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Meu Mafioso Protetor - Renegado - Érica Queiros
Meu Mafioso Protetor - Renegado - Érica Queiros
“ Lolo ”
Nota da autora
"Eu não era um homem bom, e talvez um dia Kiara me odiasse por
aquilo, por ter mentido, mas eu sabia que mesmo quando ela me odiasse eu
a continuaria “AMANDO”.
Tinha organizado tudo para minha chegada, não era o que eu queria,
mas ficaria na Inglaterra por um bom tempo, e eu me perguntava se aquilo
não era um plano de meu irmão para me ver longe.
— Sim, mas…
A casa era grande e bonita, tudo estava como eu havia pedido, mas
ainda assim nada me parecia no lugar.
— Cas?!
— Acabei de chegar.
— Mas? — perguntei, porque era óbvio que teria um, porém no final
de tudo.
Mas ali ainda era como um campo inexplorado, que todos queriam
um pedaço.
— Ótimo! Temos que mostrar para esses merdas quem vai mandar
nessa Porra!
Olhei mais uma vez para o relógio confirmando a hora, tirei o celular
do meu bolso para ligar para Ivan, mas decidi esperar.
Ela mal se dignou a olhar para mim, sequer prestando atenção que
havia entrado no carro errado.
Olhei para a moça que não deveria ter mais que vinte e poucos anos,
pele branca e cabelos curtos, com os olhos marcados por uma maquiagem
digna da própria rainha do Egito, mesmo um pouco borrada pela chuva, um
vestido de grife que estava molhado, deixando a mostra seus pequenos
seios.
Olhei para fora aonde tinha dois homens grandes, fazendo perguntas.
Dei sinal a Nion que desse partida para sairmos dali, Soares estava
atrasado, e eu sem paciência.
Peguei meu celular e liguei para Ivan avisando que iria remarcar o
encontro, e sem dar mais informações desliguei.
Seu cheiro era tão bom e afrodisíaco, que não sabia se realmente
conseguiria levar aquele joguinho sem tomá-la ali, a visão de seus pequenos
seios à mostra pelo vestido molhado, deixava com água na boca e sem
perceber me peguei tentando imaginá-la nua gemendo em meus braços.
Deslizo minha mão por sua perna, desfrutando da maciez de sua pele
e a vejo suspirar com o contato de minha mão quente em seu corpo, e eu me
controlo para não ir além.
— Não, é que…
"Até onde essa pequena mentirosa irá manter essa farsa" — penso
comigo mesmo enquanto a vejo tentar se manter distante.
Ela entrou desconfiada e não foi surpresa para mim ela não parecer
encantada com o luxo do quarto.
Sabia que o atraso não era a verdadeira razão para eu ter abandonado
o local de encontro, mas era a melhor desculpa que tinha no momento.
"O cara estava com tanto medo dos japoneses, que se recusava a sair
de seu território?"
— Obrigada! — agradeceu.
— Não, quer dizer, não é isso, é que eu não posso pagar por essas
coisas… e…
— Não se preocupe, eu que pedi, não vou cobrar por um prato de
comida — avisei.
— Você achou mesmo que podia me rejeitar? — ele disse com uma
tranquilidade assustadora, afastando uma mecha de meus cabelos que ainda
estavam cumpridos.
— Depois de tudo que fiz por você? — suas mãos foram em minha
nuca, agarrando um punhado de cabelo e puxando para trás.
— Se ainda estiver com fome, pode ficar com o meu — ele ofereceu.
— Não.
Cas estava sem seu terno e sua camisa estava entreaberta deixando à
mostra uma parte de seu peitoral, ele era bem mais alto que eu e suas mãos
envolto em minha cintura me fazia sentir cada parte de seu corpo.
Ele tinha sua boca em meu colo e eu tive que juntar todo meu
autocontrole para dizer:
— Como?
Ele sabia desde o início, mesmo assim me deixou fingir ser uma
garota de programa só para se aproveitar de mim.
— Isso foi ideia sua delícia — ele disse cortando a distância entre a
gente e sussurrando em meu ouvido — eu só segui o script.
— Só queria saber até onde você levaria para revelar a verdade, mas
confesso que adoraria que estivesse esperado mais um pouco — ele falou
baixo e sensual.
E eu puxei o roupão com vergonha, tinha deixado ele me provocar,
tinha me excitado com cada toque seu, com cada sussurro e tudo para ele
não tinha passado de diversão.
— Desculpe, mas não pedi serviço de quarto, não posso pagar por
isso — falei preocupada.
— Já está tudo pago, Sra. O Sr. Orlov deixou tudo acertado ontem na
recepção.
"Tente não fugir mais de ninguém para não quebrar o salto dessa"
Andei por um bom tempo até que parei em frente a uma loja de
penhores.
Ele pegou sua mini lupa de joalheiro para avaliar a peça e depois de
um tempo respondeu:
— Mil libras
— Ótimo! Tenho certeza de que acho alguma dondoca que paga pelo
menos cinco mil — blefei, porque não tinha tempo, nem conhecimento e
muito menos condições de ir atrás de outra pessoa para comprar.
— 3 mil — ele disse quando me virei para sair e eu sorri, não era o
ideal, mas já ajudaria.
Mira, assim como eu, era uma mexicana que estava na Inglaterra
ilegalmente, mas ao contrário de mim ela tinha esperança de uma vida
melhor.
— Está de folga no domingo? — ela perguntou enquanto nos
dirigimos para a saída.
— Sim! Finalmente!
Falei acariciando seus pelos e ainda com ele no colo abri a despensa
para pegar seu pacote de ração e colocar uma porção em sua tigela,
soltando-o em seguida.
Nunca mais havia visto aquele homem, e o jeito inusitado em que nós
nos conhecemos ainda estava na minha mente, mesmo depois de meses, o
jeito com que suas mãos tocaram meu corpo, me incendiando como uma
brasa sobre a palha, ainda parecia ter o mesmo efeito.
— Vai trabalhar hoje à noite, amanhã o dia todo e depois que sair
ainda vai para o evento? — perguntei perplexa.
— Sim, é muito dinheiro para dispensar.
— O que foi?
— Não!
Peguei uma bandeja com drinks e outras bebidas e saí para o salão
distribuindo e atendendo um ou outro pedido.
Meu coração acelerou tão rapidamente que cheguei a pensar que teria
um infarto e minhas mãos tremeram.
Por isso, antes de fugir, liguei para Sarah, dizendo que estava muito
bem e que eu era muito rica agora e que eu não as queria em minha casa.
Então comecei a correr, mas não fui muito longe quando trombei em
alguém e caí no chão e a mão de Heron me segurou me puxando com
violência.
— Onde você pensa que vai? — ele falou me puxando para ele.
— Então você tinha uma algema e não uma aliança e ela está comigo
agora! — Cas disse tomando minha frente me protegendo atrás de si.
— Você não tem noção de com quem está se metendo, isso não vai
ficar assim! — Heron ameaçou.
Aquilo fez Heron recuar, mas antes de sair ele me encarou fazendo-
me estremecer de medo e disse:
Kiara continuava calada, mesmo após eu ter insistido para que ela me
contasse o que estava acontecendo.
Era óbvio que ela fugia do tal Heron, tanto na primeira vez em que
nos encontramos como ali, ela fez de tudo para não ser capturada, até
mesmo entrar no carro de um completo desconhecido e se passar por garota
de programa.
E mesmo ali, quando ela não tinha ideia de onde estava indo, se
mostrava mais aliviada do que a momentos antes, diante do homem que se
dizia seu marido.
— E então? — questionei.
— O engraçado é que eu nunca fui uma pessoa de sorte, então não sei
por que realmente acreditei que no amor seria assim.
— Por que acha que nunca foi uma pessoa de sorte? — perguntei,
tentando deixá-la mais à vontade para prosseguir.
— Não, não era isso, mas era difícil para mim, aceitar que meus pais
não voltariam, então eu fugia e fugia sempre para o mesmo lugar, de novo e
de novo até que… um dia simplesmente desistiram de me adotar.
— E por que está fugindo do seu marido se ele era tão maravilhoso
assim? — voltei a perguntar.
— Srta. Kiara não te trouxe aqui para isso — afirmei vendo seus
dedos finos passarem pelos botões da camisa, abrindo como havia feito com
o colete.
Mas então Kiara virou de costas para mim e baixou sua camisa até
embaixo, revelando uma cicatriz em forma de H. Travei os dentes com ódio
ao ver aquilo. A voz de Kiara saiu fraca quando disse:
Fechei minha mão em punho ao ver ela marcada como um gado, com
a inicial de seu dono, a letra cravada em sua pele branca e perfeita.
Imaginava como aquilo deve ter sido doloroso para Kiara, que me
parecia tão pequena e frágil comparada a mim.
Ela se virou de frente para mim e ela estava com sua camisa aberta
mostrando sua barriga e seios sustentados por um sutiã preto tomara que
caia.
E a única coisa que passava por minha mente é que eu tive o filho da
puta, tão perto de mim e tinha deixado escapar ileso.
— Essa ele achou que valia um colar e essa aqui, uma viagem — ela
disse mostrando outras cicatrizes — Então Sr. Cas se o que o senhor quis
dizer com Maravilhoso, for uma vida de fartura e riqueza, então sim eu
tinha um marido maravilhoso — Ela falou voltando a abotoar sua camisa.
— Mas eu prefiro viver miseravelmente, a voltar para aquela casa — Kiara
disse pegando seu colete. — Pode deixar que eu peço um táxi para ir
embora — disse saindo.
Eu não a impedi que saísse, nem fiz qualquer comentário sobre o que
havia me contado, apenas fiquei ali parado analisando todas as informações
que ela tinha acabado de me mostrar.
Pelo monitor das câmeras de segurança pude ver Kiara entrar no táxi
quase vinte minutos depois e meus homens a seguirem em seguida.
— Deixa eu ver se eu entendi, no dia do encontro com Soares, uma
louca entrou no seu carro, fingiu ser uma garota de programa, quando na
verdade, era a mulher de um cara podre de rico, certo? — Meu amigo
perguntou e eu confirmei.
— E me diz, por que está fazendo isso? — Ivan perguntou por eu ter
pedido um relatório completo sobre Kiara e seu ex-marido.
Olhei para ele frustrado, pois era uma pergunta que nem mesmo eu
saberia responder.
— Qual é! É só uma garota entre muitas que apanha do marido e daí?
Daqui a pouco ela está voltando para ele implorando por uma chance de ter
todo o luxo de volta.
— Pode ser! Eu só quero garantir que se ela voltar será por vontade
própria.
— Cas… você precisa parar com isso, já não basta a encrenca que
você se meteu…
— O quê? Vai me dizer agora que ela é pura? Que é inocente? Será
que você não vê a semelhança das duas.
Peguei meu celular e fui dar uma pesquisada nas cidades vizinhas,
uma que eu não precisasse de documentos para ir, mas que não ficasse tão
perto.
Levantei horas depois e resolvi ligar para minha amiga para lhe
contar que havia tido um incidente e por isso não pude ficar na festa.
Peguei novamente o celular tentando ligar para ela, mas mais uma
vez só chamou e logo em seguida recebi uma mensagem sua.
*MIRA*
*KIARA*
* MIRA*
*KIARA*
— Acho que ela não está muito bem, avisou que não vem hoje.
— O quê?! Roger isso não é justo, vou ter que trabalhar em dobro —
reclamei.
— Então sugiro que comece logo! — ele disse já de costas para mim.
— Fale Roger!
— Roger essa Sra. Sempre fica hospedada aqui e a Mira me disse que
ela tem esse hábito de pegar produtos para levar para casa, ela pode…
Passamos correndo por uma praça, que estava vazia, a todo momento
olhava para trás, vendo um deles tentar me alcançar, mas eu estava com
uma pequena vantagem e não ia me deixar ser capturada pelos homens de
Heron.
Pulei o pequeno muro que dava para uma rua sem saída e fui
encurralada por seu parceiro que estava de carro.
— Por favor, me deixem ir, eu vou desaparecer, eu juro! Diz para ele,
que não contei a ninguém.
Fui jogada para dentro do carro e ele entrou se sentando ao meu lado,
as portas foram travadas e meu destino selado.
Enquanto passávamos por uma rua lateral a minha antiga casa, que
ainda estava em chamas, pude ver Cas caminhar pela calçada, molhado,
como no dia em que eu o havia encontrado.
— Por que eu? O chefe não vai gostar nada disso — ele falou.
— Por favor…— pedi e ele bufou abrindo a porta e descendo.
— Não diga a ele o nome tá bom, eu mudo o nome dele — falei com
medo do que Heron pudesse fazer com ele.
“Chefe?!”
Minha mão foi até a parte de trás de meu blazer, em busca de minha
arma, mas me detive me lembrando estar na empresa.
Olhei para minha secretária que observava tudo sem entender nada,
segurando sua agenda sobre o peito como se estivesse com medo.
Ele deu um peteleco em meu cartão, dando risada, mas eu podia ver
as veias de seu pescoço se elevarem.
— Seu irmão mais velho, qual é mesmo o nome dele? — ele estalava
os dedos fingindo pensar — Sim, é verdade, Boris.
— Boris, embora tenha sido pego em uma operação com 300 quilos
de cocaína, saiu milagrosamente ileso no dia seguinte — Heron disse um
pouco mais alto se baixando bem próximo a mim.
— Oi, quero você na minha sala e quero tudo sobre Heron, agora
mesmo! — Ordenei.
E eu quis esganá-lo.
— Que merda Cas! — ele disse puxando minhas mãos de sua roupa
— É só uma garota porra! Você nem a conhece direito.
— Não é pela garota! Ele veio aqui, zombou da minha cara e você
quer que eu dê o que ele quer?!
— Não! Teve uma razão para ele me mandar aqui para Inglaterra, me
ver bem longe — falei voltando a admirar a paisagem do lado de fora me
lembrando de meu irmão.
— Ele não pode te afastar para sempre, Cas — meu amigo falou.
Eu sorri desgostoso.
Ivan era o único com quem eu conversava sobre aquele assunto, sabia
que todos os outros me julgariam pelo que eu havia feito.
Todos haviam virado as costas para mim e os poucos que não tinham
feito, eu havia levado junto comigo.
— Chefe?!
Fiz uma breve pesquisa, e não foi difícil encontrar as pessoas certas
que se encaixam em meu plano.
— Sim! Aquele cliente de hoje cedo, Heron, ligue para sua secretária
e agende com ele um almoço no restaurante Louise Flomione com o Juiz
Theodore.
— Mas então por que temos que marcar com o Sr. Heron se ele já
sabe? — ela perguntou voltando.
— Sim senhor!
Odiava escutar meu sobrenome, mas ali até que me trazia certa
satisfação.
— Ah? Caramba, olha minha indelicadeza, isso era uma reunião né?
Não se preocupem, vou deixar vocês comerem em paz, só vou trocar meia
dúzia de palavras com meu amigo aqui — falei puxando Heron.
Eu não sabia dizer se era Cas que tremia de frio em meus braços ou
se era eu que tremia de medo.
Será que deveria? Algum dia pararia de tremer e temer diante dos
ataques de fúria dele? Eu duvidava.
Parecia que ainda sentia sua mão pesada sobre meu corpo, me
fazendo encolher apavorada, e eu tentava imaginar qual seria o pior que ele
poderia fazer para me castigar.
O alívio que senti foi tão grande e repentino que cheguei a me seguir
zonza.
— Srta.?! Você está bem? — o homem ao meu lado perguntou.
— Vamos Srta. Kiara — ele disse abrindo a porta do carro para mim,
e eu assenti com um sorriso.
— Não podemos deixá-la aqui Srta. Kiara, o chefe deu ordens de que
a deixasse confortável até que ele chegasse.
— Bom, nesse caso, então eu vou ficar mais confortável com meu
gato — falei usando o que ele havia dito contra ele mesmo.
Ele olhou para seu amigo que deu risada e fez um sinal.
— Que seja! Depois não diga que não avisei. — Ele disse dando
sinal para que eu saísse do carro.
Na última vez em que estive ali reparei que ele gostava de móveis
frios, não havia quase nenhuma decoração, e as cores eram neutras e sem
vida, dando um ar um pouco sombrio ao lugar.
Ellie era baixa e usava óculos com lentes grandes e apesar de magra
tinha um rosto arredondado, ela vestia um uniforme marrom com branco e
tinha os cabelos presos em um coque no alto da cabeça.
Depois me servi de uma xícara de café e pão com queijo e bolo que
dividi com meu gatinho.
— Sim, fiquei sabendo que você trabalhou a noite toda, então seria
bom que tomasse um banho e descansasse um pouco.
Agora estava sem trabalho, sem casa, e absolutamente sem nada para
recomeçar.
— Venha, acho que conseguimos achar alguma coisa para você vestir
— Ouvi Ellie dizer.
Ela me levou a um quarto grande, com uma decoração tão fria quanto
a sala, mas sem dúvida muito mais confortável do que o pequeno quarto
que morei nos últimos meses.
— Acho que ele não vai se importar, né? — falei com Cas que já
havia se acomodado no pequeno tapete.
— Entre! — pedi.
Dei uma boa olhada no espelho, vendo a quão ridícula eu ficava com
aquelas roupas, que além de masculinas, eram o dobro do meu tamanho,
mas que eram extremamente confortáveis.
Acordei horas depois com meu gatinho miando sem parar, tentando
chamar minha atenção. O dia já tinha ido embora e eu havia dormido o dia
todo.
Procurei pelo quarto por minhas roupas, mas não havia nem sinal de
que alguém havia entrado ali.
— Tá! Tá bom, eu já entendi! — falei quando ele não parava de miar.
Passei pelo corredor que dava para a sala e Cas pulou de meu colo
para o chão, e saiu correndo na frente.
— Bem, depois de minha casa pegar fogo com tudo que eu tinha
dentro, eu aceitaria vestir a roupa até de um monge Sr. Cas.
— É isso você…
Atchim (espirro)
Atchim…
Atchim…
— O que…
Atchim…
Atchim…
— Desculpa! Eu não sabia que era alérgico — falei vendo Cas tomar
um medicamento.
Eu não tinha para onde ir, nem para quem recorrer, talvez se eu
implorasse Cas me permitisse passar a noite ali.
*KIARA*
Mira, você está melhor? Preciso falar com você, me ligue quando
puder
Era a única coisa que eu podia fazer depois de tudo que ele tinha
feito, mas Cas não se incomodou e apenas continuou a arrumar.
Meus olhos ardiam por conta das lágrimas que ameaçavam cair e
minha garganta parecia se secar.
— Não causou!
— Acha que foi Heron que causou o incêndio a sua casa? — Cas
perguntou.
— Não, ele não tinha como saber onde eu estou.
— Como…
Saí da mesa sem lhe dar qualquer explicação, precisava ligar para
minha amiga, ela não havia me atendido o dia todo e apenas respondeu uma
mensagem de forma estranha.
Não! Não! Não podia ser! Ela tinha que estar bem!
— Kiara! Se acalme, por que acha que pode ter acontecido algo com
sua amiga?
— Eu preciso ver como ela está! — falei tentando passar por ele.
— Jura?! — perguntei
— Juro! Agora volte a comer sua comida — ele falou apontando para
a sala de jantar.
Voltei a me sentar na mesa, mas sem apetite para voltar a comer, mas
confiante que Cas me levaria até Mira depois.
Cas era mais velho que eu uns doze anos talvez, claro que não seria
indelicada em perguntar sua idade, mas chutaria uns 37 anos, ainda assim
me chamar de menina seria um exagero já que tinha 25 anos, porém decidi
não comentar aquele detalhe.
— E depois?
— Roger o idiota do meu gerente disse que iria descontar meu dia só
por causa de alguns produtos que faltaram em um dos quartos, então
mandei ele ir se foder! — falei irritada ao me lembrar da cena demais cedo.
Cas começou a rir e eu fiquei surpresa com sua risada, então comecei
a rir também, mas de repente ele parou me encarando e achei que havia
feito algo de errado.
— Ainda não tinha te visto sorrir — ele disse sério — consegue ficar
ainda mais bonita quando sorri, srta. Kiara.
"O quê? Quando? Como ele sabia onde ela morava? Como conseguiu
encontrá-la tão rapidamente?"
— Meu segurança ligou para seu gerente idiota e não foi difícil
convencê-lo a passar o número dela e como ela não conhecia o número
atendeu sem problemas.
Não contei a ela sobre a demissão, nem que eu não poderia mais
voltar, provavelmente Heron me procuraria por lá.
Kiara era jovem, bonita, tinha a vida inteira pela frente, que estava
sendo desperdiçada.
— Heron vivia dizendo que se eu fugisse não iria a lugar algum, que
estaria ilegal no país, e que…— ela parou de falar de repente como se
sentisse vergonha do que diria.
— Mas Roger…
— Aquele filho da…— ela xingou — Então, quer dizer que eu posso
voltar para os Estados Unidos? — ela disse quase sem acreditar.
Kiara havia perdido tudo, estava sozinha, sem dinheiro, sem casa,
sem trabalho, tirar novos documentos, exigia tempo, dinheiro, coisas que no
momento ela não tinha.
— Isso quer dizer que poderei ficar essa noite? — ela perguntou
contente já sabendo a resposta.
— E para onde mais iria uma hora dessa e nesse frio? — Perguntei
sem encará-la, dando atenção ao meu whisky.
Claro que o frio dali, não se comparava ao frio do sul da Rússia, onde
eu havia passado boa parte dos últimos anos.
— É, na verdade tinha, mas resolvi ficar e ver o que iria fazer — ele
respondeu, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
— Cara, o que você está fazendo? Vai mesmo querer arrumar
encrenca com um procurador-geral, por causa de….
— Qual é o seu problema com essas garotas? Já não basta tudo que
aconteceu com Laila?
— Não compare Kiara com Laila, elas são muito diferentes uma da
outra.
Depois de tudo, Boris não falou mais comigo por 5 anos inteiros.
Ele assumiu a liderança, após a morte de nosso pai e deu ordens para
que eu fosse cuidar dos negócios da família do outro lado, no sul da Rússia,
onde eu era tratado como um leproso, claro que ninguém ousava
desobedecer a minhas ordens, ou falar em minha cara o que realmente
pensavam sobre mim e eu estava cagando para aquilo.
Que se dane!
— Não deixe que aquilo — meu amigo disse apontando para onde
Kiara havia entrado para ir dormir — estrague tudo.
Respirei fundo aquela umidade fria que a brisa trazia de fora e dei
mais um trago em meu charuto.
Sabia que minha mãe nunca teve uma vida feliz, prometida em
casamento ao meu pai, em uma aliança entre as famílias, ela nunca soube o
que realmente era amar
— Você é a única coisa boa que tenho na vida — era o que ela
sempre me dizia.
E parecia que ainda podia ouvir sua voz triste e serena, cantando suas
canções pela casa, mesmo quando meu pai a criticava.
Ela era a criatura mais doce e meiga que já havia conhecido na face
da terra.
Ela nunca se queixou das traições, ou das humilhações que meu pai a
fazia passar, nunca a vi chorar em minha frente, mesmo que eu soubesse,
por ver seus olhos inchados.
Ela deu um sorriso fraco, passou a mão no meu rosto como sempre
fazia.
— Não, meu querido! Eu só quero que saiba que você é a única coisa
boa que tenho nessa vida!
— Bom, então deixe-me ser mais claro. Ontem uma funcionária sua
pediu demissão após ser ameaçada de ter um dia inteiro de trabalho
descontado de seu salário, por um possível erro, correto?
— Não, sr. Roger, Kiara nunca mais irá precisar trabalhar nessa
espelunca que vocês chamam de hotel! — falei vendo o homem se indignar.
— Escute aqui…
— Ah, e Sr. Roger! Espero não ter que voltar aqui — falei ao me
despedir dando uma boa apertada em sua mão.
Roger saiu tão rápido da minha frente que parecia ter o próprio diabo
em seu encalço.
— Uma moça chamada Kiara, vai vir aqui e quando ela chegar, quero
que a mande direto para minha sala, ok?! — Orientei, minha secretária.
Ele olhava para mim, com ódio no olhar e dentes trincados enquanto
lutava contra a dor de ter mais um dedo arrancado.
Fiquei ali sentado vendo suas mãos sangrarem, ele hiperventilava,
ofegante com a cabeça baixa.
— Ryou vai matar todos vocês — ele disse em sua língua com um de
meus homens com sua tantō em seu pescoço.
— Pare de ficar flertando com Aldrey! — falei assim que Ivan entrou
e fechou a porta.
— Eu? Jamais faria isso, só pedi um pequeno favor a ela já que você
não me disponibiliza uma secretária.
— Você não precisa de uma, já que não faz porra nenhuma aqui!
— Sim, digamos que Ryou terá uma cabeça a mais para pensar—
falei sério jogando meu celular sobre a mesa — já tentei pensar em uma
forma de acabar com esse inferno e mandar esses filhos da puta para casa,
mas não consigo achar uma saída — falei colocando a mão na cintura e
olhando a paisagem lá fora.
— Você sabe que a única forma de matar a cobra é cortando a
cabeça!
— Não quando essa cobra tem mais de uma cabeça, matar Ryou seria
declarar guerra contra os japoneses, não só os que estão aqui. — falei me
virando para ele — e isso seria um erro gigantesco nesse momento.
— Bem, seja como for, tenho certeza de que você vai dar um jeito. —
Ele falou se levantando.
Ivan se virou para sair, mas parou ao notar a nova mesa em minha
sala.
— Sim!
— Não seja tolo! Ela só irá trabalhar aqui no começo para que eu
possa ensiná-la.
— Sei o que você está querendo ensiná-la — ele disse fazendo um
gesto obsceno.
— Não ligue para ele, ele só está nervoso porque sua garota o
colocou de castigo — eu o ouvi dizer para minha secretária.
Mas aquela sensação não durou por muito tempo, eu logo me peguei
pensando em como havia sido burra permitindo Heron me manipular
daquela maneira, tinha sido uma tola todo aquele tempo, deixando que ele
jogasse sobre mim aquela baboseira psicológica me prendendo só pelo
medo.
— É acho que ele tem razão — falei comigo mesma notando que
realmente precisava escovar os dentes depois de uma noite inteira de sono.
— Caramba, ele não brinca em serviço mesmo em! Mas não vou
reclamar, estou super ansiosa para começar a trabalhar — falei pegando
uma fatia de pão.
— Não sei! — ela disse dando de ombros — ele disse que deveria
procurar pela Brenda e que ela saberia o que fazer.
— Eu em — falei estranhando.
Depois de ter tomado um café reforçado, pois não sabia como seria
meu dia de trabalho, eu e o motorista que se apresentou como Joe me levou
a uma loja no centro.
— É aqui? Tem certeza? — perguntei olhando o endereço no papel e
depois olhando para a loja de roupas femininas.
— Claro que não querida, o Sr. Cas me ligou pessoalmente hoje bem
cedinho e me deixou instruções de que eu deveria te ajudar a escolher
roupas adequadas para trabalhar em sua empresa.
“Ah, claro, Cas não queria que eu começasse trabalhar com aquelas
roupas simples, aquilo fazia sentido”
“Se eu tivesse que pagar por aquilo, certamente teria que vender
minha alma ao diabo” — pensei tirando-o rapidamente.
— Só? Mas o Sr. Cas disse que não tinha limite para gastos.
— Ele pode não ter, mas eu tenho, provavelmente terei que trabalhar
uma vida inteira para pagar essas poucas peças.
— Ah e por favor, você pode emitir uma nota? — pedi quando ela
começou a colocar as coisas na sacola.
Peguei a nota e o pacote com as roupas e sai, Joe ficou o tempo todo
na porta me esperando e quase não me reconheceu quando sai.
— Não! O Sr. Cas não precisa do prédio todo para administrar seus
negócios, ele só precisa de dois andares — ele falou enquanto entrávamos
no elevador do subsolo.
Aldrey me acompanhou até uma sala com uma porta grande e deu
uma leve batida.
Eu entrei na sala que certamente daria para fazer uma casa, ali dentro,
em uma mesa no centro havia uma grande maquete, no canto uma estante
com tubos de projetos, livros e pastas.
— Achei que nunca ia te ver surpresa com alguma coisa — ele disse
vindo ao meu encontro.
Cas deu risada alto e se escorou em sua mesa, me deixando sem jeito.
— Este aqui é o seu contrato, leia e depois assine, ainda não é nada
formal, pois você ainda não tem seus documentos, mas já entrei em contato
com nossos advogados e eles irão providenciar o mais rápido possível.
— Mas aqui tem três vezes mais o que eu ganhava! — falei surpresa
ao ver o valor do salário.
Mas quando olhei para ele, Cas apontava para a grande pilha de
papéis que estava sobre a outra mesa.
Me levantei e fui até sua mesa verificar o que ela via de tão
importante, que mal conseguia me dar atenção.
— Desculpe Sr. Cas, é que estou falando com um rapaz que está
procurando alguém para dividir uma casa, não muito longe daqui — ela
respondeu me fazendo estremecer e eu imediatamente tomei o celular de
suas mãos.
— Não deveria ser tão imprudente, sabia! Esse cara pode ser um
tarado! — falei levantando o braço para impedi-la de tomá-lo novamente.
— Eu não posso ficar na sua casa de favor! Não seria justo! — Ela
disse dando pulinhos, enquanto tentava pegar seu celular e eu ri de suas
tentativas frustradas, mas estava adorando vê-la tentar.
— Você pode me pagar um aluguel, o que acha? Assim não seria de
favor!
Kiara mais que depressa deu a volta em sua mesa e se sentou ao meu
lado.
Ela passava os olhos pela folha, suas mãos tremiam fazendo o papel
balançar.
— Não, Heron abriu uma queixa contra ela, ela não pode sair do país
enquanto não for julgada.
— Inacreditável! Você ainda tem alguma dúvida que essa garota será
uma pedra no seu sapato?
— Ele alega que ela roubou seu cofre antes de fugir — contei dando
mais um longo trago.
— Espero que saiba o que está fazendo — ele falou enfiando as mãos
nos bolsos e saindo me deixando mais nervoso do que eu já estava.
Capítulo 12
Sabia que ele não queria dividir sua casa com ninguém, e ainda que
quisesse com certeza não seria com alguém que não tinha dinheiro para
pagar nem o aluguel de seu banheiro.
— Tenho uma amiga que mora em uma pensão, posso ver com ela se
não tem um quarto vago.
— Não sei se meu dinheiro daria para pagar uma pensão — falei.
— Há eu posso conversar com ela, ela conhece bem o dono da
pensão, já ficou com ele algumas vezes, talvez ele aceite uma metade agora
e metade depois que você receber.
Meu primeiro dia havia sido corrido e eu agradecia aos Deuses por
aquilo, pois era difícil não encarar Cas a cada segundo vago que tinha no
meu dia e eu me perguntava o que estava acontecendo comigo.
— Não, Sr. Cas, isso não será necessário — recusei, pois ele já estava
fazendo muito por mim. — Seria um abuso da minha parte aceitar isso.
— Não, claro que não, eu posso muito bem ir de ônibus, não é tão
longe daqui.
A mera menção de seu nome foi o suficiente para fazer meu corpo
estremecer e eu achei que não conseguiria segurar as pastas que tinha nas
mãos.
Por quê? Por que eu era assim tão fraca e medrosa diante dele?
Porque eu não podia viver uma vida tranquila, sem que ele me assombrasse
a cada minuto do meu dia.
“Não, isso não, eu preferia morrer a ter que voltar para suas mãos”
— Você não precisa ir, eu vou com o Joe — falei desengonçada atrás
dele
O pacote com as roupas foi jogado para longe e eu nem sabia onde
um de meus sapatos tinham ido parar, algumas pessoas que ainda estavam
no andar me olhavam querendo rir, e “bem” não era a definição de como
me sentia naquele momento.
— Sim, eu estou… aí — reclamei sentindo uma fisgada de dor, ao
tentar ficar em pé
Suas mãos firmes e ainda assim cuidadosas sobre meu corpo. Engoli
em seco sentindo meu coração disparar com aquela sensação de excitação
crescendo a cada minuto dentro de mim.
Pior que eu nem podia dizer que era calor, já que o frio do inverno
começava a aparecer.
Cas ficou ao meu lado em todo momento em que era atendida pelo
médico.
— Isso foi uma torção de leve, uma faixa e um pouco de gelo e ficará
bem — o médico falou começando a enfaixar. — Tente não se esforçar por
uns três dias.
— Agora vamos para casa, você ouviu o médico dizendo que você
não deve se esforçar — Cas disse me ajudando a ir para o carro.
— Mas…
— Tudo bem, mas vou entrar com você. — disse abrindo a porta do
carro para que eu entrasse.
— Eu pretendia te contar…
— Vou falar outra vez para que dessa vez você escute e entenda de
uma vez por todas — Cas disse se aproximando de mim, fazendo meu
corpo inteiro reagir a sua aproximação — você não vai a lugar nenhum sem
mim Kiara, porque se Heron colocar as mãos em você novamente eu coloco
fogo nessa cidade para encontrá-lo, mas eu mato aquele desgraçado!
Kiara mancava de uma perna por causa da torção, ainda assim estava
linda, com um vestidinho social, que se moldava em seu corpo e uma
pequena bolsa lateral.
Eu não fazia ideia do que estava fazendo, Ivan tinha razão quando me
dizia que estava me deixando envolver, pela pequena baixinha de cabelos
curtos.
Eu não ia negar a atração que tinha por ela. Kiara era uma mulher
atraente, com um lindo rosto e um corpo que me tirava dos eixos. Mas, era
muito mais nova do que eu e eu jamais me aproveitaria da situação para tê-
la.
Não queria que ela pensasse ter qualquer obrigação por eu estar
ajudando-a.
Nunca fui um homem de impor minhas vontades sobre as mulheres,
muito diferente de meu pai, que havia sido casado quatro vezes e nenhuma
delas realmente o amaram.
— Cas, você tem certeza? Posso encontrar um lugar para ficar — Ela
disse toda sem graça, que achei a coisa mais fofa do mundo.
— E ficar preocupado se você está bem ou não? Não, você fica aqui!
Respirei fundo relutante. Não queria seu dinheiro, mas também não
queria que fosse embora.
Era difícil não ficar duro, quando eu andava tendo aquele tipo de
pensamentos.
Desliguei a ducha, puxei uma toalha que estava pendurada e sai ainda
molhado, tirando primeiro o excesso de água dos cabelos, quando ouvi a
voz de Kiara sussurrando por meu nome.
Kiara.
— Cas! Seu gato levado, volte aqui. — Falei indo atrás dele, mas
cada vez que eu me aproximava ele volta a escapar. — Você não pode ficar
bravo comigo, por não te deixar entrar em casa, temos que agradecer a ele
por nos dar um teto, sabia? — Falei quando ele subiu em uma árvore. —
Ah, não! Desça já daí. — Ordenei brava.
— Pelo visto ele não está feliz com você — O segurança de Cas,
Nion, falou tragando um cigarro.
Antes que eu pudesse terminar Cas, pulou por uma janela aberta,
entrando na casa.
Cas entrou em um dos quartos, que a porta tinha uma pequena fresta
aberta e meu coração quase saiu pela boca ao notar ser o quanto de
Cassiano.
Olhei para um lado e depois para o outro, então dei uma leve batida
na porta e depois outra quando ninguém respondeu.
“Ótimo ele não estava ali, era só eu entrar, pegar o gato e sair,
rapidinho que ele nem iria perceber” — pensei abrindo a porta bem
devagar, conferindo se realmente o quarto estava vazio.
O quarto era enorme, e tinha uma estante com livros que se parecia
com uma minibiblioteca, uma enorme cama no centro do quarto e um canto
com sofá e mesa.
— Seu gato? Achei tê-la escutado chamar por mim — Ele falou e eu
disfarçadamente olhei vendo que ele havia se enrolado na toalha.
Olhei seu peitoral ainda com gotas de água, e seu braço coberto por
tatuagens que iam até o pescoço e comecei a me sentir, como se estivesse
dentro de uma fogueira e eu não duvidava, pois iria direto para o inferno
com os pensamentos pecaminosos que surgiam em minha cabeça.
— Não, é que… — Naquele exato momento, o gato decidiu aparecer,
miando e se esfregando em minhas pernas, como se pedisse desculpa.
Levei Cas, o gato, para seu lugar e voltei para meu quarto, quando
entrei havia várias sacolas sobre a cama, quando fui verificar, eram roupas
de variados tipos.
Abri o mesmo sorriso de sarcasmo que o dele andei devagar, igual ele
quando tentava me intimidar e sussurrei do jeitinho que ele havia me
ensinado.
Dei uma boa olhada nas roupas que Cas havia comprado para mim, e
agradeci por poder ter opção para vestir.
Depois daria um jeito de pagar a ele tudo que havia sido gasto.
A verdade é que ainda doía, mas não queria que Cas se preocupasse
com aquilo, não quando ele já havia feito tanto.
— Sente-se Kiara! — ele ordenou sério que não tive como rebater.
Andei devagar até o sofá e mais uma vez Cas foi verificar meu
tornozelo e aquela sensação familiar voltou a me consumir assim que senti
o contato de nossas peles.
Cas parecia alheio ao que eu sentia, e alcançou um vidro de óleo que
já estava preparado e começou fazer uma deliciosa massagem em meu pé,
focando principalmente no tornozelo ferido, tomando todos os cuidados
para que eu não sentisse dor.
Seu dedo se deslizava por causa do óleo, sobre minha pele, fazendo
movimentos circulares com o polegar, trazendo uma sensação de prazer que
eu mal conseguia controlar. Era extremamente satisfatório sentir a leve
pressão que ele fazia para massagear a carne.
Cas usou uma faixa para enfaixar o tornozelo, e quando fiz menção
de me levantar ele não permitiu.
Tive leve impressão de ter sido levantada, mas estava tão cansada
que não abri os olhos para ter certeza, apenas me agarrei a algo quente e
voltei a dormir.
— Uma barra de ferro que estava solta, mas já dei um jeito nela.
— Boa noite Cas. — falei sem responder sua pergunta, mas com um
sorriso travesso nos lábios.
Voltei para cama, pensando naquele homem, que nos últimos dias
tinha tomado conta de meus pensamentos e logo voltei a dormir.
— Aonde você vai tão cedo? — ela perguntou colocando meu café e
eu não reclamei, pois estava realmente atrasada.
— Cedo? Eu estou super atrasada — disse com a boca cheia. —
Tenho que ir trabalhar.
— Eu acho que não, o Sr. Cas disse que você tinha que ficar em casa
hoje se recuperando do pé torcido — ela disse apontando para baixo.
— O Sr. Cas é meu patrão, e não meu pai, eu não posso faltar no meu
segundo dia de trabalho ou todo mundo vai achar que ele está me
privilegiando.
E faltar no segundo dia daria muita coisa para eles falarem nas
minhas costas.
Via que Kiara se esforçava para não demonstrar estar sentindo dor,
então esquentei sua comida e levei para ela no sofá.
Eu não esperei que ele terminasse para sair pela porta dos fundos,
fazendo sinal para alguns de meus homens, que estavam de segurança ali na
mansão aquela noite.
— Três, chefe.
— Descubra quantos eram e a mando de quem eles vieram. —
Ordenei.
Segurei o pano que Nion limpava o ferimento e fiz sinal para que Ele
nos deixasse a sós.
— Sei que acha que isso é minha culpa — falei suspirando fundo.
— Eu falei desde o começo que aquela garota era um problema. Mas
você quis me ouvir? Não! Você simplesmente quis fazer suas vontades —
Ele falou irritado.
Ivan era o que eu tinha mais perto uma de família depois de tudo que
havia acontecido.
Ainda não havia declarado aquilo abertamente, então para meu irmão
eu ainda estava sob seu comando.
— Vamos mostrar para esse filho da puta o que acontece com quem
mexe com nossa organização. — falei me levantando.
Apesar de tudo que lhe tinha acontecido, Kiara ainda era muito
ingênua, e tinha acreditado exatamente em tudo que eu lhe tinha dito e
quando acordei no dia seguinte para ir para a empresa deixei ordens de que
ela devia descansar aquele dia.
— Evento? Que evento? O senhor havia dito que não iria. — Ela
falou nervosa se levantando desajeitada.
— Nada! Só que nada. Vou tentar fazer isso agora mesmo — falou
saindo. — Ah! Senhor Cas, qual o nome de sua acompanhante?
— Kiara.
— Sim, mas como você é meu patrão e não meu pai, eu decidi vir
assim mesmo. — Ela falou sem me encarar.
Kiara engoliu em seco e levou sua mão a minha, mas sem retirá-la se
seu rosto.
Ivan deu uma olhada para dentro vendo Kiara deitada em minha
cama e eu fechei a porta para que ele não pudesse mais vê-la.
— Ele está trabalhando com eles? — perguntei vendo uma das fotos
onde ele apertava a mão do filho do chefe da yakuza.
— Aparentemente o ex da sua nova namoradinha, não é só um
procurador-geral, é um procurador corrupto.
Claro que aquilo não era novidade para mim, sabia que Heron era
corrupto, mas não esperava que ele estivesse trabalhando justo com a
yakuza.
— Acha que vai esconder isso dela até quando? — Ivan disse baixo.
— Ela irá saber no momento certo. Agora quanto a Heron, ache um
hacker e vaze essas informações, ele irá não somente perder a credibilidade
como procurador como também estará com dificuldade com os japoneses.
— Será por enquanto, ele irá precisar se manter cauteloso, vai esperar
a poeira baixar e enquanto isso poderemos ganhar força, coisa que não
temos por enquanto.
Não era atoa que ele era tão rico, não era só por ser procurador, ele
deveria estar trabalhando com máfia japonesa há muito tempo.
Não, com certeza não. Eu ainda não entendia por que Boris não havia
me matado, talvez no fundo do jeito dele, ele ainda me amasse como seu
irmão.
Fui ao quarto onde Kiara havia voltado para dormir, tirei minhas
roupas e me deitei ao seu lado e ela se aconchegou ronronando como uma
gatinha e eu a puxei para mim, cheirando seu cangote.
— Hummm…
— Você esgotou com o meu último fio de energia, terá que trabalhar
sozinho — Kiara falou com um sorriso e eu a puxei com força a fazendo
sentar em meu colo e ela soltou um gritinho rindo.
Ela passou as mãos pelo meu pescoço e senti umas fisgadas quando
ela sem querer se apoiou sobre meu ferimento, mas eu não parei, continuei
a golpear sem parar, tentando a sustentar pela bunda, logo Kiara me ajuda
com os movimentos, rebolando e gemendo. Quando senti meus braços
cansarem, voltei deitá-la sobre o colchão impulsionando meu corpo sobre o
dela, sentindo nossas pélvis se chocarem.
Peguei meu celular em cima do criado mudo, vendo que ainda eram
7:30 da manhã.
Era muito cedo e eu nem tinha feito minha higiene bucal, e tentava
dar uma ajeitada nos cabelos com os dedos.
“Meu Deus, como aquele homem conseguia mexer tanto com minha
libido? Um simples toque de suas mãos eram o suficiente para despertar um
vulcão dentro de mim”
O dia pela época do ano estava frio e eu agradecia por estar em uma
casa com aquecedor, já que a última eu não sabia se fazia mais frio dentro
ou fora.
Ela olhou para a porta e depois voltou a olhar para mim, o que me fez
estranhar.
— Não, senhorita Kiara — Ela falou tão formal que me fez parar,
mastigando bem devagar tentando entender o que se passava ali.
“Que tipo de palhaçada era aquela? Ela estava zoando com a minha
cara?” — pensei franzindo a testa.
Joe me olhou irritado em ter que fazer um serviço tão inferior, mas eu
não dei importância e esperei que ele saísse.
— Ah, então é por isso que você não tem me procurado, né seu
traidor? — Eu o acusei e ele miou em resposta. — É assim que você me
agradece, depois de tudo que fiz por você? — falei o pegando no colo. Eu
deveria ter te deixado lá na chuva, sabia?
— Alô! Mira?
— Kiara! Mulher por onde você anda? A dias não falo com você, eu
estava preocupada. Fiquei com medo de ligar e…
Mira era a única amiga que eu tinha ali, a única que eu ainda podia
contar, claro que tinha Solange e Mídia, mas a anos não falava com elas,
não desde que Heron tinha as ameaçado.
— Eu vou trabalhar hoje, mas acho que podemos tomar um café
antes, o que acha? — ela sugeriu.
— Seria ótimo!
Rico olhou para seus homens e depois voltou a olhar para mim com
um sorriso que eu não gostava.
— Do mesmo jeito que eu, não vai. Se você quiser fechar o negócio,
o acordo é esse! — Afirmei — Você traz a mercadoria, eu pago um terço
antecipado, e o restante quando eu estiver com o produto em mãos, caso
contrário irei procurar quem queira. — Falei perdendo minha paciência.
Rico nos levou a uma mansão onde tinha som alto, várias pessoas
bebendo e se drogando, mulheres pulavam nuas na piscina enquanto outras
eram fodidas abertamente.
Ele nos levou até um escritório. No centro tinha uma mesa de vidro
com carreiras de cocaína e um homem sentado no sofá com uma loira
sentada em seu colo gemendo enquanto cavalgava em seu membro, do
outro lado da escrivaninha tinha um rapaz sentado, com o rosto tatuado,
dava para ver os pés de uma mulata que estava ajoelhada enquanto fazia
sexo oral nele.
Juan foi até eles e empurrou a mulher, fazendo ela cair do colo do
homem que se assustou.
— Se mandem daqui! Não estão vendo que temos visita? — Ele
gritou, fazendo os dois se levantarem apressados e saírem.
O fato era que aquela carga não era para os Bratvas era para nós,
nossa própria organização, iríamos tomar o espaço que havíamos
conquistado em nome do Bratva.
— Uma que você vai gostar… não — ele se corrigiu — Uma que
você precisa saber.
Olhei desconfiado para Ivan e depois voltei o olhar para Juan e mais
uma vez aquele olhar de uma pessoa sociopata e descontrolada está lá.
Fiz sinal para meus homens enquanto Ivan pegava o telefone para
confirmar aquela informação.
Cas
— Boris, irmão mais velho de Cas, mas por sua surpresa acho que ele
não havia mencionado — Boris disse indo até ela — E você é? —
Perguntou se sentando sobre os braços do sofá bem próximo a Kiara.
— Quê?
— Eu não posso dizer que não esperava por isso — Ele falou em um
tom debochado, mas eu não sabia se ele falava de Kiara ou dos planos que
eu tinha.
— Quis castigá-lo por ter se deixado levar, sim, te afastei por raiva,
sim, quis milhões de vezes te expulsar da organização, mas não fiz. — Ele
falou a última frase em um tom mais baixo, como se aquilo o inquietasse.
Boris era mais velho que eu e apesar dos cabelos negros ele já tinha
alguns cabelos grisalhos, ele nunca havia se casado ou tido filhos e eu
nunca questionei seus motivos. Ele era alto e forte, mas parecia mais magro
que o normal.
— Não sei onde você quer chegar — falei, mas eu sabia exatamente
onde Bóris queria chegar.
Ele havia descoberto que nós planejamos nos desmembrar dos Bratva
e eu não conseguia entender sua tranquilidade diante daquilo.
Boris estava ali para realmente se despedir, era um aviso do tipo que
a próxima vez que nossos caminhos se cruzassem estaríamos de lados
opostos da guerra.
Boris havia ido ali, somente para dizer que sabia exatamente o que eu
estava fazendo
Ouvir a porta abrindo e sem precisar me virar, sabia que era meu
amigo entrando, preocupado com o que havia acontecido.
— Então temos que nos preparar. Ele disse se vai mandar mais
homens? Ameaçou você?
Boris não estava errado quando disse que foi preciso fazer tudo
aquilo.
Quando matei meu pai, Boris assumiu como sucessor e como tal,
tinha como obrigação tomar as providências exigidas. E ainda assim, das
possíveis alternativas ele havia optado pela opção mais tênue e eu nem
imaginava o que aquilo poderia ter lhe custado.
Ser o chefe em uma organização não era tão fácil como muitos
pensavam.
Ela não chorava ou implorava por sua vida. Fria, com os olhos cheios
de ódio, ela me encarava engolindo em seco.
Minha cabeça deu uma volta e eu me senti tonta, senti minhas mãos
suando frio e meu corpo tremer ao me lembrar daquele dia.
— Quando eu era bem jovem, meu pai se casou com uma mulher. Já
era seu quarto casamento. — Ele revelou me surpreendendo — ela era nova
e bonita, poucos anos mais velha do que eu. — Ele começou a contar
alisando meu gatinho — Meu pai nunca foi um homem ligado a família, ele
vivia viajando ou em boates e eu e Laila acabamos nos aproximando mais
do que realmente deveríamos… — Ele hesitou por alguns segundos —
então quando meu pai descobriu já estava apaixonado por ela — Ele
confessou envergonhado.
“Então era por isso que ele nunca mais se envolveu com outra
mulher.”
“E por isso Boris havia dito que Cas gostava de mulheres casadas,
porque ele tinha roubado a mulher do pai”
— Não, Laila era uma mulher fria e manipuladora e faz muito tempo
que ela morreu, para mim.
Esperei que ele avançasse, que aprofundasse mais seu beijo, seus
toques, que mergulhasse em mim, mas não aconteceu, Cas me olhava com
chama nos olhos e estimulava meu corpo com uma suavidade torturante,
que ia me deixando cada segundo mais obcecada em tê-lo.
Levei minhas próprias mãos aos meus seios em busca daquela
sensação que me faltava e que sua ausência me consumia.
— Toque seus seios Kiara — Ele disse quando passei minha blusa
pelo pescoço e assim eu o fiz e quando meus dedos tocaram meus mamilos
senti o quanto eu estava sensível. Talvez inconscientemente eu gostasse
daquela situação. Ser observada por ele enquanto me toco, imagino coisas
sujas em minha mente que provavelmente nunca teria coragem de
expressar.
Ela estava relaxada sobre o colchão ainda afetada pelo orgasmo que
havia acabado de ter.
Fiquei parado por um instante vendo a marca que Heron havia feito e
então levei meus dedos sobre a cicatriz e senti Kiara estremecer com o
toque delicado.
— Sinto muito você ter que vê-la toda vez — Ela sussurrou.
Eu a abracei por trás beijando sua nuca, sentindo seu corpo nu
grudado ao meu de forma tão carinhosa.
— Não se desculpe por isso. Juro que nunca mais ninguém vai tocá-
la assim, Kiara, Juro por tudo que é mais sagrado… — Falei com uma dor
no peito ao pensar o quanto aquilo devia doer nela.
Lutava para segurar meu próprio prazer querendo vê-la atingir o dela
e só quando tive certeza de que Kiara havia alcançado seu ápice que
alimentei mais movimentos e gemi alto quando o orgasmo se aproximou,
conseguindo tirar no último minuto.
Estava esgotado, escorado contra seu corpo nu, ainda sentindo aquela
deliciosa sensação.
— Vou, mas estou com fome — disse dando outra mordida no pepino
fazendo barulho.
Eu fiz o pedido e fiquei a observando comer escorada no balcão da
minha cozinha, vestida com minha camisa com um leve sorriso nos lábios,
e uma sensação de calor se instalou em meu peito e eu não me lembrava
qual havia sido a última vez que tinha me sentido tão bem antes.
Caminhei até ela ficando bem à sua frente e ela enfiou a mão dentro
do pote e me ofereceu um pedaço e eu mordi me arrependendo logo em
seguida.
— Estava? — Estranhei.
— Kiara não é só sobre o caso que tive com minha madrasta — tentei
voltar ao ponto.
— Sim, e eu entendo isso, sei que tem muitas coisas que temos que
descobrir um no outro e vamos fazer isso com calma — Ela falou vindo até
a mim e pegando minha mão.
— Acho que não existe uma versão sua que eu não goste — Ela disse
com um sorriso tão lindo que fui incapaz de contrariá-la, por isso a puxei
para meus braços e voltei a beijá-la.
Então meu celular tocou com a notificação de um de meus homens
avisando que o motoboy havia chegado.
Kiara quis assistir um filme e mesmo eu não gostando fiquei com ela
até o final.
— Fora da cidade.
Uma aeromoça nos ofereceu um belo café da manhã que eu comi até
a última migalha, ainda me atrevi a roubar algumas batatas fritas de Cas.
— Já lhe disse que amo essas coisas — ele respondeu enfiando uma
porção de batatas na boca.
— Treino, eu acho.
— Pra onde vamos é mais frio, então coloque isso também — Falou
me entregando um par de luvas.
Ele estava bem agasalhado, mas como eu não sabia para onde
iríamos, Cas tomou o cuidado de se precaver por mim.
Eu aceitei e o segui por uma pequena trilha, que no final, dava início
a uma longa escada. Começamos a subir e parecia que nunca teria fim, eu já
me sentia cansada.
Ficamos ali por mais algum tempo e Cas me contou história sobre o
lugar.
— Como você sabe de tudo isso? — perguntei, pois Cas era russo.
— Eu sinto muito. — Falei sentindo sua dor, pois eu sabia bem como
era — Como ela... — Não consegui finalizar a pergunta e me arrependi de
ter começado quando notei o quanto aquilo o afetava.
Eu retirei meu casaco e me sentei em uma das mesas junto com Cas,
enquanto seu amigo se afastou e voltou minutos depois com uma bandeja
com duas canecas.
Eles eram um casal incomum, e ainda assim o amor dos dois era
visível e lindo.
— Esse homem aqui — Pastry disse para mim, apontando para Cas
— Ele é um completo maluco. Nós estávamos em uma missão…
— Pare de falar tanta besteira e traga mais disso aqui para nós — Cas
disse desconversando.
Pastry e sua esposa nos serviram uma deliciosa sopa de carne com
legumes no pão.
Eu queria ter ficado mais um pouco, mas Cas tinha razão, voar com o
tempo chuvoso não era bom, então nós nos despedimos do casal e voltamos
à pista de pouso.
— Hummm, bom dia. Pelo jeito o final de semana foi bom para
alguém. — Ela respondeu sorrindo e se levantando de sua cadeira.
— Você nem imagina…
— Que bom que você está de bom humor, porque vai precisar de
todo ele para suportar aquele ali — Falou apontando para sala de Cas.
— Eu não entendo como um homem tão bonito pode ser tão mal-
humorado — Disse mordiscando a tampa da caneta. — Como você
aguenta? — Ela perguntou me deixando confusa.
— Ei… escuta, Ele não vai mais sair dessa reunião? — perguntei a
Aldrey como se não quisesse nada, antes de sair para o almoço.
— O quê? Cas? Ele saiu, foi em um compromisso fora da empresa,
só volta mais tarde — Ela me avisou me deixando chateada.
— Jura? Que saco…— Aldrey me olhou confusa. — Que ele não vai
passar o dia inteiro fora, esse é o dia mais sossegado que já tive desde que
comecei trabalhar aqui — Disfarcei.
— Para mim está ótimo, queria mesmo sair para comprar umas
roupas novas — Falei pegando minha carteira.
— Confesso que fiquei preocupada quando você disse que não iria
poder ir para a pensão, e depois… bem teve aquele incidente…— Ela disse
desconfortável.
Apesar de minha mensagem ter chegado para ele, Cas não visualizou,
então eu e Aldrey pedimos nosso almoço e só quando estávamos quase
terminando que recebi sua mensagem de volta.
*Cas*
Eu suspirei frustrada, pois esperava que ele fosse voltar logo, mas
pelo que parecia ele ainda iria demorar.
*Kiara*
*Cas*
Eu escolhi um conjunto lindo com pedrarias e tiras que achei que iria
ficar perfeito em meu corpo e que iria combinar muito bem com o vestido.
*Kiara*
Jamais faria tal coisa, apenas estou tendo ideias do que precisaria
fazer para tornar seu dia mais satisfatório
Quase duas horas depois eu olhei meu celular para ver se ele havia
respondido, mas não havia nenhuma notificação, então voltei a colocar o
celular sobre a mesa virado com a tela para baixo e me encostei na cadeira
de braços cruzados.
*Kiara*
— Eu estou de acordo com você Cas, sabe bem disso, mas ter aliados
nesse momento seria bom para nossa organização.
Uma leve batida soou na porta e Kiara entrou em seguida. Ela estava
linda como sempre, mas nem consegui lhe dar a devida atenção.
— Ah, Juan vai dar um jeito? Sério? E como ele vai fazer isso? Vai
roubar os japoneses? Me diga onde ele vai conseguir 300 quilos de cocaína
ainda hoje? — Perguntei puxando seus cabelos.
— Cas eu não sei, mas ele vai dar um jeito só nos de um tempo.
— Cas, não, não faça isso, Juan nunca te dará as drogas se você fizer
isso…
— Me dar? Me dar? Quem disse que Juan tem que me dar alguma
coisa? Cansei de bancar o bonzinho, hoje eu vou pôr fogo nessa cidade e
vou tomar o que é nosso por direito! — Eu falei e meus homens urraram
animados. — Você já conheceu a água, sabe qual o próximo elemento Rico?
— eu perguntei, mas antes que ele respondesse, Ivan colocou um saco
plástico em sua cabeça o privando de respirar.
— Cas… por favor… — Ele pediu, mas eu não fiquei mais ali para
ouvir, sai dando sinal para que meus homens continuassem.
*KIARA*
*CAS*
*KIARA*
“Jamais faria tal coisa, apenas estou tendo ideias do que precisaria
fazer para tornar seu dia ainda mais satisfatório”
Comecei a digitar uma resposta, mas logo fui interrompido, pois mais
homens chegaram trazendo nossas armas para a distribuição e eu começava
a delegar a função que cada um teria no ataque, já que não iríamos atacar
somente um lugar.
*Kiara*
— Sem dúvida.
Meu pau quase não cabia dentro da calça de tão duro e chegava doer,
e eu ensinaria uma boa lição para Kiara quando eu chegasse.
Kiara
Quando Cas não respondeu à mensagem, eu decidi ir tomar um café
na recepção.
— Ah, é um prazer.
— Acho que isso não é coisa que se fale na primeira vez que
conversa com uma mulher, senhor Lucas — falei ainda em tom de
brincadeira, mas tentando que ele entendesse que estava tomando o
caminho errado.
— Me des…
Meu Deus, Cas nunca havia falado comigo daquela maneira, o que eu
havia feito de tão errado? Será que foi por causa das mensagens? Pensei.
— Já que gosta de andar sem calcinha, acho que não vai precisar
disso — Cas disse levando as duas mãos na lateral da minha calcinha e
puxando com força, estourando o tecido com facilidade.
— Não? Então por que parecia que ele estava dando em cima de
você, pequena mentirosa? — Ele grunhiu em meu ouvido. — Sabe como
fiquei furioso vendo você sorrir para ele enquanto ele babava sobre você?
— Ele disse aumentando seus movimentos me fazendo segurar na torneira
para não gritar.
Cas tirou e voltou a colocar duro e rude como tinha avisado que seria,
mas eu não reclamava, apenas gemia sentindo meu corpo tremer com cada
investida.
Sua mão foi a minha boca abafando meus gemidos e suas investidas
aumentava a cada instante.
— Como vou trabalhar agora sem meias, sem calcinha e com porra
escorrendo entre as pernas? — falei vendo meu estado deplorável no
espelho.
— Eu não tenho mais idade para essas coisas, pequena — ele disse
me virando e me abraçando.
Ivan não entrou em detalhes e eu não achei certo especular sobre sua
vida pessoal.
— Não, me desculpe minha linda, mas não irei para casa hoje, surgiu
um imprevisto e eu terei que sair da cidade para resolver…
“Que merda! Ela não podia ficar chateada comigo por causa de uma
única noite que não pude passar com ela, aquilo não estava certo, Kiara
tinha que entender que eu era um homem que tinha muitas
responsabilidades”
— Você tem 30 minutos para fazer isso, ou todo nosso plano estará
perdido, acha que consegue? — Perguntei.
Eles não tinham uma boa visão de onde estavam e não conseguiam
nos localizar, já nós, tínhamos uma visão privilegiada deles iluminados
pelos faróis de seus próprios carros.
— Na verdade, não vou não — falei apontando uma arma para sua
cabeça o fazendo ajoelhar. O farol de um carro foi aceso para nos iluminar
melhor e eu continuei — Roubou nosso território, nossas drogas e matou
nossos homens, então me dê um único motivo para deixá-lo vivo — Falei
em voz alta.
— Dou a minha palavra que se o poupar ele nunca mais lhe causará
problemas — Seu pai garantiu assistindo à cena pelo celular que meu
soldado segurava.
Meu soldado saiu das trevas, chegando bem perto de Ryou para que o
pai visse com clareza.
— Pai! — Ryou se surpreendeu.
Aquilo era uma verdade, por mais vergonhoso que fosse para eles
perderem uma batalha, eles acreditavam ser ainda mais desonroso
descumprir uma promessa.
— Ok, vou confiar em sua palavra e vou mandar seu filho inteiro.
Embora acredite que não continuará assim por muito tempo — Sussurrei a
última parte no ouvido de Ryou, por causa de suas tradições — E espero
que se lembrem da minha generosidade, pois não acontecerá novamente. —
Falei e meu homem desligou a chamada.
— Meu pai pode esquecer o que aconteceu aqui, mas eu jamais irei
me esquecer — Ryou disse antes de ser levado.
Apesar de a yakuza ser uma máfia fria e cruel, honra e lealdade eram
algo sagrado para eles, o que me deixava com a certeza de que seu líder, iria
cumprir sua palavra.
Na sala de jantar tinha uma mesa preparada para dois com vinho e
luz de velas e ela dormia no sofá do lado da taça ainda meio cheia. Suas
sandálias de salto estavam em um canto e ela ainda vestia o vestido
vermelho que tinha comprado para me provocar.
— Não ligo… juro que não ligo… — Ela murmurou ainda dormindo.
— Sei que liga, e me doeria se não ligasse, mas estou aqui agora
minha menina, só para você e prometo te recompensar amanhã — Prometi
lhe pegando no colo e levando para o quarto.
Tirei sua roupa vendo que ela tinha uma lingerie sensual por baixo do
vestido, mostrando o quanto tinha se dedicado aquela noite, e me senti
culpado por aquilo, mas sabendo que não tinha como evitar. Então a vesti
em uma camiseta minha, para que dormisse mais confortável e me agarrei a
ela beijando seu pescoço.
— Sim, eu juro…
Capítulo 29
Havia preparado tudo para uma noite romântica, não somente para
agradecer a Cas por tudo que ele tinha feito por mim, mas para que
tivéssemos um momento especial juntos.
Nunca fui do tipo imatura, mas saber que ele não viria, depois de
tudo o que eu havia feito para recebê-lo, faz eu me sentir exatamente assim,
imatura, infantil e bem lá no fundo, insegura.
“Já que ele não virá, não vou desperdiçar um bom vinho” — pensei,
enchendo novamente a taça.
“Ele não tinha como saber que você fez tudo isso” — ouvi minha
voz interior defendê-lo.
Acordei no dia seguinte com uma baita dor de cabeça e uma ânsia de
vômito, que fazia eu me arrepender de ter nascido.
— Não seja boba, quem nunca tomou um porre algum dia na vida?
— Ele justificou.
Tomei um gole notando que não era tão ruim quanto eu imaginava.
— Hoje seremos só nós dois pequena — ele disse sobre meus lábios
— E juro que vou te recompensar, por ter falhado ontem à noite contigo —
ele disse, me fazendo sentir uma comichão em meu estômago.
— O advogado ligou hoje bem cedo — ele falou fazendo todo meu
corpo ficar em alerta. — Vamos nos encontrar com o juiz hoje para assinar
seu divórcio.
— Acho que nunca mais vou querer beber vinho na minha vida —
falei me deixando levar.
Heron quase amassou o papel quando o assinou e assim que o fez nós
nos levantamos para sair.
Meu coração falhou algumas batidas e mais uma vez o medo estava
ali marcando presença e Cas parecia tão longe naquele momento.
— Sua vaga… — antes que ele terminasse, Cas o acertou com tanta
força que ele foi jogado ao chão.
Cas se abaixou e disse alguma coisa que somente eles puderam ouvir
e eu saí correndo pela primeira saída de emergência que encontrei.
— Hoje você deu o primeiro passo para sua liberdade, mas não quero
vê-la dependendo de mais ninguém, nem mesmo de mim, por isso a partir
de hoje vamos todos os dias vir aqui treinar você — Cas falou vindo ao meu
encontro.
E para mim aquilo tinha um significado tão grande, que acho que
nem mesmo ele tinha noção daquilo.
Quis correr e abraçá-lo e dizer que o amava, mas ao invés disso
joguei minha bolsa de lado e desabotoei minha camisa social fazendo um
nó na parte de baixo.
— Esse lugar está todo sujo, minha pequena, e você está de salto alto
e calça social, então a menos que queira treinar de calcinha e sutiã. — Ele
disse em um tom de malícia, beijando meus cabelos — Te juro que não
ligaria…
— É! Esse será um dos treinos mais difíceis que já tive que fazer na
vida — ele disse com um sorriso que fez meu corpo de arrepiar.
Capítulo 30
“Eu vou matar esse filho da puta! Fode-se, o que pode acontecer, vou
matá-lo”
Procurei por Kiara que não estava mais ali e fui atrás dela pela saída
de emergência.
Quando abri a porta, ela correu em minha direção tremendo e
chorando e eu a abracei com vontade, sentindo meu coração se apertar em
vê-la daquela maneira, mas orgulhoso por ela finalmente ter criado coragem
de enfrentá-lo.
— Você tem mesmo que fazer isso assim? — Perguntei vendo-a com
a bunda empinada para mim só de calcinha e sutiã, para passar um pano
úmido no tatame tirando o pó acumulado.
Levei meu polegar ao seu clitóris tentando acelerar seu orgasmo e ela
começou a gemer ainda mais alto e eu aproveitei para aprofundar minhas
estocadas.
— Por que aqui? Por que não na sua casa ou em uma academia? —
Ela perguntou.
— Faça isso e juro que compro um chicote e açoito essa sua bunda
branca até ficar assada — Ameacei vagamente e ela ofegou fazendo seu
peito subir e descer descontrolado, então encarei seu olhar afetado e me
aproximei devorando sua boca.
Capítulo 31
Ele me apertava em seus braços e era tão bom estar ali que tinha
vontade de nunca mais sair.
Uma mulher elegante e bonita nos guiou até uma mesa mais
reservada no fim do restaurante que dava vista para uma fonte do jardim do
hotel, mas protegida por uma parede de vidro que mantinha o local
aquecido.
— Ok, então, traga um suco para ela e pra mim uma taça de Château
— Ele disse de referendo a um vinho caro.
— Então quer dizer que não vai mais beber? — ele perguntou depois
que o garçom saiu.
— Não tem problema, Bárbara, fico feliz que pode vir ao nosso
encontro.”
Cas me olhou levantando uma sobrancelha, como se dissesse “não
falei”.
— Veja o terno que ela usa, parece ser caro, mas é um modelo muito
usado em casas de aluguel, e o relógio é falsificado — Cas disse baixo para
que somente eu observasse — e os sapatos já são bem gastos para alguém
bem-sucedido como ele quer aparentar.
— Repara como ele tem as mãos grossas e como ele tem os lábios
queimados do frio que andou fazendo ultimamente. Se fosse alguém que
trabalhasse dentro de um escritório não ficaria assim.
— Por isso descobriu que eu não era uma garota de programa aquele
dia — eu me lembrei
— Sim, tudo em você gritava riqueza, enquanto você dizia ser uma
garota de programa de um beco — Cas me relembrou, me fazendo ficar
envergonhada.
Pouco tempo depois, o garçom que havia nos atendido, apareceu com
uma taça de sorvete de limão, um dos meus favoritos.
Eu mal a tinha ligado quando escutei Heron chegar, ele não subiu e
eu estranhei, então desci as escadas devagar com medo de como estaria seu
humor naquele dia.
Ele discutia com alguém.
— Você não sabe com quem está lidando Arthur! — A voz de Heron
soou — Pare enquanto é tempo.
— Heron… por favor, eu não vi nada, eu juro, não vou contar nada
para ninguém… — eu implorei chorando.
— Eu sei que não vai, caso contrário terá o mesmo fim! — Ele
ameaçou me soltando e saindo me deixando aterrorizada.
— Não… não, eu só… — falei amassando o bilhete para que ele não
visse.
E mais uma vez Cas me olhou como quem diz “eu disse”
Capítulo 32
— Como não encontram? Com certeza ele não abriu uma cova e se
enfiou dentro! Encontrem ele! — Ordenei aos meus homens pelo telefone.
Aquela vida, eu, nada daquilo jamais seria o melhor para ela.
E como eu queria o melhor para ela, como queria vê-la sempre sorrir,
como queria vê-la com a barriga inchada de um filho meu, enquanto
passeávamos pela praia descalços em um dia ensolarado.
— Entre! — Ordenei.
— Está sugerindo que Kiara está comigo para ganhar uma promoção
Aldrey? — perguntei perdendo minha paciência.
— Não, não é isso senhor é que como ela vai receber uma sala.
— Por que está dizendo isso? Eu sempre vou amar você — ela disse
franzindo a testa.
Eu estranhei e perguntei.
— Heron pode ter fugido, afinal ele está sendo investigado por
corrupção — Justifiquei.
— Se acalme, está tudo bem! Você não fez nada — tentei tranquilizá-
la.
“Será que ele realmente havia sumido? Ou será que tinha só usado
uma desculpa para fugir”
— E por quê?
— Ei, não se preocupe, não importa onde ele esteja, ele não poderá
lhe fazer nenhum mal — Cas disse me olhando profundamente segurando
meu queixo.
— Venha, deite-se aqui — ele me ofereceu seu peito.
— Temos consulta marcada com o Dr. Roger por favor — Cas avisou
na recepção e entregaram a ele 2 crachás.
O lugar estava bem vazio e Cas deu uma leve batida na porta e entrou
em seguida.
— O que foi meu amor? Deixe o Dr. Roger ver — ele insistiu quando
eu não me mexi.
— Claro, não tem nada de mais que eu não possa ver. — ele
respondeu parecendo confuso.
— Tirando a roupa para o Dr. Examinar, não foi para isso que viemos
aqui?
— Me desculpe! — Cas disse sorrindo nervoso para o médico.
— Obrigada! — Agradeci.
— Nossa! — Falei surpresa por quase ter sido derrubada pelo tranco.
Cas havia me avisado, mas não esperava que fosse tão forte.
Eu era péssima de mira, e dei vários tiros até conseguir acertar o alvo
e mesmo assim bem longe do meio e Cas parecia já estar cansado de me ver
errar tantas vezes.
— Eu sou péssima nisso, né? — Falei baixando a arma já com os
braços cansados.
Eu corri até o alvo sem acreditar que ele realmente tivesse acertado
os três, passei os dedos sobre os buracos tão próximos um ao outro que
quase os ligavam.
— Prática.
Uma neve fraca começou a cair e eu fechei mais meu casaco tentando
me esconder do frio.
— Acho que o que quero comer, não seria apropriado ao local — Ele
respondeu tranquilamente, quase me fazendo engasgar.
Seu olhar faminto sobre meu corpo me fez beber mais um gole do
chocolate às pressas e chamá-lo para irmos embora o mais rápido possível.
Cas dirigia com a mão acariciando minha perna e a cada minuto que
passava o clima aumentava, estávamos em uma área afastada e os
seguranças nos seguiam, mas então, do nada ele tirou sua mão focando a
todo momento no retrovisor.
Quando olhei para trás, Cas já havia descido do carro e atirava com
duas armas em mãos.
Vi quando Cas entrou sendo ajudado por outro homem e então eu fui
solta e eu corri em sua direção o mais rápido que pude.
— Cas… Cas… por favor, fale comigo, você está bem? — perguntei
passando a mão em seu corpo e logo senti o sangue quente que jorrava de
seu abdômen.
Cas
Assim que notei a movimentação estranha na estrada, eu acelerei
tentando me afastar, mas fomos emboscados por um outro veículo.
Eu pude ouvir a voz de Kiara gritando enquanto um de meus homens
a arrastava para dentro da floresta e longe do tiroteio, foi então que senti a
bala atravessar minha barriga.
— Cas… Cas… por favor, fale comigo, você está bem? — Ela
perguntou e se assustou quando sentiu o sangue.
Kiara mesmo menor do que eu, veio ao meu auxílio, andamos cada
vez mais para dentro da mata e apesar de ainda não ser noite, não demoraria
a cair.
— Shiii… — falei tocando seu queixo que sujou de sangue por causa
das minhas mãos — está tudo bem, isso não é sua culpa pequena, eu… —
falei, mas comecei a tossir.
— Não fale nada, por favor, você não pode me deixar aqui sozinha…
— ela disse se enfiando embaixo do meu braço para me ajudar a andar.
Kiara
— Cas, Cas… não, por favor, você não pode me deixar aqui… — Eu
falei em total desespero vendo seu corpo caído sobre a neve.
O frio cortava meu corpo, fazendo meus ossos doerem, minhas mãos
apesar das luvas começavam a endurecer, meu rosto ardia e eu já não sentia
meu nariz.
A fazenda! — me lembrei.
Quando alcancei eu não bati nem chamei e fui entrando de vez, não
tinha tempo de esperar.
— Falta pouco, por favor, não desista agora — E ele cambaleou e nós
caímos de joelhos, mas ele se esforçou usando seu resto de forças para
andar mais um pouco.
Puxei seu corpo para dentro enquanto a neve aumentava cada vez
mais, fechei a porta e corri até ele.
Tudo aquilo era minha culpa, ele não precisava estar passando por
aquilo, com certeza aquele ataque havia sido obra de Heron.
Coloquei o colchão no chão e o puxei para cima, para que ele não
ficasse sobre o chão frio de madeira. Usando a lanterna do celular, fui
explorar a cabana em busca de qualquer coisa que pudesse nos ajudar.
Encontrei um tipo de motor que eu não fazia ideia para o que servia
com uma corda para puxar e resolvi testar para ver e me enchi de esperança
ao notar ser um pequeno gerador e rezando decidi testar.
Na primeira puxada as luzes ameaçaram acender, mas se apagaram
logo em seguida, então puxei novamente e mais uma vez elas se acenderam,
porém, voltaram a se apagar. Tentei várias vezes e me sentei cansada, quase
desistindo, mas vi um botão empoeirado e decidi apertar e tentar novamente
e finalmente deu certo.
“Eu não sabia acender uma lareira! Iríamos morrer congelados ali
dentro” — pensei sentando no chão.
Voltei a tentar acender a lareira, mas dessa vez usando alguns papéis
velhos que encontrei, mas nem assim eu consegui, foi quando me lembrei
do galão de diesel.
Eu não sabia ao certo por quanto tempo havia dormido, mas ainda
não tinha amanhecido quando ouvi Cas gemer e acordei assustada.
Troquei algumas vezes o pano de sua testa sem poder fazer nada
além daquilo e iniciei uma limpeza com pano úmido por seu corpo.
Olhei o horário que ela havia sido enviada e tinha sido um pouco
depois de termos saído da fazenda.
Olhei para ele deitado ali no chão inconsciente e pensei se seria certo
eu bisbilhotar seu aparelho celular.
Passei a mão sobre a testa limpando meu próprio suor quando notei
que a madeira da lareira estava quase no fim, então larguei o aparelho e
corri para pegar algumas toras de madeira e reabastecer a lareira antes que
ela se apagasse.
Decidi sair para tentar procurar qualquer tipo de ajuda, mas quando
abri a porta uma rajada forte de vento misturada com a neve forte que ainda
caía entrou batendo a madeira com força e eu tive que me esforçar para
voltá-la a fechar.
Cas.
Eu sentia um frio terrível percorrer meu corpo que era sacudido pelos
tremores e alucinava com a febre que queimava minha pele.
— Eu não queria… juro que não queria, mas você… não entenderia.
Kiara! — Gritei quando sua imagem apareceu novamente chorando e
voltou a se dissipar.
— Eu sei… não é culpa sua! — Ouvi ela dizer tão longe que parecia
que estávamos em outra dimensão.
Senti algo frio em minha testa e eu tentei tirar, pois parecia queimar
de tão frio que era, mas logo voltei a dormir desinquieto, pelos fantasmas
do meu passado.
— Vamos meu amor, você precisa voltar para mim… volte para mim
Cas… por favor…
Eu lutava para abrir o olho, mas não conseguia, fazer aquele simples
movimento parecia algo impossível naquele momento e depois de algum
tempo tentando eu voltava e mergulhava na escuridão.
Não sabia dizer por quanto tempo eu havia ficado apagado. Com
muito esforço consegui abrir os olhos gradualmente. Eu estava em uma
cabana velha, deitado no chão com alguns cobertores velhos cobrindo meu
corpo. Olhei ao redor procurando por Kiara.
— Você salvou minha vida pequena, se não fosse por você estaria
morto agora… — parei sentindo uma fisgada quando me mexi para tentar
vê-la melhor.
— Por que estamos aqui a tanto tempo? Por que ainda não nos
acharam? — Formulei as perguntas em voz alta.
— Porque faz três dias que não para de nevar — Ela disse mostrando
a pequena janela coberta de neve — Nós nos afastamos muito da estrada, eu
acho — ela disse em um tom preocupado, olhou para um canto onde havia
um punhado de madeira. — Acho que não dura mais um dia — ela revelou.
Apesar do frio que havia passado nas noites anteriores, ainda tinha
bastante madeira para queimar, o que manteve a cabana em uma temporada
suportável, mas com a lenha reduzida, já não estava tão confortável.
— Kiara não seja teimosa, deite-se aqui, por favor — ele disse em
um tom de voz que eu não sabia dizer se era um pedido ou uma ordem.
Cas me envolveu com seu corpo bem maior que o meu, me fazendo
sentir quentinha e confortável.
Eu havia trocado o curativo durante o dia e sabia que ainda tinha uma
grande chance de infeccionar e que os poucos recursos que tínhamos
estavam no fim.
Cas introduziu sua mão por dentro de minha calça, mas encontrou
dificuldade pôr causa da roupa e da pouca lubrificação que eu ainda me
encontrava.
— Cas…
Cas levou seus próprios dedos a boca lubrificando com sua saliva e
aquilo me fez latejar.
Era tão fácil me entregar à luxúria com ele, tão natural querê-lo a
todo momento e bastava uma única iniciativa que meu desejo se espalhava
como fogo sobre a palha.
Cas voltou a tentar e seus dedos se deslizaram por entre meus lábios,
afundando em mim me fazendo gemer, mas apesar de tudo aquele tesão que
me consumia eu não conseguia me entregar 100%, não quando eu sabia que
ele estava ferido e que a qualquer movimento incalculado meu poderia
machucá-lo.
— O que foi?
— Você fica aqui, eu vou ver o que é — Corri para fora sem esperar
para ouvir o que ele dizia.
— Desde que horas ela está aqui? — perguntei apontando para Kiara.
— Ela nunca saiu — ele revelou. — Falei que também deveria ser
atendida e pedi para que fosse para casa descansar, mas ela se recusou.
— Ela fez muito mais que isso meu amigo, ela me salvou — Falei
com o peito transbordando orgulho.
Na cabana não era possível tomar um banho direito já que tinha que
aquecer água para conseguir limpar o corpo e com o frio que fazia tornava
quase impossível um banho decente.
— Vá para casa minha pequena, tome um bom banho, faça uma boa
refeição e descanse. Eu ficarei bem agora e estarei bem aqui quando você
voltar — garanti acariciando seu queixo.
— Sim, mas quero ouvir sua versão e da senhorita Kiara — Ele falou
me deixando desconfortável.
— Não só uma, tenho algumas, mas são todas legais, pode conferir se
quiser.
— Sim, pelo que consta nos registros, sua família sofreu vários
atentados nos últimos anos — ele falou em um tom de voz que sugeria que
não acreditava naquilo.
— Acho que essa pergunta eu que deveria fazer, vocês não acham?
— Você quer nos convencer de que não tem nada a ver com isso? —
O William disse.
Depois que os dois detetives saíram, peguei meu telefone para ligar
para Ivan, mas fui interrompido por outra visita.
— Achei que ficaria mais feliz em me ver — Meu irmão disse
entrando com 4 de seus homens, me vendo ainda parado, surpreso com sua
presença ali.
Eu não respondi, não sabia exatamente o que Boris fazia ali o que me
deixava com algumas suspeitas.
— Como se sente?
Boris podia ser muita coisa, mas mentiroso não era uma delas.
— Não sei do que está falando — Boris disse com um meio sorriso.
— Ela foi uma mãe para mim também — falou baixo — E ela queria
mais para você — Boris disse antes de se virar e ir embora, me deixando ali
estarrecido com o que havia acabado de acontecer.
“Não sei mais como viver sabendo qual será o futuro de Cassino.
Meu doce menino de coração bom e protetor sendo corrompido dia
após dia pela maldade desse mundo em que eu o coloquei”
Ele não era de bater nela, mas eu não duvidava de suas ameaças.
Espero que um dia ele entenda e me perdoe pelo que fiz, mas
Cassino merecia muito mais que isso, merecia um amor que nunca
poderei dar, mesmo sabendo que ele está aqui armazenado em meu
peito quase explodindo.
Estou cansada…”
Nessa hora uma lágrima correu por meu rosto molhando o papel
Pedi a Boris que cuide de você e faça o que eu nunca pude, te
proteger e saiba que mesmo em meio a tanta dor que sinto a única coisa
boa que tive foi você” — Ela finalizou com a frase que me disse a vida
toda.
— Mas chefe… — Ele parou de falar quando viu que eu não estava
de brincadeira — peçam para localizar meu irmão! — Ordenei.
— Sim, chefe!
— Eu não sabia o que ela ia fazer… Ela chegou para mim um dia e
pediu para que eu o protegesse, então…
— Esse não era um mundo para ela Cas… ela está melhor agora —
Sabia que ele não acreditava naquilo. — Eu prometi a ela que cuidaria de
você, mas quebrei minha promessa — Bóris disse se sentando com as mãos
no joelho. — Eu achei que te afastar era o melhor caminho, mas você ficou
lá, como um cão fiel, leal como sempre foi, então o enviei para cá achando
que te jogando no fundo do poço talvez você desistisse — Boris disse com
um sorriso que eu não soube decifrar se era de zombaria ou de orgulho —
Mas olha para você agora…
Boris não chorava, se mantinha frio, mas ainda assim pela primeira
vez eu pude ver a dor em seus olhos.
— Você não sabe nada sobre mim, e também não sabe nada sobre a
minha mãe! — Falei me levantando.
— O que quer dizer? Seja claro, pare de falar por entre linhas! —
exigi
— Gosto da vida que levo, sinto prazer no que faço Cas, mas e você?
Pode dizer o mesmo? — Boris perguntou.
— E você cumpriu sua parte, os trouxe para cá, levantou uma nova
organização do zero… só pense Cas — Boris sugeriu. — Não importa qual
decisão vai tomar, continuaremos sendo irmãos.
*KIARA*
Eu não esperava ter dormido por tanto tempo e já era quase noite,
corri até o closet e dei um grito quando bati meu pé na quina na cama.
— Se deu alta? Acha que isso é bonito? — perguntei, lhe dando uma
bronca — depois de tudo que passamos?
— E?
Eu imaginava o quanto aquilo deveria ser difícil para ele. Ter algo tão
pessoal de sua mãe deveria despertar lembranças muito dolorosas.
— Mas pense pelo lado positivo, pelo menos você tem algo dela.
Não me sobrou nada da minha para que eu me lembrasse — Falei o
abraçando.
Parecia algo tão certo tê-lo ali, parecia uma coisa tão boa pra mim
que eu tomei uma decisão, no dia seguinte eu iria á delegacia com todas as
provas que tinha contra Heron e colocaria um ponto final naquilo de uma
vez por todas.
Cas mais uma vez me puxou pela cintura, colando nossos corpos e
roçando nossos lábios um no outro tão suavemente que causou uma leve
cócega.
— Sim… tem uma coisa que eu quero muito comer Kiara… — disse
com um olhar carregado.
— Você ainda não pôde se esforçar assim — tentei colocar algum
juízo em sua cabeça.
Fui até a porta que ainda estava aberta e a encostei, virando a chave
para trancar.
— Então você quer que eu faça isso? — perguntei indo até a cama e
começando a engatinhar sobre seu corpo — e isso? — passei os lábios por
seu pescoço começando a desabotoar sua camisa.
Levei seu pau a boca e ele baixou suas mãos em minha cabeça
desesperado demais para se manter imóvel e eu parei novamente levantando
suas mãos.
— Como pode ser tão má? — ele falou me fazendo rir, então voltei
devagar por seu peito até alcançar novamente seu p… e o levantamento
fundo em minha garganta, mas Cas era grande e grosso demais para cabeça
totalmente em minha boca.
Andei a passos largos até ele e quando entrei encontrei meu irmão
sentado em uma cadeira de pernas cruzadas jogando com alguns dos meus
homens.
— Quem é esse? — perguntei indo até o homem que não podia ver o
rosto porque estava jogado no chão de costas.
Boris foi até Ryou e puxou a fita adesiva de sua boca sem nenhuma
delicadeza.
— Depois do trato que você fez com o pai dele — Falou dando um
leve chute em Ryou que se debateu furioso — O filhinho de papai voltou
para casa com o rabo entre as pernas, mas quando chegou no Japão ao invés
do pai cotar-lhe os dedos como era previsto ele foi rebaixado a um mero
soldado da máfia japonesa, desonrado como filho e a irmã mais nova
assumiu seu posto como sucessora da máfia. — Boris falou acendendo um
cigarro e dando um longo trago.
— Então ele achou uma boa ideia voltar e tentar se vingar — Boris
finalizou, fazendo meu sangue ferver de raiva.
Ryou me olhava com ódio e frieza, sem poder fazer nada em sua
situação.
E ela falou em seu idioma para que o irmão ouvisse se ele não se
cansava de sujar o nome da família e sentia vergonha de ser sua irmã.
— Ele pode ter quebrado sua palavra, mas eu não vou quebrar a
minha — Falei entregando o celular para um de meus homens e apontei a
arma para sua cabeça.
A garota que parecia não ter nem 19 anos recebeu um sinal de seu
pai.
Me sentei na cama ainda nua, usando lençóis para cobrir meu corpo,
mesmo estando sozinha no quarto.
Era por volta das onze da noite, então me levantei e troquei de roupa,
procurei uma blusa minha, mas me contentei com um moletom de Cas.
Amarrei meu cabelo em um rabo de cavalo curto e fui para a cozinha a
procura de qualquer coisa para comer.
— O quê? Não me julgue, eu passei por muita coisa, por isso não
pude vir, mas vou te recompensar com sua reação preferida — Falei
colocando-o de lado e pegando se pote de ração vazio para enchê-lo.
A arma foi disparada duas vezes com tiros certeiros em sua cabeça
me fazendo encolher assustada, tudo pareceu devagar demais e o silêncio
era ensurdecedor me fazendo ouvir minhas próprias batidas, tão forte que
meu peito doía, meu sangue fugiu tão rapidamente que acreditava que
desmaiaria muito em breve.
Não, não, eu não podia estar passando por aquilo novamente, era um
pesadelo, um sonho ruim e eu queria acordar.
Aquilo era um pesadelo, tinha que ser, ele…. Não ele, não o homem
que me resgatou, que me protegeu.
— Juro que não conto a ninguém, vou embora, juro que nunca mais
me verá, só… por favor… me deixe ir… — eu implorei quando ele deu um
passo para dentro e andei para trás e tropecei em algo que não me dei para
ver o que era.
— Kiara você não entende… foi ele que tentou matar a gente… ele é
um mafioso — ele falou.
Eu o ouvi, mas não consegui abrir a boca.
Cas
Kiara parecia amedrontada, tinha seu rosto banhado por lágrimas e eu
podia ver seu corpo tremer bem ali diante dos meus olhos, me fazendo
sentir ódio de mim mesmo, me deixando com a sensação de que era o pior
homem do mundo.
Medo, era tudo que ela conseguia ver naquele instante, era tudo que
havia conhecido em sua vida, quando perdeu os pais, quando passou por
lares adotivos, várias e várias vezes, e nas mãos de Heron por todos aqueles
anos e agora ali diante de toda a experiência que havia tido em sua vida, ela
acreditava mesmo que eu podia feri-la, era o sentimento que eu despertava
nela com força total.
Ouvir sua voz trêmula e desesperada era como uma navalha afiada
cortando minha alma e eu não conseguia suportar aquilo, eu queria tomá-la
em meus braços, queria secar suas lágrimas, e sentia uma necessidade de
gritar e quebrar tudo por não poder fazer aquilo.
Cortei a distância entre nós, mesmo quando sem ter para onde ir, ela
se encolheu no chão, como um animal acuado, levantando as mãos trêmulas
tentando se defender, como se eu fosse capaz de levantar a mãos para ela.
— Kiara meu amor, por favor olhe para mim… — Pedi sentindo meu
peito doer em vê-la quebrada daquela maneira.
Droga! O que eu havia feito? Por que deixei aquilo chegar naquele
ponto? Eu não sabia dizer.
— Não diga que você nunca desconfiou, que nunca… que nenhuma
vez, você fingiu não ver Kiara — Falei a acusando.
Nem quando havia sido enganado, nem quando precisei matar Laila,
enquanto ela desfilava todo seu veneno, nem mesmo naquele dia eu me
senti tão derrotado quanto naquele momento.
Kiara me olhou com seus olhos ainda cheios de lágrimas, olhos que
atormentavam minha alma, confusa com minhas palavras, mas assustada
demais para questionar.
— Pode ir… se é isso que você quer, então vá, Kiara. Você nunca foi
e nunca será uma prisioneira aqui.
— Eu sei que quem vai perder não será você, serei eu. Espero que
você enxergue todo o amor que tenho por você e se isso acontecer… —
disse a encarando nos olhos, mesmo achando que ela mal me ouvia —
Saiba que eu estarei bem aqui. — Declarei, mas ao mesmo tempo lutando
comigo mesmo para não a deixar sair pela porta. — E se isso não
acontecer… então eu vou esquecer de tudo, vou esquecer que um dia você
entrou em minha vida — menti descaradamente, pois eu nunca a
esqueceria, nunca deixaria de amar ela. — Vou me afundar em solidão, mas
não se preocupe, pois nela eu sempre estive Kiara.
Quando eu terminei, que não tinha mais nada a dizer, Kiara se
levantou me olhando com olhos arregalados, temerosos como se a qualquer
momento eu fosse lhe dar um bote. Andou se esgueirando pelos cantos,
com medo de se aproximar demais de mim, ela foi até um canto e pegou um
bolsa que estava jogada ali, abriu uma gaveta e puxou algumas peças de
roupa sem sequer olhar o que eram e enfiou de qualquer jeito dentro, me
encarando o tempo todo.
Eu não fui atrás dela como havia prometido. Me segurei para deixá-la
livre, ela tinha ido embora e se voltasse seria por escolha dela.
Capítulo 39
— Sim?
— Para qualquer hotel no centro, por favor. — Pedi sem dar muita
atenção.
Ali era um hotel caro demais e que eu não podia me dar ao luxo de
passar mais de uma noite, mas uma noite acreditava que não seria um
problema.
O dinheiro dos últimos meses com que havia trabalhado com Cas
estava inteiramente ali, intocado, Cas nunca havia me permitido pagar por
nada.
Tirei um valor suficiente para pagar a noite e ter um valor comigo e
fui para o balcão da recepção.
Não havia marcas em mim, nunca houve, não dele! As únicas marcas
existentes de Cas em mim, eram de seu amor, do carinho que ele colocava
em cada toque seu em meu corpo e eu me dei conta de quão burra eu estava
sendo.
— Kiara! Kiara — ainda pude ouvir a voz de Cas que havia acabado
de atender o telefone.
Estava perdida, Cas não sabia onde eu estava nem para onde tinha
ido e quando chegasse a descobrir certamente já seria tarde demais.
Olhei mais uma vez para o homem à minha frente que continuava a
me encarar e me dei conta de que não havia nada que eu pudesse fazer
naquele momento, então parei de lutar contra as amarras nas minhas costas
e joguei a cabeça para trás, rendida aquela tristeza.
Andamos por um bom tempo, por uma estrada que eu não conhecia,
até pararmos em um lugar remoto e escuro. Heron desceu da van e os outros
o acompanharam e eu mal conseguia vê-los em meio a escuridão, mas
conseguia escutá-los com clareza.
Eu tentei resmungar, dizer que ele era um doente, que eu sentia nojo
dele, mas a mordaça me impedia e Heron ficou feliz com aquilo.
— Hoje nem tanto assim, está muito melhor que nos últimos dias —
O homem respondeu. — Senhor Heron, vamos ter que revistar a van porque
ela não está cadastrada em nosso sistema.
Meu cérebro quase gritou quando notei que estávamos em uma base
militar, Heron estava me levantando para dentro da uma base militar,
estávamos logo na portaria e se eu conseguisse chamar atenção, talvez
conseguisse me livrar daquele pesadelo, se o soldado olhasse para parte de
trás, se desconfiasse…
— Ei, espere essa é a van do major, eu não posso demorar, tenho que
levá-la de volta, só vim trazer alguns pacotes de adubo que ele me pediu,
prometo voltar em menos de trinta minutos — Heron justificou.
— Tá, vai lá, mas da próxima vez, peça uma autorização antes, ok!
— ele disse liberando Heron a entrar na base.
— Nós vamos ficar aqui por um tempo até a poeira baixar e depois
vamos para bem longe só eu e você — ele falou chegando muito perto do
meu rosto e depositando um selinho em minha boca me fazendo sentir nojo
e querer vomitar.
Eu não saí do nosso quarto depois que Kiara se retirou, nem se quer
havia me movido do lugar por algum tempo, ainda paralisado pelo que
havia acabado de acontecer, me segurando para não correr atrás dela, como
o louco apaixonado que eu era por aquela mulher.
Não julgava sua atitude, qualquer ser humano depois de ter sido tão
machucado quanto ela foi, sentiria medo naquela situação.
Poderia ter evitado, mas tive medo, essa era a verdade, medo de
perdê-la, medo de que ela não me aceitasse.
*CAS*
— Eu gostaria, mas não posso, não esse pelo menos — ele respondeu
dando um passo para dentro e eu me virei como um Leão querendo
defender seu território.
Era irracional, mas não queria ninguém ali, não queria falar com
ninguém, não ainda.
— Cas… são os detetives, eles estão aqui e querem falar com você
— ele revelou.
Porra! Àquela hora? O que poderia ser tão importante que não
poderia esperar o dia amanhecer.
— Boa noite, tudo bem, senhor Cassiano? — o detetive que não saia
da minha cola perguntou.
— Sobre?
— Eu não sei senhor Cas, me diga você, já que essa tanto, foi usada
em uma execução e tem suas digitais nela.
Eu já sabia que teria, assim como também sabia que existia várias
outras digitais.
— Veja bem, essa Tanto foi apresentada a nós por um amigo, ele á
tinha comprado em uma loja de antiguidades e eu assim como outras
pessoas a peguei nas mãos para ver, tenho certeza de que minhas digitais
não são as únicas exposta aí — falei levantando o copo aos lábios e
tomando um longo gole.
— Eu sei bem o que faz Sr. Cassino, e sei que no momento certo vai
cometer um deslize e quando você cometer eu vou estar na sua cola.
Era óbvio que eles não tinham nada contra mim, apenas jogaram
aquela para entrarem na mansão atrás de qualquer pista para usar contra
mim.
Não estava com saco para falar com ninguém, muito mesmo por
telefone.
Logo ele parou de tocar e eu me afundei no sofá, Ivan foi até o bar,
também encheu um copo para si e meu celular voltou a tocar.
— Não quero falar com ninguém hoje, já tive problemas demais para
um único dia — respondi colocando o copo gelado sobre a testa tentando
amenizar aquela puta dor de cabeça que me matava.
Tomei o celular da sua mão quase a levando junto e atendi, mas meu
coração gelou quando ouvi a voz de Heron no fundo:
— Eu fico com isso, ratinha.
— Eu não sei…
E eu nem sabia que meu irmão ainda estava por ali, mas não me dei
ao trabalho de perguntar o porquê ainda continuava por ali.
Meus pulsos doíam e eu já imaginava que teria que passar o dia todo
presa aquela cama, mesmo não conseguindo ver absolutamente nada do
exterior eu deduzia que o dia deveria estar começando.
Levei a ponta dos dedos aos lábios como se ainda pudesse sentir seu
sabor e sorri.
Heron podia me tirar tudo, podia arrancar meu orgulho e dignidade se
quisesse, mas nunca iria me tirar aquilo, aquela sensação de que eu fui
amada, que fui venerada com sua boca, com seu corpo. Não, isso ele nunca
arrancaria de mim, e não importa quanto tempo se passasse eu nunca
desistiria de lutar.
— Heron por favor, se você não abrir, eu terei que fazer aqui
mesmo… — Eu avisei, em um tom choroso.
Antes de eu conhecer Cas cada dia era mais um dia, um beijo não
significava nada para mim, eu não passava de um objeto em suas mãos e eu
nunca havia me imposto, mas ali eu me recusava a voltar para aquela vida,
me recusava a voltar para ele novamente.
— Eu… não vou… mais — tentei dizer enquanto sua boca era
pressionada em meu rosto.
— Você pode tentar fazer o que quiser, mas nunca mais me terá! —
Eu afirmei cuspindo, sentindo nojo.
Ele olhou para minha saliva que não tinha caído muito longe dele
com raiva.
— Sua vagabunda, porca! Foi isso que você aprendeu esse tempo em
que esteve fora? — Ele disse furioso e mais uma vez ele levantou a mão
para mim pronto para me surrar e eu me preparei para mais uma seção de
tortura, me encolhendo tentando me defender.
— Acha mesmo que me importo com o que vai fazer comigo? O que
você vai fazer, que já não tenho feito Heron? — Perguntei o enfrentando —
me bater? Como já fez milhões de vezes? Me humilhar? Me ameaçar? Não
há nada que você possa fazer comigo que eu já não tenha passado... — Falei
sentindo as lágrimas voltarem aos meus olhos. — Não existe nada... —
Minha voz falhou ao me lembrar de que ele havia tirado tudo de mim,
minha fé, minha dignidade e agora havia me tirado da única razão que eu
ainda sentia que tinha para viver.
E eu comecei a refletir, Heron tinha razão, Cas não iria ali, não em
uma base militar para me resgatar ao que dizia.
Eu desci devagar da cama ainda com medo de sua reação e andei até
a porta a trancando por dentro com medo de que ele entrasse.
Não que aquilo fosse o impedir se quisesse, mas era a única coisa que
eu podia fazer.
Naquele dia eu pude ver cada marca de dor em seu coração ferido e
eu não sabia qual havia sido ao certo o momento em que tinha me
apaixonado por ela, mas foi exatamente ali que Kiara me entregou cautelosa
seu primeiro voto de confiança.
Porra! Se eu ganhasse uma libra por cada vez que eu escutasse aquela
maldita frase naquele dia, com certeza meu capital cresceria
significativamente.
Andei a passos largos para fora da mansão e saí pelo portão da frente
me aproximando do carro onde eles tomavam seu café tranquilamente como
se nada estivesse acontecendo.
Voltei para a mansão tentando falar com meu advogado, para ver o
que ele conseguia fazer a respeito dos detetives, eu precisava tirá-los do
meu encalço ou teria grandes problemas.
— E então? — perguntei.
— Isso eu não sei, mas com certeza é aqui que eles estão.
— Que morrer? Porque isso que vai acontecer e quem você acha que
irá defendê-la quando estiver morto.
— Você não entende… não conhece Heron — O acusei nervoso.
— Não! Você não sabe! Aquele animal marcou ela como um gado,
mais que isso ele marcou tanto sua alma que Kiara mal consegue
reconhecer quando é amada! — Revelei sentindo o desespero tomar conta
de mim. — E eu juro que se ele encostar um dedo nela não vai existir força,
tarefa nessa face de terra que vai me impedir de torturá-lo lentamente.
Eu não ouvi mais nada, avancei sobre ele e nós nos atracamos feito
dois adolescentes esmurrando um ao outro, nossos corpos se batia pelos
cantos do closet enquanto tentávamos atingir um ao outro como fazíamos
quando éramos mais jovens.
Eu consegui dominar Boris, mas não durou muito tempo e ele logo
reverteu o Jogo e esmurrou minha cara com uma violência que eu quase
perdi a consciência, mas quando achei que ele se aproveitaria da situação
ele simplesmente parou.
— Não vai ajudá-la se suicidando… — Ele disse ofegante saindo de
cima de mim, não vai chegar nem na base com esses policiais de tocai aí na
frente.
— Você tem razão, não posso ajudá-la, mas sei quem pode —
Respondi saindo da mansão.
Capítulo 43
Eu olhava inerte a ponta nos meus dedos, deitada sobre o chão frio
do banheiro, anestesiada depois de ter passado horas chorando sem parar.
E apesar de eu ter ouvido Heron abrir a tranca ele não entrou, o que
me deixou desconfiada, ouvi alguns barulhos do lado de fora, mas esperei
que tudo ficasse em silêncio para me levantar devagar e ir até a porta a
abrindo aos poucos olhando pelos cantos para ver se ele estava ali, mas não
havia ninguém.
Andei até elas pegando algumas peças, notando que ele havia
comprado as roupas recentemente pois algumas ainda estavam com etiqueta
e tudo conforme seu gosto.
Era sério que ele achava que eu iria usar aquele vestido, ali? —
pensei comigo mesma jogando a peça de volta sobre a pilha de roupas.
Andei até o frigobar notando que ele também havia abastecido para
vários dias me trazendo um certo desespero, apesar de já esperar por aquilo,
saber que estaria a sua mercê por dias, me fez sentir um pouco mais vazia
por dentro e eu bati a porta da geladeira com força sentindo raiva de mim
mesma.
Dei uma boa olhada no quarto, que não tinha muitas coisas e prendi
meu cabelo em um rabo de cavalo e peguei o balde e comecei a limpar tudo
aproveitando para procurar qualquer coisa que pudesse me ajudar.
Eu tinha que tentar alguma coisa, não podia ficar mais de braços
cruzados esperando que alguém viesse me resgatar, não quando eu sabia
que ali seria impossível.
Eu tinha a certeza viva dentro de mim que Cas faria de tudo que
estava ao seu alcance para me resgatar, sabia que ele lutaria até o fim, mas
entrar na base militar era loucura demais até para ele, então eu tinha que
tentar fazer alguma coisa.
Forcei, girei, bati, esmurrei e chutei a porta até não aguentar mais e
quando achei que não tinha mais forças eu tentei tudo novamente.
Observei que ele não havia trancado a porta o que me deixou com
uma pontada de esperança.
Eu fiquei ali vendo ele juntar todas em sacos e depois sair com tudo
vindo me buscar por último.
Podia ver a arma de Heron mirar para Cas, que usava um colete do
exército britânico.
— Heron, solte ela! Você não vai conseguir ir a lugar nenhum a essa
altura, lá fora deve estar cheio de soldados — Cas tentou argumentar.
— Como conseguiu entrar aqui! Não era para você estar aqui! —
Heron gritou nervoso se escondendo atrás de mim.
— Ela não vai a lugar nenhum. Kiara é minha, nem você e nem
ninguém vai tirá-la de mim. — Ele o interrompeu.
— Não seja burro, você está em uma base militar como você acha
que vai escapar dessa? — Cas falou sem baixar sua arma.
— Se ela não for minha, não será de mais ninguém! — Heron falou
descontrolado apertando sua arma em minha têmpora me fazendo chorar
desesperada. — Tá escutando ratinha? De mais ninguém — ele me
ameaçou.
— Se tocar nela juro por Deus que meto uma bala na sua cabeça! —
Cas ameaçou e Heron continuou a achar graça.
— Vai ter coragem de acertar ela, Orlov? Vai ter coragem de meter
uma bala na sua amada para me atingir? Não seria a primeira vez não é
mesmo Orlov? — Heron revelou e eu estranhei. — Contou para ela Cas?
Contou que você matou a última mulher por quem se apaixonou? — Heron
gritava.
— Me perdoe, isso tudo foi culpa minha… eu… eu não deveria ter
saído… — Falei entre soluços.
— Eiii está tudo bem agora, vai ficar tudo bem — Ele prometeu
levando uma mão a minha cabeça e alisando minhas costas tentando me
consolar.
Cas permitiu que eu ficasse ali por um longo tempo, até eu me sentir
calma o suficiente para nos levantarmos.
Aquilo estava errado, não era ele que deveria ser preso…. Ele não
podia ser preso… não agora…
Não podia ser verdade, ele não podia estar falando sério, não depois
de tudo.
— Não, não estão dizendo, só estão dizendo que não vão fazer nada!
— eu bati a cadeira no chão perdendo minha paciência.
— Juro que farei o meu possível, mas não prometo nada…— afirmei.
— Você não pode estar falando sério? — Ivan disse nervoso quando
revelei o acordo que havia feito. — Vai se entregar e entregar provas para
sua própria condenação, você perdeu o juízo?
— Está tudo bem… você vai ficar bem — ele prometeu em meu
ouvido — Procure Ivan, peça que ele a leve até meu advogado eu deixei
instruções com ele…
— Eu tenho que ir pequena, faça o que te falei e você vai ficar bem
— Ele voltou a dizer antes de me dar um último beijo suave e cheio de
significado.
— Nem pensar!
Porra! Cas tinha que ter feito aquele maldito acordo? — pensei
comigo mesma analisando a situação.
— Pense bem Kiara é menos da metade da pena que ele iria tirar —
William tentou me convencer.
— E Heron não vai tirar nem metade disso só porque tem boas
influências — Acusei revoltada.
— Eu vou ver o que consigo fazer, mas não prometo nada — ele
falou e chamou um outro policial e pediu para que me levasse até a
delegacia.
Eu estava aflita esperando por Ivan na delegacia, eu havia ligado para
ele depois que os detetives tinham me deixado esperando em uma sala de
interrogatório.
— Cas entregou um vídeo a eles como prova que havia matado Ryou
— O advogado disse me fazendo estremecer.
Agora sabia exatamente quem Cas era, mas ainda assim lembrar da
cena dela matando aquele homem me deixava assustada.
— Mas então isso quer dizer que eles não vão aceitar o acordo? —
perguntou com medo e confusa.
Lembrar daquela noite nunca era fácil, por isso apesar de não ter me
desfeito das provas nunca a quis comigo, então guardei em um lugar que
acreditei ser seguro.
— Tenho um vídeo onde ele mata o agente de corregedoria Arthur
Marinho…
Todos nós nos sentamos, tirando por Ivan que se manteve em pé atrás
de mim como um guarda costas.
— Aqui são as provas que o Sr. Orlov nos ofereceu, você quer ver?
— o detetive Marques falou e sem esperar que eu o respondesse colocou o
vídeo onde Cas matava o homem que eu havia visto naquela noite.
— É esse homem que você quer ver nas ruas senhorita Kiara? —
Marques perguntou — Olhe para a tela Kiara! Olhe e me responda se é esse
homem frio e cruel que você quer ver solto! — Ele me intimidava alterando
a tom de voz.
Cas
Eu acreditei que depois do que Heron havia revelado a Kiara ela não
ia mais querer me ver.
— Está tudo bem… você vai ficar bem — Falei tentando acalmá-la
— Procure Ivan, peça que ele a leve até meu advogado. Eu deixei
instruções com ele…
— Eu tenho que ir pequena, faça o que te falei e você vai ficar bem
— Eu a avisei, dando um último beijo, lento de delicado tentando gravar em
minha mente seu delicioso sabor, decorando a sensação de seus lábios, pois
seria a única coisa que eu teria para me manter firme nos anos que viria.
— Mas que porra pensa que está fazendo? — Marques disse saindo
nervoso do carro e indo em direção a ela e ela começaram a conversar, mas
eu não conseguia ouvi-los o que estava me deixando frustrado, pois não
havia nada que eu pudesse fazer a respeito.
Vi quando Marques perdeu a paciência e teve que ser contido por seu
parceiro.
Seja lá o que Kiara tivesse dito a eles, havia tirado todo o alto
controle do detetive e eu me perguntava o que tanto eles conversavam.
Fiquei ali pelo resto do dia e quando foi no final da tarde William
apareceu sem seu parceiro.
Eu dei de ombros.
— Eu não sei, não sei nem o que estamos fazendo aqui! Se me disser,
talvez eu possa responder se é ou não engraçado — falei me encostando na
parede do elevador, aguardando que chegássemos ao nosso destino, seja lá
qual fosse.
Eu me virei para trás olhando para porta, sem poder acreditar que
aquilo era realmente real, pensando se não era algum tipo de pegadinha,
mas não, eu estava ali no quarto onde tudo havia começado e Kiara estava
comigo, linda e sexy como eu nunca tinha visto antes.
Kiara
Eu estava nervosa, tinha tanta coisa para dizer, tanto a entender, mas
principalmente tinha tanto que desejava mostrar…
Eu desabotoei sua camisa e deixei que ela deslizasse por seus braços
e caísse no chão, depois fiz o mesmo com suas calças e com um sorriso
segurei sua mão pra que entrasse na banheira.
Sim aquela noite eu iria cuidar dele, assim como ele tinha feito
milhares de vezes comigo e como eu sabia que faria outros milhares.
Cas segurou a minha mão e levou aos lábios mesmo estando suja
espuma.
Levantei meu olhar para ele com um meio sorriso travesso e repeti.
Cas riu alto e jogou a cabeça para trás lembrando da primeira vez que
eu o tinha visto nu.
— Fico feliz que aprecie minha querida — ele brincou e puxou uma
toalha se enrolando nela.
Quando me levantei, Cas me pegou em seu colo e caminhou comigo
até o quarto me depositando com suavidade sobre a cama.
Sua boca continuou a descer por minha barriga e depois por minhas
coxas em beijos que queimava minha pele, fazendo eu perder o controle da
minha respiração que parava a cada mordiscada e acelerava a cada beijo
suave.
— Eu vou… — tentei dizer, mas quando ele voltou a usar sua boca
em uma sucção forte eu gozei intensamente em sua boca sem nenhum pingo
de pudor.
Ele colocou seu corpo ao meu suado pelo esforço de nossos corpos e
arranhou meu pescoço com os dentes.
Cas havia me marcado, mas não como Heron, ele tinha me marcado
com seu amor, com seus toques e com todo aquele prazer avassalador que
ele podia me proporcionar e sim eu era dele e somente dele.
Revirei meus olhos sentindo que podia enlouquecer com tanto prazer
e Cas segurou meu pescoço por trás e meteu com força me impulsionado
mais para ele.
— Eu não sei como você conseguiu isso, minha pequena — Mas com
certeza foi o melhor presente que você poderia ter me dado.
— Claro que estou, casa comigo? Eu amo você e você já provou que
também me ama então…
Queria mais que tudo em minha vida poder dizer que sim, e vê-la
pular de alegria, dizer que não tinha nada no mundo que eu queria mais do
que aquilo, mas eu estava condenado a passar anos na cadeia e não queria
que Kiara passasse toda a sua vida esperando por mim.
Eu não sabia dizer qual tinha sido a última vez que senti ser tão
afetado pela emoção, era inacreditável aquilo e apesar de não chorar de
alegria eu sentia que poderia facilmente me emocionar.
— Sim, por quê? O que ela fez de tão ruim que mereceu ser morta?
Kiara não conhecia nada do meu mundo, não fazia ideia do que
acontecia ou de como as coisas funcionavam, dizer a ela que Boris havia
ordenado não era explicação suficiente.
— Eu não queria ter a matado apesar de tudo… — Revelei sentindo
um desconforto enorme dentro de mim — Na época eu ainda a amava, mas
Laila tinha mentido para mim, me usado para… — Dei uma pausa antes de
revelar aquele ponto — Matar meu pai.
— Eu sei que é difícil que você entenda agora meu amor, mas meu
pai não era como os demais pais comuns, que tomam café da manhã com os
filhos no final de semana, ou leva para passear nos dias de folga, desde
muito cedo a única coisa que meu pai se empenhou em me ensinar, foi que
eu não devia amar ninguém além de mim mesmo, que amor era sinônimo
de fraqueza e que minha lealdade deveria estar somente com a máfia, para
ser mais exato e ele que era o chefe — Revelei me aproximando dela e para
minha surpresa Kiara não recuou — Venha deite-se aqui — Pedi com uma
voz mansa.
Aquela seria uma longa conversa, uma que eu não queria que Kiara
ficasse na defensiva.
— Juro que vou te contar toda a minha vida e se depois de tudo você
ainda quiser se casar comigo eu serei o homem mais feliz do mundo — Eu
disse pegando em sua mão e a levando de volta para a cama.
— Eu logo me encantei por seu sorriso, beleza e pelo cuidado que ela
demonstrava ter por mim… foi tolice da minha parte…
— O que aconteceu?
— Meu Deus Cas… eu não imagino como você deve ter ficado…
— Ela ainda teve coragem de me dizer que me odiava antes de
morrer — Revelei.
— Por isso quis me ajudar? Pela semelhança que tinha com ela? —
Kiara perguntou desconfiada.
Eu sabia que talvez Kiara não entendesse aquela parte, mas Laila
tinha a morte pintada em seus olhos tristes, ela tinha se preparado e aceitado
seu destino, mas antes de morrer queria levar o que pudesse junto e acabou
levando.
— Sim, sim e mil vezes sim — ela respondeu com uma felicidade
absurda e eu beijei sua boca abraçando seu corpo.
— Juro que vou me comportar para voltar para você o mais rápido
possível, e nós nos casarmos — Jurei lhe dando um selinho.
— E não era para estar? É nosso casamento, por que você não está
nervoso? Tá calor aqui não está? Precisamos mesmo ligar o aquecedor? —
Eu comecei a falar sem parar e Cas começou a rir e me puxou para seus
braços beijando a minha boca.
— Meu amor, vai dar tudo certo… só relaxa tá bom? Você está linda!
— Você também está, e esse terno lhe caiu muito bem — Falei
ajeitando o pequeno lenço em seu bolso.
— Obrigada!
Ellie olhou para mim como se para confirmar o que ele dizia e eu
confirmei com um aceno sem graça.
— Nos vemos mais tarde meu amigo! — Ouvi Ivan dizer para Cas
apertando sua mão, seguido de Boris, seu irmão.
Depois que todos nos felicitaram e foram embora, que Cas fechou a
porta eu me senti aliviada, olhei para a aliança em meu dedo e sorri e voltei
a encarar Cas.
— Quero ter certeza de que irá se lembrar de mim, nesse um ano que
vamos ficar separados Kiara — Cas sussurrou sobre a pele da minha barriga
me fazendo sentir um friozinho gostoso, me fazendo sentir que ele
cumpriria aquela deliciosa promessa.
Capítulo 46
— Não quero que você precise me ver aqui… — Falei sobre seus
cabelos — Você não precisa disso meu amor, não quero que precise passar
pelo constrangimento de uma revista…
— Por que eles podem vir? — Ela perguntou com um tom de voz
choroso.
Eu não queria dizer a ela que a vida na cadeia não seria fácil, que
provavelmente eu teria vários inimigos ali dentro e que não queria que ela
fosse testemunha das coisas que talvez me aconteceriam.
— Eu acho que é porque ele não te ama o suficiente, por isso prefere
ver nós dois sendo apalpados pelos machos gostosos e sarados do presídio
— Ivan brincou fazendo uma careta, mas aquilo pareceu fazê-la esquecer
um pouco a tristeza e eu voltei abraçá-la.
Sabia que iria perder muitas coisas naquele um ano, que não seria eu
a consolá-la quando estivesse triste, ou que iria vibrar com ela suas novas
conquistas, mas era um mal necessário que eu precisava fazer para poder
viver o resto da vida ao seu lado.
— Você não pode fazer nada comigo… se fizer alguma coisa, não vai
conseguir sair daqui, pense em Kiara… — Ele começou a dizer tremendo
feito um pinscher doméstico e eu o acertei com toda a minha força quando
ele ousou tocar no nome dela, fazendo ele bater a cabeça na grade para
depois cair no chão.
Eu caminhei até ele e o levantei pela gola, o virei de costas para mim
e forcei sua cabeça a prensando nas grades, para que pudesse olhar com
clareza o restante do presídio.
— Sabe o que você descobre quando entra aqui dentro Heron? — dei
ênfase ao seu renomado nome — Aqui é uma terra sem lei, onde prevalece
o mais forte. Tá vendo a cela 21 ali — Falei mostrando dois presos negros
grandes — Estavam ansiosos pela sua chegada depois que eu lhes contei
como você adorava violentar sua mulher — Falei no pé do seu ouvido — E
sabe? Eles adoram uma carne branca. — Sussurrei com malícia.
— E eu nem acredito que já vou virar tio — ele brincou como sempre
fazia quando não sabia lidar com uma determinada situação.
Sabia que Cas havia pedido a ele que cuidasse de mim, e Ivan tinha
seguido ao pé da letra aquele pedido.
Mas Ivan não me deixou em paz nem por um dia se quer, primeiro
me levou novamente em Tintangel, onde eu e Cas tínhamos visitado,
provavelmente a mando do meu amado marido, depois inventou passeios
que eu não fazia ideia de como ele tinha tantas ideias, mas o que me
motivava a ir? Era que a cada vez ele me entregava uma carta de Cas.
Como eu não fazia ideia, não entendia absolutamente nada, mas Ivan
sabia de tudo isso, e mesmo assim se desdobrava entre cuidar de mim,
gerenciar a empresa e comandar a organização.
— Eu acho que… estou feliz, eu estou muito feliz… eu não sei como
explicar, mas eu sinto que isso era tudo que eu precisava nesse momento —
falei chorando feito uma descontrolada fazendo gestos com as mãos.
Eu sabia que sempre fui emotiva, às vezes até demais, chorava por
qualquer coisa, mas nos últimos dias, eu conseguia chorar até com o filme
A.I. Inteligência artificial, mesmo já tendo assistido umas 30 vezes e saber
exatamente como seria o final.
— Eu não sei… ele disse que não queria que eu fosse lá, e eu não
queria deixá-lo preocupado comigo aqui fora, o que você acha?
— Isso é uma decisão que cabe somente a vocês Kiara, eu fico muito
feliz em poder acompanhar você de perto enquanto Cas está lá, mas acho
que ele merece saber…
Eu parei para pensar no assunto, mas não respondi, não estava pronta
ainda para dar aquela resposta.
Cas …
Nós estávamos no serviço de lavanderia aquela semana, no presídio
era assim, tínhamos que trabalhar para pagar nossos custos ao governo e
cada semana era um novo setor, se podia assim dizer.
Já tinha 2 meses que estava ali e podia dizer que tinha conseguido me
enturmar muito bem, na primeira semana não tinha sido fácil, os membros
do Bratva que estavam ali me odiavam por ter matado meu pai, os da
Yakuza queriam minha cabeça por ter matado Ryou e os mexicanos não iam
com a minha cara, por não ter aceitado me aliar ao seu querido chefe. Cada
grupo tinha seu líder ali dentro e para resumir ninguém gostava de mim.
Aquilo era uma aposta, e eu era o mais novo cavalo de corrida, mas
quem sairia perdendo caso eu ganhasse?
Eu não me orgulhava, mas não tinha nada a ver com aquilo, muitos
homens fracos feito Heron acabavam virando a mulherzinha de alguns
detentos mais perigosos, mas se ele gostava de violar tinha que gostar de ser
violado.
Quando eu voltei para a cela, Heron não estava lá e ficou fora por 5
dias inteiros e quando voltou implorou para que eu o deixasse em paz.
Kiara
— Eu preciso de contar uma coisa, mas… não dá para ser assim por
telefone Cas, precisamos nos ver.
— Eiii, tudo bem, não chore, eu vou dar um jeito, acho que consigo
uma visita íntima, mas isso pode demorar um pouco — ele falou com um
tom de voz preocupado.
— Sinto sua falta… — Falei, pois, sabia que não teríamos muito
tempo.
— Eu também te amo.
— Sim!
— Vou… queria que ele pudesse estar aqui, mas já que não pode,
quero pelo menos lhe dar mais um motivo para sobreviver lá dentro — falei
passando a mão na barriga.
— Então vamos lá, e não se esqueça, você pode tudo e o que não
puder eu estarei bem aqui! — ele me incentivou.
O quarto de visita íntima até que não era dos piores, a cama estava
bem arrumada e os lençóis pelo cheiro pareciam limpos pelo menos.
O quarto tinha uma janela com grades e podia ser coberto com uma
persiana cinza, as cores, no entanto eram sem graça e apagadas e se não
fosse por um vaso de flores artificial no pequeno criado mudo aquilo
parecia meio mórbido.
E quando ele finalmente ficou livre corremos uma para o outro, Cas
beijou minha boca com uma saudade desesperada e eu não estava diferente.
E dessa vez nós recomeçamos, mas sem afobação, apenas com uma
saudade imensa e uma vontade de tornar aquele ali mais um momento
especial pelo qual queríamos guardar pelo resto das nossas vidas.
Cas deu uma pequena pausa e eu o senti acariciar o local onde antes
tinha a marca de Heron, mas que eu havia mandado retirar a algum tempo
com um procedimento a laser e que agora havia uma tatuagem bem recente
no lugar.
— Uma fênix? — ele perguntou em um meio sorriso, ainda
conectado a mim me apertando em seus braços se aprofundando um pouco
mais me fazendo soltar um gemido.
— Então acho que também terei que fazer uma pois renascemos
juntos — Ele afirmou usando uma das mãos para pressionar meu clitóris e
eu gozei sentindo ele ir mais fundo também gozando dentro de mim.
— O que você acha que vai ser? — Cas perguntou olhando a foto do
ultrassom que eu havia lhe dado.
— Claro que não, vamos decidir juntos — Revelei — todo mês vou
te mandar uma foto minha e de como está minha barriga e você vai
pensando em alguns nomes — feliz me sentando na cama me cobrindo com
o lençol — e não vai pensando que vai perder meu parto, porque vou filmar
tudinho e quando sair daqui vai ser obrigado a me assistir surtando — Falei
o fazendo rir.
— Eu não sei o que eu fiz para merecer você, mas eu faria tudo
novamente só para ter certeza de que você não escaparia de mim — ele
disse se sentando e beijando a pontas dos meus lábios com suavidade.
— É isso pessoal, estamos muito felizes com esse novo projeto, tão
felizes que até minha sobrinha resolveu querer participar — ele gracejou
nervoso — então aproveitem a festa — ele finalizou às pressas vindo me
socorrer.
— Dá para vocês decidirem quem vai, antes que essa menina nasça
aqui ou eu decida ir apê? — rangi em outra onda de dor.
Ele correu para o meu lado e segurou a minha mão com força.
Quando vi seu rostinho branco e ainda sujo, meu peito parecia que
iria explodir de felicidade.
— Agora eu tenho que volta… — ele disse todo sem graça e eu nem
tive como brigar com ele por ter feito aquela loucura.
— Quem te avisou? — perguntei antes que ele saísse, e Cas deu uma
boa olhada para o irmão.
Shofi, estava com 8 meses, pois apesar de eu ter fugido no dia de seu
nascimento o diretor do presídio havia sido compreensível comigo e me
dado apenas alguns meses a mais de detenção pelo delito, já que logo após
eu voltei sem dar nenhum tipo de dor de cabeça.
— Eu acho que não… estou feliz exatamente com o que tenho agora
— falei puxando Kiara para os meus braços e beijando o topo da sua
cabeça. — Estou muito feliz com o que tenho — repeti, começando a me
distanciar dos dois, indo embora com a minha filha e minha mulher.
Sim, Cas havia feito nossa casa bem ali naquele lugar magnífico,
onde tínhamos a visão da praia e do nascer do sol sempre que queríamos e
já era uma tradição a gente se sentava ali fora, mesmo quando estava frio e
tomávamos uma deliciosa xícara de chocolate quente enquanto víamos bem
devagar o sol nascer.
Cas voltou minutos depois, com duas xicaras e uma tigela de leite
morno para o gato, que pulou do seu colo assim que sentiu o cheiro.
— Grávida — ele disse rindo e eu fiz cara feia para ele, então ele
parou de rir me encarando com um olhar cheio de carinho que eu conhecia
muito bem.
Fim.
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