional mais apropriada e evita a piora do quadro clínico e auxilia na recuperação
do estado nutricional (MISAU, 2017).

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2. Tipos de desnutrição
2.1. Conceitualização

a) Anorexia
"É a redução do apetite ou seja falta de vontade de comer", (MISAU, 2017).

b) Desnutrição
Segundo MISAU (2017), "desnutrição é a deficiência nutricional decorrente da carência de
nutrientes fundamentais para o funcionamento adequado do organismo. Esses nutrientes podem
ser específicos, como ferro ou zinco, ou não específicos, como a falta de calorias".

Para OMS (2017), a desnutrição é a falta de alimentos adequados com minerais e vitaminas
necessárias para o desenvolvimento do corpo.

2.2. Tipos de desnutrição

De acordo OMS (2017), faz a menção da existência de 2 (dois) tipos de desnutrição, que
acomete as pessoas de faixas etárias diferentes e, estes são:
 Desnutrição Aguda
 Desnutrição Crónica

2.2.1. Desnutrição Aguda

OMS, (2017), define desnutrição aguda como a carência de calorias, nutrientes, vitaminas e
minerais que acontece de forma rápida em pouco tempo e/ou aparecimento de edema bilateral;
é uma situação que está evoluindo até ao momento da consulta; é um índice de falta recente de
nutrientes geralmente associadas a outros factores predisponentes.

2.2.2. Classificação da desnutrição aguda

Segundo a OMS, (2017) a desnutrição aguda é classificada segundo sua gravidade em:
 Ligeira;
 Moderada;
 Grave.

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Em conformidade com a OMS (2017), a desnutrição Grave, a qual tem 3 (três) formas:
 Marasmo, ou baixo peso para altura/ carência calórica, P/E < -3DP;
 Kwashiorkor: caracterizado por edema bilateral de qualquer grau/ carência proteica;
 Kwashiorkor marasmático: caracterizado por edema de qualquer grau/ carência calórica
e proteica, P/E < -3DP.

2.2.3. Parâmetros para classificação de desnutrição aguda ligeira, moderada e grave


Tabela 1.

Fonte: OMS

2.2.4. Descrição de tipos de desnutrição


2.2.4.1. Desnutrição Aguda Ligeira

A desnutrição aguda ligeira refere-se a um estado em que há uma deficiência leve de nutrientes
essenciais no organismo. Geralmente, isso pode ser corrigido com ajustes na dieta para garantir
uma ingestão adequada de nutrientes, (OMS, 2017).

2.2.4.1.1. Causa de desnutrição aguda ligeira


A OMS (2017), diz a desnutrição aguda ligeira pode ser causada por diversos factores,
incluindo:
 Ingestão inadequada de nutriente, resulta em dieta pobre em calorias e nutrientes
essenciais pode levar à desnutrição;
 Doenças agudas, infecções e outras doenças agudas podem aumentar as demandas
nutricionais do corpo, levando a um desequilíbrio entre a oferta e a demanda de
nutrientes;
 Condições que afectam a absorção de nutrientes no trato gastrointestinal, como doenças
intestinais ou problemas no sistema digestivo, podem contribuir para a desnutrição.

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 A falta de acesso a alimentos nutritivos devido a questões econômicas ou sociais pode
contribuir para a desnutrição;
 Comportamentos alimentares inadequados, como dietas extremamente restritivas,
podem levar à desnutrição;
 Algumas condições de saúde crônicas podem aumentar o risco de desnutrição,
especialmente se houver dificuldades na ingestão ou absorção de nutrientes ao longo do
tempo.

2.2.4.1.2. Sinais e sintomas


Segundo Porto (2009), os sinais e sintomas da desnutrição aguda ligeira podem incluir:
Perda de peso; fadiga; falta de energia; mudanças na pele e cabelo; mudanças no sistema
imunológico; dificuldade de concentração; diminuição da massa muscular; edema; problemas
gastrointestinais; alterações emocionais e irritabilidade, depressão ou ansiedade.

2.2.4.1.3. Diagnóstico
Porto (2009), o diagnóstico da desnutrição aguda ligeira geralmente envolve uma combinação
de avaliação clínica, histórico médico e exames laboratoriais e estas podem ser:
 Avaliação clínica
Um profissional de saúde pode realizar uma avaliação física para observar sinais visíveis de
desnutrição, como perda de peso, mudanças na pele e cabelo, e avaliar a função dos órgãos.
 Histórico médico
Discutir o histórico alimentar, padrões de ingestão e possíveis fatores contribuintes pode
fornecer informações importantes para o diagnóstico.
 Exames laboratoriais
Análises de sangue podem ser realizadas para avaliar os níveis de nutrientes no sangue, como
vitaminas e minerais, além de verificar a função dos órgãos.
 Avaliação nutricional
Pode ser realizada uma avaliação mais detalhada dos hábitos alimentares, preferências,
intolerâncias alimentares e necessidades específicas de nutrientes.
 Exames de imagem
Em alguns casos, exames de imagem, como tomografia computadorizada ou ressonância
magnética, podem ser usados para avaliar a composição corporal e identificar possíveis
complicações.

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2.2.4.1.4. Tratamento
O tratamento da desnutrição aguda ligeira geralmente envolve uma abordagem multifacetada
para corrigir a deficiência de nutrientes e melhorar o estado nutricional, (Porto 2009). Alguns
componentes típicos do tratamento incluem:
1. Ajustes na dieta: Desenvolver um plano alimentar equilibrado que forneça os nutrientes
necessários, com ênfase na ingestão adequada de calorias, proteínas, vitaminas e minerais.
2. Suplementos nutricionais: Em alguns casos, pode ser recomendado o uso de suplementos
nutricionais para garantir uma ingestão adequada de nutrientes.
3. Acompanhamento médico: Monitoramento regular por profissionais de saúde para avaliar
o progresso, ajustar o plano de tratamento conforme necessário e abordar quaisquer
complicações adicionais.
4. Tratamento de condições subjacentes: Se a desnutrição estiver associada a condições
médicas específicas, é crucial tratar essas condições para melhorar o estado nutricional.
5. Aconselhamento nutricional: Educação sobre hábitos alimentares saudáveis, escolhas
alimentares adequadas e mudanças no estilo de vida que promovam uma nutrição adequada.

2.2.4.1.5. Prevenção
Porto (2009), a prevenção da desnutrição aguda ligeira envolve estratégias que visam garantir
uma ingestão adequada de nutrientes e promover hábitos alimentares saudáveis. Algumas
medidas preventivas incluem:
 Consumir uma dieta equilibrada que inclua uma variedade de alimentos, fornecendo
uma ampla gama de nutrientes essenciais;
 Em bebês, a amamentação exclusiva nos primeiros seis meses e a continuação com a
introdução gradual de alimentos sólidos contribuem para um bom estado nutricional;
 Promover a conscientização sobre práticas alimentares saudáveis, incluindo a
importância de refeições regulares e escolhas alimentares nutritivas;
 Garantir que as comunidades tenham acesso a alimentos nutritivos, especialmente em
áreas onde a disponibilidade de alimentos é limitar;
 Monitorar o estado nutricional, especialmente em grupos de risco, como crianças,
idosos e indivíduos com condições médicas crônicas;
 Identificar e tratar precocemente condições que possam levar à desnutrição, como
doenças crônicas ou distúrbios alimentares e factores socioculturais e económicos.

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2.2.4.2. Desnutrição Aguda Moderada
De acordo a Organização Pan-Americana da Saúde, (2000), a desnutrição moderada é uma
condição mais grave do que a desnutrição leve e está associada a uma deficiência mais
significativa de nutrientes essenciais no organismo.

2.2.4.2.1. Sinais e sintomas


Perda de peso significativa, fraqueza e fadiga intensificada, comprometimento do sistema
imunológico, desnutrição muscular mais acentuada, dificuldade significativa de concentração
e função cognitiva comprometida e edema mais pronunciado ou inchaço mais acentuado devido
à retenção de líquidos, (Organização Pan-Americana da Saúde, 2000).

2.2.4.2.2. Exame Físico


 Estado mental;
 Medidas antropométricas (Fornecem informação sobre a massa muscular corporal e as reservas
de gordura. As medidas mais práticas e comumente usadas são: o peso corporal, a altura, a prega
cutânea do tricípede, e a circunferência do músculo no meio do braço).

Tabela 2. Interpretação de IMC

Estado Nutricional IMC (kg/m²)

Baixo peso <18.5


Desnutrição severa <16.0
Desnutrição moderada ≥16.0 e <17.0
Desnutrição ligeira ≥17.0 e <18.5
Normal 18.5–24.9
Sobrepeso ≥25
Obesidade ≥30
(Fonte: OMS)

2.2.4.2.2. Exames laboratoriais


Para adequar o tratamento com as reais causas, recorresse aos exames laboratoriais, e estes:
 Hemograma (Utilizado para análise dos níveis de hemoglobina e dos parâmetros
eritrocitarios (MCV, MCHC etc.);
 Bioquímica (Para avaliação do estado proteico do paciente).

2.2.4.2.3. Tratamento e prevenção

Após fazer uma boa avaliação nutricional no paciente e investigadas as causas, estas devem ser
tratadas ou encaminhadas para o nível superior.

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 Aumentar a ingestão de alimentos com elevado teor em energia/proteínas;
 Suplementar as refeições habituais com frutos e leite;
 Realizar exercício físico adequado;
 Se a alimentação habitual do doente não melhorar, podem ser necessários suplementos
nutricionais orais;
 Reforçar a importância da ingestão de água, com o envelhecimento o idoso pode perder
alguma da sua sensibilidade para a sede. Incentivar a beber mesmo quando não sente
sede, ingerir cerca de 6 a 8 copos de água por dia. Regular a necessidade de água, tendo
em conta a cor da urina.

2.3. Desnutrição aguda grave


De acordo (MISAU, 2000), a desnutrição aguda grave manifesta-se através das seguintes
condições clinicas:

2.3.1. Marasmo
2.3.1.1. Causas
O MISAU, (000), aponta as seguintes causas:
 Ingestão calórica insuficiente ao longo do tempo;
 A falta persistente de nutrientes essenciais, como carboidratos, vitaminas e minerais,
leva ao desenvolvimento do marasmo;
 Pobreza e falta de acesso a alimentos;
 Condições socioeconômicas adversas;
 A ausência ou interrupção precoce do aleitamento materno exclusivo pode contribuir
para o desenvolvimento do marasmo em bebês.

2.3.1.2. Sinais e Sintomas


 Um estado em que praticamente todas as reservas de gordura disponíveis do corpo se
esgotaram devido à deficiência calórica prolongada;
 Índices antropométricos muito abaixo do padronizado (prega cutânea do tríceps <3 mm,
circunferência do músculo no meio do braço <15 cm);
 Aspecto mal nutrido (olhos encovados, membros delgados, costelas proeminentes, pele
solta e enrugada com perca da massa muscular);
 Evolução lenta e com mortalidade baixa.

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2.3.1.3. Diagnóstico

O diagnóstico de marasmo é baseado em:


 Exame detalhado do estado nutricional, incluindo peso corporal, altura, circunferência
do braço e medidas de dobras cutâneas;
 Coleta de informações sobre os padrões alimentares, história do desenvolvimento,
presença de infecções recorrentes e outros fatores relevantes;
 Análises de sangue para avaliar os níveis de nutrientes, como proteínas, vitaminas e
minerais, bem como a presença de complicações relacionadas à desnutrição;

2.3.1.4. Tratamento e prevenção


O tratamento do marasmo geralmente requer uma abordagem cuidadosa e multifacetada,
visando corrigir a desnutrição grave com a introdução gradual de uma dieta balanceada que
forneça calorias, proteínas, vitaminas e minerais essenciais, (Organização Pan-Americana da
Saúde, 2000).

A prevenção do marasmo requer uma abordagem holística que inclua não apenas a promoção
da nutrição adequada, mas também a melhoria das condições sociais e econômicas. Essas
estratégias integradas têm o potencial de reduzir significativamente a incidência do marasmo e
outras formas de desnutrição, (Organização Pan-Americana da Saúde, 2000).

2.3.2. Kwashiorkor
Para OMS (2017), Kwashiorkor conhecida como desnutrição molhada, esta doença acontece
quando existe a falta de proteínas e vitaminas no corpo.

2.3.2.1. Causas
O Kwashiorkor é causado por uma deficiência de proteínas na dieta, o que leva a um
desequilíbrio de fluidos no corpo, que se acumulam nos tecidos, causando inchaço nos pés,
tornozelos e barriga, que são característicos desse tipo de desnutrição, (OMS, 2017).

2.3.2.2. Sinais e Sintomas


 Caraterizado por emagrecimento grave;
 Presença de edema;
 Facilidade de arrancar os cabelos, rupturas de pele, com infecções, má cicatrização das
feridas, úlceras de decúbito;
 Evolução rápido e com alta mortalidade;

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 Inchaço nos pés, mãos ou tornozelos;
 Cabelos secos, quebradiços e que caem facilmente;
 Pele fina, seca e brilhante;
 Manchas vermelhas na pele, que podem ficar mais escuras;
 Unhas onduladas ou rachadas.

2.3.2.3. Diagnóstico
O diagnóstico da desnutrição de Kwashiorkor é feito pelo pediatra, clínico geral ou nutrólogo,
através da avaliação dos sintomas e exame físico, observando se há presença de inchaço nos
pés, tornozelos e barriga, o que é muito característico desta doença, (OMS, 2017).
Apesar do diagnóstico do Kwashiorkor ser essencialmente clínico, o médico deve solicitar
exames de sangue e urina, de forma a medir os sinais de má nutrição, através da avaliação dos
níveis de proteína e açúcar no sangue, (OMS, 2017).

2.3.2.4. O Tratamento
O Kwashiorkor deve ser tratada de acordo com a orientação do médico e do nutricionista, sendo
indicado o consumo de alimentos com mais teor em carboidratos e gorduras e depois de receber
energia suficiente desses alimentos, deve-se então introduzir alimentos ricos em proteína,
(OMS, 2017).
As calorias devem ser aumentadas gradualmente, para que o corpo se ajuste a este aumento
nutricional. O médico pode também recomendar adicionar suplementos de vitaminas e minerais
à dieta, (OMS, 2017).
Mesmo com este tratamento, as crianças que tiveram doença de Kwashiorkor, podem nunca
mais alcançar o seu potencial crescimento e aumento de peso. Isto acontece muito
frequentemente quando o tratamento é feito muito tarde, podendo causar na criança deficiências
físicas e mentais permanentes, (OMS, 2017).

2.3.2.5. Prevenção
A Prevenção do Kwashiorkor envolve medidas que visam garantir uma dieta equilibrada e
adequada em termos de proteínas, calorias e nutrientes essenciais, (OMS, 2017).
 Dieta Nutritiva: Garantir que a alimentação seja rica em proteínas, vitaminas e
minerais. Incluir uma variedade de alimentos, como legumes, frutas, grãos integrais e
fontes de proteína;

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 Aleitamento Materno: Incentivar e apoiar o aleitamento materno exclusivo nos
primeiros seis meses de vida, seguido pela introdução de alimentos complementares
adequados;
 Educação Nutricional: Fornecer informações sobre práticas alimentares saudáveis,
incluindo a importância de uma dieta balanceada, higiene alimentar e preparação
adequada dos alimentos;
 Acesso a Água Limpa: Garanta o acesso adequado à água potável e ao saneamento
básico para prevenir infecções que possam contribuir para a desnutrição;
 Programas de Suplementação: Em áreas onde a desnutrição é prevalente, implementar
programas de suplementação alimentar especialmente para crianças em idade pré-
escolar.

2.3.3. Kwashiorkor-Marasmático

Em conformidade com MISAU, (2017), Kwashiorkor-Marasmático é chamada também de


desnutrição mista, este tipo de desnutrição é uma versão em que tanto proteínas e vitaminas
quanto fontes de energia como carboidratos e lipídios estão em falta no organismo, deixando-o
completamente sem nutrientes. É muito comum em situações de fome extrema, já que nenhum
nutriente pode ser recebido pelo corpo se não há comida.

2.3.3.1. Causas

 Forma combinada da desnutrição proteico – calórica que geralmente se desenvolve


quando um paciente com caquexia ou marasmo sofre um stresse agudo como uma
sépsis, cirurgia ou traumatismo, sobrepondo o Kwashiorkor à desnutrição crónica;
 Diminuição acentuada das medidas antropométricas e bioquímicas, além do
comprometimento imunológico importante.

2.3.3.2. Sinais e sintomas


 Xerose, alopecia (“kwashiorkor”-marasmático);
 Neuropatia periférica (deficiência de vitaminas do complexo B, abuso de álcool);
 Atrofia e fraqueza muscular (deficiência de vitamina D, marasmo, “kwashiorkor”).

2.3.3.3. Diagnóstico
 Hemograma;
 Bioquímica.

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2.3.3.4. Tratamento
As fórmulas são F-75 e F-100.São usadas para crianças e adultos gravemente desnutridas, F-
75 (75Kcal ou 315kJ/100ml), é usada durante a fase inicial de tratamento,
Enquanto F-100 (100kcal ou 420kJ/100ml) é usada durante a fase de reabilitação, depois que o
apetite retornou, (MISAU, 2017).
Estas fórmulas podem ser facilmente preparadas a partir dos ingredientes básicos: leite desnatado em
pó, açúcar, farinha de cereal, óleo, mistura de minerais e mistura de vitaminas. Elas também estão
comercialmente disponíveis como formulações em pó que são misturadas com água, (MISAU, 2017).

Tabela 3. Necessidades dietéticas para o tratamento inicial de adultos idosos severamente desnutridos

Idade Necessidades diárias de energia Volume de dieta necessário


(anos) (ml/Kg/hora)
(Kcal/Kg) (Kj/Kg) F - 75 F - 100
19 – 75 40 170 2.2 1.7
> 75 35 150 2.0 1.5
(Fonte: OMS)

2.3.3.5. Prevenção
O MISAU, (2017), recomenda com vista a melhorar o estado nutricional e estas são:
 Aumentar a ingestão de alimentos com elevado teor em energia/proteínas;
 Suplementar as refeições habituais com frutos e leite;
 Realizar exercício físico adequado;
 Se a alimentação habitual do doente não melhorar, podem ser necessários suplementos
nutricionais orais;
 Reforçar a importância da ingestão de água, com o envelhecimento o idoso pode perder
alguma da sua sensibilidade para a sede. Incentivar a beber mesmo quando não sente
sede, ingerir cerca de 6 a 8 copos de água por dia. Regular a necessidade de água, tendo
em conta a cor da urina.
Tratamento da desnutrição aguda grave

MANEJO DA DESNUTRIÇÃO AGUDA GRAVE COM COMPLICAÇÕES NA


CRIANÇA COM IDADE >6 MESES

O tratamento da desnutrição aguda grave com complicações e se a criança tem idade > 6 meses
é o mesmo administrado a criança infectada ou não pelo HIV.

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Consiste de três fases:
Fase 1: a criança deve ser internada na enfermaria no sector de tratamento e reabilitação
nutricional, se houver, ou na enfermaria de pediatria
Fase de transição: é a fase de passagem entre a fase 1 e 2 e é feita na enfermaria
Fase 2: a criança pode ter alta, continuar o tratamento em casa e ser seguida regularmente no
consultório.
1. Fase 1 ou fase de estabilização
Na enfermaria é necessário confirmar se a criança tem desnutrição grave com base nos seguintes
procedimentos:
 Medir os parâmetros antropométricos (Peso, Altura/Comprimento e Perímetro
Braquial); e verificar edema
 Fazer a história clínica e exame objectivo do doente
 Oferecer teste de HIV para mães e crianças caso o seroestado seja desconhecido
 Preencher o Multi-cartão
 Explicar ao acompanhante o funcionamento do Serviço de Reabilitação Nutricional ou
da enfermaria.
A Fase 1 ou fase de estabilização a dieta e o tratamento consiste em:
 Reiniciar a alimentação cuatelosamente.
 Corrigir as deficiências nutricionais específicas e de micronutrientes.
 Tratar os problemas que ocasionem risco de morte
 Tratar ou prevenir as anormalidades metabólicas: hipoglicémia, hipotermia, distúrbios
hidroeletrolíticos
 Tratar a desidratação e o choque séptico se forem presentes.
 Tratar ou prevenir as infecções.

Dieta
 Alimentar com F75 (ou F100 diluído se não haver disponibilidade de F75) de 3 em 3
horas, de dia e de noite, 8 vezes por dia, a alimentação é por via oral.
 Continuar o aleitamento materno em qualquer momento sempre que a criança quiser,
no caso de criança amamentada ao peito.
 NOTA: Além do leite terapêutico e do leite materno, as crianças não devem receber
outra alimentação durante a Fase 1.

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 Preparação do F-75: adicionar 1 pacote de F-75 em 2 litros de água. Isto dá para 2.4
litros de F-75.
 Se não haver disponibilidade de F75 na Fase 1, o F100 deve ser diluído em 2.7 litros de
água, em vez de 2 litros de água, para se obter o F100 diluído: dar 130ml/kg/dia tal
como o F75.
2. Fase de Transição
 A fase de transição é a fase de passagem da Fase 1 a Fase 2
 A criança pode passar da Fase 1 a fase de transição se:
 Tem retorno do apetite
 Tem melhoria do edema: início da perda de edema ou seu desaparecimento
 As complicações médicas tiverem desaparecido ou há sinais de desaparecimento
 Não precisa de SNG ou tratamento EV para se realimentar.
Dieta
 Usa-se F100 (130ml=130kcal): o número de refeições, a frequência e o volume
permanecem o mesmo como na Fase 1 (ver Tab 1 acima).
 No caso de criança de peso<3Kg não dar F100 concentrado, mas apenas F100
diluído: um pacote de F100 em 2.7 litros de água, no lugar de 2 litros, para obter
F100 diluído
 Crianças que mantêm o aleitamento materno devem ser amamentadas antes de
tomarem o F100 e sempre que solicitarem.
3. Fase 2 ou fase de reabilitação
Dieta
 É feita com F100 ou com ATPU- PlumpyNut
 A quantidade de alimentos a ser introduzida é ilimitada.
 As crianças que mantêm o aleitamento materno devem ser amamentadas antes de
receberem F100 ou ATPU.
No caso de crianças internadas: usa-se F100 (Tab 3)
 As crianças com mais de 8 kg (aproximadamente 24 meses de idade) devem ser
alimentadas com 5 refeições de F100 e um papa por dia (total de 6 refeições por dia).
 As crianças com peso< 8kg devem ser alimentadas com 6 refeições de F100 (sem papa).
 Para crianças com peso<3kg, deve-se diluir um pacote de F100 em 2.7 litros de água
em vez de 2 litros para se obter F100 diluído
 A criança nunca deve ser forçada a alimentar-se.

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No caso de crianças que vão continuar o seu tratamento em casa: usa-se ATPU
Os critérios para receber ATPU são:
 Um bom apetite
 Desaparecimento completo de edema
 Ausência de outros problemas médicos
 A mãe/cuidador leva uma quantidade de ATPU para 15-30 dias (se a mãe/cuidador têm
acesso difícil ou outros problemas)
 Seguimento de 15/15 dias pela US mais próxima que estiver a fornecer o ATPU.
 A criança deve comer pelo menos um papa enriquecido por dia.
 Quando o doente atingir 85% de recuperação, deverá dar-se primeiro a comida da
família e consumir o ATPU depois.

Tratamento da desnutrição aguda grave sem complicações e idade >6 meses


 Seu tratamento pode ser feito em casa e o seguimento é na consulta de CCR para
criança sem HIV ou na consulta TARV para criança infectada pelo HIV.
A periodicidade das consultas é:
 Semanal até atingir um P/E entre ≥ –3 e < –2 DP (critérios de desnutrição aguda
moderada),
 De 2 em 2 semanas até atingir um P/E ou IMC/idade ≥ -1 DP com suspensão do
ATPU
 Seguimento mensal por mais 3 meses.
 O tratamento é o mesmo caso a criança esteja infectada ou não pelo HIV.
Dieta
 O alimento a ser dado é o ATPU ou PlumpyNut.
 Caso a mãe esteja a amamentar deve continuar a dar o leite materno.
 No caso de desnutrição aguda grave, existe uma solução, chamada ReSoMal que é uma
Solução de Reidratação Oral para doentes gravemente desnutridos.

Utilização de LOA e misturas alternativas


LOA- é uma mistura de leite, óleo e açúcar.
Utiliza-se a LOA quando estamos perante a caso de mal nutrição nas crianças gerada por falta
de nutrientes, a exemplos de kwashiorkor ou marasmo. Normalmente, necessita de

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internamento. E também perante certos casos de diarreias. Onde precisa-se uma reabilitação
nutricional adequada.

Preparação de LOA
A mistura de LOA pode preparar-se com qualquer leite, mas a quantidade varia segundo o tipo
de leite.
Fórmulas para a preparação de um litro de LOA:
Leite desnatado Leite completo
Leite............................................................80 g Leite...............................................................100 g
Óleo............................................................60 g Óleo.................................................................30 g
Açúcar.........................................................50 g Açúcar.............................................................50 g
Leite Modificado (Neolac) Leite fresco
Leite..........................................................125 g Leite...............................................................970 g
Óleo............................................................30 g Óleo.................................................................30 g
Açúcar.........................................................40 g Açúcar..............................................................50 g

O leite em pó mistura-se bem com o óleo e o açúcar. Pôr, pouco a pouco, água fervida, morna,
misturar até formar um creme suave de um litro.
O leite fresco de vaca ou de cabrito ferve-se antes de misturar com o óleo e açúcar.
A LOA preparada tem de ser guardada no frigorífico. Conserva-se 24 horas. Para cada refeição
aquece-se apenas a quantidade certa.
Pode-se prepar em grande quantidade mas nunca mais do que o necessário para 24 horas. Se
não há frigorífico preparar só para uma refeição em cada vez.
Administração de LOA
Marasmo (sem edemas) Kwashiorkor (com edemas)
150 ml/kg/24 horas divididos 100 ml/kg/24 horas divididos em 7 tomas
em 7 tomas aumentar 20 quando desaparecerem os edemas:
ml/kg/24 horas até 200 ml/ kg Aumentar 20 ml/kg/24 horas até 200 ml/kg.
Com edemas graves: 8 tomas (uma extra às 3:00h da
madrugada).

Complicações
Muitas crianças com kwashiorkor morrem, sobre tudo na primeira semana. A hipoglicemia e a
hipotermia são causas frequentes de morte, especialmente durante a noite. São causas que
podemos prevenir com medidas simples.
Hipoglicémia: Ensinar a mãe a dar LOA de 3 em 3 horas e também as 3:00 horas da
madrugada.
 Hipotermia: Vestir ou cobrir a criança, deixar na mesma cama com mãe.

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 Insuficiência cardíaca: Na fase de desaparecimento de edemas.
 Anemia grave: se a hemoglobina for maior de 5 g, fazer transfusão com papa
de glóbulos, muito lentamente.
Diarreia prolongada e desidratação: Neste caso não é preciso preparar a LOA. A mucosa
intestinal esta destruída devido à malnutrição, com uma intolerância a lactose, contida no leite,
e ao açúcar.
Temos que dar uma mistura especial Casilan: 45 g, glicose em pó 50 g, óleo: 60 g e 1 litro
de água fervida. Administrar como a LOA. 3 a 4 dias após a normalização das fezes reintroduzir
a LOA pouco a pouco. A mucosa intestinal vai normalizar e reconstruir-se.
Se não houver Casilan temos de utilizar produtos locais que não tenham lactose para alimentar
as crianças com malnutrição grave:
Exemplo: 100 g de peixe (carne ou frango) cozido, mais 100 g de arroz cozido, mais 25 ml de
óleo. Tudo deve ser bem esmagado e misturado com água fervida até completar 500 ml de
volume.
Regras de alimentação da criança
1. Medicação e alimentação
 LOA ( leite,óleo e açúcar);
 Multivitaminas 1 comprimido por dia;
 Vitamina A 100.000 UI/IM dose única;
 Sal ferroso e ácido fólico;
 Paracetamol se tiver febre;
 Antibióticos se tiver infecção;
 Mebendazol se tem maior de um ano;
 SRO, nos casos de diarreia;
 Cloro de potássio na criança com edemas 250 mg (1/2 comprimido) /dia em 2
a 3 tomas até desaparecerem os edemas;
 Na administração de LOA utilizar copo e colher, e se a criança não consegue
comer, dar por S.N.G.
 Continuar a amamentação se a criança ainda mama.
2. Controle diário do peso
O ganho de peso deverá ser medida de 70 g/kg/semana.
Por exemplo: Uma criança que pesa 5 kg deve aumentar 350 g/semana.

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Uma criança com kwashiorkor irá apresentar perda de peso nos primeiros dias, até uma semana,
devido a absorção dos edemas.
3. Introdução de dieta sólida
A criança com marasmo: No 5° dia de internamento, quando estiver a receber pelo menos 200
ml/kg/24h de LOA.
Criança com kwashiorkor: Depois do desaparecimento dos edemas.
A dieta sólida deve-se introduzir pouco a pouco, uma refeição de 2/2 dias substituindo uma
toma de LOA até chegar a 4 a 5 refeições por dia.

2.2.6. Desnutrição crónica

O MISAU, (2017), define a desnutrição crónica é a carência de calorias, nutrientes, vitaminas


e minerais que acontece de forma lenta e se mantém ao longo do tempo; é uma situação que
iniciou há muito tempo, é um índice de falta crónica de nutrientes; a criança tem baixo peso
para a idade e baixa estatura para a idade.
2.2.6.1. Causas
 Dieta inadequa da;
 Pobreza;
 Acesso limitado a cuidado de saude;
 Saneamento inadequado;
 Factores socio-economicos.

2.2.6.2. Sinais de Sintomas


 Retardo no crescimento;
 Fadiga e fraquesa;
 Comprometimento do sistema imunologico;
 Anemia;
 Pele seca e cabelos quebradiços;
 Edema.

2.2.6.3. Diagnóstico
 Avaliação antropométrica;
 Historia clinica e alimentar;
 Avaliação clinica.

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2.2.6.4. Tratamento
 Combinação de dieta balanceada, suplementos nutricionais, cuidados médicos para
tratar condições subjacentes;
 Reabilitação Nutricional; Suplementação; apoio psicossocial e educação
Nutricional.

2.2.6.5. Prevenção
Prevenir a desnutrição cronica envolve a alimentação balanceada, acesso a alimentos nutritivos,
educação nutricional, cuidados de saúde, segurança alimentar e apoio comunitário.

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8. Referencias Bibliográficas

1. Organização Pan-Americana da Saúde, (2000). Manejo da desnutrição grave: Um manual


para profissionais de saúde de nível superior (médicos, enfermeiros, nutricionistas e outros) e
suas equipes de auxiliares.
2. Organização Mundial da Saúde, (2017). Estado de nutrição Representação no Mundo, 62p.
3. Ministério da Saúde, (2027). Desnutrição em Moçambique, SIS-MA.
4. Porto CC, Porto AL. Semiologia Médica, (2009) ed. Brasil: Guanabara Koogan.

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