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Segunda Lei de Newton

Daniel Cid, Fábio Henrique Pascoal, Gabriela Rodrigues


Curso Engenharia Elétrica, Departamento Engenharia Elétrica, Universidade Federal do Espírito Santo,
Caixa Postal 9011, Vitória, Espírito Santo, 29060-970, Brasil
e-mail: daniel.constantinidis@edu.ufes.br, fabio.pascoal@edu.ufes.br, gabriela.r.carvalho@edu.ufes.br
Código da Disciplina: FIS13737

Resumo. Visando estudar a segunda lei de newton, foi utilizado um Trilho de ar com unidade
geradora de fluxo (compressor de ar), um Multicronômetro digital e cinco sensores fotoelétricos a
fim de verificar que a aceleração adquirida por um corpo sujeita a uma força constante é
inversamente proporcional a massa do corpo.

Palavras chave: segunda lei de Newton, aceleração, polia.

Introdução através de um fio inextensível de massa


desprezível, de modo que entre eles, há uma polia,
As chamadas leis de Newton, foram formuladas por onde passa o fio, de modo que o corpo 1 se
com a finalidade de descrever a interação entre encontra pendurado, e o corpo 2 apoiado em uma
corpos diferentes, são elas: superfície livre de atrito, assim como exibido na
1ª Lei: popularmente conhecida como “Lei da figura 1:
Inércia”, determina que um corpo quando não está
sofrendo ação de nenhuma força externa, pode
apenas se mover em velocidade constante, ou estar
em repouso.
2ª Lei: A força resultante que atua sobre um
corpo é responsável pela sua aceleração. Quando
um número n de forças são aplicadas sobre um
corpo, este terá a mesma aceleração em módulo,
direção e sentido que a gerada por uma única força,
chamada resultante, dada pela soma vetorial de
todas as n forças aplicadas neste corpo, podendo ser
representada matematicamente como:
𝑛 → → →
∑ 𝐹𝑖 = 𝐹𝑟𝑒𝑠 = 𝑚 · 𝑎
𝑖=1
(Equação 1)
Figura 1: Esquemático simplificado do
→ experimento.
Onde m é a massa total do sistema e 𝑎 a aceleração (fonte: nagwa.com/en/explainers/714157398609/)
do sistema, dados em kg e m/s², respectivamente.
3ª Lei: também conhecida como “Lei da Ação e Fazendo uso da segunda lei, temos que:
Reação”, determina que quando dois corpos 1 e 2 𝑚1
(𝑚1 + 𝑚2)𝑎 = 𝑚1 · 𝑔 ⇒ 𝑎 = ·𝑔
interagem entre si, é gerada em ambos uma força de (𝑚1+𝑚2)
mesmo módulo e direção, mas em sentidos opostos, (Equação 3)
disto decorre que:
𝑚1 |𝑎21| Nesse caso, as forças de tração na corda não
|𝐹12| = |𝐹21| ⇒ 𝑚1|𝑎12| = 𝑚2|𝑎21| ⇒ 𝑚2
=
|𝑎12| chegam a aparecer na equação pois ao realizar o
(Equação 2) somatório das forças no sistema, as duas forças de
tração se anulam. Além disso, vale ressaltar que a
Onde F12 e F21 são a força que o corpo 1 produz aceleração do sistema não é a mesma que a
no corpo 2 e a força que o corpo 2 produz no corpo gravitacional pois, pela própria Equação 3, o efeito
1, respectivamente. Isso significa dizer que para do campo gravitacional só produz movimento
uma interação entre dois corpos de massa m1 e m2, acelerado no corpo 1, em outras palavras, a
a razão entre o módulo das acelerações é constante, aceleração do sistema só seria g caso os dois corpos
independentemente de como ocorra a interação. estivessem pendurados através do fio.
Partindo para a aplicação das leis de Newton em Se quisermos um modelo mais preciso deste
um exemplo prático, consideremos o cenário onde sistema, podemos considerar a massa da polia (mp)
dois corpos de massa m1 e m2 estão conectados para os cálculos, com isso, a equação 3 torna-se:
𝑚1 digital, foi posicionado na extremidade do fio e o
𝑎= ·𝑔
(𝑚1+𝑚2+0,5·𝑚𝑝) carrinho foi posicionado na iminência da ativação
(Equação 4) do sensor fotoelétrico, como mostrado na Figura 4.

Com isso, tem-se todas as equações necessárias


para discutir os resultados do experimento.

Procedimento Experimental
Para esse experimento, utilizou-se um trilho de
ar comprimido e um carrinho capaz de percorrer
sobre ele sem atrito. O carrinho possui uma
sequência de marcações retangulares espaçadas
igualmente, que variam entre material transparente
e opaco.
Foram posicionados sensores fotoelétricos que,
ao serem conectados a um multicronômetro digital,
são acionados pelas marcações retangulares no topo
do carrinho, e contam o tempo entre uma passagem
e outra. Para isso utilizou-se cinco sensores ao todo,
espaçados em 15, 00 ± 0, 05 𝑐𝑚 entre si.
Posteriormente, um fio inextensível de massa
desprezível foi preso no carrinho e, com auxílio de Figura 4: Carrinho na iminência de ativação do
uma polia na extremidade do trilho, foi possível sensor fotoelétrico.
reproduzir o experimento de um corpo sofrendo a (fonte:fisica.ufes.br/sites/fisica.ufes.br/files/field/an
gravidade e puxando um outro que está no trilho exo/experiencia_a3_-_segunda_lei_de_newton-rev_
por uma corda. Esta disposição foi ilustrada na 0.pdf)
Figura 3.
Após largar o carrinho, este será puxado pelo fio
contendo o cavalete, que está sob efeito da
gravidade. O tempo em que o carrinho passa por
cada sensor fotoelétrico foi mensurado utilizando o
multicronômetro e, então, anotado. Em seguida,
adicionou-se pesos, com massa conhecida
utilizando uma balança digital, no carrinho para
repetir o procedimento.
Este procedimento foi realizado dez vezes em
cada formato, com e sem o acoplamento de massas.

Resultados e Discussão
A partir das medições realizadas, calculou-se o
tempo médio, e o tempo médio ao quadrado da
passagem do cavalete em cada um dos sensores,
juntamente de suas devidas incertezas, de modo que
esses dados apresentam-se respectivamente na
Tabela 1 e Tabela 2:

Tabela 1: Tempo e tempo ao quadrado de


passagem nos sensores para massa m2a
2 2
𝑆𝑒𝑛𝑠𝑜𝑟 𝑡 ± ∆𝑡 [𝑠] 𝑡 ± ∆𝑡 [𝑠 ]
Figura 3: Fio inextensível passando pela polia.
(fonte:fisica.ufes.br/sites/fisica.ufes.br/files/field/an 1 0,769 ± 0,003 0,591 ± 0,004
exo/experiencia_a3_-_segunda_lei_de_newton-rev_ 2 1,226 ± 0,004 1,503 ± 0,009
0.pdf) 3 1,590 ± 0,004 2,53 ± 0,01
4 1,892 ± 0,005 3,58 ± 0,02
Dispondo desses equipamentos, foi garantido,
com o auxílio de um nível de bolha, que o trilho Tabela 2: Tempo e tempo ao quadrado de
estava de fato na horizontal. Com isso, um cavalete, passagem nos sensores para massa m2b
2 2
cuja massa foi mensurada utilizando uma balança 𝑆𝑒𝑛𝑠𝑜𝑟 𝑡 ± ∆𝑡 [𝑠] 𝑡 ± ∆𝑡 [𝑠 ]
1 0,896 ± 0,003 0,803 ± 0,005 2 30,00 ± 0,05 2,048 ± 0,009
2 1,431 ± 0,003 2,048 ± 0,009 3 45,00 ± 0,05 3,44 ± 0,01
3 1,855 ± 0,003 3,44 ± 0,01 4 60,00 ± 0,05 4,88 ± 0,02
4 2,208 ± 0,004 4,88 ± 0,02
Além disso, foram pesados em uma balança as
Desse modo, é possível formular a Tabela 3 e a massas dos objetos envolvidos no experimento,
Tabela 4 que relacionam a posição e o tempo ao resultando em:
quadrado: 𝑚𝑝 = 82, 0 ± 0, 1 𝑔
𝑚1 = 6, 93 ± 0, 01 𝑔
Tabela 3: Posição e tempo ao quadrado de
passagem nos sensores para massa m2a 𝑚2𝑎 = 241, 21 ± 0, 01 𝑔
2 2
𝑆𝑒𝑛𝑠𝑜𝑟 𝑥 ± ∆𝑥 [𝑐𝑚] 𝑡 ± ∆𝑡 [𝑠 ] 𝑚2𝑏 = 341, 17 ± 0, 01 𝑔
1 15,00 ± 0,05 0,591 ± 0,004 Onde mp, m1, m2a e m2b são as massas da polia,
2 30,00 ± 0,05 1,503 ± 0,009 suporte acoplador de massas, carrinho sem massas
3 45,00 ± 0,05 2,53 ± 0,01 acopladas e carrinho com massas acopladas,
4 60,00 ± 0,05 3,58 ± 0,02 respectivamente.
Segue que por meio da Tabela 3 e Tabela 4, são
Tabela 4: Posição e tempo ao quadrado de desenhados os gráficos representados na Figura 5 e
passagem nos sensores para massa m2b Figura 6, ambos feitos em python, com uso da
2 2 biblioteca “matplotlib” para os gráficos e “numpy”
𝑆𝑒𝑛𝑠𝑜𝑟 𝑥 ± ∆𝑥 [𝑐𝑚] 𝑡 ± ∆𝑡 [𝑠 ] para os cálculos de incerteza e melhores
1 15,00 ± 0,05 0,803 ± 0,005 aproximações por retas.

Figura 5: Relação entre Posição e Tempo Quadrado para massa m2a. Onde a função é dada por
2
𝑥 = (15, 0 ± 0, 5)𝑡 + (7 ± 1).
Figura 6: Relação entre Posição e Tempo Quadrado para massa m2b. Onde a função é dada por
2
𝑥 = (11, 0 ± 0, 3)𝑡 + (7 ± 1).

Para o sistema formado pelas massas m2a e m1, 𝑎1 = 30 ± 1 𝑐𝑚/𝑠


2
os coeficientes encontrados para a reta que melhor
2
aproxima os pontos experimentais foram: 𝑎2 = 22 ± 1 𝑐𝑚/𝑠
2
Coeficiente angular: 𝐴1 = 15, 0 ± 0, 5 𝑐𝑚/𝑠 ,
Coeficiente linear: 𝐵1 = 7 ± 1 𝑐𝑚. Onde a1 e a2 são as acelerações do sistema 1 e 2
respectivamente. Quanto aos coeficientes lineares,
Enquanto que para o sistema formado pelas esperava-se que seu valor fosse igual a zero, o que
massas m2b e m1, temos os seguintes coeficientes: não se verifica, pois o menor valor possível para o
2
Coeficiente angular: 𝐴2 = 11, 0 ± 0, 3 𝑐𝑚/𝑠 , coeficiente B nos dois casos foi 6 cm, que se
Coeficiente linear: 𝐵2 = 7 ± 1 𝑐𝑚. encontra muito distante da origem.
Nesse caso, o mais sensato a se fazer é analisar
Partindo da equação do movimento acelerado: o gráfico da posição x em função do tempo t,
2
𝑥 = 𝑥0 + 𝑣0𝑡 +
𝑎𝑡
, encontrando a parábola que melhor aproxima os
2
pontos experimentais, representados graficamente
e assumindo 𝑣0 = 0 e 𝑥0 = 0, temos: na Figura 7 e Figura 8, feitos utilizando as mesmas
𝑎
𝑥 = (2) ·𝑡
2 bibliotecas citadas anteriormente:
Portanto, como os coeficientes angulares
representam metade dos valores das acelerações,
temos que:
Figura 7: Relação entre Posição e Tempo para massa m2a. Onde a função é dada por
2
𝑥 = (11, 2 ± 0, 5)𝑡 + (10 ± 1)𝑡 + (0 ± 1).

Figura 8: Relação entre Posição e Tempo para massa m2b. Onde a função é dada por
2
𝑥 = (8, 2 ± 0, 3)𝑡 + (9 ± 1)𝑡 + (0 ± 1).

As funções parabólicas nos dão mais detalhes Onde a1 e a2 representam a aceleração do


sobre o problema encontrado anteriormente, sistema sem e com massas acopladas no cavalete, e
indicando a existência de uma velocidade inicial, que assim como anteriormente, foram obtidos
possivelmente causadas pela má execução do multiplicando o coeficiente A das funções por 2.
experimento, significando que quando os cavaletes Comparando os dois valores, fazendo uso da
passaram pelo primeiro sensor, estes já possuíam Equação 3, é bem lógico que a aceleração do
uma velocidade, portanto, os valores das sistema tenha diminuído, visto que houve um
acelerações utilizados para os cálculos serão: aumento de sua massa total, decorrente do
𝑎1 = 22 ± 1 𝑐𝑚/𝑠
2 acoplamento de pesos no cavalete, em outras
palavras, o valor no numerador se manteve
2
𝑎2 = 16 ± 1 𝑐𝑚/𝑠 constante, enquanto o valor no denominador
aumentou.
Pela Equação 4, substituindo as massas pelos credibilidade a ideia de utilizar para os cálculos a
valores medidos, e g por 9, 8 ± 0, 1 𝑚/𝑠 , podemos
2 aceleração encontrada a partir da função parabólica.
obter uma estimativa precisa dos valores esperados Já para o cálculo da tensão T no cabo de nylon,
para as acelerações, e diz-se precisa pois as massas aplica-se a segunda lei de Newton (Equação 1) no
medidas pela balança digital possuem altíssima cavalete, que é afetado apenas pela tração, portanto:
precisão, e o valor de g utilizado já é muito bem 𝑇 = 𝑚2 · 𝑎
consolidado e determinado experimentalmente, 𝑇1 = 𝑚2𝑎 · 𝑎1 = (241, 21 ± 0, 01)(22 ± 1) 10
−5
portanto:
(6,93 ± 0,01) ·(9,8 ± 0,1) 𝑇1 = (53 ± 2) 𝑚𝑁
𝑎1' = (6,93 ± 0,01)+(241,21 ± 0,01)+(41 ± 0,05)
−5
2 𝑇2 = 𝑚2𝑏 · 𝑎2 = (341, 17 ± 0, 01)(16 ± 1) 10
𝑎1' = 23, 5 ± 0, 3 𝑐𝑚/𝑠
(6,93 ± 0,01) ·(9,8 ± 0,1) 𝑇2 = (55 ± 3) 𝑚𝑁
𝑎2' = (6,93 ± 0,01)+(341,17 ± 0,01)+(41 ± 0,05)
2
𝑎2' = 17, 5 ± 0, 2 𝑐𝑚/𝑠 Conclusão
Que, se comparados aos valores obtidos a partir
Buscou-se analisar, através deste experimento, a
dos gráficos, se encontram bem próximos, mas não
relação entre força, massa e aceleração, descrita
coincidem devido a erros de execução durante o
pela Segunda Lei de Newton. Além do mais,
experimento.
analisou-se o efeito da polia fixa em sistemas
Podemos também calcular as relações a1/a2 e
mecânicos.
m2b/m2a, para verificação da Equação 2:
𝑎1 Variou-se a massa do cavalete por meio da
(22 ± 1)
𝑎2
= (16 ± 1)
= 1, 4 ± 0, 1 adição de pequenos pesos e inicialmente tinha-se o
𝑚2𝑏
objetivo de determinar a aceleração do sistema
(341,21 ± 0,01)
𝑚2𝑎
= (241,17 ± 0,01)
= 1, 4148 ± 0, 0001 através do gráfico linear da posição do carrinho em
função do quadrado do tempo, porém, devido ao
Como dentro de suas incertezas as razões mal posicionamento inicial do cavalete, este
coincidiram, pode-se dizer que fez-se valer a passava pela posição 𝑥 = 0 com velocidade
equação 2, mostrando que a massa inercial de um diferente de 0, e por isso, determinar a aceleração
sistema é inversamente proporcional ao módulo do do sistema através da função parabólica do
seu vetor aceleração. movimento mostrou-se uma alternativa mais
Resolvendo a Equação 4 para g, com base nos adequada.
valores obtidos, podemos estimar o valor da Ainda assim, os valores encontrados para as
constante gravitacional e verificar se ele condiz acelerações se aproximaram, mas não se igualaram
com o valor esperado: aos valores teóricos esperados, indicando um erro
[(6,93 ± 0,01)+(241,21 ± 0,01)+(41 ± 0,05)]·(0,22 ± 0,01)
de execução do experimento em algum ponto, ou
𝑔1 = (6,93 ± 0,01) simplesmente uma manifestação de erro aleatório.
2 Essa diferença no valor esperado para as
𝑔1 = 9, 1 ± 0, 4 𝑚/𝑠
acelerações manifestou-se também nos valores
[(6,93 ± 0,01)+(341,17 ± 0,01)+(41 ± 0,05)]·(0,16 ± 0,01) encontrados para a constante gravitacional
𝑔2 = (6,93 ± 0,01)
2
posteriormente.
𝑔2 = 9, 0 ± 0, 6 𝑚/𝑠
Os valores obtidos se aproximaram, mas não Referências
coincidiram com o valor esperado de
2
9, 8 ± 0, 1 𝑚/𝑠 . [1] NUSSENZVEIG, Herch Moysés. Curso de
Calculando os valores de g utilizando as Física Básica: Mecânica. Volume 1, Editora
acelerações obtidas na linearização da função Blucher.
posição:
* [(6,93 ± 0,01)+(241,21 ± 0,01)+(41 ± 0,05)]·(0,30 ± 0,01) [2] TAYLOR, John R. Introdução à Análise de
𝑔1 = (6,93 ± 0,01) Erros, o estudo de incertezas em medições físicas.
* 2 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012.
𝑔1 = 12, 5 ± 0, 3 𝑚/𝑠
* [(6,93 ± 0,01)+(341,17 ± 0,01)+(41 ± 0,05)]·(0,22 ± 0,01)
𝑔2 = (6,93 ± 0,01) [3] SEARS, ZEMANSKY, YOUNG, Física 1,
* 2 Mecânica, Vol. 1, 12 a LTC.
𝑔2 = 12, 4± 0, 6 𝑚/𝑠
Como os resultados encontrados foram Crédito - Este texto foi adaptado do modelo de
consideravelmente piores na determinação da relatório usado em http://fisica.ufpr
constante gravitacional, ganha-se mais

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