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ENZIMAS

Catalisadores biológicos, de reações que usam


e transformam energia dos seres vivos. Existem
dois tipos de catalisadores biológicos, as
enzimas, que são proteínas com atividade
catalítica, e as ribozimas, que são RNA.

Breve histórico sobre enzimas


No século XVIII, começaram estudos de análise
biológica, na digestão dos alimentos, pela
observação da digestão da carne no estômago
e do amido na saliva.
As enzimas diminuem as energias de ativação
Em 1850, Pasteur concluiu que a conversão de
das reações químicas necessárias ao
açúcar em álcool era feito por seres vivos, as
metabolismo celular.
leveduras, que chamou de fermento. Em
Substrato e produto têm energia, e para que o
seguidas, extratos de leveduras, obtidos pela
substrato seja transformado em produto, é
quebra das células de leveduras, continuavam
necessário energia para atingir o estado de
transformando açúcar em álcool – marcou o
transição, quando é transformado em produto.
início da bioquímica.
Há barreira energética que impede S → P
Surge o termo enzima, do latim, “dentro das
livremente. Essas barreiras energéticas são
leveduras”. Em 1926, foi feita a cristalização da
fundamentais para a vida.
urease, o que levou à proposição de que as
enzimas são proteínas.

Enzimas
Proteínas que catalisam e aumentam a
velocidade das reações químicas. Diferem dos
catalisadores químicos por:
-ordem de grandeza da catálise: enzimas são
mais eficiente;
-especificidade, quanto ao substrato e ao
produto, muitos catalisadores químicos são
inespecíficos;
-formação do complexo enzima-substrato:
enzima interage com o substrato formando o As enzimas, ao interagir com S e formar o
complexo ES, que permite que a catálise ocorra complexo ES, fazem o substrato atingir o
rapidamente. estado de transição com menos energia. Assim,
aceleram e catalisam as reações biológicas.

Isso ocorre no sítio ativo da enzima. Região da


proteína onde há resíduos de aminoácidos que
interagem com o substrato, formando o
complexo ES.
Ocorre ligação entre enzima e substrato de A enzima ao interagir com o substrato sofre e
uma forma que force o substrato a adotar seu causa mudanças conformacionais. A entrada
estado de transição. São ligações fracas ou no S no sítio catalítico promove mudança
covalentes entre E e S, que permitem isso. conformacional na proteína.
Ocorre no sítio ativo.
No sítio ativo há resíduos importantes,
carregados, que permitem a interação com o
substrato e medeiam os processos catalíticos.

Fatores físicos e termodinâmicos diminuem a


energia de ativação.
-entropia: livre movimentação das moléculas,
que reduz a chance de reação. A enzima
aproxima os substratos;
-camada de solvatação: maior parte dos S
Esse encaixe entre E e S é chamado de chave e estão em ambiente aquoso, com moléculas de
fechadura, porém não ocorre dessa forma. água em torno, ligadas por ligações de H, que
a) Energia precisa ser colocada para atingir o precisam ser removida para os S reagirem;
estado de transição e formar os produtos. -distorção de substratos.
Precisa muita energia. A interação ES sobrepuja essas barreiras.
b) Modelo chave e fechadura, enzima e
substrato encaixam perfeitamente, e não forma Cinética enzimática
produtos. Michaelis e Menten estudaram a invertase,
c) Enzima, interagindo com o substrato no sítio enzima que corta a sacarose. Verificaram que a
catalítico, força o substrato para que interaja velocidade (inicial) de uma reação enzimática
com a enzima em sua forma de transição, depende da concentração de substrato.
facilitando a formação de produtos. Velocidade inicial é quando menos de 5% de S
virou P.

Quanto mais substrato dado a uma enzima,


com maior velocidade ela trabalha, até que seja
atingida a velocidade máxima. A concentração
de substrato que determina metade da vmáx é com os eixos x e y são importantes.
chamada Km, e define a afinidade da enzima Na intersecção com o eixo y, 1/[S]=0, o valor
pelo substrato. encontrado é 1/vmáx. Para que 1/[S]=0, [S]
Uma hipérbole descreve a relação entre v e [S], precisa ser infinita, o que não é possível em
e é representada matematicamente pela laboratório.
equação de Michaelis-Menten. Na intersecção com o eixo x, corresponde a
-1/Km.

Constante de renovação
kcat, número de moléculas de S convertidas em
P, por unidade de tempo, por uma única
molécula de enzima.
A afinidade da enzima é inversamente
relacionada ao Km. Quanto menor o Km, maior
a afinidade da enzima pelo S.
A velocidade máxima depende da quantidade
de enzima, quando se chega na concentração
saturante.

Eficiência catalítica
Kcat/Km
Quantidade de moléculas que transforma por
segundo dividida pela afinidade da enzima pelo
S. Estima quão perfeita, eficiente uma enzima
é. Uma enzima pode ser mais eficiente com um
substrato que com outro.
Hexoquinase: fosforila hexoses. Tem afinidade Por exemplo, a eficiência da quimiotripsina
maior pela glicose que pela frutose. varia conforme o aminoácido que é seu
substrato. É mais eficiente com aminoácidos
Para encontrar Km, seria necessário encontrar hidrofóbicos.
a vmáx. Porém, determinação de vmáx pode ser
experimentalmente impossível. Para isso, há
transformação da equação de Michaelis-
Menten para um duplo recíproco, a equação
Lineweaver-Burk. A equação de MM é
rearranjada.

Inibição enzimática
Enzimas podem ser inibidas por moléculas
específicas, os inibidores. Podem ser moléculas
endógenas, do próprio metabolismo, ou
moléculas exógenas. A maior parte dos
fármacos atuam como inibidores da atividade
enzimática.
Gráfico deixa de ser uma hipérbole e se torna Os inibidores podem ser reversíveis ou
uma linha reta. Ponto de intersecção da reta irreversíveis, e podem ser classificados em
inibição competitiva, não-competitiva e Linha 1 na ausência de inibidor. Todas as linhas
acompetitiva. passam pelo mesmo ponto do y, portanto têm
vmáx iguais. Porém, passam pelo eixo x em
Inibição competitiva pontos diferentes, indicando Km diferentes.
Enzima forma complexo ES, que forma produto.
O inibidor competitivo compete com o Exemplo
substrato pelo sítio ativo da enzima, a enzima HMG-CoA-redutase transforma HMG-CoA em
ligada ao inibidor não forma produto. colesterol, é enzima limitante na síntese de
colesterol. Pravastatina, inibidor competitivo
da enzima, se liga a ela e a síntese de colesterol
não ocorre. Medicamento utilizado para
abaixar níveis de colesterol.

O inibidor competitivo geralmente tem


semelhança estrutural com o substrato, se
ligando ao sítio ativo, e a inibição depende das
concentrações de S e de I. Aumento de
substrato diminui a inibição.
O Km da enzima aumenta, ou seja, diminui a
afinidade da enzima pelo substrato. Não altera
a vmáx, pois em concentração suficiente de S, ela
é atingida mesmo com inibidor.
Inibição não-competitiva
O inibidor pode se ligar na enzima e no
complexo ES. Se liga em outro sítio que não o
sítio ativo da enzima, portanto se liga tanto à
enzima sozinha quanto ao complexo ES.
Afeta vmáx mas não afeta Km. Diminui a
quantidade de enzima disponível para a reação
que forma o produto.

Intercepção no eixo x não é alterado, mas


intercepção diferente no eixo y, portanto a v máx
é alterada.
Inibição irreversível
Inibidor reage com o sítio ativo da enzima,
formando ligação covalente que cessa a
atividade enzimática.

Exemplo
O inibidor não tem semelhança estrutural ao
substrato. Acetilcolina é neurotransmissor
substrato da acetilcolinesterase. Droga para
tratamento da doença de Alzheimer inibe a
acetilcolinesterase, a tacrina.

Condições ótimas
Inibição acompetitiva Enzimas têm temperatura ótima. Com
O inibidor se liga no complexo ES. Em vez da aumento da temperatura, a atividade aumenta,
formação de produto, se forma um complexo mas a partir de certo ponto há queda brusca na
ESI. A interação da enzima com o substrato atividade enzimática, pois as enzimas sofrem
facilita a ligação do inibidor. desnaturação.

São afetados tanto vmáx quanto Km. Toda enzima tem também pH ótimo. Glicose-6-
fosfatase tem pH ótimo de 8; pepsina tem pH
ótimo ácido; tripsina tem pH ótimo alcalina;
papaína não tem pH ótimo.
Cofatores e coenzimas Lactato desidrogenase
Muitas enzimas precisam de outras moléculas Transformação de lactato em piruvato, é uma
para realizar a catálise. Se essa “molécula” for reação de oxirredução, que tem como
um íon, é um cofator enzimático, geralmente coenzima NAD+, produzindo NADH. A lactato
micronutrientes. desidrogenase tem quatro subunidades.

No genoma, há dois genes diferentes para


formar as subunidades da lactato
desidrogenase. LDHA, no cromossomo 11,
forma a subunidade M. LDHB, no cromossomo
12, forma a subunidade H. Tetrâmero formado
por dois tipos de subunidades, com
combinação entre subunidades H e M.
Quando enzimas precisam de uma molécula
orgânica para a catálise, ela é chamada
coenzima. Geralmente vitaminas, que precisam
ser absorvidas da dieta, pois os humanos
perderam a capacidade de sintetizar essas
moléculas.

Isso forma isoformas, isoenzimas da LDH. A


LDH1 trabalha principalmente formando
piruvato, e a LDH5 formando lactato.
Essas isoformas são analisadas por
eletroforese. Têm distribuição tecidual
diferente. A forma M4 (LDH5) é abundante nos
músculos, e a H4 (LDH1) no coração.

Tiamina forma a coenzima tiamina pirofosfato,


sua falta causa beriberi. A vitamina C participa
de reações de oxidorredução e tem ação
antioxidante, e sua falta causa escorbuto.
Riboflavina, a vitamina B2, faz parte do FAD –
flavina adenina dinucleotídeo. Niacina faz parte
do NAD – nicotinamida adenina dinucleotídeo.

Isoenzimas As enzimas celulares naturalmente escapam


Catalisam a mesma reação, mas são proteínas para o sangue, com níveis normais no sangue.
diferentes. Codificadas por genes diferentes, Em patologia, há aumento de enzimas na
presentes em tecidos diferentes, têm corrente sanguínea, por morte celular, e essas
propriedades catalíticas diferentes, e podem quantidades podem ser observadas em
ser reguladas diferentemente. eletroforese.
Análise das isoformas pode ser útil para definir
os tecidos com injúria.

Células normais, pela glicólise, formam Exemplo é o feedback negativo. Produto


piruvato, que vai ao CK, ou, eventualmente, metabólico da via é inibidor alostérico de
pode ser transformado em lactato. Nas células enzima dessa via.
tumorais, há alteração do metabolismo, com
alta captação de glicose, utilizada na glicólise, e Enzimas alostéricas não seguem equação de
produz lactato, metabolizado pelo organismo. Michaelis-Menten, em vez de hipérbole, têm
Células cancerosas têm níveis alterados de LDH. uma curva sigmoide. São enzimas
O tipo de LDH pode sugerir o tecido em que se multiméricas, ocorre como a cooperatividade
localiza o tumor. na Hb. Não possuem Km, a afinidade pelo
substrato é chamada afinidade aparente, K0,5.

Regulação enzimática
Muitas enzimas podem ter sua atividade
regulada, para modular o metabolismo celular.
Há três tipos de regulação: por alosterismo Moduladores alostéricos podem influenciar a
(enzimas alostéricas), por modificação afinidade da enzima pelo substrato, ou pode
covalente ou por clivagem proteolítica. influenciar na vmáx da reação.
Alosteria
Tipicamente em enzimas com estrutura
quaternária, ou com subunidade catalítica e
uma regulatória.
Enzima ligada a nada é menos ativa, modulador
causa mudança conformacional que facilita a
catálise – modulador positivo. Pode ser
modulador negativo.
Regulação covalente Pela ação de fosfatase, a glicogênio fosfatase a
Enzima se liga covalentemente a molécula, e pode perder o fosfato da Ser14, se tornando
isso modula a atividade enzimática. menos ativa, na forma b.
Fosforilação, quando a enzima recebe
grupamento fosfato. Ocorre em resíduos
serina, treonina, tirosina, histidina.
Adenilação, ligação covalente de adenina.
Uridilação, ligação de uridila. ADP-ribosilação,
ligação de um nucleotídeo à enzima.
Metilação, grupamento metila se liga na
enzima.

Glicogênio sintase
Sintetiza glicogênio, também regulada por
fosforilação. Existem 9 sítios de fosforilação,
por diferentes cinases. A fosforilação inibe a
enzima.

Glicogênio fosforilase
Faz a quebra do glicogênio. A enzima utiliza
fosfato para clivar ligação alfa 1→4, para liberar
monômero de açúcar, em uma fosforólise. Essa
enzima é regulada por fosforilação.

Clivagem proteolítica
A enzima é sintetizada como zimógeno, uma
forma inativa que, sofrendo hidrólise
proteolítica, se torna ativa.
Quimiotripsinogênio, zimogênio inativo, se
A glicogênio fosforilase a é ativa, e a forma b é tiver seu 15 primeiros aminoácidos clivados
menos ativa. Se resíduo Ser14 da forma b pela tripsina, se torna quimiotripsina, ativa.
recebe grupamento fosfato ela se torna mais Tripsinogênio, se perder os 6 primeiros
ativa, isso é feito pela fosforilase cinase. Uma aminoácidos, se torna tripsina ativa. Lipase é
cinase transfere grupamentos fosfato de sintetizada na forma inativa de pró-lipase. É
nucleotídeo a moléculas. uma forma de proteger as células que
sintetizam essas enzimas.

Classificação das enzimas


Classificadas em seis classes.

Enzimas classificadas recebem um número.


Urease: 3.5.1.5
3: hidrolase
5: subtipo de hidrolase
Os outros números estão relacionados a
substratos e produtos.

Felipe Piccoli Rostirolla

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