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Vícios da vontade

Prof. Doutor André Dias Pereira


Centro de Direito Biomédico
Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra
VICE-PRESIDENTE DO CONSELHO NACIONAL DE ÉTICA PARA AS CIÊNCIAS DA VIDA
andregoncalodiaspereira@gmail.com
O regime da lesão e dos vícios redibitórios
• Código Civil de 1966

• Lesão = usura = 282 Código Civil


• - elemento + exploração das situações de necessidade, inexperiência,
ligeireza, dependência, estado mental ou fraqueza de carácter em que
se encontra a vítima do ato lesivo
• + exploração das situações de necessidade
Vícios redibitórios
• 905.º e
• 913.º
• A anulabilidade depende da verificação dos requisitos legais de
relevância do erro e do dolo
•+
• Regras particulares

• Que direitos tem o comprador?


• Qual o prazo de garantia no Código Civil?
Direito do Consumidor
• Venda de bens de consumo
• DL n.º 67/2003, de 08 de Abril
• VENDA DE BENS DE CONSUMO E DAS GARANTIAS A ELA RELATIVAS
• https://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.php?nid=706&tabela
=leis&so_miolo=
• Transpõe para a ordem jurídica nacional a Directiva n.º 1999/44/CE, do
Parlamento Europeu e do Conselho, de 25 de Maio, sobre certos aspectos
da venda de bens de consumo e das garantias a ela relativas, e altera a
Lei n.º 24/96, de 31 de Julho- [Este diploma foi revogado pelo(a) Decreto-
Lei n.º 84/2021, de 18 de Outubro!]
• Veja na lei quais os direitos do consumidor?
• Prazo de garantia mais longo. Qual é o prazo nesta lei?
Erro-vício
• Erro sobre a pessoa do declaratário

• Erro sobre o objeto do negócio


• Objeto mediato ((sobre a identidade ou sobre as qualidades)
• Objeto imediato (erro sobre a natureza do negócio)

• Erro sobre os motivos não referentes à pessoa do declaratório nem


ao objeto do negócio
Condições gerais da relevância do erro-vício
como motivo da anulabilidade

• I) Essencialidade
• Erro essencial - anulabilidade

• # erro incidental
• - o negócio deverá fazer-se valer nos termos em que teria sido
concluído sem o erro
• 292.º - redução dos negócios jurídicos
Condições gerais da relevância do erro-vício
como motivo da anulabilidade
• II) propriedade
• Erro impróprio – requisitos legais de forma negocial, ilicitude do objeto mediato ou
imediato...

• III) escusabilidade
• Erro culposo – 227 – culpa na formação dos contratos
• O errante invoca a anulabilidade, mas incorre em responsabilidade pré-negocial,
devendo indemnizar o chamado interesse contratual negativo

• 334.º - quando – aplicando ao rtigo 247.º - se lese clamorosamente os interesses do


delcaratário... Deve abster-se à anulação
Erro-vício
• Artigo 251.º - (Erro sobre a pessoa ou sobre o objecto do negócio)
• O erro que atinja os motivos determinantes da vontade, quando
se refira à pessoa do declaratário ou ao objecto do negócio, torna
este anulável nos termos do artigo 247.º
Erro sobre os motivos
• 252/ 1
• Artigo 252.º - (Erro sobre os motivos)
• 1. O erro que recaia nos motivos determinantes da vontade, mas se não
refira à pessoa do declaratário nem ao objecto do negócio, só é causa de
anulação se as partes houverem reconhecido, por acordo, a essencialidade
do motivo.

• Em regra, não há anulação por erro sobre os motivos.


• Efetiva estipulação, expressa ou tácita, tornando a validade do negócio
dependente da verificação da circunstância sobre que incidiu o erro, o que
deve acontecer raramente.
Erro sobre a base do negócio
• Artigo 252.º - (Erro sobre os motivos)
• 2. Se, porém, recair sobre as circunstâncias que constituem a base do
negócio, é aplicável ao erro do declarante o disposto sobre a resolução ou
modificação do contrato por alteração das circunstâncias vigentes no
momento em que o negócio foi concluído.

• Erro sobre a base do negócio = anulabilidade


• Remete para os requisitos do art. 437.º a 439.º - resolução por alteração
das circunstâncias = pressuposição
• - princípio da boa fé
• - riscos próprios do contrato
• “coronation cases”
Art. 437.º
• SUBSECÇÃO VII - Resolução ou modificação do contrato por alteração das
circunstâncias

• Artigo 437.º - (Condições de admissibilidade)


• 1. Se as circunstâncias em que as partes fundaram a decisão de contratar
tiverem sofrido uma alteração anormal, tem a parte lesada direito à resolução do
contrato, ou à modificação dele segundo juízos de equidade, desde que a
exigência das obrigações por ela assumidas afecte gravemente os princípios da
boa fé e não esteja coberta pelos riscos próprios do contrato.

• 2. Requerida a resolução, a parte contrária pode opor-se ao pedido,


declarando aceitar a modificação do contrato nos termos do número anterior.
• Art. 437 – Resolução ou modificação do contrato

• Art. 252/2 – anulação do contrato


Aplicação da coisa a fim diferente do
declarado, erro e vinculação negocial
• Erro sobre a base do negócio?
• Não. O vendedor não incorreu em erro – o comprador é que não agiu de acordo
com aquilo que o vendedor esperava dele.

• Falha na previsão – uma falsa ou deficiente previsão. – 437.º?


• “Error in futurum”

• Não cumprimento do contrato – art. 801.º/2 e 802.º/1 – resolução do contrato

• Condição? – cláusula resolutiva?


Dolo
• Artigo 253.º - (Dolo)
• 1. Entende-se por dolo qualquer sugestão ou artifício que alguém
empregue com a intenção ou consciência de induzir ou manter em
erro o autor da declaração, bem como a dissimulação, pelo
declaratário ou terceiro, do erro do declarante.

• 2. Não constituem dolo ilícito as sugestões ou artifícios usuais,


considerados legítimos segundo as concepções dominantes no
comércio jurídico, nem a dissimulação do erro, quando nenhum dever
de elucidar o declarante resulte da lei, de estipulação negocial ou
daquelas concepções.
• Dolo positivo e dolo negativo

• Dolus bonus e dolus malus

• Dolo inocente e dolo fraudulento

• Dolo proveniente do declaratário e dolo proveniente de terceiro

• Dolo essencial ou determinante e dolo incidental


• Artigo 254.º - (Efeitos do dolo)
• 1. O declarante cuja vontade tenha sido determinada por dolo
pode anular a declaração; a anulabilidade não é excluída pelo facto de
o dolo ser bilateral.
2. Quando o dolo provier de terceiro, a declaração só é anulável
se o destinatário tinha ou devia ter conhecimento dele; mas, se
alguém tiver adquirido directamente algum direito por virtude da
declaração, esta é anulável em relação ao beneficiário, se tiver sido
ele o autor do dolo ou se o conhecia ou devia ter conhecido.
• Anulabilidade

• 227.º - responsabilidade pré-negocial do autor (deceptor)


• Dano da confiança ou interesse contratual negativo

• Condições de relevância do dolo do declaratário


• Dolus malus
• Essencial ou determinante
• Intenção ou consciência de induzir ou manter em erro
• O dolo bilateral ou recíproco pode ser invocado
• Condições de relevância do dolo de terceiro

• Se o declaratário conheceu ou foi cognoscível – anulável


• Se o declaratário não conheceu nem devia conhecer
• Invalidade parcial – se o terceiro (deceptor) beneficiar de algum efeito
Coação moral
• Artigo 255.º - (Coacção moral)
• 1. Diz-se feita sob coacção moral a declaração negocial determinada pelo receio de um mal de
que o declarante foi ilicitamente ameaçado com o fim de obter dele a declaração.

• 2. A ameaça tanto pode respeitar a pessoa como a honra ou fazenda do declarante ou de


terceiro.

• 3. Não constitui coacção a ameaça do exercício normal de um direito nem o simples temor
reverencial.

• Artigo 256.º - (Efeitos da coacção)



A declaração negocial extorquida por coacção é anulável, ainda que esta provenha de
terceiro; neste caso, porém, é necessário que seja grave o mal e justificado o receio da sua
consumação.
Coação moral
• Coação física = inexistência
• coação moral = anulabilidade

• Coação principal e coação incidental

• Coação dirigida à pessoa ou à honra ou à fazendo do declarante ou de


terceiro

• Coação exercida pelo declaratário e coação exercida por terceiro

• Coação moral # temor reverencial


Coação moral = anulabilidade + 227.º
responsabilidade pré-negocial
• Coação exercida pelo outro contraente:
• - coação essencial ou principal
• - intenção de extorquir a declaração
• - ilicitude da ameaça
• Ilegitimidade dos meios
• Ilegitimidade do fim – ilegitimidade da prossecução daquele fim com aquele meio

• Coação exercida por um terceiro


• #dolo de terceiro
• Anulabilidade + 227.º (indeminzação)
• Gravidade do mal cominado
• Justificado receio da sua consumação
ESTADO DE NECESSIDADE
• Negócio usurário – 282.º
• Artigo 282.º - (Negócios usurários)
• 1. É anulável, por usura, o negócio jurídico, quando alguém,
explorando a situação de necessidade, inexperiência, ligeireza,
dependência, estado mental ou fraqueza de carácter de outrem,
obtiver deste, para si ou para terceiro, a promessa ou a concessão de
benefícios excessivos ou injustificados.
2. Fica ressalvado o regime especial estabelecido nos artigos
559.º-A e 1146.º
• REQUSIITOS OBJETIVOS
• Benefícios excessivos ou injustificados

• REQUISITOS SUBJETIVOS
• Exploração de uma situação de necessidade, inexperiência, ligeireza,
dependência, estado mental ou fraqueza de carácter de outrem

• Anulabilidade ou
• Modificação do negócio – art. 283.º - segundo juízos de equidade
• Prazo – a partir da cessação da situação de inferioridade
Artigo 280.º negócio que viola os bons
costumes
• Estado de necessidade # coação moral

• Situação de perigo não foi cfriada com o desígnio de extorquir um


negócio (falta a intenção de coagir)

• Mas – dever jurídico de auxílio


• - exigência de retribuição que viola os bons costumes
• Art. 280.º/2 CC – NULIDADE
• Artigo 280.º - (Requisitos do objecto negocial)
• 1 .É nulo o negócio jurídico cujo objecto seja física ou legalmente
impossível, contrário à lei ou indeterminável.
2. É nulo o negócio contrário à ordem pública, ou ofensivo dos
bons costumes.

• Artigo 286.º - (Nulidade)


• A nulidade é invocável a todo o tempo por qualquer interessado e
pode ser declarada oficiosamente pelo tribunal.
Incapacidade acidental
• Artigo 257.º - (Incapacidade acidental)
• 1. A declaração negocial feita por quem, devido a qualquer causa,
se encontrava acidentalmente incapacitado de entender o sentido
dela ou não tinha o livre exercício da sua vontade é anulável, desde
que o facto seja notório ou conhecido do declaratário.

• 2. O facto é notório, quando uma pessoa de normal diligência o


teria podido notar.
Incapacidade acidental
• Incapacidade acidental

• Notoriedade ou conhecimento da perturbação psíquica


Caso 1
• Acúrcio decidiu vender uma pintura a óleo que herdara recentemente de
uma tia. Branca estava na disposição de comprar a pintura desde que se
tratasse de uma obra de Vieira da Silva.
• Acúrcio não tinha a certeza da autenticidade da tela.
• Carlota, conhecida de ambos e conhecedora de arte, persuadiu-os, através
da exibição de diversos documentos, de que a pintura era de Vieira da
Silva. Tanto Acúrcio como Branca ignoravam que Carlota apenas queria
prejudicar Branca, tendo, para tal, forjado aqueles documentos.
• a) Em Setembro de 2020, um ano após a compra, e tendo já pago o preço, Branca
toma conhecimento de que se trata de uma cópia grosseira e apercebe-se da
falsidade dos documentos que lhe foram exibidos. Poderá destruir os efeitos do
negócio?
• b) E, caso se provasse que Branca sempre teria adquirido a pintura mas por preço
inferior, a solução seria diferente?
Caso 2
• Através da falsificação de documentos que a apresentam como licenciada, Diana, desempregada
há vários anos, conseguiu um importante cargo numa empresa privada. Sabendo de tudo,
Eduardo advertiu-a de que iria esclarecer a situação junto da empresa, cujos administradores
bem conhece, salvo se Diana vendesse a Francisca, sobrinha predileta de Eduardo, uma
determinada quinta a preço irrisório. Apesar de a quinta ter um especial valor afetivo para Diana,
esta aceitou e o negócio foi celebrado, pela forma legal, em Fevereiro de 2020, sem que
Francisca, pessoa bastante ingénua, suspeitasse das verdadeiras razões da compra e venda.
• Em Setembro de 2020, para se furtar à ação dos credores, Francisca declarou, pela forma
legal, vender a quinta ao seu amigo Guilherme, embora, como previamente haviam combinado,
este não tenha pago qualquer preço e Francisca até tenha continuado a viver nela.
• Em Outubro de 2021, e pela forma legal, Guilherme trocou a quinta por um apartamento de
Hugo, que ignorava todas as vicissitudes anteriores e registou de imediato a sua aquisição.
• Em Abril deste ano (2022), os patrões de Diana descobriram a falta de habilitações académicas e
a falsificação, mas decidiram mantê-la em funções.
• Hoje, Diana consulta-o(a) para saber se pode reaver a quinta. Quid iuris?
Caso 3
• Em julho de 2018, Daniel, monitor de montanhismo, conduzia Carla
por um penhasco perigoso, onde Carla viria a cair numa ravina.
Perante tal acidente, Daniel para prestar ajuda exigiu que Carla lhe
entregasse um valioso relógio que a mesma trazia.
• Carla, solteira, doou o seu valioso relógio a Daniel.

• 1) Poderá hoje Carla desfazer o negócio?


• 2) E se Daniel tivesse vendido o mesmo a Joana, que desconhece,
sem culpa, todos os factos anteriores?
Caso 4
• Zaida, residente no Algarve, comprou um apartamento em Coimbra
por 80.000, pois desejava vir estudar Direito em Coimbra.
• Para tanto confiou na descrição e nas fotos constantes do anúncio
publicitário feito pela vendedora, Adriana.
• Ao chegar a Coimbra depara-se com um apartamento sito em Botão
(muito longe da Faculdade de Direito) e em más condições de
habitação, precisando de obras de reparação.
• Quid juris?
Caso 5
• No dia 10 maio de 2020, Ana celebrou com Bernardo um contrato
promessa de compra e venda de um apartamento, sito em Vila Real,
julgando que havia sido colocada como Juíza nessa localidade, a partir
de 1 de setembro.
• Em finais de maio, apercebe-se que afinal estava colocada, no
concurso de colocação de juízes concluído no dia 5 de maio, em Vila
Real de Santo António.
• Quid juris?

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