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Bioquímica

Enzimas

Data: 08/10/21

Enzimas
São catalisadores biológicos e não
sofrem alterações no processo global (embora
possam sofrer durante o processo, entram e
saem da mesma forma). São importantes para
o metabolismo geral.
Com exceção de poucas classes de
moléculas de RNA catalíticas, todas as demais
enzimas são proteínas.

Nomenclatura
As enzimas são divididas em 6 classes.

A nomenclatura recomendada é o
sufixo “ase” adicionado ao nome do substrato
sobre o qual a enzima atua. Ou esse sufixo
“ase” pode ser adicionado na descrição da ação
da enzima. • Oxidorredutases: catalisam a reação de
oxidorredução. Pode realizar a oxidação do
substrato ou a redução do substrato. Exemplo:
lactato → piruvato. Os hidrogênios saem do
lactato (oxidado) e vão para o NAD+ (ficando
reduzido). Se o carreador foi reduzido, significa
que o lactato foi oxidado. É reduzido quem
ganha o H. É oxidado quem perde o H.
• Transferases: catalisam a transferência de
grupos. Exemplo: serina → glicina. Temos a
enzima Serinahidroximetil-transferase. A
enzima pega o CH2 da serina e transfere
para o THF, liberando a glicina.
Existe um comitê que foi criado para
• Hidrolases: catalisam a quebra de ligações
que haja uniformidade na nomenclatura das
com a adição da água. Na imagem temos a
enzimas.
ureia que é quebrada pela água com auxílio da
urease. Normalmente (não é regra) as enzimas
desta categoria recebem o nome baseado no
seu substrato.
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• Liases: também catalisam a quebra de complementares. O sítio ativo possui várias


ligações sem participação da água: carbono- cadeias laterais de aminoácidos que o
carbono, carbono-enxofre e algumas ligações compõem.
carbono-nitrogênio. Na imagem, vemos uma
piruvato-descarboxilase que atua retirando o 2. Cinética das enzimas:
grupo carboxila (COO) do piruvato, a liberando
na forma de CO2.
• Isomerases: catalisam a racemização de
isômeros ópticos ou geométricos. Nesse caso
temos a ação da metilmalonil-CoA-mutase (o
mutase pode aparecer como isomerase). Na
imagem, podemos ver que houve uma mudança
de posição da carboxila, transferida para o
carbono da extremidade. Não mudou a função
química, mudando apenas a posição. Houve uma
catalisação de um isômero de posição.
• Ligases: catalisam a formação de ligação
entre carbono e oxigênio, enxofre ou
nitrogênio. Normalmente, é acoplada à hidrólise Na cinética enzimática temos uma
de compostos de alta energia (quebra do ATP). enzima + substrato que forma o complexo
Na imagem, a piruvato carboxilase vai pegar o enzima-substrato. Esse complexo é convertido
CO2 como fonte de carboxila e vai incorporar em enzima-produto, pela conversão do
no piruvato. Para isso, é necessária a quebra substrato. No final, há a liberação do produto
de ATP que sai como ADP + fosfato inorgânico. e da enzima.
O piruvato é transformado em oxaloacetato.
3. Eficiência catalítica:
Propriedades das enzimas

1. Sítios ativos:

As enzimas são muito eficientes,


realizando a cinética enzimática de forma
rápida e efetiva. Aceleram MUITO a velocidade
da reação (ordem de 1.000 a 1.000.000 de
vezes em comparação à reação não
catalisada). Além disso, diminuem a energia de
As enzimas têm uma região específica ativação para que o processo seja realizado.
chamada de sítio ativo, que é específico para Existe um termo turnover para medir a
cada enzima. Esse local interage com o eficiência catalítica: número de moléculas de
substrato para modificá-lo, e normalmente substrato convertidas em produto por 1
suas estruturas tridimensionais são molécula de enzima em 1 segundo.
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5. Cofatores:

A eficiência enzimática é medida


através do turnover, que é o número de Algumas enzimas necessitam de
renovação, cuja sigla é Kcat. No quadro, vemos cofatores para que haja efetivamente
o turnover (eficiência - conversão de atividade enzimática. Esses cofatores podem
substrato em produto) de algumas enzimas. ser íons metálicos ou moléculas orgânicas.
Um dos exemplos, a anidrase Quando os cofatores são moléculas orgânicas,
carbônica, atua sobre o substrato passam a se chamar de coenzimas. Essas
bicarbonato (HCO3). Uma molécula da enzima coenzimas são derivadas de vitaminas.
converte 400.000 moléculas de substrato em Quando as enzimas estão sozinhas,
produto durante apenas 1 seg. são chamadas de apoenzimas. Já quando estão
unidas ao cofator correspondente, são
4. Especificidade: chamadas de holoenzimas. O nome holoenzima,
que é enzima + cofator, serve tanto para
cofator inorgânico quanto orgânico.

Enzimas são muito específicas e


diferenciam isômero D de L, se a molécula tem
conformação cis ou trans, além de
catalisarem apenas um tipo específico de
reação como vimos anteriormente (6 tipos).
Aqui vemos uma coenzima, que é um
cofator orgânico, interagindo com a enzima e
mudando a conformação do sítio ativo (que
estava inativo e agora assume sua
conformação ativa). Assim, a enzima torna-se
apta a interagir com o substrato.
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6. Regulação: enzima não altera a energia do reagente nem


do produto (sendo igual para reação catalisada
ou não catalisada). No entanto, com enzima, é
como se pegássemos um caminho mais fácil,
com menos gasto energético.
Para que a reação ocorra, a bola
(energia) precisa chegar ao cúmen, onde há
Com relação à regulação é bem estabilização do estado de transição. Antes
simples. As enzimas podem ser ativadas ou disso, a bola voltaria para trás. Por isso, para
inibidas. que A seja convertido em B, precisa passar
pela estabilização do estado de transição (T -
Função enzimática cúmen da montanha, auge da energia livre de
ativação). Em resumo, as enzimas reduzem a
energia livre de ativação e levam à formação
do produto de forma mais rápida, sem alterar
a energia inicial e final dos envolvidos.

Em relação à função enzimática


propriamente dita, temos alterações de
energia e a química que acontece no sítio ativo
da enzima para transformar o substrato em
produto.

Com relação à química do sítio ativo,


precisamos primeiro estabilizar
energeticamente o estado de transição para
que não volte a formar o substrato (aumento
da concentração do intermediário reativo).
Os outros mecanismos envolvem o
fornecimento de grupos catalíticos (enzimas e
cofatores), catálise ácido-básica e formação
do complexo covalente enzima-substrato. A
Em relação às alterações de energia, interação entre enzima e substrato é
a substância A é convertida em B, mas passa fundamental para que haja a devida conversão
pelo estado T (estado de transição). O gráfico em produto (por modificação do substrato).
mostra a energia livre de ativação de Gibs (G)
em função do progresso da reação. A curva
azul é não catalisada. A linha vermelha está
catalisada por uma enzima. Percebemos uma
redução da energia de ativação quando há
participação da catálise enzimática. O estado
energético de A e B, ao final, não varia. A
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direção). Para estabilizar essa reação,


portanto, podemos transferir prótons H+,
retirando o H central que deixa a molécula
instável, e adicionando outro ao nitrogênio da
molécula (um rearranjo – transferência
parcial de prótons entre enzima e substrato).
Isso pode ocorrer mediado por uma
molécula de água (catálise ácido-básica
específica, clássica, ocorrendo à esquerda), ou
A catálise ácido-básica é a através de outra molécula (catálise geral
transferência parcial de prótons entre o ácido-básica). Independente da forma de
substrato e a enzima, reduzindo a energia de catálise, há formação de uma molécula
ativação. Possui dois tipos, podendo ser intermediária agora mais estável, com
específica ou geral. nitrogênio positivo (recebeu próton H+),
A catálise específica utiliza apenas o estabilizando o estado de transição. A partir
próton H + presente no hidrônio (H3O+ - de então, pode haver a liberação dos produtos
funciona como ácido) ou íons OH- presentes (final da imagem).
na água (OH recebe H e funciona como base).
Já a catálise geral, na transferência de
prótons, tem mediação de outra molécula que
não é a água.

Uma outra catálise que pode ocorrer


é a catálise covalente transitória, que ocorre
entre enzima e substrato (A e B) e pode
ocorrer na presença de água (separa enzima
e substrato por hidrólise) ou de um catalisador
covalente (separa enzima e substrato usando
um catalisador covalente).
Aqui vemos duas espécies reagindo, Nesse último caso, X, o catalisador
onde há um ataque do oxigênio ao carbono covalente, ataca A através de um grupo
carbonílico, gerando um intermediário. O nucleofílico, forma a ligação AX e libera B.
oxigênio se liga ao carbono, que tem sua ligação Depois, entra a água e libera o X ligado ao A.
dupla quebrada. O oxigênio que atacou, da
hidroxila, fica positivo. Já o oxigênio da
carbonila fica negativo.
Sem catálise, essa ligação é muito
instável e se quebra rapidamente, voltando a
formar os reagentes (seta maior nessa
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Fatores que afetam a velocidade da


reação

A última é a catálise por íons Os fatores que afetam a velocidade


metálicos. Ocorre através de íons metálicos da reação são tipicamente 3:
ligados à enzima para estabilizar e orientar o  Concentração do substrato;
estado de transição. Os íons têm esse poder  Temperatura;
de estabilização das moléculas.  pH.
A estabilização também pode ocorrer
por reações de oxirredução, cuja mudança
temporária no estado de oxidação do íon
metálico (se oxida ou se reduz) pode contribuir
para o processo de estabilização do estado de
transição.

Com relação à concentração do


substrato, vemos um gráfico com velocidade
da reação em relação à quantidade de
substrato.
Do lado esquerdo temos o processo de Quanto mais substrato, maior a
estabilização do estado de transição (centro) velocidade da reação. No entanto, chega um
e formação de dois produtos a partir do ponto em que se atinge a velocidade máxima
substrato. (mesmo que se adicione mais substrato, não há
Já na imagem da direita, temos um um aumento de velocidade da reação). Ocorre
sítio ativo de uma enzima em detalhes um processo de saturação, de modo que a
(interações entre cadeias laterais de velocidade passa a ser constante.
aminoácidos que constituem o sítio ativo com A curva verde, em formato sigmoidal,
o substrato, estabilizando o estado de são enzimas que não obedecem a cinética de
transição e formando o produto). Michaelis-Menten (alostéricas). Já a curva
azul, em formato de hipérbole, são enzimas que
seguem a cinética de Michaelis-Menten.
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Equação de Michaelis-Menten

Com relação ao aumento de


temperatura, há aumento da velocidade da A equação de Michaelis-Menten dita a
reação por aumento de energia cinética e cinética enzimática para as enzimas que não
aumento das interações. No entanto, chega são alostéricas. Km é a constante de
num ponto de temperatura de desnaturação Michaelis. Essa equação descreve a velocidade
que modifica o sítio ativo da enzima, a qual é da reação conforme a concentração do
desnaturada e fica inativa, caindo a velocidade substrato considerando a afinidade da enzima
da relação. com este substrato, o que é justamente o Km
(constante de Michaelis).

A constante de Michaelis (Km) reflete


Com relação ao pH, há alteração do a afinidade da enzima com relação ao
estado ionizado ou não-ionizado das cadeias substrato. Matematicamente, essa
laterais dos aminoácidos que compõem o sítio constante é a concentração do substrato na
ativo da enzima (há aminoácidos com cadeia qual a velocidade é igual à metade da
lateral positiva e outros com cadeia lateral velocidade máxima. Um Km baixo (precisa de
negativa. E isso depende do pH no qual estão pouco substrato para atingir metade da
inseridos). velocidade máxima) demonstra uma alta
Assim, o pH também pode promover a afinidade entre enzima e substrato. Já um Km
desnaturação (desorganizando a estrutura), alto (precisa de muito substrato para atingir
podendo tirar a carga dos aminoácidos e metade da velocidade máxima) demonstra a
consequentemente suas interações. Se baixa afinidade entre constante e substrato.
colocar a pepsina, por exemplo, em pH 9, ela
fica completamente inativa. Cada enzima
trabalha em um pH ideal para ela.
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Nesse gráfico, vemos a velocidade da


No gráfico, podemos observar as
reação em função da concentração do
regiões de reação de primeira ordem e reação
substrato com o uso de duas enzimas
de ordem zero (esse nome é porque,
diferentes.
independentemente da quantidade de
Para achar Km, basta localizar a
substrato, a velocidade da reação continua
metade da velocidade máxima, tracejar até a
constante), conforme indicado pelas flechas
curva da enzima e descer para a quantidade
brancas.
de substrato. Vemos que Km 1 da enzima 1 é
menor que a da enzima 2, significando que que
Gráfico de Lineweaver-Burke
a enzima 1 tem uma maior afinidade com o
substrato.

O formato hiperbólico não nos


permite visualizar perfeitamente em qual
A reação possui duas ordens:
momento a quantidade de substrato para de
interferir no aumento da velocidade da
• A primeira ordem (primeira parte do gráfico)
reação.
é anterior ao Km (substrato muito menor que
Pensando nisso, foi criado o gráfico de
Km), sendo a velocidade proporcional ao
Lineweaver-burke (ou gráfico dos duplos-
aumento da concentração de substrato.
recíprocos). Nesse caso, o gráfico é feito com
• A ordem zero é quando o substrato é muito
1/velocidade em relação a 1/concentração de
superior ao Km (porção da curva posterior a substrato. Isso foi feito para facilitar o cálculo
Km), sendo a velocidade constante e igual à do Km, mas principalmente da velocidade
velocidade máxima da reação (região de máxima.
saturação).
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A inibição pode ser competitiva ou


não-competitiva.

Inibição competitiva

O que era hipérbole vira então uma


reta que toca em dois pontos: no eixo x e no
eixo y.
• No eixo x, me indica 1/Km (- 1/km à esquerda Na inibição competitiva, o competidor
e +1/km à direita) dando uma referência vai se ligar de maneira reversível no mesmo
matemática para Km. local de ligação do substrato (sítio ativo). Se
• No eixo y, demonstra 1/velocidade máxima. aumento a quantidade de substrato, favoreço
sua ligação à enzima em detrimento da ligação
Inibição da atividade enzimática do inibidor com essa mesma enzima (combato
o inibidor). É como se déssemos mais força
para um dos competidores, tornando a briga
desequilibrada para um dos lados. Nesse caso,
tanto na presença quanto na ausência de
inibidor, havendo mais substrato, a reação
atinge a velocidade máxima.
Com a presença do inibidor, o Km da
reação fica maior, pois com o inibidor é como
se diminuíssemos a afinidade da enzima ao
substrato, precisando de ainda mais substrato
Os inibidores podem ser divididos em para desenvolver a velocidade normal da
dois grupos: reversíveis e irreversíveis. reação. Nesse caso, quanto mais substrato
Os reversíveis se ligam às enzimas por ligações for necessário para atingir metade da
fracas, de modo que depois pode ocorrer a velocidade máxima, maior é o Km. A velocidade
diluição desse complexo enzima-inibidor, máxima, por sua vez, não é alterada com a
restaurando a atividade enzimática. presença de inibidor.
Já os inibidores irreversíveis
estabelecem relações fortes com as enzimas, • Km aumenta;
e não conseguimos mais recuperar a atividade • Vmáx inalterada.
enzimática.
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Alguns exemplos de inibição


competitiva são:

• Fármacos anti-hiperlipidêmicos, que inibem


uma enzima chamada hidroxi-metil-glutamil
(HMG-CoA redutase), a qual faz parte da via
de síntese do colesterol. Inibindo essa enzima,
inibe a via de síntese do colesterol e reduz os
níveis de colesterol. Exemplos dessa classe de
fármacos são as estatinas, como a
sinvastatina e a atorvastatina. Tem a mesma
terminação porque fazem parte do mesmo
grupo químico.
Do ponto de vista esquemático, vemos
o inibidor trabalhando como um “empata foda”
entre a enzima e o substrato.

Essa enzima usa como substrato o


HMG-coA. No lado esquerdo, em branco,
Aqui vemos o gráfico de Michaelis vemos o inibidor competitivo pravastatina.
(hiperbólico) e o gráfico de Lineweaver (reto). Para haver essa competição entre substrato
Sem inibidor são as linhas em azul. Com inibidor e inibidor, essas moléculas têm que possuir uma
são as linhas em vermelho. No primeiro gráfico, similaridade química (e podemos notar que tem,
parece que em vermelho não vai chegar à se observarmos as partes em vermelho).
velocidade máxima (mas chega sim, e Resumindo, a enzima HMG-CoA
confirmamos isso através do outro gráfico). redutase atuará sobre a HMG-CoA formando
Na presença do inibidor, vemos um aumento do o intermediário denominado mevalonato. O
Km. mevalonato é intermediário para a síntese de
colesterol, e é justamente ele que tem sua
formação inibida pela atuação de fármacos
como a pravastatina.
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não é alcançada na presença de inibidor, e não


há alteração do Km (não altera a afinidade da
enzima com seu substrato).

Outros exemplos de inibição


competitiva são:

• Fármacos anti-hipertensivos da classe dos


inibidores da enzima conversora da
angiotensina. Nesse caso, a enzima conversora Aqui vemos a inibição não competitiva
da angiotensina (SA - liberada a nível pulmonar) de forma esquemática. Vemos que o sítio ativo
leva à formação da angiotensina II, que é um da enzima está livre. O inibidor se liga ao sítio
agente hipertensor. Quando inibimos a enzima alostérico. No entanto, quando inibidor se liga
conversora da angiotensina, impedimos a ao sítio alostérico, há redução da ligação entre
formação da angiotensina II e reduzimos a enzima e substrato por uma alteração de
hipertensão arterial. Essa inibição da enzima conformação da enzima de forma geral. A
ocorre de forma competitiva, com moléculas inibição é não competitiva porque eles não
como do captopril e enalapril, que se competem pelo mesmo sítio da enzima.
assemelham ao substrato da enzima e ocupam
seu lugar, impedindo a formação do produto
(angiotensina II).

Inibição não-competitiva:

Vemos que com o inibidor, a velocidade


máxima é outra. Então ele impede o alcance
Nessa modalidade de inibição, o normal da velocidade máxima (o que não
substrato continua a tentar se ligar na ocorria com a inibição competitiva). Nesse
enzima em seu sítio ativo. O inibidor vai se ligar caso, a outra diferença é que não há
em outro local, chamado de sítio alostérico alteração da constante de Michaelis, o Km,
(inibidor e substrato se ligam em locais que permanece o mesmo para as duas curvas
diferentes). Nesse caso, a velocidade máxima (sem e com inibidor).
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Ressalta-se, novamente, que em A


temos o gráfico de Michaelis e em B o gráfico
de Lineweaver-Burke. Nesse segundo, vemos
que onde tocam no eixo X é o 1/Km, que é igual
para ambos. Já onde toca o eixo Y é 1/v.máx.,
diferente para cada um (com inibidor, cruza
em y mais acima, indicando menor velocidade
máxima).

Aqui vemos exemplos de


organofosforados. Uns muito famosos são os
gases como sarin, tabun e soman, muito
Exemplos de inibição não competitiva utilizados na guerra.
são:
• Organofosforados (inseticidas e agrotóxicos)
e carbamatos. Ambos são inibidores
irreversíveis (alteram a enzima para sempre)
da acetilcolinesterase (que promove a
degradação da acetilcolina).

Já com relação aos exemplos dos


carbamatos temos o TEMIK - aldicarb,
conhecido pelo nome chumbinho (é um raticida).
O formato de bola de chumbo leva muitas
crianças a comerem o chumbinho o
confundindo com bala ou algo do gênero. É um
Aqui vemos um neurônio que sintetiza inibidor NÃO COMPETITIVO E IRREVERSÍVEL da
a acetilcolina. Ela é liberada na fenda sináptica. acetilcolinesterase, impedindo a degradação de
A enzima a degrada em colina e acetato. Com acetilcolina e, consequentemente, provoca
os inibidores que citamos acima, a enzima é bradicardia e dificuldade respiratória - muitos
inibida, o que significa que a acetilcolina não dos casos levaram à óbito.
será degradada em colina e acetato. Isso
levará a efeitos com relação à conexão da
acetilcolina com seus receptores. Como
exemplos desses efeitos temos a bradicardia e
dificuldade respiratória devido à
broncoconstrição.
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Regulação da atividade enzimática

Aqui vemos a enzima em suas duas


formas. Uma forma ativa, com os sítios ativos
expostos para se ligar ao substrato que será
degradado, e uma forma inativa, com os sítios
Temos algumas enzimas que podem ativos escondidos.
sofrer ações em sítios alostéricos (diferentes No caso dos efetores positivos,
dos sítios ativos) por substâncias que podem chamados de ativadores, eles se ligam ao sítio
ser chamados de efetores, moduladores ou alostérico e estabilizam a enzima em sua
modificadores. Eles se ligam de forma não- conformação ativa. Já no caso de um efetor
covalente e reversível a um sítio que não é o negativo, denominado inibidor, ele também se
catalítico, ou seja, sítios alostéricos. Essas liga ao sítio alostérico, mas estabiliza a enzima
enzimas, em gráfico, se apresentam em em sua conformação inativa.
curvas sigmoidais. Esses efetores podem ser
tanto positivos quanto negativos.

Os efetores podem, ainda, ser


classificados em homotrópicos e
heterotrópicos.
No primeiro gráfico, vemos a Efetores homotrópicos são moléculas
diferença de uma enzima normal (hipérbole) do próprio substrato que, ao se ligarem à
para uma enzima alostérica (sigmoidal). Nos enzima, se ligam também ao sítio alostérico.
gráficos abaixo, vemos, no caso de enzimas Normalmente, esses efetores homotrópicos
alostéricas, como a velocidade da reação se são efetores positivos (que aumentam a
modifica com a presença desses velocidade da reação).
efetores/moduladores. Com um modulador Já efetores heterotrópicos são
positivo, a velocidade máxima aumenta. Com efetores diferentes do substrato (outra
um modulador negativo, a velocidade máxima substância). Na imagem, vemos uma substância
diminui. G (diferente do substrato) inibindo a enzima.
Como é uma substância diferente, é um
exemplo de efetor heterotrópico.
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pode estar INATIVA. É o que vemos na segunda


imagem. A fosforilase B está menos ativa na
primeira conformação (sem radical fosfato -
hidroxila livre - quem retira é a fosforilase
fosfatase) e mais ativa na segunda
conformação (com incorporação do radical
fosfato - quem adiciona é a fosforilase
quinase).
Outra forma de regulação que Como essa incorporação ou retirada
podemos ter é a regulação por modificação de radical fosfato pode aumentar ou diminuir
covalente. Ocorre pela adição de grupos a atividade enzimática, é um modo de
fosfato (adição de proteínas quinases) ou regulação enzimática.
remoção de grupos fosfato (remoção de
proteínas fosfatases).
Nesse caso, a adição se dá em
aminoácidos que apresentam hidroxila livre em
sua cadeia lateral. Os aminoácidos que têm
essa configuração são a serina, treonina e
tirosina.

Outro mecanismo de regulação é


induzir ou repelir a síntese das enzimas,
regulando assim a atividade enzimática.
Na imagem vemos o exemplo da gluco-
quinase (GK), enzima que faz parte da primeira
etapa da vida da glicose. Podemos fazer com
que essa enzima migre para o núcleo e se ligue
Aqui na imagem vemos uma enzima que ao ambiente regulatório, ficando inativa. Ou
possui o aminoácido com hidroxila livre (serina, posso interferir nos mecanismos de
treonina ou tirosina). A proteína quinase pega transcrição e síntese da gluco-quinase.
um radical fosfato do ATP e incorpora a essa
hidroxila livre da enzima. O que sobra do ATP
sem o radical fosfato é o ADP (liberado). Esse
evento é denominado fosforilação, justamente
a função das proteínas quinases.
O evento inverso é a desfosforilação.
Quem faz isso é uma proteína fosfatase, a
qual promove uma reação de hidrólise (a água
entra, retira o radical fosfato e o libera),
restando a enzima em seu estado original. A regulação da atividade enzimática
Uma enzima fosforilada pode estar pode ser:
ATIVA enquanto uma enzima desfosforilada
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• Por sítios alostéricos de ligação: algumas


enzimas podem sofrer alterações em sítios
alostéricos, locais em que efetores se ligam
com atividade tanto negativa quanto positiva.
Nesse caso, a ligação desses
efetores/moduladores no sítio alostérico pode
estabilizar a enzima em seu estado ativo ou
em seu estado inativo, regulando a atividade
enzimática;
• Por efetores homotrópicos (regulação por
disponibilidade de substrato): aqui, o efetor é o
próprio substrato, que além de se ligar ao sítio Fármacos que interagem com as
ativo da enzima, se liga ao sítio alostérico, enzimas
regulando sua atividade;
• Por efetores heterotrópicos (regulação por
inibição do produto): aqui, o efetor é, por
exemplo, um produto da reação, uma molécula
diferente do substrato. Da mesma forma,
essa substância se liga ao sítio alostérico da
enzima regulando sua atividade;
• Por modificação covalente: nesse caso,
ocorre adição (por proteínas quinases) ou
remoção (por proteínas fosfatases) de grupos
fosfato da enzima. Uma enzima pode estar
• Inibidores de enzima conversora de
mais ativa em seu estado fosforilado, por
angiotensina (ECA) como o captopril e enalapril
exemplo, e menos ativa em seu estado
são utilizados para tratamento de
desfosforilado, motivo pelo qual esse processo
hipertensão. São fármacos anti-hipertensivos
funciona como regulação;
da classe dos inibidores da enzima conversora
• Por indução ou repressão da síntese: a
da angiotensina. Nesse caso, a enzima
própria enzima pode ser encaminhada para o
conversora da angiotensina (SA - liberada a
núcleo da célula, unindo-se ao complexo
nível pulmonar) leva à formação da
regulatório de sua síntese. Dessa forma, pode
angiotensina II, que é um agente hipertensor.
induzir ou reprimir a síntese da própria enzima,
Quando inibimos a enzima conversora da
afetando diretamente no grau da atividade
angiotensina, impedimos a formação da
enzimática na célula. Esse mecanismo de
angiotensina II e reduzimos a hipertensão
regulação é o mais lento de todos e pode levar
arterial. Essa inibição da enzima ocorre de
de horas a dias.
forma competitiva, com moléculas como do
captopril e enalapril, que se assemelham ao
substrato da enzima e ocupam seu lugar,
impedindo a formação do produto
(angiotensina II).
• Antinflamatórios não esteroidais são
inibidores da ciclo-oxigenase (que é a enzima
que pega o ácido aracdônico e forma os
eicosanoides (prostanoides, leucotrienos e
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lipoxinas. Os prostanoides incluem as


prostaglandinas, as prostaciclinas e os
tromboxanos). Inibindo a ciclo-oxigenase, não há
formação desses eicosanoides (problema de
hemorragia por ausência de tromboxanos, por
exemplo).
• Antidepressivos são inibidores da
monoaminoxidase (MAO). Essa enzima degrada
as monoaminas (importância no sistema A tirosina (em falta) é
nervoso). importantíssima para a formação das
• Antihiperlipidêmicos inibem a HMG-CoA- catecolaminas (intermediário de DOPA).
redutase (3-hidroxi-3-methyl-glutaril-CoA
redutase) que faz parte do ciclo de vida do
colesterol.

Doenças com defeitos enzimáticos

O diagnóstico dessa doença deve ser


feito de forma precoce para evitar os danos
irreversíveis ao sistema nervoso. Esse
diagnóstico ocorre através do “teste do
Uma doença bem conhecida é a pezinho”, teste de tiragem neonatal.
fenilcetonúria, com defeito ou ausência da
enzima fenilalanina hidroxilase. Essa enzima
transforma fenilalanina em tirosina. Sem a
enzima, portanto, há um acúmulo de
fenilalanina (levando ao acúmulo de seus
metabólitos, o ácido fenilpirúvico e o ácido
fenolacético). Esse acúmulo gera oligofrenia
(problema na capacidade de raciocínio, atraso
mental), atraso no desenvolvimento
psicomotor (andar, falar), convulsões,
hiperatividade, tremores etc.

Outra doença associada ao defeito


enzimático é a intolerância à lactose. A enzima
lactase pega a lactose (açúcar) e degrada em
galactose e glicose. O paciente que não tem
essa enzima, provoca um acúmulo de lactose
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no ambiente trato intestinal. Esse acúmulo


torna o ambiente hipertônico, fazendo com
que absorva mais água.
Além disso, essa lactose acumulada
serve de alimento para o processo de
fermentação bacteriana (gases, cólica e
diarreia osmótica). Hoje em dia, o paciente
pode ingerir a enzima, ou optar por produtos
sem lactose (em sua maioria, os próprios
produtos contêm a enzima, não sendo sem
lactose, mas sendo um combo de lactose + Doenças hepáticas - a ALT (alanina
lactase). aminotransferase) e AST (aspartato
aminatransferase) são enzimas que auxiliam
nesse processo de transferências de grupos
Enzimas utilizadas no diagnóstico aminos de um aminoácido para o outro,
clínico favorecendo o processo de metabolismo
desses grupos nitrogenados.

Doenças pancreáticas - uma enzima


utilizada é a amilase, sendo da classe das
hidrolases. É secretada no duodeno e hidrolisa
carboidratos. Ela vai estar aumentada no
caso de pancreatite aguda, pancreatite
crônica ou obstrução no ducto pancreático.

A lipase hidrolisa triglicerídeos e seu Na ação da alanina-


aumento indica pancreatite aguda ou aminotransferase, se pega o piruvato e
pancreatite crônica. glutamato, retira o grupamento amina e libera
alanina e alfa-cetoglutarato.
Na ação da aspartato-
aminotransferase, parte-se do aspartato e
Bioquímica
Enzimas

alfa-cetoglutarato, liberando oxalacetato e


glutamato.
Essas enzimas são
caracteristicamente hepáticas e utilizadas
para a verificação de possíveis problemas
hepáticos.
Doenças cardíacas - a gama GT (GGT)
é uma enzima que catalisa a transferência de
aminoácidos e peptídeos através da membrana
celular. Está elevada principalmente na
colestase e serve como marcador para auxiliar
no diagnóstico de alcoolismo crônico.

Temos um aumento dessas enzimas


ALT e AST em todas essas doenças listadas
no slide.

A creatinoquinase (CK) vai fosforilar


a creatina, regulando a formação de
compostos de alta energia como no coração.
Ela possui isoenzimas (são as mesmas enzimas,
com mesma ação, mas apresentam uma
diferenciação na sequência de aminoácidos,
variando conforme a região do corpo em que
são encontradas). A CK-MB, encontrada do
músculo cardíaco, pode ser utilizada no
diagnóstico do infarto agudo de miocárdio.
A enzima fosfatase alcalina (ALP) é da
classe das hidrolases e REMOVE grupos
fosfato de várias partes do nosso corpo. É
importante para o diagnóstico de doenças
hepáticas e ósseas.
Níveis elevados indicam colestase
(redução do fluxo biliar), tumores ósseos e
hiperparatireoidismo. Já níveis reduzidos se
relacionam ao hipotireoidismo e desnutrição.
Bioquímica
Enzimas

A creatinoquinase se relaciona com as


doenças listadas acima. No exercício físico
recente há degradação de fibras musculares ,
jogando para a circulação sanguínea essas
enzimas que estavam presentes nesse tecido
degradado.

Doenças prostáticas - PSA é nosso


último marcador, um antígeno prostático
específico. Ele é secretado no líquido seminal. É
um marcador que indica tumor
adenocarcinoma prostático. Seus níveis
elevados também podem representar doenças
que não são tumor, como prostatite e
hiperplasia benigna da próstata.

Para finalizar, podemos perceber que


os mesmos marcadores podem estar alterados
em diferentes condições clínicas, revelando a
importância do diagnóstico diferencial.

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