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RESUMOS TERAPÊUTICA

TEÓRICAS PROF. BELMIRO

Xavier João Pereira

Ano letivo 2021/2022- 2º Semestre


ÍNDICE
PRINCÍPIOS GERAIS DA ANTIBIOTERAPIA...................................................................................... 3
ANTIBIÓTICOS BETA-LACTÃMICOS ................................................................................................ 6
PENICILINAs ............................................................................................................................... 6
CEFALOSPORINAS .................................................................................................................... 10
CARBAPENEMS ........................................................................................................................ 12
MONOBACTÂMICOS................................................................................................................ 13
INIBIDORES DAS BETA-LACTAMASES ...................................................................................... 13
AMINOGLICOSÍDEOS ................................................................................................................... 14
CLORANFENICOL ......................................................................................................................... 19
SULFONAMIDAS .......................................................................................................................... 22
TRIMETOPRIM-SULFAMETOXAZOL (TMP-SMX) .......................................................................... 25
NITROFURANOS .......................................................................................................................... 27
RIFAMICINAS ............................................................................................................................... 27
ÁCIDO FUSÍDICO .......................................................................................................................... 28
FOSFOMICINA- FOSFOMICINA TROMETANOL (MONURIL) ......................................................... 28
POLIPEPTÍDEOS ........................................................................................................................... 29
NITRIMIDAZÓIS ........................................................................................................................... 30
MACRÓLIDOS .............................................................................................................................. 31
QUINOLONAS .............................................................................................................................. 35
TETRACICLINAS ............................................................................................................................ 38
CLINDAMICINA ............................................................................................................................ 44
QUINUPRISTINA/ DALFOPRISTINA .............................................................................................. 47
LINEZOLIDE .................................................................................................................................. 48
GLICOPEPTÍDEOS ......................................................................................................................... 51
VANCOMICINA ........................................................................................................................ 51
TEICOPLANINA......................................................................................................................... 53
LIPOPEPTÍDEOS CÍCLICOS ............................................................................................................ 53
DAPTOMICINA ......................................................................................................................... 53

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PRINCÍPIOS GERAIS DA ANTIBIOTERAPIA

Antibiótico- substância que impede ou destrói certas manifestações vitais de alguns


microrganismos.

Classificação:

• Naturais: produzidos por vários microrganismos e que são capazes de suprimir o


crescimento de outros- penicilina, eritromicina, vancomicina
• De síntese: quinolonas, sulfonamidas

Agentes etiotrópicos- eliminam a causa da infeção

Bactericidas- se destroem a parede celular da bactéria

Bacteriostáticos- se interferem com o sistema produtor de energia

Os antissépticos, ao contrário dos antibióticos, apresentam ação inespecífica, sendo mais


tóxicos.

São exemplos de más utilizações de antibióticos:

• Síndromes febris
• Bronquite aguda
• Sinusite, rinite aguda
• Otite média
• Amigdalite aguda

A sua má utilização condiciona elevadas taxas de resistência antimicrobiana e de infeções


hospitalares. Assim, deve-se utilizar antibióticos como:

1. Terapêutica curativa:
a. Empírica- quando se presume o agente envolvido
b. Dirigida- para determinada bactéria
2. Terapêutica profilática/preventiva:
a. Quando contacto de risco
b. Geralmente de curta duração

É condição essencial prévia estabelecer um diagnóstico de infeção bacteriana (na


antibioterapia curativa), com base em elementos clínicos (sinais, sintomas, exame físico),
laboratoriais (culturas, estudos analíticos sanguíneos, urinários), exames de imagem e de
conhecimentos epidemiológicos.

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ANTIBIOTERAPIA EMPÍRICA

• O agente infecioso é desconhecido


• Diagnóstico de presunção: clínica, epidemiologia
• Fazer colheita prévia de material biológico para cultura (há exceções)
• O antibiótico deve cobrir todos os agentes prováveis:
o Antibiótico de largo espetro/ associação de antibióticos
• Quando o agente é identificado passa-se para uma antibioterapia dirigida

ANTIBIOTERAPIA PROFILÁTICA

• Proteger pessoas saudáveis expostas a agentes infeciosos: meningite meningocócica,


tuberculose…
• Doentes imunodeprimidos
• Procedimentos invasivos em doentes com válvulas cardíacas
• Intervenções cirúrgicas (nem todas)
• Outras: cistites de repetição

ESCOLHA DO ANTIBIÓTICO
Na escolha do antibiótico deve-se ter em conta 3 fatores: o doente, o agente patogénico
e os fármacos disponíveis.

Em relação ao agente patogénico, são fatores a considerar o gérmen, a severidade das


infeções, a sua sensibilidade e resistência a antibióticos, história de infeções e antibioterapia
prévias.

Sobre o hospedeiro é de considerar:

1. Imunidade celular e humoral- um agente bacteriostático pode ser suficiente em certos


casos e noutros poderá ser necessário um bactericida
2. Fatores locais: localização, vascularização, pH, oxigénio, presença de pus ou sangue,
presença de corpos estranhos
3. Idade: importante na farmacocinética
a. Imaturidade renal e hepática do recém-nascido
b. Acumulação de tetraciclinas no osso e dentes em desenvolvimento
c. No idoso há diminuição da clearance renal e da acidez gástrica
4. Comorbilidades: insuficiência hepática, renal, estado de nutrição
5. Fatores genéticos: polimorfismos envolvidos na expressão de genes relacionados com a
absorção e metabolização de fármacos
6. Gravidez: risco para o feto e alterações farmacocinéticas dos fármacos
7. Aleitamento
8. Alergias

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Em relação aos fármacos é importante avaliar:

• Eficácia: espetro de ação


• Segurança: efeitos adversos e contraindicações
• Farmacocinética: absorção e vias de absorção, distribuição, metabolização, elimanação
• Farmacodinâmica
• Cmax, CIM, CBM, AUC
• Duração de tratamento
• Preço

A associação de antibióticos pode estar indicada nas seguintes situações:

1. Terapêutica empírica para infeções graves de causa desconhecida


2. Para alargar espetro a potenciais gérmenes envolvidos
a. Pneumonia da comunidade- macrólido para micoplasma e cefuroxima para
Gram negativos
3. Infeções polimicrobianas: abcessos intra-abdominais, hepáticos, cerebrais, com flora
mista
4. Efeito sinergístico
a. Endocardite enterocócica- penicilina + gentamicina
5. Prevenção de resistências. Tuberculose, infeção por H. pylori

Na associação de antibióticos deve-se ter atenção a riscos como a toxicidade, superinfeções,


resistência e custos.

ATENÇÃO: uma cultura positiva não é sinónimo de antibioterapia!

1. Bacteriúrias assintomáticas (há exceções)


2. Úlceras de pé diabético contaminadas, mas sem sinais de infeção local ou sistémica
3. Candidúria assintomática
4. Resultados incongruentes de hemoculturas seriadas
5. Isolamentos de Acinetobacter na urina, feridas, secreções respiratórias, sem sinais de
resposta sistémica

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ANTIBIÓTICOS BETA-LACTÃMICOS

Estes antibióticos caraterizam-se pela presença de um anel beta-lactâmico na sua estrutura,


essencial para a sua atividade antibacteriana. São as cadeias laterais que conferem um espetro
diferente para cada fármaco. Englobam:

• Penicilinas
• Cefalosporinas
• Outros
o Carbapenems
o Aztreonam
o Inibidores das beta-lactamases

Mecanismo de resistência:

1. Inativação dos antibióticos pelas beta-lactamases

Ex.: Staphylococcus aureus, Neisseria gonorrhoeae, Enterobacteriaceae, Haemophilus


influenza

2. Modificação das proteínas de ligação

Ex.: Gram + (Streptococcus pneumoniae, Enterococcus faecium)

3. Diminuição da capacidade de penetração do fármaco devido à diminuição das purinas

Ex.: Gram – (Pseudomonas aeruginosa)

4. Existência de sistemas transmembranares que diminuem a concentração intracelular

Ex.: Gram – (Pseudomonas aeruginosa)

PENICILINAs

O mecanismo de ação das penicilinas baseia-se na interferência na síntese da parede


bacteriana, nomeadamente, com a síntese das cadeias peptidoglicanas, impedindo o
estabelecimento de ligações cruzadas (por semelhança estrutural com o terminal D-Ala-D-Ala
nos pentapeptídeos do peptidoglicano). São, portanto, antibióticos bactericidas.

Penicilinas naturais:
o Penicilina G- injetável (IM, EV)
o Penicilina V- oral

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Apresentam:

• Semivida curta, pelo que a sua utilização envolve várias administrações diárias
• Distribuição ampla:
o Elevada no fluido articular, pericárdico e bílis
o Baixa nas secreções prostáticas, intraocular e LCR
• Excreção renal
• Necessitam de ajuste da dose na insuficiência renal

As formulações de penicilina G para “Depot IM” (procaínica e benzatínica), por


apresentarem menor solubilidade, permitem um atraso na absorção e, portanto, uma semivida
mais prolongada. Indicada para profilaxia de febre reumática (benzatina), mas não para infeções
específica, com necessidade de tratamento rápido, como meningite estreptocócica por S.
pneumoniae.

Espetro- têm ação contra:

➢ Cocos Gram +
o Staph. Aureus β- (não produtores de beta lactamases)
o Strep. Piogenes e pneumoniae
➢ Cocos Gram –
o Neis. Gonor. e minin.
➢ Bacilos +
o Clostridia
o Cor. Dipht
o Hem. Influenzae (pouco)

Usos terapêuticos:

➢ Na pneumonia estreptocócica se sensível (embora seja a amoxicilina a 1ª linha)


➢ Na meningite estreptocócica (quando utilizada é em associação com a vancomicina)
➢ Infeções por Streptococus pyogenes (faringite, pneumonia, artrite, meningite,
endocardite)
➢ Meningite por Neisseria meningitidis (1ª linha é ceftriaxone)
➢ Sífilis (é a 1ª linha)

Usos profiláticos:

➢ Infeções estreptocócicas
o Exposição a Str. pyogenes
o Recidivas de febre reumática
➢ Sífilis
➢ Procedimentos cirúrgicos em doentes com próteses valvulares (há alternativas)

Conclusão: a penicilina G é uma penicilina que se mantém útil hoje em dia mas que não é
utilizada habitualmente em ambulatório para infeções comuns porque não é de administração
cómoda.

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Penicilinas anti-estafilocócicas (resistentes às penicilinases)
o Nafcilina, oxacilina, cloxacilina
o Dicloxacilina
o Flucloxacilina

São úteis para infeções por Staphylococcus Aureus não metilcilino resistentes.

A flucloxacilina é um fármaco útil porque está disponível para administração oral, usada em
infeções da pele e tecidos moles. Eliminação renal, mas com significativa eliminação biliar após
metabolização hepática. Necessita de ajuste da dose na insuficiência renal. Interesse nas
infeções causadas por Streptococcus e Staphylococcus:

• Infeções da pele (furunculose, carbúnculo, abcesso, impetigo)


• Tecidos moles subcutâneos (celulite, linfagite)
• Feridas traumáticas, cirúrgicas e de queimaduras

Aminopenicilinas
o Ampicilina- formulação mais utilizada é a endovenosa
▪ Eficaz na meningite por Listeria monocytogenes
o Amoxicilina- formulação oral preferencialmente
▪ Menos eficaz na Shigella

É o grupo mais utilizado das penicilinas. Enquanto que a ampicilina atinge o LCR, a
amoxicilina já não o consegue. Apesar desta diferença, ambos são eliminados por via renal e,
por isso, necessitam de ajuste de dose na insuficiência renal.

Apresentam um espetro mais amplo que os grupos anteriores, cobrindo E. Coli,


Salmonella, Shigella, Haemophilus influenzae e Helicobacter pylori.

Por vezes, são administradas em concomitância com inibidores das beta-lactamases


(amoxicilina + Sulbactam) para expandir o espetro.

Usos terapêuticos:

➢ Infeções respiratórias superiores


o Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae, Streptococcus pyogenes
o Úteis isoladamente em pneumonias da comunidade, em doentes sem
comorbilidades e em doentes sem história de antibioterapia prévia nos últimos
3 meses
o Se história de comorbilidades ou antibioterapia prévia, deve-se associar a
amoxicilina a um macrólido
➢ Infeções urinárias não complicadas
o E. coli, Enterococcus, Enterobacteriaceae
o Não constituem 1ª linha atualmente porque há um aumento da incidência de
resistências (cerca de 1/3 dos casos)
➢ Meningite bacteriana
o Atenção a resistências: associar vancomicina e cefalosporina 3ª G

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➢ Infeções por Salmonella (incluindo febre tifóide)
o Mas F-quinolona ou ceftriaxone são 1ª escolha

Penicilinas de largo espetro (antipseudomonas)


o Carbenicilina, mezlocilina, ticarcilina
o Piperacilina- quando prescrita, é sempre em associação com o Tazobactam

A piperacilina alarga o espetro da ampicilina, passando a incluir:

• Pseudomonas aeruginosa
• Enterobacteriaceae (não produtoras de beta- lactamases)
• Bacteroides

É sobretudo útil em infeções multirresistentes. Está disponível para administração


endovenosa e intramuscular, apresenta excreção renal e, assim, necessidade de ajuste da dose.

Usos terapêuticos:

• Infeções graves por bactérias Gram-


• Infeções hospitalares, multirresistentes; doentes “imunodeprimidos”
o Bacteriemias, pneumonias, infeções urinárias, infeções associadas a
queimaduras

Reações adversas às penicilinas


1. Reações alérgicas: respostas imunológicas tipo I, mediadas por IgE. Espetro variado:
a. Urticária
b. Prurido
c. Broncoespasmo
d. Angioedema
e. Edema da laringe
f. Hipotensão
g. Anafilaxia: grave, mas rara
2. Reações imunológicas de início mais tardio:
a. Eosinofilia
b. Nefrite intersticial
c. Sérum Sickness
3. Rash cutâneo não alérgico (bastante comum)
a. Simétrico, eritematoso, confluente, maculopapular, extremidades
4. Gastrointestinais: náuseas, vómitos, diarreia
5. Alteração das provas de função hepática (se metabolização hepática)
6. Arritmias cardíacas, insuficiência cardíaca

Deve-se ter sempre em atenção reações alérgicas cruzadas a outros beta-lactâmicos pois
são frequentes. São fármacos de categoria B na gravidez, pelo que poderão ser utilizados, mas
também na amamentação.

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CEFALOSPORINAS

São antibióticos semissintéticos que derivam do fungo Acremonium. Apresentam um anel


dihidrotiazídico e um anel beta-talâmico, sendo este segundo responsável pela atividade
antibacteriana.

Farmacocinética:

• Absorção
o Estão disponíveis para administração por via oral (útil em infeções de
ambulatório) e parentérica (infeções hospitalares)
o Na via oral, a presença de alimentos pode diminuir a sua absorção
• Distribuição
o Satisfatória na maioria dos tecidos, exceto LCR
o Apresentam boa distribuição no LCR. Ceftriaxone, cefuroxima, ceftazidima,
cefepima, cefotaxima (são 1ª escolha no tratamento empírico de
meningites e abcessos cerebrais)
• Metabolismo
o Metabolismo hepático pouco importante
o São exceções a cefotaxima, cefalotina, cefapirina
• Excreção
o Maioritariamente renal
o Exceções: Ceftriaxone, cefoxitina, cefoperazona, cefmetazol (são úteis em
situações de insuficiência renal crónica e lesão renal aguda)

Deve-se considerar, por defeito, que as cefalosporinas são possíveis de administração por via
parentérica. Estão disponíveis para administração por via oral:

1. Cefradina (1ª Geração)


2. Cefuroxima axetil (2ª Geração)
3. Cefixima (3ª Geração)
a. Apenas necessária uma única toma diária (o que o torna bastante cómoda a sua
utilização)

O Ceftriaxone distingue-se de todas as restantes cefalosporinas por não necessitar de


ajuste de dose na insuficiência renal, o que o torna muito útil no contexto de lesão renal aguda
(p.e associado a choque). A Ceftazidima está reservada para infeções por Pseudomonas
Aeroginosa.

A classificação das Cefalosporinas está particularmente associada às suas caraterísticas


gerais da sua atividade microbiana. Da 1ª para a 3ª geração, há uma perda da atividade
antimicrobiana para os Gram +, mas alarga-se o espetro para Gram – e anaeróbio.

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1ª Geração (Cefazolina)

➢ Espetro: Streptococcus, Staphylococcus aureos sensível à meticilina, alguns Gram –


➢ Usos terapêuticos: profilaxia cirúrgica da pele e tecidos moles

2ª Geração

➢ Cefuroxima
o Espetro:
▪ Menor atividade para Gram + que 1ª G
▪ Maior atividade para Gram –
o Usos terapêuticos:
▪ Profilaxia cirurgias do aparelho urinário, colorretais e ginecológicas (e
tratamento)
▪ Tratamento de infeções intra-abdominais, pélvicas e pé diabético
➢ Cefoxitina
o Espetro:
▪ Maior atividade para Bacterioides fragilis e spp.

3ª Geração

➢ Cefotaxima, Ceftriaxone)
o Deve ser evitado o seu uso em contexto de profilaxia
o Utilizadas em infeções comprovadas, quer como terapêutica empírica, como
dirigida
o Pneumonias da comunidade, meningites, infeções urinárias altas (são
excelentes fármacos neste contexto)
➢ Ceftazidina
o Deve ser utilizada para terapêuticas dirigidas em que a bactéria envolvida é
Pseudomonas Aeruginosa

4ª Geração (Cefepima)

➢ Relativa maior resistência às beta-lactamases


➢ Úteis em infeções nosocomiais

5ª Geração (Ceftarolina)

➢ Utilidade em infeções por Gram + multissensíveis e multirresistentes, nomeadamente


por Streptococcus pneumoniae e beta-hemolítico
➢ Não são úteis em infeções Gram – comuns
➢ Aprovação para o seu uso em infeções complicadas da pele

Não têm utilidade para infeções provocadas por: Enterococcus faecalis e faecium,
Staphylococcus aureos metacilina resistente, Listeria monocytogenes, Legionella spp.,
Acinetobacter.

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Reações Adversas
As cefalosporinas são fármacos com um bom perfil de segurança, apresentando baixa
incidência de efeitos adversos. Contudo, deve-se ter precaução na prescrição em doentes com
alergias às penicilinas devido a possíveis reações cruzadas. Portanto, em doentes com reações
alérgicas graves às penicilinas devem ser evitados.

São reações adversas possíveis:

• Rash
• Eosinofilia
• Sintomas gastrointestinais
• Alterações hematológicas
• Nefrotoxicidade (Cefalotina)
• Superinfeções
• Hemorragia (Cefaperazona, Cefmetazol)
• Lama biliar (Ceftriaxone)

CARBAPENEMS

O fármaco padrão é o Imipenem. Diferem das penicilinas por serem insaturados e por terem
um átomo de carbono em vez de enxofre. São fármacos de largo espetro, eficazes contra Gram
+, Gram – e anaeróbios.

São mais potentes que as cefalosporinas de 3ª Geração por abrangerem Enterococcus


Faecalis, Bacterioides fragilis, Pseudomonas aeruginosa. São organismos resistentes a este
fármaco o Enterococcus faecium e MRSA (Staphylococcus aureos meticilina resistente).

São fármacos de administração endovenosa (Ertapenem apresenta a vantagem de poder ser


administrado numa única toma diária), com excreção maioritariamente renal.

Uso hospitalar:

• Infeções do aparelho respiratório


• Infeções intra-abdominais
• Infeções da pele e tecidos moles
• Infeções ósseas e articulares
• Infeções urinárias

O ideal é utilizar em terapêutica dirigida, mas em situações graves, poderá estar indicado a sua
utilização em terapêutica empírica.

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São três fármacos:

1. Imipenem (sempre associado a Cilastatina, que impede a degradação do Imipenem


pelas dispeptidases tubulares renais)
2. Meropenem
a. Mais utilizado
b. Estável à dihidropeptidase I
c. Atravessa barreira hematoencefálica
3. Ertapenem
a. Cómodo (por apresentar semivida mais longa)
b. Espetro mais estreito que os anteriores (sem atividade sobre Eenterococos e
Pseudomonas)

Efeitos adversos:

• Náuseas e vómitos
• Convulsões
o Na presença de fatores de risco: idade avançada, TCE, convulsões prévias,
AVC, insuficiência renal
• Reações de hipersensibilidade com penicilinas

MONOBACTÂMICOS

O fármaco a considerar é o Aztreonam. É um composto sintético, com grande


estabilidade perante beta-lactamses. Apresenta grande eficácia pra Gram – aeróbios e
anaeróbios facultativos. É ineficaz para cocos Gram + e anaeróbios estritos.

Como apresenta um espetro tão curto, não deve ser utilizado em terapêuticas empíricas
nem em profilaxia.

Apresenta uma farmacocinética similar às Cefalosporinas 3ª G e atinge o LCR nas


meninges inflamadas (pode ser alternativa nas meningites por Gram-). Constitui um substituto
dos aminoglicosídeos e apresenta reduzidas reações cruzadas nas alergias por outros beta-
lactâmicos.

INIBIDORES DAS BETA-LACTAMASES

Não apresentam atividade antibacteriana intrínseca importante, pelo que são utilizados
em associação.

• Ácido culvulâmico (em associação com a amoxicilina)


• Sulbactam (associado à ampicilina)
• Tazobactam (associado à piperacilina)

Tem uma eliminação renal, com necessidade de ajuste de dose na insuficiência renal.
Permitem alargar o espetro e são úteis em infeções com flora bacteriana mista.

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AMINOGLICOSÍDEOS

Os aminoglicosídeos são antibióticos essencialmente administrados por via parentérica


(endovenosa ou intramuscular). Portanto, não são passíveis de administração em ambulatório.
A neomicina é o único aminoglicosídeo que se dá por via oral, com o objetivo de obter um efeito
intestinal e não sistémico (não há absorção), sendo geralmente utilizada em profilaxia tópica
intestinal. Também não estão indicados, pelo menos de forma isolada, para terapêuticas
empíricas, por apresentarem um espetro relativamente estreito (cobrem Gram negativos,
alguns Gram positivos, mas não anaeróbios). São nefrotóxicos, o que invalida a sua utilização
num quadro séptico (um doente que esteja em choque, o rim está sempre em sofrimento- lesão
renal aguda). Também pelo facto de terem um espetro curto, não estão indicados geralmente
para profilaxia.

Estrutura

São hidrofílicos, policatiónicos e estão unidos a um anel de aminociclitol por pontes


glicosídicas, sendo compostos por 3 a 5 anéis.

A estrutura química policatiónica resulta, por um lado, da sua ligação à membrana


bacteriana externa aniónica, contribuindo para o seu efeito bactericida, mas também da ligação
a fosfolípidos aniónicos nas membranas celulares dos túbulos renais proximais nos mamíferos,
resultando daí a sua toxicidade renal. Devido à sua natureza hidrofílica, o seu transporte através
das bicamadas lipídicas hidrofóbicas está impedido. A sua natureza policatiónica é, em parte,
responsável pelas suas propriedades farmacocinéticas:

• Má absorção oral (porque não passa bem por membranas lipofílicas; daí a utilização
oral só estar indicada para uso tópico intestinal)
• Concentrações insuficientes no LCR (em situações em que não haja inflamação das
meninges)
• Excreção relativamente rápida pelo rim normal

São classificados em:

• Naturais
a. Estreptomicina (parentérica; usada em casos de tuberculose, mas associada a
ototoxicidade)
b. Deoxistreptomicinas
i. Formulação oral: Neomicina, Framicetina, Paromomicina
ii. Parentéricos: Canamicina, Gentamicina, Tobramicina, Ribostamicina,
Sisomicina
• Semissintéticos
a. Derivados da Canamicina: Dibecacina, Amicacina
b. Derivados Sisomicina: Netilmicina
• Não aminoglicosídeo
a. Espectinomicina

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Mecanismo de ação

A ação antibacteriana envolve dois possíveis efeitos sinergísticos:

1. Inibição da síntese proteica (por ligação à subunidade 30S dos ribossomas)


2. Disrupção da membrana bacteriana

Portanto têm um efeito bactericida e efeito pós-antibiótico (mesmo quando já não existe
concentração sérica, consegue manter uma ação antibiótica), dependentes da concentração. O
efeito pós-antibiótico deve-se à disrupção ribossómica.

A penetração dos aminoglicosídeos pode ser feita através:

1. Membrana bacteriana externa:


a. Disrupção da membrana externa
b. Difusão através das porinas
2. Membrana bacteriana interna, ocorrendo em duas fases:
a. Dependente do potencial negativo
b. Dependente do metabolismo aeróbico

A penetração através da membrana bacteriana interna está dependente de energia, pelo que
poderá ser bloqueada por:

• Diminuição do pH (1ª fase)


• Anaerobiose (2ª fase)
• Catiões bivalentes (Ca2* e Mg2+)
• Hiperosmolaridade

Mecanismos de resistência:

1. Redução da permeabilidade celular


2. Inativação por enzimas microbianas
3. Alteração na estrutura ribossómica

Farmacocinética

1. Absorção
a. Via oral/retal- absorção muito baixa
b. Biodisponibilidade sistémica através das outras membranas também é baixa
c. Absorção rápida por via parentérica
2. Distribuição
a. Devido à sua natureza polar, não penetram na maioria das células, SNC, olho
(exceção córtex renal e ouvido interno, o que explica os seus efeitos adversos:
nefrotoxicidade, ototoxicidade)
b. Fraca ligação proteica, exceto estreptomicina
c. Baixas concentrações nas secreções e tecidos
3. Metabolismo pouco importante (risco de interação com outros fármacos baixo)
4. Excreção
a. Quase totalmente por filtração glomerular (importante monitorizar função
renal)

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b. Risco de acumulação na insuficiência renal (semividas superiores nestes
doentes)

Administração única diária: tão ou mais eficaz e menos tóxica do que múltiplas tomas.
Pode não ser adequada na associação com beta-lactâmicos na endocardite enterocócica.

A sua eficácia terapêutica depende não do período de tempo em que a sua concentração
está acima da sua concentração inibitória mínima, mas sim da relação entre a concentração
máxima sobre concentração inibitória mínima. Daí que uma toma única com dose dupla
(atingindo concentrações séricas mais elevadas) é mais eficaz do que concentrações reduzidas
por períodos de tempo mais longos.

Atividade antibacteriana

A atividade antibacteriana destes antibióticos deve-se à inibição da síntese proteica a nível


ribossómico (efeito bactericida). Esta será dependente de:

1. Presença de oxigénio
a. Logo não são úteis em abcessos (anaerobiose)
b. Não têm ação contra anaeróbios
2. pH do meio
a. numa infeção urinária, se a urina for ácida serão menos eficazes
b. manhã a urina é mais ácida (por causa do jejum), pelo que não devem ser dados
pela manhã
3. Concentração de iões bivalentes
a. se não houver cálcio, por exemplo, terá um menor efeito

Espetro

Os aminoglicosídeos apresentam maior atividade contra Mycobacterium tuberculosis,


Staphylococcus aureus (não são o agente de primeira linha) e bacilos Gram – (aeróbios). Este
espetro relativamente curto justifica o facto de não serem fármacos para tratamento empírico,
pelo menos de forma isolada.

A Gentamicina e Netilmicina são os mais usados na prática clínica, sendo úteis para os
Gram negativos mais frequentes (E. coli, Kleebsiella). No caso de Pseudomonas, já estará
indicado a utilização de Tobramicina ou Amicacina. Embora a Netilmicina tenha indicação para
Enterococcus faecalis, este agente geralmente é resistente (inativação enzimática), pelo que não
se usa muito.

De referir que a Amicacina é o aminoglicosídeo que apresenta espetro mais largo, com
maior resistência a enzimas inativadoras, sendo útil em infeções nosocomiais com resistência
aos outros aminoglicosídeos. Canamicina apresenta grande toxicidade, pelo que o seu uso é
obsoleto. A neomicina é de uso tópico e oral.

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Usos terapêuticos

Infeções graves por bacilos Gram-

1. Infeções do trato urinário


a. Pielonefrites graves
b. Aminoglicosídeo (em toma curta) + beta lactâmico (toma mais prolongada)
c. Não indicados nas ITU não complicadas
2. Pneumonia (se causada por bacilos gram -)
a. Doentes hospitalizados, ventilados, neutropénicos
b. Pseudomonas a.
c. Aminoglicosídeo + beta-lactâmico
3. Meningite (se causada por bacilos gram -)
a. Apenas nos resistentes a beta-lactâmicos

Outras utilizações menos frequentes:

4. Salpingite aguda (Neisseria gonorrhoeae, Chlamydea trochomatis)


a. Frequentemente complicada por bacilos gram – e anaeróbios
b. Gentamicina + clindamicina + doxiciclina
5. Peritonite
a. Pós-diálise peritoneal
6. Abcessos intra-abdominais
a. Infeções polimicrobianas
b. Gentamicina + clindamicina (bom espetro, mas muitas comorbilidades e baixa
segurança; não é primeira linha)
7. Erradicação da flora intestinal facultativa
a. Via oral antes de cirurgia colo-rectal (profilaxia): Neomicina + Eritromicina (já
não se usa atualmente)

Nas situações 2 e 3 só em justificação clínica comprovada, porque há outras opções mais válidas.

Reações adversas:

Todos apresentam possibilidade de produzir toxicidade vestibular, coclear e renal, reversível e


irreversível.

1. Nefrotoxicidade: 8-26% dos que recebem aminoglicosídeos durante alguns dias


desenvolvem algum grau de lesão renal, reversível (diferente de ajuste de dose na IR)
a. Proteinúria, cilindrúria, aumento da creatinina plasmática
b. Potenciada por: anfotericina B, vancomicina, cisplatina, ciclosporina, cefalotina,
furosemida (se desidratação associada)
2. Ototoxicidade: semividas 5-6 x ↑nos fluidos ouvido interno
a. Vestibular: náuseas, vómitos, tonturas, vertigens, perdas de equilíbrio,
nistagmo
b. Coclear: zumbidos, surdez
c. Largamente irreversível, resultante da progressiva destruição das células
vestibulares e cocleares por níveis persistentemente elevados dos fármacos.
d. Agravada por administração concomitante de vancomicina, furosemida, ácido
etacrínico, bumetanido

17
3. Bloqueio neuromuscular: clinicamente significativo apenas em doentes com miastenia
gravis, hipocalcemia, hipomagnesémia ou administração pouco antes de bloqueador
neuromuscular.
a. Pode ser revertido pela administração de Cálcio IV e inibidores das
colinesterases (neostigmina)

Apresentam baixo potencial para alergias e a administração parentérica não causa colite
pseudo-membranosa.

Na gravidez são potencialmente lesivos para o feto, acumulando-se no plasma fetal e


líquido amniótico, podem causar perda auditiva e apresentam risco potencial de nefrotoxicidade
e ototoxicidade fetal (sistema renal ainda muito imaturo, pelos que os efeitos adversos ainda
são mais perigosos).

Durante a amamentação é segura a utilização destes antibióticos porque associam-se a


baixas concentrações nos tecidos e secreções.

18
CLORANFENICOL

Estrutura

Derivado do ácido dicloroacético e contém um anel nitrobenzeno.

Mecanismo de ação

Atua por inibição da síntese proteica bacteriana (e em menor extensão das células
eucarióticas) por ligação reversível à subunidade 50 S do ribossoma. Apresenta efeito
bacteriostático para a maioria das bactérias, mas bactericida para H. influenzae, N. meningitidis
e S.pneumoniae.

Mecanismo de resistência

1. Inativação enzimática (acetiltransferases)


2. Diminuição da permeabilidade (E. Coli; Pseudomonas)
4. Mutação ribossómica

Farmacocinética

1. Absorção
a. Via oral:
i. Absorção rápida e completa no trato gastrointestinal
ii. Não afetada por alimentos ou iões metálicos
b. Via parentérica:
i. Reservada para situações graves (meningite, septicémia) ou
contraindicação para uso oral (por exemplo, vómitos)
2. Distribuição
a. Boa distribuição nos fluidos corporais:
i. LCR, bílis, passa a placenta e atinge o leite materno
ii. Pode acumular-se no cérebro
b. 50-60% ligado a albumina (diminuição nos insuficientes hepáticos e crianças)
3. Metabolismo/ eliminação
a. Inativação hepática por uma glucuroniltransferase (ajustar dose nos
insuficientes hepáticos)
b. Excreção renal:
i. 75-90% sobre a forma de um metabolito inativo
ii. 5-10%. Sobre a forma biologicamente ativa, mas não é necessário ajuste
de dose na insuficiência renal
c. Eliminação renal por secreção tubular e filtração glomerular
d. Semivida 1,5-3,5 horas.
e. Variabilidade no metabolismo e farmacocinética nos recém-nascidos, bebés e
crianças, especialmente com administração concomitante de agentes que
aumentem o metabolismo (fenobarbital, fenitoína, rifampicina).

19
Espetro de ação

Apresenta um largo espetro, cobrindo Gram + e Gram - aeróbias e anaeróbias.

• Gram +
a. Streptococcus pneumoniae, pyogenes, agalactiae
b. Staphylococcus aureus menos sensíveis
• Gram –
a. H. Influenzae, Neiserria meningitidis e gonorrhoeae, Brucella, Bordetella
pertussis: > 95% sensíveis
b. E. Coli, Klebsiella pneumoniae: sensíveis (>75%)
c. Vibrio cholerae: sensível
d. Proteus mirabilis e spp: 50% sensíveis.
e. Pseudomonas aeruginosa: resistente
f. Shigella e Salmonella: resistências crescentes
• Anaeróbios
a. Clostridium spp; Bacteroides fragilis
• Outros
a. Mycoplasma, Chlamydia, Rickettsiae

Usos terapêuticos

O uso do cloranfenicol deve ser limitado a infeções (graves) em que os benefícios superem
a toxicidade potencial e em que não haja alternativas com melhor perfil de eficácia/segurança.
Deixou de ser a primeira opção para qualquer infeção bacteriana, uma vez que, em praticamente
todos os casos, há alternativas disponíveis.

• Febre tifóide (Salmonella typhi) e outras Salmoneloses (osteomielite, meningite,


septicémia)
a. Cefalosporinas de terceira geração e quinolonas são a primeira opção
b. Resistências crescentes ao cloranfenicol
• Meningite bacteriana:
a. H. Influenzae,
i. Cefalosporinas de terceira geração
b. N. Meningitidis
i. Alternativa nas alergias a β-lactâmicos
c. S. pneumoniae
i. Alternativa nas alergias a β-lactâmicos
• Infeções por anaeróbios (intra-abdominais, abcessos cerebrais)
a. Raramente indicado; alternativas
• Rickettsiae
a. Tetraciclinas são preferíveis.
b. Hipersensibilidade às Tetraciclinas, diminuição da função renal, grávidas,
crianças < 8 anos são opção.
• Brucelose
a. Tetraciclinas são primeira escolha

20
Reações adversas

1. Toxicidade hematológica
a. Efeito dependente da dose: anemia, leucopenia, trombocitopenia. Pode
progredir a aplasia fatal. Alguns dos que desenvolvem hipoplasia crónica, têm
risco de leucemia mieloblástica. Geralmente reversível com suspensão.
b. Efeito idiossincrático, independente da dose: anemia aplásica. Mais frequente
na exposição repetida e prolongada, predisposição genética, administração
oral. Rara (1/30 000 exposições) mas alta taxa de mortalidade. Risco ↑ de
leucemia aguda nos que recuperam.
2. Síndrome cinzento do recém-nascido: vómitos, nega alimentar, distensão abdominal,
respiração irregular, cianose, hipotermia, colapso vasomotor e morte em 40%.
a. Causas: incapacidade de glucuronoconjugação hepática e inadequada excreção
renal
3. Gastrointestinal: náuseas, vómitos, sabor desagradável, diarreia, irritação perineal
4. Reações de hipersensibilidade: rash cutâneo, febre, angioedema (raro)
5. Outras: visão turva, parestesias digitais

Interações farmacológicas

• Cloranfenicol inibe enzimas do citocromo P450 e pode prolongar semividas de vários


fármacos: varfarina, dicumarol, fenitoína, clorpropamida, inibidores das proteases,
rifabutina, tolbutamida.
• Alguns fármacos alteram eliminação renal de cloranfenicol: ex. o rifampicina encurta
sua semivida.

21
SULFONAMIDAS

As sulfonamidas são derivadas do ácido para-aminobenzenosulfonamida. Foram dos


primeiros agentes eficazes usados de forma sistémica na prevenção e cura de infeções
bacterianas em humanos.

Têm um espetro de ação relativamente largo, incluindo cocos (Estreptococo,


Pneumococo, Meningococo, Gonococo) e bacilos (Shigella, Hemophilus, Kl. Pneumonise, V.
cólera, P. pestis, C. difteriae) gram + e –.

Mecanismo de ação

São antibióticos bacteriostáticos, inibindo competitivamente a síntese de folato pelas


bactérias. Assim, bactérias que utilizem folato preformado não são sensíveis.

Mecanismos de resistência

1. Menor afinidade pelo dihidropteroato sintetase


2. Diminuição da permeabilidade bacteriana
3. Via metabólica alternativa para a síntese de ácido fólico
4. Aumento da produção de PABA

Farmacocinética

1. Absorção/ Distribuição
a. Diferenças na absorção
b. Exceto os de uso tópico, a absorção oral é rápida e elevada; 70-100% (intestino
delgado, mas alguma no estômago)
c. Ligação variável às proteínas plasmáticas
d. Distribuição a todos os tecidos e fluidos corporais:
i. Fluido pleural, peritoneal, ocular, sinovial…
ii. LCR: concentrações 10-80% das sanguíneas
iii. Passam a placenta e atingem a circulação fetal
2. Metabolismo/ Eliminação
a. Metabolismo hepático: acetilação (metabólitos não têm atividade
antibacteriana, mas mantêm toxicidade)
b. Eliminação:
i. Sob a forma inalterada e como produtos metabólicos
ii. A maioria na urina (precipita em urina ácida, pelo que pode conduzir a
cristalúria- pode-se justificar a utilização de alcalinizantes da urina)
iii. Pequenas quantidades nas fezes e bílis, leite materno e outras
secreções

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Classificação (com base na velocidade de absorção e excreção)

• Absorção e excreção rápida


a. Sulfametoxazol- a mais utilizada (em associação com o Trimetoprim,
constituindo o antibiótico Cotrimoxazol, útil em infeções urinárias, por
exemplo)
b. Sulfadiazina
c. Sulfisoxasol
• Absorção pobre; ativos no lúmen intestinal
a. Sulfasalazina
i. Colite (ulcerosa, granulomatosa) e enterite
• Uso tópico- uso oftálmico ou em queimaduras
a. Sulfacetamida
b. Sulfadiazina de prata
• Ação longa (não são utilizadas no mundo ocidental)
a. Sulfadoxina
i. Apenas na profilaxia da malária em zonas de resistências

Espetro de ação

• Gram +
a. Streptococcus: pneumoniae, pyogenes
• Gram –
a. Haemophilus influenzae
b. E. coli; Shigella; Neiserria meningitidis; resistências crescentes
c. Proteus mirabilis e Enterobacter spp: atividade moderada
d. Klebsiella: atividade pobre
e. Pseudomonas aeruginosa e Serratia: sem atividade
• Outros
a. Nocardia
b. Chlamydia trachomatis
c. Actinomyces
d. Calymmatobacterium granulomatosis
• Anaeróbios
a. Sem atividade

As resistências crescentes tornaram estes antibióticos, de forma isolada, pouco úteis


para infeções, nomeadamente do trato urinário.

Infeções do trato urinário- deixaram de ser de 1ª linha

Nocardiose- 1ª opção: TMP + sulfametoxazol

Toxoplasmose- 1ª opção: pirimitamina + sulfadiazina

Profilaxia- infeções estreptocócicas e febre reumática recidivante nas alergias às


penicilinas

23
Reações adversas

Incidência global de reações adversas é de aproximadamente 5%.

1. Alterações do trato urinário: cristalúria; risco menor com as novas substâncias; boa
ingestão hídrica e alcalinizar urina em alguns casos
2. Alterações hematopoiéticas:
a. Anemia hemolítica aguda
b. Agranulocitose
c. Anemia aplásica: extremamente rara, mas pode ser fatal; supressão reversível
em doentes com reserva medular limitada
3. Reações de hipersensibilidade variadas
a. Manifestações cutâneas e mucosas, de gravidade diversa (síndrome Stevens-
Johnsons)
b. Febre, mal-estar, prurido
c. Necrose hepática focal ou difusa
d. Cefaleias, náuseas, vómitos, hepatomegalia, icterícia, alterações das provas de
função hepática, atrofia hepática e morte
4. Reações diversas:
a. Anorexia, náuseas, vómitos
b. Recém-nascidos: kernicterus

Interações

1. Anticoagulantes orais, sulfonilureias hipoglicemiantes, hidantoína: potenciação dos


efeitos

24
TRIMETOPRIM-SULFAMETOXAZOL (TMP-SMX)

Constitui o co-trimoxazol, pela ação sinergística destes dois fármacos. O trimetoprim


também tem atua inibindo a síntese de ácido fólico.

Farmacocinética:

• Proporção de 1 para 5 (60 mg TMP + 800 mg SMX)


• Concentrações sanguíneas aproximadamente de 1 TMP para 20 SMX
• Via oral: TMP (pico às 2h) absorvido mais rapidamente que SMX (pico às 4h)
• Semividas: TMP 11h; SMX 10h
• TMP
a. Rapidamente distribuído e concentrados nos tecidos
b. Penetra no LCR
• Excreção urinária em 24h: 60% TMP; 25-50% SMX: ajustar doses na IR
• Ambos sofrem metabolização hepática
• Ambos passam a placenta e atingem o leite materno

Espetro de ação

Espetro similar, mas SMX 20-100 vezes mais potente que o TMP. A maioria dos Gram + e
dos Gram – são sensíveis.

• Gram +
a. Staphylococcus aureus, epidermidis
b. Streptococcus: pneumoniae, pyogenes, vididans
c. Enterococcus: resistentes
• Gram –
a. Haemophilus influenzae
b. E. coli; Proteus mirabilis e outros, Enterobacter spp, Salmonella, Shigella, Ps.
Pseudomallei, Serratia, Klebsiella; Brucella, Pateurella, Yersinia
c. Neisserria meningitidis
d. Pseudomonas aeruginosa sem atividade
• Outros
a. Nocardia
b. Chlamydia trachomatis, Actinomyces, Calymmatobacterium granulomatosis
• Anaeróbios
a. Resistências; atividade mínima

São fármacos com bastante interesse em infeções urinárias baixas, nomeadamente,


cistites na mulher. Também tem interesse na profilaxia de infeções urinárias, mas em dose que
corresponde a um quarto da dose normal.

25
Usos terapêuticos

• Trato urinário
a. Infeções urinárias não complicadas
b. Prostatite
c. Prevenção de cistites de repetição
• Trato respiratório
a. Agudizações de bronquite crónica
b. Otite média em crianças (por H. influenzae e S. pneumoniae)
c. Sinusite maxilar aguda em adultos (por H. Influenzae e S. pneumoniae)
• Gastrointestinais
a. Shigelose: alternativa a uma quinolona
b. Febre tifóide (1ª linha: ceftriaxone ou quinolona)
c. Portadores de Salmonella typhi e outras
d. Diarreia aguda por E. coli enteropatogénica
• Infeções por Pneumocystis carinii
a. Infeção severa em HIV +
b. Profilaxia de pneumonias em HIV +
• Profilaxia em doentes neutropénicos
• Diversas
a. Nocardiose
b. Brucelose (Doxicilina + strepto ou gentamicina)
c. Parasitas intestinais (Cyclospora e Isospora)
d. Doença de Whipple

De uma forma geral, deve-se pensar no co-trimoxazol como uma alternativa às quinolonas.

Efeitos adversos

Nas doses recomendadas não induz deficiência de folato. Os efeitos adversos são raros exceto
nos doentes com SIDA.

• A maioria dos efeitos adversos são causados pelo componente SMX


• TMP pode aumentar toxicidade hematológica de SMX
• Uso prolongado de TMP em doentes com ácido fólico borderline, tais como alcoólicos e
malnutridos, pode levar a anemia megaloblástica, trombocitopenia e granulocitopenia
• TMP:
a. Diminuição do efeito da ciclosporina e aumento da toxicidade
b. Aumento das doses de varfarina, metotrexato, zidovudine, sulfonilureias
c. C.I. em doentes com discrasias sanguíneas, lesão hepática e renal

Na gravidez deve ser evitado uma vez que atinge a placenta humana, podendo causar
no recém-nascido diversos efeitos, nomeadamente ósseos. Deve-se também ter muito cuidado
na sua utilização durante a amamentação. Está contraindicado em crianças com menos de 2
anos devido à imaturidade hepática. Durante a gravidez e amamentação devemos sempre
pensar em beta-lactâmicos!

26
NITROFURANOS

O representante padrão deste grupo é a Nitrofurantoína, nomeada de “antissético


urinário” (significa que atinge boas concentrações apenas a nível urinário). É de salientar que
não atinge boas concentrações ao nível do parênquima renal, pelo que só tem interesse para
infeções urinárias como cistites (como tratamento ou profilaxia) e não pielonefrites, prostatites
ou orquites. Contudo, não corresponde ao tratamento de primeira linha para cistites
(fosfomicina).

A Nitrofurantoína tem boa absorção oral, com eliminação renal de 40%, pelo que se
deve ter em consideração se há insuficiência renal. Tem ação bactericida, espetro para Gram +
e -, com ótima atuação a pH entre 5 e 6, podendo conduzir a cristalúria se pH ≤ 5. É um
antibiótico bem tolerado, mas que pode conduzir a:

• Náuseas e vómitos
• Vertigens, cefaleias, polinevrites
• Hipersensibilidade: anemia hemolítica, granulocitopenia, icterícia colestática, lesão
hepatocelular
• Pneumopatias alérgicas graves (muito raro)

Está contraindicado em grávidas e deve-se usar com muito cuidado ou mesmo


contraindicado em crianças, em que as infeções urinárias são frequentemente de causa
congénita, preferindo-se utilizar cefalosporinas.

Existem ainda outros nitrofuranos, nomeadamente a Furazolidona, de uso intestinal


(Giardíase, Tricomoníase, infeções intestinais por Enterobactérias ou Estafilococos) e a
Nitrofurazona, de uso tópico (infeções da pele e mucosas e doença de Chagas). A furazolidona
pode conduzir a anemia hemolítica, náuseas, vómitos, reações alérgicas e efeito Dissulfirsam
(atenção à toma de álcool).

RIFAMICINAS

São antibióticos com efeito bactericida e de largo espetro de ação, mas que se deve
reservar a sua utilização para situações muito restritas.

• Rifamicina
a. Uso tópico em ferimentos cirúrgicos (PROIBÍDO- devido a resistências
crescentes)
b. Uso sistémico (de evitar!)
• Rifaximina
a. Não absorvível por via oral
b. Utilizada na diarreia do viajante (há outras opções)
• Rifampicina
a. Reservada para: tuberculose (em esquemas de múltiplos fármacos), lepra e
brucelose

27
• Rifabutina
a. Reservar para resistência à rifampicina

ÁCIDO FUSÍDICO

• Atividade
a. Estafilococos (incluindo estirpes resistentes à Metilcilina)
b. Corynebacterium sp.
c. Propionibacterium acnes
d. Peptococcus spp.
• Absorção oral
a. 30-40%
b. 90%- fusidato de sódio (Fucidine)
• Difusão
a. Insuficiente
b. Suficiente no tecido ósseo (ortotraumatologia)
c. Suficiente na pele e tecidos moles (dermatologia)

Atualmente, deve-se pensar neste antibiótico particularmente para utilização tópica.


Apresenta pequena toxicidade (hepática, perturbações digestivas e alterações hematológicas).

FOSFOMICINA- FOSFOMICINA TROMETANOL


(MONURIL)

É de toma única em jejum. Tem uma ação na síntese da parede celular (fase
intracitoplasmática- efeito bactericida). Apresenta largo espetro de ação (Gram + e Gram -),
incluindo Pseudomonas. É absorvido por via oral, apresenta boa distribuição (incluindo LCR) e
tem boa eliminação renal, pelo que é um fármaco muito utilizado em infeções urinárias
(primeira linha para tratamento de cistites). Tem duração de ação de aproximadamente 2-3 dias.
Pode ser utilizada em grávidas e em contexto de profilaxia de infeções urinárias. É bem tolerado,
tendo uma pequena toxicidade.

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POLIPEPTÍDEOS

• Uso tópico GRAM +


a. Bacitracina- infeções da pele e tecidos moles
b. Tirotricina
• Polimixinas
a. Polimixina E ou colistina
i. infeções hospitalares multirresistentes para Gram –
ii. utilizado em terapêuticas dirigidas com teste positivo de sensibilidade
a antibióticos
iii. normalmente não se usa de forma isolada, associando-se um
carbapenem, nomeadamente um Meropenem
b. Polimixina B
c. Têm ação bacteriolítica e ação na membrana citoplasmática
d. Sem resistências bacterianas conhecidas

Apresentam má absorção oral, pelo que a sua administração é feita por via parentérica
e apresenta eliminação renal. Têm toxicidade renal (necroses tubulares, nefropatias
intersticiais) e cócleo-vestibular. Têm um interesse reduzido atualmente.

29
NITRIMIDAZÓIS

• Metronidazol
• Tinidazol
• Nimorazol
• Ornidazol
• Secnidazol

O Metronidazol destaca-se pela sua particular utilidade em infeções por anaeróbios (B.
fragilis, Str. anaeróbios, Clostridios, Fusobactérias). Alguns tem utilidade como
antiprotozoários.

Apresentam boa absorção oral e boa distribuição (incluindo LCR e barreira placentar).
Têm metabolismo hepático e eliminação renal. São administrados por via oral, embora
também hajam fórmulas parentéricas.

A toxicidade é relativamente moderada, podendo dar efeito Dissulfiram, mal-estar


gastrointestinal, gosto metálico, cefaleias e tonturas. Contraindicada da grávida durante a
amamentação e necessidade de precaução no recém-nascido.

30
MACRÓLIDOS

São uma alternativa em casos de alergia/intolerância a beta-lactâmicos, indicados


sobretudo para cocos Gram +. São amplamente utilizados em ambulatório porque são
administrados por via oral, com boa eficácia e segurança. São úteis para infeções da pele e
tecidos moles, infeções otorrinolaringológicas, pneumonias atípicas, IST (Clamídia tracomatis,
por exemplo). Portanto, úteis em infeções do tronco para cima. São relativamente seguros,
embora com alguns efeitos adversos.

São de salientar três macrólidos: Eritromicina (1ª geração), Azitromicina e Claritromicina


(2ª Geração).

Mecanismo de ação

São inibidores da síntese proteica bacteriana por ligação reversível à subunidade 50S do
ribossoma. Geralmente bacteriostáticos, embora possam ser bactericidas em elevadas
concentrações, contra bactérias suscetíveis. As bactérias Gram + acumulam 100x mais
eritromicina que Gram –, daí o seu espetro. As células são mais permeáveis às formas não
ionizadas, daí a maior atividade a pH alcalino.

Mecanismos de resistência

1. Efluxo do fármaco por um mecanismo ativo


2. Produção de uma metilase que modifica o alvo ribossómico, levando a uma menor
ligação
3. Hidrólise dos macrólidos por enzimas (esterases)
4. Mutações cromossómicas que alterem uma proteína ribossómica 50S (Bacillus subtilis,
Campylobacter, cocos Gram +)

Farmacocinética

Absorção

• Eritromicina
o Absorção incompleta no intestino delgado proximal
o Inativada pelos sucos gástricos (administração com revestimento
apropriado pode minimizar a destruição e aumentar a absorção)
o Comida aumenta a acidez e atrasa a absorção
o Formulações oral e endovenosa
• Claritromicina
o Absorção gastrointestinal rápida, mas biodisponibilidade de 50-55% (efeito
de primeira passagem)
o Formulações “padrão” com ou sem comida
o Formulações prolongadas (1 toma/dia) devem ser administradas com a
comida. Formulação oral

31
• Azitromicina
o Rápida absorção por via oral
o Não administrar com comida
o Antiácidos diminuem pico de concentração
o Formulações oral e ev.

Como regra, não se deve administrar macrólidos uma hora antes nem duas horas após
a toma de alimentos.

Distribuição

• Boa difusão para quase todos os tecidos, com exceção do cérebro e LCR; inclui
próstata e ouvido médio
o Podem ser utilizados em otites agudas, mas não em prostatites agudas pois
não tem atividade contra as estirpes habitualmente envolvidas (bacilos
Gram -)
• Atravessam a barreira placentar e atingem boas concentrações no líquido materno
o Mas são fármacos seguros na amamentação
• Atingem altas concentrações intracelulares

Metabolismo/ eliminação (primeiro grupo de que se fala com metabolização hepática)

• Eritromicina: excreção primária pela bílis (sem ajuste de dose na IR)


• Claritromicina: eliminada por mecanismos renais e não renais (ajuste da dose se
TFG< 30ml/min)
• Azitromicina: algum metabolismo hepático e metabolitos inativos, mas a excreção
biliar é a principal via de eliminação

Semivida

Eritromicina: 1,4-1,6h (4 tomas diárias)

Claritromicina- 3-7h (2 tomas diárias)

Azitromicina- 40-68h (uma toma diária)

Espetro de ação

Os macrólidos apresentam maior eficácia contra cocos e bacilos Gram + aeróbios:

• Streptococcus pyogenes e pneumoniae (resistências crescentes)


• Staphylococcus aureus e outros: sensíveis, mas com MIC muito elevadas
• Clostridium perfringens, Corynebacterium diphteriae, Listeria monocytogenes

A sua ação contra Streptococcus faz com que sejam úteis em infeções como amigdalites,
erisipelas, celulites e otites médias agudas (têm alguma atividade contra H. influenzae).

32
Para os Gram -, não são ativos contra a maioria dos bacilos entéricos. Apresentam
atividade contra:

• N. gonorrhoeae e clamídea trachomatis, pelo que são úteis em ISTs


• Mycoplasma pneumoniae
• Legionella pneumophila
• Micobactérias atípicas

Usos terapêuticos

1. Pneumonias atípicas, quer por mycoplasma quer por legionella (são alternativa às
tetraciclinas)
2. Infeção por Chlamídea
a. Infeções uretrais, endocervicais, retais ou do epidídimo- alternativa à doxiciclina
b. Pneumonia na infância (C- pneumoniae) e conjuntivite- tetraciclinas
contraindicadas
c. Pneumonia (C. pneumoniae)
3. Difteria
a. Na infeção aguda ou no estado de portador (associada a antitoxina)
4. Infeções estreptocócicas
a. S. Pyogenes (faringite, escarlatina, erisipela, celulite) - alternativa a beta-
lactâmicos, mas resistências crescentes
b. S. pneumoniae- alternativa a alergia por beta-lactâmicos
5. Infeções estafilocócicas
a. S. aureus- alternativa a beta-lactâmicos, mas resistências crescentes

Usos profiláticos

1. Prevenção de recidivas de febre reumática


a. Nas alergias às penicilinas
2. Prevenção de endocardite bacteriana após procedimentos dentários ou do aparelho
respiratório

Reações adversas

Reações adversas com eritromicina são raras. Contudo são de salientar as seguintes:

1. Reações alérgicas: febre, eosinofilia, erupções cutâneas.


2. Hepatite colestática: após 10-20 dias de tratamento. Clínica desaparece alguns dias após
a suspensão do fármaco (geralmente estolato); efeito hepatotóxico e reação de
hipersensibilidade.
3. Epigastrialgias e outras queixas gastrointestinais: crianças e jovens adultos.
4. Tromboflebites na via ev.
5. Arritmias, em doentes com doença cardíaca subjacente ou em associação com outros
fármacos, ex. o cisapride ou terfenadina.
6. Perturbação transitória da audição.

33
Interações farmacológicas

A eritromicina e a claritromicina potenciam efeitos de corticoesteróides, ciclosporina,


digoxina, carbamazepina, teofilina, triazolam, valproato, varfarina… (interferência com o
metabolismo pelo CYP 450).

Azitromicina associada a menos interações.

34
QUINOLONAS

As quinolonas são fármacos utilizados quer em contexto hospitalar, quer em


ambulatório, sendo administradas por via oral, mas também por via parentérica,
nomeadamente endovenosa. São fármacos seguros e com poucos efeitos adversos. Apresentam
um espetro relativamente alargado, abrangendo Gram positivos e negativos. São utilizadas
particularmente em terapêuticas empíricas, nomeadamente em infeções geniturinárias do
aparelho urinário inferior, como prostatites ou orquites, mas não em cistites. A sua utilização
também poderá ser útil no contexto de infeções respiratórias (pneumonias) ou em aplicação
tópica em oftalmologia.

A quinolona que se deve pensar por defeito é a Ciprofloxacina. Para contexto de infeção
respiratória baixa deve-se pensar na Levofloxacina, embora não seja utilizada como primeira
linha. A maioria das quinolonas necessitam de duas tomas diárias, exceto a Levofloxacina, que
é de toma única diária.

Estrutura

A estrutura das quinolonas baseia-se no ácido 4-piridona-3 carboxílico. A presença de


um átomo de flúor na posição 6, como acontece no caso das fluoroquinolonas, controla a
potência bacteriana e a ação da DNA girase.

Mecanismo de ação

Baseia-se na inibição da síntese de DNA através da ação da DNA girase, nos Gram
negativos, e da topoisomerase tipo IV, para Gram positivos.

A sua ação é inicialmente bacteriostática, mas torna-se bactericida quando a bactéria é


incapaz de se replicar.

Mecanismo de resistência

1. Mutações na topoisomerase IV e na DNA girase, impedindo a replicação


2. Transporte ativo do fármaco para fora da bactéria através de modificações em bombas
de efluxo

Farmacocinética

• Absorção/ distribuição
o Boa absorção por via oral
▪ Pico sérico 1-3 horas
▪ Alimentos atrasam pico sérico
▪ Norfloxacina atinge níveis séricos baixos, não podendo ser utilizada
em situações sistémicas (não atinge boas concentrações no
parênquima renal), mas útil para infeções urinárias baixas (cistites)

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o Distribuição ampla nos fluidos corporais
▪ Concentrações na urina, rim, pulmão, tecido prostático, bílis, fezes,
macrófagos e neutrófilos superiores às séricas (útil em cistites)
▪ Detetadas no leite materno
• Metabolismo/eliminação
o Eliminação renal por filtração glomerular e secreção tubular
o Ajustamento da dose na insuficiência renal (Norfloxacina, Ciprofloxacina)
o Algumas com metabolização hepática (Trovafloxacina- hepatotoxicidade)

Espetro de ação

1. Gram +
a. Staphylococcus aureus: boa atividade, incluindo os meticilino-resistentes
b. Streptococcus: atividade limitada a algumas quinolonas (levofloxacina,
moxifloxacina, gatifloxacina)
2. Gram –
a. E. coli; Salmonella; Shigella; Enterobacter; Campylobacter; Neisseria;
Pseudomonas aeruginosa
3. Bactérias intracelulares
a. Chlamydea, Mycoplasma, Legionella, Brucella
b. Mycobacterium tuberculosis
4. Anaeróbios
a. Moxifloxacina, trovafloxacina e sitafloxacina

Usos terapêuticos

1. Trato urinário
a. Alto, nomeadamente em pielonefrites (ciprofloxacina), como alternativa aos
beta-lactâmicos
b. Baixo, nomeadamente cistites e epididimites
2. Prostatites (1ª linha)
3. DST
a. N. gonorrhoeae: 1 toma, alternativa ao ceftriaxone
b. C. trachomatis: 7 dias, alternativa a tetraciclinas ou macrólidos
c. Haemophilus ducreyi: 3 dias
d. Doença inflamatória pélvica: 7-14 dias
4. Gastrointestinais e abdominais (por atingir boas concentrações nas fezes)
a. Febre dos viajantes (E.coli enterogénica)
b. Shigelose
c. Salmonellla typhi
d. Diarreia na cólera
e. Peritonites em doentes em diálise peritoneal
5. Infeções respiratórias
a. Pneumonias da comunidade e bronquite: levo, moxi, gati e trovafloxacina:
excelente atividade contra S. pneumoniae
b. Legionella: alternativa aos macrólidos
c. Fibrose quística (Pseudomonas a.)

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d. Infeções por outros agentes: H. influenzae, Moraxella c., S. aureus, M.
pneumoniae, C. pneumoniae, Legionella pneumophila
6. Osso, articulações e tecidos moles
a. Osteomielite crónica
b. Infeções do pé diabético (em associação)
7. Outras
a. Tuberculose multirresistente (em associação)
b. Infeções micobacterianas atípicas como M. avium no doente com SIDA (em
associação)
c. Doentes neutropénicos: profilaxia (contudo deve-se evitar nestes doentes),
síndromes febris
d. Bacilu anthracis: anthrax

Reações adversas

Geralmente bem toleradas

1. Gastrointestinais: as mais comuns, 3-17%, náuseas, vómitos, desconforto abdominal


2. Diarreia e colite pseudomembranosa: pouco usual
3. SNC: cefaleias ligeiras, tonturas, 0,9-11%; raramente alucinações, delírio e convulsões
(em doentes a tomar teofilina e AINE)
4. Rash, incluindo reações de fotossensibilidade
5. Artropatias, em seres imaturos (CI nas crianças por isso) mas uso na infância (fibrose
quística) associado a escassos sintomas articulares, artralgias e edemas, reversíveis (daí
que não sejam recomendados para crianças pré-púberes e grávidas)
6. Leucopenia e eosinofilia
7. Hepatotoxicidade: rara, mas pode ser grave, incluindo falência hepática e morte
(trovafloxacina)
8. Efeitos cardiovasculares: insuficiência cardíaca, hipotensão; prolongamento de QT
(sparfloxacina)
9. Reações alérgicas: rash, urticária, eosinofilia.
10. Ocasionalmente: icterícia colestática, discrasias sanguíneas, anemia hemolítica,
hipoglicémia e nefrotoxicidade

Interações

1. Algumas quinolonas inibem o metabolismo da teofilina e pode ocorrer toxicidade


2. Administração concomitante com AINEs pode potenciar efeito estimulante no SNC (há
registo de convulsões)
3. Interação com catiões covalentes (antiácidos): menor absorção; ferro e cálcio também
interferem
4. Menor absorção/metabolismo de varfarina, fenitoína

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TETRACICLINAS

• Naturais
o Tetraciclina
o Clortetraciclina
o Oxitetraciclina
o Demeclociclina
• Semissintéticas
o Doxiciclina (+ utilizada)
o Minociclina
o Metaciclina
o Rolitetraciclina
o Meclociclina

Mecanismo de ação

Inibição da síntese proteica bacteriana por ligação reversível à subunidade 30S do


ribossoma (efeito bacteriostático).

Embora possam afetar células procarióticas e eucarióticas, são seletivamente tóxicas


para as bactérias porque os mamíferos não têm os sistemas de transporte ativo para a
penetração destes antibióticos e os ribossomas são menos suscetíveis.

Mecanismos de resistência

Geralmente apresentam resistências cruzadas entre elas, primariamente mediadas por


plasmídeos.

1. Diminuição da acumulação devido à diminuição do influxo ou aumento do efluxo,


mediado por energia
2. Diminuição do acesso ao ribossoma devido a proteínas de proteção dos ribossomas
3. Inativação enzimática

Farmacocinética

• Absorção
o Absorção parcial no trato gastrointestinal: estômago e intestino delgado
proximal
o Maior absorção em jejum (exceto mino e doxiciclina)
o Menor absorção: aumento da dose (%), laticínios, hidróxido de alumínio,
sais de magnésio, cálcio, ferro e zinco, salicilato de bismuto (formação de
quelatos)
• Distribuição
o Excelente distribuição na maior parte dos tecidos e fluidos (devido à
lipossolubilidade):

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▪ Urina, próstata, LCR, placenta e líquido amniótico
▪ Leite materno
o Acumulam-se:
▪ Células reticuloendoteliais do fígado, baço e medula
▪ Osso, dentina

As tetraciclinas podem ser divididas em 3 grupos:

1. Agentes mais antigos: Tetraciclina, Oxitetraciclina, Demeclociclina, Limeciclina,


Metaciclina…
a. Absorção reduzida e menos lipofílicos
b. Metabolização e eliminação
o Tetraciclina é única que sofre metabolização, sendo excretada sob a forma
de D-epitetraciclina
o Restantes são excretados inalterados por via renal e biliar
o Diminuição da função renal, hepática e obstrução biliar aumentam as
semividas
2. Doxiciclina e minociclina
a. Mais utilizados na prática clínica
b. Doxiciclina disponível em via oral e endovenosa (em alguns países)
i. Metabolização e eliminação
1. Sem metabolização significativa
2. Não se acumula em doentes com insuficiência renal
3. Excretada nas fezes, maioritariamente como conjugados
inativos ou como quelatos: impacto menor na flora intestinal
4. Semivida reduzida de 16 para 7 horas em doentes com toma
crónica de barbitúricos e fenitoína
c. Minociclina disponível em via oral
i. Metabolização e eliminação
1. Metabolização hepática significativa, tendo sido descritos
vários metabólitos na urina, alguns com atividade
antibacteriana, sendo o principal a 9-hydroximinociclina
2. A eliminação renal é baixa; eliminação fecal é responsável por
20-35% da dose
3. Persiste no organismo mesmo depois de interrompida a sua
administração, por retenção nos tecidos gordos
3. Tigeciclina (Glicilciclina)
a. Apenas na forma endovenosa
b. Metabolização hepática
c. Excreção biliar
d. Excreção renal limitada

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Duração de ação

• Curta (6h-8h)
o Tetraciclina
o Clortetraciclina
o Oxitetraciclina
• Intermédia (aproximadamente 12h)
o Demeclociclina
o Metaciclina
• Longa (superior a 16h)
o Doxiciclina
o Minociclina
o Tigeciclina

Espetro de ação

As tetraciclinas apresentam um largo espetro de ação (são o grupo de antibióticos com


maior), abrangendo Gram + e Gram -, aeróbias e anaeróbias. Contudo, as resistências e a
existência de alternativas mais seguras limita o seu uso. Regra geral, são mais ativas contra Gram
+ que Gram -.

• Gram +
o Apenas 50% de Enterococcus B é suscetível
o Staphylococcus aureus sensível em menos de 65%
o S. pnemoniae- maioria sensível
• Gram –
o H. Influenzae> 90% sensíveis
o Brucela, Haemophilus ducreyi, Vibrio cholerae, Legionella pneumophila,
Campylobacter jejuni, Helicobacter pylori, Yersinia pestis e enterocolitica,
Francisella tularensis, Pasteurella multocida
o Neiserria gonorrhoeae e miningitidis atualmente são resistentes
o Pseudomonas aeruginosa resistente, mas Ps. Pseudomomallei sensível
o Enterobacteriaceae: resistentes
• Anaeróbios
o Ativos contra a maioria dos anaeróbios
o Actinomyces: atividade relevante
o Bacteroides gragilis: cloranfenicol, clindamicina, metronidazol e alguns
beta-lactâmicos são mais ativos
• Outros
o Rickettsiae
o Coxiella burnetti
o Espiroquetas, incluindo: Borelia burgdorferi e recurrentis, Treponema
pallidum e pertenue
o Chlamydia
o Mycoplasma
o Ureaplasma
o Plasmodium
o Mycobacterium marinum

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Usos terapêuticos

1. Chlamydea
a. Linfogranuloma venéreo (C. trachomatis)
i. 1ª linha, doxiciclina 100 mg, 2x por dia, 3 semanas
ii. Eritromicina ou azitromicina alternativas
b. Trachoma (C. trachomatis)
i. Doxiciclina 100 mg, 2x dia, 14 dias
ii. Conjuntivite granular; frequentemente na infância, com
contraindicação para tetraciclinas (azitromicina toma única é preferível)
c. Uretrites não específicas (C. trachomatis)
i. Doxiciclina 100 mg, 2x por dia, 7 dias (azitromicina 1g, dose única é
preferível)
ii. Pneumonia, bronquite, sinusite (C. pneumoniae)
2. DSTs
a. Gonorreia (neiserria gonorrhoeae)
i. Doxiciclina 100 mg, 2x por dia, 7 dias mas cefixima, ceftriaxone ou
quinolona, 1 dose são preferíveis
ii. C. Trachomatis coexiste com frequência
b. Doença inflamatória pélvica aguda
i. C. trachomatis coexiste com frequência
ii. Doxiciclina geralmente associada a cefoxitina
c. Epididimite aguda
i. Homens jovens
ii. Coinfecção frequente de N. gonorrhoeae com C. trachomatis:
ceftriaxone 250 mg (im) + doxiciclina 100 mg, 2x dia, 10 dias, tratar
parceiras
d. Sífilis primária, secundária ou latente
i. Alérgicos às penicilinas, não grávidas: doxiciclina 100 mg, 2x dias, 14
dias (não usar na neurosífilis)
3. Mycoplasma
a. Mycoplasma pneumoniae
i. Pneumonia (tetraciclina ou eritromicina)
4. Rickettsiae
a. “Rocky Montain Spotted Fever”
i. Febre da carraça- América do Norte e Sul
b. Vários tipos de tifo
i. Ácaros, piolhos, pulgas
c. Febre Q (Coxiella burnetti)
i. Transmissão: bovinos, ovinos, caprinos
5. Infeções bacilares
a. Brucelose
i. Doxiciclina 200 mg/dia + rifampicina 600-900 mg/dia, 6 semanas na
brucelose aguda
ii. Doxiciclina 200 mg/dia + estreptomicina 1g/dia em doentes com
espondilite
b. Tularemia (Francisella tularensis)
i. Estreptomicina 1ª linha

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c. Cólera (Vibrio cholerae)
i. Dociclina 300 mg, dose única
ii. Algumas resistências
d. Shigella, Salmonella
i. Diarreia dos viajantes
ii. Resistências elevadas limitam utilidade
6. Infeções por coccos
a. Pneumonia da comunidade (S. pneumoniae)
i. Em associação com beta-lactâmicos
b. Staphylococcus, Streptococcus, Neisseria meningitidis
i. Não indicadas devido às resistências
7. Outros
a. Actinomicose
i. Penicilina G; tetraciclina alternativa
b. Nocardiose
i. Minociclina + sulfonamida (alternativa ao cotrimoxazol)
c. Leptospirose, Borelia, doença de Lyme (B. burgdoferi)
i. Tratamento e profilaxia
d. Mycobacterium marinum
e. Acne
i. Propionibactérias

A Tigeciclina é uma tetraciclina com interesse em infeções hospitalares


multirresistentes, apresentando largo espetro:

• Grande atividade em Enterococcus faecalis e faecium


• Grande atividade em E. coli, Klebsiella, Enterobacter, Acinetobacter
• Boa atividade em Strenotrophomonas maltophilia

Reações adversas

• Gastrointestinais: mais comuns após administração oral; náuseas, vómitos, ardor


epigástrico, desconforto abdominal, estomatite e glossite.
• Efeitos na flora intestinal: superinfecções; colite pseudomembranosa.
• Fotossensibilidade: + doxiciclina e demeclociclina
• Hepatotoxicidade: oxitetraciclina e tetraciclina os menos tóxicos; em doentes com > 2
g/dia, parentérica (também pode ocorrer por via oral); grávidas particularmente
suscetíveis.
• Nefrotoxicidade: doxiciclina tem menos efeitos renais.
• Efeitos nos dentes: crianças (> 2-4 meses e < 5-8 anos) que recebam estes fármacos
desenvolvem uma descoloração acastanhada permanente dos dentes; dependente
mais da dose total do que da duração; tratamento das grávidas pode provocar
descoloração nos dentes das crianças.
• Atraso no desenvolvimento ósseo: até 40%, em administrações prolongadas durante a
gestação e infância.
• Tromboflebites: efeito irritativo.

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• Alterações no sangue periférico: leucocitose, linfocitose atípica, púrpura
trombocitopénica, granulação tóxica dos granulócitos.
• Pseudo-tumor cerebral: ↑ pressão intracraniana e abaulamento das fontanelas.
• Toxicidade vestibular: minociclina
• Reações de hipersensibilidade: raras

Na gravidez, a utilização de tetraciclinas não é recomendada, particularmente na segunda


metade da gestação. Embora não seja contraindicada na amamentação, há antibióticos mais
seguros.

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CLINDAMICINA

É uma lincosamida semissintética, que substitui a lincomicina devido a um perfil de


segurança mais favorável.

Mecanismo de ação

Inibição da síntese proteica bacteriana por ligação à subunidade 50 S do ribossoma. Efeito


bacteriostático ou bactericida, dependendo da dose e organismos.

Mecanismo de resistência

Resistência mediada por plasmídeos e devido a metilação do RNA bacteriano da subunidade


50 S.

Farmacocinética

• Absorção
o Via oral
▪ Quase completa
▪ Concentração plasmática máxima 1 hora após a ingestão
▪ Alimentos não reduzem absorção
▪ Semivida de 2,9 horas
o Via parentérica (formulação sob a forma de éster fosfato de clindamicina)
• Distribuição
o Boa distribuição em muitos tecidos e fluidos corporais, incluindo osso e
articulações:
▪ Passa a barreira placentar
▪ Não atinge concentrações suficientes no LCR, mas pode ser usado na
toxoplasmose cerebral
▪ Acumula-se nos PMNs, macrófagos alveolares e abcessos
o >90% ligado a proteínas plasmáticas
• Metabolismo/eliminação
o Metabolização hepática a formas inativas (acumulação na insuficiência hepática
grave)
o 10% excretada inalterada na urina
o Pequena quantidade nas fezes, mas atividade antimicrobiana nas fezes persiste
5 ou mais dias após paragem da administração endovenosa e o crescimento de
organismos sensíveis é suprimido 2 semanas- daí a possibilidade de
desenvolvimento de colite pseudomembranosa com a toma deste fármaco

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Espetro de ação

• Gram +
o Streptococcus pneumoniae, pyogenes, viridans: > 90% sensíveis, mesmo os
resistentes aos macrólidos.
o Staphylococcus aureus: os meticilino resistentes e coagulase negativos
frequentemente resistentes.
• Gram –
o Bacilos aeróbios Gram – são resistentes
• Anaeróbios
o Bacteroides fragilis (+)
o Outros: B. Melaninogenicus, Fusobacterium, Peptostreptococcus,
o Peptococcus, C. Perfringens (outros Clostridium 10-20% são resistentes)
o Actinomyces israelii e Nocardia asteroides: sensíveis
• Outros
o Mycoplasma pneumoniae: resistente
o Chlamydea spp: sensibilidade variável, mas utilidade clínica?
o Babesiose
o Plasmodium falciparum e vivax: cura de apenas 50% num estudo.

Usos terapêuticos

A elevada incidência de diarreia e a ocorrência de colite pseudomembranosa requerem


que se limite o seu uso a infeções em que é claramente superior a outros agentes.

• Cocos Gram +
o Efeitos adversos limitam o seu uso
• Anaeróbios, em particular, B. fragilis
o Outros fármacos eficazes contra anaeróbios: metronidazol, cloranfenicol,
cefoxitina, cefotaxima, imipenem, penicilinas + inibidores das beta-lactamases
o Abcessos intra-abdominais, pélvicos (+ aminoglicosídeos)
o Abcessos pulmonares e infeções pleurais/pulmonares
o Abcessos cerebrais não: metronidazol + penicilina ou cefalosporina 3ª geração
• Encefalite por T. gondii em doentes com SIDA
o Clindamicina + pirimetamina
• Pneumonia ligeira/moderada por P. carinii em doentes com SIDA
o Clindamicina + primaquina
• Acne vulgar
o Oral ou topicamente nos casos mais recalcitrantes e com intolerância às
tetraciclinas
• Vaginoses bacteriana- topicamente

Mesmo a administração tópica pode provocar colites.

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Reações adversas

1. Diarreia (2-20%) e outros sintomas gastrointestinais


2. Colite pseudomembranosa: 0,01-10%; quadro grave.
3. Erupções cutâneas: ≈ 10% (mais nos HIV +)
4. Outras reações incomuns: Síndrome Stevens-Johnson, elevação de transaminases;
granulocitopenia, trombocitopenia, reações anafiláticas.
5. Tromboflebites (via ev.).
6. Inibe transmissão neuromuscular e pode potenciar efeito de outros fármacos.

Não deve ser utilizada na gravidez nem na amamentação.

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QUINUPRISTINA/ DALFOPRISTINA

Associação de uma estreptogramina B (quinupristina) com uma estreptogramina A


(dalfopristina), numa relação 30:70. Compostos semissintéticos derivados de pristinamicinas
naturais (Streptomyces pristinaespiralis).

Mecanismo de ação

Inibição da síntese proteica bacteriana por ligação à subunidade 50 S do ribossoma: efeito


sinergístico, bactericida.

Resistências incomuns: múltiplos mecanismos

Farmacocinética

• Administração exclusivamente via ev., lenta (>1 hora), endextrose 5% (em cateteres
venosos centrais)
• Metabolismo hepático por conjugação.
• 80% eliminada por excreção biliar; restante por eliminação renal.
• Sem necessidade de ajustamento da dose na insuficiência renal.
• Sem necessidade de ajustamento da dose na insuficiência hepática, exceto se
intolerância (reduzir frequência de 3 x dia para 2 x dia).
• Efeito pós-antibiótico (duração deste efeito pode ser de 10 horas para S.aureus e de 9
horas para S. pneumoniae).

Espetro de ação

• Gram +
o Streptococcus pneumoniae, β e α hemolíticos
o Enterococcus faecium (mas não faecalis) – efeito bacteriostático
o Staphylococcus
• Gram –
o Maioritariamente inativos exceto:
▪ Moraxella catarrhalis e Neisseria spp
• Outros
o Mycoplasma pneumoniae
o Chlamydea pneumoniae
o Legionella spp

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Usos terapêuticos

Infeções graves por organismos aeróbios Gram + multirresistentes.

• E. faecium
o Estirpes resistentes à vancomicina
• S. aureus e pyogenes
o Infeções e pneumonias nosocomiais
o Infeções cutâneas complicadas

Reações adversas

• Os mais comuns são relacionados com a administração, dor e flebite: administração


através de CVC
• Artralgias e mialgias: mais na insuficiência hepática (aumentar intervalos de
administração)

Interações

• Q&D inibem CYP 3A4. Administração concomitante pode ↑ efeitos e toxicidade


o Indinavir, midazolam, nifedipina, bloq canais cálcio, ciclosporina, etc...

É um fármaco seguro na gravidez e na amamentação, mas deve ser preferido alternativas, como
os beta-lactâmicos.

LINEZOLIDE

Antimicrobiano sintético da classe das oxazolidinonas

Mecanismo de ação

Inibição da síntese proteica bacteriana: evita a formação do complexo 70 S do ribossoma por


ligação à subunidade 50 S (especificamente à subunidade 23 S).

Resistências clinicamente apenas para Enterococcus: mutação do local de ligação do ribossoma.

Farmacocinética

• Via oral e ev.


• Via oral:
o Boa absorção, biodisponibilidade 100%
o Sem interferência com alimentos.
• Semivida 4-6 horas.

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• Ligação proteica 31%.
• Boa distribuição a tecidos bem perfundidos.
• Metabolização hepática por oxidação não enzimática.
• Eliminação urinária de 80%:
o 30% composto ativo e 50% metabólitos primários (sem necessidade de ajustar
doses na Insuficiência renal)
o Fecal 10%.

Espetro de ação

Reduzida atividade contra Gram – (anaeróbias ou aeróbias)

• Gram +
o Staphylococcus
o Streptococcus
o Enterococcus faecium e faecalis
• Anaeróbios Gram +
o Cocos Gram +
o Bacilos Gram +
o Corynebacterium spp.
o Lysteria monocytogenes
• Outros
o Mycobacterium tuberculosis: moderadamente suscetível

Usos terapêuticos

Infeções graves por organismos Gram + multirresistentes. Não usar quando existem alternativas
(é última linha).

• E. faecium
o Estirpes resistentes à vancomicina
• S. aureus
o Pneumonias nosocomiais
o Infeções cutâneas
• S. pneumoniae
o Pneumonias

Devem ser utilizados em terapêuticas dirigidas, após teste de sensibilidade a antibióticos. O


facto de estarem disponíveis por via oral e parentérica permite que, após estarem clinicamente
estáveis, os doentes podem completar o ciclo de antibioterapia em casa.

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Reações adversas

Dados limitados. Bem tolerado.

1. Minor: Gastrointestinais; Cefaleias; Rash


2. Trombocitopenia (2,4%), sobretudo nas medicações > 2 semanas

Interações

Inibidor não específico da monoaminooxidase: Agentes adrenérgicos, serotoninérgicos ou que


consumam tiramina > 100 mg podem ter ↑ efeito.

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GLICOPEPTÍDEOS

São fármacos com efeito bactericida, atuando na síntese da parede bacteriana, ainda na fase da
membrana citoplasmática. Têm atividade contra Gram + aeróbios e anaeróbios, embora com
resistências crescentes.

VANCOMICINA

Antibiótico produzido pelo Streptococcus orientalis. Glicopetídeo tricíclico complexo.

Mecanismo de ação e resistência

Inibição da síntese da parede celular bacteriana por ligação de alta afinidade a unidades
percursoras D-ala-D-ala; bactericida para microrganismos em multiplicação.

Resistências: alterações enzimáticas nos alvos D-ala-D-ala

Farmacocinética

• Administração parentérica: só via EV Infusão lenta, > 1 hora)


• Via oral:
o Má absorção oral
o Semivida ≈ 6 horas
• Ligação proteínas plasmáticas: 30%
• Distribuição a vários tecidos e fluidos, incluindo:
o LCR quando meninges inflamadas (7-30%)
o Bílis, fluidos pleural, pericárdico, sinovial e ascítico
• Excreção: 90% por filtração glomerular (ajustar dose na insuficiência renal)

Espetro de ação

Ativa primariamente contra Gram +. Bacilos Gram – e micobactérias são resistentes

• Gram +
o Staphylococcus aureus e epidermidis (resistências crescentes)
o Enterococcus gaecium e faecalis (resistências crescentes)
o Streptococcus pneumoniae, pyogenes e viridans
• Anaeróbios Gram +
o Corynebacterium spp
o Flavobacterium
o Actinomyces
o Clostridium spp.

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Usos terapêuticos

Infeções graves por organismos Gram + multirresistentes. Não usar quando existem alternativas
(última linha).

• S. aureus
o Infeções meticilino-resistentes, incluindo pneumonia, empiema, endocardite,
osteomielite, abcessos de tecidos moles.
o Infeções graves e alergia penicilinas e cefalosporinas
o Hemodiálise/diálise peritoneal (infeção acessos)
o Infeções SNC (via ev e intraventricular)
• S. viridans e S. pneumoniae
o Alternativa nas alergias e resistências às penicilinas
• Enterococcus
o Endocardite: + aminoglicosídeo
• Clostridium d.
o Colite pseudomembranosa

Reações adversas

1. Hipersensibilidade: rash cutâneo, anafilaxia


2. Flebites e dor no local de injeção
3. Arrepios e febre
4. Infusão rápida: reações eritematosas e urticariformes, flushing, taquicardia e
hipotensão
5. Ototoxicidade: frequente, mas não permanente (se concentrações elevadas)
6. Nefrotoxicidade: rara se cuidados com as doses

Cuidado com a administração simultânea com fármacos nefro ou ototóxicos ou em doentes com
insuficiência renal.

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TEICOPLANINA

• Antibiótico produzido pelo Actinoplanes teichomyetius.


• Similar à vancomicina na estrutura química, mecanismo de ação, espectro e via de
eliminação
• Tratamento de infeções estafilo, estrepto e enterocócicas graves
• Principal diferença com vancomicina: administração por via EV e IM
• Alta ligação às proteínas plasmáticas: 90-95%
• Semivida longa, até 100 horas
• Doses no adulto: 6-30 mk/kg/dia, 1 toma
• Ajustar dose na insuficiência Renal
• Bactericida exceto para Enterococcus
• Efeitos adversos: rash cutâneo; reações de hipersensibilidade, febre e neutropenia.
Ototoxicidade rara
• Gravidez: categoria C
• Amamentação: desconhecido. Avaliar benefício/risco.

LIPOPEPTÍDEOS CÍCLICOS

DAPTOMICINA

• Ação bactericida
• Atua a nível da membrana plasmática sem penetrar no citoplasma
• Ação dependente de cálcio (alteração do potencial de membrana)
• Para Gram +
• 4 vezes mais potente que a Vancomicina
• Efeitos adversos (no animal)
o Gastrointestinais: náuseas, vómitos, diarreia
o SN: degenerescência axonal nos nervos periféricos
o Toxicidade renal
o Toxicidade músculo-esquelético: miopatias reversíveis

Indicações:

o Infeções complicadas da pele e tecidos moles em adultos


▪ Se suspeito haver também Gram – e /ou anaeróbios
▪ Associação com outro antibiótico apropriada

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