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ESTADO DE ALAGOAS

POLÍCIA MILITAR DE ALAGOAS


COMANDO GERAL
Corregedoria Geral

DECISÃO ADMINISTRATIVA - CONSELHO DE DISCIPLINA

Portaria nº 047/1997-CD-CG/Correg, de 03 de abril de 1997


Presidente: Cel QOC PM R/R Mat. 58889-0 Adeilton Bispo dos Santos
Interrogante e Relator: Cel QOC PM R/R Mat. 8999-0 Edson Correia de Mello
Escrivão: Maj QOC PM Mat. 11330-1-7 Jorge Rodrigues de Morais Júnior
Acusado: Cb PM Ref. Mat. 23943-7 Cícero Cristóvão da Silva
Defensor: Dr. Luiz Cavalcante Amorim (OAB/AL nº 3.544) e Dr. Franklin Pereira dos
Santos (OAB/AL nº 3.903)
Motivo: Avaliar as condições de permanência na PMAL do Cb PM Ref. Mat. 23943-7
Cícero Cristóvão da Silva, por ter, supostamente, se envolvido com uma quadrilha de
puxadores de veículos que atuavam nos estados de Alagoas e Pernambuco, tendo sido
preso preventivamente e denunciado pela 13ª Procuradoria de Justiça da Comarca de
Recife/PE, pela participação nos crimes de roubo majorado e associação criminosa,
conforme Processo-crime nº 1996.086604-4, do Juízo da 3ª Vara de Delitos contra o
Patrimônio da Comarca de Recife/PE. Conduta, em tese, violadora dos deveres
funcionais para com a Administração Pública Militar, que afetam a honra pessoal, o
pundonor policial militar ou o decoro da classe, consistente em lesão aos princípios
assentados no art. 8° do Decreto n° 37.042/96 (Regulamento Disciplinar da PMAL) e no
caput, do art. 33 e art. 34 c/c o art. 39 da Lei Estadual nº 5.346/92 (Estatuto dos
Policiais Militares de Alagoas).

EMENTA: Conselho de Disciplina. Fato gerador do Conselho de Disciplina objeto de


apuração na esfera criminal militar, de competência do Juízo de Direito da 1ª Vara
Criminal da Comarca de Recife. Processo Criminal julgado com sentença de absolvição,
devidamente transitada em julgado. Incidência da prescrição punitiva da Administração
Pública Militar Estadual. Extinção da punibilidade do agente pela ocorrência da
prescrição. Arquivamento dos autos. Extinção do processo sem resolução do mérito.

I – PREÂMBULO

Cumpre destacar que o Conselho de Disciplina trata-se de uma criação do Direito


Administrativo Disciplinar Militar, com natureza essencialmente moral, visando avaliar
a condição de permanência, ou não, da praça que tenha praticado atos graves, que
afetam a honra pessoal, o pundonor policial militar ou o decoro da classe. Nesses
termos, comprovada a existência do fato, sendo o autor policial militar com estabilidade,
e tal conduta considerada incompatível para ao exercício da função policial militar,
caberá à Administração Pública Militar Estadual licenciá-lo, ex officio, a bem da
disciplina.

II – DA SÍNTESE DOS FATOS

Constam nos autos que o acusado teria se envolvido com uma quadrilha de puxadores
de veículos que atuavam nos estados de Alagoas e Pernambuco, tendo sido preso
preventivamente e denunciado pela 13ª Procuradoria de Justiça da Comarca de
Recife/PE, pela participação nos crimes de roubo majorado e associação criminosa,
conforme Processo-crime nº 1996.086604-4, do Juízo da 3ª Vara de Delitos contra o
Patrimônio da Comarca de Recife/PE.

III – DO RELATÓRIO DO CONSELHO DE DISCIPLINA

Os integrantes do Colegiado Processante, sob a presidência do então Cel QOC PM


R/R Mat. 58889-0 Adeilton Bispo dos Santos, ao elaborarem o relatório do Conselho de
Disciplina, registraram as diligências empreendidas e decidiram, por unanimidade de
votos, que o acusado, Cb PM Ref. Mat. 23943-7 Cícero Cristóvão da Silva, reúne
condições de permanecer nas fileiras da Polícia Militar de Alagoas, conforme se vê
abaixo:

[...] De tudo considerado, assim, o presente Conselho de Discipina, procurando o senso de


justiça, e, por unanimidade de votos, de seus membros, RESOLVE decidir:
a) Que o presente Conselho de Disciplina, fica impossibilitado de imputar qualquer
culpabilidade ao acusado, face ao que dispõe o Art. 5º, LVII, LXXVII, §1º, combinado com
o Art. 125 da Constituição da República Federativa de 1988 e Art. 4º, §1º do Código de
Processo Penal;
b) Sugerir o arquivamento dos presentes autos, sobrestando-os no aguardo da decisão
final do processo penal a que responde o acusado, na forma dos dispositivos
constitucionais citados no item anterior, e;
c) Sugerir que a Lei Estadual nº 4000, de 19/12/78 (Conselho de Disciplina), através dos
procedimentos de praxe, seja adaptada à Constituição Federal de 1988. [...]

Denota-se que o colegiado, por unanimidade de votos, deliberou pela permanência do


acusado nas fileiras da Polícia Militar de Alagoas, pela ausência de provas nos autos,
todavia, tendo em vista o lapso temporal da conclusão processual, esta Corregedoria
Geral constatou a ocorrência do instituto da prescrição da pretensão punitiva da
corporação em aplicar quaisquer sanções disciplinares ao acusado.

IV – DO OBJETO DO CONSELHO DE DISCIPLINA E DA EXTINÇÃO DE


PUNIBILIDADE DO ACUSADO

Ab initio, tem-se que a conduta transgressora da disciplina que integra o espectro


acusatório do presente Conselho de Disciplina decorre, residual e subjacentemente, do
fato típico antijurídico objeto do Processo-crime nº 1996.086604-4, do Juízo da 3ª Vara
de Delitos contra o Patrimônio da Comarca de Recife/PE, do qual também era acusado o
Cb PM Ref. Mat. 23943-7 Cícero Cristóvão da Silva, pela prática do crime roubo
majorado e associação criminosa.
Nesse diapasão, denota-se na solução do Conselho de Disciplina, escrita a mão pelo
então Comandante Geral à época, Cel QOC PM João Evaristo, datado de 05 de junho de
1997, concordou em parte com a conclusão do relatório do Conselho de Disciplina e
determinou o sobrestamento do processo administrativo, em virtude dos fatos não
estarem devidamente comprovados com relação ao envolvimento do acusado, devendo
permanecer os autos na Corregedoria Geral aguardando o deslinde do processo penal a
que estava respondendo.
Ocorre que na última página do Conselho de Disciplina foi juntada uma certidão do
Juízo de Direito da 10ª Vara Criminal da Comarca de Recife/PE, subscrita pela Chefe de
Secretaria, Srª Maria José Verçoza de Souza, informando que o acusado teria sido
absolvido por sentença datada de 03 de outubro de 2000, devidamente transitada em
julgado para o Ministério Público em 24 de novembro de 2000, das sanções previstas no
art. 157, §2º, I, c/c art. 288 do Código Penal.
Outrossim, em relação ao Conselho de Disciplina instaurado, é prudente afirmar que
incorreu a prescrição da punição punitiva estatal, haja vista o processo administrativo
ter-se mantido sobrestado por aproximadamente 25 (vinte e cinco) anos sem que tivesse
sido promovida a sua devida solução, em razão da decisão de aguardar o deslinde da
ação penal que transcorria em paralelo, portanto, não há como aplicar qualquer sanção
administrativa ao acusado.
A prescrição da pretensão punitiva, que ocorre quando o processo não é julgado no
prazo legal, extinguirá a punibilidade do agente, colocando um ponto final na pretensão
punitiva ou na pretensão executória. É a aplicação do já sedimentado entendimento de
que o prazo prescricional não poderia ficar suspenso ad eternum sob a vontade do
julgador ou da Administração Pública. Trata-se de efetivo controle do poder punitivo
estatal, que perde o direito de aplicar sanção pelo decurso do prazo.
Sendo assim, todos os requisitos, a serem examinados antes da instauração da
Portaria do Processo Administrativo Disciplinar, estiveram presentes, todavia, foi
verificada a incidência do instituto da prescrição de direito de punir, logo, este órgão
correcional deixa de analisar as alegações aportadas pela ilustre defesa, ao passo que
declara a prescrição punitiva estatal.
O autor Antônio Carlos Alencar Carvalho reporta que o direito não pode ser
instrumento de incerteza, de imprecisão, pois é destinado a assegurar a paz social, que
seria ameaçada se não houvesse uma definição das relações jurídicas ou uma constante
instabilidade em torno delas. (in Manual de Processo Administrativo Disciplinar e
Sindicância, 4ª edição. Editora Fórum. Belo Horizonte: 2014, p. 283).
Interessante frisar que a prescrição da pretensão punitiva estatal tem prazos
definidos, os quais, decorridos (art. 17, Lei Estadual nº 4.800/78 – 6 anos para a inflição
de reprimendas), motiva nos valores de tranquilidade e definição, caríssimos ao direito.
Registre-se, por oportuno, que malgrado o Decreto Estadual nº 37.042, 06 de novembro
de 1996, o Regulamento Disciplinar da PMAL, não faça previsão de prescritibilidade, a
Lei Estadual nº 4.000/78 trata da questão, como se vê:

Art. 17 - Prescreverá em 06 (seis) anos, computados da data em que forem praticadas, as


faltas previstas nesta Lei, salvo aquelas cujo prazo prescricional esteja estabelecido no
Código Penal Militar.

Saliente-se que o poder discricionário, do qual se encontra investido o Comando


Geral desta Corporação, esse deve ser empregado com obediência aos princípios
constitucionais implícitos da legalidade, do devido processo legal, da razoabilidade e
proporcionalidade.
Vale lembrar a lição de Carvalho Filho, a qual tematiza que a Administração Pública
age com base no princípio da oficialidade, e caberá à mesma a instauração e impulsão,
de ofício, do processo, pois ele não depende da vontade do interessado. Trata-se de
responsabilidade administrativa, pela qual os administradores cabem atuar e decidir por
si mesmos, não se adstringindo, inclusive, às alegações das partes suscitadas no curso
do processo.
Por outro lado, como reflexo do princípio da segurança jurídica, o decurso do tempo
pode implicar a perda do jus puniendi administrativo. Nesse sentido, calha advertir que
nem sempre deve a defesa gravitar apenas em torno de questões de mérito, podendo
consistir em pontos formais como a superveniência da prescrição, isto é, que o prazo
máximo estipulado em lei para que a punição disciplinar fosse imposta já expirou.
Interessa destacar a admoestação de Sebastião José Lessa, a qual ressalta que o
abuso e o desvio de poder dos que exercem o poder disciplinar, dependendo do grau de
consciência da ilicitude de quem aplica indevidamente a penalidade disciplinar, pode
acarretar a responsabilidade civil, penal e administrativa do responsável. (in Temas
Práticos de Direito Administrativo Disciplinar. Editora Brasília Jurídica. Brasília: 2005,
p. 71).
Daí o motivo pelo qual a autoridade julgadora deve se acautelar no sentido de cotejar,
criteriosa e exaustivamente, os fatos e provas reunidas no processo administrativo
disciplinar, ao menos com o auxílio técnico de consultoria jurídica competente, sob pena
de incorrer em abuso de poder e ato decisório viciado. Outrossim, Fredie Didier Jr.
considera que os princípios da proporcionalidade e razoabilidade são necessários para a
aplicação do princípio do devido processo legal, sob uma ótica substancial:

As decisões jurídicas hão de ser, ainda, substancialmente devidas. Não basta a sua
regularidade formal; é necessário que uma decisão seja substancialmente razoável e
correta. Daí, fala-se em um princípio do devido processo legal substantivo, aplicável a
todos os tipos de processo, também. É desta garantia que surgem os princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade. (DIDIER JR., 2008, p. 33/34)

Observa-se que, os princípios da proporcionalidade e razoabilidade se apresentam


implicitamente em dois momentos na Constituição, quais sejam: configuram-se, segundo
afirma Luís Roberto Barroso, como instrumento a ser adotado para interpretação das
normas constitucionais e são corolários do princípio do devido processo legal, segundo
aduz Fredie Didier Jr. Além disso, vê-se no caso em análise que os indícios da prática
das transgressões tipificadas na Portaria inaugural do presente processo devem ser
avaliadas, a partir das balizas dos princípios da proporcionalidade e razoabilidade.
Adverte o jurista Alberto Bonfim: “Os julgamentos, pois, de inquéritos administrativos
precisam achar-se escudados por um elevado senso de equidade, dentro do princípio de
que administrar é fazer justiça”. (in O Processo Administrativo. 7ª Edição. Editora
Livraria Freitas Bastos. Brasília: 1963, p. 29).
Destarte, o exercício do direito de punir servidores públicos sujeita-se a prazos fatais
que, uma vez ultrapassados, fazem prescrever a prerrogativa decorrente do poder
disciplinar da Administração Pública. Com isso, e em respeito aos postulados da
segurança jurídica, não é prudente excluir o Cb PM Ref. Mat. 23943-7 Cícero Cristóvão
da Silva das fileiras da PMAL, bem como aplicar-lhe qualquer outra sanção prevista no
Decreto nº 37.042 de 06/11/1996 (Regulamento Disciplinar da Corporação), em
consonância com entendimento do Superior Tribunal de Justiça:

Cometida a infração, o direito abstrato de punir do ente administrativo convola-se em


concreto. Fica instituída uma relação jurídica – punitiva. Todavia, o jus puniendi só pode
ser exercido dentro do prazo prescrito em lei. In casu, deixou-se escapar a possibilidade
de punir o servidor, restando configurada a adoção de postura ilegal por parte da própria
Administração, a fim de minorar os efeitos de sua própria desídia ao não exercer um
poder – dever. (EDROMS nº 13174/SP, DJ, p. 253, 29 mar. 2004, Rel. Min. Gilson Dipp,
Quinta Turma).

Por esse efeito, diante do exposto, se for aplicada penalidade disciplinar pela
Administração Pública, após findo o prazo prescricional respectivo, torna-se nula a
sanção imposta, como adverte Themístocles Brandão Cavalcanti: “A prescrição tem a
faculdade de extinguir a ação repressiva, tornando nula a aplicação da pena, uma vez
decorrido o prazo legal”. (in Direito e Processo Disciplinar. 2ª edição. Rio de Janeiro:
Fundação Getúlio Vargas, 1966, p. 172).
Diante de todo o exposto e tudo mais que constam nos autos, não restam dúvidas
sobre o reconhecimento da prescrição da pretensão punitiva ao acusado, constituindo,
assim, causa extintiva de punibilidade, nos termos dos supramencionados dispositivos
legais.

V – CONCLUSÃO

Em virtude do exposto e tudo o mais que constam nos autos, e considerando que é
atribuição exclusiva do Comandante Geral, como autoridade instauradora do referido
processo, decidir acerca do processo administrativo disciplinar em deslinde, de acordo
com o que preconiza o art. 13, da Lei nº 4.000/78 (Conselho de Disciplina) e estando a
Administração Pública Militar Estadual diante de uma hipótese de causa extintiva da
punibilidade pela prescrição, pelas razões de fato e de direitos já expostas, RESOLVE:

1. Dessobrestar o Conselho de Disciplina de Portaria nº 047/1997-CD-CG/Correg, de


03 de abril de 1997, que estava sobrestado aguardando o deslinde da ação penal em
desfavor do acusado;
2. Declarar extinta a punibilidade do acusado, Cb PM Ref. Mat. 23943-7 Cícero
Cristóvão da Silva, em virtude do reconhecimento da prescrição punitiva pela
Administração Pública Militar Estadual;
3. Deixar de apreciar o mérito do Conselho de Disciplina de Portaria nº 047/1997-CD-
CG/Correg, de 03 de abril de 1997, em razão dos fatos sobejamente explicitados
neste decisum;
4. Extinguir o Conselho de Disciplina sem resolução de mérito;
5. Providenciar a publicação, in totum, deste decisum em BGO;
6. Intimar, desta solução, os defensores e o acusado, após a publicação em BGO;
7. Arquivar os autos físicos na Corregedoria Geral da PMAL.

Corregedoria Geral em Maceió/AL, na data da assinatura.

PAULO AMORIM FEITOSA FILHO - Cel QOC PM


Comandante Geral da PMAL

A autencidade do documento pode ser conferida no site de origem disponível em:


http://central.pm.al.gov.br/sistemas/public/sisdoc/verificacao/index informando o
código identificador 538405, o código validador 7374 e o código CRC 3304809644
.

Documento impresso por: Cap PM Nº Ordem 102708 MÁRIO JORGE FERREIRA DA SILVA JÚNIOR -
CORREGEDORIA, em 16-06-2023 às 10h26m.

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