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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO CEARÁ


Comarca de Fortaleza
25ª Vara Cível (SEJUD 1º Grau)
Rua Desembargador Floriano Benevides Magalhaes nº 220, Água Fria - CEP 60811-690, Fone: (85) 3492 8432,
Fortaleza-CE - E-mail: for25cv@tjce.jus.br

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjce.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0226725-65.2021.8.06.0001 e código E5DCA60.
SENTENÇA

Processo nº: 0226725-65.2021.8.06.0001


Apensos:
Classe: Procedimento Comum Cível
Assunto: Obrigação de Fazer / Não Fazer
Requerente: Condomínio Edifício Soberano V

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARIA DE FATIMA BEZERRA FACUNDO, liberado nos autos em 19/10/2023 às 15:28 .
Requerido: Wesley de Castro

Vistos etc.

Trata-se de Ação de Exigir Contas, proposta pelo CONDOMÍNIO EDIFÍCIO


SOBERANO V, contra WESLEY DE CASTRO, ambos qualificados nos autos do processo
epigrafado, na qual a parte autora narrou que o requerido exerceu o cargo de síndico, no
período de janeiro de 2019 a janeiro de 2020, sem conduto prestar as devidas contas através
da assembleia condominial, asseverando que após a eleição da nova gestão condominial, foi
procedida a análise dos livros fiscais do condomínio, na qual se constataram algumas
irregularidades, sendo oportunizado ao demandado seu direito de defesa, com a devida
prestação de contas do referido período.
Também aduziram que foi contratada uma empresa para promover uma auditoria
contábil, a qual apresentou parecer, indicando inúmeras irregularidades nas contas que lhe
foram apresentadas para análise.
Requereu a procedência da ação, com a consequente condenação do promovido
em prestar contas, sob pena de se sujeitar às cominações legais.
Juntou aos autos diversos documentos, dentre eles, Termo de Notificação
Extrajudicial de fls. 34/40 e Parecer de Auditoria de fls. 41/128.
Citado, o promovido apresentou contestação às fls. 162/173, alegando que nunca
se negou a prestar as contas do período em que foi síndico, até mesmo porque foi proibido de
prestá-las pela administração que o sucedeu, fato, inclusive, que fez constar na notificação
recebida quase um ano após haver deixado a administração daquele condomínio, asseverando,
ainda, que, ao deixar a administração, repassou para o novo administrador todos os
documentos referentes às contas do período em que foi síndico, sendo impossibilitado de
acessá-los, posteriormente.
Sobre as incongruências a que se reporta a auditoria, afirmou que, na sua grande
maioria, tratam-se de alegações infundadas, mas que o somatório das despesas devidamente
comprovadas integram o valor de R$ 299.643,33, contrapondo-se ao valor da prestação de
fls. 631

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO CEARÁ


Comarca de Fortaleza
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contas reclamado, de R$ 300.198,47, levantando algumas questões processuais.

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Já com relação à prestação de contas em si, apresentou o relatório de fls. 174/176,
no qual estão indicadas inúmeras despesas ocorridas no período compreendido entre janeiro
de 2019 e janeiro de 2020, também indicou na contestação um link para consulta de toda a
prestação de contas, as quais foram materializadas no pleito de fls. 217/229 e 230/629.
O autor apresentou réplica às fls. 185/192, rebatendo os argumentos levantados
pelo contestante e ratificando a tese inicial.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARIA DE FATIMA BEZERRA FACUNDO, liberado nos autos em 19/10/2023 às 15:28 .
Por ocasião da decisão de fls. 211, restaram decididas as questões processuais
levantadas na contestação, facultando às partes apresentarem provas na fase de instrução,
direito que não foi exercitados pelas partes.
É o relatório. Passo a decidir:
A ação proposta pressupõe uma delegação prévia de administração de bens, sendo,
portanto, direito do outorgante exigir do outorgado a prestação de contas, relacionada aos
fatos a que se reporta a peça inaugural, nos moldes do § 4.º, do art. 550, do CPC.
Na situação em análise há de se observar inicialmente que o demandado realmente
foi impedido de prestar contas à comunidade condominial, conforme consta na própria
notificação de fls. 177/179, o que causa espécie, uma vez que a pretensão do autor deveria se
no sentido contrário. Tal fato nos faz concluir, inclusive, que inexistia a necessidade da
utilização da via judicial, caso tivesse sido oportunizado ao autor apresentar as contas perante
a comunidade condominial, como preveem a convenção e a própria lei, o que não foi possível
por ter sido impedido de fazê-lo por quem deveria tê-lo oportunizado a cumprir com seu dever
e seu direito de prestar as contas de sua administração, situação que define que quem deu
causa à ação foi o próprio autor, embora não se possa negar que tinha o direito de exigir que o
promovido prestasse contas.
Já com relação à prestação de contas via judicial, preconiza o art. 551, do CPC, in
verbis:
Art. 551. As contas do réu serão apresentadas na forma adequada, especificando-se
as receitas, a aplicação das despesas e os investimentos, se houver.
§ 1º Havendo impugnação específica e fundamentada pelo autor, o juiz estabelecerá
prazo razoável para que o réu apresente os documentos justificativos dos
lançamentos individualmente impugnados.
§ 2º As contas do autor, para os fins do art. 550, § 5º, serão apresentadas na forma
adequada, já instruídas com os documentos justificativos, especificando-se as
receitas, a aplicação das despesas e os investimentos, se houver, bem como o
respectivo saldo.

Depreende-se dos autos que o promovido se utilizou do seu direito de


contraditório, apresentando todas as contas como devido, fazendo as explicações sobre os
questionamentos levantados pelo autor.
Toda a documentação carreada aos autos às fls. 230/629 já havia sido
disponibilizada ao autor, por ocasião da contestação, por intermédio de um link lá indicado,
sem qualquer insurgência contra referida prestação de contas em si, embora tenha o autor
rechaçado de forma genérica.
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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO CEARÁ


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Fortaleza-CE - E-mail: for25cv@tjce.jus.br

O preceito de contestação especificada atinge ao réu, mas também ao próprio


autor, por ocasião da apresentação da réplica, desde que feitas alegações pelo réu,

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contrapondo-se à tese autoral, o que se justifica pelo Princípio da Igualdade entre as partes.
Sobre o assunto, manifesta-se Marinoni1:
Haja vista o direito fundamental à igualdade do processo (art. 5.º, I CRFB), o ônus
de impugnação específica das alegações fáticas apanha tanto o réu, na contestação,
como o autor, acaso esse tenha que se manifestar sobre eventual defesa indireta
arguida pelo réu na contestação (art. 350 CPC). Silenciando o autor, consideram-se

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARIA DE FATIMA BEZERRA FACUNDO, liberado nos autos em 19/10/2023 às 15:28 .
verdadeiras eventuais alegações fáticas do réu que visam a extinguir, modificar ou
impedir o direito alegado por esse.
No caso em tela, consoante ressaltado, o demandado cumpriu com a determinação
deste juízo, apresentando as contas referentes ao período em que foi síndico do condomínio
autor, sem que este as contradissessem, o que se presume como verdadeiras.
Ademais, analisando toda a documentação carreada aos autos, constato que as
despesas indicadas na prestação de contas convergem com os extratos bancários do autor,
inexistindo razão para a rejeição das contas que foram apresentadas, não se justificando a
pretensão do autor, que, consoante frisado, impediu que o demandado cumprisse com sua
obrigação, impedindo também, pelas mesmas razões, que exercesse seu direito do
contraditório.
Isto posto, o mais que dos autos consta, bem como pela ausência de insurgência
contra a prestação de contas apresentadas pelo demandado WESLEY DE CASTRO e ainda
com fundamento nos dispositivos supra invocados e no art. 490, do CPC, DECLARO
PRESTADAS as contas apresentadas neste feito, dando-se por cumprida, sem ressalvas,
referida obrigação.
Condeno o autor no pagamento das custas processuais e de honorários
advocatícios, que arbitro em dez por centos do valor da causa, em virtude de ter dado causa à
ação, por impedir que o promovido prestasse contas à coletividade condominial como previsto
na legislação pertinente à matéria, ressaltando o fato de ser beneficiário da gratuidade da
justiça, razão porque a exigibilidade de tal ônus fica suspensa por até cinco anos, nos moldes
do § 3.º, do art. 98 do CPC.
P. R. I.
Fortaleza/CE, 19 de outubro de 2023.

Maria de Fatima Bezerra Facundo


Juíza de Direito

1 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel, Código de processo civil comentado, 3.ª Edição, SP Revista dos
Tribunais, 2017, p. 451.

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