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Em trabalhos mais recentes, Beck e colaboradores vem dedicando mais

atenção à noção de um inconsciente cognitivo, baseado na idéia de


uma natureza inconsciente no processamento cognitivo de informação
(Beck & Alford, 2000). O conceito de processamento automático de
informação, proveniente da Ciência Cognitiva e Psicologia Cognitiva,
influenciou o constructo de pensamento automático em TC. A memória
implícita, também chamada de não-declarativa ou inconsciente (Squire &
Kandel, 2003; Schacter, 1987; 1992; 1996; 2003), tem sido citada por
teóricos importantes em TC (por exemplo, Jeremy Safran, 2002) como
substrato teórico fundamental para compreender cognições que não são
acessíveis à percepção consciente do paciente, mas que podem ser
modificadas pela identificação e testagem das crenças relacionadas aos
problemas clínicos apresentados.

Uma pessoa que estruturou uma auto-imagem como incapaz de ser


amada vai processar a experiência de uma rejeição amorosa como
evidência da veracidade de suas crenças, reconfirmando-as a cada
experiência negativa de tal forma que, cada vez mais,
parecem certas e reais suas crenças sobre si mesmo – este processo cria
um circuito de retroalimentação que estabiliza a idéia de ser indigna de
amor. O comportamento, por sua vez, é negativamente influenciado por
este conjunto de crenças, fazendo a pessoa agir de modo a confirmar
sua profecia catastrófica (a previsão sem fundamento de que algo
catastrófico acontecerá) - que gera continuamente o que é percebido
como evidência confirmatória dos esquemas. Se o sujeito considera-se
indigno de amor, agirá de forma acabrunhada e tímida, não olhará nos olhos
e falará baixo em uma situação social, conduta que certamente aumenta
sua chance de rejeição. As rejeições que ocorrem, por sua vez, confirmam
os esquemas em um círculo vicioso autoperpetuador.

Os esquemas cristalizam-se nas profundezas do self, processando silenciosa


e inconscientemente os dados da realidade - estão amalgamados em nossas
percepções, julgamentos, desejos, necessidades, pensamentos e
sentimentos. Este aspecto está presente no funcionamento mental de
todos, mas se torna particularmente evidente quando tratamos de
transtornos de personalidade (um conjunto de transtornos que envolvem
padrões persistentes e dificuldades crônicas, como personalidade evitativa,
paranóide, dependente, histriônica, esquizóide ou borderline, por exemplo).
Normalmente, não estamos conscientes da operação silenciosa dos
esquemas, nem mesmo de sua existência, somente
dos resultados produzidos, que acabam compondo o núcleo de nossa
personalidade. Nossa auto-imagem é estruturada pelos esquemas e seu
caráter circular, como enfatizam Guidano e Liotti (1983), pois “a seleção de
dados da realidade externa que são coerentes com a auto-imagem
obviamente confirma – de maneira automática e circular – a identidade
pessoal percebida...” (p. 88-89).

Os EIDs se referem a “temas extremamente estáveis e duradouros que se


desenvolvem cedo durante a infância, são elaborados ao longo da vida e são
disfuncionais em um grau significativo” (p. 15), compõe núcleos profundos
do self refletidos na auto-imagem tácita, como uma visão de si mesmo
orgânica e inquestionável. São rígidos e incondicionais, como, por exemplo,
quando o paciente sente que, não importa o que possa fazer, não será
amado, mas sim abandonado e traído em sua confiança. O sujeito percebe
o EID como uma verdade a priori, irrefutável e aceita como uma realidade
intrínseca, essencial.

Os Esquemas Iniciais Desadaptativos implicam em disfuncionalidade


importante, gerando muitas vezes transtornos mentais ou sofrimento
psicológico subclínico. São ativados por eventos significativos para a pessoa,
como, por exemplo, uma atribuição difícil para uma pessoa com esquema
de fracasso, que pode acionar pensamentos autoderrotistas com elevada
carga emocional (“não vou conseguir” ou “vou falhar e ser demitido”).

Jeffrey Young (2003) identificou 18 Esquemas Iniciais Desadaptativos, que


são agrupados em cinco amplos domínios de esquema. Young acredita que
os Esquemas Iniciais Disfuncionais originam-se pela combinação de fatores
biológicos e temperamentais com os estilos parentais e as influências sociais
às quais a criança é exposta. Uma criança de temperamento tímido pode
estar mais predisposta a apresentar um esquema de isolamento social, e
outra biologicamente hiper-reativa à ansiedade pode ter mais dificuldade de
superar a dependência em direção à autonomia. Young (2003, p. 24)
hipotetiza cinco tarefas desenvolvimentais primárias que a criança necessita
realizar para se desenvolver de forma sadia – conexão e aceitação,
autonomia e desempenho, auto-orientação, limites realistas e auto-
expressão, espontaneidade e prazer. Quando não consegue avançar de
forma sadia em função de predisposições temperamentais e experiências
parentais e sociais inadequadas, a criança pode desenvolver EIDs em um ou
mais domínios de esquema. Ou seja, problemas no estabelecimento de
conexão com as outras pessoas e de um sentimento de aceitação por parte
dos outros leva a desenvolver EIDs no domínio Desconexão e Rejeição;
dificuldades na aprendizagem de autocontrole e senso de limites podem
induzir EIDs no domínio Limites Prejudicados, e assim por diante.

Todos os organismos apresentam basicamente três respostas quando percebem


uma ameaça: luta, fuga ou congelamento (freezing). Segundo Young et al. (2003,
p. 33), a ameaça é a frustração de uma necessidade emocional profunda no
desenvolvimento afetivo da criança (como ligação segura com os outros,
autonomia, auto-expressão livre, espontaneidade e limites realísticos) ou mesmo o
medo das intensas emoções que o esquema desencadeia, e a criança responde com
um estilo de enfrentamento (coping style) que a princípio é adaptativo, mas torna-
se disfuncional com mudança das condições que ocorre à medida que a criança
cresce – o que era adaptativo na infância é desadaptativo para o adulto, e o
paciente fica aprisionado na rigidez de seu estilo de enfrentamento.

Portanto, os estilos de enfrentamento desadaptativos, apesar de auxiliarem o


sujeito a não experimentarem as emoções intensas e opressivas engendradas pelos
esquemas, servem como elementos importantes da perpetuação dos mesmos. É
importante notar que os esquemas contêm “memórias, emoções, sensações
corporais e cognições” (Young et al. 2003, p. 32), mas não envolvem as respostas
comportamentais; o comportamento não é parte do esquema, é parte do estilo de
enfrentamento.
As respostas comportamentais de luta, fuga ou congelamento correspondem aos
três estilos de enfrentamento dos EIDs, a supercompensação, subordinação (no
original, surrender), e a evitação do esquema, que podem ocorrer no plano afetivo,
comportamental ou cognitivo. Lutar contra o esquema equivale a supercompensar,
fugir é equivalente a subordinar-se e o congelamento equivale a evitação. Os três
estilos de enfrentamento geralmente operam inconscientemente, e em cada
situação, o paciente provavelmente utiliza um deles, mas pode exibir diferentes
estilos de enfrentamento em diferentes situações ou com diferentes esquemas
(Young, et al. 2003, p. 33).

Estes construtos tornam o modelo cognitivo mais flexível e aberto à


identificação de elementos sutis no funcionamento mental inconsciente,
produzindo uma fascinante superposição com conceitos teóricos da
psicanálise como formação reativa, negação e repressão. No entanto, o
modelo subjacente adotado (embora não explicitado pelo autor) do
processamento inconsciente é o cognitivo, não o dinâmico – aceita-se
a descrição do fenômeno, mas não a explicação dentro da metateoria
freudiana, buscando-se com o subsídio da teoria do esquema um modelo
explicativo mais adequado.

O conjunto de crenças profundamente enraizadas que Young chamou


de esquemas primitivos fundamenta nosso autoconceito e compõe os
alicerces na ampla edificação de nossa visão de nós mesmos - nosso
modelo do self. Os esquemas primitivos lutam por sua manutenção através
de processos de distorção no processamento de informações, comparando
os dados de entrada (a realidade do seu próprio comportamento e a do
mundo) com o modelo de self (o comportamento esperado e as reações do
mundo social e físico). Para reduzir a dissonância cognitiva (Festinger, 1964)
produzida pela distância entre o modelo internalizado do self e a realidade
são empregados mecanismos de distorção cognitiva. Segundo Jeffrey Young
(2003), em nível cognitivo

(...) a manutenção do esquema acontece salientando-se ou exagerando-se


informações que confirmam o esquema, e negando-se e minimizando-se
informações que contradizem o esquema. Muitos desses processos de
manutenção do esquema já foram descritos por Beck como distorções
cognitivas (p. 25).

Portanto, as distorções cognitivas identificadas por Beck (1967) na TC são


importantes mecanismos mantenedores do esquema, sendo as informações
distorcidas para mantê-lo intacto, no processo que Young denominou subordinação
ao esquema. O paciente pode resistir enormemente ao exame de seus esquemas e
esforçar-se para demonstrar que o mesmo é verdadeiro – sem perceber que
está magnificando alguns elementos da sua percepção, minimizando alguns
outros, supergeneralizando e utilizando outras distorções.

Padrões de comportamento autoderrotistas contribuem para manter, em nível


comportamental, os esquemas primitivos. Uma mulher, por exemplo, pode escolher
sempre parceiros arrogantes e dominadores, em decorrência de um esquema
subjacente de subjugação. Sem ter consciência deste processo, age de forma tal
que reforça sua visão de si mesma como submissa e impotente.
Os comportamentos autoderrotistas e as distorções cognitivas são, portanto, os
principais mecanismos de subordinação que perpetuam e tornam rígidos e
inflexíveis os esquemas primitivos.

A evitação do esquema é um dos mecanismos mais interessantes descritos por


Young. Os EIDs acionam alto nível de afeto quando ativados, despertando reações
emocionais aversivas intensas como culpa, ansiedade, tristeza ou raiva. Estas
reações emocionais funcionam como conseqüências aversivas que, por um processo
de condicionamento, acabam com menor probabilidade de serem despertadas
novamente, graças à evitação dos esquemas. A alta intensidade emocional pode ser
dolorosa e o sujeito “cria processos tanto volitivos quanto automáticos para evitar
acionar o esquema ou sentir o afeto a ele conectado” (Young, 2003, p. 26).

A evitação do esquema é um dos mecanismos mais interessantes descritos por


Young. Os EIDs acionam alto nível de afeto quando ativados, despertando reações
emocionais aversivas intensas como culpa, ansiedade, tristeza ou raiva. Estas
reações emocionais funcionam como conseqüências aversivas que, por um processo
de condicionamento, acabam com menor probabilidade de serem despertadas
novamente, graças à evitação dos esquemas. A alta intensidade emocional pode ser
dolorosa e o sujeito “cria processos tanto volitivos quanto automáticos para evitar
acionar o esquema ou sentir o afeto a ele conectado” (Young, 2003, p. 26).

A evitação pode ocorrer na esfera cognitiva, afetiva ou comportamental. Evitação


cognitiva refere-se às tentativas automáticas ou volitivas de bloquear pensamentos
ou imagens que poderiam acionar o esquema. Uma pessoa pode evitar
intencionalmente a focalização de acontecimentos dolorosos ou mesmo aspectos
negativos de sua personalidade. No entanto, Young enfatiza o processamento
inconsciente e o papel da memória na evitação cognitiva;

Também existem processos inconscientes que ajudam as pessoas a excluir


informações demasiado perturbadoras. As pessoas tendem a esquecer
acontecimentos particularmente dolorosos. Por exemplo, as crianças que foram
sexualmente abusadas muitas vezes não tem nenhuma lembrança da experiência
traumática. (Young, 2003, p. 79)

No caso de lembranças traumáticas, a hipótese de que a memória


consciente ou explícita tenha sido enfraquecida é bastante provável. Um
possível substrato neural de alguns mecanismos de evitação cognitiva é o
sistema de memória explícita do lobo temporal medial, composto pelo
hipocampo e regiões adjacentes, sistema este bastante danificado por níveis
cronicamente elevados do hormônio cortisol. A liberação acentuada de
cortisol faz parte da reação de estresse que normalmente acompanha
experiências traumáticas (Sapolsky, 1998; 2003), o que pode explicar, em
parte, o esquecimento das lembranças dolorosas (LeDoux, 1996).

foi verificado que mulheres apresentavam níveis de cortisol mais baixos após estupro, se já
tivessem sido vitimadas anteriormente.

A secreção de cortisol é controlada por uma alça de retroalimentação (feed-back) negativa, que
é ativada pela ação do cortisol circulante. Este atua sobre receptores de glicocorticóide
situados no hipocampo, onde sua concentração é muito alta, bem como no hipotálamo e na
hipófise, inibindo a secreção de ACTH. Nos pacientes de TEPT verifica-se uma
hipersensibilidade desses receptores, atestada por uma resposta de supressão, aumentada à
injeção de dexametasona.12 Cabe recordar que o inverso ocorre no transtorno depressivo
maior, sendo que cerca de 60% dos pacientes apresentam resposta atenuada à dexametasona
e muitos têm níveis aumentados de cortisol circulante.

A dosagem do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) é indicada para monitorar as


doenças associadas aos níveis de cortisol no organismo e suas principais doenças,
como síndrome ou doença de Cushing, doença de Addison ou hipopituitarismo.

Resultados. “A dosagem de ACTH, em conjunto com o cortisol,


consegue esclarecer se o problema é na glândula adrenal [que produz
o cortisol] ou na hipófise. Desse modo, ACTH alto com cortisol baixo
e ACTH baixo com cortisol alto indicam problemas primários na
adrenal.21/06/2022Na evitação cognitiva, pensamentos ou imagens que
possam acionar o esquema são bloqueados, e Jeffrey Young estabelece um
paralelo importante com conceitos análogos pertencentes ao domínio da
Psicanálise, considerando que “alguns destes processos cognitivos de
evitação sobrepõe-se ao conceito psicanalítico de mecanismo de defesa.
Exemplos disto seriam repressão, supressão e negação” (2003, p. 26).
Outras estratégias de evitação cognitiva incluem a despersonalização (um
processo através do qual o paciente “se remove psicologicamente da
situação que desencadeia um EID” (2003, p. 26) e os comportamentos
compulsivos, que tem a função de distrair o paciente de pensamentos
perturbadores que acionam os EIDs.

A evitação afetiva diferencia-se da cognitiva pelo foco em


bloquear sentimentos desencadeados pelos esquemas primitivos. A evitação
afetiva, da mesma forma que a cognitiva, pode envolver
tentativas conscientes ou inconscientes de bloquear sentimentos ativados
pelos esquemas iniciais. O paciente relata uma experiência de vida
perturbadora, mas nega experimentar emocionalmente a situação – existe
evitação dos aspectos afetivos sem bloqueio da cognição associada.

Young (2003, p. 39) sugere que duas características evidenciam a evitação


afetiva do esquema, a dificuldade de identificar o conteúdo de sintomas ou
emoções experienciadas – o paciente sente-se irritado ou triste, mas não
consegue relatar a que se referem estes sentimentos – e a presença
de sintomas somáticos vagos como tonturas, vertigem, febre,
amortecimento ou despersonalização – os sintomas difusos estão presentes
em vez de emoções primárias como raiva, medo ou tristeza, o que pode
indicar evitação do esquema. A evitação afetiva levaria a mais sintomas
psicossomáticos e a manutenção mais prolongada de emoções difusas.

Young (2003, p. 39) sugere que duas características evidenciam a evitação


afetiva do esquema, a dificuldade de identificar o conteúdo de sintomas ou
emoções experienciadas – o paciente sente-se irritado ou triste, mas não
consegue relatar a que se referem estes sentimentos – e a presença
de sintomas somáticos vagos como tonturas, vertigem, febre,
amortecimento ou despersonalização – os sintomas difusos estão presentes
em vez de emoções primárias como raiva, medo ou tristeza, o que pode
indicar evitação do esquema. A evitação afetiva levaria a mais sintomas
psicossomáticos e a manutenção mais prolongada de emoções difusas.
A evitação do esquema, além de afetiva ou cognitiva, também pode
ser comportamental, que é basicamente esquivar-se de situações ou
circunstâncias reais que ativam esquemas dolorosos. A evitação
comportamental pode ser descrita como esquiva de situações aversivas e
manifesta-se pelo isolamento nas relações humanas, por fobias e inibições
que limitam a vida profissional e familiar. Um sistema de crenças
contaminado com um esquema de fracasso, por exemplo, leva o sujeito a
evitar desafios e situações competitivas, levando ao insucesso e à
confirmação de suas crenças sobre si mesmo, de forma circular e auto
perpetuadora.

Em suma, a evitação (afetiva, cognitiva e/ou comportamental) serve para


escapar da dor desencadeada pela ativação de um esquema primitivo. No
entanto, ao evitar experiências de vida o sujeito também é impedido
de refutar a validade de suas crenças. Além disto, o esquema pode nunca
ser trazido à superfície e examinado de forma racional. Podemos perceber
que estas conseqüências introduzem círculos viciosos fundamentais na
psicopatologia e que a evitação, na teoria do esquema, é um mecanismo
chave, da mesma forma que o conceito de repressão para Freud
representava um papel crucial na gênese das desordens mentais.

Em suma, a evitação (afetiva, cognitiva e/ou comportamental) serve para


escapar da dor desencadeada pela ativação de um esquema primitivo. No
entanto, ao evitar experiências de vida o sujeito também é impedido
de refutar a validade de suas crenças. Além disto, o esquema pode nunca
ser trazido à superfície e examinado de forma racional. Podemos perceber
que estas conseqüências introduzem círculos viciosos fundamentais na
psicopatologia e que a evitação, na teoria do esquema, é um mecanismo
chave, da mesma forma que o conceito de repressão para Freud
representava um papel crucial na gênese das desordens mentais.

O último processo de um EID é a supercompensação do esquema, a adoção


de estilos cognitivos ou padrões comportamentais opostos aos prescritos
pelos esquemas. Em uma forma de compensação exagerada, a partir de um
esquema inicial desadaptativo de privação emocional, um paciente pode
comportar-se narcisisticamente, por exemplo. Segundo Young (2003, p.27),
o conceito está relacionado à noção psicanalítica de formação reativa. O
paciente tenta lutar contra o esquema pensando, sentindo e comportando-
se de forma oposta ao esquema. Se o sujeito sentia-se defeituoso na
infância, quando adulto tenta ser perfeito; se foi controlado, esforça-se para
rejeitar todas as formas de influência, se foi subjugado, quando adulto tenta
desafiar a todos, se foi abusado, abusa dos outros, sempre contra-atacando
o esquema.

A supercompensação de um esquema é vista como uma tentativa


parcialmente saudável de lutar contra o esquema que acaba passando do
ponto ótimo, uma espécie de tiro pela culatra. Na tentativa de enfrentar o
esquema, o exagero leva a perpetuação do mesmo, e não ao arrefecimento.
Na realidade, existem muitos supercompensadores que parecem sadios
entre aqueles que se destacam ou são admirados em alguma área, como
estrelas da mídia, lideranças políticas ou empresários de sucesso – são
pessoas que muitas vezes obtiveram seu sucesso através da
supercompensação. Mas, como poderíamos distinguir a linha divisória entre
o enfrentamento sadio de um esquema e uma supercompensação
patológica? É saudável lutar contra esquemas disfuncionais de forma
proporcional à situação, levando em consideração os sentimentos dos
outros e direcionando a situação para obter resultados desejáveis. A
compensação excessiva de um esquema é freqüentemente insensível a
necessidades e direitos dos outros e improdutiva, além
de desproporcional aos fatos.

As recentes pesquisas em neurociências têm mostrado que não existe um


sistema emocional único, mas sim vários circuitos neurais encarregados de
diferentes emoções, cada um deles envolvido em diferentes funções de
sobrevivência - sistemas especializados que evoluíram por seleção natural
para resolver problemas de adaptação, como reagir ao perigo, descobrir
alimento, achar parceiros e reproduzir, cuidar da prole e estabelecer
alianças sociais, por exemplo. O principal foco para a Teoria do Esquema
são os circuitos cerebrais envolvidos na regulação do condicionamento do
medo e trauma. Um dos sistemas é consciente, implicando em uma
representação explícita ou declarativa, e é mediado pelo hipocampo e áreas
corticais relacionadas.

O outro é inconsciente, e se processa através da amígdala, gerando


memórias implícitas ou não-declarativas. As memórias conscientes e
inconscientes são recuperadas quando, mais tarde, encontramos os
estímulos relacionados a uma experiência traumática. A memória consciente
desemboca em lembranças da situação que o sujeito tem pleno acesso,
enquanto a recuperação das memórias inconscientes converge para a
expressão de mudanças corporais que preparam o organismo para o perigo.
Existe uma memória emocional e uma memória cognitiva do mesmo evento
traumático, e as respostas emocionais podem ser disparadas sem a
participação dos centros superiores de processamento neural envolvidos
no pensamento consciente e avaliação racional.

Em síntese, os estudos atuais em neurociências apontam que as emoções


são desencadeadas mais rapidamente e podem
existir independentemente das avaliações racionais e pensamentos
conscientes característicos dos níveis de processamento superior cortical. As
memórias emocionais de experiências traumáticas permanecem conosco
para o resto de nossas vidas, inscritas na amígdala, mas podendo ser
inibidas e controladas pelo córtex pré-frontal. Com base nestes
fundamentos da neuropsicologia do medo e da memória, Young et al.
(2003, pp. 28-30) consideram as implicações para o modelo do esquema.
Se um sujeito encontra os estímulos remanescentes da situação de infância
que ocasionou o desenvolvimento do esquema, as emoções e sensações
corporais associadas com o evento são acionadas inconscientemente pelo
sistema da amígdala; ou, se o indivíduo está consciente deste processo, as
emoções e as reações corporais são ativadas mais rapidamente do que os
pensamentos e avaliações conscientes – o grupo de LeDoux verificou que a
informação viaja rapidamente (doze milissegundos) por uma via direta
desde o tálamo até o núcleo basolateral da amígdala, enquanto a via mais
longa do tálamo ao córtex, que pode fazer distinções mais elaboradas, leva
dezenove milissegundos (cerca de 65% a mais de duração). Esta ativação
das emoções e reações corporais se processa automaticamente e
provavelmente permanecerá presente na vida do indivíduo, embora o grau
de ativação possa diminuir significativamente com o manejo do esquema.

As memórias e cognições conscientes associadas com o trauma, em


contraste, são estocadas no sistema hipocampal e córtices superiores.
Segundo Young et al. o fato de que aspectos emocionais e aqueles que
envolvem pensamento consciente sobre a experiência traumática estão
localizados em diferentes sistemas cerebrais “pode explicar por que
esquemas não são modificáveis por simples métodos cognitivos” (2003, p.
29). Este é um ponto central na argumentação, pois Jeffrey Young et al.
acreditam que os componentes cognitivos de um esquema freqüentemente
se desenvolvem mais tarde, depois que as emoções e sensações corporais
já foram estocados no sistema de memória emocional da amígdala.

Muitos esquemas desenvolvem-se em um estágio pré-verbal: Eles se


originam antes da criança ter adquirido linguagem. Esquemas pré-verbais
surgem quando a criança é tão jovem que tudo que está armazenado são as
memórias, emoções e sensações corporais. As cognições são adicionadas
depois, quando a criança começa a pensar e falar em palavras. (2003, p.
29)

LeDoux (1996, p. 265) teorizou que a psicoterapia é uma maneira de


reconfigurar os circuitos cerebrais que controlam a amígdala, em cujos
circuitos as memórias emocionais estão indelevelmente gravadas. O córtex
pré-frontal pode controlar a amígdala e regular sua expressão. Young et al.
(2003) acreditam que, à luz deste insight proveniente das Neurociências, “a
meta do tratamento é aumentar o controle consciente sobre os esquemas,
trabalhando para enfraquecer as memórias, sensações corporais, cognições
e comportamentos associados com os mesmos” (p. 29).
A serotonina é um dos neurotransmissores implicados nessa regulação, o que pode ser
facilmente sugerido, uma vez que se conhece a localização de neurônios serotoninérgicos na
rafe do tronco encefálico, no feixe prosencefálico medial, no hipotálamo e em outras estruturas
límbicas associadas.

Toda vez que a pessoa percebe o meio ambiente como “seguro”, ela dispõe de mecanismos
inibitórios que atuam sobre as estruturas límbicas que controlam comportamentos de luta-
fuga, como as regiões lateral e dorsomedial da substância cinzenta periaquedutal. Tal
mecanismo pode ser exemplificado pelas projeções neurais do giro fusiforme e sulco temporal
superior em direção à amígdala (mais precisamente o núcleo central amigdaliano), inibindo-a.

. Dessa forma, a amígdala não exerce seu papel normal, ou seja, a estimulação dessas vias na
substância cinzenta periaquedutal. Concomitantemente, após o processamento de todas as
informações, o córtex motor (onde se destacam as áreas frontais) comanda a ativação de vias
corticobulbares na medula (núcleos fonte dos pares cranianos NC V, VII, IX, X e XI), que ativam
os componentes somatomotor (músculos da face e da cabeça) e visceromotor (coração, árvore
brônquica) dos mecanismos fisiológicos para o contato social

Ao contrário, toda vez que a pessoa percebe o meio ambiente como “ameaçador”, a amígdala
estará livre para desencadear estímulos excitatórios sobre a região lateral e dorsolateral da
substância cinzenta periaquedutal, que então estimula as vias do trato piramidal, produzindo
respostas de luta e/ou fuga. Além disso, há casos em que a pessoa responde a tais situações
como se estivesse paralisada; essa resposta decorre da estimulação da região ventrolateral ao
aqueduto cerebral (Sylvius), que também estimula as vias neurais do trato corticoespinal lateral
(piramidal). É interessante ressaltar que essas reações ocorrem paralelamente a uma resposta
autonômica simpática, por nervos originados dos gânglios paravertebrais, e parassimpática
(nervos III, VII, IX e X), bem como sua porção sacral, representada pelos nervos sacrais de S2 a
S4, permitindo, assim, a inervação de vasos sanguíneos e musculatura lisa de órgãos de
diferentes sistemas em todo o organismo. Em situações de luta-fuga ocorre elevação da
freqüência cardíaca e da pressão arterial; de outro modo, nas situações de imobilização ocorre
intensa bradicardia e queda da pressão arterial.

De fato, a depressão associa-se a déficits em áreas estratégicas do cérebro, incluindo regiões


límbicas. Não obstante os fatores emocionais relacionados, há vários determinantes biológicos
implicados no seu desenvolvimento; observam-se alterações ocorridas no sistema imunológico.

Embora a amígdala não estabeleça conexão direta com o córtex lateral pré-frontal, ela se
comunica com o córtex cingulado anterior e o córtex orbital, os quais estão envolvidos nos
circuitos da memória, tornando possível a justificativa de alguns autores de que a amígdala
participa na modulação da memória e na integração de informações emocionais e cognitivas,
possivelmente atribuindo-lhes carga emocional, possibilitando a transformação de experiências
subjetivas em experiências emocionais24,53. Lesões no córtex pré-frontal medial rostral levam
à expressão inapropriada das emoções nos comportamentos sociais e ao prejuízo na tomada
de decisões pessoalmente vantajosas28. Estudos de neuroimagem demonstram que processos
executivos são mediados pelo lobo frontal, particularmente o córtex cingular anterior (CCA) e o
córtex pré-frontal (CPF). De acordo com essas investigações, o CPF medial está envolvido na
associação do aspecto cognitivo ao emocional, sendo responsável pela avaliação e/ou
interpretação cognitiva das emoções.
O que é regulação emocional?

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