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Florianópolis
2020
Ana Cláudia Wolff
Florianópolis
2020
CORPO DE DOUTRINA DO JUDÔ E AS CONCEPÇÕES METODOLÓGICAS:
O que abordam autores científicos
Este Trabalho Conclusão de Curso foi julgado adequado para obtenção do Título de
“Licenciada em Educação Física” e aprovado em sua forma final pela Banca Examinadora.
________________________
Prof. Carlos Luiz Cardoso
Coordenador do Curso
Banca Examinadora:
________________________
Prof. Carlos Luiz Cardoso
Orientador
Universidade Federal de Santa Catarina
________________________
Prof. Matheus Correa da Rosa
Examinador Titular
________________________
Prof. Rafael Kons
Examinador Titular
________________________
Profª. Daniele Detanico
Examinadora Suplente
AGRADECIMENTO
A todos os mestres, graduados e professores que tive a oportunidade de vivenciar seus
ensinos até hoje em minha vida, desde anos iniciais até nos processos acadêmicos, que de
alguma forma, a partir de seus ensinamentos, construí princípios e perceptiva de vida, que
assim desejo, que através deste trabalho, sensibilize olhares interessados em possibilitar essas
perspectivas. A todos os professores acadêmicos em especial a Daniele Detanico e Rafael
Kunz que em um período do processo acadêmico absorvi muitos conhecimentos e
experiências que fizeram parte da afirmação para a escolha desse tema específico de pesquisa.
A Universidade Federal de Santa Catarina, ao departamento de educação física, que
significativamente fez parte do meu processo e possibilitou vivências e experiências para
agregar aos meus conhecimentos, profissionalismo e parte da minha essência.
Aos meus pais, irmãos e amigos, que me incentivaram e me apoiaram durante o
processo acadêmico e estiveram ao meu lado independentes dos momentos. Em especial
gostaria de agradecer a três pessoas que foram pilares para conclusão da pesquisa e do
processo de formação em licenciatura e, sendo eles Giovana Bernardo, Matheus Corrêa e
Anderson Bento, agradeço profundamente pelos incentivos e apoios durante todos esses
ciclos. E meu orientador que entre idas e vindas dessa jornada, esteve ao meu lado, me ajudou
a organizar toda uma avalanche de informações que gostaria de passar nessa pesquisa e
acreditou que eu concluiria esse processo.
RESUMO
O presente trabalho contextualiza-se no âmbito escolar, na disciplina de educação física e na
prática de esportes como ferramenta pedagógica. Objetivo é expor através de concepções e
experiências de autores com o judô, uma forma a consolidar um ensino metodológico-
pedagógico. Este trabalho é sustentado pela abordagem de ensino crítico-emancipatório e
crítico-superadora. E justifica-se através das possibilidades e relevância de integrar as
lutas/Judô nas aulas de educação física, fugindo dos preceitos negativos dados a sua prática,
portanto caracteriza-se como uma revisão bibliográfica. O estudo é baseado principalmente
nas ideias de Elenor Kunz e Coletivo de Autores, as quais se sustentam nas abordagens
crítico-emancipatório e crítico-superadora e de outros autores que abordaram o judô em suas
pesquisas, como forma de concluir e sustentar a ideia de incluir judô nas aulas de educação
física. Este estudo aprofunda o processo de discussão sobre lutas/Judô nas aulas de educação
física.
This work is contextualized in the school environment, in the discipline of physical education
and in the practice of sports as a pedagogical tool. The objective is to expose through
conceptions and experience of authors with judo in order to consolidate for pedagogical
methodological teaching. This work is supported by the emancipatory critical teaching
approach. And it is justified through the possibilities and relevance of integrating
struggles/Judo in physical education classes, fleeing from the negative precepts given to its
practice. Characterized by a bibliographic review. This study is mainly based on the ideas of
Elenor Kunz and COLLECTIVE OF AUTHORS who are based on critical-emancipatory and
critical-blowing approaches and other authors who have addressed judo in their research. It is
expected with this study to deepen the process of discussion about struggles/Judo in physical
education classes.
1.2 OBJETIVOS 14
2 JUSTIFICATIVA 15
3 METODOLOGIA 16
4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 20
4.1 JUDÔ E SUAS FILOSOFIAS E PRINCÍPIOS 20
4.2.2.4 PCN’s 31
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 50
REFERÊNCIAS 51
11
1. INTRODUÇÃO
Kunz (2004 apud DIETRICH; LANDAU, 1990, p. 88) compartilha desse ponto de
vista ao afirmar que todas essas atividades do movimento humano [...] pertencem ao mundo
do se-movimentar humano, o que o homem por esse meio produz ou cria, de acordo com sua
conduta, seu comportamento e mesmo as resistências que se oferecem a essas condutas e
ações, “tudo isso podemos definir, como cultura do movimento”.
Lançanova, (2007) reforça dando ênfase nas lutas como parte dessa cultura de
movimento: "As lutas fazem parte da cultura do movimento humano. Sempre fizeram parte do
homem. Dentro de toda ação de defesa, contra uma fera ou um inimigo, ou de ataque, como a
caça ou o combate na guerra, usando o corpo ou armas, está presente na luta, de formação
organizada como as modalidades conhecida, ou instintiva, e manada da necessidade do ser
humano em proteger o seu próprio corpo”.
A escola sendo considerado um dos meios mais influenciadores à formação humana
pode-se concluir que é nesse meio que os estudantes tendem a ter acesso a todos os
conhecimentos possíveis em suas fases de ensino. Assim, a Educação Física faz parte desse
acesso ao conhecimento e deve proporcionar o máximo de aprendizagens e conhecimento e
com isso os seus conteúdos sejam indispensáveis nos Projetos Políticos Pedagógicos (PPPs)
das escolas.
Vemos que as diversas práticas culturais fazem parte dos métodos de ensino, as quais
deveriam ser de ênfase, pois agrega todos os conhecimentos gerais sobre culturas diversas,
esportes diferentes e até mesmo empatia pelo outro. Isso acontece ao conhecer mais das outras
pessoas e suas culturas e se cria afinidade com o próximo, tornando-os seres de
conhecimentos. A essa forma de educação se diz “cabe-lhe formar o cidadão crítico e
consciente da realidade em que vive, para poder nela intervir na direção dos seus interesses de
classes” (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 36). Portanto, o judô, estando inserido como
esporte e cultura podem ser tratados como ferramenta nos conhecimentos escolares. A partir
do olhar das abordagens pedagógicas crítico-superadora e crítico-emancipatória, que levam à
formação de indivíduos livres e críticos, o judô torna-se uma prática cultural importante, ou
seja, um dos conteúdos que podem ser tratados nas aulas de Educação Física na escola.
Para Medina (1989, p. 32) “o judô foi, entre nós, totalmente despojado dos seus
significados culturais, recebendo um tratamento exclusivamente técnico” Tal afirmação causa
dificuldades de compreensão dos limites e possibilidades que o judô assume como um
elemento da cultura de movimento. Com isso o judô passa a ser recebido como esporte de alto
rendimento e que o mesmo não pode ou não é relacionado com as aulas de educação. E às
vezes também não traz relevâncias para a mesma. Esse ponto de vista também se vê dentro de
uma avaliação para abordagem do judô nas aulas de educação física.
Portanto, entendendo o judô como cultura, argumentamos: há uma relevância ao
englobar o judô/lutas na Educação Física Escolar? Pensando nos processos de aprendizagem
escolares, nos objetivos a serem alcançados durante a aprendizagem, analisando fontes e
pesquisas com base em autores científicos que aplicaram o judô nas aulas de educação física
ou projetos educacionais, que estudaram o judô e suas possibilidades, buscou-se então
responder tal indagação.
Para esta pesquisa, buscamos analisar as fontes de forma qualitativa, atrelando
significados, tendo como procedimentos uma análise documental (leis, bases e planos
norteadores da educação brasileira) e revisão de literatura (artigos, teses, dissertações,
monografias e livros).
1.2 OBJETIVOS
1.2.1 Objetivo Geral:
Relacionar o corpo de doutrina do judô com os princípios metodológicos didático-
pedagógicos que autores científicos identificam com as aulas de educação física.
O Japão durante séculos viveu isolado do resto do mundo, contudo no séc. XVIII
existiram drásticas mudanças a nível político e económico que obrigaram o país a abrir os
seus portos e postos comerciais aos comerciantes além mar. Até aqui o Jujutsu era um tipo de
luta bastante frequente entre camponeses e samurais como forma de defender os seus
interesses, para isso eles lutavam aplicando golpes, sem recursos a armas, que poderiam levar
à morte. Através do contato com outros povos e países o Japão evolui, ultrapassando a Era
dos samurais, e a necessidade de praticar golpes que levassem à morte deixou de fazer
sentido. (SANTOS, 2014. p 18.).
Jigoro Kano professor de educação física que buscava por uma prática baseada na
utilização racional da energia humana, melhor forma de combater seu oponente com o
mínimo esforço. Após muitos estudos e análises 1882, Kano elabora um novo métodos, um
sistema de educação física e formação de caráter, baseada no jujutsu (SANTOS, 2014. p. 19
apud. MAÇANEIRO, 2012). Fez sínteses das melhores técnicas, eliminou práticas perigosas,
aperfeiçoou a maneira de cair, criou vestimentas adequadas e confortáveis, incluiu mulheres e
crianças nas práticas e chamou a prática de JUDÔ que significa “caminho suave”. Em 1882
criou sua escola chamada KODOKAN, onde começou a difundir a prática. No final da década
de 1920, o Brasil recebeu cerca de cento e noventa mil imigrantes japoneses os quais
trouxeram o judô e sua maior difusão se deu em São Paulo e no Rio de Janeiro. Em 1958
fundou-se a Federação de Judô no Brasil, sendo ela a Federação Paulista de Judô.
Dentre tantas lutas praticadas, a ênfase é no judô e seus princípios, pois dela se pode
de alguma maneira absorver pontos que auxiliam no desenvolvimento social, interpessoal,
autônomo e motor. SANTOS (2013, apud Monahan 2007), as artes marciais utilizam
dinamicamente vários testes de si mesmo, através de um sistema de acertos e erros, e sempre
propõem ao artista alcançar o princípio de “ser o que é”. Todas as suas ações terão uma
reação reflexiva que fará o aluno pensar nas suas atitudes e resultados que ela lhe propôs.
FILOSOFIAS
O judô tem seus princípios e máximas sustentadas por filosofias que fazem parte da
cultura religiosa e do modo de vida do povo japonês, sendo uma combinação dos preceitos do
Budismo, Xintoísmo, Confucionismo e do Taoísmo. Tendo ciência da dificuldade de
sintetizar o conteúdo de cada uma dessas vertentes, tendo em vista a riqueza e a profundidade
das mesmas, apresenta-se de forma sucinta para que auxilie no entendimento dos pressupostos
teóricos intrínsecos da cultura oriental e suas conjecturas que deram origem a várias artes
marciais, inclusive aos ensinamentos de Jigoro Kano.
BUDISMO
O Budismo é considerado uma religião sincretista, que provém da fusão de outras
pessoas na prática dessa religião. Buda, o condutor dessa religião não é visto como Deus,
permitindo a seus seguidores o convívio com outras religiões, sendo considerado o Budismo
uma filosofia de vida, que busca condicionar a mente de maneira a levá-la à paz, sabedoria,
alegria, serenidade e liberdade, de tal maneira que conseguindo compreender a verdade
integral da vida, se libertando da ignorância, e acabando definitivamente com o sofrimento e
as frustrações, adquirindo uma paz permanente e imoral (SANTOS 2014 apud RINPOCHE,
1999). A partir desse ponto de vista, o objetivo do budismo é fazer com que as pessoas
libertem-se de seus sofrimentos e encontrem a felicidade.
O ensinamento do Budismo está apoiado em 4 verdades nobres, que estão vinculadas ao
sofrimento humano, sendo a quarta, denominada de “O nobre caminho óctuplo”, uma prática
de oito passos, para conduzir as pessoas à felicidade. Não será especificada cada uma das
nobres verdades, apenas o conhecimento das nomenclaturas e superficialmente sua ideia.
Conforme SANTOS (2014, p. 27), as nobres verdades são conhecidas como:
1° A nobre verdade do sofrimento, que diz sobre todo o sofrimento, assim como toda
felicidade, está na própria mente, se entende que você mesmo e o que você cria em seus
pensamentos te levam a sofrer por algo ou alguém.
2° A nobre verdade da causa do sofrimento, onde vários fatores geram o sofrimento, como a
ignorância, o desejo, o apego, a cobiça, o ódio e a ilusão.
3° A nobre verdade da extinção da causa do sofrimento, estado que a pessoa consegue
extinguir fatores que causam o sofrimento, assim irá se desapegar e libertar-se dos
sofrimentos.
4° Aquela que leva à extinção do sofrimento nomeada A nobre verdade da senda que leva à
extinção do sofrimento, sendo os oitos passos para a felicidade, oito atitudes que são
instrumentos práticos, que colocados em nossas vidas, para equilíbrio e liberdade do apego e
aproximação da felicidade eterna.
É por meio da meditação que elevamos todas essas ações para nosso cotidiano,
desenvolvendo o esforço correto para conseguir controlar a mente e evitando pensamentos
negativos. SANTOS (2014, p.28) faz uma analogia sobre a utilização do Budismo para prática
do judô:
Entende-se a questão ideológica de Jigoro Kano, quando ele argumentava ser o judô
uma forma de educação. Suas colocações de que a prática era para o
desenvolvimento da vontade e da moral, bem como meio autodomínio
e autoconhecimento, são inerentes ao óctuplo do conhecimento.
A partir desse ponto de vista se observa a relação do judô com o Budismo e assim
intrínseco nas atitudes tanto dentro quanto fora do dojo dos praticantes, sendo incentivados a
terem pensamentos e atitudes positivas, sempre se voltando para o bem comum a todos.
XINTOÍSMO
É uma religião praticada apenas no Japão, não por ser criada nos pais, mas pela prática
ser fluentemente forte no Japão. O Xintoísmo foi criado antes do Budismo, não possui um
fundador específico, livro sagrado, dogmas ou códigos morais, ao contrário da maior parte de
credos contemporâneos. Xinto significa “caminhos dos Deuses”, assim os que seguem o
Xintoísmo acreditam em seres divinos chamados de kami, que podem se hospedar em tudo
que existe, como árvores, rios, montes e naturalmente, nos antepassados. Acredita assim, que
tudo no universo é divino, interligado e interdependente, com isso na concepção do xintoísta,
o ser humano não pode viver em luta com a natureza, prática que explica o comportamento
respeitoso de boa parte do povo japonês.
O Xintoísmo segue três princípios, sendo o primeiro Musubi que indica solidariedade
e a harmonia, que devem unir entre si os membros de um grupo e família. O segundo é o
Makoto, que é a humildade e agradecimento de um ser humano ao encontrar-se com os kami e
resultam em virtudes como o amor, a piedade, a lealdade e a felicidade. E o terceiro
Tsunagari, que é o caminho da continuidade e relatividade, significa que todos devem
participar na família, na cidade, no país para conseguir a paz, o bem estar, o progresso e a
tolerância universal. (SANTOS, 2014, p. 30).
TAOÍSMO
É uma religião na qual o homem deve viver em harmonia com a natureza, pois faz
parte dela, buscam viver a vida de maneira mais simples possível, devem evitar todo o tipo de
obrigação, vivendo da forma mais espontânea e meditativa, voltada à natureza. Os que são
adeptos ao taoísmo, seguem a busca pelo Tao, que significa caminho, e representa a força do
universo. Acreditam que a sabedoria do Tao é a única fonte do universo onde a vida é regida
por dois elementos: o Yin (feminino) e o Yang (masculino), eles se contemplam para gerar o
equilíbrio. O taoísmo é um conjunto de crenças que envolvem práticas e ensinamentos que
guiam a vida daqueles que seguem o taoísmo, sendo assim considerada uma filosofia de vida.
As bases do Taoísmo estão apresentadas em seis conceitos fundamentais:
1° é a contemplação a natureza,
2° é não agir, tendo a ideia de pensar antes de agir ou não ter reação pois através do não agir se
encontra a paz e o equilíbrio.
3° Suavidade, sendo considerada mais eficiente do que a força.
4° é a humildade,
5° generosidade; e
6° é não violência.
CONFUCIONISMO
O Confucionismo é uma doutrina do pensador chinês Koung Fou Tseu (Confúcio),
que mescla filosofia, ideologia, política, sociedade e religiosidade, uma doutrina oficial da
China durante quase dois mil anos, do século II até o século XX. Na filosofia de Confúcio não
há um Deus, unidade criadora ou até mesmo templos e igrejas, sua doutrina fundamenta-se
pela busca pelo Tao, harmonia da vida e do mundo. Confúcio conduzia sua doutrina fazendo
uma mescla de cultos religiosos mais antigos da China, apresentando para as pessoas como
deveriam se comportar e conduzir sua espiritualidade para obter a harmonia e felicidade. A
doutrina de Confúcio, segundo Santos (2014), se resume a uma só coisa, que abrange tudo:
toda sabedoria consiste em aperfeiçoar a si mesmo e amar aos outros como a si mesmo.
Somente aquele que respeitar o próximo é capaz de desempenhar seus deveres sociais. Para
Confúcio é por meio da educação que o indivíduo se transforma e se eleva.
Fazendo uma convergência entre a prática do judô e as filosofias que o norteiam
conseguimos compreender a questão ideológica de Jigoro Kano quando ele argumentava ser o
judô uma forma de educação. Suas colocações de que a prática era para o desenvolvimento da
vontade e da moral, bem como meio de autodomínio e autoconhecimento, pontos que são
específicos do Budismo. Assim, como o que fica enfatizado do Xintoísmo na prática do judô é
a questão da hierarquia, a fidelidade ao mestre, o desenvolvimento do autocontrole, a
perseverança e a solidariedade. Muitos pressupostos do Taoísmo estão presentes nos
ensinamentos do judô, como a generosidade, que deve ser demonstrada a partir de princípios
Jita-Kyoei (prosperidade e benefício mútuos), assim como a humildade, suavidade, utilizada
com um dos princípios máximos do Judô Seiryoku Zenyo.
Sobre a doutrina de Confúcio, se observa claramente a utilização de tais preceitos
como forma de educação na prática do judô, onde há uma aproximação da formação de um
cavalheiro para atuação em sociedade, a partir desse ponto de vista é o que Jigoro Kano
sempre pregou na utilização do judô para formação de um cidadão, ou seja, de um judoca. Tal
como a pregação do confucionismo em suas rotinas, onde por meio da meditação, da oração
ou qualquer outro termo que se possa analisar nosso dia e concluir como se transcorreu, o que
aprenderam, quais foram os atos e se certificar de que a cada dia estamos nos tornando seres
humanos melhores.
Esses nove princípios são mais do que um conjunto, não são apenas os ensinamentos
fundamentais do judoca, mas sim as fases pelas quais ele passa desde como aprendiz até se
tornar um mestre. Importante ressaltar que resultam no ir e vir do Taoísmo, pois estamos
sempre aprendendo, onde os melhores mestres têm mestres.
Baseado em toda uma gama de estudos de Jigoro Kano, vê-se quantos benefícios se
pode alcançar mediante uma prática fundada em pressupostos teóricos, visando à formação de
judoca. Onde suas ações não estão firmadas somente para lutas de combates, mas também
para vida, em decisões, esforços, respeito pelo próximo, pela natureza, pelos mestres e pais.
As lutas fazem parte do nosso aprendizado diariamente, tanto físico quanto moral. As
lutas diárias, sendo elas a par das dificuldades que encontramos no nosso cotidiano como
preconceitos, discriminações e relacionamento interpessoal, ou até mesmo relacionado à luta
de conquistas e perdas. Também as lutas físicas propriamente ditas, podendo elas estar dentro
de um contexto de competição, que vem crescendo ainda mais, sendo praticada como técnica
e competitiva ou de conteúdo de aulas para auxiliar na aprendizagem pedagógica.
Vendo por esse ponto de vista, podemos começar a analisar a relevância que as lutas
têm como conteúdos pedagógicos. Podendo ter uma importância filosófica que pode ser
estudada e praticada na escola, auxiliando na aprendizagem do aluno. Também podem servir
como ferramenta para os professores, agregando mais o seu desenvolvimento como
profissional da área.
Segundo Lançanova (2007, p. 8),
As lutas, como um ramo da educação física escolar, reúnem um conjunto de
conhecimentos e oportunidades que contribuem para o desenvolvimento integral do
educando. “Se considerado o seu potencial pedagógico, é um instrumento de enorme
valor, nas mãos do educador, por sua ação corporal exclusiva, sua natureza histórica,
e o rico acervo cultural que traz dos seus povos de origem”.
Atualmente, o que se introduz nas aulas de Educação Física Escolar está vinculado
ao conceito de cultura corporal de movimento, a qual condiz como o objeto de estudo e
intervenção, exercendo o papel de uma ferramenta fundamental que leva em consideração as
técnicas aprendidas culturalmente e que têm significados diferentes. Esses significados se
modificam de acordo com os sujeitos que vivenciam, e evidenciam a importância de tratar
distintas dimensões de um mesmo conhecimento. Na Educação Física Bracht (2003 apud
SOUZA JÚNIOR et al. 2011, p. 396). “[...] afirma que sua especificidade deverá se
relacionar, de forma direta, com a sua função social, nos remetendo às práticas corporais que
passam a ser entendidas como formas de comunicação que constroem cultura e é influenciada
por ela”.
Dessa maneira, a Educação Física Escolar, sendo um campo de conhecimento,
facilitadora na aplicação de métodos de temas variados, como de acordo com Betti (1992), o
que irá possibilitar a utilização de uma cultura corporal de movimento deve abranger os
âmbitos afetivos, sociais, cognitivos e motores, estando estes presentes nas aulas de Educação
Física. Ainda sobre esse assunto, diz-se que “(...) os conteúdos, presentes na cultura corporal
de movimento, são produções humanas carregadas de sentidos e significados” (ALVES, 2003,
p. 96). Possibilitando assim, efetivar como conteúdo para o ensino-aprendizagem o que diz
respeito à vida em sociedade, levando em consideração a realidade daqueles que nela se
encontram, fazendo com que se sintam comprometidos em absorver e apropriar-se de seus
conhecimentos.
A Educação Física atualmente tem seus métodos de ensino fundamentados em
diferentes abordagens de ensino. Apresento nesta pesquisa duas delas, considerando-as de
fundamental importância. Uma abordagem é a crítico-superadora e a outra crítico-
emancipatória. Ambas são apontadas na pesquisa, sendo base sustentadora de argumentação
às funções estabelecidas na Educação Física escolar e ao conteúdo pedagógico do judô.
A pedagogia crítico-superadora foi criada pelo coletivo de autores e está presente no
livro Metodologia do Ensino da Educação Física (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Pedagogia que busca esclarecer através de questões epistemológicas e metodológicas os
conhecimentos que devem integrar o conteúdo e a forma de transmiti-los, além de conceituar
e afirmar a ideia de cultura corporal. Desenvolve-se um ensaio pedagógico acerca dos bens
produzidos pelos seres humanos ao longo da história, que são manifestados pelas expressões
corporais, sendo os principais objetos de ensino da educação física.
Essa abordagem pretende instigar o aluno a produzir suas próprias atividades
corporais, trazendo assim novos temas e conteúdos para a aprendizagem e seu sentido pessoal
dentro das próprias experiências de vida, e afirma que cada aluno é particular e, portanto,
possui seu ritmo para a aprendizagem (COLETIVO DE AUTORES, 1992). A partir da
perspectiva da compreensão crítico-superadora entende-se a aula:
[...] como um espaço intencionalmente organizado para possibilitar a direção da
apreensão, pelo aluno, do conhecimento específico da Educação Física e dos
diversos aspectos das suas práticas na realidade social. A aula, nesse sentido,
aproxima o aluno da percepção da totalidade das suas atividades, uma vez que lhe
permite articular uma ação (o que faz), com o pensamento sobre ela (o que pensa) e
com o sentido que dela tem (o que sente). (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p.
62/63).
O autor sustenta em sua abordagem que a educação física deve visar à compreensão
dos Esportes pelo sentido de se-movimentar, portanto sendo estudadas, desenvolvidas e
construídas, desencadeando um processo de conhecimento do outro e de si. Kunz (1996, p.
144), objetiva “uma educação mais emancipadora, voltada para a formação da cidadania do
jovem do que de mera instrumentalização técnica para o trabalho”, sendo assim a aula torna-
se um espaço para a construção dos conhecimentos e não apenas a reprodução desses.
4.2.2.4 PCN’s
Um dos objetivos do Ministério da Educação e do Desporto, ao consolidar os
Parâmetros, é apontar metas de qualidade que ajudem o aluno a enfrentar o mundo atual como
cidadão participativo, reflexivo e autônomo, conhecedor de seus direitos e deveres (PCN,
educação física, Brasília, 1997).
Os parâmetros nacionais dividem seus documentos de auxílio ao ensino e
aprendizagem em três partes: a do ensino fundamental de 1°a 4° ano; o ensino fundamental de
do 5° ano até o 9° ano; e o ensino médio. Os objetivos desses documentos são de buscar o que
se diz a respeito sobre os conteúdos das aulas e de educação física e se as lutas/judô são
citadas como metodologias de ensino.
No primeiro e segundo ciclos do ensino fundamental existe um quadro com três
blocos dos conteúdos a serem desenvolvidos. O primeiro bloco consiste em conhecimentos do
corpo, o segundo bloco é esportes, jogos, lutas, ginásticas e o terceiro bloco diz sobre
atividades rítmicas e expressivas.
Sobre cada bloco é explicado o objetivo de trabalhar cada atividade esportiva e sobre
as lutas eles ressaltam:
As lutas são disputas em que o(s) oponente(s) deve ser subjugado(s), mediante
técnicas e estratégias de desequilíbrio, contusão, imobilização ou exclusão de um
determinado espaço na combinação de ações de ataque e defesa. Caracterizam-se
por uma regulamentação específica, a fim de punir atitudes de violência e de
deslealdade. “Podem ser citados como exemplo de lutas desde as brincadeiras de
cabo-de-guerra e braço-de-ferro até as práticas mais complexas da capoeira, do judô
e do caratê.” (PCN, 1997).
E o ensino médio:
I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no Ensino Fundamental,
possibilitando o prosseguimento de estudos;
II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo,
de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou
aperfeiçoamento posteriores;
III - o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o
desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico;
IV - a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos,
relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina. (Artigo 35 da LDB)
Com esses pontos, o ensino deve ser desenvolvido nesse período, e o professor deve
utilizar de suas estratégias, temas a serem abordados e desenvolver esses pontos com os
alunos. Buscando com que os alunos desenvolvam seus pontos críticos e consigam ter seus
próprios pensamentos, opiniões e ser um indivíduo autônomo na sociedade.
É com o corpo que a criança, nessa fase, pode explorar e ampliar seu repertório
linguístico e de movimentos, se descobrindo e descobrindo o espaço, seguindo o que se
propõe. Para o judô nesse caso, estaria o conhecimento da modalidade através da ludicidade,
trazendo um contato com objetos/equipamentos utilizados pelo esporte, assim como o contato
do corpo com sensações, como deitar, rolar no chão, abraçar o colega, movimentos livres no
tatame. No contato do corpo com o espaço dessa prática, iniciar uma vivência mesmo que
inconsciente com o ambiente do esporte, tornando isso parte comum da vida do indivíduo.
Assim, a instituição escolar precisa promover oportunidades ricas para que as crianças possam
sempre animadas pelo espírito lúdico e na interação com seus pares, explorar e vivenciar um
amplo repertório de movimentos, gestos, olhares, sons, e mímicas com o corpo, para descobrir
variados de ocupação e uso do espaço com corpo.
Traços, sons, cores e formas – Conviver com diferentes manifestações artísticas
culturais e científicas locais e universais, no cotidiano da instituição escolar
possibilita às crianças, por meio de experiências diversificadas, vivenciar diversas
formas de expressão e linguagens, como as artes visuais (pintura, modelagem,
colagem, fotografia etc.), a música, o teatro, a dança e o audiovisual, entre outras.
(BRASIL, 2018, p. 41)
Tais vivências desenvolvem na criança um senso de respeito e admiração pelas
culturas, além de desenvolver e permitir que elas criem gosto e se apropriem disso
permanentemente. Direcionando ao judô, pode-se proporcionar a essas crianças aulas de
música onde ela tem que se movimentarem de acordo com o ritmo da música, vídeos de
crianças realizando a prática, a observação de objetos ligados à cultura do judô, danças, fotos,
pinturas, onde seja possível a observação assim como a execução desses elementos pelas
próprias crianças, como recriar sua própria faixa.
Escuta, fala, pensamento e imaginação - [...] as primeiras formas de interação do
bebê são os movimentos do seu corpo, o olhar, a postura corporal, o sorriso, o choro
e outros recursos vocais, que ganham sentido com a interpretação do outro. [...] Na
Educação Infantil, é importante promover experiências nas quais as crianças
possam falar e ouvir, potencializando sua participação na cultura oral, pois é na
escuta de histórias, na participação em conversas, nas descrições, nas narrativas
elaboradas individualmente ou em grupo e nas implicações com as múltiplas
linguagens que a criança se constitui ativamente como sujeito singular e pertencente
a um grupo social. (BRASIL, 2018, p. 42).
Nesse ponto da pesquisa abordamos autores que contemplaram o judô como tema de
suas aulas de educação física como conteúdo pedagógico de ensino e com discussões sobre
resultados dessas experiências, que influenciaram relevantemente a aprendizagem.
O autor Cordeiro Júnior (2000), fez uma pesquisa onde o projeto teve como objetivo
a construção de uma metodologia de ensino do judô adequada à realidade e às exigências do
contexto escolar, onde trabalhou com ensino fundamental e médio. A instituição onde foi feita
a pesquisa não tinha estrutura para aulas de educação física até mesmo para as aulas comuns.
O autor contou com a ajuda do ginásio de lutas da Faculdade de Educação Física (FEF) e da
Universidade Federal de Goiás (UFG). Com isso ele estipulou horário e conseguiu transportes
para os alunos até o local das aulas, quando eram práticas.
A turma tinha características como falta de atenção com o professor, ignoravam a
presença do mesmo e brigavam muito entre si. Com intuito de reverter essa situação, o autor
fez leituras sobre a própria história do judô e passou a considerar a realidade social dos
alunos. E aos poucos foram incluindo algumas características do judô, como as vestimentas,
saudações e as primeiras movimentações.
Durante o período da pesquisa ele conseguiu visualizar gradualmente as mudanças da
turma perante cada tema abordado. Nas primeiras aulas os alunos chegavam eufóricos e não
prestavam atenção, com isso o professor tinha que chamar muito atenção, mas com o tempo,
os alunos iam chegando mais calmos de forma que o professor conseguia conversar e explicar
sobre a aula.
Podemos observar que alguns alunos mostravam claramente um salto qualitativo,
sobretudo os do segundo ciclo, o da iniciação à sistematização do conhecimento. Os
alunos demonstravam consciência de suas atividades, de suas possibilidades de
abstração, confrontando dados da realidade com suas próprias representações.
Estabelecem nexos, dependências e relações complexas, as quais estavam
representadas em conceitos do judô elaborados por eles mesmos. [...] Não queremos
dizer que chegamos a uma fórmula pronta e acabada, mas podemos afirmar que
existe uma experiência obtida através das práticas junto a alunos reais de uma escola
pública. (CORDEIRO JÚNIOR, 2000, p. 103).
Cada aspecto citado pelo autor que teve uma mudança significativa tem uma
característica relevante isolada, como por exemplo, aspectos específicos no ambiente escolar,
onde os professores notaram mais harmonia no processo de ensino-aprendizagem, mais
respeitos dos alunos com seus educadores e colegas, melhora nos níveis cognitivos e a
diminuição da agressividade. Assim como no ambiente familiar, onde os responsáveis pelos
mesmos notaram um interesse maior pelos estudos, o bom convívio no ambiente familiar,
relacionando o respeito com os pais, às responsabilidades do mesmo com seus objetivos e
demandas. E a influência da prática do judô para a formação do indivíduo enquanto ser social
equilibrado, adaptável, capaz de transitar normalmente por ambientes múltiplos, diferentes e
heterogêneos.
Batista (2013) fez uma investigação no âmbito escolar em que as analisou
variáveis o autoconceito nas suas dimensões constituintes (competência escolar, aceitação
social, competência atlética, aspeto físico e comportamento); a autoestima e o rendimento
escolar. Trabalhou com uma amostra de 531 alunos dos quais 295 (55,6%) de género
masculino e 236 (44,4%) de género feminino, com uma média de 9,13 anos, variando num
mínimo de 8 anos e num máximo de 10 anos. Desta amostra, 394 alunos (74%) praticavam
pelo menos uma atividade física formal de carácter extracurricular e 96 alunos (24%)
praticavam judô, com uma experiência entre 9 meses e 5 anos de graduação entre faixa branco
e faixa verde. Como instrumento de recolha de dados utilizou-se a Escala de Autoconceito de
Susan Harter validada para a população portuguesa, esta escala é específica para mensurar
níveis de autoconceito e possui também uma escala de avaliação dos níveis de autoestima. O
rendimento escolar caracteriza o rendimento dos alunos no final do 3º período escolar do ano
letivo, nas disciplinas de matemática, língua portuguesa e estudo do meio, calculando-se
posteriormente a média das três disciplinas.
Criou grupos de debate de uma forma aleatória simples, com seis treinadores de Judo
dos clubes do distrito de Santarém, assim como com oito encarregados de educação de alunos
desses clubes, com a intenção de averiguar opiniões e argumentos sobre a prática de Judô e a
sua importância e relação com o autoconceito, autoestima e rendimento escolar. Estes grupos
de debate foram criados para oferecer uma visão complementar, desde outro ponto de vista,
dos resultados obtidos com a metodologia e análise quantitativa.
E os resultados foram que os alunos que fazem para além da modalidade de judô
outra atividade física e desportiva de carácter formal apresentam níveis de autoconceito,
autoestima e rendimento escolares mais elevados. E os que praticam o judô dentro das aulas
de educação física ou centros de treinamentos e com mais tempo de vivência têm esses
aspectos mais elevados comparado com os que não fazem nenhuma prática. Os argumentos
do grupo de debate, segundo o ponto de vista de responsáveis de educação física dos
treinadores dos alunos que praticam judô.
Esta deveria ser uma modalidade enfocada como unidade curricular obrigatória nos
programas de educação física nos diferentes ciclos de ensino, de acordo com os
grandes valores educativos, formativos e pedagógicos que caracterizam esta
modalidade, resultado de uma riqueza cultural que procede e se mantém desde a sua
origem. (BATISTA, 2013, p. 202)
Com a realização das aulas, foi possível perceber relações conflituosas entre os alunos,
o autor conseguiu observar e diagnosticar uma futilidade dos motivos que ocasionam esses
conflitos, uma banalização da violência física como meio para solução dos problemas e a
ausência em alguns alunos, de compreensão sobre possíveis consequências de suas atitudes.
[...] alguns alunos, eram incapazes de cumprimentar, com um aperto de mão outros
colegas, utilizavam uma linguagem verbal agressiva, rude, contendo inclusive
xingamentos na interação com o outro. Nas relações de conflito físico, o uso
desproporcional de força, que poderia na maioria das vezes, produzir lesões e
machucados (CORDEIRO 2015, p. 146).
O judô dentro da escola além de ser mais um tema a ser vivenciado pelos estudantes, a
fim de fazer parte da construção de um indivíduo autônomo, crítico e abrindo o leque de
conhecimentos, também estará presente como prática de auxílio para o melhor
desenvolvimento de crianças com deficiências neuropsicológicas e motoras.
O trabalho de Resende Henrique 2009 que buscou a prática de atividade lúdico-
recreativo baseada nas pedagogias do judô para alunos do fundamental com sintomas de
Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) que favoreceram a motivação
desses alunos, os quais apresentaram melhorias no âmbito escolar, familiar e social. É um
exemplo de pesquisa da presença do judô no âmbito escolar como forma positiva e
construtiva. (García Rojas 2006 et. al RESENDE 2009, p. 150) afirma que a realização de
exercícios de aprendizagem de judô no tatame permite o trabalho tanto individual quanto em
grupo, sendo uma ferramenta muito adequada para a intervenção em alunos com sintomas de
TDAH.
Foram priorizadas atividades que facilitam a assimilação do respeito mútuo,
disciplina, cooperação, atenção e autocontrole, estruturadas de forma a serem motivadoras e
prazerosas para os alunos dentro de uma perspectiva lúdico-recreativa. Elaborou-se um
sistema composto por seis tipos básicos de atividades, a saber: atividades de concentração e
cooperação (atividades dinâmicas que exigem atenção, movimentos e ajuda mútua);
atividades de conquista de objetos (nas quais há aproximação dos alunos, mas as principais
ações de oposição – atacante e defensor – relacionam-se aos objetos a serem conquistados);
atividades de conquista de territórios (diversificam-se as ações desequilibrantes para se ter
êxito nos objetivos). A estratégia geral adotada era que cada aluno chegasse ao objetivo por
sua conta, respeitando seu ritmo. Assim, o objetivo e a tarefa eram claramente definidos
previamente. Aos alunos era apresentado um problema a ser resolvido, porém as respostas não
eram informadas. Ao professor interessava avaliar por que o aluno obteve ou não êxito na
tarefa. O encerramento das aulas se dava após um diálogo do professor com os alunos acerca
das tarefas cumpridas e uma reflexão sobre aquelas não cumpridas. (REZENDE 2009, p.
152). O autor relata que
‘Observou indicadores de motivação’, quais sejam: os alunos participam com
iniciativa das atividades propostas e buscam informação para a solução de
problemas; estabelecem relações com seus companheiros com o propósito de
encontrar soluções para os problemas propostos pelo professor; demonstram
confiança e segurança em si mesmos; têm vontade e disposição para aprender;
apresentam ações que os caracterizam como alunos com sede de aprender mais e
melhor; oferecem contribuições positivas para enriquecer o conteúdo da
aprendizagem, entre outros. (REZENDE, 2009, p. 149).
Com isso o projeto que o autor cita, busca trabalhar com essas pessoas com DV a
mobilidade, orientações das necessidades gerais das pessoas, possibilitar a exploração, auto
realização, promover a independência pessoal. E o trabalho buscou o desenvolvimento de
certos estímulos como: esquema corporal, postura, treinamento de sentidos, equilíbrio,
técnicas específicas de mobilidade. E referente a esses aspectos o autor confirma:
[...] a prática do judô vem para reforçar esse trabalho, uma vez que desenvolvem de
forma segura e progressiva questões como deslocamentos, propriocepção,
lateralidade, movimentação corporal e ensina fundamentalmente o praticante a cair
de forma segura, através dos rolamentos, aprendendo a absorver impactos de
eventuais quedas. Como no judô o trabalho é realizado em um amplo espaço, como
o solo devidamente revestido por tatames, o aluno pode realizar as atividades com
segurança. Com o tempo se torna mais confiante nas realizações das atividades,
alterando de forma positiva seu grau de autonomia e independência funcional.
(KRUMEL, 2011, p. 32).
Pode se concluir dessa pesquisa que o desenvolvimento de autonomia, independência
e autoconfiança é os pontos que motivam as pessoas com deficiência visual praticarem
esportes e principalmente o judô que proporciona a elas não somente a vivência e experiência,
mas também um aprendizado para fora dos tatames, para o seu cotidiano, as motivando mais
ainda a continuação da prática.
A pesquisa de Krumel foi citada, pois apesar de ter transcorrido dentro do curso de
educação física e não dentro do âmbito escolar é um exemplo de prática com judô como
instrumento para auxiliar na aprendizagem de pessoas com deficiências na escola também,
assim como para o conhecimento do graduando do curso, significa que podem trazer para o
âmbito escolar.
O trabalho de FERRAZ 2015 faz um paralelo com os aspectos psicomotores com as
práticas do judô em escolares e observar se há alguma relevância na prática do judô com
melhoras no desenvolvimento desses aspectos. A pesquisa sucedeu em uma escola pública de
Brasília, com 30 alunos do 5° ano e a coleta de dados se deu por meio de testes e avaliação
motora da Escala de Desenvolvimento Motor: Motricidade Fina, Motricidade Global,
Equilíbrio, Esquema Corporal, Organização Espacial, Organização Temporal e Lateralidade
que irão avaliar os aspectos psicomotores dos alunos. As atividades realizadas tiveram
abordagens desde capacidade de controlar uma combinação de movimentos como recordar e
pintar até correr, saltar, equilibrar, movimentos que utilizam esquema corporal, tocar a ponta
do pé, assim como exercícios de lateralidade. E com as aulas de judô as crianças praticantes
por sua vez acabam por terem resultados elevados no seu desenvolvimento motor.
Conclui-se que o estímulo ao desenvolvimento da psicomotricidade na infância é de
suma importância para o desenvolvimento motor da criança e o judô pode ser
utilizado como uma rica ferramenta para esse processo. Quando bem trabalhado,
respeitando-se as fases de desenvolvimento do indivíduo, ele pode favorecer o
desenvolvimento completo da criança. (FERRAZ, M, 2015, p. 23).
Foram apontados estudos que abordam o judô em suas vivências como forma de
consolidar o judô como tema nas aulas de educação física, afirmando os benefícios mútuos da
educação escolar. RIZZO 2011 é exemplo de estrutura pedagógica que vivencia o judô nas
aulas de educação física que pode ser considerado como molde para professores da área da
educação física que tem dificuldades ou dúvidas de como abordar esse tema nas aulas.
O objetivo desta pesquisa foi pautado nas reais condições que a escola brasileira
possui. Levou em conta a situação fora do cotidiano escolar, na qual os alunos, sujeitos da
pesquisa, estavam inseridos e com isso foi construindo passo a passo as aulas de acordo com
estrutura escolar e especificidades da turma. Passando por um período de adaptação,
entendimentos históricos e aplicação da prática, tudo com cautela, para que a aprendizagem
fosse absorvida de forma gradual.
A elaboração das aulas foi pautada no método apresentado por SAVIANI 2003
(RIZZO 2011, p. 67 et. al. Saviani 2003) que entende que a educação tem por função fazer
com que o aluno apreenda o conteúdo sistematizado e elaborado historicamente pelos
homens, considerando a educação escolar um espaço para buscar e articular, em alguma
medida, as forças emergentes da classe dominada da sociedade por meio do processo
pedagógico e do conteúdo como instrumentos a serviço da instauração de uma sociedade
igualitária. O plano estava fundamentado na Pedagogia Histórico-Crítica de Educação e na
perspectiva Crítico-Superadora em Educação Física. Pedagogia que auxilia na construção
própria do indivíduo, onde o mesmo irá criticar e achar as soluções para os problemas
vivenciados.
Todas as pesquisas revisadas são questões fortes e aliadas para a inserção do judô no
currículo escolar. É na prática que realmente percebemos o nosso impacto e o quanto nossos
comportamentos influenciam e atingem a sociedade em que vivemos. Através da observação
daquilo que se faz em prática é o momento que a consciência se torna palpável e possível de
ser compreendida. Na educação infantil o melhor entendimento se dá pela concretização,
sendo esta uma maneira eficiente de se apresentar a variedade de conhecimento e criar um
entendimento sobre a diversidade cultural.
O esporte surgiu como prática cultural e por esse motivo está entranhado de valores e
significados, pensando dessa maneira o judô não se apresenta apenas como prática, ele possui
todo um contexto histórico-sociocultural. Diante disso, o judô apresenta elementos que o
possibilitam incluir nos conteúdos da Educação Física escolar como objeto da cultura corporal
(COLETIVO DE AUTORES, 1992) e/ou cultura corporal de movimento (KUNZ, 2004).
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